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NEWTON BIGNOTTO EUGENIO BUCC| — MARILENA CHAUL — MARCELO COELHO GABRIEL COHN EUGENEENRIQUEZ LUIZ FERNANDO FRANKLIN DE MATTOS MARIA RITAKEHL OLGARIA MATOS ABDELWAHAB MEDDEB ADAUTO NOVAES LUIZ ALBERTO OLIVEIRA RENATO JANINE RIBEIRO MARC RICHI EMIR SADER FRANCIS WOLFF Civilizacao e B ORGANIZAGAO ADAUTO NOVAES. Das LETRAS 77149 Compre/StBt Prego O41 ORTI2 RS68.62 Copyrighn © 2004 by Ov Autores caps Morma Candtcanh Proparagie: Carlos Abert baa roragao. Piigina Vea Revist: onato Potenza Rodrigues Otacttio Nunes Indice onomsties Dandie idee Slo!) CSE “Todos rs direitos desta edign reservados 4 Rua Harder Paiista, 202, 6) 32 (04532.002 — Sa Pano oe Telelone: (11) 3707-3800 ans €119 3707-4501 swe comipantuadastets con ir yur 23203 62 CREPUSCULO DE UMA CIVILIZAGAO Adquto Noraes Nenbum testamenta precedes nissa heranca René Char O titulo deste hero, Cinlizagdo ¢ harharte, dois ermos que jamais estivertn distantes uni clo outeo, € laborieso © sujeito a warkis especu ligdes. Os aconteeimentas recentes apenas 0 confirma: poucas vezes, 0 longo dla histiria, o Ocklente viveu de forma to trigica © explicita contlugncia cht eivilizagao © «kt barbie 1880, prometicle a0 Caos dle um mando que pao € inteimmente bumano © de um tempo que esqtiecet o pussade © perden dle vist © horizonte hanuo, © pensamen, to carminha mustas vezes a deriva, Mas, se os ensaios aqui reunklos pelo menos apontiren algunas origens «la crise, hi € o bastante, Tudo pare ce irremediivel dividunos nora exist@ncia entre unr naturalisme © un Arificiahsme extremos; vivemos © desercdito dt politica, 0 despreze. clas norinas Glicas © MOKA, & opacidate das relagdes socials, a obscu hddule na cullure © nas strtes, *verdades” estabelecidas pelt ciénekt © pelt tecnica, A astie do poder produz guerra em nome dt paz, subs ini oO medo pelo terror &, ay mesmo tempo, crit st mais nov configu racic «ki relacao chissicit entre paixito © eavitw, Se, como nos diz, Jacques Ka propunha a dissipar ea politica, a intelwénci positive dos perigos © obsticulos’, © terror sompe essa cuniplicidade. A *voz Sem, pAHECE ENE na delensivt, Conus nomeae agile que. apenas na Were, o medo cra uma paixay etimplice Ut razdo, que a filosotia s¢ nstorinutr su sracionalickicle em 4 parsio que 4 nara", prometicht desde 0 século Europa. entre 1914 © 1945, produaiy, com guerras, deportagoes, limpe zis dinicas, Auschwitz © Gulag, em torne de 100 milhdes de mone apenas de tama crise, mas «lt Onze de setembro seria © emblem 30 more, ou passagem, para outro po de civili7agao? que define nossi situa ago. KE cent que a civiliza Ora, niais que barbie séncia de ini sentido para © termo citi al sempre vivew em crise e das. rises, Cada vez que surgia om grinde conto: ro, Imaginar © futuro tornou se impossivel © passamos a ser dominatlos. nits definem como vida "ve por aquilo que il © et@mera”. curs qualquer "sentido de cominuidide © se exon expencncia desconhece nenhuma 1 unt presente: vivid Como instante fugaz”. Sabese que Im presente etemo © Contuso, As civilizagio se estrutura apenas en at sem passado © sem futuro, Part traduzirse ony aulvento de » pensamento © dha propria histOria. A passagem da “erise” part si “more da civilizagae” for pensada em Wes célebres textos de Paul ValGry C1 nosso supremo hem © Odi Hlésoto Martin Heideyyger, mostram que a avang:tda que Os pavos estic politica do espiritc lecaclencis espiritual da terra esti <4 spiritual, aqrielt que hes perint A crise nition ameacados de perder a Gillin fi ria pelo menos ver € estimar como portanto, da pesptia impossibilidacle « mo homem “para fora «lo ser sen al essa decadéncia’ surge fe ver a crise, provoctd por "grandes maquinagdes” que jos que cle mesme o saiba Lembremos Valery e sunt frise tants vezes cits mas que NOs, civilizagdes, sabemos agort que Somos morttis Ninive © Babilonia nace: para t impressions: De pois de evocar a grandeza ea decadéncia de Flam iciemtemente Valery conclu: “O abismo da historia € su le uma evvitizagio tent a mesa braygibiccle ce doo mundo, Sentunos « uma vid Mas, antes de apontarmos os signos e sintomas ligados 2 historia dos acontecimentos, pref imentos. prefermos comegar este livro com allgguns Cassis sobre it hist6ria das idéias. Segnimos os caminhos proposos por nuvi 0 Hany que, “dhinte de milhoes de espectros", pref ss verthactes, Eas 10 fet intelectual que medita sobre 4 vide 4 more d ajidam a definir quais foram as nogdes centrais que moverim ou foram afetadas por essa passagem — qae & também uma crise. A “ense da civilizagio” dominou boa parte dos debates intelectuais depois do 11 de setembro — do kro de Samuel Huntington (O choque de ewiliza bes) AS Jickkas respostas que este recebew de orientalista Edward Said (0 choque de tgnordncias) & aos ensaios dle Umberto Feo, Jacques Ran ciére © outros. Quase todos relacionam a crise da civil, ranga da moderankide. a uma he Givilizagae © modemidade convicm-nos. pois, a teflexae Mas. 40 primeie movimento do pensamento, essay duis nogdes tornam-se Vagas © iniprecisis, © passumos a sentir @ peso, os Gbsticulos © as re sisténeias any entendimento imediato, Talvez a incerteza seja um de seus elementos constinitives, porque, desde que foraet formuladas pe. La prinwira vez até hoje, elas nag cessam de nos interrogar sobre 0 pro. tividlacke do espirito — flosofia, Ineratura, moral politica, estética — que nao se pergun ent conseyuénest, quem © birbaro), o que € ser moderno, Ha até mesmo aqueles que levantunt a dlivicht: "Esiste aaa civiliza fio sentido: nao ha hoje © que € ser eivilizado Le, LUmn hivro sobre eivilizagao cont do, a diseutir também as amplicagdes do que se convencionon chant civilizagac techolgica” nuindial, Camo nos lembra Abdlebwahab Med: debs em seu ensiio, 40 evidenciar unt dos efeitos cht unis Wer cha tecnica, em pariculir sus intrexiugio nt cultura de alguns paises: do oipurings obrigs-nos, antes de uw Oriente. devemios insistir mais em stia utilizagho do que no desenvolv mento di ciéncia, "O aumde sstinmico”, escreve Medde, no cria €ién- oii ons pade, em certs Camas, domsnira teenie que implica, antes die tudo, © conttule do fincionamento «kt axiquina mais do que de suit invengie, menos ainda de sual produgao’ A palaves cieiiesagelo aparece, pois, ale formar variad Alas a palavne deixeenios uma incomec sensaghe de que, os poucos. pene sew vigor Ki que ne pxus pocemos snterrogste nossa EXpeTén- chr come eivitizatlos, muitos de nés vamos tos dicionaiios para "eone cero sentido debi, Mas mesmo seu cleclinio pode nes ensinar algo: "O proprig desuse confere stunt terme moribunde unat especie dle Supre- ina signifieagao”, escreve Vath Fy. O declinia nos ensina, por exemple. que o-uso pobticu cht palavea degeeda a idéia de ewvilizaglo, tansor mando-a en “arma deplorivel” ¢ instrumento de guerre permanente, sentide oto pensinvate contide despregi-se ct palivra, erkinde aut Jo que pode ser designade como palavre-idolo que cartes em si vio: C mints vezes WOlEACS SAngrentas como a que se ve hoe 9 ONS A simples evocacao di palavea cinilizacdo remete, necessarianienle seul OULTO. que € a barbyirie, Pel menos for assim ao longo dt historet Lemos, por exemplo, no ensiio de Francis Woiti, que, au responder 28 dutis questées postas pe Bi foi " 2 organizacio de livro. “O que € ser ewvilizade? "Quem € 0 bitbaro”, 0 autor apresentan date vadies consentes 4-018 ingénua”. a mais difundide & nds somos os civilizados, os «uttos C15 ANLiBOS. EXGIICOS F distantes) sie batbuin sabemon 4 bia sabemos que sla Antiguidade, biirbaro era todo povo que no tala ave especies, o Bent 50> Hoye, ess visflo traduz-se assim: nas guerras santas de toreis as mos nés, civilizados — contra © Mal, os outros Baran Walt! lembra também outrs resposta, “mais solisticailt te, di ele. em negar o problema, relativizar as nogdes: “Nenlum pore € mitis civilizado que © outro, nenbuny costume € Iiirbaru", Fm sintest todas as culturas se equivalem, Duas conseqticneias eticas « pobiicas 40 cokonialismo edo humano universal, alem de levar ao ceticismo sobre suas. propria crencas. O que fazer. pergunta Wolff, quando julgamos, segundo nos S08 proprios critérios culturais, que outras culiunas, consileralas |o civilizadas” quanto a nossa. sao produtoras de humilhac exploracao? Para sair do impasse posto pelts dusas cancepcoes. Woltl por uma allernativa, detininda quem & barbaro ¢ ewvilizade “Seria birbara tole cul le possibiliclides «que da, em seu ensaio. Tanto, ao mesmo tempa, o que & s« tura que nao disponha, em seu proprio interior Ihe permitam admitir, assimilar ou reconbecer uma outes Notamos, pois, que a civilizago vive a inversao em seu proprio imterior, isto €, tra7 em si mesma a possibilidade de retorne da barbs Fie, Que elementos tidos so estes, sempre ameagadores, que hati tam o nucleo da civilizagao? Fssa maneint de pensar eivilizacao & una 7 ar Nia que ve st humankdicle em uma Weesistivel Ea critica que se pote ler em at dialetice da re resposta a certa tende 9 ilizatoriat Kheimer: o Huminismo, no sentido nes ample do cvohigao ¢ Wo. de Adorno e Hor Lorn Tos oer gcckes nhs en at 50D OO Siar Gociedades democriticas modems, pelo menos em seus A sageranise ma clefesst do direko 3 deren pase atin postulados gerais. bas eeno, teve por lain hiderar 6s horiens do miedo « inteiramente “esclarecichr’, resplanclece ead fundamental da vila em sociedade. Par comers er (a toleeineia torn a dite Michael Waltzer Ct t Feng erancks necessiria”), Newton Hignotie mar a tole tindo do 4 sivel, a diferencs nes postos nas Himiles TF questiona hoje por alguns pensidores © governantes 10 at essay das virtudes. nimi mundo no qual “subjtamente as diferengas lente grupos Etnicos, nagdes © crengas religiosis Vvollaram a estar no centro das discusses’. O que se discute, em ulimit anilise, € a nature: 21 clas instituigdes politicas contemporineas, Essa naturezat mua essen- cialmente quando se vé 0 relorne do teolégica-politico, ist &, uma lusto de crengas © religides & politica, Esse retorne remete-nos aos en satos de dois outros tilésofos aqui reunidos: para Marilena Chau, 0 que hoje se chama de fivrdamentalismo religiose foi denominalo no secu lo xua de poder teologico-politico, por Espinosa esse poiler na superstigao. A causa da supe: eleito & a que encontsa a origem Lugo Eo medo, © 20, escreve Chauii: "E, partanto, no contexte de uma pa xo — o medo —, de una we de uma tnstitu relagao com a realidade — supersti¢aa — social — a religito — que Fspinosa analisara as duas grincles manilestagdes da teologia politica: o jucaisio © @ cristia nismo". J Abdelwahab Meddeb mostra que, ao hide ckt conotacae reli- giowt, © ISK crow uekt cts maiores civilizagdes det humeinidade, que feve seu apoy entte © inicio do século 1x € 0 fim do século si, For uma revolucta que cobra tades os campos do saber, ct poesia a ei@n- cia resultado do cruzamento de varias lradigoes & Waclugdes — a grega, Janina, a perst, a indiana, a chinesa —, tule confluinde part a lingua Jrabe, Para Meddeb crise da civilizagao iskimica le parte, do descompusso erse a partir do momento ore, em grande nocientilico. Seguncla ele, “o funesto insti que os meios cht teenica do st ilusio dt possibificlicle cle restaurar sua soberanit sem proceder a trabalho avcessiiy sobre si mesmo que venba por em acorclo os espicitos com © estado dha metafisica © das eieneias’ Inipossivel, pois, circunscrever, em todos os aspectos. um tent umplo Como esse dkt crise da eivihzagao, Eur um ¢clebre © antecipador ensitio, politica da espinta, Pant Val to tec nico como um dos elementos essencitis, certimente aquele que con ny aponta o desenvolvin center © deline o panto de partida «lt crise, Ele esereve: sons todla a sua porencia, de posse de um capital Wenen, prodiginso, tateiramente penctiade de métotlos positives, no soube, eniretanto, estabelecer uma politica, una moral, um ideal. nem Jers cvs fou petits que estivessent em h ioe cont os niodos de wis gute eno & mesmo con os modes de pensamente que a difussto universal € 0 keseri= volvimento de corta espisite ckentifice mpoens Pouce a Pouco todos or omens Ainda que em outeos testos sobre a crise cht civilizacao Valery nos: India a pensar qiie eshivesse Linentanda aim patssacle perdido, 3t cit u Gio acima aponta para questdes do presente. Valery milo est sozinho ho diagndstico dessa ceise, F certo que os métodos cle anitlise © &s con. clusoes sto dilerentes (basta lembrar a ciferenga entre as idéias de declinio, que precomisam nos debates do momento. © a de morte da civilizagao apontada por Valery), mas impossivel ndo citar obras essen, ciais como O dectinio do Ocidente, de Spengler, € os escritos de Witt genstem, Em um ensaio que acaba de publiear — Witggenstetn: cult ra ¢ valor — Bento Prado Rinior mostra de gue manein, para c Flosofo, € a civilizagao tecnocientifica, filha do espirite das Larzes. que Et origem dos descombros da culura, das artes e da religiao, Duas cits oes de Witgenstein ilustram a crise: "Disse um dia, e talvez.t justo tite Jo: da antiga cultura s6 estar um amontoado de descombros e, part ferminar, um amontoalo de cinzas, mas haverd espiritos que futiarao, entre cultura ¢ civ lizcio. E evidente também que. pira Whigenstein, A erise & da cull 0 que o diferencia de Valery nn cingnéstico deste sobre a morte du Civlizagdo. Mas ambos falam da crise do espitito, fim das aytes. dese Sintetizado na frase “fonemente aytessiva” de Wiensiein —- “ue eu seit compreendido ont aprecindo pelo eentista veidental pico, so me Eindiferente, Porque ele nao compreende v espitito sexunddo 0 «ul ea escrevor —, par Valery, a erise intelectual aera as or a no reino da dissimulagao}, dificilmente zusém sabe tinda quats ulgiay tos na lista das perdas, qite novidades serio prockamacks ME chegar a crise atual, a idéia de eivilizagao paysou por sitios FOpEU sO CelicisM1o, ComeCE MoS. POIs, caminhos, do etnocentrisme. frase emblemitica de Victor Hugo maneirt, traduz « visie dos historiadores Fernand Le Goll, part quem as civilizagdes sao espacos. © 0 uma Europa eri pela Paris expressa mundo”, « que, de slgum Braudel ¢ Jacque espaco ocidental confunde-se com a Europa Patti, quecicia com ay contribuigoes externas, ‘expandida’ pekt Colonizacao ¢ nigOs, EconOMIAs © socieds | pela emigragio", Se as civilizagdes sto esy | des (Braudel), elas a0 tambéni “mentalidides” & problema consiste, entao, en saber como essis mentalihides © & 12 wente diferentes em cada socied Je, sto transfor mados em um todo homogénes, até se chamar Civitizagao ocidental — apesar do om geagas ao “enniquecimento” (© ao esquecimentay de culluras diterentes, inclusive e, em: alguns casos, prncipalmente do. Onente. Talvez 0 que ps mite transformar a civilizagao do Oeidente em um conceito homogenco seja o deslocamento dhs coatradigoes para © exterior ao proprio “Ocidente-Enropa”: "Os ocidlentais $6 sao defin como tais opondo-se a um Outta: o Barbaro, o Intiel, o Selvaget principalmene, a0 Oriental que acumuki todas as diferengas Goff), A relagao estibelecicks pelo Ocidente (inicials los, ente a Europa ont os Estatlos Unidos) sempre foi desiguil, nite sé com © Oriente nas tambon cont texdkis as outzas cult ‘Cientes de sunt superionida de, os ocidentais eslorgarantse por exportar seus. valores: ‘cristiani zacun’ ‘eivilizacin © depois ‘colonizaram os povos do Orieate, Mas 0 anita: do “bom seleagem’, as agens ao Oriente ou a mod do primiti- vismo atesiann ao niesmo tempo que o exotismoe oriental sempre os Bis: cinow” Mais ainda: a histéria ocidental € feita em boa pane gragas a0 Ofente, Como nos lembrt atnda Le Goll, 6 proprio cristianismo, que ia fazer clo Ocilente a “eivihzagae crista por exceléncka © assegurir durante séculos a unitade curopeia, & unt religite nascida 6 Onten te meditereineo! Fssit cisto entre Onente © Ocidente nao daria a palavea civilizacdo uns canter UnbEINIO © KdeokOgico? Em. seu livre Le renee deans te mall ho qual dedica ur ensaio & palaert ei Tala de “tals civ wie bsibaro e eivilizade, denunciando “a barbarie agdio, Jeav) Stirobinssi nos lembra «ie Miabeas aco", cheganulo até mesmo st Anular a oposicte «1 dle nossis civikizaghes”, Enconiramos tambeny nesse ensatio algunas tn dicagdes preeisas. “poli nde. cao © progresso, civilizigho decorrente dh sociedade indus 2 por Hannlehtire como uma “getnde bur nck uma priticn absolutamente modern to" & policiane polidez & micialmente, quase sinduime dle civikdacles telagdes estre sntee civil tral © democritica, present sities ihunninatche a ts"; « nua barlvirie declaract, as eivilizagdes contemporineas esercent uma woléneis dissinutacd Um dos caminhas para entencher © conceito de eivilizagao esta a bra findamental de Montesquieu, ay Cétrtas persas, em que temos Celebre pegginii: “Come se pode ser persa?”. Con toni, taut Valery chi como resposta outrt perginta; “Como se pode sero que se €°. Tal iz ele — nus ta sair de nos mesmos, mengutharmos de Fepente em un Gutta Mundo fins de que possamos perceber “todo ho Hagar «le abet que nos & mperceptivel, « estranhezs dos costumes, ax leis 13 = Bee MR imeem ats rrr ey co 3 Oo 1s nas quiais fodos os homens se acomo concertar suas idéias, fazerthe a surpresa de ser sur- outre “pan d preendido com o que faz, 0 que pensa, © mostrar que cle janiais cor meio de waver A liz toda a rela cebet pensar de forma diferente... & io, de uma contianga hi pitual na orekem, tividade de uma civilz estabelecid de civilizagao tem como um de sens fundamientos os zagio, Eo que liz Voltaire em mais relative que a civ seu Ensaio sobre os costumes & 0 espirito intimamente igado 2 natureza humana & parceicle de um y tra do universo; tudo « Hm Se parece com © outro. O imperia do costume € as nagors, “Tuclo © que esti IO a O1F bem mais vasto do que o da natureza®. Ou, em outras paltveas, se para Nietasche, cultura © civil Fias, separadas “por um antagonismo prokundo como um abismo", pat ele, civilizagao nao € senio dominio & repressio sobre o individua, & cultura, ao contririe, pode caminhar ao lade da propria «lecadéncia das sociedacles A idéia de decadéncia da civilizagao leva-nos a reper de Spengler Por mais problentitica que seja a te tenha Declinio do Ocidente dia de “declinio” — que snige” —, © atinda que, coma nos lembra Jacques on poléunitea, como se, 6 livro nao suscite hoje nenhunsa controvers Spengler jamais seria “tio presente © tio. Bouveresse aconteceu na década de 19, influente nos debates sobre o funuro «ia civilizagao antl do duplo cariter do Atelcavag: na Nao poderimos pensar de outs ma: sama de Spengler: “O cita Adorno: “Spengler percebe a epoca da dominagio universal neira se levassemos as tiltimas conseqtiGncias 0 a que @ a politica civihewds de aunt ens oporigay a polices cllavacla de onten? Na Antiguidade, a retrica: no Ocidemte, 0 jomalismo, © tudo resenia a poréncia cha civilizacae © dinheira”? Fis um bom caminho para entenier oH de setembre avaliarmos as contibuigdes que 0 Ociclen len AOS para entearmos em nos te excluido e 0 Oriente deram para a constituigaa cla civilizagho oc ©. por fim, conhecermos cuins tal: esclareverinos quem & o barbs civilizagoes, inclusive ay orientais: € apenas através de um espellanien to, de um reflexo, que podemos ver a nossa ims Os twéricos di civilizugao tendem & relaciona-la com os ConcEIIOS 1, pelt ma Mi heira de and Jf. pela critica dos maus costumes (cuspir, urinar e fazer ‘outras necessidadles em publicos, a proscrigao da poligamia, do cone binato e a0 elogio dos ideais cristios da temperanca ¢ la moderacio, Mas, part tlar dos funcamentos da civilizagaio no Ocidente, 18s nomes. sto absolutimente indispens.iveis: Erasmo, Montaig res. Em 1530, Frasmo escreve Cirifidade pucril, una especie de manual de boss mineicas destinado no apenas as criangas nele, Erasmo procura “hin chiro lame social sobre a aprendizageny de un céxligo comum de ‘bons ido. para todos”, No capitulo vu, diz: ee Des F vergonhoso para aqueles que sin de alta extragan nao ter costumes cor respondentes 3 sta nobreza. Aqueles cua forint os fe” plebeus, pessoas de condigio humilde, camponeses mesa, devem esforcar-se para car ss cecusour Nin, gucm escolheu seu pais nem seus pais: todo mundo pode adustir qual. dacles © costumes, Montaigne vai bem mais lon We: pe em evideneis a univers Iradigho entre instituicdes, leis © costimes, tornando-os relatives no espace eno Tempo. Assim, chil aus usos € Costumes UMA CONOLICAE POH acureza Leon: tie. Mais: consider os costumes “uma segunda A nawireza exige muito pouice para nossa conservagae [| permitame-nos aalgiomais e chamemos de n 1073s Costus €a SiTUAEAD pessoal HSE ims ssn os Inites Ue nossa aspiragoes, levande ert Conta 6 que KL Pos- ms. Parece-me desculpavel agin desse modo, pots os costumes so uma seginda natureza, tae pocterosa quanto 4 primeira, Se falta aquilo a que estou avostumado, Sinton protundanente. Assim, torma-se vhificil falar de etbilizaceio octental se esquecemos. esses és autores: Entsmo e seu cédigo de boas maneinis, Mortaigne © seu ceticismo © Descartes e sua idléia de liberdade individual ©. cons Hinigho dey Ssuyjelto". Livre clas antorich Jos «la imadigao, “praticandler dhivida metidica, o inclividuo consiti pessoalmente sti relago com o. mundo © com as OUtFOS. Misturado aos oUttOS, 0 individue & cake ver mais abandonado a si mesmo". Est € pois, a condigio do individuo, ocidental moderne, cheia de paracdoxos: ele & priblico mas procura pre Servar Seu anoniNATO, tem _USOS € CostuMES PrOprios Mts precisa sub: meterse a leis gertis cht sociedkide, & livre mas tem que se submeter as leis, «os usos © Costumes, reconhecer, enfin, os linites dt propria hber | patra st retlexsio sobre a civ lacie ocidental, que & 0 tluminismo, O século xem e suas revolugoes passim a Sera nkesmo tempo ponto de chegada € ponte «le patil para e que entendemos hoe « dale... ‘Tudo isso leva at um ponte cent 1 “eivilizacaes moderna ocilen — TT Se.6 que define 4 Europa é a submissio « ts influéneias — Koma, com suas normas. leis, 0 cits romans e a criagio de um nove homem politico; 0 crstianssmo e a conquista que empreendeu. que "Vist © atin ge © profunde da consciéneia”; e. por tim, a Grecia, a que devemos asso iodo de pensar © boa parte «ka constituiglo da ciéncit somos tambem “europeus denie —, enki podemos consice Nem © EUrOPEU, Mas que so tides tambem So trés conceitos que det como os pilates da edeia de “eivilizagao ocidental Rest a questi da modernidade Ow civilizacco moderna. Muitos pelecem uma rekigio jotima entie ewilrzagio © modernicla de. a0 definirem © homem modemno camo aquele que coexist ¢ coniradigdes € com uma desordem permanente, isto €, “conteadigoes hos pensamentos e incanseqiléncias nox atos’. © espirito do home moxiero, define Valiry test repleto de tendéneias © pensamentas que se ignoram, Se a idee da civihzagoes deve ser medida pelo numero de contradighes gue elas acu mulim, pelo numero de costumes e crencas incompativels que nels se reencontram ¢ se temperam ums a outta pela pliralickide das filosolias & ds estéticas que coexistem © coabitam nas Mesias eabecas, € precise reconhecer que nossa civilizacao é das nmais antigis. Nao se enconteam, & cada instante, em uma mesma Famili, mvitas relygides peaticuelas, muitas ragas juntas, diversas apinides politicas e, em um mesmo meividivo, todo tum tesoute de discéindias Sarentes? Valery esti definindo o que se eatende por bomen moderna, nas sua definiglo serve, centamente, pari a idéia de cirifizagde moderna Ela nos ajuda a esclarecer 0 11 de setembro, © nos ajuda tambem entender © que acontece hoje com a civilizagao ocidental moder « crista E evidente que a modernidade chegou avy limites de sus tedo. pe nando uma crise sem precedentes © sem exemplus nit hist6rit: 0 nix mo de intensidade © de velocidade pelo uso ila cicneia € da tecnicn Fm todos os lugares dominados pelo Espirito Europeu, veem-se apa recer o maximo de necessidadtes, 0 mxixime de trabalho, 0 mvixine de capital, © maximo de rendimenta, o miximo de ambigdo, 0 de poténeta, © maxim de modificagdn dea naturez exterior mo de relagdes © de trocas’ Waléry, A crise do esprit) Somus levidos a concorciar com Peter Sloterilik, que ilentitiea modernidade a vontade de pos fads intervencie da tecnocien dizer que a modernidade rncia de poder fazer, isto &, a wrnet ini nnetido fazer « histéria humana 2 par 16 tur de agora seria minimizatr os fatos, escreve Sloterdijk: “No mais pro- fundo de si mesina, ela quer nao apenas fazer hist6ria, mas igualmen tea natureza. |.) A idéia de fazer hist6ria no passava de um pretexto. CO objetivo decisive da modernidace & fa2 F isso que define a crise da civilizagio ocidental crista, ¢ Sloterdigk sponta alguns sintomas, dois dleles muito evidentes: 6 primeito € 6 que cle chama de era pos-crista, jl dignesticada pelo “jovem conservador Otto Petras", que dizia com pertinéncia, em 1935; "O cristianismo, esse movimento Impressionante que marcou a historia e que for o mais paderoso formador do nosso pl esgotou sua forga criadora. Vive mos fost Christian em urn sentide nis forte do que 6 do ealendrio” Sloterdiji: aponta como uma dis consegiitacias do pos-c mo a busca de um nove “renascimento” ocilental, vollado, desta vez indo sintonia apontascke por Slotendiik & 0. idle, "ineapaz de liberar a partir de si miestiia Contralorcas que barren a deriva tital Conter essa mobilizagho desentread da modernidade, Sloterdljk indie, a0 hide 12, O sey para 0 antigo Orie esgotamento moral da mod *virtades terapeuticas dos maclos de pensamento do Innge Onente™, ums ect alternuva da “boa mobilizugao”, ama espe civ de negugao ativa © eriadora Por fim, 2 novidade que nos leva a pensar nas inticoes geniais de Valery, Witgenstein © outtos sobre a erise dt cultura © a morte dt civ lizacau esi no apenas nas grandes ternstormacdes trazidas na idéia de espace, cheurtilo pels Novas techologss, 213 i mente. na addi de tempo, Valery vai bem mitis longe e torna-se bem mais richcal ae dizer que o mundo modermo aboliu ay duas muiores invenches dit hunianiciade, @ pasado © o futuro, © que representa part © homem viver em um presente eterno? O que significa a perda de sen: também, ou prinesp ido elo Hatta & do passade? Se isso € verdade, perdemos a memoria, a histéna © a possibiidade de projetos. No munde de dominio tenice, ho qual predominans a “pecersio”, at ripidez dos atos © a Muidez dos. pensamentos, existe a permanente producto do exquecitiento, decor s. principalmente, Aquile que, ain naw pensade, participa ca constnuigho do pensamen- to lembra inpensico A mais eficiente «Las restrigdes esta no dominio absolute do interesse amediato, pa conqussit imediaikt dos bens materials e, 00. phine das idéits. nt repetigaio de fi pensalo © nagunlo que se define © incorporido A viet funcional, Wt doo que est no reine do impreciso, do mars ou menos, do indeterm ado, do esquccinents parcial cas coisas e dlis adéias (esquecimento Fente de restrigoes ocults B40 $6 a0 peasamento Kes, percepcoes. sentidus, peojetos, o inclizivel, o invisivel, como “razoavelmente®, “eficazmei que fiz pute do pensamento) tendle a ser apagade pela mictonalidade 4 metafisica no homem", Merleaw fécnica. Fm ume nota 80 ensiio Hundidade que a ciéncia Ponty observa que Bergson mostro com deve ser considera nao apenas em suas fSrmulas acabadas, mas tam bem com st margem de indeverm: conhecer. Esse esforco ess tensio do conhecido e do que € dado a mgho que separa estas dos dados a todas as ativilacdes humans, orga esteanha, com: 20 espinio a voltar se para o macessivel conbecer valem par pleta Jean Starobinski, que le para uma espera sem nome E tre de atravessar meus limites provi Todo ato de criagio de obras ¢ ado pelo imperiase apelo da ausencit obms de pens meu apeute de ver mais. de recu Por em questo o ja vi sorios, que me incita Ora, fi se disse que pensar e ser dilerente do qu © que somos pelas contradigoes © Licunits do pensament ou, come escreve Valery nos Cahiers, "pelt presenga de coisits que, aint que vindo wo pensamento, no Sto pensamento”, No mundo dominado pele A repetico das mesinas imagens e fas, as “coisas silo abolidas. 0 diilogo “mado” do pensamento com ¢ apagade da mesma marcia come & apagada a relagie necessiria om isto €, © mundo social, cultural © pokinca Ou seja 1 possibilidacle de expor as idéias segundo a Hitencdo, expressat ides, jamais existe retomacht do pen ido das coisis. No mundo tecnici samento, mas sempre comego do mesmio E ceno que todo recomecc € mais dificil do que qualquer comego. "Sem st membri, sen a presen escreve Valéry, “sem a nogio contusa € iminente ¢a do ndo-presente de ser outra cols, sem a recuse meio implieita de delinir-se inteirimen nomento e pelos estados atuais — sem a espera que se liga at sem a impossibilidade dle escrever uina equacae te pelo n essa propriedade acabada — # consciéncia seri um caos, uma dor inexplicivel, um eer ase tanabsdan & abode & planemde, @ no comego” Como tile & luta do wm, que € sempre apresentade pelo munclo tecnico como nica ahermativa, 0 fa pensado, 0 ji sabido, © jd daulo, contra o nuiltiplo, que E constitutivo do aeaso, © que abre a pluralidacle de expressaa de cada coisa © de cada pensamento e do jamais pensadlo. Que outro nome dar a civilizagio wenoldgica que condus & clan: lo outro em destiniclade ay artes, a politica, a vic viviekt, a experiene nos (germe de uma civilizagio universal), senav ode batbsirie? Ws

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