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1=As Crises do Teansformacio Espacial dos Dinciros Hunanos JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS 2~ Pon um Dincito Constirucional MICHELE CARDUCCI 4 — Republicanisno WALBER DE MOURA AGRA 5 Classificagko dos Dinciros Fundamentals JAIRO SCHAFER 6 =A Constiwuicio, « Lineratuna € 0 Dinelro GERMANO SCHWARTZ 7 =O Estado-Juiz na Democeacia Contemponinea ROGERIO GESTA LEAL 6 ~ Tempo, Dineiro e Constituigto FABIANA MARION SPENGLER 9 —Constitucionalismo em Tempos de Global ALFONSO DE JULIOS-CAMPUZANO ago lonalismo € Cidadania IS BOLZAN DE MORAIS « VALERIA RIBAS DO NASCIMENTO livrariaff DO ADYOGADO feditora Fone/Fax: 0800-1-7522 editora@livrariadoadvogado.com.br LUIGI FERRAIOLL am aE Por uma Teoria dos Direitos © dos Bens Fuxdamentais ist i q \ | | | ar Estado € Constitvicko — 11 LUIGI FERRAJOLI Por uma Teoria dos Direitos e dos Bens Fundamentais Tanducko ALEXANDRE S/ ALFREDO COPETTI NETO. DANIELA CADEMARTORI Assim, em que pese os ensaios aqui publicados terem sido escritos em’ épocas diversas — basta verificar, por exemplo, di- reitos fundamentais, editado na Itélia no ano de 1998, ¢ teoria dos direitos fundamentais do ano de 2010, inédito até entio, in- clusive no continente europeu -, eles repercutem e fortalecem, justamente pelo espaco temporal entre suas produgdes, 0 nexo cexistente entre as duas obras norteadoras do garantismo proposto por Ferrajoli ~ Diritto e Ragione. Teoria del garantismo penale, Sumario cuja primeira edigto, em lingua italiana, ven publicada no ano de 1989 e Principia luris. Teoria del diritto e della democrazia, publicada no ano de 2007, respectivamente ~ e comprovam, so- bremaneira, a posigao auténtica e continua do autor. } Portanto, face a proposta ferrajoliana — ancorada na concep- ‘go de Estado Constitucional Garantista ¢ vista de uma perspec- tiva ndo somente hist6rico-descritiva, mas teérico-propositiva ~, todos 0s ensaios seguem uma linha comum ¢ desembocam na frase fundamental que expée 0 escopo de sua longuissima obra juridica: o garantismo serve para limitar e vincular o poder, seja ele piiblico ou privado. 5 ‘A unio destes trés textos publicados agora no volume Estado e Constituigdo, sob a coordenagio do Professor Doutor Jose Luis Bolzan de Morais, tém, em comum, a coeréncia de um pensador verdadeiro, preocupado € compromissado com os problemas do direito contemporaneo, sobretudos com aquelas faldcias que enriquecem o senso comum tedrico dos operadores. juridicos atuais. Parte I Direitos fundamentais ° Jose Luis Bolzan de Morais Alfredo Copetti Neto ‘denticas 3 se a suas implicagies 7 lade da pessoa, igualdade, 103 mensio da 108 f © efetividade: a construgdo da esfera publica e das fungBes e instituigbes de gar 13 — Earth Carter, 1982 — Framework Convention an — . Conventian on Bolg ocala de Kyol, 197. ‘ORGANIZAGAO MUNDIAL DA SAUDE. Rta, 200. Trade-Related Aspects 0 Change, 192 esl, 1992 olectua Property PAROLECHIAVE,27, 2002; acide Acqua) PETRELLA, Bl antesto ito ala va per tut, Toc: Gruppo Abel, 2001 bone comune. Ego dea soda, com prticlo do Ludaro Garo, ogg Emi Diab, 2008 PISARELLO, 6. Vvonds para todos: un derecho on (dleostecin.E dorecto aura wvonda gna y adeuada como derecho engi, Barcelona ari, 208, PORTINARO, PP. Olve lo Stato dl dito. Tania de gud oanarchia dept avoca?, in (COSTA P. © 2010, 0. ar, toda, ea, Mana: Feline, 2002 PUREZA, JM. El paimeno comin dela rumantad {Maca un Derecho solids? Maat, Tei, 200 REPUBLICA DA BOLIMA Constuo de 2008 REPUBLICA DO EQUADOR. Consus de 2008 loa do a RLOUCC),€, Le nbd tara: crizonte 2000, Sen Domenie ace, 199 SERRES, M.Le cont 0) ra. onto at for Wars 2002), rad, Le que de acqua, Mano: Fe Toes Have Staeing? Toward Loga Fights or Natu ing Co, 188, natura, Eodoga@ sot del ito, Toxin: Giga alan dtarmacia ccs, uma Toe: lapichol 2000, \WINDSCHEID, B, Lehuch des Paneer, (182-187), ad .de FADDA,C. @ BENSA, Dito dee Pardo, Toro: Ue, 1002, ZIEGLER, J. Lect almenaton, Pai Mile | une Nuts Faye, 200; Facqua come dito socalee cone ato cat, I caso palestine, in 2005p. 125142 Parte I Teoria dos Direitos Fundamentais De que coisa falamos quando fi ? Para esta pergunta podem s, de acordo com os seus diversos fundam s de vista dos quais vém formulad« A primeira resposta & aquela dada do ponto de vista da justiga. Essa responde, mais exatamente, & interrogagao de tipo direitos devem ser (ou é justo que sejam) es- tabelecidos como fundamentais?”. Trata-se de uma resposta nao de tipo assertivo, mas normativo, que depende dos critérios tos funda- 10 respostas s € 08 div metaéticos ou metapoliticos -a convivéncia pacifica, a igualdade, a dignidade das pessoas, as suas necessidades vi ~ id6neos para justificar a estipulacdo de determinados in ou necessidades como direitos fundamentais, Neste pecto, como “fundamento dos direitos fundamentai a justificagdo ou 0 fundamento axiolégico daqueles valores ou principios de justiga dos quais se reivindica a afirmagio como direitos fundamentais. Sio fundamentais, de acordo com tais cri- térios ou bases, todos os direitos que garantem o neces cumprir aqueles valores ou principios de justiga ‘A segunda resposta & nossa pergunta é aquela dada do pon- to de vista da validade segundo o de, mais precisamente, as interro; posta para esta pergunta é de referindo-se dqueles que no ordena- em questo sao estipulados como direitos fundamentai segundo ponto de vista, 0 “fundamento dos direi damentais” designa a fonte ou 0 fundamento juridico positivo, que, nos diversos ordenamentos, tém aquelas situagdes subjet , que So, de fato, os direitos fundamentais. Com base em t fundamento, sdo fundamentais, por exemplo, no direito francés ino, todos aqueles direitos sancionados como tais no di direitos reito vigente, na Franga ou na Italia, Analogamente, fundamentais, no direito inte como tais pelas cartas € convengdes Declaragdo Universal dos Direitos Pactos sobre direitos civis, politicos, econdmi turais de 16.12.1966 e outros documentos si A terceira resposta ¢ aquela dada do ponto de vista da efe- dade. Deste terceito ponto de vista, entendemos perguntar ‘quais direitos, por quais razdes, através de quais processos e com qual grau de efetividade se afirmaram e sao de fato garan- tidos como fundamentais em um determinado espago e em um dado tempo?”. A resposta a esta questio é de tipo empirica ¢ assertiva. Mas a sua referencia e do é ida pelas rnormas, mas sim por aquilo que de fato acontece ou aconteceu ordenamento em questo em relagio concreta tutela ou concre- ta violagio dos direitos neste estabelecidos. Neste terceiro aspec: 90 to, 0 “fundamento dos direitos fundamentais” designa a origem histérica ou 0 fundamento sociolégico daquelas conquistas da izaco que mentais, deste te se afirmam como resultado de lut fato, concretamente garantidos nos diversos ordenamentos. E facil reconhecer, nestas trés diversas classes de respostas A nossa pergunta inicial e nos diversos pontos de vista dos quais sto formuladas, outras tantas aproximagdes disciplinares dist tas; 0 ponto de vista axiolégico externo da filosofia politica; 0 ponto de vista juridico interno da ciéncia jurfdica; 0 ponto de vista factual externo da historiografia e da sociologia do direi to. Nenhuma destas respostas, no entanto, nos diz 0 que sao os mentais. E essa uma questio de teoria do direito, prejudicial a todas as outras, Somente se precisarmos, responden- do a tal questio, 0 que entendemos por “direitos fundamentais’ poderemos responder a todas as outras perguntas: estabelecer os critérios axiolégicos em base aos quais justificar quais direitos devem ser tutelados como fundamentais; reconhecer quais so s fundamentais estabelecidos em cada ordenamento; reconsttuir 0s processos hist6ricos € culturais através dos quais reivindicado, ¢ reconhecido nos indagar as condigdes e 0 gratt ase as garantias mais iddneas Bes € que, S40, de para satisfazé-los. A quarta resposta 4 nossa pergunta por isso aquela dada do ponto de vista da teoria do direito. Desse quarto ponto de la queremos perguntar: 0 que entendemos com a expresso eitos fundamentais”? Quais sio as caracteristicas estruturais que diferenciam tais direitos dos outros direitos subjetivos, como por exemplo os direitos patrimoniais? Quais sio as condigdes em presenga das quais - independentemente de quais sio em um dado ordenamento, de quais é justo que sejam, e de qual € a sua origem hist6rica e o seu grau de tutela ~ podemos falar de “di- reitos fundamentais”? Em suma: qual € 0 significado do conceito -juridico de direitos fundamentais? Nesse quarto aspec: designa a razdo io do conceito de “direitos ica que me parece o1 mais fecunda capacidade explicativa, é aquela que identi ca os direitos fu m todos aqueles direitos que sao igo estipulativa ou co Wo tem nenhuma diferenca entre aquele de qualquer outra dei ito, como, por exemplo, estipulativas, de jeito de direit juridico”, de idade” ou similares. Uma imente das definigdes dogmiticas dos juridica positiva, como, por exemplo, explicativa que, em conjunto com as outras teses em condigies de satisfazer.” a-se também de uma definigio ideologicamen ier ordenamento, mesmo para os orden: ivos ou totalitérios desprovidos de direitos funda- (0 aos quais designaré uma classe vazia. E vale, s Sejam as nossas id ou de esquer tas, conservad ou progressistas. Vale, até mesmo, para fascistas ou anarquis tas, ideologicamente contr ipstese, A tutela de q| quer direito ndependente dos valores das necessidades que se considera que devem ou no dever ser destas, mesmo um direito q jidere nefasto, como por exemplo, o direito de portar armas, previsto pela segunda emen- vo, de (odas as outras definigdes tedricas, tem um cariter te formal ou estrutural. Essa no nos diz “quais si s deveriam ser” ou “quais e em que medida sao de fato somente “o que sio” os direitos fundamentais. onde positivamente esta- belecido, até como por exemplo o direito de fumar ou o direito de sei s ruas pelos conhecidos. exatamente a defi io pode nos dizer nada sobre os contetidos de sobre as necessidades ¢ os interesses que sto ou deveriam tos que convencionamos chamar como veremos no § 3° nao é it um direito como “fundament ibilidade politica e da dispor égicas, As divergéncias dednticas imos, portanto, quatro diversas ordens de ques- vamente quatro diversos pontos de vista, quatro tro diversos tipos de nos estar interessados somente em ma ou a mais de uma destas questdes. O que importa é q quest&es sejam distinguidas claramente, que nao se con dam 0s relativos discursos, diversos quanto aos fundamentos e &s referéncias semanticas e, ao mesmo tempo, que nenhum destes 308 ignore os outros trés e que se identifiquem adequada- mente as relagdes recfprocas. Penso, de fato, que a maior parte dos pseudoproblemas e dos falsos dissensos que se manifestam no debate sobre os direitos fundamentais dependem da confusio comumente operada entre estas quatro aproximagdes e entre as questées e disciplinas. As vezes se pretende uma defi- 93 os Diretos ¢ dos Bens te6rica, ou pior, se contrahandeia como definigao te6rica ‘como ais. Outras vezes se apresenta como tese jurt- dica uma tese axiol6gica, ou vice-versa, ou pior, uma tese jurfdi- Cada urna destas confusdes equivale a uma faldcia ideol ages: entendo como as ou concepgdes que troquem indevida derivaco, em contraste com a lei de Hume, de ivas extraem teses prescritivas, ou 0 contrério. Distinguirei ‘0s quatro tipos de faldcias ideolégicas frequentes nos discursos isofos e dos juristas: falécias que vao todas para além do tema dos direitos fundamentais e atuam sobre toda a experiénci ralista, consiste na confusao do ponto de vista axiol6gico externo com aquele juridico-interno, ou seja, no achatamento deste pt deste por aquele. A terceira, que chamarei faldcia norma siste na confusio do ponto de vista juridico com aquele fac- ou seja, no achatamento deste por aquele. Ao fi faldcia, que chamarei faldcia realista, consiste na confusio i versa do ponto de vista factual com aquele juridico, ou seja, no achatamento deste por aquele. Todas estas falicias se resolvem na deformacio e/ou na gitimagdo do existente: a faldcia jusnaturalista porque ignora 0 ponto de vista interno ao direito positivo, substitui o direito justo pelo direito vigente; a faldcia éti Flo, ignora 0 ponto de vista extern vigente pelo direito justo; a falicia normativista porque ignora a nefetividade do direito e sub: crigo da real invalidade do direito e considera aquilo que de fato acontece ® Defi logis" em Di Vi, § 232, p. 16-317; ca ragone, ct, exp. 1V. § 14.2, p, 208-208, ‘912913 e§ 59. p. 930. Sobre as Gustto Teor aque- lente entre os juristas que tendem a ir a realidade pela imagem normativa do funcionamen: tituigdes ofertada pelas leis q iplinam — por exemplo, da administragao pablica ou do processo penal -, mes: mo que violadas. A quarta € frequente entre os politélogos e os socidlogos, que tendem a substituir 0 (“verdadeito”) direito pelo funcionamento concreto, muitas vezes ilegitimo, dos aparatos. Para evitar tais falécia mente a distingao entre estes quatro pontos de aproximagdes disciplinares, mas tam! entre dever ser ¢ ser, na qual 0s discursos gerados por esses se encontram entre si € que tora falaciosas as derivagdes desses. Precisamente, o ponto de vista axiol6gico da justiga e as relativas, teses ético-politicas sobre os direitos fundamentais enunciam 0 dever ser moral ou politico do direito positivo, formulando aque- s direitos que se entende justos e que o direito positivo deveria estabelecer € garantir, portanto, um ponto de vista eritico exter- no, normativo e projetual em face do direito positivo. O ponto de vista juridico da validade constitucional exprime, a0 contratio, nos ordenamentos complexos dotados de constituigées ri © dever ser jurfdico do préprio direito, expresso por aqueles reitos que validamente as leis deveriam garantir € que de fato hem sempre garantem, é também este um ponto de vista eritico © normativo, mas interno ao diteito, em face das leis mesmas, e precisamente das suas lacunas e antinomias. Enfim, 0 ponto de sta do direito vigente exprime, com relagao su 0 das é necessério compreendet 10 so- sta e as relativas Por isso, também este, rela a um ponto de vista cri lo que de fato acontece. Daf as inevitaveis divergéncias de6nticas entre os trés pon- tos de vista. Primeiro a divergéncia entre teses axiolégicas e teses juridicas, que € o tema privi ica moral ou politica do direito. Em segundo lugar, nos ordenamentos complexos, a divergéncia interna entre teses juridicas referentes a0 cis, vejase Ps is ith Teor Por win Teoria doe Diteitos e dos Bens Fun titueion: dica. Em terceiro lugar a divergéncia entre a normativ’ ica, expressa pelo vo, e a efetividade do proprio 0 detectada pelas pesquisas empiricas e historiograticas, Sao estas divergéncias deénticas que formam, no meu en- tendimento, os temas mais interessantes da filosofia da da ciéncia juridica e da sociologia do direito, aos quais conteré Perde de radical smo”, “jusposi mo”, em torno da qual se dividem, geralmente, as discussbes sobre os direitos fun mentais, As ts proposigdes nao so incompativeis simplesmen- fe porque dizem respeito a discursos diversos. Sao evidentemente s pesquisas sobre o grau de efetividade da tutela ¢ ndamentais, ofertada pela ciéncia mentos concretos de direito positive. Ao contrario, a determinagdo, em sede de filosofia da justiga, daquilo que € justo que seja tutelado como direito fun- damental ndo pode nfo ser, para quem queira continuar a usar esta velha palavra, “jusnaturalista”. Mas nio pode ni sé-lo pela mesma razao pela qual se é juspositivista, em sede de teoria e de ciéneiu do direito, € em sede de sociologia juridica: pela separaco entre fatos e valores imposta pela lei de Hume que, se nao permite derivar os primeitos dos segundos, nem mes- mo consente derivar os segundos dos primeiros Este trabalho pretende demonstrar como a teoria do direito € capaz de oferecer um ponto de encontro para as diferentes abor- reflexo um do outro, enquanto no caso dos direitos , como Sem essas leis, de fato, o que existe, relativamente a um direito fundamental porque deste implicado, nao € uma obrigagdo ou a vedagio correspondente, mas somente o dever de introduzir tal obrigagao ou tal vedagdo." E por isso bem possivel que, dado um direito fundamental, no existam ~ mesmo que devessem existir ~ obrigagdes ou vedagdes correspondentes, por causa da (indevida) inexisténcia da norma que lhes prevé, assim como é possivel que nio existam mesmo que devessem existir — 6rgiios € procedimentos habilitados a declarar as violagdes e a aplicar as relativas sangées, por causa da (indevida) inexisténcia das normas que uns e outros predisponham. Além disso, também € possivel que, dado um direito fundamental consistente em uma permisstio (por exemplo a liberdade de manifestacdo de qualquer pensamen 02 8 esta a detinigio de exista~ mesmo se ndo devesse existir, por forga do princ: da no contradicio — a vedagio (ou a nao permissio) do mesmo ccomportamento (por exemplo da manifestago de pensamentos vi- ipendiosos), por causa da (indevida) existéncia da norma que 0 prev@. So, portanto, possiveis e em qualquer medida inevitaveis, Dai deriva uma consequéncia de grande importincia ce metateérica. A formulacao de um direito fundamental de um sistema nomodinamico de direito positivo, espe: cfetuada por uma constituigao rigida, nao é “negad auséncia das devidas garantias. Segue-se uma divergénc' © dever ser e 0 ser do direito a qual eu j4 acenei no pi precedente e que ndo pode ser mplica que a auséncia de garantias, que por exemplo, no direito fe ser lida como uma indevida No plano metatesrico, essa ivo, mas também critico € ivos: um pa- pel critico em face das lacunas ¢ das antinomias, que a ciéncia jurica tem o dever de detectar, normativo e projetual, no que diz respeito as leis de atuagao, que a estipulagio dos direitos f nentais determina sejam produzidas. 4. Direitos fundamentais ¢ justiga: dignidade da pessoa, igualdade, tutela dos mais fracos, paz ‘Vimos, no pardgrafo precedente, a oposigao conceitual en tre direitos fundamentais e direitos patrimoniais: os primeiros, Bie 222-224, 103 enquanto universalmente atribuidos a todos € em igual medida, estdo na base da igualdade juridica; 08 segundos, enquanto atri- bufdos singularmente a cada um e em maneira exclusiva, esto, a0 contratio, na base da desigualdade jurfdica. Uns, estando dis- postos imediatamente por normas heterdnomas, so, por sua na- is; outros, estando predispostos pelas normas que Ihes preveem como efeitos dos atos de autonomia negocial sio, por sua natureza, disponiveis. F esta oposigao estrutural en- Ire as duas classes de direitos que sugere os critérios metaéticos € metapoliticos em grau de fundar uma resposta racional — em sede amplamente, em sede moral e polit tétios ro, entre eles esireitamente conexos, ¢ todos confirma: hist6rica do constitucionalismo, seja estatal onal: a dignidade da pessoa, aig mais fracos e a paz. primeiro critério é a di a contraposigdo entre direitos pa sais e, der re esfera do disponivel ou de mercado e esfera do indisponivel ou da dignidade, pode bem ser fundada sobre a opo- ‘aquilo que na lidade da pessoa. A diferenga ilo que tem um prec’ iquer coisa de o1 aquilo que € superior aquele prego e que que tem uma dignidade... Aquilo que permite que qualquer coisa seja fim a si mesmo (Zweck an Sich selbst) nao tem somente um valor telativo, e, isto é 0. mas tem um valor int isto que “pos escenta Kant, nao € outro que "o homem considerado como pessoa”, 0 qual “é elevado além de qualquer prego, porque como tal (homo noumenon) ele deve ser protegido, no como um meio para atingir os fins dos outros e muito menos os seus proprios, ‘mas como um fim em si: vale dizer, ele possui uma dignidade (um valor interior absoluto) por meio da qual constrange a0 respeito de si mesmo todas as outras criaturas racionais do mundo’ Mas o que € que garante a dignidade da pessoa? Sao aque- les direitos fundamentais que asseguram o “respeito”, dos quais, fala Kant, da sua identidade de pessoa: por um lado, direitos de liberdade, que sao todos ~ da liberdade pessoal a liberdade de consciéncia, da liberdade de pensamento a0s direitos de autono- uma pessoa igual a todas as outras; de outro lado, os di sociais & sobrevivéncia que sao todos — dos direitos & satide e & s condigdes de vida, as quais nfo tem relago com a identidade das pessoas, mas sim com as sua discriminag6es ou disparidades de cardter econdmico ou soc! Daf o segundo fundamento axiolégico dos direitos funda- a égalité en droits (obviamente fundamentais) procla- a pelo art. 1° da Déclaration de 1789, a qual se conecta & dignidade da pessoa em um duplo sentido: no se porqué, como escreve Kant, é exatamente aquel permite” a cada um, nas relagdes com as outras pessoas, se com cada uma delas e de estimar-se como seu igual senso objetivo porque é através da garantia dos direitos de liber- dade e dos direitos sociais que vem assegurada, com igual valor associado a todas as diferencas pessoais de identidade ¢ com a redugao das desigualdades materiais, a dignidade das pessoas. Igualdade 6 um prinefpio complexo, que exige a protegio das diferencas e a reducdo das desigualdades. Para isso, € o fun- damento axiol6gico e antes mesmo légico seja dos direitos de liberdade, que sio estabelecidos para a diferencas pessoais, seja dos di no fato de que pela maioria reitos so divididos e desejados por todos impossivel e geraria de qualquer mente este, o sentido do univers: s ‘com o principio dade, que impem o respeito das diferenas através da spondo-se as opressdes e as disc ndependentemente das opinides e da vontade, seja dos oprimidos que dos opressores. Decorre um terceiro critéris rir quais direitos € justi I6gico em grau de suge- dos mais dos mais fortes que v sua auséncia: em primeiro lugar o direito & vida, contra a lei de mm & mais forte fisicamente; em segundo lugar, os direitos de lei de quem é mais forte ps nomicamente. Também no plano que todos os direitos fundamentais foram sancionados, nas diversas cartas constitucionais, como o resultado de movimentos de luta ou de revolugao que, de tempos em tempos, laceraram 0 véu de normalidade ¢ naturalidade que ocultava uma precede! opressio ou discriminacao: dos direitos de liberdade aos dir dos trabalhadores, dos direitos das mulheres aos direitos sociais. Sempre estes direitos foram conquistados como outras tantas ‘Ses dos poderes de outra forma selvagens e na defesa dos sujeitos mais fracos contra as leis dos mais fortes — igrejas, sobe- poderes paternos ou maritais ~q\ responderam, todas as vezes, a um goravam na sua auséncia. E imites mentado, entre as garantias do multicultural salismo dos direitos fundamentais, entais sdo sempre leis dos mais fracos contra a | como direitos do individuo, para proteger as pessoas também ~ e acima de tudo ~ contra as suias ras e até mesmo contra suas familias: a mulher contra o pai e tra 08 pais, e, em geral, os oprimidos con- esquegamos que o primeito di ricamente nas origens do Estado moderno foi a liberdade r sa e de consciéncia, que é essencialmente u ~equivalente a liberdade e & tolerdncia de todas as diferengas de identidade, sejam essas re ismo dos direitos fundamentais, em verdade, exatamente porque 0s direitos so do individuo, ¢ nao das culturas, no somente se ope ao multiculturalismo, mas Ihe repre- senta a principal garantia. Tomemos 0 exemplo da clitoridectomia ou das praticas de segregacio das burcas no regime Taliba. E claro que nesses casos se infligem as mulheres lesGes graves que ne- nhum respeito das culturas dos outros pode justificar; pela mes- ‘ma raziio pela qual nao é justificavel o cédigo de honra mafioso, © homicidio “por causa da honra”, o duelo ou andlogos. Chego assim ao quarto critério a direitos fundamentais: 0 nexo entre direitos humanos e paz, ex- pressamente enunciado no predmbulo & Declaragio Universal de 1948. Devem ser garantidos como direitos fundamentais todos aqueles direitos vitais para os quais a garantia é condigio neces- l6gico de fundagao dos este conflto vem sutetado com fundamen em uma soncepy io eso falaciosa do univer séria da paz: 0 direito A vida e a integridade pessoal, os direitos civis e politicos, os direitos de liberdade, mas também os direitos sociais & sobrevivéncia; em resumo todos os direitos em que a auséncia de tutela e satisfagio se degenera na violéncia opressiva dos mais fortes ow na revolta dos mais fracos. Em questées vitais, ‘como sio aquelas que formam 0 objeto de tais direitos, ndio nos deixamos colocar em minoria. Por isso estes ingressam naquela que eu chamei a “esfera do indisponivel”. E somente na esfera do dispontvel e do decidivel, recolocada de fato na discricionarieda- de da politica e na autonomia do mercado, que operam o pi pio da maioria e 0 confronto pacifico e democratico de opinides € interesses divergentes € contrapostos. Isto quer dizer que sio fundamentais todos aqueles direitos dos quais da garantia depende a paz e, para os quais, a violagio justitica, nfo o dissenso, mas a revolta até o exercicio, como p clamaram muitas constituigdes do século XVII, do direito de resisténcia, Estes direitos sdo antes de mais nada, segundo o para- digma hobbesiano ¢ paleoliberal, os direitos a vida, & integridade € liberdade pessoal, contra a lei do mais forte, prépria do estado de natureza, Mas sio também —em um mundo em que sobreviver € sempre menos tum fato natural e sempre mais um fato artificial, dependente da integragio social ~ os direitos sociais & satide, & instrugao, & subsisténcia e & previdéncia, dos quais da satisfagao depende, nas sociedades hodiernas, os minimos vitais. Existe uma correlago biunivoca entre o grau de paz e o grau de garan- tismo para 0 suporte de todos estes direitos: a paz tanto mais, sélida e 0s conflitos tanto menos violentos e chocantes ~ dentro das sociedades nacionais e em nivel internacional, na esfera pa- blica e na esfera privada das relagGes interpessoais ~ quanto mais as garantias de tais direitos sto extensas e efetivas 5, Direitos fundamentais e validade — a dimensio substancial da democracia constitucional No menos relevante, para a ciéncia juridiea, & a segunda ordem de implicagdes da nossa definigZo teérica de “direitos fi damentais” como direitos de forma logicamente universal. Do 108 PeibiotrenaAOLt linas juridicas positivas, se disse, so todos os direitos con! ersalmente pelas nas de direito positivo do ordenamento por elas pesquisado. Disso resulta que tais direitos, se estabelecidos em constituigoes produc normativa de ago muda, por isso, a do direito e, consequentemente, da democrac Na auséncia desses ites e vinculos constitucionais, de a validade das normas de lei € confiada unicamente ao res. Peito das formas estabelecidas pelas regras sobre a sua produc, que bem podemos chamar de normas formais sobre a produgao, Paralelamente, essas normas formais — enquanto ditam os proce- dimentos idoneos para garantir, através do sufrigio universal e ica dos érgdos normativos, das normas produzidas para a vontade, mesmo que indi maioria dos eleitores ~ servem para fundar a democracia unica mente na sua dimensao formal ou politica. Tanto as condigdes de validade das leis como a estrutura da democracia se tornam, ao invés, muito mais complexas com a constitucionalizagao dos direitos fundamentais. Nas democracias dotadas de const da e de controle jurisdicional de cons- titucionalidade, o respeito das normas formais sobre a produgao assegura somente a validade formal das normas produzidas. Mas Para que tais normas sejam vélidas necesséria, ainda, a sua va fidade substancial, ou seja, a compatibilidade dos seus significa- dos com aqueles expressos pelas normas constitucionais. Essas rnormas, com as quais vém positivizados os dir stiga, chocando-se com os contetidos e, por isso, com a substdncia das normas produzidas, podem set chama- das normas substanciais sobre a producdo. E exprimem aquilo que podemos chamar de a dimensio substancial ou constitucio- nal da democracia, j4 que aos poderes, caso contritio, fados da maioria," Por ma Teoria doe Dis Os direitos fundamentais constitucionalmente estabelecidos stio, portanto, normas substanciais sobre a producao legislativa: ‘em primeiro lugar “normas”, como eu ja disse, sendo confer: das de maneira geral ¢ abstrata aos seus titulares; em segundo lugar, normas “substanciais” sobre a produgio de nor na vez que dizem respeito nio A forma, mas ao significado, ou seia, ‘substncia das normas produzidas. O conjunto dessas normas ibstanciais circunscreve aquela que chamei de a “esfera do inde: cidivel”: aesfera do “indecidivel que”, determinada pelo conjunto dos direitos de liberdade e de autonomia, os quais impdem lim tes, ou seja, proibigdes de lesio cuja violagao gera antinomias; e aesfera do “indecidivel que nao”, determinada pelo conjunto dos direitos sociais, os quais impoem vinculos, quer dizer, obr gagdes de prestacio cuja inobservancia gera lacunas. Somente 0 que fica fora dessa esfera é a “esfera do decidivel”, com base no exercicio dos direitos de autonomia: da autonomia pol diada pela representagdo, nas produgdes das decisées pi da autonomia privada, diretamente exercida sobre 0 mercado, nia producao das decistes privadas. A esfera do deci 3 dimenséo formal da democracia, resulta, entio, culada pela esfera do indecidivel 4 dimensao subs tancial, que chega & democracia pela constitucionalizagao dos direitos fundamentais como normas substanciais sobre a produ- ‘go normativa. E nessas duas dimensdes, ambas necessérias, que se baseia 0 paradigma da atual “democracia constitucional”, em virtude do qual é retirado, a qualquer poder decisional, piiblico ou privado, a disponibilidade dos direitos fundamentais € dos ot {tos principios constitucionais, como a separagao dos poderes ¢ a independéncia da jurisdigao e das outras fungdes de garantia mensional da democracia, compor- tando também a subordinagao da lei aos principios € direitos imentais constitucionalmente estabelecidos, determina, por do, um fechamento do estado de direito, j& que serve tam- bém para subordinar o legislador a lei, e precisamente & const tuigo, niio somente quanto as formas da produgao juridica, mas Essa estrutura mull também quanto aos contetidos normativos produzidos; por outro 0, um fechamento ¢ uma ampliacdo do positivismo juridico, visto que, gracas a ela, acaba positivizado nio somente 0 “ser”, ‘mas também 0 “dever ser” do direto, no s6 a sua existéncia, ‘mas também as escolhas e as finalidades que devem presi sua produgio. De outra mao, somente a imposigi 0s poderes da maioria por obra de normas co rigidamente supraordenadas € capaz de defender por si mesma, ou seja, dos excessos de um poder de maioria ilimi tado, a propria democrac ca ou formal. Nao por acaso 0 otegido pela rigidez izou logo apés a s eis experincias do nazi ® fascism, Descobiu-se, entio, que Rem o poder da maior que hav consentido 0 advento das ditaduras, nem 0 consenso de um sistema democracia pol por isso, estip do préprio pacto e das suas cléu: liberdade e pelos direitos sociais Acrescento que 0s direitos fundamentais estabelecidos nas tar a democracia , por assim dizer, para sobre seus ombros, tica, por outro servem para integr4: red-la juntamente com a = niio 86 os diteitos politicos, mas também os direitos civis, os direitos de liberdade e os diteitos so ndo conferidos igualmente a todos enquanto pessoas ou © “povo", referindo-se a poderes e a expect. do proprio principio de maioria. A ‘920, elevando-os como normas supraordenadas a qualquer out confere aos seus titulares ~ ou seja, a todos os € 0sso ~ uma posigdo, por sua vez, supraordenada ao conjun- to dos poderes piblicos que a seu respeito e a sua garantia sto idadaios de carne soluti no estado constitucional de direito: por um lado, como ga- rantia negativa, em virtude da qual ela pertence ao povo e a nadi mais e a ninguém, nem assembleia representativa, nem ma parlamentar, nem presidente eleito pelo povo, pode apropr la ¢ usurpé-la ou, de maneira alguma, invocd-la como fonte de onipoténcia; por outro lado, como garantia positiva, no sentido que, nao sendo o povo um macrossujeito, mas sim 0 conjunto de todos os associados, a soberania pertence a todos e a cada um, identificando-se com o conjunto daqueles fragmentos de sobera- OU Seja, daqueles poderes e contrapoderes que sdo os direitos fundamentais dos quais todos e cada um so titulares. A sobé nia, em suma, é de todos e (por isso) de ninguém.'"! Fica, ento, redefinido o sentido e o papel das con ‘Bes. As constituigdes S20, por ass forma escrita, sendo eles mais necessdrios e preciosos quanto mais profundas, heterogéneas ¢ conflituosas forem as diferencas pessoais ¢ as subjetivid ao chamados para tu- telar através da gar erdade, € quanto ras e intoleraveis forem Idades materiais que tém a nda compartilhada por grande parte do pensamento constitucio- ta, as constituigdes, em suma, ndo servem para representar organieamente a vontade com exprimir asua fun- s. Elas servem, a0 Contravio, para garantr todos e cada um, também contra a maio. ria e, por isso, para assegurar a convivéncia pacifica, mediant direitos fundam« entre sujeitos interesses ‘twalmente em assim que o estado constitucional de direito, através da sua funcionalizacdo para a garantia dos diferentes tipos de direi- tos fundamentais, acaba por se configurar como “instrumento” para fins que nao séo seus. So, de fato, as garantias dos direi- tos fundamentais ~ do direito A vida aos direitos de liberdade e Aqueles sociais ~ os “fins” externos ou, os “valores” e, por assim dizer, a “razio social” co tic € na consequente poderes piiblicos, das pessoas de came e osso sobre as méiquinas politicas e sobre os aparatos adm do profundo da democracia, De resto, em tempos como aqueles no qual vivemos, é exatamente essa concepcao garantista da de- mocracia que deve ser afirmada e defendida contra as correntes s € tendencialmente plebiscitérias da democracia re- presentativa e contra as suas degeneragses videocraticas. 6. Direitos fundamentais ¢ efetividade: a construgio da esfera publica e das fungGes e instituigdes de garantia A terceira ordem de implicagao da nossa definigao teérica dos direitos 10s de forma universal diz, speito as origens hist6ricas de tais direitos e as espectticas con- igGes de efetividade e de inefetividade consequentes & parti Jaco por eles empreendida com as suas garantias. No plano histé senvolvimento dos direitos fun- damentais ocorreu, como sugeriu Norberto Bobbio, em duas Giregdes: aquela da sua universalicagdo e aquela da sua multipli a ira diregdo, aquela da expansio ¢ da generali- zagiv dos seus titulares, o seu progresso ocorre da indivisibitidade ligada & sua unive divisibilidade e essa u sempre em nome srsalidade, Sempre essa in- des de status que, m ade dos direitos politicos betizados scriminagdes ligadas e proprietérios. Com a tinica excegao das a cidadania, que fica como iiltimo fator de diferenciagao ¢ de ex- io por nascimento, ao met universa direitos fundamentais, gragas também & sua internacional Jd se estendeu a todos os seres humanos, Mas também na segunda dirego, aquela da multi ‘© motor do desenvolvimento r ma universal e o princi de igualdade que, rentes geragoes de . estendid: sua vez, a todos gragas & sua f de outras geragdes de sujeitos revoluciondrios: os direitos de liberdade ne- as dos séculos XVIII e XIX gera ap6s, 05 direitos dos trabalhadores do trabalho impostas pelas lutas operdrias; e, ainda, os sociais estipulados nas constituigdes do século XX graga jo dos partidos progressistas. Sempre se tratou de berais, socialistas, operdcios, feministas, pacitistas, ambi , antissegregacionistas ~ que fundaram a sua solidarieda- de interna € a forga das suas reivindicacdes sobre a igualdade expressa pelo universalismo dos direitos de tempos em tempos impugnados e conquistados. Mas também sob o plano fenomenoldgico e sociol6gico é rma logicamente universal dos direitos fundamentais qu rmina as técnicas espectficas das suas garantias. O problema coloca-se de maneira diferente para os direitos patrimoniais e para os fundamentai tias primarias dos direitos pat com os direitos por elas garant oibigzio de nto com o direito real de propriedade. Os direitos fundamentais, ao contrdrio, por ‘As garan- taneamente fem atuagao e para garantia prima saide; as normas penais que proibem 0 homicidio e a privada em atuagdo e para garantia primaria dos direitos tegridade pessoal; as leis eleitorais em atuagao dos dir icos; as normas sobre as indaria dos direitos e, de fo Tesados em via pr is € dos introdugao, que depende a efetividade dos direitos fundamentais. Podemos, portant iguir dois tipos de inefetividade de tais direitos: uma inefe por obra de atos invilidos ou iefetividade estrutural, c sa prod ngente € sempre repara o da interveneao judicidria. Ela consist de atos inval sanciondveis com base no seu acertamento jut da garantia secundaria. A inefetividade estrutu epardvel pela via judicidria e requer sempre a legislador. Ela se manifesta, de fato, na indébita omissio, que ymente o legislador pode (e deve) reparar, da legislacao de atua gio necessariamente requerida pela estipulagao constitucional de qualquer direito fundamenta Tanto no caso da inefetividade contingente dos direitos ndamentais gerada pela indébita produgdo de normas na sua violagao, como no caso da inefetividade estrutural gerada pela lébita omissio de leis na sta atuaco, nos encontramos presenca de vicios do ordenamento: de antinomias, (cios por comissao, no primeiro caso; de lacunas, ios por omissio, no segundo. Trata-se, em ambos os casos, de antinomias e de lacunas bem diferent las — que gera ‘mente so associadas como subespécie de um mesmo género! = que sdo resolvidas diretamente pelo intérprete com a aplicagao daquele de especiatidade e com 0 re- s prineipios gerais. Essas assim chamadas antinomias e lacunas constam na fisiologia de qualquer ord. mento nomodinamico. Elas nao consistem, de fato, em um v da norma derrogada, ou seja, da lex anterior ou da lex generali As antinomias e a , S80 vicios, quer dizer, violagies legislativas que nao podem ser superadas pelo intérprete, mas exigem sempre uma intervengio reparadora: jurisdicional, no caso das antinomias, legislativa, no caso das la as. Trata-se de uma diferen cuja incompreensio, a ver, €0 reflexo da indisponibilidade iniciada pela mudanga de paradigma ocorrida na estrutura do direito com a introducdo das constituigdes ri Aquilo que 0 constitucionalismo rigido menologia do direito po: es, como se sae, aval da pela escoléstica kelseniana, das contra es em termos. E exatamente essa virtual ilegitimidade do di- 0, provocada pela po , que representa nal mais caracteristico do estado consti maior defeito, mas também, com um paradoxo aparente, a sua maior qualidade. Somente nos Estados absolutos, de fato, onde © legislador € onipotente, essa divergéncia nao existe, ¢ valida- de ¢ existéncia das normas coincidem, Nas democracias cons- titucionais, ao contrério, validade e existéncia, por causa dessa : rio coincidem: nelas, podem ocorrer, como icunas. E isso, como se disse ao fim do jurfdica um papel critico e projetistico, impensavel no velho modelo paleopositivista e unidimension: do estado legislative de dire’ © problema das garai sempre incompleta e imperfeita e sempre, todavi da democracia constitucional. Nessa perspectiva, a meu vei paradigma constitucional impde um repensar da esfera pil Eu ja disse, no pardgrafo precedente, que desenham aquilo que chamei de a “esfera do indecidtvel que” & “que ndo”, que consiste nos limi impostos pelos d consti quela que eu chamei de a “esfera do decidivel”, que consiste, a0 contrario, no exercicio dos poderes politicos ¢ civis. E eu liguei as duas esferas as duuas dimensdes nas quais articulei a democra- cia constitu a dimensio formal e especificamente politica, confiada as fungdes ¢ as instituigdes de governo, ¢ a dimensio substancial, assegurada pelas fungdes e pelas instituigdes de ga rantia, Os poderes inerentes &s fungdes de governo dentro da esfera do decidfvel, podemos agora acrescentar, sao poderes de disposigdo, ou seja, de producdo e de inovacio normativa; os poderes inerentes as fungdes de garantia da esfera do indecidivel siio, a0 contrétio, tendencialmente, poderes de cogni¢do, quer di zer, de acertamento dos pressupostos juridicos das decisdes que siio seu exercfcio. Os primeiros sfo, portanto, vinculados uni- camente ao respeito da (e por isso compatfvel somente com a) constituigtio por parte das decisdes com as quais so exezcitados; 98 outros sao, ao invés, vinculados & bem mais rigida aplicagaio substancial da lei, com base na correspondéncia dos contetidos do seu exercicio aos pressupostos de fato e de direito por ela previstos, Por ume Teosia dos Di 1 Bens Fundamensis 117 Se isso é verdade, mui da classica separagio mon- tesquieuiana entre poder legislativo, poder executivo & poder judicidrio, concebida para uma ordem institucional muito mais elementar do que as atuais, & hoje essencial uma outra disti do e separagio, aquela entre funcdes € instituigdes de gover- ngdes e instituigdes de garantia, baseada na diversidade ' Fontes de legitimagao: a representatividade politica das as, sejam elas legislativas ou executivas, ¢ a sujei¢do & lei, ¢ precisamente & universalidade dos direitos fundamentais jionalmente estabelecidos, das demais. Por um lado, de fato, aconteceu que o poder legislativo e 0 poder executivo, esmorecendo a titularidade do segundo sobre 0 sober a hoje reunidos, em democracia, pela mesma fonte de legi e como articulagdes das funcdes politicas ou de entrar entre elas, a0 menos nos sistemas parlamen- 1a relagdo muito mais de compartithamento que de separagao. Por outro lado, as funedes de garantia das quais se n para além das cl sicas fungées jurisdicionais de garantia secunddria, até todas as fungdes g imento do Estado soci dentro da velha triparticao do século XVII, desenvolveram de fato, nas dependéncias do executivo sob o rétulo abrangente da “Administrago Publica”. Mas € claro que elas, como a edu- cago e a sate piblica, por exemplo, nio sto legitimadas, como as fungbes de governo, pelo critério da maioria, mas pela apli- € do seu papel de tutela, também contra a tos fundamentais de todos. Por isso, deveriam cia e a separagao do poder maioria, dos di ser asseguradas a elas a indepet executiv Essas distingdes entre fungGes de governo e fungdes de rantia sdo, particularmente, fecundas no direito interna verdadeiro problema, a verdadeira grande lacuna em nivel in. ica-se, de fato, com a falta das fungdes e das instituigdes de governo, Nao t a0 menos pertinente as fungdes de def uma hipotética e representativa plane- téria baseada no principio uma cabega/um voto. Nesse nf quilo que se pede, muito mais do que o reforgo das fungdes € astituigdes de governo, que tém a ver com a esfera da discti nariedade politica e sio, por isso, mais legitimas qu: exercitadas pelos organismos representativos dos Estados nacio- di garantias secundérias ow jurisdicionais, destinadas a ntra as violagdes dos direitos fundamentais, mas antes garantias primarias e das relativas sua di educagio, seguranga, tutela do meio ambiente. As ta cartas dos direitos que se aglomeram no ordenamento internacio- carecem, ao contrério, quase que totalmente — caso se exce a Corte Penal Internaci nao aderiram as maiores poténcias ~ de | . das garantias dos direitos nelas proclamados. E como se um ordenamento estatal fosse composto somente pela sua Constituigao e por poucas instituigSes substancialmente pri- vadas de poderes. O ordenamento internacional nao é outra coisa que um ordenamento dotado de cartas constitucionais e nao mu to mais do que isso, Resumidamente, é um conjunto de promes- sas no mantidas. Creio que o adimplemento dessas promessas por meio da construgo de uma esfera piblica mundial seja, hoje, 0 principal de lo 4 razio jurfdica e & razio politica pela crise dos Estados nacionais e peios gigantescos problemas abertos pela Blobalizagio. A. garantia dos direitos fundamentais, e mais do que nunca, dos direitos sociais, nao pode, de fato, ocorrer sem © desenvolvimento, por conta da politica e do diteito, de uma a, como esfera heteronoma, das esferas pri- vadas do mercado e da economia. Essa obviedade, muito segui- damente negligenciada, vale, claramente, em nivel estatal, onde as gar is ocorreram historicamente tituigdes de garantia ~ a escola, lades, os hospitais, os entes de previdéne sisténcia — vinculadas & sua satisfagao, M |, no qual, na auséncia de fungdes ¢ instituigdes de garantia idéneas, os muitos direitos internacionalmente esti- pulados ficaram no papel, inefetivos e violados, como atestam as dezenas de milhdes de mortos, todos os anos, por fome, falta de agua e doengas nao curadas, uma vez que os banais “remé- dios essenciais", que poderiam combaté-las, nao so produzidos porque no tém mercado e so, por isso, “remédios drfios” da sua razio de ser, que é, claramente, s6 0 proveito. Entdo, essa caréncia de garantias equivale a uma evidente lacuna: agora nao 08, mas também a uma fea, a uma violagdo do direito internacior que corre o risco de comprometer, se nao reparada, © futuro da paz c a credibilidade de todos os nossos conclamados princt ‘em matéria de direitos humanos, legalidade e democracia. Obviamente essa esfera piiblica internacional no poderd nunca ser criada pelo mercado; pelo contrério, porque ela con- siste num sistema de limites e vinculos nao somente em relagio aos poderes piiblicos, mas também em relago aos poderes eco- nOmicos e privados, guiados unicamente pelos seus interesses. Sobre isso niio podemos nos iludir. Podemos estigmatizar como imorais e talvez como criminosas as agressbes A ecosfera das atividades industriais poluentes ot as escolhas das casas farma- céuticas que privam 0 acesso a remédios essenciais a milhdes de doentes. Podemos até mesmo reconhecer que a construgdo de uma esfera piblica mundial & altura das dimensdes globais do ‘mercado corresponde, nao diferentemente do que ocorreu com a formagio dos Estados nacionais nas origens do capitalismo, aos interesses gerais e de longo prazo do proprio mercado. Mas absurdo supor que as empresas se enicarregardo espontaneamente da tutela do meio ambiente ou dos direitos de todos a satide ou 2 educagdo, ou iludir-se que alguma autolimitagao possa proce- der por c6digos morais ou por uma ética qualquer dos negécios. ‘Mesmo que as finalidades da esfera pablica - da paz & seguranga, da tutela de bens e direitos fundamentais & propria garantia da concorréncia ~ estejam presentes no interesse vital de todos e, por isso, também no mundo das empresas ¢ do mercado, é claro que elas nio podem, pela sua natureza, ser alcangadas p privados, mas somente com meios pablicos. A esfera pt de fato, uma esfera heterdnoma e pode ser produzida somente pela politica e pela sua capacidade de governar a economia in- sujeigdo da primeira & segunda, to, a falta de uma esfe altura dos novos poderes supraestat blema cuja solugao depende hoje daquilo que Norberto Bobbio chamou de “o futuro da democracia”. A crise dos Estados, e por : icas nacionais, ndo correspondeu a construgao de uma esfera piiblica 8 altura dos processos de glo- balizago em andamento. A consequéncia mais evidente da glo- balizacao, na auséncia de uma esfera pablica mundial, foi, entao, © crescimento exponencial da desigualdade, sinal de um novo mo que considera ine miséria, a fome, as doencas norte de milhdes de seres humanos sem valor. & uma desi le — como nos dizem as estatisticas sobre as crescentes diferengas de renda entre paises ricos e pafses pobres e sobre as, dezenas de milhdes de mortos a cada ano por falta de Agua, de comida e de remédios essenciais ~ que nio tem precedentes historia, A humanidade € hoje, no seu conjunto, incomparavel 0 se veja piiblica internacional 0 verdadeiro grande pro: ncomparavelmente mais pobre. Os homens esto, no plano juri- dico, incomparavelmente mais iguais do que em qualquer outra as inumerdveis cartas, constituiges e declaragdes mmparavelmente mais c is profunda desigualdade. E isso nao é som fator de descrédito de todas as proclamagoes constitucionais dos direitos fundamentais, cujo sinal distintivo é a sua univer ivisibilidade. Ao ponto que no poderemos cont falar decentemente de direitos humanos e de dignidade da pessoa permanecer essa sua evidente di A paz, j4 que esta lacuna de direito piiblico — em global cada vez. mais frégil e interdependente — nao € por muito tempo sustentivel sem que se dirija a um futuro de guerras € de violéncia capaz de derrubar as Resulta que a construgao de uma esfera pablica mundial ndo é 120 ‘Riot FeRaAIOL 1 Teoria dos Diretos € dos Beas F 121 somente implicada e normativamer reito a sério, pela Carta da ONU e pelas tantas declaragies ¢ con- {tos hurmanos, mas representa tambér para um futuro de guerras, de violéncias de fundamentalismos. Mesmo que a atual anarquia internacional equivalha, de fato, a primazia da lei do mais forte, com efe’ go prazo, tampouco ao mais forte, em uma geral inseguranga e precariedade: uma vez ‘como escreveu Thomas Hobbes, “tem forg: ficiente para matar o mais forte ou com uma maquinagao secreta ou aliando-se com outros”."" 122

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