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vwrremercade-de-letras combr Por que se trabalhar com géneros ¢ no com tipos de textos? Em gue esses, ‘rabalhos esses conceitos si diferentes? tica Apli © Oqueé género de texto? Como entender a nocio? ‘Que génerosselecionarparaensin,e como organizéos ao longo dour Como pensor progresses currclares? Lingui ¢ Deve-se trabalhar somente com os géneros de circulacio escolar? BERNARD SCHNEUWLY, JOAQUIN DOLZ E COLABS. extra-escolar? Ambos? Quais sao os mais relevantes em cada caso? Grandemente inspirados nas ideias dos autores que traduzimos neste volume, as orientagdes os referencias novos que os PCNs puseram em crculacdo nas escolase 10s programas de formagio de professes goraram inémeras divides quanto a como pensar ensino dos géneros eats e ora como enamine de manira ia: dividas sobre o modo de pensar eo modo de fazer esse ensino de novos objetos. Por essa raztio é que organizamos e publicamos a traductio de textos diversos de Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz ¢ colaboradores sobre o ensino escolar de géneros escrito e ordi, que, pretendemos, concretizrd um pouco mais, para os professores e formadores de profssores, encaminhomentos ou procedimentos possiveis para o ensino de géneros selecionados pelo projeto da escola ou da série/cilo. GENEROS ORAIS E ESCRITOS NA ESCOLA GENEROS ORAIS EESCRITOS NA ESCOLA BERNARD SCHNEUNIY JOAQUIM DOLZ E COLABORADORES DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAGAO NA PUBLICAGAO (CIP) (CAMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL) ‘Géneros orais@ escritos na escola /tradugao e orgarizagao Roxane Rjo Glas Sales Cordeiro. ~ Campinas, SP : Mercado de Letras, 2004. ~ (Colepio As Facos da Linguistica Apicada) fos autores, Bibliograa. ISBN 85-7501- 092-9 1.Escrta 2.Leltura 3. Linguistica aplcada 4, Sala de aula —Direglo 5. Oralidade 6, Pardmetros Curiculares Naclonais (ras. Rojo, Rexane. I Corder, Gale Sales. 1, Série 4.0512 200.970.1407 Indice para catélogo eistematico: 1. Gtnaros orals @ eseritas : Estudo@ ansina : Educapdo 370.1407 Texto adaptado ts normas aos padrees da nova ortograia brasiera conforme o Decreto Legisativo 54 0618 de abr de 1995 COLEGAO AS FACES DA LINGUISTIC APLICADA ‘Coordenagso: Lela Barbara (PUC-SP) Maria Antonieta A. Celani(PUC-SP) (Capa: Vande Rotta Goride Preparapao doe originals: cia Helona Lahoz Moral Revisde: Nara Marcello Braida DIREITOS RESERVADOS PARA A LINGUA PORTUGUESA: (© MERCADO DE LETRAS EDICOES E LIVRAPIA LTDA. Fa Jotio da Cruze Souza, 53 Telefax (19) 9241-7514 19070-116~Campinas SP Brasil wow mereado-deatras.com br livros @ mereado-de-letres.com.br St digg B reimpressao SETENBROZO1S Esta obra esté protegida pola Lei 9610/98, E proibida sua reprodugdo parcial ou total ‘20m a autorizagéo prévia do Editor. O inator staré sujelto is peralidades provistas na Lol 6... O ORAL COMO TEXTO: COMO CONSTRUIR UM OBJETO DE ENSINO"? ac Joaquim Doky Bernard Schnerwhy (em colaboragio com Sy/ie Haller’) Embora a linguagem oral esteja bastante presente nas salas de aula (nas rotinas cotidianas, na leitura de instrucdes, na correcao de exercicios etc.), afirma- se frequentemente que ela nao é ensinada, a nfo ser incidentalmente, durante atividades diversas e pouco controladas. Assim, como denunciam didatas, socié- logos, linguistas e formadores de professores (Wirthner, Mattin e Perrenoud 1991; De Pietro e Wirthner 1996),0 ensino escolar da lingua oral edeseu uso ocupaatualmente uum lugar limitado. Os meios didaticos ¢ as indicagées metodolégicas so relativamente 1.-DOLZ, J. e SCHNEUWLY, B. (1998). “L'oral comme texte: Construire un objet enseignable”, in: DOLZ, Je SCHNEUWLY, B. Pour un enseignement de oral: Iniciation aux genres formels 4 fécole. Paris, ESF Editeur, pp. 49-73. [N.T.] 2. Este capitulo, em parte, inspira-se no artigo de mesmo titulo publicado por J.-F. de Pletro J. Dolz, em 1997. 3. Sylvie Haller 6 assistente de pesquisa do Grupo Grafé, equipe de pesquisa do Departamento de Didética do Francés Lingua Materna da Universidade de Genebra. [N.T.] 125 i formagio dos professores apresenta importantes lacunas. No entanto, 0 afitmam claramente que 0 oral constitui um dos dominios ptiorti. ensino do francés. Th claro que, do ponto de vista ontogenético, o dominio do onal se primeiramente, nas e pelas interagdes das quais as criancas ‘em esos bem particulares, aprende-se a falar antes iA maioria sam com seus pates sobre sua familia, contam aconte- fisticada,discutem problemas de sua época, pedem is ou menos) adequada ou persuadem seus pais com is sutis, Portanto, a aquisicio do oral comesa, sobretudo, por uma jagem incidental. Devera a escola intervie sobre as condutas de comuni- onal espontines? Nao seria preferivel deixar que se desenvolvessem sem. et Intervencio? O que é preciso fazer para aperfcigoar a expressio oral? desenvolver as capacidades de linguagem oral ligadas & circulagio dos 8, vida profissional ¢ & cidadania? Que linguagem oral trabalhar? ‘Uma anilise, mesmo que superficial, mostra que, paradoxalmente, o oral homem de negécios, © oral como objeto de apzendizagem specifica também entre essas duas pontas? Assim, a0 longo do ensino fundamen- {ul © aprendiz poderia fazer novas descobertas a respcito desse objeto que _MAnipula constantemente e utilizé-lo em contextos que nio lhe sio ainda familia- ‘numa perspectiva diditica de um procedimento sistemtico de longo do ensino fandamental, é 4 ser ensinado. B, somente com promové-to de simp! Aeeonhecido pela instituiczo escolas, como o sio a pro fou lceratur condigio que se pode A, Faculdados. INT.) 126 (© presente capitulo consagra-se precisamente a esse objetivo. Visa conitzuit uum objeto de ensino-aprendizagem claramente delimitado e definido, que confi 20 oral legitimidade ¢ pertingncia em relacio aos saberes de referéncia, as expecttivas socias € is potencialidades dos alunos. Essa construgio é indispensével para fundar um ensino formal do oral na escola, numa 6ticaa um s6 tempo pedagticacdiditica, Paiticularmente no contexto escolar, esse “objeto” ~ que podemos definir, numa primeira aproximacio, como “o oral” no singular -, longe de ser evidente, deve primecizamente ser definido naquilo que em de préprio,antes deser situado em relago 4 escrita. Em seguida, poderemos colocar questées como: Como tomar 0 oral ensinavel? Que oral tomat como referéncia para o ensino? Como torné-lo acessivel 108 alunos? Que dimensdes escolher para facilitar suas aprendizagens? © conjunto do processo de elaboracio do objeto de ensino pode parecer complexo. Entretanto, de certa maneira, é o que os professores fazem a cade vez que ensinam alguna caine, que, consequentemente, deiniray um objeto de ensino, de maneira b {mplicita e sem muitos problemas, desde que se trate de objetos ancorados na tradicfo (a gramiétice, por exemplo). O processo revela-se mais deicado para a produgio de s para as priticas orais, cuja legitimidade nao esti absolutamente assegurada. Por- tanto, para o oral, essa clabotagio consciente e reflexiva parece-nos um enquadre importante na perspectiva de instaurar, nas salas de aula, um procedimento de ensino do texto oral comparivel 10 do texto eserito, com sua tradigio secular € suas renovasées importantes dos iltimos anos (Schneuwly e Bain 1993; Reuter 1996). B 0 que tentaremos fazer nos préximos itens. 0 oral quia gue tata em v0, ata [Nesta primeira parte, itemos apresentar e discutir aquilo que esti irechitvel- ‘mente ligado 20 oral, por sua materaldade fonica, antes de stato na totalidade das ‘manifestagdes de linguagem, orais ¢esctitas. Portanto, o oral apateceré aqui na sua particulasidade, para, em seguida, sr tratado como fenémeno de linguagem hetero- ‘ninco, dependent de contestos variveis e em constant interago com a eserita. A voz: Uma produgio do aparelho fonador (© termo “oral”, do latim os, ers (boca), refere-se a tudo 0 que concemne ‘boca ou a tudo aquilo que se transmite pela boca. Em oposigio 20 escrito, o oral 127 reporta-se 4 linguagem falada, realizada gracas ao apatelho fonador humano: a lasinge, onde se criam 0s sons, em conjunto com o aparelho respiratério, que fornece o alento necessitio A produgio e & propagacio desses sons, ¢ com as cavidades de ressoniincia (a faringe, a bocae onatiz), que sio cavidades do aparetho fonador que vibram sob 0 efeito conjugado do sopro e dos sons. A produgio sonora vocal, como todo fendmeno sonoro, concretiza-se em forma de ondas ctiadas pelas vibrages produzidas pelo 10 do aparelho ‘vocal, que variam fisicamente do ponto de vista de sua frequéncia (Hz), de sua intensidade (4B) de sua duragio (ms). Também é preciso mencionat o timbre da voz, cuja riqueza depende do registro e da intensidade do som emitido, mas ‘gualmente da ccnfigurasio geral e das caracteristicas individuais do aparelho vocal emissor. O fato de quea voz seja simultaneamente produzidae ouvida pelo proprio ‘emissor é uma caracteristica essencial da vocalizagio, e 0 controle atsdiofonador € de capital importincia para a produgio oral. Muitas diseiplinas estudam a producto otal ea percepelo de suas propriedades pelo ouvinte. A fonética desctitva se interes pela producto desses sons da linguagem ‘humana e por suas caractersticas flsicas, Os trabalhos em fonética da percepeio, que analisam a recepgio dos sons pelo ouvinte, baselam-se principalmente na psicolin- sguistica. A fonoestilistica, por sua vez, estuda a vasiabilidade fénica — tanto do ponto de vista da producio como da recepgio ~ como informagio suplementar de uma expresso, no sertido linguistico e sociclinguistco. ‘A.voz: supotte acistico da fala Apesar das diferencas individuais de emissio de sons na prontincia e na articulagio das vogais ¢ consoantes (realizacées tangiveis a que chamamos fone), somente certas caracteristcas f6nicas so tomadas como pertinentes numa dada lingua: sio os fonemat. Essa classe de sons — que é definida como sendo composta pelas unidades linguisticas distintivas minimas ~ ¢ objeto de estado da fonologia (ou fonética funcional) tem um mimero de elementos limitado numa Kingua, No francés, sio 16 vogais e 21 consoantes e semiconsoantes. Veremos adiante que a ‘voz ni produz somente consoantes ¢ vogais, mas também elementos prosédicos, ‘como a acentuacio € a entonagio, As sogais ¢ a8 conseants — Se, do ponto de vista fisiolbgico, © mimero de timbres vocilicos depende do niimero de combinages possiveis de tamanho forma que podem tomar as cavidades de ressonincia (Faringe, eavidade bucal ¢ cavidades nasais), do ponto de vista de nossa lingua,’ somente retemos uma dtizia de timbres vocilicos fundamentais, produzidos sem a cavidade de ressondncia nasal, aos quais untamos, por nasalizacio, quatro timbres vocilicos suplementa- tes, Define-se acusticamente a vogal como um som “musical”, euj vibeagio é periddica, por causa da livre passagem do ar nas cavidades supragloti Do ponto de vista articulatério, as consoantes sio os sons prodizidos quando a passagem do ar é bloqueada, parcial ou totalmente, em un ou virios pontos do conduto vocal. Como esses sons sio apetiédicos, chegamos a falar de “barulhos”. Dadas as particularidades articulat6rias de uma consoance (Derivery 1997), esta pode softer modificagSes importantes, seja por causa da vogal que a segue (a consoante modifica seu ponto de articulagao), seja por causa daconsoante seguinte (as consoantes se assimilam, peé ou retroativamente). Por exemplo, uma consoante surda, como [p] etc., pode ensurdecer ums consoante snotmalmente sonora, como Get. -Arsilabas—Pelas regras de combinacio particulates ao francés, vogase consoan- tes que se sucedem sio agrupadas em slabas, sendo que seu niimero numa palavra’ ‘correspond perceptualmente ao niimero de vogais pronunciadas, quer esteam sozinhas, ‘ou precedidas/seguidas de uma ou vitis consoantes. Diz-se que, cm francés, a silaba é ‘vorilica. Ela é dita aberta (ou ivte) quando €terminada por vogal,efechada ou coberta), ‘quando termina por consoante, Em nossa lingua, mais de 80% das slabas sio abertas, se nfo levarmos em conta 0 caso das sfabas com queda do /e/ caduco, Tanto a simples escuta/emissio vocal cotidiana como a anilite cientifica ‘mostram vasiagdes fonéticas de um fonema —e, logo, de uma silaba ~e modifica «es histéricas atuando em certos elementos da lingua. Em resummo, uma realidade fonética absolutamente complexa e mutante que todo didata do oral deveria saber levar em conta, Passar do com @ palavra: os fatos prosédicas — Passamos da emissid vocal indistinta A emissfo articulada de vogais ou de consoante 6, de ones, e em seguida & produgio de sua combinacio,asflaba. Mas as proprias sflabasse agrapam, em unidades vocais maiores de nivel suprassegmental, unidades chimadas, na '5. No.caso dos autores, o francés. [NT] 129 Hien europea, de prosodemas.O desenrolar da fla é uma construgio linear in Mluxo verbal que, como tal, deve ser de ito em seu propsio flair € com Ho se pode pensat o oral camo funcionamento da fala sem a prosédia, itonagio, a acentuacio € orritmo. Jé que 0s fatos da prosédia sfo fatos lemos analisi-los em tenmos quantificivcis de altura, intensidade ¢ senciais de teda produgao oral, sea dominio consciente icular importincia quando a voz esté colocada a servigo de textos A\ entonagio — 8 altara tonal usval da palavea falada tem uma frequéncia | Inia vasiavele paricular a cada um. Enguanto uma parte das vatiaées tonaie ‘emogdes ou das atitudes particulares prime. Pode-se estabeleces, assim, uma Yoruhleta tipotogia de pactox cos ligados as emoges e as atitudes ¢ onstatar que, por exemplo, a pode ser reconhecida numa voz de fraca Ilensidade, de tonalidade baixa, num ‘npolento ete. (Leon 1993), Segundo Fontaney (1987), a principal fungio da entonagio consiste em Imiear acabamento ou continuidade do fuxo verbal, Acmtonagao deabertura, setalmente ascendente, chama a atengio do interlocutor e des {ivas Bla indica que olocutor nao terminou de falar e desea no, A ntonagio conclusiva,frequentementerealizada pelo abaixameato de um tom, | Mfeko fim do enunciado, Numa comsersagio, a entonacio permite a reulagae | tlostumos de faa entre os interlocutor efaclita a coconstrusao do disearea Ao enunciados, no momento em. no Capi 8, consagrado 8 leva em voz alta para os outros, algumas écnicas ‘98808 dmensves conscients.[Os autor 1988). Pour un enseignement de 197-202, ni traduzido ‘esto volume — N=.) 130 Al eintuain— A questio do acento, em francés, é muito controversa, Entte- dizer que 0 acento 6 a énfase em uma ou virias sfabas, em uma ou correspondent a uma variasio de um ou de vatios dos parirmetrosjé ), duragio (ms) ¢, eventualmente, altura (Hz). O 0 € 0 recorte silibico de um enunciado obrigam a que se utilize um entos, que sequencializam o fluxoda fala e Ihe conferem um sitmo, Mas, paralelamente a esses acentossfumicos, mais ou menos restrngidos pela lingua, encontra-se também uma categotia de acentos de intensidade que resultam da livre «scolha do locutor, de certa maneir, de seu estilo vocal ¢/ou de sua intencio. intensidade O ritmo produsio e a percepslo dos scentos ¢ das pausas determinam produgio e a percepeio de gry le grupos ritmicos (faa:se entio de um contorno entoacional que abrange, em média, de trés a dez sflabas, sendo que 0 grupo de daas ou trés sfabas nfo acentuadas seguidas de uma silaba acentuada é © grupo mais frequente na conversacio espontinea), seja de grupos de fBlego Gbringendo um ou vérios grupos ritmicos). O grupo sftmico é um sintagma delimitado por um acento final que tem, pot isso, una fangio demarcadors; 0 grupo de folego é um grupo delimitado pelas pausas de respiracio, de hesitaszo, ‘04 por pausas que se pocem qualficar de gramaticais, medida que estjam ligadas so acento final. A regulatidade rftmica do discurso pode ser modificada por acentos sesultantes da livre escotha do locutor, A.vocalizacio, suporte da verbalizacio, €0 instramento linguistico para a entonasio € a acentuagio; também é 0 lugar de éxpressio do ritmo e da imusicalidade, que associamos frequentemente is emoges. Devemos entretanto, Jembrar que as emogées sto culturalmente codificadas ¢ qu exemplo, 0 timbre alto (considerado como o mais agudo) expressa tristeza, enquanto o timbre grave (0 mais baixo) exprime alegria (Comut 1983, p. 56). + Falas espontineas Uma continuiade entre 0 oral dito expontines ¢ a esta oraizada ~ Existe uma {gama quase infinita de variedades de oral mais ou menos espontineo, mais ou ‘menos improvisado, mais ou menos preparado, com um grat de intervengio mais ‘ou mefios forte da escrita, que petmanece sempre como uma referéncia direta ou indireta para os locutores alfabetizados (voltaremos a isso adiante). Convém, centretanto, distinguit dois tipos de oral cujas caracteristicas so muito diferentes. oral “espontineo”, geralmente pensado como fala improvisada em situagio de interlocugio conversacional, que, numa das extremidades, constitui um “modelo” relativamente idealizado, a respeito do qual, is vezes, 4 primeira vista, sublinha-se O aspecto aparentemente fragmentirio e descontinuo que, com frequéncia, escon- de regularidades a servigo da comunicagio. Situado na outra extremidade em telagio a esse estilo oral esponténeo, temos as produgdes orais restringidas por Juma origem escrita que identificamos ou descrevemos como a “esctita oralizada”, Esta éconsiderada uma vocalizacio, por um leitor, de um texto escrito, Trata-se, portanto, de toda palavra lida ou recitada Entre essas duas priticas orais diametralmente opostas~com base nas quais obteros os tracos pertinentes, de maneita heusistica, de acordo com as necessi- dades de anilise ~, enconteam-se todos os orais, dos mais restritos e previs por sva origem escrita ou sua ritualizacio social, aos mais imprevisi pontode vista de sua estratura como de seu conteddo. is, tanto d ‘Teena do oral espontineo — Nas transctigdes de conversagbes dias espontineas ou do falar ordinatic, como as analisadas por Blanche-Benvéniste (1997), Blanche- Benveniste eal (1990) ¢ Gadet (1989), o que mais causa estranhamento € 0 aspecto parestemente caético do discurso oral se comparado a uth discurso escrito formal, em geral relido e revisado. Ficar pensando sobre o aspecto caético do oral em si a parti do discurso organizado pela escrita é condenar-se a somente ver hesitagbes, titubeis, reformulagées, etomaclas ecoicas, balbucios, falsos inicios e falsas cadén- cis, fiticos onipresentes, inicio de turnos abortados, quebras, intermapgbes, ltdos, ssuspitns de todo tipo, em que a frase candnica Sujeito- Verbo-Objeto é urn fendmeno singul e, portanto, riotivel e notado. Em resumo, vé-se aquilo que, muitas vezes € [por muitos autores, tem sido chamado as “eseérias” do oral espontineo. E verdade que, no papel, 0 aspecto dessa confeccio direta do tecido da fila poderia fazer crer {que essas escdrias entravam seriamente a comunicacio e que a simples possibilidade de se comunicar é um fendmeno completamente marginal E preciso relativizar essa nogio de “eseérias”. Por um lado, encontramos cfetivamente tipos de manifestacdes muito tangiveis do trabalho de elaboracio de lum pensamento se enunciando que poderiamos comparar ao rascunho da escrta, ‘Mas a natureza auditiva ¢ linear do oral torna possivel assistir a essa enunciacio ‘com toda transparéncia, sendo que esta se torna ainda mais “‘visfvel” quando teansctta no papel. Na realidade, essas escérias, pouco percebidas pelo ouvinte ¢ raramente sancionadas no quadro de uma troca conversacional, sio produzidas pelo locutor sem intengo nem consciéncia, Por outro lado, enconteamos elemen- toslinguisticos estraturados que uma gramética que no seja elaborada unicamerte 1 partir das normas da escrita poderia, com frequéncia, descrevet como 0 funcio- namento, particular ¢ necessisio, de diferentes formas do oral (Berrendonrer 1993). Os falantes no percebem essas estruturas como “etradas” € podemos hripotetizar que seria possfvel fundar, com base nos dados do oral conversacional, ‘yma geamética que verdadeitamente incluisse as regularidades éstruturais e fun- ionais das diversas produgées orais dos Falantes. “Pale cexto” sera [fa/aseT ti] ~ Por razbes socioculturais histoticamente recuperiveis, as produgées orais foram julgadas, no mais das vezes, na medida das normas (de exceléncia) da escrita padronizada. Esse ponto de vista é um verdadero obsticulo & compreensio, em toda sua comnplexidade, do que seja falar. Logo, bscurece também o que devemos esperar em termos delinguagem oral. Deco:te disso que legisla sobre e avaliar as produgdes orais, tanto no nivel segmental como prosédico, em fungio do que se espera da escrita, sob pretexto de uma boa diccio cede uma clocugio ficile fluente, parecida com uma versio definitiva deum escrito, é uma perspectiva na qual poderiamos suspeitar, com justiga, um profundo wiés ideotégico. Ela cxé como real uma fiegio: a do locutor-ouvinte ideal, falando de ‘uma maneita totalmente previsivel e normalizada, em situagdes de comunicagio perfeitamente delimitadas. Vimos anteriormente que a fala espontinea escapa & previsibilidade justamente porque se elabora em acio, S6 a veremos como cheia claborada”, cujo Tugar de existéncia — 0 oral— nao é 0 mesmo de sua etiacio (a escrita como base de dados do desempenho oral). As normas de dicgio, de enunciagio, de organizacio da exptessio oral espontinea foram, quase sempre, pensadas e fantasiadas unilateral- de “escérias” se a compararmos a essa outra fala “ mente, com base no que deveriamos nos limitar a esperar de um oral baseado na cscrita:é 56 nesse caso que bem falar significa falar como um livro escrito por um gramitico, lido em vo2 alta, com os supostos acento ¢ proniincia de Pacis! ‘A fantasia é pensar que se diz: “fale certo”, quando, na reslidade, pronan- amos, logo dizemos: fa/aseT i Comunicagio oral, mmulticédigos e incorporada ‘Tomar a palavra esti em relagio intima com 0 corpo. O otganismo pode trair 0 mal-estar ¢ 0 medo do locutor quando este deixa escapar indices involan- tirios de uma emogio (aceleragio do ritmo eardiaco, crispasio dos miscuios, 133 sangue que afli 20 rosto, estrangulamento da voz), sejam cles perceptiveis ou nio, Linguistica prosodicamente. O organismo pode também jogar com suas possibi- lidades (posicio do corpo, respiracio, atitude corporal) a servigo da colocagio da ‘vox e da comunicagio oral.” Portanto, a comunicagio oral nfo se esgota somente na utilizacio de meios linguisticos ou prosédicos; vai utilizar também signos de sistemas semiticos no linguisticos, desde que codificados, isto é, convencionalmente reconhecidos como significantes ou sinais de uma atide, 13 assim que mimicas faciais, posturas, clhares, a gestualidade do corpo ao longo da interagio comunicativa vém confir- ‘mar ou invalidar a codificacio linguistica e/ou prosédica e mesmo, as vezes, substitué-la, Essa comunieagi aio verbal pode também trairo falante, quando este deixa escapar indices involuntésios de uma emogio, seja cla perceptivel ow nio, lingufstica e prosodicamente. Sabemos bem quanto pode ser consirangedot um ator que desempenha “mal” seu papel dissociando os parimetros,em principio congruen- tes, da melodia, da acentuacio e da gestualidade (Leon 1993, p. 121), MEIOS NAO-LINGUISTICOS DA COMUNICACAO ‘ORAL uucosrara | eis | Posigfooos | “asPecro | nsPosgio |_iceness _|_entsoos_| tories | ecenon | _oesuotes atiode daar |atuden coors leceto ce gares [rages lowes oda rovieros _|esagpssoal—strces | eps Merdoopome [i [oii peso epinsso xa dechares jamb fico ies scsi das cadres 08 iis acts iroxa forte spice ere docs B essencial lembrar aqui que, se 05 recuts0s utilizados para a comunicagio humana so, 20 que parece, universais (a saber, a capacidade de codificat uma -mensagem tanto nos planos linguistico, prosédico, paralingufstico, como extralin- 7. Aprosentaremos exemplos d trabalho sobre essas dimensées no Captule 8, dedicado & ‘exposigao orl (ver eapfiulo 8 deste volume ~ N.7:}. Cabo notar que a queso do medo, ‘80m necessatiamente ser objeto de um tratamento disto através do ensino, trabalha-se rotamente,colacando-se & disposiedo dos alunos instumentos para) jagBes do ansiedade, 134 ‘guistico), as diferentes modalidades de expressio desses cédigos sito de uma infinita diversidade, tanto no tempo como no espago. Com efeito, nesse plans tudo esti submetido a variagdes. Grosseirame: podemos citar a elocugio ~ rapida nos italian bem mais forte na Coreia do que na Franca; a altura muito diferenciada segund (© sexo no Japfio, mas muito menos diferenciada em alemio; certcs contomos entoacionais normais para um indiano, mas julgados “nudes” po: um ingles; produgdes vocais como raspar a garganta, bocejar, suspirar, fungar ~ manifesta- cs publicas banais para um japonés ¢ chocantes para uim francés. Encontramos as mesmas diferencas para os dados nio verbais: os japoneses se designam tocando co natiz; 0s espanhéis, o peito; os americanos se mantém muito distanciados para 08 latinos e muito préximos para os tailandeses. Assim, um estudanme de francés de origem asiética, que nunca teaha tido contato cultural com franceses, necessita descobrire aprender um certo niimero de particularidades da interagio nfo verbal, para poder se comunicar comretamente em francés. de mancira no cana Suiga; a intensidade Da vor comunicacio oral: um pereurso complexo Comegamos este capitulo pela caracterizagao do oral como proc corporal através da vor: a voz do corpo é, a um s6 tempo, a nossa prépri produzimos e percebemos, ¢ a dos outros. VibragSes que se tornaim sons; sons que se tornam gritos, cantos, palavras; manifes ‘verbo. Foi justamente esse passagem da vor & palavra que abordamos em seguida: a claboragio do som e sua codificagio, chegando 4 emergéncia do material de que é feita a comunicago. No item seguinte, apresentamos a melodia oral — em seus ‘componentes: a entonagio, a acentuacio € o ritmo —, coneatenando esse material ‘Bes de si e dos outros, aces € verbal. Uma catacteristica da produgio oral é que 0 oral espontineo parece, na leitura de transcrig6es, completamente desordenado, No entanto, todas essas manifestages de desordem podem ser analisadas na 6tica de um fuacionamento adequado da interacio oral. Vimos em seguida que o oral é objeto de avaliagSes ¢ de normas sociais que estio sempre referenciadas na escrita, o que obscurece bom niimero de caracteristicas da comunicagio onl. Finalmente, tessitamos que a comunicagio oral se desenvolve nfo somente no plano verbal e vocal, mas também no plano gestual. Podemos pressenti que o oral, concebido como objeto de ensino, é pparticulammente dificil de compreender. Todos os elementos que lembramos aqui siio essenciais para um trabalho sobre o otal e para a tomada de consciéncia e de 135 controle dos recursos extralinguisticos (prosédia,sléncios, postura, gestos, mimi- «a facial, distancia e posigio dos locutores) ¢ constituem, como veremos adiante, uma perspectiva central do ensino do oral. Entretanto, esses elementos, embora | importantes para pensarmos ¢ organizarmos um ensino dos géneros ora, pare- ccem-nos insuficientes, vis pe, 1t€ agora, nfo levamos em conta os parimetros das situagdes das interagGes ra, as situagées, como ambiente determi- rnante da interacio, restringem completamente as operagGes de producio verbal, assim como sua interpretagao. | Oral eeerita: duas formas de reazago da linguagem a intergo © desenvolvimento de expresso oral consi umn dos grands objetvos | do ensino fundamental. Entre cscrita,a gramitica ea ostografia permanecem comoas su na aula de francés. Se 0 oral encontra dificuldades pat é também porque a distingio entre oral ¢ escrita traz con «parece de dificil compreensio, se pensarmos além das diferes dirctamente ligadas a0 modo de produgio (Gadet 1996; Matthey ‘A relagio entre oral e escrita em linguistica retrospectiva e Fundava seus estudos sobre os textos escritos, a linguistic estrutural atribufa uma priordade 20 oral. Estudava-se primeiramente a cadcia da fla (eescuta) ¢,somente depois, estudava-sea cadeiaescrita¢ lida, como mostra, por exemplo, esta tagio de Saussure (1916, pp.34-35): Lingua e esrita so dois sistemas dstintos de signos; a nica rardo de ser do segundo 6 represeataroprimeir; o objeto linguistco io se define pela combinago da plavr esrita da plavea fla; eta kina, por ss, consti tal objet. Mas a palavra eseita se mista tio {ntimamente com apalavra fia, daqualéaimagem, que acaba por surpar-Ihe opapel principal, terminamos por der maior importinsia &representasdo do sgno vocal do que ao prio signo. 1 como se acredssemos que, para conhecer uma pessoa, melhor fose contmplarthe a fotografia do que stro por exqucer qu spandemos falar antes aprender | acacrever, einveriee a eapo natural 136 | |A confusio persiste ainds hoje, apresentando-se a lingua escrita como um ‘fil (“natural”) ou a expressio escrita como ‘uma simples transposigio da expressio oral. Mas, como notamos anteriormente € ‘como analisa com pertinéncia Walter (1988, p. 25) a escrita esti longe de xepresentar uma “réplca exata” do oral. A eseita, vista como sistema de notapio da linguagern oral, adquite um cariterincompleto e inexato. A transcricio do oral, que anota ofluxo do onal por meio de unidades descontinuas, coloca uma sétie de problemas para fagueles que tém de dar conta de aspectos ligados 3s dimensdes prosédieas; as convengées grificas impéem uma ordem sum dominio cujos mecanismos sio Uma vez que aescrita serd que entia devs responder a ssa q © primeiro Frequéneia, a linguages considerada pobre, comum, distensa, popullar ¢ ‘mal estruturada, enquanto a lingua escrita consttui o fundamento de toda a norma de correcio do francés padrio. Essa simplificacio ignora as miltiplas possibilida- des de escrever numa variante “popular” ou “familiar” caltivado ou académico Blanche-Benveniste «al 1990, p. € no patio manifesta ema do francés, convém levat como defende Gadet (1989, p. 32): gue por vez, somente dferem pela extensto do dominio de apicagio de certas regres” (O segundo mal-entendido se refere aos aspectos levados em consideracio para descrevero fenncés oral para precsar uma eventual distinglo que marcaia 1 distincia entre o sistema do oral e da escrita. Como assinala Matthey 100), polisemia do termo gramitica distintas, Num sentido mais lao, a gramatica de uma das formas edos procedimentos mais cu menos restritivos 8, Tradugéo nossa. (NT) 137 leve em conta um s6 ssédicos, da morfologia, bre a qual nfo nos deveremos sctitivas de bom uso da lingua, stabelecido para falar conreta- segmentos do diseurso, Numa terceita aceps aqui, fala-se de gramitica referindo-ses n01 isto é, para evocar um eédigo de regras “id ‘mente € que exclu as priticas verbais co Conforme lembrado anteriormente, se levarmos em cor tos associados 20 modo matetial de produgio oral (cédigo fonolégico, realizasio fonética da cadcia falada, flaxo sonoro, acentuacio, entonacio e elocucio), € evidente que as diferengas em relagio a escrita séo importantes, especialmente no que concemne i relagio entre segmental e suprassegmental. Ao contririo, quanto ’s diferengas do ponto de vista da gramética no sentido restrito — isto é a logia e a sintaxe —, fica muito dificil opormos um cédigo morfolégico ou ttico especifico do oral a um do escrito. K verdade que as regularidades tfolbgicas nio sao sempre exteriorizadas de idéntica. Segunclo Gadet (1989), as marcas de 3* pessoa do singular e do plural da conjugacio francesa, por 10 tipo de regulatidades no oral (/diua/e /duav/; baal it¢ doivent, boite boivent etc."), embora o niimero de ‘encialmente os mesmos: _ramaticais é comum aos dois planos [oral e zando certos fendmenos que poderiamos sustentara tese de duaslinguas diferen- tes""(p, 53). Sintaticamente, as ligagdes entre segmentos do diseurso também no parecem fandsmentalmente distintas no oral ¢ na escrita (Blanche-Benveniste ¢f «al, 1990; Gadet 1989). Consequentemente, com base nos estudos até aqui realizados, as formas lingufsticas do francés falado nio podem ser consideradas como suficientemente diferentes das do francés escrito para que seja possivel falar de dois sistemas Aistintos. Muto pelo contritio, a medida que conhecemos mais e melhor 0 Funcio- namento do francés falado, atnicidade das estrataraslingufsticastendea ser eforcada. Fala-se antes de um sisterna global que integra o oral e a eserita reconhecendo suas respectivas especifcidades e seu cariter nfo monolitico (Willems 1950, p. 48). As seria somente supervalori- 9. Em pottugués, idev/o /devios/bbi’e eds. N.T.) 10, Em portugués, deve e dover bebe @ bebem. (N.T, 11, Tradugio posea. (NT.] 138 icas de linguagem sua c locutores em atividades de linguagem na esteita de Dersida (1967), por Peytard (1971, to facilmente dada por Saussure a0 fénico, parece-n a situagio: (Quer tomemos 0 pant de vita do emistr, quer do receptor, a cada vez, 0 sgno linguistic tem apossibilidade dese proper sob uma dupl pans de signiicant onico elu gréficoSabemos ‘que o locutor de cura méda pertencente&comniade Fancesa representa osigno e#ngua com base tanto numa imager vial como numa imagem fics isto 6,0 mesmo signo aparece como suscesivel a uma dupe realizaso ~ numa ccunstincs, réics; em outa, fica ~ sem ‘que se arbva priridade de uma sobre a oatra. A comunicagodepende de ua staan em qe ‘exploramos uma ou outa face do signoe locutrexperimenta sua atividade no espago aberto dante dele po esta Gualidade do significant” As relagdes entre oral ¢ escrita no ensino No ensino, o oral também no esti bem compreendido como objeto autéino- ‘mo de trabalho escola, ¢, seguindo a concepeio da linguistic histérica, permanece bastante’ dependente da escrita. Como mostra-a-pesquisa sobre as priticas dos ptofessores realizada por De Fietro ¢ Withner (1996), ele permanece incomprecndi- €o, salvo quando se inscreve no mundo da escrita, A esse respeito, a pesquisa cevidencia 08 seguintes aspects: ‘+0 otal é principalmente trabalhado como pescurso de passagem para a variantes € “normas” formal escrita da lingua; cscrita oralizada, representa a atividade oral dos professores entrevistados). sais feequente na pritica 12, Tradugéo nossa. (NT) 139 Diante dessa concepsio do oral dependente da esctta, alguns defendem ‘uma visio do oral “puro”, independente de toda e qualquer intervengao da escrita, Bsta parece dificlmente sustentivel no quadro do énsino, em que interagio entre oral e escrita so miitiplas. Antes de aprenderem a hs da pré-escola aprendem a recitar e a interpretar oralmente textos escritos praticam o ditado para. o adulto, A letura em vor alta de contos de fadas ede livros infantis € considerada por Grossmann (1996) uma das formas de iniciagio das criangas na ordem escritural do texto. Daunay, Deleambte, Marquet ¢ Sauvage (1996) analisam as relagdes oral/escrita nas trocas orais nos processos de com- preensio de textos escritos © consideram que o oral toma af uma forma de pré-cscrita, Se, para Bain (1991), por exemplo, a pritica da discussio oral dificil ‘mente pode ser considerada ajuda para a aprendizagent de vertas marcas lnguls+ ticas de. conexio, de coesio e de modalizacio proprias de certos textos argumentativos esctitos, por outro lado, a passagem da discussio oral aos textos argumentativos e a sua comparago podem permitit que se esclaregam os parime- {ros que definem as sitagoes de argumentagéo orsis ou escrtas. As vezes, 0 ‘trabalho realizado sobre a argumentacio esctita tem um eftito de retorno sobre a angumentagio oral (Dolz 1994). Uma atividade como a leitura em vor alta para o outro (ver Capitulo 8") encontra-se no cruzamento entre oral e eserta visto que supe uma interpretacio oral, para uma audiéncia, de um texto escrito dk ‘A andl das formas de interacio entee oral ¢ escrita parece, portanto, bastante diferente em fungio das situagées de comunicagio ¢ dos objetivos visados e, xetalmente, a observacio do trabalho em sala de aula miostra que a alternincia centre atividades raise escritas € muito frequente, uma vez. que se tenha como objetivo a produgio de um texto oral ou escrito relativamente complexo. Portanto, para uma didética em que se coloca a questio do desenvolvimento da expressio oa, o essencal no é caracterizar 0 oral em geral ¢ trabalhar exclusiva- ‘mente os aspectos de superficie da fala, mas, antes, conhecer diversas priticas orais de linguagem c as relagies muito vasiivels que estas maniém com a excrta, A constiuigio do otal como objeto legitimo de ensino exige, portanto, antes de tudo, um esclarecimento das priticas orais de linguagem que serio exploradis na escola © uma caracterizasio das especificidades linguisticas e dos saberes priticos" nelas implicados. utor. 12, No traduzido neste volume. NT] 14, No otigial, savoir. [NT] Os ghneras ora instrumentos de comanieagae: sum canwinbo para esruturar 0 ensine do oral Numa perspectiva sociocultural, a construcio do sujcto © das fungdes psicolégicas (meméria, atenglo, inguagem etc.) se di por meio das ages recipro- cas dos membros de um grupo e da apropriacio dos objetos socias criados pela ccltura (Vygotsky 1934/1985 ¢ 1935/1985). Tomemos uth exemplo cotidiano de nosso ambiente cultural: o objeto “garfo” cristaliza significapées associadas a priticas socisis relativas ao ato de comer. Quando a crianga, em interago com os otros, aprende a utilizar 0 gaefo, integra progressivamente os usos e valores que seu grupo social atribui a esse instrumento, que sio também um produto criado pela cultura: a refeigao nas formas ritualizadas, Se consideramos « uprenclizagein como um proceso de apropriasio e de internalizagio de expetitncias acumnuladas pela sociedade ao longo da historia, é fundamental levarmos em conta os instru- mentos ¢ as priticas. Continuando com a metifora da refeiglo, cabe-nos agora saber, no que diz respeito & construgio das capacidades de lingwagem, o que equiv que corresponde ao garfo , de maneisa mais geral, a0 conjunto culturalmente necessirios para que se realize a pritica “reftisio” numa dada cultura — pritica que, numa mesma cultura, pode assumir formas muito diversas. {Um material bisico para o ensino: o texto empirico oral Podemos dizer que, assim como a atividade humana “comer” produz uma refeigio, aatividede “f Com Bronckart (1997, 1-378), postulamos que “a nogio de texto designa (..) toda uridade de produgio. verbal que veicula uma mensagem organizada linguisticamente e que tende a produzir um efcito de coeréncia sobre seu destinatitio”. Um texto adequado no plano da comunicagio difere de um conjunto de frases desconectadas ¢ € perce- bido como um todo, independentemente dos elementos que 0 compem. Nessa perspectiva, impée-se necessariamente a escolha de textos como objetos de trabalho para o ensino do oral. Eles permitem trabalhar fenmenos de textualidade oral em relagio estreita com as situagdes de comunicasio, estudar diferentes niveis da atividade de inguagem e tornat o ensino mais significative, ‘Vejamos um exemplo, Imaginemos um trabalho diditico de escuta ¢ de anilise de uma exposigio oral, ealizada por um professor, a respeito da vida de (ou escrever) produz um ut lum animal: a toupeira. As caracteristicas dessa produgio oral — os elementos verbais e paraverbais (postura do orador, gestos, voz, entonacio, utilizagio de imagens ¢ de notas de apoio) ~ podem ser relacionadas com as caracteristicas Dtticulares da sitwasio de comunicagio: a vontade de transmnitir a um grupo de alunos conhecimentos sobre a toupeira. Os contetidos, a oxganizacio do plano da exposisao, a progressio dos temas, a marcagio linguistica do texto, a estratégias do orador poderio ser situados e justificados no conjunto do texto. O professor Poder osganizar as observagdes sobre o texto escutado € preparar a fala em situagio semelhante Os géneros de textos Cada texto, como cada refeigao, é um evento singul assim como Alistinguimos diferentes formas de refeigio, com desenvolvimentos, cenitios, instrumentos eparticipantes diferentes, assim também obsetvamos tipos de textos ue diferem segundo os contextos. Imaginemos situagdes de comunicagio to diferentes quanto contar um acontecimento vivido a um companheiro, debater luma questio controversa diante de uma assembleia ou explicar a migragao dos passatos a uma turma, Se, a cada vez, preciséssemos criar ou inventarinteiramente (os meios para agir nessas situagSes de linguagem, a comunicagio nao sevia jamais Possivel: © enunciador do texto no saberia quais seriam as expectativas dos uvintes quanto a seu texto, sua forma, seu contesido; o horizonte de expectativas dos ouvintes seria limitado, de al mancira qué abordariam o texto sem orientagio Possivel, com um maximo de desconhecimento, Para tornar possivel a comuni- ‘aslo, toda sociedade elabora formas relativamenteestiveis de textos que fancio- ‘nam como intermedifrias entre o enunciador e 0 destinatrio, a saber, os pénez0s. Seguindo numerosos autores (para uma sintese, ver Canvat 1996) e funda. mentando-nos particularmente nas proposigdes de Bakhtin (1953/1979), postu- amos, portanto, que, numa dada cultura, as representagdes ligadas ao texto so fandamentalmente genéricas: cada um de nés, um dia ou outro, conta uma fabula uma erianga, assiste A expose de um professor, a uma coyfrinia pblica, presenta as mgrar de um jogo a.um grupo dle amigos, estabelece um diilogo para pedir informagies sxsm guiché, apresenta-se para uma entrevista profsional para ober lum emprego, escuta conversas, entreistas ow debates no ridio ou na televisio, Cada + lum de nés reconhece imediatamente esses géneros como tais ea eles se usta em ‘tas prOprias produgdes. Os textos empiricos sio, portanto, reconhecidos pelos ‘membros de uma comunidade cultural como pertencentes a um género, mesmo 142, que as vezes seja dificil distinguir entre géneros vizinhos, como a conversa ea entrevista ou como a discussio o debate ete. (Kerbrat-Orecchioni 1990). Deste ponto de vista, os géneros podem ser considerados insrumenfor que fundam a possbilidade de comunicagio (e de aprendizagem). Vejamos 0 desen- volvimento dessa metifora do género como instrumento, Um agente deve agit Jinguisticamente (falar ou esctéver), numa situagio definida por uma finalidade, tum lugar social € destinatérios. Como em toda agio humana, ele vai usar um instrumeato —ou um conjunto de instrumentos ~ para agir: um garfo para comer, ‘uma serra para derrubar uma drvore. A agio de falar realiza-se com a ajuda de um género, que é um instrumento para agir linguisticamente. H um instrumento semistico, constituido por signos organizados de maneira regular; esse instrumen- + € complexo ¢ compreende diferentes niveis (como veremos no prbximo item), Eis por que, as vezes, o chamamos “megainstramento”, pata dizer que se trata de uum conjunto articulado de instramentos, um pouco como uma ‘ibrica, Mas fandamentalmente se trata de um instrumento que permite realizar uma ago numa situagio particular. E aprender a falar & apropriar-se dos instrumentos para falar em situagdes de linguagem diversas, isto é, apropriar-se dos géneros. Como definir o género como instrumento? Situando-nos numa perspectiva bakhtiniana, consideramos que todo género se define por trés dimensées essen- ciais: 1) 0s conteides que se tornam diziveis por meio dele (0 fato de se fazer uma exposigio teérica sobre a vida dos animais determina, por exemplo, a pertinéncia ¢ 0 cariter dos conteidos a desenvolves); 2) & esrutura eomunicatva particular dos textos pertencentes ao género (20 caso da exposisio, essa estrutura se apresenta como um instrumento a servigo da aprendizagem ¢ da transmissio de conhecimentos, implica 4 organizagio interna de uma exposigo oral e toma a forma de um monélogo que segue um plano com diferentes fases ou rubricas, geralmente explicitas); 4s configurapiesepecficas das unidadeslingudsticas ragos da. posigio enun- ciativa do enunciador, conjuntos particulares de sequéncias textuais ¢ de tipos de discurso que formam sua estrutura (0 locutor. i BU em certos trechos ou fala de mancira neutra em out linguisticas do plano do texto; as cadeias de expressio, designando um mesmo objeto discursivo ao longo do texto, a entonagio, estruturando © texto em diferentes nfveis etc). 2 143 Naética do ensino, os géneros constituem um ponto de referéacia concreto pra os alunos. Em relagio a extrema variedade das priticas de linguagem, os {géneros podem ser considerados entidades intermediarias, permitindo estabilizar (0s elementos formas e rituais das priticas. Assim, o trabalho sobre os géneros dota os alunos de mcios de anilise das condigdes socias efetivas de produgio de tecepsio dos textos. Fornece um quadro de anilise dos contesidos, da organi- 1agio do conjunto do texto € das sequéncias que 0 compéem, assim como das lunidades linguisticas e das caracteristicas especificas da textualidade oral (ver pra), Dadas essas caractesistcas (reconheciveis empiricamente, acabadas etc), 0 géneto se integra facilmente em projetos de classe e permite, por isso, que se pproponham aos aprendizes atividades que. a um s6 tempo, slo especificas efazem sentido. Portanto, se 05 textos constituem, em nosso procedimento, os objetos concretos, empiticos, sobre os quais os alunos trabalham em sala de aula, o género de texto” define a unidade de trabalho que atticula esses objetos em um todo coerente, 15. Por que privilegiar a nosio de género om vez da de tipo de textes ou de diseurso? A problematica das tpologias textuas © dscursivas enconta sua crigem na lings textual ‘anglo-saxénica des anos 60. Ela resuta do desejo dos pesquisadores de ulrapassaronivel da frase, para fomecer um modelo teético das unidades malores: os textos, Como toda classificagio, uma tipologa tem por funelo estabelecer uma série de ciéios expictos que porritam situa tod texto empirco num conjunto, possuindo uma ou vérias propiedades ‘comune, Bueea a organizagio slstemétisa da dversidade eda hoterogenesidade textual por ios homogénees. Uma parcela importante das tnologlas de textos oraiseescritos em francés adota cries tals como es stuagdes de comunicagso, a estrutura dos textos © & presenca de um certo nimero de unidades Iinguisteas. A medida que levamos em ‘consideragdo 0s parimetros das stuagéos Iinguticos;c) sua transposiggo par aplicacionistas e normativas, denuncadas por numerosos autores, especialmente no {dominio do texto rarativo (ver, por exempio, rangois 1988 e 1889): apicagao esquematica Géneros orais ¢ atividades de linguagem orais Pormaior e mais potente que sea, unidade de trabalho “genero de textos” nfo recobre certas atividades orais de linguagem que mencionamos acima e que

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