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AS ETNIAS E OS OUTROS: AS ESPACIALIDADES DOS ENCONTROS/ CONFRONTOS MALECSANDRO J.P. RATTS - DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA UFG Ao gedgrafo negro Milton Santos (1926 ~ 2004), que no ponto alto de sua carrera passou a abordar com ruita propriedade esse tema RESUMO. NO MUNDO CONTEMPORANEO, AS RACAS E ETNIAS SE REDEFINEM E SE ESPACIALIZAM EM RELACOES DE ENCONTROS/ CONFRONTOS. NO CASO BRASILEIRO, 0 MITO DA DEMOCRACIA RACIAL PODE SER VISTO COMO UMA IDEOLOGIA GEOGRAFICA NARADA REGIONALMENTE. ESTE ARTIGO INDICA LEITURAS DE GEOGRAFOS(AS) QUE ABORDARAM ESSES TEMAS E REFLETE ACERCA DA SITUACKO DOS TERRITORIOS INDIGENAS E NEGROS NO BRASIL. PALAVRAS-CHAVE: NEGROS, INDIOS, ESPACIALIDADES, GEOGRAFIA. © contedido a expor nesta comunicagio origina. se de um duplo processo de amalgamar ¢ aglutinar idéias € observagdes a0 longo de uma década, periodo que corresponde ao tempo de antes, durante ¢ depois dos cursos de mestrado € doutorado. Sintese teérica de uma “aventura intelectual” em curso ~ 0 transito entre os saberes disciplinares da geografia e da antropologia -, 0 texto refere-se também ao trabalho de campo concluido com grupos indigenas comunidades negrasrurais situadas no estado do Cears Na primeira parte 0 olhar se volta inicialmente para um discurso regional que nega a presenga negra € indigena na contemporaneidade e que apresenta ‘como contrapartida 0 discurso nacional que se ancora sobretudo no mito da democracia racial que cconsideramios um mito geogréfico. © pensamento dos intelectuais brasileiros, ¢ especialmente cearenses, ESPAGO F CULTURA, UER) RJ, N. 17-18, P.77-89, JAN/DEZ. DE 2004 EI acerca de indios ¢ negros pode ser enquadrado entre “temas geogrificos’e “ideologias geogréficas", visées do espago, do territério € do lugar, discursos que tentam colocar as questées sociais como qualidades do espaco (Moraes, 1996). Na segunda parte do texto o olhar se volta para outra diregao: em todo o territério brasileiro, notoriamente na regio Nordeste, verifica-se a emergéncia de grupos que se identificam como indigenas © remanescentes de quilombos © sio reconhecidos enquanto tais por segmentos do movimento social, da midia, da universidade e do Estado, Esse aparecimento configura-se, em geral, com nitida dimensdo espacial no tocantea reconhecimento de terras ocupadas, reivindicagio de éreas perdidas / ou rememoracao de locais de importancia simbélica Por fim procuramos tratar da relagdo entre raga/ etnia € espago enquanto um campo de encontros! confrontos, tendo em vista uma abordagem gcogritica desses fendmenos. ‘A FABULA DAS TRES RACAS NO TERRITORIO CEARENSE [E)"o todo 0 territério brasileiro hé versbes regionais da participagio dos prineipais segmentos. Einicos formadores da nacao brasileira, Roberto Damatta denomina essa narrativa de "fébula das trés ragas’ (Damatta, 1993). A fabula tem varias acepgdes, dentre elas a de narragao breve, de cardter alegérico, em verso ou em prosa, destinada a lustrar um preceito (Ferreira, 1993). Nesse sentido podemos confronté-la tanto com © mito, que é narrado de forma fragmentada, quanto com a narrativa hist6rica, uma construgao temporal intencional. O fato de ser popular ¢ alegérica nao. impede que a fabula adentre © mundo da ciéncia Sendo assim, as trésracas se cruzam no senso comum © no pensamento cientifico configurando um discurso acerca do espago e do territ6rio. A fabula em questo constitui uma versio do chamado ‘mito da democracia racial” que, seguindo a abordagem em pauta, pode ser considerado um mito geografico ou mito espacial Moraes, 1996) Essa reflexdo advém da leitura de Anténio Carlos Robert Moraes que, a partir da imagem de um Brasil em permanente construgao, com uma formacio territorial inconclusa, formula a idéia de que o pais passa a ser “identificado com o seu espago, sendo a populagio um atributo dos lugares" (Moraes, 1996: 98), Em outra segao de seu texto, Moraes, trazendo Gilberto Freyre como principal enunciador do mito da democracia racial, ressalta: "O especifico, 0 singular, éfruto da mestigagem, da combinagio de valores étnicos. As diferentes ragas (indios, ortugueses ¢ africanos) substantivam 0 nacional (MORAES, 1996:103-104)' Quando historiadores, folcloristase antropélogos repetem por todo 0 século XX 0 enunciado de que “no Ceard nao existem indios € nem negros" ocorre a supressio ou inclusao marginal de dois dos elementos da “fabula das trés racas” na formagio étnica © territorial do Cearé, Tal discurso se vincula a0 proceso de formulagio das identidades nacional e regional, 0 que nos possibilita afirmar que o mito da democracia racial se espacializa Brasil adentro de forma diferenciada. Essa dinamica pode ser acompanhada enquanto um processo histérico ¢ cultural © para apreendé-la é necessério nos remetermos ao Brasil da segunda metade do século XIX. 1850 € 0 ano da proibigao oficial do tréfico negreiro internacional ¢ da promulgagao da Lei de Terras, a partir da qual as aquisigdes de terra se dariam exclusivamente pela compra, além de abrir a possibilidade de incorporagao aos "Préprios Nacionais” das antigas dreas indigenas, onde apenas haveria descendentes destes “misturados” & massa da populagio geral. Nesse perfodo, no Ceard os grupos indigenas estavam em grande parte aldeados (¢ catequizados), além de outros dispersados ou tentando permanecer em suas reas habituais (Porto Alegre, 1994: 22). Grupos negros estavam em grande parte na condigao de escravizados nas principais cidades € vilas do Ceard (Oliveira Silva, 1988), livres, libertos e parte dos escravizados se congregavam em irmandades religiosas de pretos € pardos (Campos, 1980). A formagio de quilombos 6 pouco referenciada No caso dos indios, a compreensio do processo de invisibilidade exige um retorno a década de 1860, Longe da concepgao da histéria enquanto uma MMB 3240 © CULTURA, UER) RN. 17-18, P.7-88, JAN /DEZ, DE 2004 seqiiéncia de fatos, podemos listar uma série de acontecimentos que remetem ao contexto regional em que se configura a idéia de desaparecimenta desse segmento étnico no Cearé Em 1863, um Relatério Provincial corrobora a idéia corrente em érgios oficiais acerca da inexisténcia de “Indios aldeados ou bravios’, informa a presenga de “descendentes” que estariam “misturados na massa geral da populagio" dos aldeamentos, ¢ indica processos de “usurpagio ou compra" das “terras pertencentes aos antigos aborigenes’?, Por outro lado, 0 relatério aponta a existéncia de posses individuais de indios em processo de regularizagio. Aidéia da extingio dos indios ganha forgaem obras literdrias € historiograficas. Os primeiros livros de hist6ria do Cearératificam essa tese, Tristio de Alencar Araripe € exemplar: "Os indigenas entre nds jé nto so numerosos, e vivem por tal forma mesclados com a outra parte da populagio, que nao é possivel dar- Ihes regimen diferente, segregando-os da comunhao dos demais cidados" (Araripe, 1958/1867: 65) Na literatura desse perfodo destaca-se José de Alencar com seu Iracema, cujo subtitulo € Lenda do Cearé, publicado no Rio de Janeiro em 1865. Nessa obra, Moacir, 0 "primeiro cearense”, cujo nome significa “filho do sofrimento’, é fruto da unio de um branco, 0 colonizador Martim Soares Moreno, com uma india, Iracema, que morre pouco depois de dar & luz seu rebento. © indio que sobrevive € Poti, irmao da protagonista que é cristianizado (Alencar, 1998: 74-82)’ Tornou-se recorrente a tese da “quase auséncia do negro” no Cearé, expressio cunhada por Raimundo Girdo, principal historiador da aboligao naquele Estado (Cirdo, 1971). A infima participagio FSPAGO F CULTURA, LER), RJ, N.17-18,P.77-88, AN/DEZ. DE 2004 EE negra na composi 10 étnica cearense teria por motivo principal a baixa exigéncia de mao-de-obra escravizada na pecudria € no servigo doméstico (Girdo, 1969). Além disso o Cearé, a0 lado de outras provincias do "Nordeste’, forneceu contingentes negros para os cafezais do "Sudeste’, sobretudo na década de 1870. E largamente conhecido que a aboligao formal da escravidio no Cearé se deu em 1884, quatro anos antes da promulgagao da “Lei Aurea’, 0 que Ihe deu © epiteto de Terra da Luz. Por outro lado, a historiografia regional nao destaca o fato de que a maior parte da populagao negra na segunda metade do século XIX era livre ou estava liberta No entanto, durante mais de um século de produgio intelectual (1860-1980) detectamos que historiadores, antropélogos e folcloristas perceberam, como excecao, a existéncia de nicleos negros rurais, como Bastides Conceicao dos Caetanos (Riedel, 1988) © de grupos de "ascendéncia” indigena em determinadas localidades, como entre “os caboclos de Montemor’, em Grea Paiaku (Bezerra, 1916). Suas obras apontaram igualmente praticas culturais como a festa dos Reis Congos (Nogucira, 1934) ¢ a danga do torém dos “descendentes’ dos Tremembé (Seraine, 1955) Tendo como quadro geral a configuragio de teorias raciais face ao processo de formagio da intelectualidade brasileira ¢ de suas instituigdes (Schwarz, 1993), 0 Cearé passa por uma complexa conjungao politica e cultural, que vai se constituindo no desaparecimento dos indios, na emergéncia do caboclo e na construgio de uma identidade regional ‘em que a imagem indigena figura no passado idilico ¢ a negra no reino das sombras. Indios ¢ negros tornam-se os principais grupos “invisibilizados’ na formagio do territério cearense*, Desaparecer € deixar de ser visto (Porto Alegre, 1992). Se nao cexistem indios e quase nao hé negros, praticamente nao € possivel identificar espagos préprios de nenhuma das trés racas. O espago tende a ser “desracializado" ou “desetnicizado” (O APaRECIMENTO POLITICO DE INDIGENAS & QUILOMBOLAS NO TERRITORIO BRASILEIRO A extingio dos indios © a quase auséncia dos negros ficam postas em questo face ao aparecimento politico de grupos que reivindicam sua indianidade ou de reconhecida composigao negra no Cearé, na década de 1980. Revisoes historiogréficas ¢ pesquisas recentes fornecem outras, visoes do duplo fendmeno do desaparccimento ¢ da emergéncia®. No cenario regional, apés a chamada abertura politica ¢ constituigio de movimentos sociais, os Tapeba ¢, posteriormente, 5 Tremembé esto entre 0s grupos que emergem com discurso indigena c demandando demarcagdes de terras, algando espaco na midia local © conquistando 0 apoio de parte da sociedade civil’ No mesmo perfodo forma-se 0 movimento negro cearense setores da imprensa ¢ da universidade passam a identificar agrupamentos negros rurais, ‘com destaque para Conceigao dos Cactanos. Foi ao encontro dos Tremembé e dos Caetanos que nos dirigimos para compreender parte do processo de configuragio étnico-espacial das identidades indigena € negra no Cearé. Apés um contato inicial com os movimentos indigenista ¢ negro € com pessoas ligadas aos dois grupos em meados da década supracitada, somente em 1990 € 1991 pudemos visitar, respectivamente, Almofala, distrito litoraneo do municipio de Itarema ¢ Con. ceigo, que se tornaria distrito de Tururu No inicio do século XVIII Almofala se constitu como um aldeamento indigena que agregou parte dos indios Tremembé, habitantes do litoral dos atuais Estados de Maranhao, Piaui ¢ Cearé (IBGE, 1987) ‘Com uma organizagao intermitente o aldeamento & considerado extinto, a semelhanga dos outros casos citados, Além disso, em razio do movimento de dunas, a igreja de Almofala ficou literalmente soterrada durante quase 50 anos (1898-1943) No periodo em que iniciamos o trabalho de ‘campo era franca a expansio da agroindiistria de coco, que se dava em parte através do processo de grilagem dos terrenos de almofalenses. Quase nao se falava na existéncia de indios naquela érea que era, por outro lado, alvo de pesquisas com foco na danga do Torém entre as décadas de 1950 e 1970. Contatados pela FUNAI em 1986, foram alvo de um relatério desse 6rgio que identificou, em 1992 2247 Indios (FUNAI, 1992), trabalho que acompanhamos parcialmente Ali havia um complexo quadro de identidades, ser indio, ser Tremembé, além de uma auto: identificagao, passava, nio exclusivamente, por referéncias espaciais (ser ou terantecedente nascido ‘em Almofala ou nas cercanias), politicas (envolver- se na “luta” contra os posseiros ¢ os fazendeiros) Podiamos encontrar famflias em que uns membros se incluiam nessas identidades ¢ outros nao. As narrativas orais indicavam que a terra era “da santa’ (N.S. da Conceigio, padrocira do aldeamento) ou “dos indios" ¢ existiam lugares de valor simbélico singular como a Lagoa Seca onde viveram “os antigos ‘Tremembe’, apossada aquela época por nao-indios (Valle, 1993, Ratts, 1999 © 1996a) WEDS seco curtura, UR), w), 8:17:18, 77-88, AN /DEZ. DE 2004 Como indicamos acima, os Cactanos de Coneceigéo, conhecidos de segmentos da midia e da universidade, eram tratados como excegao: Cisto Racial Negro no Cea é, por exemplo, o titulo de um capitulo assinado por um historiador € antropélogo cearense (Riedel, 1988: 97-100). Originéria de uma terra adquirida em 1884 por um homem negro livre chamado Caetano José da Costa, a localidade continha em 1998 cerca de 100 familias distribuidas entre membros do grupo que se constituit como a familia Caetano, incluindo "gente de fora’ que adentrou para o micleo através do casamento (61 residéncias unifamiliares) © por “estranhos’, caso das "pessoas de fora’ que mantém apenas relagoes de vizinhanga (35 residéncias unifamiliares). Os Cactanos de Conceigao sao igualmente aparentados com moradores de Agua Preta, outro agrupamento negro situado no mesmo municipio (Ratts, 1996a; 1996b). Procuramos, entao, elaborar um projeto de mestrado em Geografia com nitida interface com a Antropologia ¢ que contemplasse o vinculo entre identidade étnica € territério ou entre fronteiras Etnicas ¢ territoriais, Uma primeira dificuldade se interpunha no que diz respeito. a transdisciplinaridade. Para a antropologia brasileira 05 dois segmentos cram tratados por ramos teéricos distintos: a Etnologia Indigena ¢ os estudos de Relagdes Raciais, Paralclamente remetem as nogdes diferenciadas de etnia (indios) e de raga (negros). No que concerne a disciplina geografica havia pouco interesse na tematica étnico-racial ® Um dos primeiros nexos observados se dava no caso da negagio desses segmentos na formagio da identidade regional, como foi aludido acima, Outra possibilidade se abriu na abordagem dos Cactanos de Conceigao ¢ dos Tremembé de Almofala ESPAGO E CULTURA, LER) RJ, N. 1718, P. 77-88, JAN/DEZ. DE 2004 EE tenquanto grupos étnicos retomando uma linhagem deestudos antropolégicos da elacio entre identidade € etnia (Barth, 1969, Cardoso de Oliveira, 1976, Carneiro da Cunha, 1987), No entanto, tinhamos um contato com a Geografia Cultural? © procurivamos, com base em Raffestin (1993), autor aberto & inclusdo de ragas ¢ etnias, enveredar pela discussto do territério para além (ou aquém) da circunscrigao do Estado: Nacio" Trabalhamos com a nogio de territério como “a ‘construgio de um lugar proprio” ¢ como “um dado necessério & formagio da identidade grupal/ individual, a0 reconhecimento de si por outros"(Sodré, 1978). Tomamos como pressuposto ‘© pensamento que define o termo paraalém do espago conttolado pelo Estado-Nagao, maxima da Geografia, Politica, considerando que o territério vem a ser espaco apropriado por "um ator sintagmatico (ator que realiza um programa) em qualquer nivel” (Raffestin, 1993/1980: 143), ou seja, por grupos, ctnias, rligides, nagdes, empresas, Estados, ete © territério, assim formulado, nao se reduz & terra ocupada ¢ abrange o espaco apropriado pelo grupo, ainda que seja nos limites da representagio ¢ do conhecimento produzido (Raffestin, Op. Cit. 144). Essa nocdo inclui um repertério de lugares de importancia simbélica, envolvendo agrupamentos nao mais existentes onde resi ram antepassados, porges de terra perdidas, localidades para onde migraram vérios parentes € que se deseja conhecer: lugares acessados através de viagens, noticias, lembrangas, saudades". A construgao dos dados em campo € 0 aporte tedrico nos levavam a identificar um ferritério étnico fragmentado na escala local, mas extenso © que excede os limites dos agrupamentos em foco, apoiado sobretudo pelo parentesco, incluindo, todavia, uma aproximagio politica dos Tremembé € do Caetano com outros segmentos indigenas € negros Na década de 1990 0 processo de aparecimento ¢ identificagdo desses grupos continuou em plena vitalidade. Optamos por dar seguimento & pesquisa com uma rede de agrupamentos negros rurais levantada a partir de Conceigao dos Caetanos & Agua Preta ¢ que abrangia as localidades de Goiabeiras ¢ Lagoa do Ramo, situadas no municipio de Aquiraz, na Regido Metropolitana de Fortaleza Ao longo do contato com familias negras na capital € no interior fomos mapeando rotas de interacao que remetiam a fundagio das comunidades. negras rurais no final do século XIX, ao entrelacamento entre elas € migrac3o para Fortaleza ¢ para a regido amaz6nica (Ratts, 2001). Esse outro trabalho foi desenvolvido na area da Antropologia, mantendo a interface com a Geografia e teve por base a relagao entre identidade Etnica € mobilidade territorial, aprofundando a nogio de territério referida, porém retornando brevemente a Ratzel (1990) ¢ Max. Sorre (1955), cujos projetos interdisciplinares colocavam os deslocamentos de populagao em primeiro plano. Concluimos que os grupos em foco combinam em geral a permanncia no agrupamento negro rural de origem com 0 transito por € a constituigao de niicleos de migrantes, 0 que ocorre por varias razdes 1. Ha procura por trabalho em lugares distintos daquele de origem, mas onde existe 0 apoio dos parentes préximos (0 que os assemelha a diversos segmentos migrantes); 2. Continua a preferéncia pelo casamento intra-€tnico (0 que os diferencia, tem parte, de outros grupos urbanos ou rurais); 3 Entre os mais velhos e as liderangas observa-se 0 desejo (ou 0 sonho) de preservacio continuidade do "projeto” dos ancestrais fundadores dos agrupamentos rurais, 4. Hé uma percepgio do valor das difereneas (étnicas ¢ outras) diante do processo de adaptagio do modo de vida a contemporaneidade. Pode-se dizer que as migragies tornaram-se uma tradigao para os moradores de agrupamentos rurais que procuram manter-se coesos apesar de toda a expropriagao que ocorre no campo. Para nao alongar mais esse texto, é cabivel reter algumas dimensdes do proceso de aparecimento de grupos indigenas ¢ negros no Brasil. Primeiramente € fundamental apreender que esse aparecimento € politico (Martins, 1993: 27). Num paisem que “custa alto” ser indio ou negro, parafraseando mais uma vez Roberto Damatta (1976), a auto-atribuigao de identidade vem acompanhada de demandas pela manutengao ou recuperagao de direitos, sobretudo do acesso a terra, no caso em questao. Em segundo lugar, como nos indica José de Souza Martins ao tratar de conflitos fundiarios: necessério trabalhar com uma concepgao de amplitude de espago maior do que aquela envolvida em cada conflito fundiério © em cada enfrentamento tribal Do mesmo modo, € necessério trabalhar com uma dimensao de tempo mais dilatzda do que aquela que encerra um acontecimento singular’ (Martins, 1993.71), Portanto, a escala local deve ser contraposta a outros planos de anélise superando 0 aqui € agora dos acontecimentos Em terceiro lugar, seguindo essa linha de raciocinio, é mister perceber a dimensio que o fendmeno vem tomando no cenério nacional. No que tange aos povos indigenas brasileiros, principalmente aqueles situados no Nordeste e com destaque para o ‘estado Ceard, hatum “crescimento” da populacao. Esse MME 6740 © CULTURA, LER), RN. 17-18, P77-88, JAN/DEZ, DE 2004 fato, que era conhecido entre indigenistas, tem a ver com a emergéncia de grupos que se afirmam ou sio reconhecidos como indios nas areas rurais ¢ principalmente, nas urbanas. © Censo de 2000 trouxe a pablico as estatisticas que indicam um aumento de 294 mil para mais de 700 mil indios em todo o pais" No caso das comunidades de remanescentes de quilombos alguns levantamentos apontam a existéncia de mais de 800 localidades em todo 0 pais, com maiores concentragdes em Estados do Nordeste (Anjos, 2000) com estimativa de 2 milhées de quilombolas (FCP, 2000). A diversidade de formagées (terras de uso comum, de heranca, apossadas, doadas ou adquiridas levou a um repensar da nogio de quilombo (Almeida, 1996) ¢ tem impulsionado linhas de pesquisa nos campos da Histéria, da Antropologia, da Geografia e disciplinas afins. No entanto, em cada regido ou estado da federagao persiste 0 que denominamos de “longa descoberta dos quilombos” (Ratts, 2000). Esse aparecimento de grupos indigenas © negros, sobretudo no campo (mas nao desvinculados do mundo urbano), comporta uma nitida dimensio espacial, Terras ocupadas ou perdidas sao reivindicadas, A expressio remanescentes de ‘quilombos torna-se em parte uma auto-identificagio de habitantes de comunidades negras rurais marcadas por distintas formas de apropriagio e de propriedade da terra, Fronteiras étnicas e espaciais estio em movimento, A mobilidade para as cidades do entorno das éreas indigenas ou quilombolas ¢ fato conhecido"* Por fim, 0 "jogo de espelhos’ da identidade (Novaes, 1993) nos remete igualmente aum quadro complexo que se desdobra em situagdes ¢ escalas variadas. Os encontros ou reencontros entre indios, hegros € os outros quase sempre tornam-se ESPAGO E CULTURA, UER), RJ, N. 17-18, #.77-88, JAN /DEZ. DE 2006 EEA confrontos perceptiveis nos planos da linguagem dos cédigos simbélicos ¢ da dimensio espacial. Nao raramente emergem como conflitos territoriais ¢ Etnicos, Os outros aqui referidos 0 sio sempre dentro de um quadro situacional, relacional ou contextual Podem ser os moradores do interior ou do entorno de uma comunidade negra rural ou de uma area indigena com quem os habitantes dessastiltimas nao mantém lagos estreitos de parentesco e de articulagio politica. Podem ser os agentes sociais que ali intervém ~ pesquisadores, repérteres, politicos, religiosos, advogados. Recebem diversos ‘nomes ~ os brancos, os estranhos ~ mesmo quando evitam ser racializados ou etnicizados ETNIAS, RAGAS EA CEOGRARL Claude Raffestin nos diz que ‘as diferengas raciais «€ étnicas sdo um fator politico, ora virtual, ora conereto" (Raffestin, 1993/1980), ou seja, emergem como fendmeno ou como possbilidade e se inserem num campo de poder. Etnias e racas nao sio temas ou “objetos de estudo” estranhos @ Geografia, Em sua Antropogeografia Ratzel vislumbrava a existéncia de territérios dos grupos étnicos. Sorre afirmava que a “europeizagio do ectimeno” através da colonizagio “implantou comunidades brancas por toda a terra’ (Sorre, 1961; 237-238) Os principais trabalhos vinculados a Geografia Humana traziam capitulos acerca da distribuigdo espacial das ragas. No entanto, ‘© pensamento geogrifico esta informado pelas idéias ‘em curso a Geografia Moderna tem um vineuilo pouco evidenciado com as teorias raciais e racistas que ora enfatizam a superioridade de uma raga/etnia sobre outra(s) ou desqualificam a variével raga na anélise gcogrifica (Sodré, 1982, 119-120). Sem poder aprofundar essa revisio do papel das etnias ¢ ragas em nossa disciplina, cabe ressaltar que nao se trata apenas de levantar a distribuicao espacial desses segmentos. Consideramos que estas so categorias estruturantes das relagdes sociais que ganham alta relevancia explicativa em consoniincia com outros aspectos da anilise, a exemplo de espago, classe € género. Na formagao social brasileira os povos indigenas podem ser referidos a varios "tipos’ de configuracao espacial: habitagdes tradicionais (Novaes, 1983), transito entre o mundo natural ¢ 0 sobrenatural, aldeamentos (lugares de encapsulamento espacio. temporal), a mobilidade espacial que resulta na significativa presenga de indios migrantes nas cidades. Processo semelhante ocorre com a populagao negra, com o agravante da grande mobilidade forgada que foi 0 tréfico negreiro © imprimiu cardter transcontinental & didspora negra, No Brasil os espagos ‘ou “lugares préprios” dos segmentos negros seriam os, quilombos, os terreiros das religides afro-brasileiras, as irmandades religiosas de “homens pretos ¢ pardos’ No Cearé os aldeamentos, agrupamentos espaciais que segregavam indios, deram origem a vilas e posteriormente bairros ¢ cidades por todo o Cearé e em outras éreas do pais (Petrone, 1995) Algumas das igrejas das irmandades negras permaneceram como testemunhos arquiteténicos de uma religido racialmente separada nas cidades de Fortaleza, Sobral, led, ¢ Aracati © vasto campo composto pelo vinculo entre etnia/raga, cultura e espago tem sido palmilhado por cestudiosos ligados a diversos saberes disciplinares ‘Geégrafos culturais dirigem seu olhar para os grupos Etnicos € raciais como “objetos de estudo"(Claval 1997) ¢ forjam as etnogeografias que na proposta de Paul Claval versam sobre o saber geografico, as cosmologias, 0s cédigos culturais ¢ 0s conhecimentos, toponimicos dos grupos (Claval, 1995, 1992). Todo esse movimentar no se resume a uma moda ou a uma mera selegio de “novos objetos de estudo” para 2 geografia. Como nos sugere Joel Bonnemaison (1981), etnia é uma das formas de apreender os grupos. sociais, no apenas os ditos “tradicionais’ No caso do Brasil trata-se de reinterpretar o mito da democracia racial em sua dimensio geogréfica cem que se percebe tanto a existéncia de segregacio espacial combinada com segregacio éinico-racial quanto a formagao habitual de territérios étnicos, Trata-se igualmente de constituir um saber que conjugue a reflexio sobre etnicidade ¢ raga com a(s) teoria(s) acerca do espago, O espago é elemento constitutivo © produto de encontros/confrontos étnicos € raciais ¢ a unidade de anélise pode variar do territério nacional 3 habitacao familiar. Parte da histéria do Brasil (ou dirfamos de sua geografia) pode ser (re}vista a partir dos territérios étnicos. Etnias © ragas se espacializam: na casa grande dos brancos ainda que estes fossem ‘mestigos’ € que aquela "abrigasse” escravizados negros ¢ empregados também mestigos; na senzala, habitacao negra, no quilombo, composto por negros, ainda que comportasse indios e brancos dos segmentos pobres. O mundo rural eo espago urbano brasileiros nao sio experienciados da mesma forma por brancos, negros ¢ indios e demais etnias. Nem tudo esté misturado € indistinto apesar dos nacionalismos ¢ regionalismos que tendem a suprimir a raga e a etnia de seus contetidos politicos No tocante ao espago urbano podemos nos deter em varios momentos. Em primeiro lugar, nas décadas iniciais do século XX, em certas reas do pais, como, por exemplo, na cidade de Sio Paulo, quando havia uma série de agrupamentos de HHMI sco © Currura, UFR), RI, 8-17-18, P 77-88, JAN/DEZ, DE 2004 imigrantes, judeus ¢ negros configurando locais de predominancia de nacionalidades € origens, nio exatamente “guctos” exclusivos, assim como pontos, ¢ hordrios de lazer racialmente separados (Rolnik, 1997, 1989; Bernardo, 1998) Nas grandes cidades possivel identificar territérios étnicos (ou raciais) demarcados pela miisica negra — samba e pagode (Pinho, 1999), raigae € soul (Silva, 1995), funk, rap (Souza & Nunes, 1996) = que podem ser igualmente locais de lazer ¢ de encontros/confrontos culturais. Nao é apenas a predominancia negra no agrupamento que define racialmente um territério © sim um conjunto de cédigos € simbolos compartithados, enfim, um modo de vida. Outros territérios rurais ¢ urbanos podem ser mapeados ou "etnogeografados’, sejam nnegros (Bittencourt Jr, 1996, Leite, 1991), indigenas (Arruti, 1996) ou vinculados a grupos de variadas identidades, além das trés racas, pois o Brasil comporta espacialidades diversas qualificadas pelas relagbes étnicas ¢ raciais, ‘A modernidade tardia, segundo Stuart Hall, é caracterizada pela descontinuidade e, igualmente, por uma alta reflexividade, o que leva a um “descentramento do sujeito" que vislumbra para si tum repertério variado de identidades ¢ intimeras possibilidades de articulacdo entre estas (Hall, 2001), Num pais multiétnico plurirracial de pasado escravista esse repertorio de identidades vem embutido de desigualdades. A associagio entre diversos planos identitérios como classe, raca/etnia © género, dentre outros, ou 0 deslocamento entre cles constitui um processo intricado para anilise. Para migrantes de (re}conhecida origem étnico- racial redefinem-se os vineulos com a terra natal, a aldeia, © quilombo face a uma tendéncia de ESPAGO E CULTURA, UER), RN. 17-18, P.77-88, JAN /DEZ. DE 2005 EER homogeneizagao cultural. Os brancos que, no maximo, apareciam como "étnicos" quando se abordava individuos ou grupos euro-brasileiros (italianos, portugueses, espanhéis, poloneses, alemaes), possivelmente devem se manifestar enquanto tais face & emergéncia do outro ¢ & politizagao das relagies raciais"* Raca € etnia nao sao categorias adversas & modernidade. Pelo contrério, constituem formulagies {que estruturam formagées sociais inteiras ¢ permitem articulagdes musicais € politicas, por exemplo, entre 08 negros em didspora pelo Atlantico (GILROY, 2001), Pode-se afitmar que esté em curso no mundo tum proceso de racializagao ¢ de etnicizagio das relagdes sociais. O jogo de espelhos da identidade cultural, étnica ou racial ~ sempre contrastiva ~ nos rremete para uma dimensio espacial e suscita anélises geoculturais ou etnogeogréficas. Hé um campo a descortinar € intersegdes a fazer entre 0 étnico, 0 racial, 0 local, 0 regional, 0 nacional ¢ © popular Existe um terreno propicio para que a Geografia se cenvolva com esse encontro/confronto teérico que implica em trazer etnia e raga para dentro de suas anilises, assim como 0 fizemos com a “cultura Como exemplo estimulante retomo 0 gedgrafo Milton Santos que, numa inflexio de sua carreira, instigado por motivagdes pessoais, pela midia, pela academia e pelos movimentos negros, passou a tratar desse tema no como um especialista, mas como individuo negro, geégrafo, pensador € cidadio, associando a corporeidade, a individualidade © a cidadania (Santos, 1999)"*. Vera Geografia ¢ os(as) ‘gcégrafos(as) adentrando na vasta tematica étnico: racial talvez dependa, como ocorreu em outros campos disciplinares, de uma mudanga no olhar ‘como nos exige 0 poeta: Garoa do meu Sao Paulo ~ Timbre triste de martivios - Um negro vem vindo, ébranco! 6 bem perta fica negro, Passa ¢ torna a ficar branco. ‘Meu Sao Paulo da garoa ~ Londres das neblinas finas — Um pobre vem vindo, ¢ rico! 6 bem perto fica pobre, Passa e tornaa ficar rico. Garoa do meu Siio Paulo, ~ Costureira de malditos - Vem um rico, vem um branco, Saio sempre brancos e ricos Garoa, sai dos meus olbos ‘Mario de Andrade - Lira Paulistana, 1944 Noms Proposta de comunicagio para o 3 Simpésio Nacional sobre Espago e Cultura, tema Espago e “Encounter’ arealizar-se de21 a 27 de outubro de 2002 na UER). Parte das idéias expostas aqui emergiram ou ganharam impulso a partir dos debates com alunas(os) da disciplina Geografia e Antropologia, Territérios ¢ Grupos Humanos que ministrei no inicio de 2002 no Programa de Pés-Graduagio € Pesquisa em Geografia da UFG "0 livro citado tem por titulo € subtitulo Ideologies _seogrdficas:espago, cultura epoltica no Brasil. Trata-se de uma coletanea de ensaios publicada originalmente ‘em 1988 e que pode ser vinculada a0 vastoe variado ‘campo que se denomina Geografia Cultural, Ant@nio Carlos Robert Moraes foi 0 orientador da minha pesquisa de mestrado (1993-1996) 2 Relat6rio apresentado’ Assembléia Legislativa Provincial por José Bento da Cunha Figueiredo Jinior, em 9/101 1863, Outros documentos trocados entre a corte ea provincia, desde 1850, contém teor semelhante (CARNEIRO DA CUNHA, 1992: 213-214) lracema, Martim © Moacir compéem uma cena imortalizada em monument fixado na Praia do Mucuripe, em Fortaleza, um quadro distinto daquele contido nas péginas iniciais do romance de Alencar, quando a india jé havia morrido. + Esse assunto esté tratado de forma mais detalhada em ‘outros trabalhos nossos, inclusive no que diz respeito a fontes (RATTS, 1998, 1996a; 1996b) © Outros grupos (Etnicos,raciais ou nactonais) presentes| no territério cearense, como ciganos, judeus, sirio Tibaneses e “orientais", mereceram atengio ainda ‘menor no dmbito das Ciéncias Sociais, A invisibilidade e 0 processo de emergéneia indigena no Nordeste, ineluindo 0 caso cearense, vém sendo revistos por pesquisadores(as) vinculados(as) a diversos niicleos do Nordeste © do Sudeste. Para aprender parte dessa producio, consultar: PORTO ALEGRE, 1994; OLIVEIRA, 1999 ” E necessério registrar 0 pronto apoio da AGB as demandas dos Tapeba, sobretudo na pessoa do sedarafo José Borzachiello da Silva * Uma excegio se percebia numa parte do trabalho de Regina Sader (1992) que foi fundamental em nossa trajetéria * Através da profa, Maria Geralda de Almeida na UFC (hoje na UFG) que havia concluido ps-doutorado rnesse campo, com Paul Claval. Cf, ALMEIDA, 1993, "© Para uma abordagem dos deslocamento na nogio de territério conferir: MORAES, 2000: 15-27, " Nessa abordagem do territério devemos declarar que nos aproximamos das formulagoes de Rogério Haesbaert, gegrafo cujo trabalho até recentemente ‘pouco lfamos eutilizavamos (Cf. dentre outras obras suas: HAESBAERT, 2002: 118-121). Cabe ressaltar ‘que a nogio de territério negro tem um caminho proprio na ciéncia social brasileira entre estudiosos das casas de culto afro-brasileiro, dos locais de lazer da juventude negra e das comunidades negrasrurais (CE SODRE, 1988, BANDEIRA, 1988, GUSMAO, 1995; RATTS, 2001). ® Esses micleos, bem como a localidade de Lagoa da Encantada, habitada por um grupo que veio a ser reconhecido como indigena, foram identificados por pesquisadores(as) ligados(as) a0 Nuicleo de Geografia Aplicada da Universidade Estadual do Ceari (NUGA-UECE, 1983) HME sraco e curTura, LER), 8), N. 17-18, P 77-88, JAN /DEZ. DE 2004 "IBGE. Censo 2000, (wowwibge.govbr) '< Hi casos estudados de migrantes oriundos de Resultados preliminares remanescentes de quilombos (RATTS, 2001) e de ‘reas indigenas (Cf, Revista Travessia N° 24. 1996) No momento em que se discute pouco de modo fragmentado a adogio de agdes afirmativas dirigidas para negros(as), posigbes contrariasafirmam que elas prejudicariam os "brancos pobres" segmento raramente evidenciado nas relagies racias brasieiras, Essa expressio conjuga notoriamente raga e classe "CE. também: Milton Santos. Folha de Sao Paulo, 07/ 05/2000, REFERENCIAS BBLIOGRAFICAS ALENCAR, José de. Tracom: lena do Coaré, 43° ed. Sé0 Paulo Avia, 1998 [1865] ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de, Quilombos: sematalogia face a novas identidades. In: Projeto Vida de Negro (Org) Frechal: quilombo reconbecio como reseroa exrativsta, S80. Luis SMDDHICCN, 1996, pp. 11-19. “Terras de preto, terra de santo eterras de indo ‘posse comunal e confit. Resta Hameanidade, N° 15. Brasilia, 988, Ano IV. 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