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ORDEM DOs PSICOLOGOS Parecer 43/CEOPP/2016 Sobre duplicagéio de intervengées A Comissio de Etica da Ordem dos Psicélogos Portugueses, em reunido ordindria do dia 08 de janeiro de 2016, entendeu elaborar um parecer a propésito da duplicacao de intervengdes em funcdo de um processo movido pela Autoridade da Concorréncia, Este parecer ndo tem por base nenhuma questo concreta, pronunciando-se sobre alguns aspetos genéricos tidos como relevantes para a formacao do profissional, a qual ¢ essencial para a boa prética da psicologia e para a consolidagdo da identidade do psicélogo. Entende-se por duplicacao de intervengdes todas as situacdes em que um cliente acompanhado simultaneamente por mais do que um psicélogo para o mesmo fim. Portanto, circunstancias em que, Por algum motivo, um cliente recorre a dois psicélogos com o mesmo tipo de pedido. Uma das maiores dificuldades na aceitaco deste tipo de pratica reside no potencial prejuizo para o cliente, ou seja, uma violagdo do principio da Beneficéncia e Nao-maleficéncia. Na verdade, a psicologia é uma profissdo que se baseia na construcdo de uma relacdo de confianca entre psicélogo e cliente, existindo um alargado conjunto de modelos teéricos. Estes dois factores tornam a sua prética bastante heterogénea, porque dependente das caracteristicas do psicdlogo e do modelo tedrico de referéncia, ainda que se pretenda que os resultados da intervengo sejam os mesmos. No Pagina 1 de6 ORDEM DOS PSICOLOGOS fundo, e com base em intervengées baseadas na evidéncia, poder-se-é dizer que serdo diferentes caminhos para chegar ao mesmo sitio. Se um cliente se submeter a intervencao com dois psicélogos, a probabilidade de estes seguirem caminhos diferentes serd, pois, elevada. Em certa medida, estas diferencas poderdo gerar no cliente dissonancias que eventualmente prejudicarso a sua confianga no ou nos psicélogos, com as consequeéncias negativas previsiveis, inclusivamente no que diz respeito ao resultado da intervencao. Evidentemente que qualquer pessoa terd direito a uma segunda opiniao. O psicélogo, na primeira consulta, no pode saber se o seu cliente jd est a ser acompanhado por algum colega. Contudo, mal tenha conhecimento disso mesmo, deverd solicitar ao cliente que opte por um dos psicélogos, caso a intervengo se destine a0 mesmo fim. Poderé, com a autorizacéo do cliente, contactar o outro psicélogo a fim de obter todas as informagdes que considerar relevantes no caso de ser ele a continuar a intervencio. 'Na avaliaco psicol6gica, a questo da segunda opinigo surge como ainda mais pertinente. Contudo, também neste caso seré no s6 desnecesséario, mas até negativo, que o cliente seja submetido num curto espaco de tempo as mesmas provas psicolégicas. Podem manifestar-se fenémenos de aprendizagem e de habituago que invalidario os resultados das mesmas. Ainda que possam ser utilizadas outras provas, a repeti¢ao da avaliagdo serd sempre desnecesséria uma vez que a avaliagio psicolégica se baseia na utilizago de protocolos vélidos. Estar-se-4 a comprometer, junto daquele cliente, a aplicagao dessas provas no futuro, sem motivo justificével. Se o cliente desejar obter uma segunda opinigo, 0 primeiro psicélogo consultado deverd enviar 20 outro psicdlogo, indicado pelo cliente, 0s protocolos utilizados bem como todos os resultados e notas obtidos na avaliagao, a fim de permitir 20 segundo psicdlogo a sua interpretagdo dos mesmos. Eventualmente, se o segundo psicélogo entender como necesséria a realizagdo de uma ou outra prova psicolégica diferente poderé, ¢ claro, fazé-lo. Pagina 2 de 6 ORDEM DOS PSICOLOGOS Deve, contudo, distinguit-se a interven¢o dupla da intervengo com dois psicélogos com fins diferentes. Na verdade, seré perfeitamente possivel, e por vezes até desejavel, que um psicdlogo acompanhe um cliente e um outro 0 avalie, apenas para dar um exemplo. N&o pode contudo esta Comisséo de Etica deixar de, como ponto prévio, fazer referéncia ao Cédigo Deontolégico da OPP como base para a resposta 4s questdes entretanto colocadas. Nomeadamente no que diz respeito aos prin icos que deverdo reger as priticas e intervengdes psicolégicas. Considerando que: 1. 0 psicélogo, na sua intervencio, visa o melhor interesse do seu cliente, e deve recusar qualquer intervengo que entenda ser prejudicial ao mesmo; 2. O psicélogo desenvolve a sua interven¢o com individuos ou grupos de individuos de acordo com a situacdo que a enquadra, sendo responsével pela escolha da abordagem teérica mais adequada 2 mesma; 3. Ainda que os objectivos sejam os mesmos, a heterogeneidade de praticas na psicologia uma realidade, considerando os diversos modelos tedricos que a sustentam; 4. A relacdo de confianca estabelecida entre psicdlogo e cliente ¢ um elemento central da interven¢o, no podendo esta ser dissociada dos resultados pretendidos; 5. A recolha dos dados relevantes da histéria do cliente 6 importante no inicio de uma intervenco psicolégica. IntervengSes psicoldgicas prévias ou atuais so dados relevantes da histéria do cliente; Pagina 3 de 6 ORDEM DOS | PSICOLOGOS 6. Os clientes, com a excecdo de restrigées institucionais, tém direito a escolher o psicblogo que querem consultar; 7. Ocliente, em qualquer circunstdncia, sempre que entender, tem direito a obter uma segunda opinio por parte de qualquer psicdlogo a sua escolha; 8. 0 psicélogo deve colaborar com os colegas no sentido do melhor interesse dos clientes. Nomeadamente, deve, com 0 consentimento do cliente, enviar todas as informagdes que facilitem a obtenco de uma segunda opiniao; 0 psicélogo, depois de definir, em conjunto com o cliente, quais os problemas ou questdes colocadas, obtém o consentimento informado do cliente com vista a intervenco; 10. Ainda que muitas vezes possam estar associadas, existe uma diferenca entre avaliagao psicolégica e intervencao psicolégica, 11. Todos os psicélogos so profissionais competentes e experientes na realizacao das avaliacdes e intervengies para as quais receberam formacao e treino especificos. ‘Somos de parecer que: 1. A atuagdo do psicdlogo deve ser sempre orientada pelos principios expressos no seu cédigo idade e Direitos da deontolégico, nomeadamente pelos principios do Respeito pela Di Pessoa e da Beneficéncia e Nao-maleficéncia. Deve estar consciente do impacto que a sua atuagéo poderd ter junto do cliente, procurando promover o seu bem-estar e nunca o prejudicando de uma forma consciente ou negligente. Pagina 4 de 6 ORDEM DOS PSICOLOGOS 0 psicdlogo deve informar o cliente sobre o tipo de intervencao que pretende desenvolver, obtendo o consentimento informado para a mesma; © psicélogo deve obter informacdes junto do cliente sobre a sua histéria de intervencoes psicolégicas; O psicdlogo esta consciente de que nao existem modelos de intervengdo psicolégica que sejam melhores ou piores entre si, uma vez que todos esto sustentados em evidéncia cientifica, e de que todos os psicélogos séo profissionais que orientam a sua atuagdo pelo Principio da competéncia. Nesse sentido no alicia os seus clientes em relagéo a outros colegas ou modelos de intervenc30; © psicélogo esté consciente de que a duplicagdo de intervengdes em psicologia, para o mesmo fim, pode ter efeitos negativos para o cliente e seguramente no trard beneficios, pelo que, ainda que para isso solicitado pelo cliente, nao o devers fazer; Existe uma distingdo clara entre a duplicag3o de intervengdes para 0 mesmo fim, e a possibilidade de dar uma segunda opinido. No caso de um psicélogo ser consultado por uma Pessoa que mantém um acompanhamento por parte de outro colega, 0 psicélogo deve tentar perceber quais as motivacdes do cliente. Deverd ento informé-lo sobre as limitages inerentes & duplicacéo de intervencdes, instando o cliente a escolher qual dos psicdlogos pretende que leve a cabo 0 acompanhamento. Caso decida comecar a acompanhar aquela pessoa, poderd, com 0 consentimento do cliente, contactar o colega que mantinha essa fa a obter todas as informacées que possam ser teis na sua mesma interven¢do, com intervencSo; Pagina 5 de 6 ORDEM DOS PSICOLOGOS 7. No caso de um proceso de avaliacdo psicolégica, o cliente teré o direito a uma segunda opiniao. Porém, como a repeticdo de protocolos de avaliacdo no é possivel num curto espaco de tempo, e sendo indesejavel a replicago da avaliaco mesmo recorrendo a outras provas, o psicdlogo deverd contactar o colega que realizou a avaliaao psicoldgica, a fim de obter informago sobre 0 protocolo utilizado, bem como ter acesso as respostas do cliente as provas aplicadas, quando tal for tecnicamente adequado. Poderd ainda fazer alteracdes a esse protocolo, e aplicar outros instrumentos que entenda como adequados para emitir a sua opini8o; 8. Todos os psicélogos reconhecem o direito dos seus clientes a obterem uma segunda opinigo, pelo que prestam toda a colaborago necesséria nesse sentido; 9. A intervengao psicoldgica tem aplicagdes e objetivos que podem ser muito diferentes. Por isso mesmo, & natural que a pessoa recorra a diferentes psicélogos, como formacées diversas, com objetivos especificos. A leitura deste parecer no dispensa a consulta do Cédigo Deontolégico da Ordem dos Psicblogos Portugueses bem como das Guidelines sobre comunicaco interprofissional e partilha de informacao. 8 de janeiro de 2016 Aprovado pelo Comissao de Etica da Ordem dos Psicélogos Portugueses Relator do Parecer e Presidente da Gomissdo de Ftica ‘Miguel Ricou Pagina 6 de 6 N 4 ORDEM DOS PSICOLOGOS Adenda ao Parecer 43/CEOPP/2016 Sobre duplicagao de intervencées A Comissao de Etica da Ordem dos Psiclogos Portugueses, em reuniéo ordinaria do dia 22 de abril de 2017, e tendo por base uma solicitagéo de esclarecimento por parte de um associado, entendeu elaborar uma adenda ao Parecer 43/CEOPP/2016 sobre duplicagao de intervengées. No dia 26 de dezembro de 2016, 0 cédigo deontolégico sofreu uma alteragao substancial no que diz respeito a duplicagao de intervengbes em psicologia. O artigo 3.7 do Cédigo Deontolégico foi revogado, bem como foram levadas a cabo outras alteragdes que a Autoridade da Concorréncia entendeu poderiam colocar em causa a livre concorréncia entre psicdlogos. A Comissao de Etica da Ordem dos Psicélogos 6 de parecer que independentemente das alteragées produzidas, as razdes substantivas que motivaram a realizagéo do Parecer 43/CEOPP/2016 sobre duplicagao de intervengdes se mantém, pelo que a sua pertinéncia e contetido néo se encontram alterados. 22 de abril de 2017 Aprovado pela Comissdo de Etica da Ordem dos Psicélogos Portugueses Presidente gla Comissao de Etica

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