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NOVA HISTORIA em perspectiva Orgunizagaa # introducas FERNANDO ANTONIO NOVAS © RODERIO OMASTIER! pa SIL COSACNAIFY possamos ir além das “inevitiveis”forgas da urbanizagi, ca mercanilizagaa ¢ daindustrialzagio como os responsiveis por todaa tansformaso. Quando ctharmos para un conjunto de simbolos ou atosstuas explicados apenas en ‘um contexto de uma cultura estivel, que especulemos sobre © que poderiam significar em uma situacio de mudanga e contzovérsi, De fato, o impacto da antropologia em minha propria reflexao histori. | grifica tem sido o de reforgarmeu senso nio de um passado imutivel, masda. | variedade das experiéncias humanas, Existem conjuntos de relagbes que se pode conceber como possiveis, mas que esquemas evolutivos no necessa- riamente comportam. Mercados nem sempre expulsam a didiva, 0s centros rnem sempre elitninam as localidades especifcas; e a histéria nem sempre toma o lugar do mito, A antropologia pode ampliae as possibilidades, pode ‘nos ajudara trar vendas de nossos olhos e nos proporcionar um novo lugae para ver o pastado e descobrir o estranko e o surpreer familiar dos textos histricos. K.Rat @ Robert | Rotbe Studia in inter rade de Miten Ohata. 12 Mint, “Tne, Suga, and Sweetness, Maras Perspectives 1 1979-80, PP. S6-72 Bees neo ae ere aia etry rs Bvidéncia, como pista ou prova, & uma palavra crucial para ohistoriadore para Juiz. Essa afinidade implica tanto convergéncias quanto divergéncias, eiss0 tem sido reconhecido hi muito tempo. Alguns desenvolvimentos reeentes no trabalho do historindor langam novas tuzes sobre esse antigo tema: _ oni ator aha en chineAne CTech Bair er 7 a Iniversity Press, 1989, pp. 967125, 196-64 [ed. bras.: Mitos, emblemas, sinais: morfologia ¢ Ne shogun eos Uy Compt te nr rt eA Gane 07 988 50 ea Nr ct a eae Db "Fa One Winn a Pig he ine of Repro: Ne out a pase in Ne cts adi nl Son Sal Pda (ng). Cambridge Mast 0 pel ‘ano parilmente baseado em pasagensextraldas do meno Iti el sori ‘Constirazoniin marginal proceso Sofi. Turi: Fina 19 Nos titimos 2500 anos, desde os primérdios do genera literdrio que chama ‘mos “historia na Gécia Antigh 0 telacionamento entrea hstiriaealeitemside _muito estreito. De fato, 0 tetmo grego historia deriva da linguagem médica, mas | ahablidade argumentativa que el tra se relacionave a esfera judicial. hist ‘como enfatizava Amado Momigliano hi alguns anos, emerge como atividade intelectual independente na intersecio da etérica e da medicina, Seguindo 0 cexemplo da éltima, o histori lor analsa casos expects esituaybes buscando sas causa natura Segundo as presciges da primeira uma tenca, ou uma arte mascida nos telbunsis ele comunicva os resultados de sua investiga" Na tradigao classica, a escrita da histéria (e da poesia) tinha de trazer narratione: a habiidade de construir uma vvida representagio de perso niagens esituagdes. © historindor, como o advogade, argumento convincente comvinicando aiusio de ealidade, no pela ex “Dighe de provas coligidas por s ou por outros Coigi provas er, até a metade do século xvrn, uma prtica de antiquirios eeruditos, nao de historiadores« Quando, em seu Trait des diferentes sorts de prewes gui ‘servent d établir la vérité de Vhistoire (1769), 0 erudito jesuita Henri Griffet comparou o historiador a um juiz que ctidadosamente avaliava provas e testemunhas, ele expressava uma necessidade intelectual ainda nio for} rmulada, Somente alguns anos depois Edward Gibbon publicou seu Del! neand Fall of Roman Fire, 0 primeizo trabalho que ef binava naratva histrica eabordagem antigua’ mente com- 4 Ver Ammaldo Momigliano, “History between Medicine and Rhetoric’ in Otto cant but alla storia deg studi asi «del mondo anti, trad. Rica Di Donato. Rome: Bivin’ di Stora Letteratira, 987, pp. 143s Ver Ginsburg, "Montre et tej op cit 4 Ver A. Momigliano, “Ancient Historian an the Antiquarian’, a Contibut alla sforia deg studless. Roma: Edin di Stora e Letras, 19 pp. 6-406. 5 Ver Hen Grit, Traté des diferentes sorts de prone ul serve blir a vite de histor 2. Lites Bassompese, 770 Allen Johnson, em seu Historian and Hist ‘ical Evidence. Nova York: Chaces Scribner's Soa, 1926, fla do Traté como "0 mais signfcativo lr sobre mttodo depo de Dee diplomats, de Maillon (p. ng). Ver também Momigiane, “Ancient Historian andthe Antiquity, e Ginzburg, Just. One Witness" Sobre Gibbon, ver Momighano, Sse contribute all stvia gl studi sls e del mondo ante. Rema: Edis di Storia e Later, 1980, pp. 21-84 A comparasio entre 9 historiador e 0 juix perduros. Em sua famosa frase (pronunciada primeiramente por Schiller) "Die Weltgeschchte ist das Weligerich’, Hegel expressou, através do duplo sentido de Weltgriht ("eo te de justiga do mundo” e “julgamento final, o cemme de sua propria io sofa da historias a secularizagio da perspectiva crista da historia mundial [Weligeschicite]* A fase, com toda a sua ambiguidade, enfatiza a sentenga do jue. Grille, pelo contesio, enfocava o estigio anterior, em que o juz (e 9 historiador) conduatam uma justa avaliagho de provas etestemunhas. Prox. so a0 fim do século, Lord Acton, em sua aula inaugural como Regis Pro- |fsorde Hist Modems em Cambridge (38), nfo a elev de ambos os momentos historiografs,na medida em que se basea na evidén «ia, pode superar feudose tensées tarnando-se “um teibunal aceito, idéntico pata todas Essas palavras reletem uma tendéncia bastante funda de pen samento, reforgada pela atmostera positivist em voga. No fim do séeulo x1x € 20 longo das primeizas décadas do xx, muita hisoriograia ~ sobretudo a historiograia politica e, de forma mais especial, a historiograliarelacionada § Revolusio Francesa ~ desenvolveu-se em uma atmosfera semelhante & de tum tribunal Mas aqui surge uma ciao. Um historiader como Hippolyte Taine, que se considerava um “zoologista mora’ susctou fas reagBes ds (6 Comprar Kat Lith, Meaning in ity. Chagos Chiago University Pres 149, 9. ‘Ahlstia do mundo € cote de tiga do mundo". Na taduyo para ings asim ser rlgostdo mote, enftnads por Lith, desaprece. Como me fi ito por Ale {0 Gajno, Hegel so mot pelo menos és veses comprar "Heldlberger Ena’, $448, Voksungen abe de Philosophie der Gx v-1 de Werke in swan Bande va -Molienhatere Koel Marks Michel ngs). Frankfurt am Main Sohetamp 70.8 ed, ax: Fla cde hiv, rad Marla Rodegues Hans Harden Beals: Era da Un, svesh Enlpi de phlxophichon Wisshcfen im Grund, 648 v.10 de Werke sn swag Bare p. 3475 € Grandin de Philp des Rechts 6340.7 de Werke aly Binder, p50 De un ponto de Wta gee compar Reinhart Kesleck, Futures Peat On the Semantics of Historia Tin, tad. Keith Tbe, Cambridge, Mase tr Pres, 108 pp 06 36 [ed bras Ptr pasa coved senda do po istic, tea Wis Pateca Mas Caos Alda Pere io de ances Contaponts, 2006). Lord Acton, “Inaugural Lectre on the Study f History, in John Neville Figs Reg ald Vere Laurence orgs), Lecreson Modern star, Landes 1996, p17 Sobre "hstociograli jad’, ve as hathantesobservages de Laigl Fenajol Ma isto, 23.24 fe, 198, {4 contmoLanvo aewoeNes. 0.40120 WsTORADER coriadores que tentavam_combinar engajamento politico ¢ neutraidade “Gientifica. Alphonse Aulard, por exemplo, comparou a atitude de Taine pperante 2 Revolugio a de um “juiz superior, imparcial” Tanto Aulatd como. seu oponente, Albert Mathiez, profericam assumit 0 papel de promotores ow ddeadvogadios para provar, com base em arquivos ricos em detalhes, a culpa de Robespietre ou a corrupeio de Danton, Essa tradigio, fandamentada nos dis- ‘cursos judiciivios politicos e moras, seguida de condenagies ou absolvigbes, sobrevive hé muito tempo: Un jury pour la Revolution, de Jacques Godechot, ‘am bem conhecido historiador da Revolugio Francesa foi publicade em 1974 Esse modelo judicial, enfatizando tendéncias existentes, causou duplo} eventos (politicos militares, diplomsticos) que padessem ser facilmente at bouidos a agdes especiicas de um ou mas individuos; por outro, abandonam-se fendmenos (como a vida social, mentalits, dente outros) que resistem & uma abordagem baseada nesseparadigma explanatério. Como em um negativo foto srifico,reconhecemos os slogans invertidos dos Annales d’ Histoire Economique Sociale peribicoiniciado por Mare Bloch ¢ Lucien Febvre em 1929: rejeh 10 & chamada histoire événementiele [histériaacontecimental]e a énfase nos ‘menos events, mas mas profundamente sgnificaivosfenimenos istics. Sem causar muita surpresa, no livro nao terminado de Bloch sobre o método historico encontramos a seguinte ieonia: "Robespiesristas! Antirobespierrs- tas! Pelo amor de Deus, coon implesmente quem foi Rabespierre’, Acos Eotender’ sado pelo dilera “julgar Bloch nao hesitou em prefer élkima!* ‘Ver Jacques Godecho, Un Jury pour le Réoaton Pas: Robert Lafont, 74. Veta bie Bruno Bongiovann Licino Gusel (orgs), Lalhero della Rivlacion: Leiner pretation della Rolston’ Franese Prim: nau, 985 em que ache baad, pei sipaimente nos vebetes "Alphonse Auld” e “Albert Mathie’, de Michel Vowel, « ‘Hippolyte Taine’, de Regina Por Alphonse Auld, Taine: Historia dea Révoaton Francaise, rez essn interesante obsersag ects donc te, ene dpa de para impartial mais cre ipa (p. vu). Ver tambérnSitngherchte der Akademie der Wisseachaten ine ary fir Jacques Rous: Dem Wiken Waller Markers genie, Manfted Kossok (or.)-Beslin: Akademie Vr 19 Mare Bloch, The Historian's Crafted Peter Pata, Nova York: Vintage Book, 13, 1-140 Led, bras: Apolgia da Mitra ou O ofl de stray, tea Adee Teles. Rio de Jani: Jorge Zaha, 2001] st weregest WW eo, wt eer ae be wis Bb “den Pebloce! Retrospectivamente, parece Sbvio que ess tinha dese a alternativa vito riosa, Para demonstrat esse ponto, dois exemplos tomados &historiogeatia, dda Revolugio Francesa setao suficientes, A tentativa de Mathiez de explicar a politica de Danton por intermédio de seus amigos e de sua propria corrupgio parece claramente inadequada hoje em dia; por outro lado, a reconstrusio do Grande medo de 1789, feta por Georges Lefebvre, é hoje considerada um clis- sico da historiografia contemportnea." Estritamente falando, Lefebvre no era {pero ddo grupo dos Annales, mas seu Grande Per de 1789 jamais teria sido lescrto sem Les Rois thaumaturges,publicado por Bloch em 1924, quando ambos Linda exam colegas na Universidade de Estrasburgo* Os dois livros lidam com, Jentidadles ndo existentes: o poder de curar a escr6fula,avibuide aos res france: ses einglses, eos ataques aIadrdesfantasmagéricos, dando forga a uma alg da “conspiragio aistoceitica’ A relevincia histérica de tals eventos, que munca lacontecesam, é baseada em sua eficica simbdlica: ou seja, pelo modo com que Y Fram percebidos por uma multidio de andnimos. Estamos bei longe da histo- riografia moralista inspirada em um modelo judicial ‘O prestigi redurido desse tipo de historiograia deve ser saudado, acredi to, como um fendmeno positivo. Mas, muito embora hi vinte anos fosse pos- sivel aceitar, sem nenhuma qualificasto, a dstingao clara tragada entre ju) ‘chistoriador sugerida por Bloch, hoje as coisas parecem mais complicadas "Mais e mais, ficamos impacientes nao apenas com uma histoviografia inspira: dapelo modelo judicial, como também com o elemento que havia sugerido a * Gaiffet sua analogia entre o historiador e 0 juit: a nogie de prova. Fer rot bape tas eae et let Mathis, La Comuption planters Tere aed aso 937,¢ Georges Tefen a Grae Per de i, Paris A Colin 192 [ed bra O grade nd e789 ecanponens ea Revolagio Fras, tad, Caos Eduard de Cato Leal Rio cde ei Campus 179] A antes entre ests dislzos meramente sible; por employ elt clove conta Vice mouse sacl sous a TereutPas, 027. Sobre Matic, ser Francis Fare e Mona Onouf, Dionmare eriqu de a Rveatan rangi Pat “Hammaron 988, ee nese volume iti universe de x Revolution Pp 990-9 Sobre Leber, era Incodgio a0 Lt Grade Pear de, de ogues Reve Ye Me Bloch es Rois Tomatarges tudes sl carat suratrel atria pt ance yas partelnmet ex Pronce ten Angleterre Estrasrgo, 1924 [ed rats OF ve tanmatogo: carder sbreaturel do pode gi: Frog ¢ gates, ta, Jia ‘Maina, Ste Paulo: Compania ds Letras, 2005]. Comparar com “Georges Le ve", de Guerc in Labor dels Rvlacone Nos iltimos vintee cinco anos, palavras como prova ou mesmo verade (ligada primeira por um forte nexo, ainda que histérice) adguiriram nas £ i 1m de desuso, evocando implicagbes postiitas. Esa Ge 50 ndscriinads mpi, ens uma cnfusio que necesita de eso recimento. Hd um elemento no positivismo que precisa se inequivocamente stb sejeitado: a tendéncta a sinpliicaro rlacionamento entre evidéncia e real i Nnajespctin poatvita,eidtnia¢ nals apenas de modo a apurar se, e quando, ela implica uma dstorgd, intencional ou nao, © histo riador 6 entio, confrontado com vitias possibilidades:um documento pode sos am decent pe ser etn mas no cone na media em que a informagio fornecida por ele possa ser mentirosa ou enganosy; ow tum documento pode ser anttioeconkvel Nos primis dois casos evidéncia é descartada; no diltimo, 4 aceita, mas somente como evidéncia de algo. Em outras palavras, " 7 : ia nio étomada como um documento his- rico em si, mas um mediuo transparente ~ come ua jane aberta que nos ‘Eeacess diteto realidad. " ‘ Esse pressupostos, ainda compatithadas por muitos historiadores con- temporineos (incluindo alguns ferrenhos citicos do positivsme), slo, sem dive, erradose intelectualmenteinfeutiferos, Mas a abordagem cética que tom se disseminado amplamente nas ciéncias sociais vai muita além a ju ta rejeigao dessas premissas, caind hi ,caindo no que chamo de(armadiha is aves |B vor de lida som avidin como uma nla ser, o ios con | Femporineos a tomam c 0, que por definicéo bloqueia [enp tomam como ura muro, ue por definigio bloqueia qualquer Gi pieivpitos referencais como ingenuidadeteGrica acaba se tomnando, 4 sua mancira, um positivism invert" A ingenuidede ea sofsticagio 1s Apo de Mac Maus a bem ete cet eu appt salt patigues de ph sg Seige ang Pt 0 81-1, trad. Ben Brewster, sob o tala Sociology ad Psyclogy Fs ‘ nd eo Hay Baton a7) Ted rss Relays a pce «pcos atop, Soo tampa Po Neves oP Cove Nay 0s Ver ene piso [ed bap onde js ens sepa le ci {apo loo ho mr cont Dens se wet da te6rica compartilham um pressuposto comum e igualmente simplista: aces tam arrelagio entre evidencia e realidad. Talelacionamento ainda dev er visto como altamente problemiico, Hi | muitos anos,em seu pioneiro Arualdo de Brescia nll foti dl secolo x1 (1954), | ArtenioFrugoni denunciou com efcdaca urna bem dvulgds flicia erat, {segundo a qual diferentes pecasdeevideclas, escitas sob vitos (is veoes { meso conftantes) pontos de vita, podem se commbinadas para estabelecer \ uma nanativa fuente e homoginea' As conchisbes de Fragoni baseada na anulise deum grupo de textos ltrs tem um valor mais gral B neces «sublinhar que os hstoriadores- idem eles com fendmenos recentes, dist 7° Tsou mesmo em processo ~ nunca se aproximam dietamente da realidade Seu trabalho é necessariamente inferencial, Uma evidéncia histérica pode. Ser tanto involuntiria (am cro, uma pegada, despojos de comida) quanto voluntéria (uma crdnica, um ato notorial, um garfo). Mas, em ambos os casos, ‘um paradigmainterpretativoespecfico ¢ necessirio devendo ser relacionado _x, (no iltimo caso) a um eddigo especifico, segundo a qual a evidéncia se cons- 7 “Gi As evidéncias de ambos os tipos podem ser comparadas a um espelho produtor de distorgdes, Sem uma ampla andise da dstorgao.que Ihe rente (08 céigos com que ela fokconsrulda e/ou deve ser percebida), uma zeconstrugiohistricacorretadimpossivel, Mas esa afrmagio deve se lida também em sua contrapartda: ums leitura purament interna da evidénc sem nenhuma referéncia a sua dimensio referencia, éigualmente impo rel, A grande falha de Le Miroir dHérodot,tabalho brilhants, porte pro- blemitico, de Prangois Hartog, éinstrutiva Reconsteur a representagio do | Outro (os citas)consumada por Herédoto somente a partido texto do pe | prio histriador tem se provado objetivo inalcangivel™ A injungio em vogs representations collectives, importontss ow si dominant quelle set” [a conseléncia do grupo de todo o seu substrato materiale concrete. Na socledade, hi algo mais que _epresentagescoletvas, por importates ou donsnantes qu ej). 1a Ver Arsenio Feugon, Arnaldo della Brescia nll fmt del scolo (ays. Tas: Bi auc 198, com introdug de Giaseppe Seri “Arsenio Peogon ela storiogaia del restaro” Ver tambénsC. Ginzburg "Proofand Possibilities" pp. 3-24 1 Gontaia de agradecer a Immanuel Wallenstein com quem hi rs anos ive uma loge conversa sobre ese tice envolvendo muitas discordinclas ters 16 Ver BrangoisHartog, Le Mii drat: sl sur de rpisntation de Pate. Pass 248 contRoLanno AEMIEENCIK:OMIZ EO RISTORCR dl estudar realdade como texto deveria se somar a advertencia de que text nnenhum pode ser entendido sem uma referencia realidad extratertuas, ‘Mesmo que rejetemos 0 positivism, portanto, ncessitamos ainda nos F 1 com nogbes como as de “realidade, ‘prov’ e "verdad Iso no Significa, claro, que os fendmenos nio existentes ou os documentos falsos ‘jam historicamente menos relevantes para ohistriador. Hi setenta anos, Bloch ¢ Lefebvre ensinaram o contririo. Masa alse das representagSes sociais nio pode fechar os olhos 20 principio da realidad. O pavor dos eam- Pponesesfranceses no verdo de 189 teve implicasdes mas profundss, mais reveladoras e signficativas na medida em que tornava possivel demonstrat aque o fendmeno que o causou ~ aqueles bandidos muito temidos ~ nun ca exitin. Logo, podemos concluir que as tarefas do historiadore do juz immplicam a habildade de demonstra, segundo regrasespecifcas, ques fer 3, Sendo designado stor principal ainda que nao nomead, de um evento histdrico ou devum at legal, ey, qualquer tipo de agi.” Mas, as eres, casos «que um juz pode desconsiderar como juridicamente inexistentes se tomnam frutferos aos olhos de um historidor. De fit, historiadores e jtzestém, segundo a tradigfo,objtivos amplamen te divergentes, Por muito tempo, 0 historiadoreslidaram exclusivamente com acontecimentos politicos e militares: com Estados, nao individuos F Estados, ao contririo de individ, nio podein se levador 20 tibunl De Tueidides a Maquiavel, a Hegel e alm, esse ito inegivelinspirou rellesses profundas, As vezes teigcas, sobre a amoralidade do poder ou sobre o Estado como instrumento de ums forma superior de moralidade, dente outra. Gallimard, so. Tadao de Janet Loyd sob tal The Mira of Hodta: The Repre sentation ofthe Other the Wing of History. Berkeley 18 fed, bras: O aspeha de He roto: esso sobre wrest do us, tad. Jacytho Lint Brando. Belo Horizonte aitora da ure 99)] Vertambém Ginsborg "Proofs and Possible’ op. pp. av Sobre a nogio jadi de provs ver Feel, Dit ergione: Teoria dl garantons eva Roma: Later, 98, p18 od ras: Dit raz: teria do garartiamo pena, trad, Ana Paula Zomer Sie. So Palo: Revit do Tribunals, 006) cinzouna 349 i, contudo, um tip de gtnerofrontergo que taal com as vidas dos indiviuos: a biogafa. Mesmo ese tipo de atvidade intelectaltransmitis- se att nds pelos greg antigo. Em suas plesas de Harvard - The Deelop- ment of Greck Biography ~ Momighano enftiza a dferenga duradoureentze Istria ebiografia como ginerosItririos" Droysen, grande histeiador do sécalo xr, escreveu que Seti posive fazer a biografia de Alosbiades, César ‘Borge Mirabeau ~mas no de César ou Frederico Grande, Como Momi- gliano coment, “a aventura, o facie a Sgura marginal so atuntos part a biograf'® Mas a vidas dos indviduos histrico-mundise’ como Hegel os categorizou, devem ser supostamenteidentifcadas com a ists univers ‘Maso séeulo xx ado foi apenas steuo de Napoleda Foi também osécu- To doacesso total da burgusi 20 pode, da tansformagéo do campo europed, do crescimento acachapante das cidades, as princirslutas dos trabalhs- ores do inicio da emancipagio feminina. Para uma andlsehstcica esses fenémenos,novascateorias teicas, novos métodos de pesquisa e novos Aispositvos estlisios foram necesiros Pocém, ahiséra socal a suces- Sora intelectual da histoire des cers [hiss dos costumes] do eéculo x01, desenvolewse devagu. Um exemplo ini de hetcaescrita de atx para cima, o bem conhecido Essai sur Piste dea formation ed progrs du Tes, Etat (1850), de Augustin Thierzy, tomou a forma de urna “biografa imagind- rat Em um ensaiocurtochamado “Histoire vértable de Jacques Bonhom- ‘me, daprsles documents authentigues (20), Tier tragou abiograia de Jacques, ocamponés francs prototipico~ ama bografia de vate seco, da invari romana ao presente Era para ser apena ‘uma brincadei ne pla- santeri, as amarga. Centendo 0 fco em ums nica petsonagem, Thierry énfatizava que a longo prazo os sehoreseram diferentes (manos fencos, a MonarguiaAbsoluta, a Replica, o império, s Monarquia Consttuconal), as formas de poder mudavam, entretnto a dominagio sobre os camponeses Permanecs, gasioapés gerao™ O mesmo mecaniamo natative fiusido 18 Ver Momiglnno, The Dept of Grek Barapy. Cambridge, Mase: Hara Uni esity Pres 97 9 Md, &id, pps, 2 Este pegueno ens aparece prnlrmente no Le Cora Europe, mao de a ropetdo em Augustin They, Dix ane ud hues Pasi 3s pp. 30817 80 cowraslane a EaDENDIo.uE Eo HieroRIGOR por Michelet em soa primeira parte de La Sori (1863) as tansformagSes, bbem como a continuidade i escondidas da Broxaria medieval, foram expres: sas por uma mth, aBraxa gindo por meio de uma strie de acontacimen- tos que de ito perdiraram por séclos Parece Sbvio que Michelet encontrou {nsirago em Thierry. Em ambos os cass, uma personagem simbilice apon- ta para uina mold de vidas perdidas na miséria ena opressio: a vidas de individvor qu, como sé no verso inesquecivel de Baudelaire, “n'ont jamais eu? Nese sentido os histoiadoresrespondiam a um desafi que provinha {de romancitas com Balzac A mistura de biogafiaimaginiis ¢ document uthntques dea as histoiadores a oportuidade de superar um tpl obe- tdoul:aiteevdnea do tema (campesinos, brazas) segundo os crits ts- dicionss a ausénca de evidéncias a auséncia de modelos etlico. Algo similar também acontecea depois do tiunfo da crstandade, quando a emer- gnca de novos tpos humans ~ bispos, santos e santas ~ inspiron tentativas de emodelarvlhos modelos bogrficos, tanto quanto de rar novos Orlando (aga), de Virginia Woolt, pode ser considerado um expecimen- to convergent, ainda que nfo iéatico, a medida em quese basela malsna Uso a eds de ies, de Mio. Ver ube Lone Gessman, August Thi ond _LberelHiterogrpl saplemesar Hisoy end Ter. 1976 Fp +3; Porn ‘node a They, Sr tit. Trim: Eau 83 Michel Gauche, "Les Letres dae Ths de France Agta Taare ler Nor org) Les Liew de més. Paris: Gaia 9860-2 PLA DP. 247- 86 a1 “Trcrealiart nto oma La dower foe wot ona” [Bente lest que roca conhecram/ A dogurdolare qe fama vivrar a Chas Brudelace, "Le Celpucle de opp. 28¢ 369, Les Flws du Man Ones complies, ‘¥-G-LeDantc org) Pats: Pade, 96op. 9: ed ras: "O crepe vesportin’snds ores Mh arn Janu Si Ps: Nova Frontera 1857p 340-1) az Vor, Gintbrg rool and Posse’ op cit, p20. A obser que Lite otabe de Jeges Bovhonoe bt imediatament spss em Le Cer earpden Pot ‘on reser enusatada, também de Ther, do unkod de Walter Set, Gaschet, Coment"Co qe lis sures suger rom toi re qu Le eg ent Ge pert Vela [Agu que sgerem afte, 9 romance hssrico revels gue (iste dni ue pemite explore] (Gauche “Les Lee su The de France augue’ pcp. 274) 1g Ver Momigian, "Mate! Masse problems dela ptsona nla bogria grea” e “Theil of St Micra by Gregory of Nyssa Ov conrut cla tri det stalk. laid mondo ans opt 9. 7-90 8047 invengioltertia do que na reconstrucio histrica. Neste caso o hers, que com ongulho caminha ao longo dos séeulos, é mais marginal do que noni: tum andrégino, Esse trabalho parece ser uma provaa mas de que o mecanis smo narrativo que desrevo,longe de ter implicagdes putamente técnica, ea tua tenatva consciente de sugerir uma dimensio histrica escondids, ou no minimo mal percebida, Petsonagens eterna construldas em una esx la sobre-humana, como Jacques Bonhomme ou a Bruxa, foram concebidak = cis rbjgbeddblicas de uma mulidto do vidas esqueciag condena ‘das completa irrelevancia.* Mencionar nesse contexto uma nogéo histérica (para nao dizer judicial) de vidénciapareeria obviamente sem sentido, Afra nenhum entre os ives smencionados pode se visto como um tipi enemplo de escrta istic, “Mesma La Sorire foi descartdo como uma espécie de romance na época de sua publicagio, em ama atmoseraj impregnada de posiivismo.* Mas ssa maram dese eto Hoje lve de Michelet ¢ mito lead como uma das obras primas da historiografia do sfeulo xr Esa madanga 1a apreciacio est ligada.a outra maior, que (como os exeiiplos que anal sarei mostrario) traz.a érea periférica, enevoada, entre historia e ficgo, 20 77 cents do debate da bistoriogriacontemporinca. Vamos comecar com Medieval People (1924), de Fileen Power. Power foi sesponsivel, com Sir John Clapham, pelo projeto The Cambridge Economic History of Europes por muitos anos, até sua morte prematura em 1941, ela 24 Pergntosme sea ein centl de Orlane Bograpy de Virginia Wool Nor Yor (CGage 192 fe. bra: Orlando, tad, Ceca Merle, Ro de ancico: Nova Front 13,298) flinsprad por Shea History af Adventure (Londres sy), 0 bem-suceddo romance de Henry Rier Haggard (ed, bras: Hla ed trad Adriano de Abrea. S30 Paulo: Nacional 1984) ‘Vero preficio de Pan! Vllaneu Jules Michele, La Sori. Pas: Gaesler Flamna- Fon 1986, p.o fed. res A fie tad. Maria Luiza A. Borges Rio de Janeiro: Nowa Fronts, ial as DEN. 0 surZ Eo nisToRADOR ensinou histéria econdmica na London School of Economics. Medieval People & um livzo bilhante, baseado em pesquisa inédita, mas enderegado 2 um piiblico genérico, Ele fornece uma imagem da sociedade medieval fundamentada em wma série de retratos de “gente comum e desconhecida

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