You are on page 1of 26
Estudos Educagdao e Trabalho: a Contribuigdo de Marx, Engels e Gramsci a Filosofia da Educagado Lilian Maria Paes de Carvalho Ramos Universidade Catélica de Petrpolis-RI Cotejando textos das obras de Marx e Engels com a producao de Gramsci, busca levamar os principios democréticos basicos da educaca. Defendlidos por autores de tendéncias ideolégicas diversas e com objetivos distintos, esses principios, particularmente os da politeenia, almejam nao apenas um aprimoramento da formacéio de mao-de-obra requerida pela sociedade industrial, mas, acima de tudo, a construgéo de uma hegemonia da classe trabalhadora, amptiando a base da camada governante. Introdugao Karl Marx ¢ Friedrich Engels dedicaram-se poco a questéo educacional cam seus escritos filos6ficos, sociais e econémicos. Sua dentincia ao cariter classista da educagio, todavia, representou um marco, um ponto de partida para a reformulagio de teorias educacionais baseadas no principio democrtico de igualdade Suas idéias foram refittadas ou desenvolvidas por virios pensadores, entre os quais sobressai Antonio Gramsci e sua anilise sobre o papel da escola ¢ dos intelectuais na formagao da hegemonia do proletariado, efetivagao de fato aquele principio. R bras. Est pedag., Brasilia, v.77, n.185, p7- anJabr, 1996 7 Ao enfocar as prineipais idéias desses pensadores sobre a instituigio escolar, no houve pretensio de esgotar o assunto, o que seria impossivel, e sim cotejar algumas dentincias e solugdes apontadas pelos antares com os principios da escola para una sociedade democritica. Tampouco menosprezou-se a contribnigao de outros autores: a opgao por esses apenas revela a preocupagao com um aprofundamento de suas idéias. “Apesar de a democratizago do ensino basico haver sido transformada em bandeira dos liberais na Revolugao Francesa, esse principio s6 encontrar respaldo oficial apds a Revolugao Industrial, como consequeéncia da necessidade de formagao de mao-de-obra especializada para as inchistrias nascentes Pensadores de diversas tendéncias defenderdo o principio, diferindo em seus objetivos. Enquanto os liberais almejam o aumento da produtividade pura e simples, os socialistas viskumbrarao na educaeao das massas uma etapa para a construgo de uma hegemonia da classe trabalhadora, hegemonia essa que dificilmente sera obtida sem a concorréncia do ensino formal. ‘Nao um ensino qualquer, igual a0 dif undido na escola tradicional, ¢ sim um ensino politéenico, destinado a anular as diferengas de classe, as quais transformam a escola em agéncia dos interesses burgueses; uma edhicagao baseada no principio da escola unitiria para todos, independentemente de sua classe social de origem, on seja, verdadeiramente fiel ao principio da escola democritica A primeira parte deste trabalho versa sobre Manx e Engels, e a segunda, sobre Gramsci. Na conclusdo, buscar-se-a apontar algumas recomendagdes para um programa educacional, voltado para a efetivagao do principio democritico na esfera educacional A contribuigao de Marx e Engels Analisando de forma critica as idéias liberais, anarquistas e socialistas, ¢ cotgjando essas idgias com a realidade social e educacional de seu tempo, Marx e Engels observaram alguns aspectos relativos educagao formal, ou a sua auséncia, que merecem destaqne R. bras, Est. pedag., Brasilia, v.77, 185, p.7-32, jana, 1996 ‘Uma de suas primeiras e principais crticas dirige-se ao embrutecimento @ 4 deformagio na manufatura, onde a divisio do trabalho reprime wn mundo de instintos e capacidades produtivas, O individuo é mutilado e transformado no aparelho automatico de um trabalho parcial, Alids, Marx cita deniincia do proprio Adam Smith nesse sentido, uo qual este recomenda o eusino popular como solugao para o problema do empobrecimento do intelecto do trabalhador manual. E vai aléan: analisa o papel da cigncia e conchui que a indistria modema transformov-a “em uma forga proctutiva independente do trabalho, recrutando (0 trabalhador) para servir ao capital” (Marx, K., Engels, E, 1985, liv. 1. v4, cap 12). Engels observa um aspecto positivo no trabalho fabril, 0 qual permite a0 trabalhador manter e agugar a sua inteligéneia; "a revolta contra a sorte e contra a burgnesia (.), nico sentimento que o trabalho Thes permite" (Engels, 1975b) ‘Marx, seguindo essa linha de raciovinio, declara que a consciéueia do trabalhador desenvolve-se pela superagao de barreiras representadas pelo "nivel de desenvolvimento das forcas produtivas sociais, da cireulagao, da cigneia, etc", as quais se lhe aparecem como alienagao. Ou seja, o trabalhador se comporta diante das condigdes produzidas por ele mesmo como diante de uma riqueza alheia e causadora de sua pobreza" Mediante suas relagdes teoricas e priticas (isto é, com e sem a concoméncia da ediucagao formal), realiza-se a universalidade do individuo. Este "encontra-se, pois, em condigdes de aprender sua propria historia como um processo, de conceber a natureza, com a qual forma realmente corpo, de maneira cientifica” e de compreender que neuhuma situagao é imutavel, Esta passage ressalta ainda a relativa importancia atribuida por Marx echicagao formal: ela, sozinha, nao conduz a universalidade do individuo ‘Marx acrescenta una limitagdo ao processo de universalizagao, © qual, aparentemente, gera um impasse ¢ evidente que tudo isto exige o pleno desenvolvimento das forgas produtivas como condigao da producao: < preciso que as condicoes ‘de producao Seterninadas (se) deikem aparecer como obsticulos a0 desenvolvintento das Forgas prodiutivas (Marx, 1978, cap.2) bras. Est podag, Bras, v.77,n.185, 7-32, jandabe 1996 9 Em outras palavras, enquanto as forgas procutivas nao atingirem o pleno desenvolvimento, as condigdes materiais para a realizagio da mudanga nao estardo dads, e ela no podera ocomer. Esta questo sera abordada novamente adiante, Sobre o recrutamento de criangas e adolescentes para o trabalho na indiistria, Marx ¢ taxativo: "qualquer que seja a forma em que se realize sob o reino do capital é simplesmente abomnindvel". Como solugao para a questo da necessidade da cooperagao desses segmentos, propde que a jomada de trabalho de criangas de 9 a 12 anos seja reduzida para duas horas dirias; dos 13 aos 15 anos, para quatro horas; ¢ dos 16 a 17 anos, para seis, com uma hhora para comida e descanso. As escolas elementares deverao iniciar a instrugaio das criangas antes dos 9 anos Caberd a sociedade a responsabilidade de defender os interesses das criangas proletirias, pois os pais so impossibilitados de fazé-lo pelo sistema social de acumlagao capitalista que os transforma em "mercadores de escravos de seus préprios fills". Para livrar estes dos efeitos nocivos do sistema, ¢ necessirio transformar a "razlo social” em "forga social, por meio de leis gerais ‘A sociedade nio pode permitir que criangas e adolescentes sejam empregados na produgao, 4 menos que se combine este trabalho produtivo com a educagio. Por educagio entencemos ts coisas: 1. Educacao intelectual; 2. Educacio corporal. como a que se consegue com os exercicios de ginéstica e militares: 3. Educacao Tecnoldaica, que recolte os prineipios gerais © de cariter cientifico de todo o processo de produsao c, a mesmo tempo, inicia as eriangas eos adolescente no rmanejo de ferrameiitas clementares dos diversos ramos indUstrais (Mars. 1978c). Esta concepgao revela a preocupagdo de Marx com o pleno desenvolvimento dos jovens por meio da educagao intelectual, fisica € profissional, Sugere, emi segnida, que o ensino seja graduado de acordo com a idade dos amos, e que parte dos gastos com as escolas politéenicas seja coberta, com a venda dos produtos nelas produzidos. Desta forma, ele entende que a classe operdiia elevar-se-A acima das demais Nese trecho, é possivel abservar a preocupagio de Marx em evitar «que 0s jovens recebam uma orientagao profissional restrita, o que, além de Jabs, 1996 10 R. bras. Est. peda, Brasilia, v.77.n.185,.7-32, empobrecer o seu intelecto, dificultaria a sua insergao futura no mercado de trabalho on, no minimo, diminuiria 0 seu valor nele. Varios argumentos so utilizados nesse sentido. Haveria um aumento da eriminalidade, devido a inadequagao do trabalhador para outros tipos de trabalho, por ocaside de mnudangas nos processos produtivos. A "velha diviséo do trabalho com suas peculiaridades rigidas” estaria mantida e o trabalhador estaria em permanente risco de ser dispensado on incorparado aos sabor das oscilagdes do mercado, etc. Embora reconhega ser a vinculagio da instrugdo priméria com o trabalho {abril um avango, Marx considera nfo haver “divida de que a conquista inevitivel do poder politico pela classe trabalhadora traré a adogao do ensino tecnolégico, te6rico e pritico, nas escolas dos trabalhadores". Para ele, esta transformagiio, culminando na "eliminagao da velha divisto do trabalho", seria resultante do desenvolvimento das contradigdes geradas pela forma de produgdo industrial, cuja base técnica é revoluciondtia em si mesma (Marx, K., Engels, E, 1985, livLv.Aeap.3). Marx observa, ainda, um outro aspecto da questio: o custo da produgéio da forga de trabalho, Para o capitalistainteressa que ele seja 0 menor possivel ‘A partir dessa constatagdo, & possivel entender a pressio dos empresérios capitalistas no sentido de repassar a escola o custo de produgaio da forga de trabalho de que necessitam, Essa presséo & clara, quando se analisa sua materializagao na forma de leis, evidenciando a velha rixa entre liberais e socialistas. Aqueles tentando diminuir os seus custos de produgdo e o tempo de formagao da sua miao-de-obra: estes insistindo na importaneia de uma formagio politéenica, que nao limite o trabalhador a tima tinica fimg4o, mas que o prepare para exercer varios tipos de trabalho. Gramsci ira aprofundar a questo da formagao geral versus ensino profissional, como se vera adiante Antes, serdio discutidas, porém, algumas contradigdes apontadas por Marx com referéncia is reformas educacionais e 4 utilizagao da escola para a formagio de mvdo-de-obra. Observa ele, muito apropriadamente, que a indistria moderna substitui o trabalho complexo pelo simples: recruta criangas e adolescentes precocemente para o trabalho, levando ao fracasso a lezislagao escolar, e nfo leva em consideragio o nivel de instrugo do operitio na hora de agar 0 seu salirio, A simplificagao das fiangdes do operario conduz a uma R bras. Es. pedag., Brasilia, ¥.77,m.185, p73, jana. 1996 " ampliagdo na oferta de mao-de-obra no mercado, ja que esta é praticamente equivalente em qualquer ramo, , consequentemente, a uma redugao geral dos salarios (Marx, 1987), Esta constatagao leva a alguns questionamentos. Se o trabalho industrial prescinde da educagao formal para o preenchimento da maior parte de seus cargos, a quem interessa a educagdo continuada da classe trabaladora? Certamente que ndo ao capitalista, visto que ela afasta os jovens do mercado de trabalho, diminuindo assim o "exéreito de reserva" de mao-de-obra desqualificada e, portanto, barata, Una educagao escolar interessa, sin, a classe trabalhadora, e nao apenas porque desenvolve o seu intelecto, mas porque bre também para ela novas perspectivas de trabalho e permite-Ihe conscientizar- se de sua exploragao mais facilmente. Afinal, como afirma Engels, "a miséria no s6 ensina o homem a rezar; também o ensina a pensar e a atuat" Para bem servir a esses interesses, a educagao do futuro devera ser estatal,laica, gratuita e obrigatéria, conjugando a formagio geral com a ginéstica € 0 ensino tecnologico tedrico e pritico. Germinada no sistema fabril, esta educagao sera getida pela comunidade e podera libertarse da "forga ideologica da repressio", representada pelo Estado burgués e pela religifo, tomando a cigncia acessivel para todos. Para facilitar esses objetivos, todo o material escolar necessirio devera ser distribuido gratuitamente, sob a administragdo dos professores. (Marx, A guerra, v. 1. p. 167). Quanto ao contetido cuticular, Engels defende o ensino da gramética da lingua nacional, acrescida das "proprias formas extintas dessa lingua" e das “lingnas vivas e moitas aparentadas". Mostra-se, assim, contratio a substingao do grego e do latim pelas matemxiticas puras e aplicadas. Manifesta-se igualmeute contritio 4 retirada da aplicago pritica futura da formagao teérica escolar, destinando esta formagao a uma finalidade meramente curicular (Engels, 1975a, cap.5 A opiniio de Marx sobre as escolas particulares é radical: para ele nao passam de empresas capitalistas, tais como filbricas de salsichas, cujo twtico intuito é gerar lucros para seus donos (Marx, K., Engels, F., 1985, liv. 1, v.5 cap. 14). Nao podem, portanto, defender os interesses cas classes trabalhadoras, privilégio reservado as escolas piiblicas Se, contudo, a educagao formal é necessiria -"educagao e trabalho prodttivo andarao lado a lado" (Engels, 1978) -, esse trabalho produtivo devera 2 R. bras, EM. peda. Brasilia, 77, 1.188, p7-32, jane. 1996 propiciar aos jovens experigncias em todos as ramos da produgao, "segundo as diversas necessidades sociais e suas proprias inclinagdes", dando a eles a ‘oportunidade de "desenvolverem tanto os seus sentidos como suas aptidées (..) desaparecera toda a diferenga de classe" (Marx, 1978a), Esta formacao politéenica devera compensar os inconvenientes da atual divis4o do trabalho, "que impede o alcance do conhecimento profundo de seu oficio aos seus aprendizes" Finalmente, Marx observa que as mudaneas na educacao exigem mudangas mais profiundas. A teoria materialsta da mudanca das circunstancias e da educagio esquece que as cixcunstancias fazem mmudar os homens ¢ que 0 educador necessita, por sua vez, ser educado, Tem, portato. de distingur na sociedade as partes desta, uma das quais colocada acina dela (Teses, 1974), ane leva, aparentemente, ao impasse aludido no inicio desta exposigio, Se as mudangas na educagao exigem que aja, primeiramente, muudangas nas circunstancias, é preciso esperar que estas ocorram, para entao realizar as nmudangas necessirias na educagaio, Mas 0 proprio Marx indica como sair do impasse. Se, por uu lado, ¢ necessitio modifier as condigdes sociais para criar wun novo sistema de ensino, por outro, falta um sistema novo para poder modificar as condigies socials, Consequentemente, € necessario partir da sitagao atual (Marx, 1978a). ‘Na conelusio, desenvolver-se-4 o tema "partir da situagio atual" do sistema de ensino, para leva-lo em ditego a tuma nova sociedade, na qual os interesses da classe trabalhiadora, ¢ nao apenas da burguesia, sejam contemplados. A contribuicio de Gramset Seguidor inequivoco da tradigdo marxista, Gramsci ceutra sua obra no estudo das superestruturas. Differindo de Marx e Engels, os quais ocuparam-se do tema educativo apenas de passagem pela discussio de temas sociais mais amplos, Gramsci bras. Est. pedag., Brasfia, v.77, n.185, p.7-32, an /abr. 1996 13 entrega-se a ele de forma bem mais aprofiundada. E mais, distanciando-se dos ‘outios pensadores mmanxistas e socialistas,realiza a "passagem da critica negativa da escola burguesa e da politica socialista a busca de realizagoes" na area de onganizagao da cultura (Manacorda, 1990, p.33) Gramsci prope, no decorrer de sua obra, um principio edueativo baseado nas exigncias do industrialismo e das modificagdes por ele introduzidas na vida social. Os novos rumos apontam para tuma formagao total do homem, nem presa ao humanismo estéril da escola burguesa nem ao profissionalismo estreito das escolas profissionalizantes, ou seja, coerente com as inovagdes téenico-cientificas do mundo modemo. Vinculando defintivamente a pedagogia e a politica, procura coneiliar"o rigor metodol6gico proprio da flbrica e a abertura mental propria da exigéncia lnumanistica” (idem, p.67). Devido as caracteristicas de sua obra, escrita de forma fragmentada nas cartas € em 29 cademos do céreere, foram escolhidos alguns temas para comentirios. Sao eles: um novo principio exlucativo, os intelectuais e a cultura, a organizagao escolar e a escola unitaria ‘UMNOVOPRINCIPIOEDUCATIVO ‘Ultapassando a mera critica do sisteuna escolar burgués, Gramsci propoe que a escola incorpore um novo principio educativo, o qual gerara mudangas profundas em sua organizagao. O principio educativo, no seu entender, tera forgosamente de ser buscado nos prineipios da produgdo industrial, na cultura do tipo americano; importa a criagao de uma série de "bites psicofisicas", os quais deverao ser desenvolvidos em idade tenra, antes da puberdade, visto que, posterionmente, sua assimilagao sera bem mais dificil, Essa implantago dar-se-a de maneira coercitiva, porque a vida na indstria exige um ttocinio geral, um processo de adaptagao psicofisica ‘para determinadas condigoes de trabalho, de mutricao, de habitacao. de costumes ete, que nfo ¢ inato, "natural". mas requer una assimulagao (Gramsci, 1978, » 391). A adaptagao é constante devido as levas de migrantes rurais que so expulsas do campo para o trabalho fabril e & emergéncia das novas geragdes, que precisam ser educadas no novo sistema de trabalho (pela forga ou pela 4 R. bras. Est. pedag.,. Brasilia, v.77, n.185, p.7-32, jan /abr. 1996 persuasio). A "hegemonia da fibrica", baseada na racionalizagdo, pede a elaboragao de "um novo tipo humano", nao apenas no aspecto fisieo, como também moral. A reprodugdo sexual passa a ser encarada como "funcao econdmica” e uma nova "ética sexual", adaptada aos "novos métodos de produgio e trabalho”, precisa ser ctiada, Na América 0 "puritanismo" reflete essa preocupagao, posto que ‘do € possivel desenvolver o novo tipo de homiem solicitado pela racionalizagto da produgio e do trabalho, enquanto o instinto sexual nio for absolutamente regulamentado, nz for também ele racionalizado (idem, p.392). Alem do instinto sexual, os outros elementos de "animalidade" do homem catecem igualmente de sujeigo. Esta sujeigdo é sempre uma imposigao extema, tanto no industrialismo como em outros tipos de cultura. A seleeo ot “educacdo" do homem apto para os novos tipos de civilizaglo, para fas novas formas de produeio e de trabalho, foi realizada com o emprego de bautalidades inauditas, langando no infemo das subclasses os debcis ¢ os reffatarios, ou eliminando-os, simplesmente (idem, p.393). ‘Uma vez atingida a hegemonia das ideologias puritanas, a pressio tende a ceder. Nos casos do taylorismo, essas ideologias atuam como coadjuvantes xno processo de imposigio de "una tigida disciplina dos instintos sexuais, un reforgamento da familia, a regulamentagao e a estabilidade das relagoes sexniais", necessérios ao modo de produgo dominante (idem, p.394-395). Quando esta imposigdo recai apenas sobre algumas classes da sociedade, tém-se uma situagio que Gramsci denomina de “hipocrisia social", na qual hi imposigio da virtude por presso on por convicgao de uma classe sobre a(s) outra(s) pois 0s novos métodos de trabalho estéo indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver, de pensar e de sentir a vida: nao é possivel abter éxito ‘num campo sem obter resultados tangiveis no outro (idem, p.39). Gramsci ressalta, ainda, a inexorabilidade do processo de eriagao "de tum tipo novo de trabalhador e de homem", sem qualquer relagao com o homem pré-industrial, com a criagao proctutiva do artesao R bras. Es . pedag., Brasilia, ¥.77,.185, 9.7. janJabr. 1996 15 O industialismo esmaga a "Lummanidade e espisitualidade do tabeliador", forgando-o a um novo “equilibrio psicofisico”. Os altos salarios sao a forma ‘ilizada na América para selecionar e manter os trabalhadores mais aptos € sem "vicios", resultando numa absorgao da moral puritana pelas classes trabalhadoras, basicamente. Trata-se de uma combinagiio de coergiio, persuastio e consenfimento, destinada a pennitir "um determinado nivel de vida, capaz de manter e reintegrar as forgas desgastadas pelo novo tipo de traballio” (idem, 405). Gramsci aponta, ainda, para a relagdo entre os campos econdmico, moral e intelectual, ao opor-se ao autodidatismo. Considera este “anemia de dlisciplina critica e cientitica", "hilotismo”, “desordem intelectual”, "bohéme’, etc. Ou seja, o oposto das virtudes de ordem, coeréncia e disciplina, que s40 “postuladas como uma exigéncia objetiva do americanismo, isto é do industrialismo" (apud Manacorda, 1990, p. 130-132), Essa nova cultura, que est sendo implantada sob a égide da América, implica a "destraigao da civlizagao existente" e 0 "nascimento de uma nova". A nuova civilizagdo a surgir serd reconstruida "por aqueles que se acheun no proceso de criar, por imposigao e através do proprio softimento, as bases materiais dessa ordem. Eles devem encontrar o sistema de vida original e nao de cunho americano, para converter em liberdade aquilo que hoje é necessidade" (idem, p.272). Seri necessizio un novo intelectualismo, desvinculado do humanismo tradicional e ultrapassado, para a tarefa de adequagao do homem ao sistema de vida modemo. A tarefa requer uma ultrapassagem do mundo da procugao, ‘puto e simples. O estudo da questio deve ser feito a partir do ponto de vista da escola tinica do trabalho, ou seja, da educagao como "instrumento através do qual a ordem social ¢ introduzida na orcem natural” (idem, p.201 e 244). Nesta passagem é evidente a importaneia que Gramsci atribui 4 educagao, bem maior do que aquela verificada em Marx, o qual nao considerava a educagao formal essencial para a universalizagao do individuo. E claro que o italiano refere-se rio a una educagdo tradicional, de cmnho elitist, mas a tna "refomna intelectual € moral’, ligada aos interesses da classe ainda subaltemna, tarefa a ser desenvolvida por tum novo tipo de intelectual, desvinculado dos interesses das classes dominantes tradicionais. E o ponto de referéncia para a mndanga esta no mundo do trabalho. 16 R bras. Est. pedag., Brasilia, v.77, 1.185, p.7-32, jan abr. 1996 © maximo utilitarismo deve sera base de qualquer alse das instituigbes morais @ intelectuais a serem criadas e dos principios a serem difuudidos. A vida coletiva ¢ individual deve ser organizada, tendo em vista o miximo rendimento do apaato produtivo (idem, p.205-206) On seja, os principios do industrialismo devem ser impostos até se transformarem numa "segunda natureza" do homem modemo. ‘Ao relacionar "o modo de proctugo e o modo de viver",o “instrumental” ea "educagio", Gramsci propde "a identidade entre a orgamizacao ciemtifica do trabalho manual e do trabalho conceptual"; em outras palavras ‘ trabatho industrial, que implica, do ponto de vista intelectual, o conhecimento das leis da natureza e da sociedade, ¢ do ponto de vista moral, o habito de um. sistema de vida harmonicamente equilibrado, é, portanto, em iltima instancia, 0 principio educativo unitério que, marsianamente, Gramsci aponta (Manacora, 1990,p.216e285), (On seja, Gramsci desdobra a concepeiio marxista de universalidade do individuo mediante a unio das relagdes tedricas e priticas, do trabalho com estudo, Seu principio echucativo importa a formulagao de tm novo e "modemo” conceito de cultura, a ser desenvolvido pelos intelectuais de diversas matizes & divulgado pelas vias de organizagao e divulgago culftuais tradicionais e modemas. OS INTELECTUAISE A CULTURA, Gramsci possui uma visio ampla da cultura, ilustrada ua famosa passage sobre a natureza intelectual do tuabalho no discwrso sobre a formagiio dos intelectuais: [Nao existe ativdade humana da qual se possa exchir toda inferveneo intelectual igo se pode separar © homo _faber do fomo sapiens. Em suma, todo homem form de sua profisao deseavolve uma atividade intelectual, qualquer que sea: € ‘um Hilésofd, un artis, umn homem de gosto: participa de una concepeao de ‘mundo; possui uma kina consciente de condua, contribu, assim, para miter ou ‘molifcar uma concepeio de mundo, isto €, para promover novas maneias de pensar (Gramsci, 1989, p.8). Antevisdes dessa concepeao de cultura podem ser encontradas em Americanismo e Fordismo e Outros Textos, embora nao formuladas tao RR. bras, Est. pedag., Brasilia, v.77, 185, p.7-32, jan Jab 1996 7 completamente. Estes pequenos trechos permitem-nos perceber que Gramsci considera toda e qualquer atividade humana intelectual,ou melhor, como tendo ‘um aspeeto intelectual, paralelo ao fisico, como na segninte passagem: ‘Nao existe trabalho puramente fisico...em qualquer trabalho fisico, mesmo no ‘mecinico e degradado, existe um minimo de qualificagao técnica, isto um minimo de atividade intelectual criadora (idem. p.7) Ou seja, nao existe o "gorila amestrado" de Taylor. Mas Gramsci faz uma distingao importante entre todos os homens (intelectuais) e aqueles que desempentam na sociedade a fungdo de intelectual, Dentre estes iiltimos destacam-se dois tipos de intelectmais: 0s tradicionais - eclesiticos,aristocratas togados, administradores, ciemtistas, tebricos, filésofos ete-, os quais fazem parte de um continiam histérico e cujo meio de ser consiste na eloquéncia, ¢ 0 novo tipo de intelectual, o organico: cuja formagao sera baseada na "educagaio técnica estreitamente ligada ao trabalho intelectual, mesmo ao mais primitivo e desqualificado”, Este novo intelectual nao mais se caracterizara pela eloquéneia e pelo distanciamento do mundo do trabalho fisico, devendo "imiscuir-se ativamente na vida pritica como construtor, organizador, pensador permanente (..), especialista mais politico" (idem, p.8). ‘Um e outro sio, importantes, todavia, para qualquer grupo social que busque 0 dominio, a hegemonia. Esse grupo precisara proceder, sinmultaneamente, a assimilagao e & conquista "ideol6gica” dos intelectuais tradicionais e elaborar "seus praprios intelectuais organicos" (iclem, p.9), cuja tarefa sera adequar "a cultura pratica" (Manacorda, 1990, p.203), Prosseguindo na explicitaao da cultura como conquista de "uma concepeao superior”, um modo de ser que determina uma forma de conscigncia, elaborada de forma ativa mediante a organizagao e capaz de intervir no desenvolvimento politico e econémico, Gransei aponta para “outras vias" de organizago cultural, instrumentos de criago da lingua nacional, que seriam co- responsiveis pela "elevagaio geral do nivel cultural das massas subaltemas num desdobramento da tradi¢ao marxiana, e que so os seguintes: 1. a escola: 2. os jomais; 3. os escritores de arte e os populares: 4. 0 teatro e o cinema sonoro; 5. o radio, 6. as reunides pidlieas de todos os géneros; 7. as relagdes de "conversagiio” entre os varios estratos da populagao mais ou menos culos; 8. os dialetos locais (apud Manacorda, 1990, p.22-24 e 227). 18 R bras. Est. podag., Brasilia, v.77, .185,p.7-32, jan abr. 1996 Gramsci incorpora, ainda, elementos modemos a sta tentativa de tomar acigncia acessivel a todos, deixando de ser um simples instrumento do capital Além da escola, ele lista como pautes integrantes do "material ideologico" da cultura a imprensa e "tudo quanto influi ou pode influenciar, diretamente ou indiretamente, sobre a opine piblica", como as biblioteca, os curriculos, 0 clubes, a arquitetura ete. Estes orgdos de hegemonia da classe dominante, hhegemonia esta que o Estado exerce a seu favor por intermédio dos intelectuais (a "tama privada" do Estado), so colocados lado a lado com organizagdes politicas e sindicais. O Estado "educa o conseuso” (apud Manacorda, 1990, pl25-126e 187-188). fato de a escola estar arrolada em primeiro lugar como via de organizagio cultural ufo é fortuito, Além de ser um instrumento de "luta contra © folclore, com todas as suas sedimentagdes tradiciouais de concepgdes do undo", suibstituindo essas crengas "pela aprendizagem (...) das leis da natureza (.)e das leis civis e estatais", Gramsci confere-Ihe ainda maior importaneia: ‘A escola em todos os seus graus ea igreja to as duas maiores organizagbes culturais en todos os paises, pelo utimero de pessoas que ocupam (idem, p243 e 261-262), Seusintelectuais, os padres e os professores, so 0s "mais numerosos & sais proximos da periferia". Uma vez mais, ele aproxima-se, aqui, da tradigao uarxista de luta pela diminuigo da "farga ideologica da repressio", representada pelo Estado e pela Tgreja, mediante seus diversos érgios, entre eles, a escola, © aparato cultural é o responsivel pela transmissio da heranga do passado e de todos os seus valores instrumentais. Conquanto sua importancia seja menor que no passado, a escola 0 instrumento para elaborar os intelectuais dos diversos niveis, A complexidade da fungao intelectual nos varios Estados pode ser objetivamente medida pela quantidade de escolas especializadas e pela sua hierarquizagao (Gramsci, 1989. p 9). ara atingir essa meta, tonua-se uecessivio aliar quantidade e qualidade democratizar a selego e a elaboragao "das mais altas qualificagdes inteleetanis’ proporcionando, a par de una refinada especializagao técnico-cultural, R. bras. Est pedag., Brasilia, v.77, n.185, p.7-32,janJabe. 1996 19 a maior ampliagao possivel da diftsdo de instrugao primdria ¢ a maior solicitude no favorecimento dos graus intermediarios ao maior mimeto (idem, p. 10) Tem-se, novamente, nesta passagem, um desdobramento das idéias marxistas de universalizacao da educagio e de ampliagao da escolaridade das classes trabalhadoras, a fim de proporcionar a oportunidade para a sua couscientizagao, reforgada pela passagem seguiuite ‘A cultura é privilégio. A escola é um privilégio, E no queremos que seja assim. Todos os jovens deveriam ser iguais diante da cultura, O Estado nto deve pagar ‘com 0 difheiro de todos a escola para os mediocres ¢ deficientes, mas filhos dos abastados, enquanto exclui dele os inteligentes e capazes, porque filhos de proletatios (idem, p.25). Para Gramsci (1989, p.230), a escola posstti uma fingao educativa positiva, e 0s tibunais, uma fungdo educativa repressiva e negativa. Essas duas instineias, aliadas a “outras iniciativas e atividades ditas privadas (..) formam 0 aparato da hegemonia politica e cultural das classe dominantes". Ou seja, a relagio pedagogico-politica nao sera restrita 4 escola; ela permeia todas as relagies sociais, sendo o Estado a expresso do equilibrio entre a sociedade politica e a sociedade civil Seguindo por esta via de raciocinio, Gramsci estuda a organizagio de uma escola capaz de atender as caracteristicas da sociedade modema e da “taylorizacdo intelectual", sua condicao necessiria. Uma escola que se consti, ao lado de outras agéncias cultwais, "num servigo intelectual”, assegurado "pelo Estado e pelas organizagdes locais". Como se ve, embora fiel 4 linha inaugurada por Marx e Engels, Gramsci amplia e desenvolve bastante a proposta inicial daqueles pensadores. Vejamos como ele concebe a organizagdio de una escola dessa natureza, contrapondo-a 4 escola italiana de seu tempo. AORGANIZACAO ESCOLAR Discutitemos, inicialmente, o cariter coetvitivo da educagio em Grausci, {jd aludidas en passant no item sobre um novo principio edueativo. Expresso por varios termos - autoridade, conformismo, voluntarismo, - Gramsci (1989, 20 bras. Est. pedag., Brasilia, v.77, n.185, 7-32, jan abe. 1996 p. 138) acredita sero habito uma segunda natureza, adquirida historicamente. E gracas ao incorformismo que o automatismo se converte em liberdade e a liberdade em responsabilidade, pois, co cstudo ¢ também um trabalho. ¢ unit fatigante, (..) € um processo de adaptaga. uum hibito adquitide com esforco, aborrecimento e mesino sofrimento. Esse sofiimento, comum a todos os alunos, é bem maior para aqueles «que nao recebem alimentagio adequada nem hébitos familiares faclitadores da aprendizagem intelectual. Porém, € preciso no sucumbir & tendéncia a affousar a disciplina do estudo, a provocar facilidades, se se quiser criar una nova camada de infelectuais no seio de "wn grupo social que tadicionalmente no desenvolvet as aptiddes adequadas”. (idem, ibidem). Desdobra-se, aqui, a idéia da necessidade de proporcionar educagao para as criangas das classes trabalhadoras as quais, entregues a sua propria sorte, nao desenvolverio as aptiddes necessitias 4 vida na sociedade modema, "Renumeiar a formar a crianga significa apenas permitir que sua personalidade se desenvolva extraindo caoticamente do ambiente geral todos os motives de vida" (apud Manacorda, 1990, p.75). Ou seja, Gramsci rejeita o inatismo enfatiza 0 papel da educagao como adaptagao da crianga para a vida em sociedade. O hibito do estudo, da “exatidao", da "coneentragio psiquica," precisa set inculcado por "meio de coagio mecinica” até os 14 anos. Esta tarefa € da escola, mas nao apenas dela. E preciso que todos os que tm contato com as criangas tratem-nas com seriedade, habituando-as a0 “hilotismo", porque "toda geragao educa a nova geracao", adaptando-a 4 sua época. E 0 tempo da crianea na escola é iusignificante em face das outras infinéneins recebidas do ambiente social mais amplo; ademais, seu efeito 56 se faz sentir a longo prazo (idem, p. 133). A disciplina necessétia a0 trabalho intelectual "nao anula a personalidade ea liberdade" do altmo, sendo um "elemento necessirio de ordem democritica, de liberdade”. Além do que, se a coergao social "se desenvolve segundo o desenvolvimento das forpas sociais, nao é coergao, mas ‘revelagao’ de verdade cultural obtida por un mtodo acelerado" idem, p.257-259), R.bras. Est. pedag., Bras, v.77, n.185,p.7-32, jan abr, 1996 2 A liberdade nfo deixa de existir nessa pedagogia, so que vem acompanhada "da responsabilidade que gera disciplina (.) a twnica liberdade & aquela que é responsive, isto é, universal, na medida em que se coloca como aspecto individual de uma liberdade coletiva ou de grupo. Como expresso individual de wma lei" (idem, p.211) Para Gramsei (1989, p. 122 ¢ 130), a escola elementar caracteriza-se or una maior presenga da disciplina, resultando nnm "eonfomismno dinamico" ‘A geragio mais velha transmite & geragao jovem o patriménio do passado, © conceito eo fato do trabalho (da atividade teérico-pritica) & o principio educativo imanente a escola elementar, ja que a ordem social ¢ estatal (direitos ¢ deveres) ¢ introduzida e identificada na ordem natural pelo trabalho. O aluno devera atingir a compreensio da atualidade como sintese do passado, de todas as geragdes passadas, que se projeta no futuro, E este o fundamento da escola elementar Fundamento este que deverd ser desenvolvido ao lado do ensino das primeiras ‘nogdes “instrumentais” da mstrugao (ler, esctever, fazer contas, geografia histria). A partir do momento em que a escola se separou da vida, entrou em, crise, Para supericla, sera preciso que a escola volte a se ligar 4 vida. S6 assim hhavera una "pavticipagao realmente ativa do aluno na escola". O professor precisa, ademais, conscientizar-se "dos contrastes entre o tipo de sociedade de cultura que ele representa e 0 tipo de sociedade e de cultura representado pelos alos" (apud Manacorda, 1990, p.246-247). E aprofimda mais a questo das diferengas culturais, O professor precisa couhever a psicologia popular, o folelore, xespeitando o linguajar do aluno, sua espontaneidade inata. O oposto significa dificultar a aprendizagem da crianga proveniente das classes populares e a consequente faciltago para os que falam a mesma linguagem da escola, Umas e outa, entretanto, precisam ser habitvadas "ao trabalho metédico e disciplinado” e nao podem ser deixadas "abandonados asi mesmas" (idem, p.61-65 e 209), E preciso ter em mente que ‘a consciéncia da crianga nfo & algo individual (e muito menos individualizado). & ‘9 reflexo da fiagto da sociedade civil da qual participa (..).A consciencia indivihal 4a esmagadora maioria das criancas eflete relagdes civis e culturais diversas € antagonicas as que s40 refletidas pelos programas escolares: o certo de uma cultura evohtida foma-se verdadeiro nos quadros de uma cultura fossilizada e anacrOnica, nao existe unidade entre escola e vida ¢, por isso, néo existe unidade etre instrigao ¢ educagdo (Gramsci, 1989, p.131), 2 R bras. Est peda. rasa, 7, 0.185, p.7-32. jan abe. 1996 A relagio aluuno-professor é analisada pelo autor como sendo ativa, de relagdes reciprocas e, portanto, todo professor é sempre ahino e todo altno, professor. Além do fato de que "o aluno nao é un disco de vitrola, nao é um, recipiente passivamente mecinico". Mas o autor toma 0 cuidado de nao limitar a relagio pedagdgica ao contexto professor-aluno, enxergando-a em "todo individuo com referéncia aos outros individuos, entre camadas intelectuais e nio-intelectuais, entre governantes e govemados, entre elites ¢ seguidores, entre ditigentes e ditigidos, entre vanguarda e compos de exército" (apud Manacorda, 1990, p.252-254). O trabalho vivo do professor é enfatizado por representar "o nexo instrugio-educagaio", devendo ele ser consciente nao s6 dos contrastes entre a sociedad e a cultura que ele representa em face da cultura do alino; bem como de sua tarefa de "acelerar e disciplinar a formagao da criauga conforme 0 tipo superior em luta com o tipo inferior"(Gramsci, 1989, p. 131). (Os trechos seguintes zevelam a importincia atribuida pelo autor a0 corpo docente, considerado "uma expressio da conscigncia civil de toda a nagio", ainda que "amesquinhada, e nao certamente uma vanguarda’ (apud Manacorda, 1990, p.244).. Enfatizando a recomendagiio marxista de que "é preciso educar os educadores”, reconhece que mesmo os métodos mais fascinantes tomam-seineficientes se faltam as pessoas capazes de vivifici-los em todos os momentos da vida escolar e extra-escolar, facassam devido a deficiencia dos professores (idem, p.97). E amemata: se 0 corpo docente & deficiente eo nexo instrugdo-educagao ¢ relaxado (..) terse ‘uma escola teorica, sem seriedade, pois faltara a corporeidade material do certo, ¢ © ‘verdadeito seri Verdadeito de palavra, ou sea. retérico (Gramsci, 1989, p.131-132). Complementando seus discursos, conclu que, com a queda verificada xno nivel do corpo docente, os exames deveriam ser abolidos, porque a corrego de julgamento, a anilise estética ou filos6fica fica prejudicada devido a falta de "bagagem" intelectual dos professores. brs. Est peda, Braslia 77, 1.185, 7-32, jan Jab 1996 2 Gramsci defende uma escola ativa, onde a aprendizagem ocorte "por iio de esforgo espontineo e auténomo do aluno”, restando ao professor una fimgdo de controle e de orientacdo amigivel. Chega mesmo a preconizar a substituigdo dos exames pelas stividades em seminirios, bibliotecas e laboratorios no licen (2° gran), de forma a "complementar e a vivificar o ensino oral” (Manacorda, 1990, p. 190). E na fase do liceu que o alo completara a sua formacao humanistica, antes da especializagao intelectual (na umiversidade) ou profissional (na fbrica, desenvolvendo a autodisciplina intelectual e a autonomia moral. Este eusino Inumanistico, baseado no estudo da historia, da literatura e da filosofia, fomecera melhor base aos estudantes, mesmo no ensino politéenico. Nesta fase 0 alto ja deverd ter concluido oito anos de ensino elementar e ginasial,restando-Ihe dois anos de liceu (idem, p.140e160-161). Falado sobre os programas e contetidos curticulares, Gramsci (1989, p. 133) discorre sobre o currieulo da "velha escola’, de cunho humanist, Set itinerarium mentis baseava-se no estudo gramatical do grego e do latim. Este principio educativo almejava ‘© desenvolvimento interior da personalidad, a formagao do carter através da absorgao © da assimilagao de todo 0 passado cultural da civilizagéo européia moderna, O objetivo a atingir era a formagiio do intelectual tradicional, do bom orador. Mas, a partir disto, o ensino do grego e do latim permiitizia ao altno adquirir "uma intuigao historicista do mundo e da vida", com "a minima intervengdo" educativa do professor. Nao que essas linguas possuissem "qualidades intrinsecamente taumatirgicas no campo edueativo", mas a maneira como o contetido se organizasse proporcionaria ao afuno "ta grande experiéneia sintética, filos6fica, le desenvolvimento historico-real" (idem, p. 134). ‘Advém dai a dificuldade da substituigio desses contetidos por outros, uma decorréncia das mudangas ocoridas na sociedade. na visio do mundo, no desenvolvimento da ciéneia. Gramsci reconhece a necessidade de incorporar a ciéncia ao conhecimento escolar, apesar de seu carter classista, Para ele, a ciéncia é wma superestrutura, 2 R bras. st. peda, Brain, 77,185, p.7-32, jn fab, 1996 Gramsci (1989, p. 184) procura desenvolver uma concepedo de escola ccujo pressuposto & a recomposigio da mnidade entre trabalho e cigncia "através da mediagao da tecnologia”. Essa escola devera conciliar 0 novo principio educativo, que é o principio da produgdo industrial, com a trausmissio da cultura classica e modema, atendendo aos interesse da classe trabalhadora, Partindo da situagao da educagao italiana, propde a criagao de uma escola tinica, de carter utilitarista e humanista ao mesmo tempo. em substituigao 20 liceu profiisio de escolas profissionais existentes, as quais cindem o conhecimento e desperdigam talentos. AESCOLA UNITARIA Com as modificagdes ocorridas na esfera social apés a introdugao do principio da produgao industrial, a escola tradicional entra em crise. A incorporagao deste novo principio ao processo educative, sem acaretar 0 sett empobrecimento, nfo ¢ tarefa facil Em primeizo lugar, porque 0 campo educativo é o campo de atuagao. por exceléncia, dos intelectuais, particularmente na universidade. E por meio dela que a classe dirigente "seleciona elementos individuais de ontras classes, a serem incorporados a sen pessoal governativo, administrativo e dirigente", Se ela é burocratica e a sua infhuéncia na vida cultural do pais ¢ pequena, isto deve- se ao distanciamento existente entre os intelectuais e 0 povo. Como a fiagdo "mais homogénea e mais numerosa" dos intelectuais & a dos professores, & necessirio organizar um programa escolar que les interesse e lhes dé "wna atividade propria dentro do campo téenico" (apud Manacorda, 1990, p. 119, 124 e 170). Seguindo a tradigo marxista de critica a profissionalizagao estrita-e sua consequéncia mamutengao da "velha ¢ rigida diviso do tabalho -, Gramsci cenfatiza os aspectos negativos das escolas profissionalizantes existentes, ‘Uitapassando a mera critica desse ensino, concini que a escola tradicional xa oligdrquica, porque destinada a perpetuar "ama detenminada fingao tradicional, diretiva ou instrumental Para “destrur esta tram, énecessivio eriar R. bras. Est pedag., Brasilia, v.77, n.185, 7-32, janJabr, 1996 um tipo de escola preparatéria (clementar-média) que conduza 0 jovem até 08 tumbrais da escolha profissional, formando-o entrementes como pessoa capaz de pensar, de estudar, de disigir ou de controlar quem dirige (idem, p. 136-137). Ou seja, uma escola abertamente democratica, que amplie "a base da camada governante tecnicamente preparada’, preservando os "valores findamentais co humanismo' O objetivo dessa escola ¢ muito mais amplo do que qualquer objetivo edueacional. © advento da escola unititia significa o inicio de novas relagdes entre trabalho intelectual e trabalho industrial no apenas na escola, mas ent toda a vida social © principio unitario, por isso, refletir-se-a em todos os organismos de cultura, iransformando-os e emprestando-Ihes un novo contetd (idem, p.125) Como se percebe, o objetivo de Gramsci é fazer surgir uma nova cxganizagao cultural mediante a refoxmulagao da atual organizagaio académica e da umificagio dos "varios tipos de organizagéio cultural existentes, (..) inclusive s militares, integrando o trabalho académico tradicional (..) a afividades ligadas A vida coletiva, ao mundo da produgao e do tabalio” (idem, p. 126-127). ‘Nese sentido ele critica a defesa de Engels da manutengao do eusino da gramitica, do grego e do latim como fulero da escola humanista modema, cembora valorize os valores huumanistas fimdamentais de Marx e Engels. Incorpora a ideia da formagao tedrica aliada a aplicagdo pritica: "educagao e trabalho produtivo andarao lado a lado" Essa ideia lis, havia sido defendida também por iberais como Lavoisier Condorcet durante a Revolugo Francesa. Mas Lénin e Kruspskaia as assumem. como "elemento tedrico de um prineipio politico”, parte integrante do programa do Partido Comunista de 1919. Instrugdo gratuita e obrigatria, geral ¢ politéenica, para todos os jovens dos dois sexas até os 16 anos; estreita lizacto entre o ensino e o trabalho socialmente produtivo (apud Manacorda, 1990. p. 149-150) Essas consideragdes partem da constatagao de que a escola dualista tradicional serve apenas para perpetuar as discriminagies sociais. Os cursos profissionais acabam fiequentados pela classe trabalhiadora, enquanto as classes mais favorecidas frequentam as escolas de formago geral, onde recsbem uma melhor preparagdo com vista a seu futuro ingresso numa uuiversidade, 26 R. bras. Est pedag., Brasilia, v77,n.185,p.7-32, jan abr. 1996 E 0 principio da politecnia de todos os cursos de 2° grau em tomo de um curiculo propiciador de uma formagdo geral sOlida e de uma preparagio Jato sensu pata o trabalho, Gramsci acredita que 0 desenvolvimento global e integral da petsonalidade s6 podera ser atingido mediante a exposigao do joven a mnltiplas experiéncias, Recusa fortemente o espontaneismo da pedagogia rousseauniana ea atitude ingénua dos escolanovistas na sua tentativa de reduzir a relago pedagogica ao ambito das técnicas dicticas, como no Plano Dalton. Para ele, a edncagao é una luta contra a natureza, travada no ambito da escola unitiria como intuito de preparar o jovem "tanto para os estudos posteriores como para a profissdo”, ja que nenhuma profissao "esta privada de contetidos e exigéncias intelectuais e culturais" (Manacorda, 1990, p. 106,108,137 e 163). Para ele & dever do Estado assumir certos encargos familiares de forma a permitir aos jovens de todas as classes sociais frequentar essa escola desinteressada de cultura geral. O objetivo pretendido é coibir o seu ingresso prematuro no mercado de trabalho, 0 qual se da sempre em condigdes desvantajosas, além de impedir o prosseguimento de seus estudos até os patamares mais elevados (Gramsci, 1989, p. 121), ‘A tendéncia democritica, intrinsecamente, nfo pode consis ‘ada operirio manual se tome qualificado, mas cm que cada "cidadao’ possa se tomar "govemnante" e que a sociedade o coloque. ainda que "abstratamente” nas condigées gerais de poder fizé-lo: a democracia politica tende a fizer coincidir goverimtes © governados, assegurando a cada governado a aprendizagem Anam das capacidade ed preperagto tencanecestras a fim de goverar idem. p. 137) apenas em que Como se vé, embora fiel 4 tradigao marxista, Gramsci extrapola a heranga inicial daquela tradiga0, vendo na edueagao 0 veiculo ideal para a democratizagio de fato da sociedade. Nao essa educagdo que ai esti, dualista, viciosa, discriminat6ria, Partindo da constatagdo do caréter classista e injusto da educagao e das necessidades advindas das esferas produtiva e cientifica, propde um modelo de escola no qual as diferengas de classe sdo diluidas por ‘um curticulo baseado nos valores hnumanistas € nas qualidades essenciais requeridas pelo mundo da produgao industrial. bras. Est pedag.,.Braslia, v.77, n.185, p.7-32, jan abr, 1996 Dessa escola deverd emergir 0 cidadio completo, participante, ‘governante ou! govemado, mas consciente de sua fiangdo e importaneia no ambito da sociedade, dos direitos e deveres da cidadania, menos competitive, mais produtivo, tendo seus talentos valorizados e compreendidos, pois a vida social supde a multiciplicidade de talentos e aptiddes. Se nvio, como preencher as diferentes fimgdes exigidas pela vida modema? Negar a esta ou Aquela classe 0 reconhecimento de que ela & parte integrante da sociedade em todos os seus niveis € negar o principio democratico basico da igualdade. Pior ainda, é desperdigar o talento e a habilidade de pessoas que talvez pudessem contribuir significativamente para a solugao dos problemas oriundos da organizagao da produgio e da propria vida em sociedade. Conclusio A sociedade capitalista ocidental modema avoca para si o mérito de respeitar os principios democraticos apregoados e difindicdos apés a Revoliea0 Francesa. O estucdo de uma das suas instituigdes basicas - a escola - revela, entretanto, que a adesio a esses principios é feita em nivel formal, apenas. A escola moderna, conquanto seja bem menos elitista que a escola medieval, por exemplo, continua incorrendo em alguns de seus eros mais comuns. Primeiramente, ela nio se universalizou de fato, pelo menos, niio nos paises do Terceiro Mundo. E mesmo naqueles paises que conseguiram eliminar © aualfabetismo e proporcionar 4 totalidade da sua populagao uma edueagaio basica, ela continua reproduzindo as classes sociais diferenciadas, conforme a origem social de seus alunos. Aqueles provenientes das classes que detém poder econémico encaminham-se "naturalmente" para os cursos de estudos superiores; os demais, para os cursos técnico-profissioualizantes ou simplesmente para as ocupagdes mamtais nao-especializadas ‘Marx e Engels puderaun observar essa tendéncia perversa da edueagao © demmeiaram. Foi o ponto de partida para muitos estudiosos e servi de parunetro até para aqueles que mio comungam com suas idéias, Entre tantos que estudaram o tema, sobressai o pensador italiano Antonio Gramsci, euja obra nio se linitou 4 dentineia do carater autidemocritico da instituigao escolar 28 R bras. st pedag., Brasilia, 77,185, p.7-32, jan ab, 1996 Partindo, na palavra de seus mestres, da "situagao atual" da educagao de seu tempo, propos wma completa reformulagao da instituigao educativa, que € perfeitamente atual e valida em nossos dias ‘A mais brilhante contribuigao gramsciana a educagao vird do desdobramento da tradigio marxista de combinagio da educagao humanista tradicional com a educagao politéenica. Sua proposta da escola unitixia vai além do simples ensino técnico tradicional. Nisto ele incorpora a critica marxista a0 protissionalismo estreito, que s6 conmibni para desvalorizar 0 tabalhador e dinyinir set valor no mercado de trabalho, A fonmagiio da escola uuitiia devera preparar 0 cidadio para exercer qualquer cargo no futuro, seja este de operdrio ou de dirigente, rompendo o citculo vieioso de perpetuacio das mesmas elites no poder indefinidamente, com base no argumento do melhor "preparo” intelectual. ‘A formagao politécnica, além de respeitar as inclinagdes e aptiddes do aluno, representa tuna democratizagao real da sociedade, culminando na diluigdo das diferengas de classes ¢ na cidadania plena. Desaparece o cidadao "de segunda’, analfabeto ou semi-alfabetizado, o operério manual que desconhece © principio do trabalho, aquele que participa do processo politico da escolha dos dirigentes apenas como um nimero, a "massa de manobra’ Pois, uma sociedade verdadeiramente democratica ¢ formada por cidackios conscientes, que participam de fato das decisdes tomadas pela elite dirigente,e cuja opinido é ouvida e respeitada e cujo consentimento & buscadb Uma organizagao escolar que ni adira a esse principio sera apenas formalmente democritica. Mas nio seri, de fato, uma escola desinteressada, no sentido gtamnsciano do temo, capaz de formar tanto o operirio especializado quanto 0 ditigente politico. Eis aqui, resumidamente, a esséncia da contuibuigio de Marx, Engels e Gramsci para a filosofia da educago: o principio democritico radical da escola ‘Uma escola tmitéria, ultrapassando a clissica dicotomia entre conhecimento teético e conhecimento pritico que permeia a organizagao escolar ocidental desde os seus primércios. Somente una escola unitiria podera traduzir, na pritica, © principio democritico da edtucago modema, caracterizando-a como praxis, Cabe, agora, aos educadores progressistas transformar essas categorias em modelos, projetos e programas a serem implantados, discutidos, avaliados, vivificando-as e nao permitindo que caiam no esquecimento. Ou, pior ainda, ‘que sejamn apropriadas e desvirtuadas pelos sefores conservadores da sociedad. R. bras. Est pedag., Brasilia, v.77, 9.185, p.7-32, jan fabr. 1996 29 Referéncias bibliograficas ENGELS, Friedrich. Anti-duhring. Lisboa: Mineira, 1975a. Prineipio do comunismo. In: MARX. K., ENGELS, F. Critica da educagio e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978. A situagao da classe trabalhadora na Inglaterra, Lisboa: |975b. 447p. (Sintese, 22). GRAMSCI, A. Americanismo e fordismo. In: Maquiavel, apolitica e 0 Estado Moderno. Tradugao de Luiz Mario Gazzaneo. 3.ed. Rio de Janeiro: Civilizagdo Brasileira, 1978. Presenga, Os intelectuais e a organizagéio da cultura. 7.ed. Rio de Janeiro: Civilizagaio Brasileira, 1989. MANACORDA, M.A. 0 principio educativo em Gramsci. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1990. MARX, K. Conselio Geral da A.LT., 1869. In: MARX, K., ENGELS, F. Critica da educacéio e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978a. Os fiandamentos da critica da economia politica n. In: MARX, K. ENGELS, F. Critica da educagao e do ensino. Lisboa: Moraes, 19780. . A guemra civil ua Frauga, In: MARX, K., ENGELS, F. Obras escolhidas. Si0 Paulo: Alfa-Omega, [19]. v.L ____Instmpies aos delegados do Conselho Central Provisorio, ATT, 1968. Ia: MARX. K.. ENGELS, F. Critica da educacdo e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978c. Salério, preco e lucro. 5.ed, rev. ampl. Sao Panilo: Global, 1987. 8p. MARX, K., ENGELS, F. O capital. Sao Paulo: Difel, 1985 30 R bras. Est. pedag., Brasilia, .77,n.185,.7-32, jan Jabr. 1996 . Critica da educagéo e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978 . Obras escolhidas. Sao Paulo: Alfa-Omega, [19—2]. vl. Textos sobre educagao e ensino. Si Paulo: Moraes, 1983. Bibliografia: p. 21-25, 39-40.60.65,68-70.81.90-98. TESES sobre Feuerbach. Tradugo J. A. Gianotti. In: MARX, Katl Manuscritos econémico-filosdficos e outros textos escolhidos. [8.1]: Abril Cultural, 1974. (Os pensadores, v.35). Recebido em 2 de agosto de 1996. Lilian Maria Paes de Carvalho Ramos, doutoranda em Edueagao pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), € professora assistente da Universidade Catélica de Petrapolis-RI The basic démocratie principies ofeducation in the works ofMarx, Engels and Gramsci are discussed in the paper. Some ofthose principies were supported by authors with different ideological tendencies and purpose. But the ideas focused here, particularly that of potytechnical education, aim not only at the refinement of labor preparation for the new industrial society through schooling processes. They aim, above ali, at the edification of an hegemony of ihe working classes and its direct consequence: the democratization ofthe ruling classes. On se centre dans I’étude du principe deducation politechinique, pas seulement comme source deformation de main a oeusre reclamée par Ta societé industrielle, mais comme construetion d'une hégémonie de la classe travailleuse et, par conséquent, Vaceroissemenprécis des endroits participaifs de la démocratie. La base du travail sont les principes démocratiques de I ‘education inclus dans diverses produetions de Marx, R bras. st. pedag., Brasilia, v.77, 0.185, p.7-32, an Jabs. 196, 31 Engels et Gramsci, et soutennus par des auteurs qui, avec divers objectifs er diferentes idéologies, ravaillent la thématique. Cemtrando el esttdio en el principio de educacién politéenica, no solo como recurso deformacién de mano de obra requerida por la sociedad industrial, sino como construceién de una hegemonia de la classe trabajadora y, por conseguiente, la ampliacién concreta de los espacios participativos de la democracia, Basando el trabajo en los principios democritticas de la educacién quefiguran en diversas producciones de Marx, Engels y Gramsci, defendidos por autores que, a partir de diversos objetivos y desde distintas posiciones ideolégicas, abordan la temética 32 R. bras. Est. pedag., Brasilia, v.77, n.185, p.7-32, jan abr. 1996

You might also like