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autor também escreveu: Princtpios e Métodos de Orientagéo Educacional e Di- datica Geral, ambos publicados pela Edi- tora Atlas. O Cotidiano da Escola de 1° Grau Vani Moreira Kenski* DOMINGUES, José L. O Cotidiano da Escola de 1° Grau: O Sonho e a Realidade. Goiania/Sao Paulo, CE- GRAF-UFG/EDUG, 1988. Sao muitos os educadores que pensam e falam sobre a realidade da escola de 1* grau, e preocupam-se com ela. Sao poucos, porém, os que jd vivenciaram esta realida- de, seja como professores ou como pesqui- sadores. A identificagao critica da realida- de da escola de 1 grau, as trocas perma- nentes que ali ocorrem, o interior da sala de aula onde professores e alunos atuam com objetivos, em muitos casos, nem sem- pre coincidentes, vao ser objetos do estudo de José Luiz Domingues neste livro, repro- dugéo de sua tese de doutorado em Psico- logia da Educagao defendida na PUC/SP. Estruturado em quatro partes, além de uma farta documentagao anexa, o livro apresenta um relato de situagdes que ocor- rem no cotidiano das salas de aulas obser- vadas pelo autor e por uma equipe de au- xiliares. A validade da publicagao esta exa- tamente nesta dupla fungdo: do livro néo consta apenas a descrigéo do que foi pes- quisado nas escolas de 1° grau, mas tam- bém a forma como se desencadeou a pes- quisa, os instrumentos utilizados para o treinamento dos auxiliares, além de exem- plos de protocolos de registros de diversas atividades ocorridas no desenvolvimento da investigagio. Pro-Posigdes Vol. 3 N° 3 [9] * dezembro de 1992 Na primeira parte do trabalho, Domin- gues relaciona a sua trajetéria de curricu- lista com as teorias que permearam a sua prdtica e orientarama sua escolha de tema de pesquisa para uma tese de doutorado. Neste caminho apresenta a influéncia te6- rica do behaviorismo que, em principio, orientou sua “postura ao ver, pensar, sen- tir o mundo e nele agir” (p. 18). Mostra, a seguir, 0 conflito dessas idéias com as que identifica como “psicologia da cognigao do ponto de vista fenomenolégico-existencial”. Considera, por fim, que 0 estado teérico do curriculo pode ser visto a partir de trés paradigmas bAsicos (técnico-linear, circu- lar-consensual ¢ dindmico-dialdgico) apre- sentados por James B, MacDonald e ana- lisados brevemente por Domingues, a par- tir das idéias defendidas por Ralph Tyler, Maxime Greene, William Pinar, Michael Apple e Henry Giroux, considerados pelo autor como principais representantes de cada uma dessas linhas de pensamento. Ainda na primeira parte, Domingues descreve os caminhos utilizados na pesqui- sa, cujo objetivo era o de “reconceptualizar @ questdo de currtculo de 1*grau, a partir do cotidiano da sala de aula da escola de 1 grau” (p. 42). Baseando-se nas afirma- g6es de Goodlad sobre a existéncia, nas salas de aulas, concomitantemente, de di- versos curriculos (0 formal, o operacional, o percebido e o experienciado), Domingues optou pela utilizagao de métodos qualitati- vos de investigagao, que pudessem lhe ga- rantir a imersao na “realidade legal e psi- cossocial da sala de aula” (p. 43). O relato sobre o que foi observado no cotidiano de uma escola publica de 1? grau (1* a 4® séries) de Goiénia-GO durante o segundo semestre letivo de 1981 constitui a segunda parte do livro. Ressalta-se aqui a forma como sao apresentados os “atores” que atuam no cenério da escola. Domin- gues procura lhes dar algumas caracteris- ticas mais humanas. De forma sucinta, apresenta o corpo docente e administrativo * Professora do Departamento de Metodologia de Ensino da Faculdade de Educagao da UNI- CAMP. 61 O Cotidiano da Escola de 1* Grau da escola: fala de seus problemas pessoais, seus sonhos, suas histérias de vida, suas lutas. Os alunos siio apresentados coletiva- mente a partir de dados coletados em en- trevistas feitas com quarenta e cinco crian- gas da escola. também na segunda parte que o autor descreve 0 cotidiano vivido nas salas de aulas. Sao relatadas as falhas, os proble- mas, os esforgos de alguns, o desinteresse da maioria dos professores e da diregao da escola. A perspectiva do relato, porém, é sempre a partir das ages dos professores. Os alunos, embora tenham sido arrolados como “atores” pelo pesquisador, parecem mais compor 0 cendrio, suas agdes se dao em um plano secundério e, na maioria das vezes, sdo usadas para a apresentagao de atitudes singulares que ocorriam no coti- diano da escola. A terceira parte do livro 6 0 espago que Domingues destina para a leitura critica do que foi observado no acompanhamento diario das atividades da escola. Orientado para descobrir as contradigées entre o cur- rfeulo prescrito e a a¢éo dos professores, Domingues levanta algumas questées, no- meadas de farsas. A primeira delas diz respeito Ando-inclusao de matérias obriga- térias (quantidade). Das nove matérias prescritas pela legislagao para serem de- senvolvidas em salas de aulas, apenas duas— Comunicagao e Expressao em Lin- gua Portuguesa e Matemética — so apre- sentadas efetivamente. A segunda farsa, decorrente da primeira, relaciona-se coma baixa qualidade com queo contetido dessas duas matérias é desenvolvido. A terceira farsa diz respeito ao tempo, ou melhor, a perda de tempo, o que resulta em que, segundo os célculos efetuados por Domin. gues, o aluno tenha efetivamente 65 dias letivos no semestre, com uma média de 1 hora e 40 minutos de atividades instrucio- nais por dia. A procura de resposta faz com que Do- mingues passe a analisar 0 papel do pro- fessor na solugao da maioria desses proble- mas e chegue a0 final, na quarta parte do livro, & proposta de “uma agenda para agao”. Nesta agao, o alerta final do curricu- lista Domingues é de que nao se pode fazer a“reconceptualizagdo do curriculo da esco- lade 1¢grau”, sem passar, obrigatoriamen- te, pelo estudo do cotidiano da sala de aula. As Ciéncias Sociais na Escola Elotsa de Mattos Hofling* NIDELCOFF, Maria Tereza. As Cién- cias Sociais na Escola. 2° ed. Séo Paulo, Brasiliense, 1991. Com formagao em Histéria, esta autora argentina tem se ocupado sistematicamen- te da metodologia de.ensino das Ciéncias Sociaisnas escolas de 1° e 2° graus. Em seu livro A Escola e a Compreenséo da Reali- dade (Sao Paulo, Brasiliense, 1979), pro- duz um “ensaio” da temética, dirigido es- pecialmente As séries iniciais do 1? grau. Através de quatro subtemas: “Os homens de nossa localidade”, “Os homens de nosso tempo”, “Os homens de outros lugares”, “Os homens de outros tempos”, jé coloca os grandes vetores do ensino na érea de Cién- cias Humanas. Neste livro, As Ciéncias Sociais na Es- cola, a autora dirige-se a faixa etdria de 12 a 16 anos (aproximadamente da 6" série ao 2 colegial em nosso sistema escolar), “eta- pa que marca o inicio do estudo formal das Ciéneias Sociais, a cargo de um docente especializado” (p. 7 Nas unidades iniciais a autora coloca com muita lucidez a dificuldade do traba- lho do professor em um momento tfio com- plexo como este, em que as transformagées sociais expdem com muita crueza o des- compasso entre as expectativas dos pais e alunos ¢ a instituigdo escola; em que, pelas * Professora do Departamento de Metodologia de Ensino da Faculdade de Educagao da UNI- CAMP. 62

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