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CONTRIBUICOES DA FENOMENOLOGIA PARA A PESQUISA NA PSICOLOGIA I. - Introducgao Os cientistas em geral almejam com suas investigages conseguir captar c enunciar 0 verdadeiro significado da realidade, ¢ na tentativa de alcangar esse objetivo varios so os meios que por cles tém sido utilizados. Entre esses destaca-se 0 método experimental, que, a partir do século passado, tornou-se o principal recurso para a investigagtio nas eiéncias da natureza, proporeionando-Ihes chegar a inumeriveis e relevantes descobertas sobre o mundo om geral. Gracas a estas, cle tem sido considerado, por uma grande parte de investigadores, como © método cientifico por exceléncia. Tal métode tem por pressuposto basic que 0 cientista e 0 seu objeto de estudo so completamente separados independentes; 0 cientista écomparavel aum espelho que reflete, de forma objetiva, os eventos que pretenda conhecer. Em decorréncia do grande sucesso aleangado pelo método experimental nas ciéncias da natureza, ele passou a ser utilizado, também, pela Psicologia, a partir do inicio de nosso século, fevando-a valcangar, desde entdo, importantes descobertas sobre o psiquismo animal ¢ humano. Essa utilizacao implica em considerar 0 ser humano como um objeto entre outros objetos da natureza, governado por leis que determinam os eventos psicoldgicos. Implica, portanto, em restringir 0 objeto de estudo da Psicologia aos aspectos externamente observ- veis do psiquismo humano, Porém, além destes, © psiquismo humano, que é muito amplo e complexo, apresenta outros aspectos que nao podem ser atingidos diretamente, pela obser- vagio extpma. Tal é 0 caso da vivéncia, ou experiéncia vivida, que s6 pode ser alcangada, diretamente, pelo proprio sujeito. Diferentemente dos animais e das coisas da natureza o ser humano nio vive apenas como uma roupa no armario, uma planta no vaso, ou um cachorro no canil. O homem, além de viverem determinado lugar, tem consciéncia de sua propria vida ¢ dos entes com os quais se relaciona, atribuindo significado aos acontecimentos de sua existéncia. O seu comporta- 58 YOLANDA CINTRAO FORGHIERI mento costuma revelar, extermamente, aspectos dessa sua experiéncia, porém, apenas de forma indireta e ineompleta, que pode levar o pesquisador a sérios enganos sobre a mesma. Shlien (1964) apresenta um exemplo simples para ilustrar esse lipo de ocorréneia, relatando 0 caso de um psicélogo que estava pretendendo fazer o diagndstico de uma crianga, observando-a, sem que o percebesse, no quinial de sua prépria residéneia, onde poderia comportar-se espontaneamenie. Notou, entio, que cla a prinefpio chutava as pedras do jardim, depois as plantas c, finalmente, pegou uma minhoca e comegou a corta-la ao meio, ‘com muito prazer. Considcrou que a crianca estava apresentando um comportamenio agressivo, no inicio em relagdo ds coisas inanimadas, depois ds plantas ¢ por dliimo, em nivel mais relevante, a um animal. Porém, como percebeu que ela estava murmurando algo, aproximou-se e conseguiu ouvi-la dizer, com grande satisfagio: “Pronto! Agora voc® jé tem um amiguinho!” Verificou, entdo, que ela nao pretendia destruir a minhoca, mas, simples- mente, dar-the um companheiro, ou tird-la da solidio. As sitnages que alguém vivencia niio possuem, apenas, um significado em si mesmas, mas adquirem um sentido para quem as experiencia, que se encontra relacionado & sua propria maneira de existir. Bo que podemos notar no caso acima relatado, assim como no exemplo, 0 qual 4 me releri, a respeito de uma frondosa paineira florida 20 ser contemplada por wna jovem romantica ou um madeireiro ambicioso, Ble a percebe como um valioso objeto que pode ser vendido por éiimo prego; ela visualiza a mesma drvore como propiciadora de aprazivel local para tim encontro com seu amado, O sentido que uma situago tem para a propria pessoa é uma experiéneia intima que geralmente escapa a abservagio do psicdlogo, pois, o set humano no € transparente; para desvendar sua experiéncia o pesquisador precisa de informagées a esse respeito, fornecidas pela propria pessoa, A investigagiio desse tipo de experiéncia, que constitui a vivencia, apresenta-se come um desafio para © método experimental que esta voltade para a observacio dos fatos e 0 significado destes, considerando-os em si mesmos. O método fenomenc!givo apresenta-se, entio, & Psicologia, como um recurso apropri- ado para pesquisar a vivéneia. Il - OMétodoFenomenolégicona Investigagaoda Vivéncia Nos dois capitulos anteriores, tratei dos fundamentos do método fenomenolégico, das possibilidades de sua transposigdo para o campo da Psicologia e do modo como dele me ulilizei para claborar um enfogue da personlidade. Retomo aqui, resumidamente, consideragdes Id apresentadas, ampliando-as em alguns pontos, a fim de inseri-las, especificamente no campo da investigagdo da viveneia de pessoas em determinadas situagées, tais como as de aprendizagem, medo, contentamento, contrari- edade ete. CONTRIBUIGOES DA FENOMENOLOGIA PARA A PESQUISA NA PSICOLOGIA, 59 A Fenomenologia surgiu no campo da Filosofia como um método que possibilitasse chegar A esséncia do préprio conhecimento, apresentando a reducao fenomenolégica como © recurso para empreender essa tarefa. A redugao fenomenoldégica consiste em retornar ao mundo da vida, tal qual aparece antes de qualquer alteragdo produzida por sistemas filoséficos, leorias cientfficas ou precon- ceitos do sujeito; retornar & experiéncia vivida e sobre ela fazer uma profunda reflexdo que permita chegar a esséncia do conhecimento, ou ao modo como este se constituiu no préprio tir humano, Ao fazer a transposigio do método fenomenolégico, do campo da Filosofia para 0 da Psicologia, o objetivo inicial de chegar a esséncia do proprio conhecimento passa a ser o de procurar captar o sentido ou o significado da vivéncia para a pessoa em determinadas situagdes, por cla experienciadas em seu existir cotidiano. Na Psicologia, nao ha o intuito de se “chegaraumesclarecimentofilosdfico-fenomenoldgico da estratara transcendental do ser humano enquanto ser-no-mundo, mas, sim, empreender wna andlise existencial ow enppirico-fenomenoldgica de formas concretas de existéncia’” Binswanger, 1973, p. 436.) Ao se utilizar da redugio fenomenolégica para investigar formas concretas de cxistén- cia, ow experigneias vividas em determinadas situagées, 0 pesquisador deve iniciar 0 sou trabalho vottando-se para a sua propria vivencia a fim de refletir sobre cla para caplar @ significado da mesma em sua existncia, Como diz Merleau-Ponty (1973), “é no contato com a nosse pripris experiéncia que elaboramos as noe fundameniais das quais « Psicologia se serve a cada momento.” {(p. 33.) Mas, para chegar a esse contato com a imediatez de sua vivéncia, € necessirio que © pesquisador procure colocar “entre parénteses”, ou fora de agtio, os conhecimentos adquiti- dos anteriormente sobre a experiéncia que estd investigando. E como “o maior ensinamento dda redug3o é a impossibilidade de uma redugao completa” (Merleau-Ponty, [971, p. 11), a redugdo fenomenolégica consiste, entio, “numa profiunda reflexito que nos revele os preconceitos em nés estabelecidos & nos leve a transformar este condicionamento sofrido em condicionamento cons- ciente, sem jamais negar a sua existéncia.” (Merleau-Ponty, 1973, p. 22.) Além de se utilizar da redugiio fenomenolégica para investigar sua propria vivencia, 0 pesquisador dela se utiliza, também, para estudar a vivencia de outras pessoas, 60 YOLANDA CINTRAO FORGHIERI 21 inipede que entre as coisas por mim vividas a reflexdo fenomenoldgica se E2vjlu para o outro, pois percebo o outro e suas condutas.” (Merleau-Ponty, 1973, p40) “Somos um para o outro colaboradores numa reciprocidade perfeita; nossas perspectivas deslizam uma na outra, coexistindo através de um mesmo mundo.” (Idem, 1971, p. 338.) Embora cada um de nés apresente peculiaridades relacionadas ao préprio modo de existir, também somos seres humanos semelhantes existindo num mesmo mundo; é esta estrutura comum que nos possibilita compreendermo-nos ¢ conhecermo-nos uns aos outros (Binswanger, 1973). Interpretando as formulagdes acima, do modo. como as compreendo, considero que a re~ dugdo fenomenoldgica, nocampoda Psicologia, constitui-se de dois momentos, paradoxalmeate inter-relacionados € reversiveis, que denomino de envolvimento existencial e distanciamento reflexivo. Ela inicia-se com o cnvolvimento existencial que consist no retorno do pesquisa- dor A vivéncia ¢ sua penetragdo na mesma; prossegue com o distanciamento reflexivo que consiste na reflexdo sobre a vivéncia ¢ na enunciac‘o de seu significado para a pessoa que a experiencia. Descrevo, a seguir, de forma minuciosa, no que consistem esses dois momentos. 1, Envolvimento existencial Este momento requer que o pesquisador, preliminarmente, procure colocar fora de agio os conhecimentos por cle jé adquirides sobre a vivéncia que esta pretendendo investigar, para entio tentar abrir-se a essa vivéncia e nela penetrar de modo espontancoe experiencial. E preciso que ele nao apenas se recorde dela, mas, procure nela emergir para revivé-la de modo intenso; é necessario, portanto, que procure ter com ela uma profunda sintonia, Em outras palavras, o pesquisador precisa iniciar seu trabalho procurando suir de umaatitude intelectualizada para se soltar 20 fluirde sua propria vivéncia, nela penetrando de modo espontineo e profundo, para deixar surgir a intuicdo, percepgio, sentimentos ¢ sensagdes que brotam numa totalidade, proporcionando-Ihe uma compreensio global, intuitiva, pré-reflexiva, dessa vivéncia, 2, Distanciamento reflexivo ‘Apés penetrar na vivéncia de uma determinada situacdo, nela envolvendo-se e dela obtendo uma compreensiio global pré-reflexiva, o pesquisador procura estabelecer um certo distanciamento da vivéncia, para refietir sobre’ essa sua compreensio ¢ tentar captar ¢ enunciar, descritivamente, o seu sentido ou o significado daquela vivéncta em seu existir. Porém, 0 distanciamento nao chega a ser completo; ele deve sempre manterum elo de ligagiio CONTRIBUIGOES DA FENOMENOLOGIA PARA A PESQUISA NA PSICOLOGIA 61 coma vivéneia, a cla voitando a cada instante, para que a enunciagiio descritivada mesma seja a mais préxima possivel da prépria vivéncia, Tal enunciacdo, portanto, nao deve ser feita em termos cientificos ¢ sim em linguagem simples, semelhante a que € utilizadana vida cotidiana, Os momentos acima deseritos tm como pomto de partida a vivéncia do proprio psicdlogo. Mas, como jé referi, anteriormente, 0 método fenomenoldgico também pode, ¢ costuma ser usado pelo psicdlogo para investigar a vivéncia de outra pessoa. Nesse caso, oenvolvimento existencial e o distanciamento reflexivo do pesquisador devem ser voltados para a vivéncia dessa pessoa. E possivel, ainda, ao psiedlogo envolver-se ¢ refletira respeito de enunciados emitidos por outros pesquisadores, decomentes de reflexdes feitas por estes sobre sua propria vivencia, pois, © cientista “est sampre situado, individuatizado e é por isto que necessita do didiogo; entrar em comunicagae com outras situagdes (vividase relatadas por outros filérofas ou + outros homens) é a maneira mais segura de wlirapassar seus limite." (Merlean- Ponty, 1973, p. 24.) Neste caso, o pesquisador parte dos enunciados do autor sobre determinada vivencia, procura penetrarna vivéncia deste, para comprecndé-os, relaciona-os & sua prépria viveneia © A de outras possoas, reflete sobre tudo isto e chega as suas prdprias enunciagdes a respeito do assunto. Considero importante esclarecer que, embora tenha descrito, separadamente, 0 envolvimento existencial eo distanciamento reflexivo para facilitaradefini¢ao de cadaum dees, na praticaambos so paradoxalmente inter-relacionados e reversiveis, nao chegando ahavercompleta separagiioentre cles, mas, apenas, predomindncia, orade um, orade outro. Apresento a seguir, de modo mais pessoal e particularizado, como tenho me utilizado do método fenomenolégico, considerando ser a reduco fenomenoldgica constituida dos dois momentos acima descritos, No envalvimento existencial procuro penetrar numa sittagao pela qual estou interes. sada em investigar, a fim de chegar 0 mais prdximo possivel da vivéncia da mesma, deixando de lado as andlises ¢ interpretagdies racionais, sejam clas cientiticas ou nao. Tal tentativa de penetragio diz respeito tanto a situagdes que me estio acontecendo no momento, como Aquelas que jé aconteceram, ov imagino que possam vir a aconteccr. O envolvimento pode, também, ocorrer de forma espontinea, on, em outras palavras, sem que eu me proponha chegar a ele, Quando o envolvimento ocorre em relaciio a uma situago vivenciada por outra pessoa — por mim presenciada ou por ela relatada — procuro nela penetrar pata partilhar da mesma © compreender como essa pessoa vivencia tal situagzo, de acordo com seu préprio modo de existi 62 YOLANDA CINTRAO FORGHIER! © envolvimento existencial com enunciagSes de um texto cientifico costuma surgir espontaneamente, quando, ao [é-0, sinto que algo me toca de algum modo, algo que diz respeito a minha propria vivencia ou Ade pessoas com as quais tenho convivido. Mas, cle pode surgir, também, quando propositadamente procuro averiguar o quanto as afirmagGes do autor podem ou ndo ser confirmadas na vivéneia acima referida. O distanciamento reflexivo ocerre logo upés o envolvimento existencial, quando deste procuro distanciar-me a fim de refletir sobrea viveneiae me deter nessa reflexiio para analisd- Jae enunciar descritivamente os significados, ou 0 sentido, que nela captei, intuitivamente, durante 0 envolyimento. Embora tenha desctito, scparadamente, o envolvimento existencial e o distanciamento reflexivo, julgo importante reafirmar que ambos so paradoxalmente inter-relacionados e reversiveis, convertendo-se 0 primeiro no segundo ¢ este novamente no primero, ¢ assim, sucessivamente, até chegar a uma descrigao que considero satisfatéria, no momento em que dou por terminada a minha tarefa. Isto no significa que a tarefa esteja completamente encerrada, pois a mesma poder ser retomada em momento posterior que me revele a necessidade de novos esclarecimentos. MM - Exemplodeinvestigag’o Fenomenolégicada Vivéncia A — TEMA: Contrariedade e beni-estar humanos B—JUSTIFICATIVA Comecei, em 1960, a me dedicar ao trabalho de empreender pesquisas fenomenolégicas da vivéncia de pessoas em determinadas situagées e, desde entio, meu interesse tem estado yoltado para oestudo de dois tiposde experiéncias contrastantes: o bem-estar ea contrariedade, A principio. preocupei-me, também, com situagoes nas quais eles podem ocorrer: a realizagio eafiusteaco nessoal.respectivamente. Empreendi, ao todo, seis pesquisas nas quais investi guei ora um ora outro desses dois tipos de vivencia, Apresentei ¢ discuti, em congresso, essas investigagdes. cues resumos foram publicados nosanais desses eventoscicntificos. (Forghieti, 1984, 1985, 1986. 1988. 199b1 A motivaciio par ‘sender essay pesquisas surgiu em decorréneia de ter notado em minha propria vida ¢ na ce meus clientes, [1 a constunte alternfineia de bem-estar ¢ de contrariedade; 2) 0 quanto esse ds experiéncia, quando vivenciados intensamente, exercem influéncias significativas ne desenvolvimento da personalidade, ota favorecendo- 0 ora dificultando-o. Paralelamente realizagdo de pesquisas. fui dedicando-me ao estudo da Fenomenologia Jo de um enfoque fenomeno- edesuas relagdes coma Psicologia, tendo chegado Aelabora l6gico da personalidade, no qual procurei reunir curacteristicas b ‘as do existir humana: 0 compreender, 0 temporalizar, o espacializar, o escolher ¢ 0 conviver, CONTRIBUIGOES DA FENOMENOLOGIA PARA A PESQUISA NA PSICOLOGIA 63 Todas essas atividades fevaram-me aaprofundarosconhecimentos cdesenvolvera prética nocampo dainvestigacao fenomenoldgica. Permiticam-me, também, chegara variosesclarect- mentos sobre a personalidade humana e aqueles dois tipos de vivencia que, até ento, cu vinha pesquisando, separadamente, mas havia percebido estarem muito relacionados. Decidi, ento, realizar uma pesquisa gue abarcasse tanto o bem-estar como a contrarie~ dade e me permitisse averiguar enuunciados contidos no enfoque da personalidade que eu havia claborado. E dessa pesquisa que trato, com pormenores, nesta parte do trabalho. C— OBJETIVOS Considerandoa contrariedadoeo bem-estarcomo dois tipos de vivenciadiferentese muito importantes, quesealternamna vidadaspessoase queaoseremexperienciadosdeformaintensa exercem influéneias significativas na sua personalidade, a investigagio teve por objetivo verificar 1 — guais as peculiaridades da vivéncia intensa de contrariedade ¢ de bem-estar, 2. que influgncias esses dois tipos de vivéncia intensa exercem na personalidade das pessoas que as experienciam D—METODOLOGIA O estudo foi realizado com dez estudantes de Curso de P6s-Graduagio em Psicologia, provenientes dos seguintes cursos de graduagdo: 1 de Filosofia, 3 de Enfermagem, 3 de Pedagogia e 3 de Psicologia. O material de estudo utilizado foi o relato pormenorizado de cada sujeito sobre sua vivencia intensa de dois tipos de experiéncia: a contraricdade ¢ 0 bem-estar. A metodologia utilizada fundamentou-se na redugdo fenomenolégica, de acordo com o modo como compreendo o seu uso na investigagao da viveneia em determinadas situagdes, queconsisteem focalizd-laatravésdoenvolvimentocxistencial edo distanciamento reflexivodo pesquisador. A descrigio dese meumododecompreenderareduezo fenomenolégicaencontra- seno item Hf deste capitulo; seus fundamentos podem serencontradosnoscapitulos Ile Hl deste livro. Apresento, a seguir, os passos que segui na realizagZo da pesquisa J. Obtengdo do Material de Estudo Um dos requisitos basicos da pesquisa fenomenolégica diz respeito 4 mancira como obtido 0 seu material de estudo, pois, devendo este ser constituido de relatos espontanieos & sinceros do sujeito sobre a sua vivéncia, alguns cuidados devem ser observados para que as informagdes por ele fornecidas sejam claras, auténticas © préximas de sua experiéneia imediata, 64 YOLANDA CINTRAO FORGHIERI Como 0 sujeito tem uma participagao direta e consciente no fornecimento do material de estudo, além de querer participar da pesquisa, é necessirio que ele compreenda a importancia desta ¢ de sua colaboragdo na mesma, ¢ sints alguma seguranga para poder se soltar uo fluxo de sua vivéncia ¢ para se dispor a relaté-la. E é 0 pesquisador quem deve proporcionar ao sujeito condigGes para que isto aconteca, Por isso, a redugio fenomenolégica, da qual se utiliza o investigador para empreender 0 seu estudo, precisa, de certo modo, ser praticada, também, por aquele que é sujeito da pesquisa. Assim sendo, é necessirio que este encontre-se em condigées: a) de “suspender”, ou colocar fora de agdo os seus conccitos e teorias sobre a experiéneia que pretende relatar; b) de penetrar na sua vivéncia e refletir sobre ela, para depois descrevé-la ou relaté-la Em outras palavras, 0 envolvimento existencial eo distanciamento reflexive devem ser utilizados pelo sujeito, a fim de conseguir fornecer relatos ou descrigdes que estejam 0 mais prOximo possivel de sua propria vivéncia; ¢ que, por esse motivo, devem ser feitos em linguagem simples, comum & vida cotidiana. Com ointuito de oferecer aos sujeitos desta pesquisa condigSes para que os scus relatos tivessem as qualidades acima referidas, realizei com cles duas reanides semanais, Naprimeira reuniao, forneci, no inicio, esclarecimentos sobre a contrariedade e 0 bem- estar, a importancia de seu estudo ¢ todos assumimos 0 compromisso de nao divulgarmos, forado grupo, osaconlecimentos que ali ocorressem. No final, solicitei que, durante asemana, procurassem se recordar de situagdes, nas quais tivessem vivenciado, de forma intensa, a contrariedade e 0 bem-e: considerassem ter sido a mais importante; depois, procurassem revivé-la de modo profundo e refletissem sobre essa vivéncia; tentassem, entio, fazer por escrito descrigio minuciosa da mesma, de forma espontinca, em linguagem simples, préxima a da vida cotidiana, desprovida de claboracées conceituais € interpretagSes cientificas. Essas descrigdes deveriam ser preparadas para o nosso encontro da semana seguinte. Na segunda reunido, solicitei que cada sujeito relatasse para o grupo a descriedo que fizera de sua vivéncia de contrariedade e de bem-estar intensos. Recomendei a todos que ouvissem, atentamente, o relato de cada colega, procurando compreendé-to e tentando observar:as possfveis semethancas e diferencas em relagdo d sua prépria vivéneia; os detaihes que poderiam Ihes fornecer indicios para ampliarem os seus relatos, mas, procurando sempre manter as suas proprias peculiaridades. No final dessa reunido, dois sujeitos entregaram-me seus relatos escritos, neles inserindo algumas ampliag6es; os outros os entregaram no dia seguinte, pois, pediram-me para reescrevé-los, alegando serem muitas as informagées que neles desejavam acrescentar As situages de vivéncia de contrariedade intensa contidas nos relatos dos sujeitos foram as seguintes: rompimento de relacionamento amoroso (3), morte de pessoa querida (2) . selecionando, para cada um desses tipos de vivéncia, aquela que CONTRIBUIGOES DA FENOMENOLOGIA PARA A PESQUISA NA PSICOLOGIA 65 doenga grave do sujeito (2), ou de pessoa querida (1), demissiio do emprego (1) reprovagioem exame de selego para ingresso na Pos-Graduagao (1). As de bem-estar foram as seguintes: casamento ou assungiio de compromisso amoroso (2),rompimento decasamento(1), recupera- ‘cdo da propria satide (2), ou de pessoa querida (1), realizagéo satisfatéria de empreendimento dificil na drea profissional (3), aprovagdo em exame vestibular (1). 2. Andlise compreensiva dos relatos sobre a contrariedade ¢ 0 bem-estar de cada sujeilo Esta foi feitaparacadaumdosdoistiposde vivéncia, pormeiodocnvolvimento existencial edo distanciamento reflexivo do pesquisador, descritos anteriormente. Apresento, a seguir, as ctapas que segui durante a andlise compreensiva dos relatos dos sujcitos. If Etapa: Descrigéio preliminar da vivencia de contrariedade e de benestar para cada sujeito. Inicialmente, fio relato inteiro de cada sujeito, procurando me envolvere penetrarna sua vivéncia, dele sentindo-me préxima, para chegara uma compreensio global c intuitiva de seu modo de existir durante as suas experiéncias de contrariedade e de bem-estar. Depois. fiz umareleiturade cadaum dos tiposde vivéncia, separadamente, de acordo com a seqiténcia na qual foram descritos pelo sujeito e me detive em cada parte do relato, que expressava a sua vivéncia na situagdo, e née apenas descrevia pormenores da mesma, Ao me deter, procurei envolver-me na vivéncia do sujcito ou nela penetrar para captar, intuitivamen- te, o seu significado para ele. Depois, refleti sobre a mesma a fim de enunciar 0 significado que havia captado intuitivamente, envolvendo-me e distanciando-me quantas vezes percebi ser necessario para conseguir este meu intuilo. Ap6s enunciar os significados captados nas varias partes do relato, fiz uma articulagio entre eles e cheguei a uma desctigiio da vivencia do sujeito que englobasse a todos. Assim procedi em relagéio a cada um dos dois tipos de vivéneia: a contrariedade ¢ 0 bem-estar. 2! Etapa: Averiguagao dos dados levantados na etapa anterior e elaboragiio a descrigio final dos dois tipos de vivencia para cada sujeito, Submetidapreciagio de cada sujeito os significados que capteie enunciei nas varias partes de seu relato € a descrigao que elaborei de sua vivencia, baseada naqueles significados. Estabeleci com ele, didlogo a esse respeito ¢ solicitei que me apresentasse, sempre que julgasse necessirio, complementagées, cortes ou corregées dos dados que cu havia elaborado, ‘Tendo em maos esta aprociagiio feita pelo sujeito, reelaborei, com a sua colaboragio, os significados ¢ a descrigfio que eu elaborara, inicialmente, sobre a sua vivencia, tanto de contrariedade como de bem-estar. 66 YOLANDA CiNTRAO FORGHIERI 3" Etapa: Descrigito da vivéncia de conivariedade e de bem-estar para o grupo. Comparei os significadoseas descrigGeselaboradas por todos os sujeitos nactapaanterior encles procurei verificarse havia elementos que fossem comunsasuamaioria. Comoenconirei apresenca desses elementos, deJes me utilizei para elaborar uma descrigo da contrariedade e outra do bem-estar, que caracterizassem esses dois tipos de vivéncia para 0 grupo de sujeitos estudados, E— RESULTADOS Aandlisecompreensivado relatodecadasujeitoeacomparagaoentre osdados levantados parao grupo, com registra dos elementos commun 4 sua maioria, permitiram-me chegara Virios esclarecimentos sobre peculiaridades dacomtrariedadee dobem-estar,bemcomods influéncias que exercem na personalidade dos sujeitos, Apresento-os.a seguir. 1 — Emprimeiro lugaro estudo permitin verificara constante ¢ paradoxal alternancia da contrariedade ¢ do bem-estar na vida dos sujeitos. Ha em todas os relatos a presenga de uma segiiéncia de situagGes nas quais 0 sujeito passa de uma para outra dessas diferentes experiéncias, ora com maior, ora com menor intensidade. Assim, porexemplo, para relataruma vivéncia de contrariedade, o sujeito refere- se a um estado anterior de bem-estar ¢ vice-versa; € quando esté terminando o relato de um cesses dois tipos de vivéncia, deixa transparecer indicios do aparecimento da outra. 2 — Verilicou-se, também, a existéncia de caracteristicas préprias a cada uma dessas experiéncias, quando vivenciadas intensamente. Assim, o bem-estar intenso revelou ser vivencia de plenitude ¢ tangiiilidade, durante a gual o sujeito compreende globalmente o sou existir; encontra-se em sintonia consigo, as coisas © as pessoas; visualiza amplas possibilidades de prosseguir existindo; senle-se livre para fazer escolhas. Inversamente, a contrariedade revelou ser vivéncia de restrigio ¢ anguistia, durante a qual 0 sujeito niio consegue compre- ender o scu existir, encontra-se alheio a si, as coisas e ds pessoas; nvio visualiza possibilidades de prosseguir existindo, sentindo-se oprimido e sem recursos para tomar decisées. 3 — Asconstatagées do item anterior permitem ressaltar arelevancia doenvol yimento c sintonia do sujeito com a situag%o que estd vivenciando, para conseguir compreendé-la, 0, em ontras palavras, pata captar o significado desta em sua existéncia. Verificou-se, nos relatos sobre a vivencia de bem-estar, que os sujeilos encontrayam-se envolvidos ¢ sintonizados com a situacao que estavam experienciando. Inversamente, todos eles revelaram estar aflitos e atheios a sua CONTRIBUIGOES DA FENOMENOLOGIA PARA A PESQUISA NA PSICOLOGIA 67 experigncia, quando estaeradeintensacontrariedade. Porém, a partirdomomento ro qual conseguiram envolver-se nat siluacdo e sintonizar-se com ela, embora sentindo-se profundamente tristes, comegaram, gradualmente, a sentit-se trangiii- los, acompreender oseusoftimentoeateresperancasde poderentrenté-loesuperd- Jo, Em outras palavras, a partirdo momento em que estabeleciam sintonia coma situagdo eo seu préprio sofrimento, os sujeitos comegavam, lentamente, a passar da afligio paraa tranqiiilidade, da contratiedade para o bem-estar. 4 — Muito relacionada as averiguagGes acima apontadas, encontra-se @ constatagao feita, nos relatos de todos os sujeitos, da grande importincia do enfrentamento das situagdes de contrariedade para 0 amadurecimento da personalidade. Para que este acontega é necessério que a pessoa consiga abrir-se as miltiplas possibilidades de sua existéncia, Isto acontece durante a vivéncia de bem-estar profundo, Entretanto, quanto mais intensa for a contrariedade € quanto mais corajoso 0 seu enfrentamento, maior € mais intensa é a vivencia de bem-estar e © amadurecimento pessoal decerrentes dessa luta. Esta constatagdo foi encon- trada mesmo quando o sujeito relatou nfo ter conseguido éxito na sua tentativa de conguistar o que pretendia, ou de recuperar algo que havia sido perdido na situagiio de intensa contrariedade. Enfrentar a der e 0 sofrimento € neles cnyolver-sc constituiu-se, para 0 sujeito, em experiéneia suficiente para refletir sobre eles, dar-thes significado ¢ encontrar alguma forma de supert-tos, com a abertura a outras possibilidades de sua existéncia. 5 — A esse respeito considero, ainda, de grande importancia assinalar que, para varios sujeitos, a angtistia ¢ © softimento, provocades pela vivéncia de intensa contrariedade, foram tio profundos que eles chegaram, por instantes, a desejar morter, ou dar cabo da propria vida. A presenga de pessoas que os acolheram & ihesderamapoio foi poreles referida como muitorelevante paraorestabelecimento de sua vontade de viver A compatago entre as constatagdes acima descritas e 0 enfoque fenomenolégico da personatidade permitiram-me verificar a confirmagdo de varias das formulagdes nele apresentadas. Entre estas, merecem destaqe: | 1 — Oaparecimento: a) das quatro caracteristicas basicas do existir, o compreender, 6 temporalizar, o especializare o escolher; b) das maneiras de existir preocupa- da, sintonizada e racionai 2 — As relacdes existentes entre o bem-estay intenso e a abertura 4 atualizacio das caracteristicas bisicas do existir, e a restrigao a esta encontrada nos momentos de contrariedade profunda. 68 YOLANDA CINTRAO FORGHIER! 3 — Apredominanciada maneirade existirenvolvidae sintonizada durante a vivéncia de bem-estar intenso e do alheamento ¢ angiistia durante a vivéncia de contrarie- dade profunda. Devido ao alheamento e restrigdo acima referidos, os sujeitos, enquantoencontravam-sesob oimpactode intensacontrariedade, nfoconseguiram. cenvolver-senasituacdode sofrimento; porisso, nfioconseguiram, também, captar o seu significado, refletir sobre ela ¢ encontrar recursos para enfrenti-la. 4 — Apresenga da altemancia de vivéncias paradoxais no decorrer da exisiéncia dos sujeitos, ou, em outras palavras, 0 quanto durante sua vida foram surgindo vivéncias com qualidades opostas, alternando-se, continuamente. Assim, veri- ficou-se a passagem da contrariedade para o bem-estar, dt angdstia para a trangiiilidade, da tristeza para a alegria, ou vice-versa, Os resultados desta pesquisa confirmaram, com maiores eselarecimentos, constatagées que cu havia feito em estudos anteriores nos quais investiguei, separadamente, 0 bem-estar ou a realizagao pessoal (Forghieri, 1984) e a contrariedade ow a frustracdo pessoul (Forghieri, 1985, 1986, 1988). io me foi poss{vel comparar os resultados acima referidos com os de outros autores, por nao ter encontrado, na bibliografia sobre investigagées fenomenoligicas, estudos sobre os temas aqui tratados, que tivessem sido empreendidos com o emprego do método fenomenolégico, Emborao trabalho tenha sido feito com pequena quantidade de sujeitos, por seresta uma condigdo imprescindivel para analisar compreensivamente a vivencia de pessoas, considero que ele permitiu chegar a significativas constatagdes sobre os sujeitos estudades, mas que, também, fornecem subsidios para a compreensdo de outros individiaos, em situagdes de experiéncias de contrariedade ou de bem-estar intensos. Porém, outras investigagses precisam, ainda, scr realizadas para que possamos obter maiores conhecimentos sobre esses dois tipos de vivéneia, tio importantes na existéneia dos seres humanos em geral, que surgei e se.alternam, constantemente, em nossa vida cotidiana, IV - Levantamento de Trabalhos sobre Pesquisa Fenomenolégica no Campo da Psicologia A— INICIO E DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA FENOMENOLOGICA A pesquisa fenomenoldgica no campo da Psicologia é relativamente recente, pois as primeiras publicagGes sobre esse assunto comecaram a aparecer a partir da década de setenta, nos Estados Unidos da América (EUA) CONTRIBUIGGES DA FENOMENOLOGIA PARA A PESQUISA NA PSIGOLOGIA 69 Entietanto, na drea da Psiquiatria, a investigagdo fenomenolégica surgiu na Europa, contemporaneamente ao surgimento da propria Fenomenologiamodema, que ocorreunocampe da Filosofia, com Husserl, no inicio de nosso século. Seu primeiro trabalho sobre 0 assunto, Investigagées Légicas, foi publicado em 1901 jéem 1913 0 psiquiatra Jaspers, aplicando 0 método fenomenoldgico de Husserlaoestudo da vivenciapatolégica, publicouasuaPsicopatologia Geral, que marcou o surgimento da Psiquiatria Fenomenolégica Em 1923, apareceuo primeiro dos numerosos trabalhos do psiquiatra Binswanger, nesse campo ¢ cerca de vinte anos depois surgiram os de Boss, Minkowski, Buitendjk, Sttaus etc, (Spiegelberg, 1972). Facoreferénciaacsses trabalhos, pois, emborapertengamaocampo da Psiquiatria, contém significativas formulagdes sobre o psiquismo humano, tanto patolégico como normal, que fornecemsubsidios importantes paraa Psicologia, bem como fundamentos paraaelaboracéiode sua propria metodologia para investigar a vivéncia. ‘O material bibliografico sobre investi gagaio fenomenolégica da vivencia surgiu, aqui no Brasil, a partir de textos dos psiquiatras curopeus, acima referidos, em livros que, em sua grande maioria, foram traduzidos ¢ editados nos EUA, tais como os de Binswanger (1963) € Boss (1949, 1963). No que diz respeito a esse tipo de investigacéio no campo da Psicologia, a bibliografia estrangeita sobre 0 assunto é proveniente, também, dos EUA onde sio numerosos os trabalhos realizados na Duquesne University: estes tém sido publicados em livros, tais como os de Kam, van (1978)¢ 0s organizados por Giorgi (1977, 1978, 1979, 1983, 1983) e Ashworth (1986), Além desses livros, sao importantes, também, os de Gurwitsch (1978), Spiegelberg (1975) ¢ o que foi organizado por Valle, R. S.e King, M. (1978). Entre os periddicos americanos, cuja especialidade & 0 enfogue fenomenolégico em Psicologia, encontram-se 0 Research in Phenomenology, 0 Journal of Phenomenological Research ¢0 Review of Existential Psychology and Psychiatry. Aqui no Brasil, o introdutor pioneiro das idéias de Heideggere de Binswangerno campo da Psicologia foi 0 Professor E. Portella Nunes, em 1963, com a Tese de Livre-Docéncia intitulada “Fundamentos da Psicoterapia” (Ver obras do autor nas ReferGneias Bibliogrsificas). Ainda no Rio de Janeiro, surgiu em 1969 a primeira publicaao sobre Fenomenologia relacionada & Psicologia, da qual se tem conhecimento, em trabalho de Zacaria Ali Ramadam, intitulado “Aspectos Existenciais do Suicfilio”. Eie possui varias outras publicagdes em Sao Paulo, conforme Referéncias Bibliograficas. Também em Sio Paulo, surgiram, a partir do inicio da década de setenta, pesquisas fenomenolégicas no campo da Psicologia, com o Professor Joel Martins em teses de doutorado ¢ dissertagées de mestrado de seus orientandos da Pontificia Universidade Catdlica de S20 Paulo, Ha na biblioteca dessa instituig&o uma grande quantidade de estudos desse tipo. entre os quais alguns foram transformados em livros, como os de Olivieri (1985): Meira ¢ 1983); Beaini (1981). O referido professor mantém até hoje esse tipo de atividade, que exeroeu, também, durante alguns anos, na Universidade de Campinas, Ele publicou, com 70 YOLANDA GINTRAO FORGHIER! Bicudo,umlivro{Martinse Bicudo, 1989) que contém importantes informagies sobre ométodo fenomenolégico e sua utilizacao na Psicologia, tendo, também, prestado sta colaboragiio em outros livros que tratam de assuntos relativos Fenomenologia (Martins, J.e Dichtchekenian, 1984; Forghieri, Y.C., 1984; Martins, J. e Bicudo, M. A., 1983). Maria Femanda Beirio Dichtchekenian, professora da PUC-SP, fndou o Centto de Estudos Fenomenolégicos de $40 Paulo; possui varias publicagdes sobre o assunto. ichichekenian, 1988; Martins e Dichtchekenian, 1984). Ainda na UNICAMP. Antonio Muniz de Rezende tem, também, orientado trabalhos com enfoque fenomenologice na rea da Psicologia da Educagdo, tendo publicado estado fenomenologico que cmpreendeu sobre a Educagiio (Rezende, 1990), 11d ainda, teses disscrtagées fanomenoléeicas realizadas nessa Universidade e que foram transformadas em livros. tais como os de Amatuzzi (1989) ¢ Franca (1989) Nal desenvolvice -balhos nos quais estabelece relagdes entre Fenomenologia e Psican -vecimentos sobre o métodofenomenotégico (Stein, 1984, 1979). Nessames ‘liam Gomes tem realizado investigagdes fenomenoldgicas sobre pracesso Gomes, 1988, 1990). de Psicologia da Universidade de Sio Paulo (PUSP), Yolanda Cintrzo deste trabalho, a partir de 1980 comegou a se dedicar a realizacio de snol6gicas, cuja divulgacio tem sido feita em livro (1984a), artigos em cas (1992a, 1991, 19894), Tese de Livre-Docéncia (19915), resumes em nuais da SBPC (1992b, 1990, 1989b, 1988, 1985, 19846); amais do T mo do IPUSP ¢1991e). Iniciou, também no IPUSP, & partir de 1982, a 1] de Teses de Doutorado (TD) e Dissortagdes de Mestrade (DM). Este tiltimo ‘ havia realizadona PUC-SP, no periado de 1978 a 1986, Hé nas bibliotceas ades wabalhos de seus orientados, realizados com a utilizagio de metoda- ipia, L.ER.: Aneona-Lopez, M.: Valle, E.R; Teixci G: Yehia,G.¥.;Pati, VT; Heller, K.A.; Gomes, M.P.e Kitlo, MLL (Ver -ficas para maiores detalhies) « brasileiras sobre o assunto, como as que ja foram referidas, hd aqui ‘sta Daseinsandlyse, editada pela Sociedade Brasileira de Andlise e Terapia Ex gue se dedica a textos fundamentados na Fenomenologia do filésofo Heideggere dopsigaiatra Boss, pesquisas ienomenolégicas realizadas aqui no Brasil emsidodivulgadas,esporadica- mente, emalguns periddicos nacionaisde Psicologia, nfoespecializadosem Fenomenologia, tais como: Arquivos Brasileiros de Psicologia, Psicologia: Teoria e Pesquisa, Revista Brasileira de Pesquisa em Psicologia, Temas, Entretanto, 0 maior volume de material nacional sobre ada vivnciaencontra-seentre’Teses de Doutoradoc Dissertagdes de Mestrado de varios Estados. em So Paulo ee CONTRIBUIGOES DA FENOMENOLOGIA PARA A PESQUISA NA PSICOLOGIA 71 B— REVISAO DE PESQUISAS REALIZADAS Neste tem inclufestudos realizados no campo da Psicologia que, com certs flexibilidade, considerei como sendo investigacdes fenomenoldgicas, porapresentarem as seguintes caracte~ risticas reunidas: — Tém como suponte tesrica, fildsofos e/ou psiquiatras e psicdlogos pertencentes a Fenomenologia. — Definem com clareza seus objetivos. — Utitizam-se de metodotogia na qual: 4) 0 material de estudo consttui-se de descrigdes minuciosas da vivéneia de proprio pesquisador ou de outras pessons; b)_osprocedimentossio fundamentadosnométodo fenomenolégicocapresentados com pormenores, Entre os estudos acima referidos no foram incluidos, portanto, aqueles que possuem cunho meramente tedtico, bem como os que no apresentam, com clareza, seus objetivos e ho descrevem, com pormenores, a metodologia utilizada. a- Material Examinado Para elaborar este Jevantamento de pesquisas, utilizei-me de consuita ao seguinte material bibliogréfico sobre 0 assunto, ao qual me foi possivel ter acesso nas principais livrarias de So Paulo ¢ nas bibliotecas da PUC-SP e do IPUSP: 1 — Livros de autores nacionais (LN). 2 — Livros de autores estrangeiros (LE). 3 — Capitulos de livros organizados por autores estrangeiros (CLE). 4 — Antigosempertédicosamericanosespecializadosem Psicologia Fenomenoldgica (APA). 5 — Artigos em periédicos nacionais (APN). Foram consultados os seguintes per dicos: ~ Arquivos Brasileiros de Psicologia, da Pundacio Getilio Vargas, do Rio de Taneiro. + Boletim de Psicologia, do Instituto do Psicologia da USP. ~ Caclernos do Centro de Filosofia e Ciéneias Humanas, UF do Pari, ~ Cadernos de Pesquisa, da Fundag%o Carlos Chagas de Siio Paulo. ~ Cadernos de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais Caciemmos PUC- Psicologia, da PUC de Si Paulo. 72 YOLANDA CINTRAO FORGHIERI Ciéneia e Cultura, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciencia, - Estudos de Psicologia, da PUC de Campinas-SP. ~ PSICO, da PUC do Rio Grande do Sul. - Psicologia, do Instituto de Psicologia da USP. ~ Psicologia: Teoria ¢ Pesquisa, da UF de Brasilia. - Revista Brasileira de Pesquisa em Psicologia, das Faculdades de Educacio e Cultura do ABC-SP. ~ Revista de Psicologia, da UF do Ceari. Temas 6 — Teses de Doutorado de Universidades da cidade de Sa0 Paulo (TD) 7 — Dissertagdes de Mestrado de Universidades da cidade de Sto Paulo (DM). 8 — Teses de Livre- Docéneia do Instituto de Psicologia da USP (LD). Os pariddicos examinados, as Teses e as Dissertagdes abrangem o periodo de 1980 a 1991: os livros abrangem, também, a década de setenta. Dos periscicos americanos, consulted apenas aqueles especializados em temas fenomenols Quanto aos brasileiros, inclu’ todos os periédicos de Psicologia que encontrai. Embora te" plangjado, a prinefpio, incluir nesta parte do trabalho apenas as investi- gagdes reali 2 Brasil, considerei, posteriormente, ser oportuno incluir, também, pesquisis feitas nos Estados Unidos da América, em virtude do farto material sobre o assunto ldexistente ¢ que tem sido divulgado em nosso Pais, Julgo ser esta ampliagAo bastante titil para abrir perspectivas a *speito de temas que ld vém sendo e aqui ainda nao foram investigados, bem como parao forrecimento de informagdes sobre a utilizacdo do método fenomenolégico na Psicologia Quanto as Teses de Doutorado e Dissertagiies de Mestrado, inclut apenas as do TPUSP- © as de cursos de Pés-Graduagtio em Psicologia da PUC-SP, porque nio me foi possivel ter acesso a esse tipo de trabalho em Universidades de outras cidades «lo Estado de So Paulo, assim como do existente em outros Estados. As Teses ¢ Dissertagées que foram publicadas sob a forma de livro ou artigo aparecem apenas nestes tipos de divulgagio. Nao inclu, também. pesquisas constantes de resumos de Anais de Eventos Cicntificos, tais como os da SBPC, per ter verificado nao ser possivel constatar, na maioria dos resumos, pormenores sobre a sus metodologia que me permitissem classificé-los como investigacao fenomenoldgica da vivéncia Embora o ievantamento que elaborei nao inclua trabalhos de todo 9 nosso Pats, cle abrange, pelo menos, a consulta Aqueles que foram publicados em periédicos de Universida- des dos seguintes Estados: Brasilia-DF, Minas Gerais, Ceara, Para, Rio de Janeiro ¢ Sao Paulo. CONTRIBUIGOES DA FENOMENOLOGIA PARA A PESQUISA NA PSICOLOGIA 73 b — Classificagtio das Pesquisas.* As pesquisas foram agnupadas em itens, de acordo. como tipo ce situacdia vivenciada elou o principal tema focalizado. Apés cada subitem é referido o autor e a modalidade de trabalho, coma sigla que foi apresentada na parte relativa ao material utilizado. 1 —A Vivéncia do proprie Pesquisador 1.1 — Como profissional:Amanuzzi, M_-LN; Ferghieri, ¥.C-LD, Morato, HTD. 1.2 — Comoaluna: Angelo, M-DM. 2 — Aprendicageme Situagdes Escolures 2.1. — Aprendizagem: Rocha, M. A.-D Radley, C.-APA; Gior 2.2 — Leitura: Colatzzi, P.F-CLE; Silva, E. T-LN. ‘Aanstoos, C,-CLE(), APA; Radley, C-APA;Pati, V.T-DM. 24 — Alunas em Curso Superio Psicologia: Heller, KA-DM,; Kato, M, L-DM Pedagogia: Franca, C-LN. Orientagio Edueacional:Sapiro, CDM Estagio: Teixeira, M. B-TD; Yehia, G. ¥-DM, 25 — AEducagio:Rezende, A-LN. 2.6 — A Tecnologiada Educagio: Mella, 1. G.-DM. 3. — Caracteristicas do Existir 3.1, — Compreensiio: Augras, M.-LN; Denne, J, M.e Thompson, N. L-APA. 3.2. ~ Expacialidade: Benswanger, E, G.-CLN; Lacerda, §.-DM. 3.3 — Linguagem, discurso:Beaini, 7-LN; Paschual, N.-TD. 3.4. — Ser-com: Ashworth, PAP: .N.M,coutros-APA, Becker, C.-CLE; Halling, S- CLE; Kam, A. van-LE; Sifva, M, Z-DM. 3.5 — Temporalidade:Queluz, A, G.-TD. 4 —~ Criatividade e Arte 4.1 — Ante: Frayze Pereira,J.A-1D. 4.2 — Criatividade: Conrad,S. D-APA 4.3 — Representagiio musical: Osborne, J. W.-APA, 5 — Doengase Mal-Estar Fisico e/ou Pslaquicn 5.1 — Atitude domédico: Olivieri, D. P-LN 5.2. — Desconfianca: Koning, A.J.-CLE, 5.3. — Fhurese: Otiveira, C.M.-DM. 54 — Gagueira:Metro, M. I-LN. 5.5 — Hanseniase: Mendes, f.J-TD. i,A~CLE, Os trabathos nacionais encontram-se em grfe, As referencias bibliogricas dos 89 irbelhos ulilizados nesta lassficagio de pesquisas nia foram aqui incluidas, para ndo tornar exageradamente extensa 2 bibliogratia dese livre, Elas podem ser encontradas mo artigo que eserevi sob 0 assunt, inttulades“I evantamente e Casificagao de Pesquisas Fenomenolégicas no Campo da Psicologia", que pode ser enconttako na Reva Brasiletra de Pesquisa em Psicologia, Volume IV, miinero 3, de 19925 74 YOLANDA CINTRAO FORGHIER! 5.6 — Menstruaciio: Montgomery, J.D.-ARA. 5.7. — Obesidade: Gomes, M. P.-DM; Melco, T. G-DM. 58 — Proibigdes: Wertz, F.J-CLE, 59 — Psicopatologia:Ramadant,Z. A.-APN; Zaturen, FJ. vaa-CLE. 5.10 — Timidez: Guglietti-Kellyeoutto-APA. 6 — Estados Emocionais Intensos 6.1 — Angtistia: Donne, J. M.-APA: Fisher, W. B-CLE; Fapia, L, ETD, 62. — Avto-Estima: Mruk, C.1-CLE. 63. — Contrariedade:Forghiery, ¥.C-APN. 64 — Decepgao: Fisher, W.F.-CLE. 65 66 — Morte, perspectiva de, luto: Brice, C. W-APA:Boemer, M. R -LN: Kluber-Ross, E.~ APA. 6.7 — Solidi: Di Doménico, V.G.-DM. 68 = Suicidio,tentativade:Angeranti, W.-LN:Ramadam, Z.A.-APN, 69 — Tirania: Hagan, T-CLE. 6.10. — Vitimizagdo: Fisher, C.T.e Wertz, F.-CLE; Wertz, F-CLI. 7 — Migrantes: 7.1 — Estrangeiros: Polyzoi,E.-APA. 7.2. — Brasileiros: Mahfoud, M-DM. 8 — Maternidade efou Paternidade 8.1 — Emsituagiocomum: Caruso, I.-TD; Jessner, L, N.-APA; Giorgi, A~CLE. 8.2 — Emsituagdo de doenga fisica e/ou Psiquica do filhoa): Ancona-Lopez, M.-TD; Gtuzio, T. -DM; Valle, E. R.-TD. 9 — Prtcodiagn 9.1 — Cupertina, C.M.B.-DM. 1 — Bors, D. AAPA: Medeiros, 8. A. PN; Ramadam, Z, A.-APN, — Comentarios Este levantamentode trabaliios permite constataraexisténcia de considerdvel quantidade de investigagdes fenomenoldgicas realizadas na iltima década: 89 pesquisas, entre as quais 39 sio estrangeitas ¢ 50 sfio nacionais. E convém lembrar que este estudo abrangeu apenas 0 material que me foi possivel consultar, o qual ndo incluiu trabathos realizados na Europa, teses, © dissertagées dos EUA e de muitos Estados do Brasil, além de resumos de pesquisas apresentadosemeventos cientificos, CONTRIBUIGGES DA FENOMENOLOGIA PARA A PESQUISA NA PSICOLOGIA 75 Quanto’s éreasda Psicologianas quais.aspesquisas foramrvalizadas, verifica-sequeelas ovorreram, com freqiiéncia, nas de Psicologia da Educagao e de Psicologia Clinica: isto niio aconteceticomaPsicologiado Desenvolvimento, pois foram encontradasapenastrés pesquisas com criangas (Queluz, A. G.; Oliveira, C. M.; Benswanger, E. 0.), uma com adolescentes (Paschoal, S.) ¢ tés com idosos (Bors, D. A.; Medeiros, S. A.; Ramadam, Z A). Considero natural o ato, em relagao as criangas, uma vez que o material de estudo da investigacio fenomenoldgica ¢, principalmente, o relato pormenorizado do Sujeito sobre s a vivéncia, para cuja claboragdo grandes dificuldades sto encontradas, se for necessdrin gue ele seja fomecido poreriancas, Quanto aos adotescentes e aos idosos je ncio ocorre essa limitacio, motivo pelo qual considezo que seria importante que fossem incrementadas pesquisas nessas duas faixas ctarias, principalmente a de idosos, quando a quantidade deles vem se tornando cada vez maior. Acresce, ainda, que conforme a pessoa inicia o enfrentamento da velhice, mudangas significativas comeeam a ocorter em sua existéncia, para cujo conbecimento ¢ compreensio a pesquisa fenomenoldgica da vivéneia poderia trazer importante contribuigdo Outro fato que se observa neste levantamento éa grande quantidade de pesquisus que focalizam a angiistia, a contrariedade c a situagiio de tr steza e sofrimento do ser humano caauséncia de pesquisas voltadas para oestudo da alegria, da tranggilidade cdo bem-estar, Isto mostra a influéncia marcante do movimento existencialista sobre a investigacdo fenomenoligica. Penso que os tltimos temasacima referidos, queconstituemas experién- cias agraddveis daexisténcia humana, mereceriam ser investigados. A autoradeste trabalho chegoua fazer duas pesquisas sobreo assunto, umaa respeito da realizacdio pessoal coutia sobre o bem-cstar, mas que n&o foram incluidas nesta classificagio por terem sido Publicados, apenas os seus resumos (Forghieri, 1984b; 1992c); elaborou, também, um artigo sobre o bem-estar que nao continha pesquisa sobre o mesmo (Forghieri, 19922) Dados Internacionais do Catalogagéo na Publicagse (CIP) (Camara Brasileira do Livro, 52, Brasil) Bsicolagia Fensncnolégica: fundancntce, mateo pescuisa / Yolanda Cintrgo Yerghierl. -- 10 Feulo: Pioneiva Shonson Learning, 20 nor. GA 1, od. 0 1993 Sietiogvari= Tsou 65-221-0263-9 1. Fexoxenslou!a 2. Fexonenolog!a exiscencial 3. Matecialisno 1. Psicologia 5. Peicolegia crinica 5, veicolegia cxistencial I. ttvte. | eorgntert, ‘olanén cinrxto j | | | indice para catslogo sistenttico:

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