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PAULO FREIRE, O HOMEM ATEMPORAL: REFLEXOES SOBRE VERDADE E SENTIDO Peter McLaren | paste tapos 70 voces 14 | D=* os anos 1970, capitalistas transnacionais sao cada vez mais eficientes em suplantar a autoridade de gover- nos nacionais com um tipo de federalismo competitive no qual o capital disciplina governos nacionais através de uma abordagem multidimensional de regulamentagio, contor- nando 0 controle democritico por meio de uma espécie de neofeudalismo, o que levou ao capitalismo da precariedade. O surgimento da classe capitalista transnacional por meio da integragao de redes de produgao globais foi responsavel por uma devastagio sem precedentes na histéria do mundo, dei- xando milhées de pessoas em estado de pobreza. O sonho do mutualismo cooperative associado com regimes democrati- cos foi minado por um autoritarismo selvagem que infectou varios paises no mundo, sepultando populacdes que ansiavam por liberdade dentro da sociedade disciplinada de Foucault, agora transformadas em cidades pandemizadas por uma pra- ga, repletas pela visio e pelo som de tosses entrecortadas, ca- tarro com manchas de sangue ¢ 0 rangido das saboneteiras de Alcool em gel. Dentro dessas cidades contaminadas, testemu- nhamos o clamor da humanidade em softimento, um fardo desproporcional causado pelas mortes por covid-19 nos gru- pos de minorias raciais e étnicas, sobretudo, entre hispanicos ou latinos, negros nao hispanicos e indigenas americanos nio hispanicos ou povos originarios do Alasca. Disfarcados pelas | Pale For epmvainas ae rwoncney 43 | PETER MCLAREN duras campanhas publicitérias, pelo artificio ideolégico im- placavel ¢ pela fraude da irracionalidade, duas figuras surgi- ram neste cenétio politico tenebroso para oferecer forragem as pessoas que preferem habitar um mundo de édio e vin- ganga. Um deles foi recentemente tirado do poder por meio do voto (porém, permanece politicamente petigoso) e 0 outro continua no poder e ainda faz tudo o que pode para destruir © pais dele. Refito-me a Donald Trump, nos Estados Unidos, € a Jair Bolsonaro, no Brasil. Nenhum deles tentou abordar as desigualdades dos determinantes sociais de satide que au- mentam o risco de morte por covid-19 entre as minorias ra- ciais e étnicas. Ambos minimizaram a pandemia e assistiram a0 sofrimento ¢ morte de seus cidadaos. Diante desse ponto de inflexéo na histéria moderna da humanidade, ergueu-se inabalivel, acima da desordem, © espirito de outro homem, cuja filosofia e praxis politica proporcionaram aos oprimidos do mundo inteiro conforto € esperanga, um homem cujas contribuigées para humanizar a civilizagao desafiou as forgas da opressio, da dominagao € da alienagéo em todos os setores da sociedade. Esse homem é Paulo Freire. Apesar de Freire nao estar mais entre nés em carne, seu espirito estd impregnado em todas as pessoas que sofrem e sio marginalizadas, isso porque académicos, inte- lectuais e grupos ativistas ainda seguem seus ensinamentos — essas pessoas sio comprometidas com a justica social. Apesar de Trump nao ter mencionado o nome de Freire, ele acusou o segmento da esquerda ligado a educasio de ser antipatridtico e culpou o“marxismo cultural” de criar 0 po- liticamente correto e as forgas politicas que acusam homens brancos de racismo, sexismo e homofobia. De acordo com o 380 | Pao apmvainas 0 rwoncney 43 | PAULO FREIRE, © HOMEM ATEMPORAL io “me- governo de Trump, racismo, sexismo e homofobia s: mes” falsos criados por marxistas culturais com o propésito explicito de destruir valores tradicionais estadunidenses. O governo de Trump destacou um grupo de intelectuais ju- deus alemaes conhecidos como Escola de Frankfurt como a mais perigosa reunido de marxistas culturais, Esse grupo fagiu da Alemanha nazista e veio para os Estados Unidos durante a segunda guerra mundial. Sofrendo de uma tipica amnésia histérica, 0 governo de Trump descreveu a Escola de Frankfurt como “quinta-coluna” raiz do politicamente correto nos Estados Unidos. Essa é uma acusasio evidente- mente falsa, uma vez que os intelectuais estavam engajados, sobretudo, na andlise cultural do autoritarismo, do racismo e do patriarcado, A figura principal desse grupo, Herbert Marcuse, por exemplo, estudou o impacto da tecnologia no desenvolvimento humano. Ainda assim, membros da Escola de Frankfurt so acusados de“fabricat” os conceitos de racis- mo, sexismo, misoginia, homofobia, transfobia usados pela esquerda para atacar a direita. Os ataques ao marxismo cul- tural nao apenas isentam o piblico estadunidense de con- frontar as realidades concretas e corroboradas do racismo, da homofobia, do sexismo e de outras relagdes de opressio estruturais corporificadas, como também sao antissemitas manifestos e concebem 0 racismo e o politicamente correto como uma ideologia criada por um grupo de intelectuais ju- deus sinistros que infecta nossos estudantes universitdrios, a partir da ideia de judeus como “quinta-coluna’, desman- chando 0 tecido de valores estadunidense, Portanto, para 0s apoiadores de Trump nao hé necessidade de lidar com racismo, sexismo e homofobia, afinal, isso néo existe ¢ foi 381 | Pale For sapmvainas 91 rwoncney 43 | PETER MCLAREN produzido como armas ideolégicas pela esquerda para ata- car pessoas brancas conservadoras. Esse tipo de politica da pés-verdade é tio opressora que até mesmo nossos pressupostos mais bdsicos sobre o sentido da vida humana nao consegue estar em conformidade com quaisquer referéncias a uma comunalidade que pode medir individuos de forma sensata. A turbuléncia ao navegar pelos detritos da politica da pés-verdade persuadiu varios anglo- -americanos a se renderem a uma politica autoritéria caracte- rizada por um nacionalismo étnico branco, além de escolher a politica vil da supremacia branca em detrimento de alimentar relagdes reciprocas de respeito, compreensao e solidariedade com pessoas racializadas, além de relacées interpessoais mais justas. Isso deu ainda mais importancia ao trabalho de Freire. A expansio da obra de Freire através da paisagem mididtica que define nossa vida coletiva nunca foi téo urgente, ao ofere- cer a praxis revoluciondria como meio de mover as placas tec- ténicas de nossa paisagem politica contemporanea que est ouvindo os sinos fiinebres badalarem para a democracia. Nos Estados Unidos, a obra de Paulo Freire é usada em conjunto com os pensadores da Escola de Frankfurt como base para a pedagogia critica, por isso, Freire é tido por apoia- dores de Trump como um marxista cultural de facto e inimigo dos valores culturais americanos. Toda a area da pedagogia critica, fandamentada na obra de Freire, é acusada de subver- siva e perigosa para os jovens americanos por grupos conser- vadores. No Brasil, o nome de Paulo Freire esté em destaque, porque ele é o patrono da educagio brasileira. Bolsonaro lan- ou um ataque politico massivo contra Freire, na esperanga de adormecer os brasileiros em um estado de amnésia histérica 382 | Pao apres se rwoncney 43 | PAULO FREIRE, © HOMEM ATEMPORAL em que esquecerio as substanciais contribuigées de Freire para a educacao, a alfabetizacao, a teologia, as ciéncias poli- ticas e para intimeros outros dominios. Freire é, para Bolso- naro, 0 que o marxismo cultural é para ‘Trump, um bode ex- piatério conveniente para os males da nagio, além de ser um meio para oferecer solugdes simples para problemas politicos complexos. Jamais poderemos entregar o legado internacional de Paulo Freire para aqueles ultranacionalistas autoritarios e vis comprovadamente desprovidos de pensamento critico in- dependente, ou aqueles fascistas que glorificavam a agressio em nome de uma violéncia redentora e da purificagio racial. Freire, em Pedagogia da autonomia, observou que: Entre nés, em fungéo mesma do nosso pasado autorit rio, contestado, nem sempre com seguranga por uma mo- dernidade ambigua, oscilamos entre formas autoritarias formas licenciosas. Entre uma certa titania da liberdade e 0 exacerbamento da autoridade ow ainda na combinagao das duas hipéteses (Freire, 1998, p. 83) Freire certamente revisaria essa afirmagao se soubesse o tipo de tirano que seria eleito presidente. Paulo Freire estabeleceu um novo tipo de humanismo dialégico através de seu envolvimento com a filosofia da pré- xis durante toda sua vida. A centralidade dessa prixis para Freire manifesta-se no cultivo consciente da natureza ontolé- gica do ser humano como ponto de partida para justia social, sem ao mesmo tempo ofuscar nem negar a importancia do individuo espiritual, mais especificamente, o que Freire de- nominou “relagdes homens-mundo” (2018, p. 85) — esté no 383 | Paro apmvainas ss rwoncney 43 | PETER MCLAREN dominio da praxis revolucionaria de Freire que o ser espiri- tual e 0 ser humano convergem, talvez até mesmo coincidam em alguns momentos, atados por um amor oblativo, o que permite aos seres humanos viver a totalidade da histéria. E um humanismo protagonista que comega em agio ética, nao em uma doutrina correta, e como tal, conforma-se aos princi- pios centrais do ensinamento catélico de justiga social. E um humanismo enraizado em Eros, mas apurado em Logos, um humanismo que tem conhecimento consciente de suas situa- gdes limites e é capaz de transcendé-las. E um humanismo que comega na preferéncia pelo oprimido, um imperativo ético que se inicia na aco, no entanto, desenvolve conceitos heurfsticos que permitem ao agente protagonista refletir so- bre suas ages, a fim de nomear o mundo de formas diferentes e, assim, transcender a epistemologia exaurida da pedagogia critica ¢ da teoria social. Essa reflexao jamais acontece em iso- lamento, mas por meio do engajamento com o outro. Juntos descobrem que a estrutura da realidade nunca é permanente, porque jamais est4 acabada. Descobrem que as pessoas que refletem sobre essa realidade também fazem parte dela. Em suma, a realidade nunca é refletida, mas sempre é refratada. Nio conseguimos conhecer totalmente a realidade, mas con- seguimos conhecé-la parcialmente. Ao fazer isso, desafiamos aquelas relagdes sociais que servem & classe capitalista trans- nacional e provocamos a concretizagao histérica da politica e da pratica da libertagao. Para Freire, cujas raizes epistemoldgicas situam-se firme- mente em Marx (Au, 2017), a premissa da agao é a crenga 384 | Paleo sapmvainas se rwoncney 43 | PAULO FREIRE, © HOMEM ATEMPORAL na capacidade do ser humano de ser bom e comega no agir eticamente. Marx nos Iembra que seres humanos reveem seus pensamentos devido a varias mudangas em suas circunstin- cias, e que educadores devem, eles mesmos, estar dispostos a se educar. A pratica revolucionaria, ou praxis, tem a ver com “a coincidéncia na mudanga de circunstancia e de atividade humana ou automudanga” (Marx, 1845; ver Lebowitz, 2015). O conceito de praxis revoluciondria de Paulo Freire surpreen- dentemente se assemelha a teoria marxista da origem da alienagio ideolégica. Como a ideia de libertagéo na obra de Freire funciona como um instante determinante da praxis? O préprio interesse constitutivo em servir ao pobre e as invo- cages retéricas dele para libertar tanto o oprimido quanto 0 opressor das forgas ¢ das relagdes de alienagao ¢ mistificagao ideolégica torna-se mais evidente para Freire quando ele des- cobre de forma heuristica palavras adequadas a sua resposta para as exigéncias da pobreza, do sofrimento e da alienagao. Esse é um processo que levou Freire (2018, p. 87) a comer tar: “ndo ha palavra verdadeira que nao seja praxis. Dai que dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo.” O que libertagao pode vir a significar no processo da luta libertadora envolve, para Freire, compreender como ideologias separam ideias da materialidade da praxis social. Ideologias sao sem- pre contraditérias e constituem relagées sociais rotinizadas e sistemas de inteligibilidade que representam mal os processos sociais que os geram. Nos Estados Unidos, relagses de poder simétricas e privilégios que atendem aos interesses da classe dominante alimentaram modos de exploragéo que séo fun- damentalmente e sistematicamente racializados. As ameagas do capitalismo racializado ficaram mais evidentes durante a 385 | Paleo apenas 98 rwoncney 43 | PETER MCLAREN fre- ram desproporcionalmente, em comparacao com a populacao pandemia nas instincias em que pessoas racializadas branca, € 0 lucro corporativo aumentou enquanto pessoas morriam de fome. Freire lutou por outro mundo, fora dos limites do actimulo de valores, um mundo que refletisse as palavras do bispo Dom Helder Camara, “ninguém € tio pobre que nao tenha o que oferecer. Ninguém € tao rico que nao precise de ajuda” (Boff, 2006, p. 85). Um mundo assim pa- recia impossivel de ser alcangado, conforme a pandemia des- pia a democracia das raizes do capitalismo, expondo-a como uma nova modalidade de feudalismo que traz a austeridade massiva em seu rastro. Foi durante essa época que as forcas do fascismo se tornaram notAvei Trump assumiu a narrati- va nacional usando a Big Lie (distorgées grosseiras dos fatos) impregnada de pensamentos ingénuos e magicos, produzindo fatalismo entre as massas. Incidentes terroristas domésticos aumentaram drasticamente nos Estados Unidos durante 0 governo de Trump, conduzidos, sobretudo, por supremacis- tas brancos, islamofébicos e extremistas de direita contra 0 governo, As vitimas eram pessoas negras, judias, imigrantes, LGBTQ, asidticas e outras racializadas. Pouco depois de Trump reconhecer a pandemia, ficou eviden- te que ele nao tomaria atitudes suficientes para ajudar a con- ter as mortes por covid-19. Ele deixaria os americanos morre- rem, Foi também nessa época que a masculinidade téxica de Bolsonaro infectou e fortaleceu sua decisao de deixar o virus multiplicat-se e se espalhar entre a populacao brasileira sem ter medidas cientificas de contengéo como adversarias. Tanto 386 | Pao sapmvainas 98 rwoncney 43 | PAULO FREIRE, © HOMEM ATEMPORAL ‘Trump quanto Bolsonaro langaram um ataque a intelectuais e educadores esquerdistas; Bolsonaro escolheu Paulo Freire como escada para seu humor rasteiro. Tanto Trump quanto Bolsonaro travaram uma guerra contra a verdade ao se va- lerem de uma légica cruel, calculista e artificial inserida na era da politica da pés-verdade. De acordo com William Reitz, estas sio “verdades a partir de uma Iégica desvencilhada de quaisquer fatos constatados ou de histéria social, que deslo- cam as conexées reais entre linguagem e mundo” (2016, p. 85). E segue dizendo que “nada resta a nao ser a légica como sistema dedutivo ou arranjo necessirio de partes, uma vez que principios tenham sido arbitrariamente determinados” (2016, pp. 85-86). Em outras palavras, um argumento pode ser formulado a partir da légica dedutiva ou seguindo uma légica artificial, calculo sintdtico, mas isso nao significa que seja um argumento necessariamente convincente ou sélido. Para isso, é necessdrio ter pensamento critico. E af que a obra de Paulo Freire torna-se tio importante nao apenas para o Brasil e para os Estados Unidos, mas também para toda a humani- dade. Por isso a obra de Freire, assim como a de Chom: é considerada tao perigosa. Paulo Freire é necessario, sobre- tudo, nestes tempos de amnésia histérica alimentada por It- deres fascistas, quando as opinises pessoais ¢ a logorreia t5- xica substituem o argumento, quando as pessoas fecham os olhos para a militarizagao da policia, quando tecnologias de vigilancia proliferam inabalaveis (Robinson, 2020), quando o actimulo de capital € militarizado por meio da produgio de armamento e venda de armas. Vivemos em uma era de es- quecimento motivado, de confianga no pronunciamento de lideres autoritarios acima do discernimento coletivo de nos- 387 | Pao sepmvainas 7 rwoncney 43 | PETER MCLAREN sas il stituices democraticas. Freire nos revela que a verdade nio é tanto sintatica quanto é pedagégica, porque a educacio esté relacionada a formagao da mente e para isso é necessrio ter premissas comprovadas. Se olhamos ao redor e reconhe- cemos 0 sofrimento de 99% do mundo, observamos que nao é coisa de outro mundo determinar quais premis as precisam ser comprovadas primeiro. Nao é necessario ter uma légica formal, porque 0 conhecimento nao é apenas cilculo abstrato, mas conhecimento de alguma “realidade dinamica’, ea logica formal tende a”separar a razio de seu substrato social e cul- tural real, e 0s conflitos que sio percebidos como o préprio mecanismo da educagio da razio humana’ (Reitz, 2016, p. 88). Filosofia, portanto, a partir de Hegel, deve ser a razio educada, e de Dewey, deve ser considerada contigua a uma teoria geral da educagdo (Reitz, 2016). © que Freire nos oferece & tanto uma razio educada quanto uma teoria geral da educagéo, uma razio ajustada pelas realidades e lutas de sua propria vida: sua prisio, seu trabalho na Guiné-Bissau, seu trabalho de apoio aos movi- mentos de guerrilha na América Latina, seu trabalho com professores ¢ professoras em toda a América Latina e nos Estados Unidos, com quem desenvolveu profunda solida- riedade. Freire constantemente testou suas ideias na prépria vida e no préprio trabalho. Certamente, precisamos de bases comprovadas, conexdes causais, declaragdes de valor e formas dedutivas e indutivas de inferéncia, no entanto, esse processo todo de di para a solugéo e fruto de conhecimento’, mais ainda, & ne- ernir a verdade ‘precisa ser um proceso voltado cessirio que surja “de uma consideragio cuidadosa acerca de um contetido especifico e de um problema localizado” (Reitz, 388 | Pa For apres se rwoncney 43 | PAULO FREIRE, © HOMEM ATEMPORAL 2016, p. 90). A isso eu acrescentaria a exortacio de Freire & necessidade de a razdo educada ser problematizadora, 0 que ele mesmo descreveu como “futuridade revoluciondria” que é profética e esperangosa, que corresponde 3 “condig4o dos homens como seres histéricos” e que “se identifique com eles como seres mais além de si mesmos — como ‘projetos’ —, como seres que caminham para frente, que olham para fren- te; como seres a quem o imobilismo ameaga de morte; para quem o olhar para tras nao deve ser uma forma nostélgica de querer voltar, mas um modo de melhor conhecer 0 que estd sendo, para melhor construir o futuro.” (2018, p. 84). E isso determina o engajamento em conflitos culturais e poli- ticos contemporaneos, 0 que Freire certamente fez quando Mario Cabral o convidou a conduzir uma campanha de al- fabetizagio na Guiné-Bissau, Africa Ocidental. O lendério Amilcar Cabral derrotou os colonizadores portugueses, mas depois foi assassinado. Freire compreendeu que em nosso papel como educadores criticos devemos levar em considera- so “o histérico de justificativas antagonistas para a avaliagao dos conhecimentos alegados e dos objetivos politicos” (Reitz, 2016, p. 91). E devemos fazer isso de forma critica. Quais sio as justificativas histéricas? Quais sdo os contextos histéricos, internacionais e mulriculturais que devem ser considerados a0 examinar os padrées existentes de critica nos campos da ética, da epistemologia e da ontologia? Essas séo as pergur tas que filésofos contemporaneos fariam bem em considerar ¢ educadores fariam bem em colocar em pratica para criar uma esfera contrapiiblica nestes tempos inseguros, Essa era a meta de Freire e sua equipe da Sufga na Guin4-Bissau — o Insti- tuto de Agao Cultural (IDAC). As varias conquistas do Pla- 389 | Pao apmvainas 8 rwoncney 43 | PETER MCLAREN no Nacional de Alfabetizasao de Paulo Freire e os resultados de seu trabalho com camponeses chilenos estavam prontos para disseminagao na Guiné-Bissau (Freire, 2016). Em 1975, © Ministro da Educagio Mario Cabral convidou Freire ¢ a equipe do IDAC para conhecerem a Guiné-Bissau, e essa vi- sita foi apoiada pelo Conselho Mundial de Igrejas. Portugués era a lingua oficial, enquanto 0 crioulo era a lingua nacional que fazia a conexao entre dialetos de aproximadamente qua- renta grupos étnicos guineanos. Durante sua visita, Freire ea equipe do IDAC encontraram-se com os “homens grandes’, 98 ancidos, fancionatios do governo e militares que apoiavam a conduta politica de Amilcar Cabral. Viajaram pelo pais du- rante a temporada de chuvas, o alimento era limitado, nao ha- via contato via rédio, abrigavam-se em ambientes apertados, em casas em rufnas, semidestruidas pelo exército colonizador portugués, e conversavam com os moradores locais, voavam entre povoados com pilotos russos que, certa vez, os deixaram por engano no lugar errado — com tudo isso, deve ter sido uma época dificil, mas ainda assim revigorante, para o jovem Freire. Havia essencialmente dois sistemas de educagdo na Guiné-Bissau quando Freire chegou: o sistema colonial, que usava a lingua portuguesa falada por apenas 5% da popula 0 e que apagou a histéria dos africanos anterior & chegada dos conquistadores, buscava manter controle sobre Angola, Mocambique, Sao Tomé e desafricanizar estudantes. O outro sistema estava ainda sentindo as dores do parto, depois da guerra pela independéncia, e consistia de escolas fundamen- tadas na sobrevivéncia e resisténcia diaria. Essas escolas da resisténcia foram construfdas em meio aos conflitos didrios da guerra, se tornando espacos de protec4o e produgao de 390 | Paro sapmvainas a0 rwoncney 43 | PAULO FREIRE, © HOMEM ATEMPORAL alimentos. Freire foi rapido em perceber que durante esse pe- riodo seria dificil construir um sistema completamente novo. Mas era possivel mediar varios dos piores efeitos do sistema colonial. O ministro adotou prontamente a abordagem de Freire a transitividade critica, 4 conexao da agao & producao sustentavel, a construcao de solidariedade comunitaria, a cria- cao de uma sociedade transitéria, a melhoria da vida dos mo- radores locais, & criagdo de um comportamento critico para a vida diaria, a introdusio da problematizaséo como aborda- gem que permite aos membros da comunidade aprofundar a compreensio de sua realidade vivida. Esforsos comunais para a consciéncia critica foram levados & frente com o entendi- mento de que eles deveriam ser dialégicos ¢ interativos, de tal forma que houvesse unidade dialégica entre ago e refle- xo.” Escola ao campo’, por exemplo, foi uma experiéncia para unir as areas campestre e urbana. A educagao cointencional criada por Freire envolvia and lise colaborativa e sintese dos projetos assumidos pela equipe do IDAC e 0 povo local, criando sua nova realidade a pat- tir da base. O processo e o resultado se tornaram um: cons- ciéncia critica. A consciéncia critica nado serviu como condi- gio prévia para a ago, mas foi resultado de agao e reflexio. Avaliagées criticas aconteceram com frequéncia para que se pudesse enxergar 0 que funcionava, 0 que nao funcionava e 0 gue era necessario para ampliar os objetivos de transformacio em participantes conscientes dos atos politicos. Nao é possivel haver qualquer nogio fundamentalmen- te concreta de liberta¢4o em sua instancia mais pura até que as forcas ¢ os relacionamentos de opresséo sejam superados. Hé apenas a demanda radical por uma liberdade cuja forma 391 | Pale For apres 21 rwoncney 43 | PETER MCLAREN concreta nao pode ser totalmente imaginada, mas apenas re- visada, repetidas vezes, enquanto as circunstancias ¢ a auto- mudanga atuam na arena da luta revoluciondria e enquanto as condigdes que inibem tais demandas por liberdade forem identificadas. Isso forma a base de uma leitura freiriana da pa- lavra e do mundo, que € cointencional, protagonista e dialé- gico. Freire compreende que agentes protagonistas ou revolu- cionatios nao sao natos, mas sim, produzidos dialeticamente por circunstncias. Para revolucionar a sociedade é necessatio revolucionar 0 pensamento. Mas, ao mesmo tempo, para re- volucionar o pensamento é necessério revolucionar a socieda- de. Todo 0 desenvolvimento humano (incluindo pensamento e discurso) é atividade social e tem sua raiz no trabalho cole- tivo. Freire (1985, p. 27) observa que “um sistema particular ou modo de viver equivale a uma forma de linguagem pensa- mento particular”, A pedagogia freiriana permite-nos viver no momento histérico como sujeito da histéria e, como 0 Anjo da historia de Walter Benjamin, para ver que o“progresso” hu- mano deixou 0 mundo devastado por violéncia e destruicao. Quando conectamos nossa propria histéria as lutas de gru- pos oprimidos, esse processo nao é simplesmente um efeito da linguagem, mas da atengao a formas extralinguisticas de saber, formas de sentido corpéreo e praxiolégico, todos asso- ciados a produgio de ideologia. Conhecimento significative néo é apenas a propriedade das propriedades formais da linguagem, mas é encarnado — é senciente, é vivido em e através de nosso corpo, é 0 aspecto material de nosso ser. Nao € ultracognitivista nem tradicio- nalmente intelectualista. Conhecimento significativo, em ou- tras palavras, esté incorporado no modo como lemos o mun- 392 | Pao sapmvainas se rwoncney 43 | PAULO FREIRE, © HOMEM ATEMPORAL do ea palavra simultaneamente em nossas ages com e contra outros seres humanos, e paralelamente a eles. Nao é possivel transformarmos a histéria somente em nossa mente! Mas po- demos transformar a realidade ao estarmos totalmente pre- sentes no mundo e, conforme Freire observa, com 0 mundo. Ele chama atengio para 0 fato de nao ser possivel percorrer a jornada em diregao a libertag4o dentro da consciéncia ou “simplesmente dentro do seu ser”; ela deve ser percorrida “na histéria” (1985, p. 128). Trata-se de um proceso que acena coletivamente e panfraternalmente. Freire viveu a antitese do esforso subjugador do Estado, criando em sua vida uma esfera contraptiblica, um espago de agao e reflexao, de praxis revoluciondria. Desde os anos 1980 até o presente, o exem- plo da pedagogia freiriana serviu como uma contraforga cri- tica para as forcas de dominagao e de opressio, colocando-se como um julgamento da conexao entre a verdade e uma mera afirmagao da verdade. A obra de Freire foi muito influenciada pela teologia da libertagio, uma abordagem & igreja profética do evangelho social que foi duramente criticada pelo governo de Reagan nos anos 1980, assim como pelo papado de Joio Paulo IT. A tarefa de libertar a hierarquia da Igreja Catdlica das predisposigdes ideoldgicas, a partir das quais sua existéncia é regulada por habito, é um processo extremamente lento cujo prélogo se iniciou, a sério, nos anos 1950, quando o papa Joao XXIII inaugurou uma nova era eclesidstica na qual as dire- trizes da igreja para servir aos pobres passou por progre va legitimagio. Foi durante essa época que as autoridades da igreja comegaram a dissipar 0 nimbo de desatengao continua a violéncia criada pelo capitalismo sobre os pobres ¢ a reparar 393 | Pao sapmvainas ss rwoncney 43 | PETER MCLAREN a fundacio da doutrina da igreja ¢ seus trabalhos catequisti- cos, que desabaram tao fatalmente sob 0 peso das proprias pretensées morais. Ao reconhecer a necessidade urgente de a Igreja Catélica participar em arenas mais amplas de justisa social fora do catecismo tradicional, e empenhado em desafiar 0 recrudescimento da frouxidao moral em questées de injus- tiga econémica que se tornou um principio de ordenamen- to central do mundo da igreja e uma relativizagao radical de sua misao declarada de ajudar os pobres, o papa Joao XXIII desafiou a igreja a abandonar sua preferéncia discreta por fortalecer o status quo e defender os pobres e oprimidos por meio de sua lideranga no Concilio Vaticano II (notoriamen- te conhecido como Vaticano II; 1962-1965). Ao reconhecer as aliangas hist6ri cas que a igreja estabelecera com as potén- cias coloniais e seus impérios de pilhagem saque, papa Joio XXIII, por meio do Concilio Vaticano II, tentou recuperar as primeiras raizes da igreja; afinal, a Igreja dos trezentos anos anteriores era reconhecida como “igreja perseguidora’, A igreja funcionou historicamente como uma instituigao de opressio alinhada com as Cruzadas e a Inquisi¢ao espanhola ¢, dizia-se, foi ctimplice ao ajudar os nazistas a escaparem para |. Histo- ricamente, est4 evidente que a Igreja Catélica participou da a América Latina apés a Segunda Guerra Mundi legitimasao dos regimes colonial e fascista, ainda que com in- ten¢éo seguramente banal, principalmente por meio do Par- tido Democrata Cristéo da Itélia, que era pouco mais do que a da Falange do dicador fascista espanol Franco (Austin, 2013). uma variante do movimento pré-imperiali A Conferéncia Geral do Episcopado Latino-Americano, ocorrida em 1968 em Medellin, Colémbia, marcou 0 inicio de 394 | Paleo sapmvainas se rwoncney 43 | PAULO FREIRE, © HOMEM ATEMPORAL uma mudanga s{smica na Igreja Catélica. Foi af que bispos de toda a América Latina concordaram que a igreja deveria dar “preferéncia aos pobres” enquanto desenvolve um catequismo da libertagéo amparado nos ensinamentos de Jesus, de modo que os pobres pudessem se libertar da “violéncia institucio- nalizada” da pobreza, da exploracao capitalista e de outras formas de injustiga. A filosofia que apoia a teologia da liber- tag4o, que combinou cristianismo com uma erftica marxista 4 economia politica, comegou a ser elaborada durante uma re- unio de tedlogos latino-americanos organizada por Gustavo Gutierrez, no Rio de Janeiro, Brasil, em 1964. Pouco depois, as “comunidades de base” cristds, inspiradas pela teologia da libertagao, comecaram a aparecer por todo o Brasil rural e em outros paises da América Latina, seguindo reuniées pioneiras entre tedlogos ¢ padres em Havana, Cuba, em Bogota, Co- lémbia, e em Cuernavaca, México, em junho e julho de 1965. Hoje, a teologia da libertagao tem varios formatos: teologia da libertagao chicana; teologia da libertagao latinx; teologia da libertagdo nativo-americana; teologia da libertagao afro- -americana. Tedlogos da libertagao argumentam que politica e religiio com frequéncia sao diferenciadas de forma injus- tificada e artificial. Ademais, ajudam a determinar quando e onde o dualismo hermenéutico entre as estruturas do pecado e do capitalismo eas relagées de exploragao se aplicam, crian- do um pacto mais autenticamente cristdo entre ensinamentos catélicos e os pobres. A teologia da libertagao ganhou atengio internacional de- pois do assassinato pelo governo de seus académicos jesuitas, a empregada doméstica ¢ sua filha, em 16 de novembro de 1989, no campus da Universidad Centroamericana (UCA), 395 | Paleo apmvainas 95 rwoncney 43 | PETER MCLAREN em San Salvador, El Salvador. Esses padres jesuitas, que de- safiaram a autoridade eclesiastica apoiando a teologia da li- bertacéo foram mortos a tiros por soldados, porque haviam pressionado por negociagées entre o governo e rebeldes de es- querda. Entre os assassinados estavam o reitor da Universida- de, Ignacio Ellacurfa, tedlogo da libertagao reconhecido inter- nacionalmente; Segundo Montes, decano do Departamento de Sociologia e diretor do Instituto Universitario de Direit« Humanos; Ignacio Martin Baro, chefe do departamento de psicologia; os professores de teologia Juan Ramén Moreno e Amando Lépez; ¢ Joaquin Lépez y Lépez, que chefiava a rede Fe y Alegria de escolas para os pobres. Julia Elba Ra- mos, esposa do zelador da UCA e sua filha Celina também foram mortas. Hoje, em toda a América do Norte, a pedago- gia critica tem renovado interesse na teologia da libertagao e no envolvimento de Freire com a Igreja Catélica (McLaren, 2015). Freire reacendeu o interesse pela teologia da liberta- Gao, que é necesséria hoje mais do que nunca, jé que as forcas do fascismo e da supremacia branca foram bem acolhidas por grupos evangélicos nacionalistas cristdos, que desaprenderam 0 significado dos ensinamentos de Cristo. Nos Estados Unidos, o interesse por Freire vem crescen- do desde o langamento da Pedagogia do oprimido em inglés, em 1970, e atingiu seu pico nas décadas de 1980 e 1990, situacdo gue se sustenta até os dias de hoje. Com o apoio de Henry Gi- roux (1985), que se tornou um dos mais importantes defen- sores de Freire, e por meio da publicasio da obra de Freire em colaborago com trés proeminentes educadores americanos, Ira Shor (Freire e Shor, 1987), Donaldo Macedo (Freire e Mace- do, 1987) e Myles Horton (Horton e Freire, 1990), um frenesi 396 | Pie ton sarc 66 wows sas PAULO FREIRE, © HOMEM ATEMPORAL com o trabalho de Freire entre os estudiosos da critica persiste intenso, sem sinais de diminuir (ver Darder, 2002, 2015; Mayo, 2004; McLaren, 1986; McLaren e Leonard, 1993; McLaren e Lankshear, 1994; Kirylo e Boyd, 2017; Kirylo, 2020; Lake e Kress, 2013). E virtualmente impossivel homenagear o traba- Iho de todos os estudiosos que nos legaram percepgdes sabias acerca da obra desse grande lider revoluciondrio. Como resul- tado do impacto de Freire, grupos e movimentos cresceram em torno da pedagogia critica, com intengéo de questionar 0 reinado contemporineo de capitalismo racializado, bem como sexismo, homofobia, misoginia e misologia racializados, além do legado do colonialismo com sua participa¢io em genocidios, ecocidios epistemicidios. Muitas pessoas chegaram a reco- nhecer que muitos esforcos para reformar o capitalismo ine- vitavelmente reproduzem em proporgdes maiores as préprias relagdes sociais de exploragio que pretendiam eliminar. Uma quantidade grande demais de revoluciondrios falharam na ten- tativa de reconhecer que “quando superamos nossas estimadas simplificagSes deturpadoras, torna-se evidente, embora doloro- so admitir, que o capitalismo, que beneficia apenas uma mino- ria privilegiada, nao teria durado se nao tivesse convencido até mesmo a maioria explorada de sua bondade. A fim de alcangar seu objetivo, o capitalismo precisou envenenar a maioria, de dentro para fora, por meio do proprio critério debom e ruim do qual a maioria se tornou cimplice.” (Miranda, 1977, p.5) Esse um importante reconhecimento de Miranda. Denunciamos 0 capitalismo e, ainda assim, ornamentamos a vida com bens de consumo. Mas, ao mesmo tempo, nao vamos confundir a visio de Miranda com o perene argumento conservador de que as pessoas precisam mudar ou ser convertidas antes que a verda- 397 | Paro sepmvainas 97 rwoncney 43 | PETER MCLAREN deira revolugao possa ocorrer, porque esse, na realidade, é um argumento para o adiamento indefinido da revolugéo. Freire enfatiza uma abordagem dialética a libertagao, que nao é refor- ma nem revolugao, mas sim, reforma e revolusao. Nao estamos diante de uma escolha do tipo ou/ou, mas de uma do tipo am- bas/as. Miranda (1977, pp. 21-22) observa que “O verdadei- ro revolucionério abjura os paliativos reformistas, porque eles desvirtuam os esforcos das pessoas mais capazes de fomentar a rebeliéo contra o sistema burgués em rejuvenescer e renovar; tais paliativos constituem, portanto, a melhor defesa do siste- ma. Um outro lado dessa mesma moeda é que o revolucionério deve considerar qualquer mudanga no sistema socioeconémico a priori inadequada, se essa mudanga nao envolver uma revolu- Ao radical no comportamento das pessoas em relag4o umas as outras” A critica moral do capitalismo pelos marxistas consiste na exigéncia “de que ele realize sua propria verdade na pratica; que estabeleca igualdade genuina perante a lei e de acesso a ela; que abrigue, vista e alimente adequadamente toda a populacio, sem discriminagio; ctie igualdade de acesso 4 educagio que seja boa da mesma forma para todos e, acima de tudo, democrati- ze em todos os niveis, de modo crucial, nas relagées sociais de produgio. O capitalismo no fard isso, porque nao consegue fazer isso e sobreviver como capitalismo. Ainda assim, é 0 capi- talismo que torna compulséria a linguagem por meio da qual é possivel formular essas demandas. O capitalismo deve viver sua prépria moralidade ideologicamente, isto é pode sustentar suas convicgSes morais apenas como forma de nio reconhecer © fato de que instala as préprias condigées sob as quais esas convic¢des sao irrealizaveis. Nao pode abandonar a linguagem moral sob a qual nao consegue viver” (Turner, 1983, p. 151). 398 | Pao sapmvainas 8 rwoncney 43 | | Paton sarc 8 PAULO FREIRE, © HOMEM ATEMPORAL Sem divida, Freire concordaria com essa critica ao capita- lismo, uma vez que ela é essencialmente praxis, “uma praxis de fazer emergir as condigées sob as quais as ambiguidades do capitalismo podem ser resolvidas...” (Turner, 1983, p. 150). Freire incorporou a totalidade de suas energias de forma exemplar, ampliando a esfera da libertagéo e criando cami- nhos a partir de miiltiplas arenas de luta. Seu papel histérico como ponto de referéncia fundamental em tempos de caos € incerteza marcou Paulo Freire como o homem arquetipico, um homem intemporal, um simbolo liminar que deve ser re- interpretado e adaptado para se adequar aos tempos e locais, de luta. Ele nos estabilizou em periodos histéricos dificeis, segurando uma lanterna na escuridao, proporcionando-nos alivio, muito necessario enquanto cuidamos de nossas feridas durante as derrotas ¢ realinhamos nossas energias ¢ recon sideramos nossas estratégias durante as vitérias. Os espasos da possibilidade, que geram sua pedagogia, mantém vivas as, chamas da esperanga. Referéncias bibliograficas Boff, Leonardo. Francis of Assisi. Maryknoll, Nova York: Orbis Books, 2006. [Ed. bras. Sao Francisco de Assis, ternura e vigor: Ura leitura a partir dos pobres, Peteépolis: Vozes, ed. 13,2012.] Darder, Antonia. Freire and Education. Nova York: Routledge, 2015. . Reinventing Paulo Freire: A Pedagogy of Love. 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