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4 Aacdo do romance’ 7 42. Visdo global ‘A acdo do romance baseia-se na historia de trés geracdes da familia Maia (Afonso, Pedro e Carlos) e tem como pano de fundo 2 sociedade lisboeta de grande parte doséculo XIK. Ass, é possivel reconhecer um paralelismo entre ‘08 vérios representantes da farnlia Maiae os diferentes momentos de Historia. de Portugal do século XIX: « Caetano pai de Afonsoda Mala) - representa o Absolutismo e os seus valores retrdgrados; « Afonso (pai de Pedro ¢a Maia) - é uma figura emblemitica do Liberalismo romantica, chegando asofrero eli da patria: « Pedro (pai de Carlos da Maia)~¢ um representante da politice da Regenera- | ‘do (periodo iniciado em 1851) e do Uktrarromantismo: + Carlos ~é um fel defensor do esnirito da Geragio de 70 e simbolo do suisse- quente Vencidismo, | \Nesse sentido, Jacinto do Prado Coelho considera mesino que Portugal é a -zrande personagem oculta do romance: “|. oque domina como objeto de refle- x60 € Portugal, personagem oculta por detrés das personagens visiveis. Um pals ‘sparontemente som remédio, um pais que as lites ndo so capazes de salvar.” Os Maias ¢ um romance sobre a decadéncia, « histéria simbética da ruina de uma familia que, a sew modo, na sucessdo das suos geragdes desde o antigo regime absolutista até ao Portugal contempordneo de Eca, representa o destino e até os perfedos da historia de um pats: Portugal Eca parece ter querido demonstrar aqui o seguinte teorema: se numa familia nobre, ligada aos destinos e ds decisées copitais do Pals pelo facto de se situar na céipula do poder eda fortuna, condensandoo que de melhor urea coletividade pode encerrar como raca e como fibra, se numa casa, o Rama- Ihete,cujas paredes o positive Vilaca, procurador dos Maias, ndo hesita em classificar de ‘fatois, vivem juntos o Portugal antigo (representado no hherculaniano Afonso da Maia, com as suas barbas de iso-reie seus modos solenes € retcs) e 0 Portugal hodierno (o jovem méico Carlos Eduardo, coevo dajuventude coimbrd que escutou o verbo incandescentede Anterce -Aeticiutiznda a obra Os Max a dColeto Educator’ Por Porto Fora, 208 ecto o rao Col. Ac Gant de Pent, isos Betrand 326.188, B CColesao esumos Ba de Queleds, Ox Naias partis para o Porto,a ganir a Marselhesa, durante a célebre “rolinade’), se, Portanto, nesta familia enesta casa se resumem algumas décadas de his- téria todas as virtudes-e defeitos ~de uma progénie representativa, ese ‘nessa mansGo simbolica e nessa estirpe superior se introduz a moléstia invisivel da decadéncia para as arruinar, abater © destrocar, que dizer entdo do préprio Portugal que nestes simbolos subjaz? In] Se aestirpe dos Maias se perde, que dier entdo do Pais? ‘ol Medins. Epa de Quine Gerd de a, Lsboa Moraes (om supressoes) ‘Apesar de ser uma obrapublicada pela primeira vez em 1888, Os Moias nfo perderam, no entanto, a sua atualidade, muito pela critica acutilante e perspi- az que E¢a faz ao Portugal daquela época ¢ as suas figuras que parecem ropresentar um modo de sere de estar quase intemporal e caracteristicamente ‘nosso. Nas palavras do Professor Carlos Reis: "Os Malas é uma intriga inospo- ‘ada, muito bem conseguida, com alguns episédios engragados a contracenar ‘com outros muito trégicos. E de facto um romance completo, a lingua em que foi escrito nao envelheceu, éum romance sobre a Histéria de Portugal que tem {ver com coisas que conhecemas hoje.” 4.2. Estruturacao Acostrutura de Os Maias é desde logo definida pelo proprio autor ao subli- ‘nhar a importincia do subtitulo ~ Episédios ca vida roménticc. ‘Numa carta de Bristol, em outubro de 1887, Eca escreve ao seu editor: | Dabord je voudraivoirune épreuve de la capa-surtoutparceque | Jeroman a un sous-titre qui dott parattre dans la couverture’, insistindo ‘ainda no relevo do subtitulo em duas cartas posteriores (dezembro de1867 ce abrilde 1888) Ine faut pas cublier que le roman a un sous-titre —episé- dos da vida romantica’. Asoim, Os Maias apresentam dois nivels narrativos relacionados direta- mente com: * otttulo ~ Os Maias - que remeta para a histéria do uma familia ao longo de {ts goragées, incluindo a intiiga/agao central, que se constréi como uma ago fechada; * osubtitulo ~ Episédios da vida romantica - que aponta para uma descric&o/ pintura de um certo estilo de vida, 0 romantica, através da cronica de ‘ua Jacoby, Revita Vda Independents novenbr e985. 6 costumes da soc guesia da décad atravésda const lando-se como u Estes dois niveis gens da intriga cent da mediocridade ge A arquitetura do - ceantecedentes + aintriga amorosa “se naturalment tuosa de Carlos ¢ +a visioe a critic doséculo XIK, gu Relativamente & qual apresenta uma ~os amores incestu + Antecedentes p5aCap. Vp x = instalagdodos ~ descrigaoe his Cap. lp. ~ grande analep aparecimento ~ juventude de ~ Vida de Ped forte, eicis arias ~ Carlos (infin epoca de for IN. pp. 101-10: Neste primeira cerca de 55 anos, de 5 ¢60;"~Cap |, p15~: 3B 101) ritmo é rap 5 ihande-se ao ritmo r 1B Aaghoéoomance costumes da socladade lisboeta, particularmente da aristocracia e alta bur- ‘guesia da década de 70 do século XIX. A crénica de costumes concretiza-se através da construgao de ambiontes eda stuagio de personagons-tipo, reve- ando-se como uma acio aberta. Estes dois niveis narrativos articulam-se de forma alternada funcionando ‘os ambientes como pano de fundo para a atuagéo de algumas das persona- gens da intiga central que, pelo seu caricter e comportamento, se destacam damediocridade geral. ‘A arquitetura do romance conjuga trés dimensdes estruturadoras: + os antecedents ea evolucdo dafamifa Maia: + alintrigaamorosa rlativa a Pedro da Mala, Carlos da Maiae Exe, destacando- se, naturalmente, a intriga central, organizada em tomo da relagio inces- tuosa de Carlos da Maia e Maria Eduarda; +a Visto © a ciftica dos costumes quotidiaros da sociedade lisboeta no final do sécullo XIX. que serve de cena da intriga central. Relativamente a intriga amorosa,foqueme-nosprimeiro na intriga central a ‘qual apresenta uma estrutura tripartida: antecedentes da agao, agao principal 08 amores incestuosos © desfecho trigico~e epilogo. ‘Antecodontes da intriga central —introduedo e preparagio da ago ~ Cap. | p.SaCap.IV,p. 102 = instalagio dos Malas: ~ descrigao ehistoria do Ramalhete, casa da familia Mala,no outono de 1875 ~Cap.t pp.5-13; ~ sande analepse com o objetivo de explicar os antecedentes da familia @.0 _aparecimento de Carlos, em Lisboa,no outono de 1875: —juventude de Afonso e exo em Inglaterra Cap. |, pp.15-18; ~ vidal Pedro (inféncia,juventude, relagio ecasamenio com Maria Mon- forte, suicidio)~Cap. |. p. 19 @ Cap Il, p. 55 ~. que constitul a aco secun- daa: ~Carlos (infncia, Cap. Il, pp. 57-9; juventude e estadia em Coimbra — época de formagao— Cap. IV, pp. 95-101 longa viagem pela Europa — Cap. WW.p0.101102). "Neste primeiro momento da intriga, que cortesponde a um period de ‘cerca de 55 anos, de 1822 "TAtonso atiravalfoguetes de ldgrimas @ Constitui- ‘$60:"-Cap.|,p.15~a0 outono de 1875 ("Chegara esse outono de 1875:"—Cap.1V, +p. 101), o ritmo é pido. Os acontecimentos sucedem-se velozmente, asseme- = thando-se ao ritmo narrativo de uma novela. ColegaoResunos Bea de Quekeés, Os Malas + Agao principal —Cap.\V, p. 101 aCap. XVII p, 703. As principals sequeéncias narrativas sao: ~Carlos vé Maria Eduarda no Hotel Central—p.164 Carlos visita Rosa, filha de Maria Eduarda, a pedido de Miss Sara, a ‘governanta~ pp. 265-273 ~ Carlos contece Maria Eduarda, nacasa desta ~p. 360; ~declaracéo de Carlos a Maria Eduarda~p. 420; ~consuumagao do incestoinconsciente —p. 452; —encontro de Maria Eduarda com Guimaraes tio de Damaso- p. 552: —revelagdes de Guimaraes a Ega— pp. 628-634; revolagées de Fga aCarlos pp. 657-658; —revelagdes de Carlos a Afonso pp. 658-660; —Insisténcia no incesto, agora consciente - pp. 672.673: ~encontro de Carlos com Afonso pp. 683-684; morta de Afonso por apoplonia— pp. 685-686 ~revelagées de Ega aMaria Eduarda pp, 699700; ~ partida defintiva de Maria Eduardla para Paris~p.703, Esta segunda parte estende-se ao longo de catorze moses, cujos marcos ‘temporais so os seguintes: —outono de 1875 até aos fins de 1876 ~a morte de Afonso ocorre no inverno ~ ‘bol fino de inverno”— Cap. XVI, 685; ~ principios de 1877 - "Semanas depois, nos primairos dias do ano nova” = Cap. XVIllp. 705 ~ partida de Carlos ¢ Ega para a sua viagem de volta a0 mundo, (Orritme desta segunda parte, ao contrario do que acontece com a primeira, Glento e espagado, caracteristico de romances complexos como Os Malas. + Epllogo~Cep, Xl, p. 705733, Os acontecimentos marcantes do desfecho doromance sao: ~viagem de Carlos e Ega ~janeiro de 1877 a margo de 1878 ~"Mas, passado ano emeio, num lindo de de margo"— p.706; ~ Carlos em Seviha - "Nos fins de 1886, Carlos veio fazer o Natal perto de Sevitha’—9. 706; = feencontro de Carlos e Ega~ E numa luminasa emacia mana de janeiro de 1887, os dois amigos, enfim juntos" ~p. 707, O epilogo retomao ritmo répido nica: com efeto, dez anos sao cortados em cerca de duas piginas. Esta concentragao tomporalé conseguidaatravés de: ~ elipses~ “Fesse anopassou|.] Outros anos pasearan."—p. 706; ~ resumos~"Gente nasceu, gente morreu. Searas amadureceram, arvoredos ‘mureharam,"—p. 706, O famose passs por Carlos e Ege ~ aprosimadamenta, aprosimando-se do 4.3. Diversifi Come foi refer ses do romance 0 que consiste na su claramente uma in Maia e Maria Edua sentimento e da pa zpores, igualments adistero entre Jo’ Cohen, muitherdot Annarragdo dos vose', Troco’, de in seota uma ado se rosa central. Por 0 também para intro Gente na intriga ce Sia narragio ¢ objetivo: retratar aduitério -, mostra cia perniciosa da | das adevaneins © apaixonar perdida: twia do adultétio,e cassia. As trés relagd comum. Desde log exacerbados (2 pai css Para alemiss es forma trigica mentos da familia muther, que foge : mguema 0 desgost Eduarda ¢ sua irm: morte do avé, vitin pei mundo, levanc Oh) Rscio dovomance 0 farnoso passeio final (momento simbélico e de reflexdo protagonizado por Carlos e Ega — pp. 707-733) ocupa o resto do Capitulo XVIII, num total de, aproximadamente, vinte e seis paginas, desacelerando 0 ritmo narrative @ aproximando-se do ritmo dasegunda parte. 4.3. Diversificacao da intriga amorosa ‘Como foi referido no ponto anterior, a intriga amorosa é uma das dimen- ‘852s do romance Os Maias. Mas essa intriga reveste-se de uma partcularidade que consiste na sua diversficagio. Com efeito, embora possames identificar claramente uma intriga central ~ os amores trigicos de Carlos Eduardo da Maia e Marla Eduarda -, 6 possivel encontrarmos outras representagSes do ‘sentimento eda paixdo, ou seja,outras relacGes amorosas, como €0 caso dos -emeres,igualmente trégicos, entre Pedro da Maia e Maria Monforte e o amor ‘adiitero entre Jofo da Ega grande amigo @ confidente de Carlos, e Raquel | Cohen, mulher dobancueiro Cohen. '\ narragao dos amores entre Pedro da Maia, um jovem “pequenino e ner- +080%, Taco", de indole romantica, e Maria Monforte, a bela ‘egreira’, repre~ ‘Senta uma ago secundaria que serve 0 propésito de preparar a intriga amo- ‘082 central, Por outro lado, e numa visdo de conjunto, essa narragao serve ‘também para introduzir um certo cardcter trigico que se tornara muito evie sserte nainuiga central, 48 anarragao dos amores entre JoRo da Ega @ Raquel Cohen tem outro objetivo: etratar um comportamento comum & época, mas condendvel ~ 0 -sdultéria~, mostrando assim afragifdade da educagdo femininae ainfluén- ia perniciosa da literatura romantica, que conducia tantas mulheres casa- dasa devancios e loucuras. Nao esquecer que 0 préprio Carlos, antes dese -apaixonar perdidamente por Maria Eduarda, se deica também ele enredarna ‘siado adultério, envolvendo-se coma condessa de Gowvarinho, uma mulher casada. [As trée rolagdes amoresas aqui apresentadas tm, porém, aspetos em ‘comum, Desde logo, o facto de serem conduzidas pela forga de sentimentos ‘exaverbados (a paixdo, o desejo,o cite), sendo, assim, tipicamente romainti- 25 Para além disso, ou por causa disso, s40 relagbes fatal, que terminam de ‘uma forma trigiea @ doloresa, sobrotudo as ralagées amorosas dos dois ele- ‘mentos da familia Maia: Pedro da Mala, nesperadamente abandonado pela + mulher, que foge com um italiano (Tancredo) levando consigo a fila, ro | aguenta o desgosto e suites; Cavlos da Mala, €epos de saber que Maria Eduarda 6 eua irma, incorre ainda uma vez no “erime" do incosto, mas apés & | morte do ave vitima dessa desgrace, dei Lisboa e parte para uma viagem * pelo mundo, evando apartir de entio uma existancia soltria, 9 Colegio Rerum Bade Queeds Os Moos 4.4 Resumo dos capitulos Capitulo T © romance iniia-se com a referéncia &instalagdo dafamila Maia (apenas ‘composta pelo avé Afonso ~ tum antepassado mais idoso que o século"~e pelo £ eto Carlos que etudava Medicina em Coimbra’ ropax de gosto ede uso que = ppassava as féias em Paris e Lonches’) no Ramalhete, no outone de 1875. E Este palacete, durante longos anos desabitado, estivera para se transformar © ha Nunciatura, em 1858 quando monsenhor Bucarinio visitou. No entanto, a quartia exorbitante pedida por Vilaga, procurador dafariia Maia fez0 represen tante do Vaticano desisir da dela, Eo Ramalhete continuou a serum “intl par dieiro’, apenas servindo para arrecadacdo dos méveise lougas provenientes de outro palacete da famifa, o de Benfica, entretanto vencido. Os Maias, ‘uma antiga familia da Beira’, viviam, ha algum tempo, na Quinta de Santa Olévia, no Douro, e, ao decidirem veltar a viver em Lisboa. encarregam Vilaca derestauraro palacete, a contragosto do procurador que refere ‘uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete’. As obras de restauroe ‘a decoragio sfo aupervisionadas por Carlosque, depots de processode renova- 0 conclude ej formado em Medicina, parte para uma viagemde um ano pela Europa, Afonso, que faze leribrar, segundo o seuneto, “um vardo esforgado das idades heroicas, nstala-se no Ramalhete, esperando o regresso de Carlos. Inicia-se entio a analepse que evoca o passado de Afonso da Mala: fora um Jovem apoiante do Liberalismo, ao contrério de seu pai, Caetano, um absolu- tista. Por esta razao, Afonso foi expulso de casa, mas, por influéncia de stia mae, folthe oferecida a Quinta de Santa Olavia. Alguns anos depois, Afonso parte para Inglaterra, onde esta aigum tempo, mas de onde regressa devido & morte de seu pal. Eento que conhece a mulher com quem iré cacar, D. Maria Eduarda Runa, de quem tem um fiho ecom quem parte para o exlio, em Ingle- terra, D. Maria Eduarda, mulher de satide fragile catdlica excessivamente ‘devota, ndo se habitua & falta do sol nem aoprotestantismo ingleses. Nao cor- sentindo que o seu filho Peco seja educado por urn inglés, muito menos nur colégio protestante, ordena que de Portugal venha um homem da lgreja para o ceducar, Apesar da oposigio de Afonso, Pedro cresce fragil medroso e excess Yamente mimado pela mae. Com 0 agravamento da doenga de D, Maria Eduarda, a familia volta para Lisboa, onde ola acaba por morror, causando um enorme desgosto a Pedro. Depois de uma vida de dissipagio por “upanares ¢ >botequins’alternaca por periodos de davocio extrema e doentia, Pedro, entre- tanto recuperade do lute, apaixona-se por Maria Monforte, uma mulher muito bela e elegante, filha de um negrsiro. Afonso da Maia opde-ce fortemente & relagéo do seu filho com Maria Monforte, Pedro e Matia cesamas escondidas, sem consentimento de Afonso da Maia. Capitulo IT O casa viaja por it fam pouco tempo de; pea Lisboa, mas nso eos perdoasse eos re Ctivia. 2 sua quinta no Maria Eduarda, fi nassimecto da Bika oc de Pedro © Maria Max temosa” que, segundo gee Maria, tinha ‘um Byron” Este ambiente boudoir, enquanto Ped Cuando o seu segundo opaie ira Santa Olivia porque Pedra numa ¢: que fazia parte do grup tempo em sua casa (de cere porele se apanion Eada Pedro procura apo% Caros na casa de Ben -se2 Afonso decide fee lies para a Quinta de Ss Capitulo I A infancia de Cartos Sbecal com um profess edsregras dures que A os Naiascomivem con ua mie. 0. Eugen capitulo que evidencia J rele 2 ingtesa (Cart: © tonso © segundo ele 3 Hike substitute como Berea na Universidade ‘© casal viaja por Ilia, porém, Maria suspira por Pars, para onde se muda am pouco tempo depois, Maria fica grévida. Nessa altura, resolvem voltar pera Lisboa, mas nao sem antes escreverem a Afonso, pal de Pedro, anun- ‘Sando sua partida ¢o naseimentodo seu primero neto. na esperanca deaue ‘eos perdcassee osrecebesse como familia, Afonso tinha voltado para Santa ‘Olivia. a sua quinta no Norte do pats, ‘Maia Eduarda,fiha do casal, nasce, mas Pedro ndo informe o seu pat do ‘ssscimento da fila por ainda estar magoado com a sua attude. A vida social = Pedro e Maria Monforte no era mais do que uma “eisténcia festa e ‘exvosa" que, segundo Alencar, timo da casa que nutrla uma paixaoinocente or Maria, tinha “um saborzinho de orgia distinguée como os posmas de ‘Syron”.Eate ambiente agradava a Maria que recabia os amigos intimos no seu ‘oud, enquanto Pedro sentia tédio “daquela existéncia de luxo e de festa’. ‘Quando o s2u segundo filho nasce, Pedro pde a hipétese dese reconeiliar com ‘opal ei Santa Olavia apresentar-he os netos. Contuco, esta vsitaé adiada, serque Pecro, numa cagada com os amigos, ore acidantalmente um italano ‘sve fazia parte do grupo, Tancredo, o qual fica a restabelecer-se durante muito ‘sempo.em sua casa (de Pedro e Maria) tempo suficiente para Mariao conhe~ ‘cere porele se apaixonar,fugindo ambos elevando com eles aha dela, Maria Euarda, Pedro procura apoio junto do pal, que o acolhe, assim como ao seu filho, Carlos na casa de Benfica, onde, entretanto, se tinha instalado, Pedro suicida- -se Afonso decide fechar a casa de Bertica, mudando-se com oseu neto,Car- ‘es, para a Quinta de Santa Olivia. A infancia de Carlos é passada em Santa Olévia, revebendo uma educagso Sberal, com um professor inglés, Mr Brown, que dé primazia ao exerciciofisico ‘es regrasduras que Afonso impde ao neto. € neste ambiente de provincla que os Maias conwvivem com os Silveiras: Teresinha, a primeira namorada de Carlos; ‘= sua mae, O. Eugéria; a sua tia, D. Ana € 0 seu iemo Eusebiozinho, © oposto é Carlos, menino muito fragil,timido, medroso # estudioso. E sobretudo um capitulo que evidencia o contraste entre as educagdes tradicional (Eusebiozi- sho) e a inglésa (Carlos), Vilaga dé noticias de Maria Monforte e de sua filha 2 | afonso e, segundo ele, a pequena morrera em Londres. Vilaga morre € 0 seu | Stho substitui-o coma procurador da familia, Carlos faz 0 examede admisso € * entra na Universidade em Coimbra. Colo Resume Egade Quaiebs, Oe Malas Capitulo 1V Carlos despertou para a sua vocacdo para Medicina ainda em crianga, @ uando ‘escobriv no std, entre amas de vehos fabio, um role men-£ chado © antiquado de estampas anctémicas’, Pare que os seus estudos fos- = ‘sem mais tranquilos, Afonso ofereceu ao neto uma casa em Calas, onde Carlos { leva um tipo de vida boémia, sempre rodeado de amigos com deiasfilosoficas © avangadas e defensores de uma idedlogia liberal, Deste grupo de amigns des- tace-se Jotio da Ega, que eatudava Direito © era sobrinho de André da Ega, amigo de infancia de Afonso, Terminado o curse, Carlos parte para uma viagem ‘de um ano pela Europa. Ao fim desse tempo, Afonso espera-o no Ramalhete, ‘onde s rio instalar fim de grande analepse. Carlos tenciona montar um con sultstio © um laboratério em Lisboa, vontades que depressa satisfaz com a ajuda doavéro laboratério é montada numvelho armazém © oconeultério, le- zgantemente decorado, num primeico andar em pleno Rossin. Carlos recebe ‘com alegria avisita do seu amigo Ega, que lhe anuncia a inten¢do de publicaro livre que andeva aescrever haviajé alguns anos~ Memérias de um Atomo, Capitulo V ste capitulo iniciase com um sero no Ramalhete, com a presenga de varios amigos: D, Dioga o general Sequeira, Cruges, Eusdbio Silvera, o Conde Steinbroken e Taveira, que fala dos Gouvarinhos, enquanto 0 Marqués refere “essa colsa do Egacoma mulher do Cohen’. A atividade no consultério de Cavlos jé comegara a ter elguma popular ‘dade devido ao seu sucesso como caso da Marcela (a mulher do padeiro que estivera és portas da morte). Carlos finalmente encontra Ega eé desvendadoo misterfo do seu sibito desaparecimento: estava apaixonado por Raquel Cohen, {quo ora infeizmente, casada, Durante uma conversa entre Carlos e Ega, este propde-he conhecer a familia Gouvarinho. Carlos aceita. Apis tum encontro ‘com estes arrigos de Ega, na Opera de S. Carlos, Carlos pressente interesse dda condessa. Capitulo VI ga irstale-se na Vila Balzac, casa que este comprara e onde Carlos é muito bem recebido, com um pajem a porta. O chalet decorado de forma original @ ‘exética 60 reflexo do temperamento do proprietirio, Carlos fala sobre a Gouva- rinho e do seu siibito desinteresse pela senhora apés a grande atragao inicial- ‘mente sentida, Esta attude de Carlos para com as mulheres era frequente e 08 dois amigos conversam sobre 0 assunto, afirmando Ega que ele era “simploa- ‘mente [.Jum devasso; ehdis de vira acabar |] numa tragédia infernal”. Quando ssaem para Jantar, cruzan-se com Cratt, amigo de Ega, e que Ega apresenta a Caries. Combinam tempos. Ega conse cae Dimaso © Cohe tio de homenages Escatemse varios senda iteraria ent casa tamentando- fetando-he dos se sabia da histéria de qeemorrera pouce smecec sonhs com ado no peristilo dé amigos para ojant sao e musta escur Capitulo VII Depots do air maser. Cars ter senetanca 6° © pars todo o lado e eum baile de mi besten. ve. pela s ets Central no noarete Mes wees Geran 2 culpa de que o fin smpsirte pois tor Caries da Mai Caos. que abe moe ares e fein Sade por Carlos, j= reer 2 gem de break che 3 cares. que tome 5 ae mediate com: Aspe de romance ‘Sxtos Combinam jantar no dia seguinte no Hotel Central. Apés alguns contra- sempos Egaconsegue marcar ojantar no Hotel Central com Carlos, Craft, Alen- ‘=x: Dimazo ¢ Cohen (banqueire e maridoda sua amante), a quom Ega fez queo- ‘So de homenagear, com um dos pratos: “Petits pois @ la Cohen’. Ao jantar, ‘Secutem-se varios temas, como literatura, finances, histori e politica. A con- ‘sends lterdra entre Ega e Alencar é a mais representativa da superficalidade © ‘ecensequéncia das conversas, O jantar acaba e Alencar acompanha Carlos a esa. lamentando-se o posta da vida, do abandono por parte dos amigos ‘Setendo-the dos seus progenitores, de quem fora intime. Carlos recorda 0 que ‘sobia da hist6ria dos seus pais: a mae fugira com um estrangeirolevanco. ima, <== morrerapouco depois, © 0 pa suisidara-se. Carlos, om casa, antosde ador- ‘=ecer,sonha com a mulher deslumbrante, uma deusa, com quem se tinha crs- ‘zat no peristilo do Hotel Central, enquanto aguardava, com Craft, os restantes ‘=ig0s para o jatar — “uma senhora alta, foura, com um meio véu muito aper- 220 e muito escuro que realgava.o esplendor da sua camagéo ebsimed’. Capitulo VII Depois do amogo no Ramalhete, Afonso e Craft jogam uma partida de ssedrez.Carlos tem poucos doentes e vai trabalhando no seu fivro. Dimaso, & ‘semeinanga de Craft, tomara-se intimo da casa dos Maias, seguindo Carlos sera todo 0 lado e procurando imiti-lo, Ega anda ocupado com a organizagao \é um balle de mascaras na casa dos Cohen. Caros, na companhia de Stein- ‘broken, vé, pela segunda vez, Maria Eduarda, a ‘ceusa” que vislumbrara no ‘Hotel Central, no Aterro, acompanhada do mario, Na esperancade encontrar ‘sovamante Maria Eduarda, por quem ficara fascinedo, Carlos desioca-se virias wees, durante a semana, ao Aterro. A condessa de Gouverinho, com a des- cpa de que o filho se encontrava doente, procura Carlos ro consultério, evi- Genciando uma audécia picante. Ao serdo, no Ramalhete, joga-se domino, ewve-20 misica e converse-se. Carlos convida Cruges a ir a Sintra no dia ‘sequinte, pois tomara conhecimento, por intermédio de Taveira, de que Maria ‘Esuarda al se encontrava na companhia de seu marido @ de Damaso, Capitulo VIII Carlos da Mala eo seuamigo, o maestro Cruges, ao vsitar Sintra. A idela & Carlos, que obriga Cruges a ircom ele. Crugesjé nfo visitava Sintra desde os ‘nove anos e facilmente se deixa convencer. Esta viagem tem 0 propésito, ocul- += tado por Carlos, de conseguir um encontro fortuito com Maria Eduaréa, a + Sc Castro Gomes, que ele julgava estar em Sintra. Apds algumas horas de vi = gem de break, chegam a Sintra instalam-se no Hotel Nunes, por sugestin de © Carlos, que teme que, ao instalarem-se no hotel da Lawrence, se cruzem + 2 imediato com os Castro Gomes, perdendo 0 seu encontro aquele efeito de ul Colecio Resumos Ba de Quinte, Os Malas casualidade que ele the desejava atribuir Alencontram o velhoamigo Eusebio- inho, acompanhado por Palma, um seu amigo, e duas senhoras esparholas. Este episédio revela-se de grande comicidade, pelo comportamonto da espa- © ‘nhola Concha que no edmite que Eusebiozinho diga que ela e Lola eram ape- nas acompanhantes de Palma, Carlos e Cruges partem depois num pequeno * passelo pedestre para visitar Seteals, Pelo caminho, encontram outro amigo, ‘Alencar, 0 poeta, vindo justamonte de Seteais mas que faz questo de oe ‘acompaniar rovamente. Ai chegados, Cruges, que no conhecia o local, fica desapontado quando verifica 0 estado de abandono em que se encontrava a sonstrugio, Depressa Alencar o faz pensar doutro modo, ao sublinhar os por menores do local ea beleza da vista. De velta & vila, paseam pola Lawrence & visitam, por breves instantes,o Paco eo seuPalacio, Carlos, jéinformado sobre ‘destino dos Castro Gomes, que haviam delxado Sintra na véspera, decide vol- tar para Usboa, Jantam na Lawrence, onde Alencar os esperava,e, depois do Jantar, instalam-2e no break do volta a Lisboa, dando bolele a Alencar, que tam- bém estava de partida, € entzo que Cruges se lembradas queliadasque a mae the tinha pedido e de que ele se esquecera (‘Esqueceram-me as queljadas!’). Capitulo IX ‘No Ramalhete, no final da semaria Carlos recebe uma carta a convidé-lo para jantar no sébado seguinte em casa dos Gouvarinhos; entratanto, choga ga, preocupado em arranjar uma espada adequada ao fato que leva nessa noite ao baile de mascaras dos Cohen. Damaso também aparece, pedindo a Carles para ver um doente daquela “gente brasileira’ (os Castro Gomes): a ‘menina Rosa. Os pais tinham partido nessa manha para Queluz e a pequenina ficara com a governanta. Ao chegar ao Hotel, Carlos verifica que no eranada ‘de grave eprescreve uma receita que entrega a Miss Sara,a governanta, ‘As dez horas da noite, quando Carlos se preparava para o baile de masca- ‘as, aparece Ega (mascarado de Mafitéfeles'), dizondo que Cohen oexpulsara por ter descoberto 0 caso amorcso entre ele e a mulher. Ega quer desafiar Cohen para um duelo, mas Carlos e Craft dissuadem-no, No dia seguinte,nada scontece, exceto a vindada crladade Raquel Cohen, anunciando que elatinha sido espancada pelo marido e que partiam para Inglaterra, deiande Portugal ga dorme nessa ncite no Ramalhete edecide deixar Lisboa. Carlos vai arogressivamente ficando intimo dos condes de Gouvarinha, Participando num cna oferecido pela condessa e queretine algumas das mais notveis senhoras da cidade. Carlos e acondessa “insensivelmenta, resistive! ‘mente" encontram-se nos bragos um do outra, beljando-se. " Mefsifele—peronapum comideaia a pesonifeagto do dat na nde kt de aus, consagrode ‘dros hori cou de Johann Welfgana von Coctheonrcr sled tt et cn Ha ong Ptgu bn Ceb de Lae 3389 2- m Mirhoto, exceto C fess — facto muito Euarda com 0 oth deters 2 mutter 5 fete © Giscute cor Seep so encontre Carton toma co Ge Cwers na hua: mas nds encer Se" Castro Gomes, ese fori. ae ‘Passam-se tris semanas, Carlos comegaa ficar cansado dot seus encon ‘Ses Setivos com a Gouvarinho e pensa libertarse dela, O seu pensamento ‘=eeees voltado para Maria Eduarda. Combina com Damaso, no Ramalhete, eer 0s Castro Gomes'a ver as colegSes de Craft, nos Olivaie, mas tal projeto sete se concretiza, pois o St Castro Gomes partira para o Brasil em negécios. ‘Chega o dia das corridas de cavalos, 0 acontecimento social que junta a ‘ete Ssboeta, Carlos encontra a Gouvarinho, que the prope um encontro em ‘Sevtarém, uma vez quo elaia de viager para Porto, onde © seu pai ao encon- ‘ee coente. Num clima de apatia, fazem-se apostas. Todos apostam em Semoto, exceto Carlos, que eposta em Vladimir e venes, ganhando doze ‘fs facto muito comertado. Carlos, que desesperadamente procura Maria Sse2r<3 com o alhar, encontra Damaso, que o informa de que Castro Gomes Seara a mulher sozinha por uns trés meses. Carlos fica secretamente con- ‘sete © discute com a Gouvarinho, acabando, no entanto, por aceder ao seu ‘sesej0 do encontro em Santarém, Crios toma conhecimento de que Maria Eduarda alugara uma casa amae ‘Se Crures, na Rua de, Francisco, ¢, como pretexto de vsitar amigo, vaiaté ‘"&mesndo oencontra, Deregresso ao Ramalhete, Carlos recebe umacarte da ‘Se Castro Gomes, pedindo-Ihe que a viste no dia seguinte, porter ‘uma pes- ‘2 de familia, que se actiova incomodada”. Carlos anima-se. Carlos vai visitar a St* Castro Gomes © descobre 0 seu nome: Maria Ssvarda, Era a governanta, Miss Gara, quem estava doente -tinha uma bron ‘eet. Carlos conversa com Maria Eduarda, prescreve a receita @ dathe os ‘seados que deve ter com Miss Sara, acrescentando que terd de observidla Seriamente, Nessa noite, Carlo ira ter com a Gouvarinho para o combinado encontro ‘= Santarém, algo que jé ndo the agradava, Por sorte, © Gouvarinho decidiu & ‘See hora ir com a mulher para o Porta, vendo-se, assim, Carlos, live dessa ‘tacdo, Carlos vé-se igualmente live de Damaso que, devido & morte de um ‘Se parte para Penafiel. ‘Nas semanas seguintes, em virtude da dosnga de Miss Sara, Carlos vai'se ‘Srilarizando com Maria Eduarda, falando ambos das suas vidas. Damaso + soe dePenafielevaivisitar Maria Eduarca, Ao chegar, v Carlos com ‘Niniche” cadela de Maria Eduarda) a0 colo, a qual Ihe rosna e ladra, 0 que deixa | Biimaso zangado © choio do ciimes do amigo. Dimaco pede explicagses a + Cu por tanta itimidade, Os Cohenreressam de Ingltara aca para © shegar de Celorico. ‘Colegio Resumes Bea de Quel, Os Malas Capitulo XII ga regressa de Celorico einstala-seno Ramahete. Informa Carlos de que se encontrara com a Gouvarinhoe de que o corde os convidara para jantar na pro- ima segunda-iera. Ao jantar, a Gouvarinho nie eaconde de Carlos que tem ‘conhecimento da sua proximidace com Maria Eduarda, O cfma suaviza-se ddurarte o jantay devido aos ditos irreverentesde Ega. Apretexto de um mal-estar ‘de Charlie fhe dos Gouvarinnos),a condessa pede a Carlos que a acompanhe +208 aposentosinteriores e beja-o, numa tentativade reconeiliagio. Na terga-eira, depois de um encontro escaldante com a Gowarinho na ‘casa da “tit, Carlos chega atrasado & casa de Maria Eduarda, A meio da con- versa, Domingos, 0 eriado, anuncia Damaso, mas Maria Eduarda recuse-se @ recebé-1o~o que o deixafurioso, Maria Eduerda fala aCarlos sobre uma poss vel mudanga de casa e ele pensa logo na casa de Craft, decidindo comprivta Carlos deixa escapar que a “adora’ e, depois de uma troca de olhares, bejam 60. Na quarta-feira, Carlos concluiio negécioda casa com Craft. Maria Eduarda fica um pouco renitente com a préssa de tude, mes acaba por concordat, “€ tudo ficou harmonizacio num grande bel’. Ega mostra-se magoado pelos segredos de Carlos, mas este acaba por lhe cantar que se apaixonou e se envolveu com Maria Eduarda, Ega percebe que ‘lo ae trata de mais ume paixdo passageira, mas sim de um ‘grande amor bsorvente, eterno, e para bem ou para mal tornendo-se dat por dante, e para ‘sempre, 0 seu repariveldestino" Capitule xm EqninformaCarlos deque Damaso anda edifamé-loateea Maria Eduarda, Carlos, furioso, ao encontré-lo na rua, ameaga-o. Iniciam-se os preparativos: para a mudanga de Maria Eduarda para os Olivais, No sabado, Maria Eduarda visita a sua nova casa nos Olivais. Depois da visita ¢ do almogo, Carlos ¢ Maria Eduarda fazem amor No domingo é 0 aniversario de Afonso da Mi ‘todas os amigos dacasa esto presentes. Descobre-se que Damaso andava a namorar a Cohen. A Gou- varinho aparece, querendo falar com Carlos, ¢ acebam por discutir sobre a sua auséneia, £0 fim do romance amoroso, Capitulo XIV Afonso parte para Santa Olivia ¢ Carlos fica sozinho no Ramalhete, pois Ega Parte para Sintra (e, curiosamente, os Cohen também), Maria Eduarda instala-se ‘nos Olvaise Carlos passa a frequentar a casa todos os dias. O casalpretende fugir para Italia @ la casar, mas Carlos pansa no desgosto que dard ao avd. As idas de Carlos aos Olivais sao mais frequentes, acabando por alugar umacasa Perto, enquanto no esta com Maria na “Tocé” (nome dado a casa dos Olivais), 26 CB ape davon ‘Chega setembro, Craft,regressado de Santa Olivia para o Hotel Central diz ‘=Ccarlos que Ihe pareceu estar o ave desgostoso por ele nao ter aparecido por ‘© Carlos decide ir visitar Afonso, mas antes leva Maria a conhecer o Rama- ‘pete Esta refere que, as vezes, Carlos Ihe faz lembrar @ sua mee conta-the a ‘ses histéria~ a mae era uma senhora da itha da Madeira que casara com um -sestriaco e de quem tlvera ume filha “que morreu em pequena’, Uma semana depois, Carlos regressa de Santa Olévia e fala com Ega, que sctarade Sintra. Nessa noite, Castro Gomes aparece no Ramalhete, com uma ‘sxts an6nima que the tinham mandado para o Brasil, dizendo que a sua mulher ‘sone um amante, Carlos da Mala, Caros fica estupefacto e acaba por identif- se 8 letra de Dimaco, Castro Gomes contathe que no ¢ marido de Maria ‘Ssuarda, nem pai de Rosa, e que apenas vivia com ela. Diz-he também que se se embora de Portugal e que Maria Eduarda se chama Madame Mac Gren, ‘=sri0so pela mentira de Maria, Carlos decide r confronté-la. Ao entrarem casa ‘Ss. fica a saber por Molani a eriada, quo Castro Gomes jt Id tina estado. ‘Meria Eduarda, a chorar, pede perdio a Carlos por nao the ter contado a ver- ede mas tinha tide medo de que ele a abandonasse. Conta-the, entdo, a ver- ‘eseira historia da sua vida e,j& reconcilados, Carlos pede Maria Eduarda em cssamento. ‘aria Eduarda conta toda asua vida detalhadamente a Carlos. Dias depois, ‘Sortos relata tudo 0 que se passara a Ega. que Ihe diz que seria melhor esperar =:2.0av6 morresse para se casa, pcis Afonsoestava veo edébile nfo aguen- es odesmneto, Catlos e Maria Eduarda comegam a dar jantares nos Olivais etodos os ami- ‘ge de Carlos se famiiarizam com ola, Mais tarde, Carles, através ce Ega, toma ‘cenhecimento de umartigo de A Comete do Diabo, queo difama,denunciando ‘pasado de Maria Eduarda ¢ a sua relago com ela. Carlos, furioso, decide ‘mazar 0 autor do artigo; descobre depois, com a ajuda de Ega, que o editor do sg0, Palma, 0 tinha feito a pedide de Damaso ede Eusebiozinho, Palma ‘e-trega-the as provas. Carlos manda os seus padtinhos, Ega e Cruges, pedir a onra ou a vida a Damaso, Este acaba por escrever uma carta de desculpas a ‘Soros ditada por Ega, na qual afirmava ser um bebedo incorrigivel.Satisteto, ‘Savios dovelve a carta a Fga # agradecethe. Ega, a0 ver Damaso com Raquel, _ *cide publicar a carta no jomal e assim humilhar Démaso, 0 qual, envergo- | ado, parte paa Ilia, Afonso regressa de Santa Otévia, Carlos abandona @ ~ 25a que aligara perto dos OlWvals @ Maria Eduarda volta para 0 apartamento Gs mie de Cruges, na Rua de S. Francisco, deixando a Toes’. E também neste: © e2pitulo que Carlos vé ao longe 0 Sr. Guimaraes, tio de Damaso. CColecaoResunas Ba deQuelris, OrMaias Capitulo XVI Carlos ¢ Ega vio 20 Sarau do Teetro da Trindade ouvir Cruges e Alencar,que nessa noite atuam, A, owvern também odiscurso de Rufino sobre a caridade @ ‘a fama real (ausorto do sarau) e Ega conhece 0 Sr. Guimaries, 0 tio de @ Dimaso que vivia em Parise trabalhava num jornal. O motivo da conversa é averiguar as razées da carta que Démaso escrevera, coagido, segundo ele, por * ga, Tudo @ esclarecido e os dois ficam amigos, Cruges toca, mas é um fiasco, pois ninguém admirao seu talento, Carlos ainda assisted récita de Alencarque declama o poema “Democracia” ¢ encanta a sala, Mais tarde. quando Ega Fegressava ao Ramalhete, Guimaraes aparece dizendo-the que tem um cofre da ‘mie de Carios para entregar a familia, No meio da conversa, Egadescobre que Carlos tem uma itm e Guimaries diz t#-los visto aos trés numa carruagem: ga, Carlose a irmé, Maria Eduarda. Guimaraes conta entdo a Ega.o passada de ‘Maria Monforte, inclusive a mentira que ela dissera a Maria Eduarda sobre 0 ‘seu pai, revelando que Maria é filha de Pedro da Maia, Fala também ca fuga da ‘Monforte com Tancredo, da filha que eles tiveram e morrera em Londres e, depois, da educagio de Maria Eduarda no comento. Guimaries entrega 0 ccofre a Ega, que, chocado coma verdade, decide pedir ajuda a Vilaga para con- tartudo a Carlos, Capitulo XVII ga, som coragom para revelar s verdade a Carlos, procura Vilaga.e conta- -lhe tudo. Juntos, abrem o cofre da Monforte e encentram uma carta para Maria Eduarda na qual revela a verdade: ela 6 filha de Pedro da Mala. No dia ‘seguinte, Vilaga e Egacontrontam Carloscoma situagao, Aflto, Carlos procura ‘0.4v6 econta-the tudo, na esperanga de que este Ihe passa dementia hist tia, Afonso acaba por confirmar e, em segredo, diz a Ega que sabe que Carlos tem um caso com Maria Eduarda. Apesar de jé saber a verdade, nessa noite, Carios val ter com Maria Eduarda; primeio pensara emdizerIhe tudoe depois, fugir para Santa Olivia, mas, incapaz de resistr, dorme mais uma vee comela, Continuava a amé-la e o facto de serem itmaos nio mudava o que ele senti ‘No entanto, progressivamente, o armor di lugar ao repidlo, ao ‘noj fisico". ‘Afonso da Maia tem consciéncia de que Carlos continua a encontrar-se ‘com Maria Eduardo fica desolado. Ega, furioso com 0 comportamento de Ca os, confronta-o e ele decide, entao, partirna dia seguinte para Santa Olavia Na ‘manha seguinte, avisado por Baptista (o seu criado), Carlos encontra 0 avd ‘desmaiado no jardim. Efetivamente estava morto, Destracado e culpando-se a ‘simesmo da morte do avé, Carlos pede aga que trate do funerale escrevaum bithete a informer Maria Eduarda do facto, Vilaca toma as providancias para 0 funeral. Os amigos da familia retinem-se no vel6rioe recordam Afonso. Apés 0 enterro, Carlos parte para Santa Olévia, pedindo a Ega que fale com Maria tends elhe gecascada via pode muda, semere a levav “Capitulo XV Passam-se ‘#Eganurra lor smo e meio dey demmeses da & spetamento,¢ Dez anos d Sees Otxvia.C es Eeeetante, ap Miwrcar cuidav sams opera cox meres: Craft m saseese com gmesmo ¢ St ete Egae Ca spe cesar cor te de sustent fea consciér seem Chartie( acho éo romance Etuarda e the conte tudo, aconselhando-a a partir para Paris. Maria Eduarda, evastada, Viaja no dia seguinte para Paris, para sempre ~7..] Maria Eduorda, onde, muda, toda nagra na claridade, & portinhola daquele vagdio que para sempre a levava’. Passamtse semanas. Sai na Gazeta llustrada a noticia da partida de Carlos, ‘=a numa longa viagem pelo mundo: Londres, Nova forque, China, Japao. Um 20 melo depois, Egaregressa trazendo consigo a idea de escrever um vio, Jemadas da Asia, @ contande que Carlos fara em Paris, onde alugara um -sartamento, pois ndo desejava regressar a Portugal. ez anos depois, Carlos regressa a Lisboa, mas ndo sem antes passar por ‘Santa Oldvia, Carlos almoga ne Hotal Breganca com Ega, que theconta as novi eedos:a mile dele morrara @ a Gowvarinho herdara uma fortuna de uma ti Entretanto, aparecem Alencar e Cruges, que falam dos anos que passaram: ‘Sencar cuidavaagora da sobrinha, pois a suairma morrera,e Cruges escrevera sna opera comica, a “Hor de Seviha’, ue ihe valera o marecido reconhect- ‘mente; Craft mudara-ce para Londres; omarqués de Souzela morrera:D. Ciogo ‘esara‘se com a cazinheira: 0 general Sequeira fora morto; Taveira continuava ‘mesmo e Steinbroken era agora Ministro em Atenas. Apés combinarem um _sotar,Ega e Carlos vio vsitaro Ramalhete. Pelo caminho, encortram Damaso, ‘qe cosaracoma filha mais nova de um comerciante flido.e que, para além de ‘de sustentar toda a familia, sofia a traigio da mulher, Aos poucos, Carlos Sema conssiéncia do novo Portugal, ainda mais decadente que ha dez anos. ‘veem Charlie (ho da condessa de Gouvarinho),ja um homem, e encontram ledbio, ue fora obrigad a casar com uma avantesma’, pois paidela apa- shara-os anamorar. ‘No Ramalhete, a maior parte das decoragbes (tapetes, falancas,estétuas) ‘ham sido ou estavam a ser despachadas para Paris, onde Carlos planeava er gara sempre, Carlos elembra Maria Eduarda @ conta a Eg que reeebera son carta dela. Relatava-he que iacasar com um tal de Mr. de Trelain decistio *emada aofim de muitos anos, e que tinha comprado uma quinta em Orles, “2s Rosiéres". Carlos encara este casamento de Maria Eduarda como um final, sens conclusio da aua histria, Paseam pelo escritério de Aforso, © que hos ‘ear tistes recerdagies,e constatam que nio vale a pena viver. Por mais que + se tte lutar para mudar a vida, no vale a pena o esforgo, porque tudo so i ‘Gesilusdes e poeira: “Nada desejar e nada recear... Ndo se abandonar a uma * ssperanga~nem aum desapentamenta.”Quande saem doRamalheto,consta- "am que estavam atrasados para jantar¢, ao verem o “americanc’ (meio de ~ ®ansporte), correm atras dele... a & As personagens 8.1. Caracterizagéo das personagens Como afirma Aguiar e Siva, na Teoria da Literatura, ‘as personagens de it a a | pereonagene secundérias de mportaneia funcional muito varévelO protago- ¢ rista.J 60 ndcleo ou o ponto-cardeal por onde passam os vetoresque cont £ {quram funcionalmente os outras personagens"* F com efeita, Carlos da Maia ocupa um lugar de destaque no romance. No ‘entanto, na diegese romanesca de Os Maias, encontramas, para além dese herbi ou protagonista, outras personagens, com maior ou menor relevancia, © que'seingerem em dois universosdistintamente tratados palonarradoro unl~ ‘verso ferrining @ 0 universo masculina. Maria Eduarda Runa Maria Eduarda Runa, “Yada morena, mimosa e um pouco adoentada” (Cap.1,p.16)ftha do Conde de Runa, casacom Aforso, um jovem revolucioné tio liberal, cujas ideias progressistas a atormentan, levande o cxeal 20 exfio fom Inglaterra. A vida nesse pals, ao qual nurea se adaptou, tomoura ainda mais melanciilica e doente, encontrando refigio numa devogdo reigiosa exe ‘cerbada. Assim, nfo confiando numa educaglo britanica, mesmo sendo cato- ica faz o Padre Vasques de Lisboa para educaro"seu"Pedrinho,o nico iho docasal. ‘Aleitura do excerto assinalado ajuda a completar a caracterizagao: 4.1 Foi entdo que conheceu D. Maria Eduarda Runa, [| para ir visitor a sepultura do mama.” (Cap. |. pp. 1623). Maria Monforte Matia Monforte destaca-se no universe ferinino do romance, tanto pela ava boloza avassaladora como pela ireveréncia as normas ciscriminatérias da sociedade citocentista: «Mtr Manolo Agu Thad itera ag Clb, Lata medi 98 6 “6 + @ herdelra de ur “negreiro’s +6 protagonist ¢ Maiag mais tard tarde, viagem 1. + 6 protagonista 6 ‘contam com um ‘rempecomum ‘qua salvava de « rejitaa fortuna + foge levanco a familiar; + jéem Paris, é p quanto se deix ‘pola sua sedu (Cap. XV, p.524) + insurg-se clare bens dos Nai Aleitura dos e Bxcerto 1-de [J uma senho dela." (Caps. Excerto 2-de Hla responder ‘(Cap.tll, pp. 83 Bxcerto 3 - ds forte!” até 1 avo."(Cap, VI. Excerto 4-de tigela de sop Maria Eduard Maria Eduard: 5 como um sersup 4 lojra, elegant, re | poder do soduca + dizEga,que eae’ + sem, se sentisse 8 Asperttingsit ¢ herdeira de uma fortuna ganha a custa do tréfico de escravos —o pai era “nogreire: 6 protagonista de averturas amorosas: casamento secreto com Pedro da ‘Mala; mais tarde, fuga com o italiano Tancredo; e jé em Paris, muito mais tarde, viagem ‘J com uma sicla paraBaden.” (Cap. XV, p.526), 6 protagonista de soirées e tertiiaslitardrias que ela propria organiza e que Contam com uma presenca maioitaramerte mascutinay rompo com um easaments nebre que Ihe permite ser aceite na sociedade 6 quea salvava de uma situagéo social sem tulo; ‘ejeltaa fortuna do marido, em busca do armor; foge levando a filha, abandonando o fiho, ¢ desfazendo, assim, a estrutura familiar; i em Paris, & proprietéria de urra casa de jogo que entra em decadéncia, ‘quando ce dei subjugar por um tal Mz de Trevernnes, umn "homem perigoso ‘pela sua sedugio pesseal e por uma desoladora falta de honra e de senso.” (Cap. XV.p. 524); insurge-se claramente contra o poder masculino, ao rejeltaro dinheiro e os bens dos Maias, mesmo quando # miséria aatinge. Aleitura dos excertos assinalados ajuda a completara ceracterizagio: Excerto 1~de “Numa tarde, |. vira parar |. uma caleche azul onde vinha le uma senhora lira,” até ‘J € evo a Maria, que me ndio posso seporar dela."(Caps. Hl, pp. 24-48): Excerto ?~ de“ Vossa Exceléncia sabe que apareceu a Monforte?” até ..1 Ela respondera que era o retrato da filha que Ihe morrera em Londres.” (Cap. Ill 9p. 83-89), Excerto 3 ~ de "| ele evitora pronunciar sequer o nome de Maria Mon- forte!” até ‘L.| O papé, a mama, os seres amados, estavam ali todos - no v6." (Cap. Vip. 190-182}; Excerto4—de"Nasceraem Viena." até "J depois de rapada sua magra tigela desopas, ¢ ainda com forme .1"(Cap. XV. pp. 522-530). Maria Eduarda é sempre apresentada 20 leitor como uma ‘deusa transviada’, 5 como um ser superior que se destaca no meio das mulheres lisboetas, Ela é alta, | lojra, olegante, roquintada, envolta numa aura de mistério,o que aumentao seu poder de sedugdo e a sua sensualidade. Era, pois, normal e inevitavel, tal como diz ga, que ela e Carlos, também ele diferente dolisboeta comum, se conheces- 5 sem, se sentissem atraidos um pelo outro e se amassem. Surge em Lisboa (Colegio Resumes Egade Qunebs, Os Melos {fazendo-se passar pela mulher do brasileiro Castro Gomes, com quem vivia ha Afonso da Mai ‘rs anos, depois de ter enviuvado de Mac Gren, pai de sua filha Rosa. Quando conhecee se torna intima de Carlos, revela-se uma mulher sensata,equiibrada, 3 Afonso 6a pe doce e com um forte sentido de dignidade, particularmente quando CastroGomes | para ele que todo: aabandona. 0 seuespiito culto~conhecia os grandes nomesda literatura eda © Gam efeitoves ‘musica ¢o seu tempo ~ fascinava Carlos e os seus amigos, tanto mais que se que atirou “fogue ‘mostrava solidéria com os mais desfavorecidos, numa linha ideologica préxima Favaloctonsire gu do socialismo— “Carlos provave-the rindo que éla era socialista.” (Cap. XI, p.380). ‘Afonso consti Maria Eduarda encamna a heroina romantica, perseguida pela vida e pelo (Cartas ects a nr destino, mas que acaba por encontrar, ainda que rmomentaneamente, a azo avédesmintaas da sua vida, na paidio eno amor la 4 também vitima do seu passado. das cir- Ahora ain ‘cunstincias em que cresceu e viveu (bem ao jeito naturalista), mas o facto de mots aca tac ser a prépria personagem a narrar 0 seu percurso, omitindo, logicamente, Faceatenrao' 8) aquilo que nio sabe e referindo o seu pasado, apds 0 leltor ja ter conhect- ‘com varias geragé ‘onto do cou proconta, afasta Marla Eduarda do alguns dos preceitas estrutu- Colas (Coimbra) e raisdo Naturalism, Necentaris As gédia do filha, na ‘Aleitura dos excertos assinalados ajuda a completara caracterizagio: familia. Excerto 1-de ‘Um espléndido preto, ja grisalho [.1" (Cap. VI, p. 164)~até T-] Seema avorde Craft murmurou:~ Trés chic." (Cap VI p. 164); ise cain Excerto 2~de Mas Catlos nao escutava, nem sorria jé."(Cap. Vi p21) ~ (Cap.t.p.18). até ‘1. aparecia o tom do seu cabelo castanho, quase iouro & luz; cadel- rnhatroteva ao lado, com as oes deta” (Cap. ip. 201% a Exeerto 3-de"Nascora em Viena{«f" (Cap. XV, p.622)~até T-Jomeu corpo fisie permaneceu sempre frio, frio camo um marmore [..."(Cap. XV, p. 530), elo " Ciaieasamaaaiine a Universo msscalins J ~ate 1-1 De n ‘Caetano da Maia no corredor.”( Excerto 5 - ¢ Personagem que se afirma no romance como grande opositor do (Cap.xvitp.6 Liberalismo, A sua intolerincia relativamente as ideias revoluciondvias leva der acabeca c Caetano da Maia a expulsar o filho de casa, desterrando-o para Santa Olavia, no Douro, por este se envolver com os simpatizantes da Revoluco Francesa e Pedro da Maia partilhar dos ideais jacobinistas. Era-ihe intoleravel ter um filho jacobino, talera ‘seu dio pelo Jacobino, “Ja quem atribula todos os males, os da pétria eos Aconstrucdo ‘seus, desde a perda das colénias até ds crises da sua gota.” (Cap. |, p. 15). ‘suas caracteristic: Aleitura do excerto assinalado ajuda a completar a caracterizagao: 5 gdo sdo determin De 1. Caetano da Maia era umn portugues antigo # flel que se benzia ao 4} educagao eatslic nome de Robespierre |." até “| O pai bejjou-o, todo em lagrimas |... vendo ali 4 depressivo e mela a evidente, a gloriosa intercessdio de Nossa Senhora da Soledadel" (Cap. |, 3 do ‘sopro romant pp. 15-16) 5 fazer do que dei ‘Afonso é a personagem que funciona como 0 esteio da familia Mais © © paraele que todos se veltamnos momentos de crise, ‘Com efeito, este simbolo do Fortugal liberal da década de 20 (século XX), que atirou “foquetes de Iégrimas & Constituicéo” (Cap. |p. 18), fol um joven revoluciondrio que sofreu o exilio pela sua audaciaideotdgica. ‘Afonso constitul 0 ponto de equiliio dos Malas. € a ee que Pedro entrega Carlos apés a fugade Maria, é cle que Carlos interroga ne esporanga de queo avé desminta as revelagSes de Guimaraes (Cap. XVII p. 658). ‘Afonso é sindaa encarnagao do bom senso, da experiéncia, dos valores da inagéo e da raga, éalguém que defende o patriménio portuguls face & desca- racterizagdo ¢ a invasio das modas estrangeiras. Convive harmoniosemente ‘comvarias geragdes e viriostipos de formacdo. de que os serdes nos Pacos de elas (Coimbra) ¢ no Ramalhete sdo exemplo. No entanto, Afonso é humanoe, embora tenha conseguidosobreviver a tra- _gédia do flo, ndo supera ado neto, morrendo também, com ele, 0 futuro da familia. Excetto 1=de “Afonso era um pouco boixo [1° (Cap. |.p. 14)~ até L.Je pen- ‘sava com prazer em ficor all para sempre naquela paz e naquela order." (Cap.|, p. 18). Excetto 2- de ‘No escritério de Afonso da Maia {.)"(Cap. , p. 119) ~até "L.] depois de ter devorado um prato de croquetes.” (Cap. , p. 128). Excerto 3 ~ de ~ H6 uma coisa extraordindria, avd!” (Cap. XVI, p- 658) — ate ‘{loasmagava ao fim da velhice com adesgragado neta." (Cap. XVII,p. 661). Excerto 4 de 1. Eapareceu Afonso da Moia, pilido|..1" (Cap. XVI p. 679) ~atéT.] De novo os seus passos, mais pesados, mais lentos, se sumiram ‘19 corredor."(Cap. XVI, 9.678). Excerto § — de "Defronte do Romalhete os candeciros ainda ardiam.” (Cap. XVI p. 683) -até “| Naquela tosca mesa de pedra onde detxara pen- ‘dor acabega cansede." (Cap. XVIl.p. 685). A construcdo da personagem de Pedro obedece ao canone naturalista: as ‘suas caracteristicas psicoldgicas, o meio social em que se move e asuaeduca- _§ go so determinantes na formagio da sua personalidade. Assim, com uma_ 4] educagio catblion tradicional, bem a0 modo portuguds, hordando 0 caricter = depressivo emelancélico de Maria Eduarda Runa, sua mae, e vivendo no meio 3 do ‘pro romdntico da Regeneragto" (Cap. Ip. 38), Pedro nada mais potia 4 fazer do que deixar-se arrastar por uma vida de boemia € dlssipacio, que Colegio Resumos ta de Ques, O» Maas cculmina numa paixio obsessiva fatal por Maria Monforte. € esta mulher que, defiritivamente, o precipita ro abismo da perdigdo. ‘Sublirhe-se, ainda, 0 facto de a caracterizagdo direta de Pedro e a omnis: = ciéneia do narrador em relagSo a esta personagem corroborarem asua conce- 5 co de feigdo naturalista, ‘ ‘Aleitura dos excertos assinalados ajuda a completar 2 caracterizagio: Excerto1-de “Odiando tuto o queera inglés [1"(Cap |p. 19) até 1-1 Que ppodia ela fazer” (Cap. p.20), Excerte 2 de “O Pedrinho no entanto estava quase um homer.” (Cap. |, ».21)~até'.1 alguma coisa de imortale superior Tera."(Cap. |, p.24)- Excerto 3~ de “Pedro e Maria, no entanto, numa felicidade de novela |-J” (Cap. p.35)- até “Todos 0: amigos de Pedro, naturalmente, « amavar.” (Cap.tl p.39): Excerto 4—de “Uma sombria tarde de dezembro{..)"(Cap.ll,p.47)—at 1 ‘Amanhé conversaramos mais.” (Cap... 58); Excerto 5~ de A madrugada clareave |.I" até 1.| ecom todos os criados ppara.a Quintade Santa Oliva.” (Cap. p- £5). Carlos da Maia ‘A personagem Carlos, devido a sua centralidade, ten direito a um trata- ‘mento privtegiado por parte donarrador. ‘Assim, oleitor val acompanhando 0 seu percurso, desde o seu periodo de formacéo em Santa Olivia, submetide a uma rigida educaeio britanica {modema ¢ laica), até ao desencantado passelo final, durante o qual a sus nica razao existancial parece ser ode se ter esquecidode encomendar para 0 jantar ‘um grande prato de paio com ervihas.” (Cap. XVII p.732)- Pelo caminho encontramoo em Coimbra levando uma vida de boéia ‘estudantil eliteriria, em Lisboa passando belos momentos de dco noseu con- sultorio, al fazendo planos para mudar a mentalidade da sociedade lisbosta quo frequenta e que o idolatra, \Vive de forma exacertada o intensa a sua paixdio por Maria Eduarda, inte ‘ressando-se por tudo e por nada ao mesmo tempo. Carlos € 0 dletante culto, por excelencia, que acaba por se deixar submergir pela modorra da sociedade Tisboota em que vive. desistindo, um a ur, de todos os seus projetos de vida, inclusive da sue paixdo, embora esta titima por razées que Carlos no conse- gue controlar ‘Como se justitica entio, dentro dos cfinones naturalistas, este falhanco de Carlos? A edueago que Carlos recebeu no deveria ter eriado um individuo forte, capaz de ultrapassar as adversidades da vida? ” Aresposta a esta c pressupostosnaturalis pais também deve ser Carios se move infuen No entanto, apis 2 sobreviver, pelo meno: ‘go briténica. Basta c mente concluitmos qu Dever-se-i ainda 1 simbolo da evolugao « Portugal parecia estar prosperidatd (tal com pals acaba por cairno| nigio quanto ao futur ‘8¢ pose afirmar, para ‘no so que ‘um ens E diffi! indicar © devido acentralidade trando-se a sua carac indireta e contrariand centanto,alletura dos s Excerto 1~ de “Co ‘mais homem!" (Ca Excerto 2-de “Ot até 1] evie-se po abertos,"(Cap. I Excerto 3 - de °C doengas de que a pp. 93-96); Excerto 4 ~ de “Er lero da Renascen: Excerto 5 ~ de “O regulasse a. soci pp. 133-134); Excerto 6~de "Co pp. 430-432); Excerto7—de ~E capitulo (Cap XVI Aresposta a esta questo ndo é dinica, uma vez que, e tendo em conta os Presoupoatos naturalstas, no podemos esquecer que a carga hereditaria dos pais também dave sar tida em conta: por outro lado, omeio decaderte em que Carlos se move infivenciou-o igualment No entanto, ands a revelacao do incesto e a morte do av, Carlos consegue sobreviver, pelo menos fisicaments, Porqué? Sem divida devido & sua educa ‘fo britanica. Basta compararmos a sua atitude com a de Pedro, para facil ‘mente concluirmos que s&o duas personagens que estao cistantes, Dever-se-4 ainda referir que 0 percurso existencial de Calos pode ser 0 simbolo da evolugdo da sociedade portuguesa apés a Regeneracao. Quando Portugal parecia estar a entrar numa época diferente, mareada por uma certa prosperidade (tal como Carlos foi a esperanga de renascimento dos Malas), 0 pais acabe por cairno indiferentismo, num retrocessomarcado por uma indef- ‘igao quanto ao futuro (constatagio de Carios e Ega no passeio fina). Dai que +0 posca afirmar, parafrascando José de Almeida Moura, que Os Malas mais ‘fo sio que ‘um ensaio alegérico sobre a decadénciada naga, E dificil incicar excertos paradigmaticos em relagao a Carlos da Maia, devido & centralidace e a quase omnipresenca da personagem na obra, encon- trando-se a sua caracterizagio disseminada ao longo do romance de forme indireta e contrariando, assim, 08 c&nones naturalists. Recomendamos, no entanto, aleitura dos seguintes excertos: Excerto 1-de “Carlos a0 lado muito sério |." até "Mas hd de ser muito ‘mais homemt” (Cap. Il, p.58); Excerto 2~de “0 bom Vilaga, no entanto, dando estalinhos aos dedos |..I" até Tale via-se passar, fugit obrilho dos seus olhos muito negros e muito aabertos."(Cap. Il, pp. 6670); Encerto 3 ~ de ‘Carlos ja formar-se em Medicina.” até ‘..| que inventam doencas de que a hunanidade papalva se presta logo a marrer” (Cap. IV, pp. 93-96) Excerto 4 ~de “Era decerto um formaso e magnifico moga |] belo caver leiro de Renascenca."até‘..1das paisagens da Holanda ..)"(Cap. NV p 102 Bscerto 5 ~ de “0 laboratério de Carlos |." até 1..| pesasse na politica regulasse 0 sociedade, fosse a forca pensante de Lisboa I" (Cap. V, pp. 133-134) Excerto 6 ~de “Carlos continuava calada.” até a0 final do capitulo (Cap. XI pp. 430-432), Excerto 7 de ~E curioso! $6 vivi dois anos nesta casa ..I"até 20 final do capitulo (Cep. XVI, pp. 731 a 733). CClegso Resurnos Ba de Quelris, Ox Maias Joao da Ega ga 6 aquele que nos momentos mais difcets e mais delorosos da vida de Carloso ampara.e ajuda, nao s6 emtermos psicolégicos mas também nao | lugio dos problemas praticos (carta de Damaso, partida de Masia Ecuarda de = Lisboa). Para além destes aspetas, slo também evidertes afinidades culturais centre as duas personagers. E ga 4 de igual modo, o simboto da pura irreveréncia, do sarcasm, da ionia, da critica pela critica, do prazer de chocar e de questionay, mostrando-se, mul- tas vezes, contraditério nas suas opinides: literatura, educagio da mulher.poll- tia, escravatura...Gosta, porisso, de se fazer notare de ser notado nas circulos {que frequenta. Entusiasma-se facilmente pela novidade, iniianco vérios proje- tes, como acriagao de uma revista que revolucionasse o ambiente culturalpor- tugude'e um wo ifitulade As Memériae de um Atomo, projetos que nunca foram concludes. 'No passeio final, tal como Carlos, Ega extravasa o seu desencanto, a sua ‘dpsilusdo, a sua frustraco, ndo 60 em relaczo ao Portugal que o envolve mas também om relago ao falhango dos seus projetos. Alkitura dos excertos assinalados ajuda a completar a caracterizagao: ‘Excerto 1 de “Jodo da Ega, com efeito, era considerado néo sé em Celo- rico, mas também na Academia [-I’ até Ta] A sua fama de fidalgote rico tomave-o apetecido nas familias." (Cap. N, p98) Excerto2~de “Foi ura dessas manhas "até -1@, demondculo noatho, examinou o gabinete." (Cap. !V, pp. 109-111); Excerto 3- de “OLivro do Ega!*até 0 fim do capitulo (Cap. W, pp. 17-118); Excerto 4~de “- Tens razéo!’ até "|...é assim que pensaria o grande Sancho Panga |." (Cap. XV, p 534} Excerto 5-de “Mas, a esta ideia de incesto |..J” até ao final do capitulo (Cap. XVI pp. 638-640; Exeerto 6—de “Ega balbuciou, atarantado|..."2té “-Diabo levem as mulheres, vide, e tudo.” (Cap. XU pp. 679-681; Escerto 7 - de *-£ curiosa! Sé vivi dois anos nesta casa |." até ao final do capitulo (Cap. XVIII, pp. 73-733}. 8.2. Caracteristicas tragicas dos protagonistas De entre a vasta galeria de personagens de Os Maias, Carlos e Maria Eduarda destacam-se como protagonistas, o primeirodo universo mascuiino, a ‘segunda do universo feminino. Juntamente com eles, Afonso da Maia pode 2 também, de alguma gonistas revelar car com todo oambient Desde logo, ¢ pc ‘mostram uma supe Maria Eduarda desta suas qualidades fisi retrato de Afonso (C: Eduarda (Cap. Vi p.1 Para além disso, nnhecida por Matia Ee disse efa-, que amar no nariz.. Mas sobre ‘que tutens de cara tas vezes..(Cap XI, ‘temperamental com des achaverthe sem: Maria Eduarda, a0 vi hybris das tagédias. Uma outra carac ‘com o facta de se de ‘que serevelainevita ao longo daromance ~ LI Tués simp ‘gragadamente ‘alma, é ind qu temasua mull Cruz dos Quatr ‘omeurepes co ‘estais ambos ji tun para o out "el Maria Edu S 18) Acpereonagene também, dealguma forma, ser considerado protagonista. Ora, estes trés prota- gonistes revelam caracterstices trégicas que estéo, aids, em perfeta sintonia ‘com tedo o ambiente de tragédia ede fatalidade que perpassa aobra. Desde logo, @ por conftonto com as restantes figuras do meio lisboeta, ‘mostram uma supetioridade quer fisica, quer intelectual, Afonso, Carlos e ‘Maria Eduarda destacam-se no meio pequeno e mediocre em que vivem, pelas ‘suas qualidades fisicas, intelectuais © morais. Como exemplos, vejamoe 6 retratode Afonso (Cap. |p. 14),de Carlos (Cap IV, p. 102) ea descrigtio de Maria Eduarca (Cap. Vp. 164). Para além disso, Carlosrevela uma semethanga fisionémica com a mae, reco- nnhecida por Maria Edtiarda ~"L.] Pareces-te cam minha ma |. ~Tene raza ~ disse ela -, que amamé era formosa. Pols éverdade, hé um ndo seiquéna testa, no nariz...Mas sobretudo certosjeltos, uma maneira de sortir.. Outra maneira ‘que tu ens de ficar assim um pouco vago, esquecido...Tenho pensad risto mui- tas vezes...(Cap.XIV,p.486).Por suavez, Maria Eduarda revela uma semelhanga temperamental com Afonso da Male, identificada por Carlos “Enestas pieda- des achaverthe semelhaneas com o ava,” (Cap. Xl p. 380) E 08 dois, Carlos e ‘Maria Eduarda, 20 viverem a sua palx8o incestuosa, acabam por corfigurar a hybris das tragécias classicas, ou seja, 0 decafio& ordom estabelocida. Uma outra caracteristica trégica destes trés protagonistas tem que ver ‘com o facto de se delkarem conduzir pela forga motriz do destino, um destino que se revela inevitavel,lreparavel elmpiacavel. Vejamos algumas referencias, ‘aolongo doromance: "LA Tués simplesmente, como ele. um devasso: e hd de vira acabar des- ‘gragadamente como ele, numa tragédia infernal! |.|~Carlinhos éa minha ‘cima, éindtil que ninguém ande & busca da sua mulher. Ela vird. Cada. um tem a sua mulher ¢ necessariamente tem de c encontrar Tu estas aqui na (Cruz dos Quatro Caminhos, ela estétalvez em Pequim: mas tu, ala raspar ‘omeurepes como verniz dos sapatos, eela aorarno templo de Conficio, estais ambos insensivelmente, ivesistivelmente, fatalmente, marchanda ‘um para o outro." (Cap. Vi, p 160); = Maria Eduarda, Carlos Eduardo... Havia uma similitude nos seus ‘nomes. Quem sabe sendopressagiava a concordéncia dos seus destinos!” (Cap. XI, p, 358); ~ Ega escutave-o, sem uma palavra, [|e egora, sé pelo mode como Carlos {folava daquele grande amor, ee sentia-o profunda, absorvente, eterno, para bam eu para ral tomando-ee de por ants, epara sr ‘irreparavel destino.” (Cap. Kil, p, 430); ry ~"E [Afonso] afastou-se, todo debrado sobre a bengala, vencidaénfim| Mh, wl -aqueleimplacdvel destino que, depois de o ter ferido na idadeda forga com 3 Coleg Rerum Fpade Quel, Os Melas {a desgraca do filho ~ 0 esmagava ao fim da velhice com a desgraga do ‘neto." (Cap, XVI, p. 661); ~ Mara Eduarda, por “motives compa, fata’, hava sido apanhada “dentro de uma implotvel de de fotaidodes"(Cap XV, 0p 531-530. Estas personagens contribuem, entéo, por algumas das suas facetas para o ‘caricter trégico da intrige central, que representa um fastamento das teses realistas/naturalstas, constituindo, por isso, uma inovagao estetica de Os Malas. 8.3. Representatividade social ‘A sociedade representada no romance é a aristocracia decadente e a alta ‘burguesia sem vontade propria eespirito critica, excessivamente comadista € ‘materialista, muito distanciada das verdadeiras necessidades do pals. Os seus habitos socials, o seu modo de vida, os ambientes de doentia totina so revela- dores de ociosidade, superticialidade, corupeao, limitagdo intelectual, nega- go do progresso. E assumidamente uma sociedade que vive do parecer em detrimento do ser ‘Como ¢ préprio de um romance de amplos espagos seciais, muitas das per- sonagens de Os Maias, mesmo aquelas que se afirmam pela sua individueli- dade, podem ser representativas de grupos sociais, de atividades profissionais, de estados imelectuals, Vejamos,entdo, a sua representatividade social ‘Afonso -portugués austero, simbolo das virtudes e da moral de outrore: Pedro —portugués fruto da educagao romantica sentimental ebeata, propenso ‘a comportamentos neurdticos e trégicos; ‘Alencar— posta ultrarromantico, lirico arrebatado, de um idealismo extremo e exacerbado: Cohan —‘o respeitado diretor de Banco Necional’, 6um finanesire som oseri- ‘Pils, simbolo da alta finanga nacional oportunista: Conde de Gouvarinho ~ politico incompetents, retrégrado, mas com poder; ‘Ministro e par do reino, representa a incompeténcia politica; ‘Sousa Neto-representante da Administragdo Pablica, incompetente e inculto; Eusebiozinho— produto da educegdo portuguesa, retrégrada e deformadora; Dimaso ~ portugués vulgar de um estrato social privilegiado, é simula de ‘varios defeitos ~caldinia, cobardia, imitacdo servl do estrangeir, falta de iden- tidade, culto ¢o “chic a valer"; Ega-protétipo do es, mas vitima dc Carlos ~ portugués ‘que ce distancia de um dietantismo e vencer; Cruges — ‘um ciabe (Cap.IV,p.114),80! ‘Steinbroken - polit Palma Cavalio e N moral e do compad do Diabo, jornal qu tipo gasto, todo ele a Tarde; Craft inglés, simbs Para além da s romance situagdes ‘comportamentos e + anticlericalismo Maria Eduarda + Romantismo/Na por Alencare Eg += personalidade si 1) Anpersenngers Ega - protétipo do demagogo, incoerente nas suas posigées, alheio a conven- ‘yBes, mas vtima do melo que irreverentemente contesta; Carlos — portugués educado superiormente, dotado de um gosto requintado, que se distancia da modiocridade do meio sociel que o radeia mas vitima de ‘um diletantismo e ociosidace que o impedem de concretizar osseus projetos e veneer; (Cruges ~ um ciabo adoidad, maestra pianista, com ume pontinha de génio™ (Cap.IV, p.114),€ 0 intelectual incompreendido emarginalizado, ‘Steinbroken — politico neutro, quenunea secompromete: Palma Cavaliio © Neves ~ jernalistas corruptos, representantes da baixeza ‘moral e de compadtio politico na informago; Palma Cavaléo dirige A Corneta 4 Diabo, jonnal que “na impressdo, no papel, na abundancia dos ttélices, no tipo gasto, todo ele revelava imundicie e malandiice’ (Cap. XV. p. 546), @ Neves. aTarde; Graft—ingiés, simbolo do cardcter e do bom gosto britanicos. Pra alm da singularidade destes “tipos, poderemos ainda detetar no romance situagaes de confronto ou contraste que exempliicam determinados ‘comportamentos e perfisintelectuais: * articleicalismo(clericalimo fandticorepresentado pelo par Monso daMala Maria Eduarda Runa « Remantismo/Naturalismo ~ confronto de estéticaslteriias representadas Por Alencare Ega,respetivamerte; + personalidade singular/imitage petulante, em Carlos © Damaso, CColgto Reaumos fg de Quins. Ox Noios 3 Linguagem e estilo 9.1. Adescrico do real eo papel das sensagoes "Nao me felta oprocesso:tenho-o superior a Balzac, Zola e tutti quanti Frade Queirds (Os Maias, publicados em 1888, integram ainda a chamada fase realista/ § naturalsta de Eya, mesmo que nesta obra jt identifiquemos desvies a essa E ‘mesma eatética. Nesse sontida a linguagem desteromanceharmoniza-co com = ‘as propésitos do Realsma em particular, nas palavas do proprio Ea, como £ propésito de apresentar ‘uma andlise com o fito na verdade absoluta’, pin- © tando a sociedade. Na verdade, em todo. romance, e atendendo sobretudo vvertente de erérica social espethada no subtitule, Ega mostra-se um observa- dor atento ¢ perspicaz da realidade portuguesa do século XIX e 6 através da linguagem que ele consegue fazer um retrato vivo, Intenso, e por isso, dura douroe verosimil dessa mesms realidade. ‘Trata-se de uma linguagem profundamente inovadora para aliteretura por- ‘tuguesa, tanto pelo impressionismo das descrigées como pelo realismo dos didlogos. Com efeit, Eca de Queirés, através da narragio, da descriglo, dodié- {ogo e do mandlogo, apropria-se da linguagem de forma inovadora,atribuindo- -lhe novos valores estéticos e lterarios: + anarrago ganha maleabilidade pela necessidade de relatar objetivamente os acontecimentos, como convinha destética realista: + odilogo enche-se de forgacoloquial +a descrigao minvciosa,frequentemente sensorial, serve os propésitos do Realismo que se airme pelo rigor da cbservagaioe pela andlise dos aconteci- ‘mentossocias; + omon6logo ajuda a perscrutar o mundo interior das personagens; + 0 comentario permite a interven¢ao de um narrador que, ora adotando uma focalizago omnisclente ora uma focalizagao interna, tudo observa com um olhar ertico ¢contundente, Podemos, pois {tva, Impressionist rnados recursos ex 9.1.1. Recurso Antos do apre rosa queirosiana expressivo que Ec 0 adjotivo aps “um recitative len (6.328) Eoutros. ‘| arrasta os se +s fidaigat” (p. 721). 4 como o advérbio: 2 yum rapazmut “anno de Sara pes. 9 Lingungeme esto NOs Maias, a descrigio do real assume um papel preponderante e é con cretizada através de varias op¢6es linguisticas, como, por exemplo: +0 us0 preferencial do protérito imperfeito © do geriindio que permitem “embeber aagdo em sugestées sensors”: vejames alguns exemplos da ut= lizagao do gerindio: 1.1 uma luz macia, escorregando docemerte do azut- -ferrete”(p.108); ..] na Havanesa, fumavam tombém outros vadios, de sobre- ccasaca, politicanda,” (p. 714); "Era 0 Démasa. [.| mamando um grande charuto,¢ pasmaceando buI*(p. 714; - o-omprogo de diminutives, também oles capazes de sugerir sensagbesr 0 diminutivo é frequentemente utizado com uma intencionalidade inca: ‘1-10 morgadinho, o Eusebiazinho, |. de peminhas bambos, [4] com a fin- _guazina de fora."(p.72); 1.1 as duas rms do Tavera, magrinhas, loirinhas, ‘ambas coretamente vestidas de xadrezinho"(p. 328); - autlizago de um vocabulérlo sensorial do qual fazom parte estrangeirigmos ceneologismos; cs primeiros funcionam como uma espéce de ‘ded apontado” sociedade burguesa que importa os modelos estranggiros, de forma pouco Csiteriosa e pouco adaptada a realidad nacional (vocabulos como ‘poule‘dis- tingués’, “odrasse’, ‘thie’, “spertsman’, ‘cache-nez’ “coupé’, entre muitos ‘outros lustram um certo novo-riquismo linguistico); 08 segundos so uma prova do génio crativ de Eca eda sua perspicdcia@ionia: “Tergarfeira vou-te ‘buscar ao Ramaihete, e varro-nos gouvarintar.”(p. 140); .J uma pouca de gua. |. seeeverdinkava sob ¢ sombra daquela ramaria profuse."(p. 241). Podemos, pois, oncluirque a descrigdodo real é bastante sensorial, suges- tiva,impressionista mesmo, facto que também se explica pelo uso de determ= nnados recursos expressivos. 9.1.1. Recursos expressivos ‘Antes de apresentarmos alguns dos recursos literéries caracteristicos da prosa queirosiana e evidentes na escrita deOs Naias, vemos primeiro,0 uso ‘expressive que Ecafaz quer do adjetivo quer doadvérbio. (adjetivo aparece de forma abundante, em associagoes duplas e triplas: ‘um recitativo lento ¢ babujado”(p. 79); “poles [.-] murchas, gastas, moles” {p.328);"Eoutros ainda, mortos, sumidos, afundadosno lodo de Paris!"(p. 713); ‘Lol arrasta os seus derradeiros dias, caquética e caturra, a velha Lisboa « fidalgar” (9. 721). Surge também associado a outras categories morfologicas, = como 0 advérbio: "| luvas claras fortemente pespontadas de negro.” (p. 719} ‘Lelum rapaz muito louro .Jlanguidamente recostado.”(p.720. 2 | sis:ncinianasoniaanepisnmaas ai dacrselnns ie ite Colegio Resumos Bea de Quetbs. Os Maas O adjetivo associa-se igualmente a alguns recursos eypressivos, como, por ‘exemplo, & animizacaio - “cidade preguicosa” (p. 108); A hipalage' ~ ‘silenciosas taperaras” (9.318) 8 ronia~ Tel prossaguiuo Sr Sousa Neto, .|cheio decurio- & sidadeinteligent(p. 41 &sinestesia—"Foro um dia de inverno suaveeluminoso” (p. 166) ¢ ‘luz macia’ (associagao de do's tipos de sensacdo, visual e ttl, p. 108). * E ainda de referir a repetigaio do adjetivo que cria uma intencionalidade ‘expressiva: ‘.. uma espléndida mulher, com uma espléndida cadelinha griffon, 2 servda por um esoléndido pret!” (p.166). O advérbio surge muitas vezes em associacdes que transmitem um cres- cendo deintensidade: "Falou de ticonstantemente, irresistivelmente, imodera- damente!" (p. 394), ‘Amo-te, adoro-te doidamente, absurdamente, até & morte!” (p. 516). E uma categoria morfoldgica frequentemente usada para despertar imagens associadas a comportamentos: ‘..J remexia desolodamente o seu café LI" (p. 238). Serve ainda para imprimir valores inusitados & narracio e & descrigéc: “L.| estais ambos insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente, marchando um para o outrol... 1" (p. 160); 1... apelava desesperadamente |..J” (p.570); “Depois, serenamente, feza titima declaragdo [.I"(p. 571) Ix] eorriao prantozinho da cascata, esfiado saudosamente|..." (pp. 726-727). Relativamente aos recursos literérios, indicames agora alguns dos mais ‘sugestivos, acompanhados de exemplos: + Personificago'— 7. com um céu tiste de trovoada”(p. 311} 7..1a curta pak ‘sagem do Ramalhete, |] tomava naquele fim de tarde um tom mais pensa- tho etriste(p. 727% - Wonia’-uma das originalidadosde Ea usada para ovidensiar es aspotosrisiveis cereveladores das incoeréncias das personagens oudos facts. Assi, onafra~ ‘dor anula a objetividade que caracteriza.o romance realista, assuminco uma ‘perspetiva critica e subjetiva, revelando simultaneamenteumaposi¢do de supe- ‘oridade edistanciamento ~"Ega foi generosa’ (p-572),refernde-se Aatitude ‘de Ega em relacao a Damaso, cue em nada tinha sido “generosa’ pois tinha-o ‘brigado aadmitire a escrever que era bébeda, “por um hdbito hereditério” da {amilig;"0 Reverendo Borificic nome do gato de Afonso da Maia} que desde ‘que se tornara cignitiro da igreja, comiacomos senhores 1" (p-107). = Comparagio— 1..] ewviu'se, como um gluglu grosso de peru, a voz da baro- ‘esa’ (p. 330; 1.10 cipreste¢ o cedroenvelheciam juntos, como dois ami- ‘gos num ero |. (p.726)—duas realidades diferentes so comparadas. "pting — curio expres que conse en tbr sr eu ens designs por wna pa ust qualidade age ogcameste perce soutroser ous xpreses ia wend ea esa ask _ Becta ett neprenionin conte atic dacaracereties hunanaestanoge ja humana. “tronin—recuzo erento porno co quale deo consi do que se quer dara tnd para ela resatur certoslteshumoralcos + Metéfora 1.) « ‘senhoras que ase ‘ure calu por bai + Sinestesta'— °F ‘seu veluda.”(p. 2 Estos 6 outros r ‘incompardvel que inerente a elaboraca: 9.2. Reproduc Ao longo de Os Iv verter no seu discur direta, isto 6, recorre ‘que surgem om dvr discurso indireto (or sonagens disseram). +4, porem, umao do chamado digours gas proprias do disc: verbais da narracao dieto ~ exclamagoe uz, assim, as falas. Por isso, deum discu formaldo discurso de ‘emergir uma voz “duz Consideremos a Tel Tinho-se exce que durante toda curse do narad "Tel Quera pois 0 ‘mando que tudo « e certa senhora, narrador perpass: * Shasta rcuro expe 9) Lingangem eet, Metifora -1.| um canterinho de camélias meladas |", identificando as senhoras que assistiam és coridasno hipddroma (p, 328); ".] uma chuvade ‘euro cal por baie |." roferindo-se as faithas des brasas, (121). Sinestesia!—*E por toda a parte luminoso ar de abil punha a dogura do seu veluda”(p.240) ~mistura de sensagbes visuals etiteis, Estos @ outros recursos permitiram a Eqa construir o sou estilo, um estilo incompardvel e que, nas palavras do proprio eseritor, tinha “limpides, fibra, transparéncio, preciso, claridace’ CO subtitulo da sua obra A Retiquia~"Sobre a nudezforteda verdade-omanto diifano da fantasia” ~sintotiza todo 0 trabalho iterdvio de Eqa:a conjugagaoda Visto objetivae realista do mundo— “nudee forte da verdade"—e a subjetvidade inerente@ elaboracdo estética dalinguagem — "manta didjano da fantasia’ Reprodugao do discurso no discurso ‘Ao longo de Os Mais sao varios os momentos em que o narrador opta por verter no seu discurso o discurso das personagens, podendo fazé-o de forma Gireta, isto &, recorrenco ao discurso direto (por exempla, nos varios calogos ‘que-surgem om diversos momentos) ou deforma inéireta, isto 6, recorrendo ao discurso indireto (0 nairadorreleta por palavras suas o que determinadas per- ‘sonagens disseram). Ha, porém. uma outra opeao que representa ume inovagdorealista. ratase do chamado discurse indireto livre. Esto tipo de disourse conserva as mudan- ‘gas préprias do discurso indireto ~ presenga da terceira pessoa e dos tempos verbais da narragio -, mas apresenta também caracteristicas do dscurso direto — exclamagies, interrogagdes, reticéncias, defticos. © narrador repro- duz, assim, as fales das personagens na sua prépra linguagem, tratando-se, porisso, de um discurso hibrido, ondea vor da personagem penetra a estrutura formal do discurso do narrador, como se ambosfalassem em unissono, fazendo emergir uma voz “dual”, Consideremos alguns exemplos: ‘LAI Tinha-se excedido... Fora o seu desgragado génio, esse calor de sangue, que durante toda a existncta sé Ie trouxera légrimas!."(p 183) -no cls- curso do narrador“ouve-se” voz de Alencar, ‘L-] Quoria pois 0 amigo Damaso um eanselho? Era assinar uma arta afr ‘mando que tudo o cue fizera publicar na Cometa, sobre o Sz Carlos da Maia certa senhora, fora invencdo falsa e gratuita. |." (p. 572) — no discurso do narrador perpassa c discursode Ega que aconsehha Damaso; " snestsia- ecu exressvn qe onsite na conjugate miura de senses detipo ernie, 59 Coleco Restos ga de Quelnbs. Os Naas +L. Era acasoverosimil que tal se passasse, com um cmigo seu, numa rua de Lisboa, numa casa alugada @ mée Cruges?... Néo podia ser! Esses horreres 26 20 produziam na confusdo social, ro tumulto da Mia Idade! Mas numa = { sociedade burquesa, bem peliciada, bem escriturada, garantida por tartas leis, documentada por tantes papéis, com tanto registo de batismo, com = 10, J tanta certidéo de casamento, nao podia ser! Ndo! ||" (p. 636) 0 discurso pense indiveto livre integra, neste caso, 0 mondlogo de Ege. o fu dos seus pensa- (Coda questo apn mertos, Ficha de avali Percebe-se que este tipo de discurso, vivo, dinimico, revelador do pensa- mento das personagens exercesse ‘forte atragdo sobre Epa’, tornando'se, inclusive, mais uma das marcas distintivas da sua prosa, Leia atentame “Em toda @ sua obra de ficpdo, desde o comeco, eicontramos cons Sees ere tantemente o estilo indireta livre, quer no didlogo, quer no mondlogo ‘mental, coro melo favorito para nos fazer ouvie falar e pensar as suas Carts fer um personagens. Este tipa de discurso tinha fercosamente que exercer forte Sepeeg gamit n atragdo sobre Eca: em primeiro lugar, porque the permitia libertar @ searabesia ing a frase dos detestados verbos declarandi e a correspondente conjuncao aelgpre. que os completa (“disse’ ou “disse que.” et:,):em segundo lugar, aprox Aion Sotto ‘mava a sua expresso lterdtia dos processos da lingua falada:e, em ter cerguer as uneta cceira permitic-Ihe impersonalizar o seu relato, dissimulando-se por trés cas Setias ne dlas suas figuras fccionats, dando-thes urna aparente independéncia~0 Eas oe a due satisfazia 0 seu realismo ~ 20 resmo tempo que. subtilmente, se pee eae confundia num mesmo movimento com a personagem e o ieitot, sub- oatey AO A rmergindo-se raquela¢ identificando-se com ela para se dirigir a este ~ srpetnoe npn @ processo pelo qual dava expansdo as suar tendéncias impretsionistas. dela deizer gus O leitor nto sabe se € oautor ou o ente fccionel que fale: a imaginagao ores eels tem livre.arbitrio. E goza a sensago de ouvir ambos exprimirem-se ao Serio serie fesmutenol4 ‘puna duas manc! ‘A continuidade légica e oramatical rompe-e. 0 imperfeto toma 0 Relpbrape actin lugar do presente, ocondicional odo futuro,e 0 mais-que-perfeito odo per Eeereesegie feito compasto. Paralelamente, o: prenomes também sofrem transpost

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