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‘Token o hn ns wo renin ioral aie Py ewan OU AS 838 MULHERES NA SALA DE AULA Guacira Lopes Louro Enquanio pelo velbo ¢ nove mundo wai ressoando 0 brado = emancipacao da mulher—, nossa debil voz se levanta na capital do império de Sania Cruz, elamando: educai as mutheros! Povos do Brasil, que vos dizets ctvilizades! Governo, que vos dizeis liberal! Onde esta a doacao mais importante dessa civilizacao, dlesse liberalismo? (Nisia Floresta, em 1853)" Assim iniciava, em meados do século XIX, © Optisculo bumanitario, uum dos virios escritos com que essa professora autodidata iria perturbar a sociedade brasileira. Afinal, o que pretendia essa “mulher metida a ho- mem"? Nisia Floresta, uma voz feminina revolucionésia, denunciava a con- digdo de submetimento em que viviam as mulheres no Brasil e reivindica- va sua emancipacio, clegendo a educago como o instrument através do/ qual essa meta seria aleangada Proclamada a Independencia, parecia haver, ao menos como discurso oficial, a necessidade de construir uma imagem do pais que afastasse seu cariter marcadamente colonial, atrasado, inculto ¢ primitivo, E bem ver- dade que os mesmos homens e grupos sociais continuavam garantindo suas posigdes estratégicas nos jogos de poder da sociedade. No entanto, talvez fossem agora necessirios outros dispositivos e técnicas que apre- sentassem as priticas sociais transformacs, ainda que muitas transforma- bes fossem apenas aparentes. O discurso sobre a importincia da educa¢io na modernizacdo do pais ‘ra recorrente. As criticas 20 abandono educacional em que se encontrava iii a maioria das provincias estavam presentes nos debates do Parlamento, dos jornais ¢ até mesmo dos sarauss, Os anos passtvam, © Brasil eaminhaa para o século XX ¢, nas cidades e povoados, sem fakar na imensidao tur. ‘grande parte da populac3o continustya analfabera Os legistadores haviam determinado, nos idoy de 1827, que se es Tecessem “escolas de primeiras letras’ as chamuds “pedhigoggas, em todas as cidades, vilas ¢ lugarejos mais populosos do Império” idade estava, provavelmente, muito distante dessa imposi¢ho legal. Até que pon- to era imperativo saber ler e escrever ou conhecer as quatro operacoes? Naquela sociedade escravocrata € predominantemente rural, em que lati fundirios e coronéis teciam as tram fam agregados, mulheres e cian jos Soci se Faziam jor parte das ve 2e8, por acordos ticitos, pelo submetimento ou pela palavra empenhada Aqui ¢ ali, no entanto, havia eseolas ~ certamente em maior nimeto para meninos, mas também para meninas; escolas fundadhas por congrega- oes € ordens religiosas femininas ou masculinas; leigos — professores para as classes de meninos e professoras ‘meninas. Deveriam ser, eles e clis, pessoas de moral imatacavel; suis casas ambientes decentes saudiveis, uma vez que as familias thes confiavam seus filhos ¢ fihas. As tarefas desses mestres e mestras mio erm, contudo, exatamente as mesmas. Ler, escrever e conta, saber as quatro operagoe mais a douttina crista, nisso consistiam os primeiros ensinamentos para ambos os sexos; mas logo tlgumas distingoes apareciam: para oy meninos, nogoes de geometria; para as meninas, bordado e costura Quando os deputados regulamentiram com a primeira lei de instrucio piiblica 0 ensino das “pedagogias” ~ aliis 0 tinico nivel a que as meninas {eriam acesso -, afirmaram que seriam nomeadas mesiras dos estabvleciment tos “aquelas senhoras que por su honestice, prudéncia e conhecimentos se mostrarem dignas de tal ensino, compreendendo também o de coser e bor dar” Aqui vale notar que, embora lei determinasse salirios igus, a diferen- ciacao curricular acabava por representar uma diferenciacio salarial, pois a inclusio da geometria no ensino dos meninos implicava outro nivel de remu- neracio no futuro — que 86 seria usufruido pelos professores.* Seria uma simplificag2o grosseira compreencler a educacio das meni- nas € dos meninos como processos Unicos, de algum modo unttersals dentro daquela sociedade. Evidentemente as divisdes de classe, etnia ¢ raga tinham um papel importante na determinacio das formas de educa: ‘do utilizadas para transformar as criangas em mulheres € homens. A essas divisdes se acrescentariam ainda as divisoes religiosas, que também impli- catiam diversidades nas proposigdes educacionais be. Para a populagao de origem :fricana, a escravidao significava uma negacdo do acesso a qualquer forma de escolarizacio. A educagao das tiangas negras se dava na violeneia do trabalho e nay formas de luta pela sobrevivéncia, As sucessivas leis, que foram lentamente afrouxando os lagos do escravismo, mo trouxerim, como conseqiiéncia direta ou ime- diata, oportunidades de ensino para os negros. Sao registradas como de carter excepcional e de cunho filantrdpico as inieiativas que propunbara aaceitagao de criangas negras em escolas ou classes isoladas ~ 0 que vai ‘ocorter no final do século. Algo semelhante se passava com os descendentes incligenas: sua edu- cagio estava ligada 2s priticas de seus proprios grupos de origem e, embo- rafossem alvo de alguma aicao religiosa, sua presenga era, contudo, veda dda nas escolas publicas. As diferentes etnias dos “trabalhadores livres” também implicavam diferenciadas priticas edueativas, Imigrantes de origem alema, italiana, espanhola, japonesa etc. tinham propastas educativas diferentes ¢ cons” truiram escolas para meninos e meninas muitas vezes com auxilio dire- to de suas regides de origem, Suas diferentes formas de inserclo na producio € na sociedde brasileiras (como operirios fabris, Lavrado- res, ou pequenos proprietirios) também teriam conseqdéncias nos pro- cessos educativos. No entanto, no se pode esquecer que, de um modo geral, as meninas das camadas populares estavam, desde muito cedo, envolvidas nas tarefas domésticas, no trabalho da roga, no cuidado dos irmaos menores, e que essas atribuicdes tinham prioridade sobre qual- quer forma de educagdo escolarizada para elas. As diferencas entre 0 sexo masculino e feminino estavam presentes nas concepgdes educativas dos imigrantes ~ da mesma forma que determinavam, € claro, as dos luso-brasileiros. O relato de um marinheiro norte-americano, datado de 1849, ilustra o tipo de educago que era dado as meninas 6rfas ¢ abandonadas; Aprendiam ramos titels cle trabalho cotidiano. Muitos mogos vao li (no asilo de 6rfdos) procurar esposa e depois de apresentar atestado de boa moral © de ser tralnlhador sao recebidos no vestibulo onde enconteam as -mogas casacosras.” let, a escrever, aritmética, costura, cozinha € todos os Algumas ordens religiosas femininas dedicaram-se especialmente & ‘educacio das meninas dfs, com « preocupagio de preservé-tas da "con- taminacio dos vicios’; outras religiosas voltaram-se "ao cuidado das mo- fas sem emprego e daquclas que se desviaram do bom caminho” 7 6s Na virada do século, geupos de teabalhadlores organizados em torno de ideais politicos, como o socialismo ou 6 anarquismo, nao apenas apr sentaram propastas para a educagio de suas criangas, mas efetivamente as tornaram realidhde através da criacao dle escola, Essas iniciativas foram, ‘especialmente significativas entre os anarquistas, que ainda davam ater a0 as questoes relativas 2 educagio feminina. Nos jornais libertirios, eram frequientes os artigos que apontavam a instrucio como uma “arma privile- giada de libertagao”* para a mulher. Além da imprensa e dos encontros ‘que, 2 noite, reuniam mulheres & homens em prolongadas palestras ¢ dis- ‘cussées ~ entre outros temas, tratavam da educaco e da participacio femi- nina no movimento operiirio € na sociedade ~, as escolas libertirias tam- bem se preocupavam com a instrucao das meninas. Para as filhas de grupos sociais privilegiados, 0 ensino da leitura, da escrita e das nogdes basicas da matematica era geralmente complementado pelo aprendizado do piano e do francés que, na maior parte dos casos, era tministrado em suas proprias casas por professoras particulares, ou em es- colas religiosas. As habilidades com a agulha, os bordados, as rendas, as habilidades culinarias, bem como as habilidades de mando chs criadas € servicais, também faziam parte da educagao das mogas; acrescida de ele- mentos que pudessem tornd-las nao apenas uma companhia mais agradé- vel 20 marido, mas também uma mulher capaz.de bem representi-lo social- mente, O dominio da casa era claramente o seu destino ¢ para esse domi- nio as mocas deveriam estar plenamente preparadas. Sua circulacao pelos espagos piblicos s6 deveria se fazer em situagdes especiais, notadamente ligadas as atividades da Igreja que, com suas missas, novenas ¢ procissoes, representava uma das poucas formas de lazer para essas jovens. ‘As concepcoes e formas de educagio das mulheres nessa sociedade ram miltiplas. Contemporaneas e conterraneas, clas estabcleciam rela- ‘goes que eram também atravessadas por suas divisdes e diferengas, rela- ‘Goes que poderiam revelar e insttuir hierarquias e proximidades, cumpli- cidades ou ambigtidades. Sob diferentes concepgdes, um diseurso ganha- va a hegemonia e parecia aplicar-se, de alguma forma, a muitos grupos sociais a afirmagao de que as “mulheres deveriam ser mais educadas do ‘que instruidas”, ou seja, para elas, a énfase deveria recair sobre a formagao moral, sobre a constituicio do cardter, sendo sulicientes, provavelmente doses pequenas ou doses menores de instrucao. Na opiniao de muitos, nao havia porque mobiliara cabeca da mulher com informacdes ou conhec! mentos, jd que scu destino primordial - como esposa € mae - exi acima de tudo, uma moral s6lida e bons principios. Ela precisaria ser, em primeiro lugar, a mae virtuosa, o pilar de sustentacdo do lar, a educadora das geracies do aro. A educacao da mulher seria feita, portanto, para além dels, «i qs ~sa fustificativa no se encontrava em seus proprios anseios ot. seces+ hades, mas em sua funcao social cle educadora dos fi- thos ou, n Ling’-22+m republicans, nat funao de formadora dos Futuros cidadios. Ainihs ae ::~.amo por educacto feminina viesse a representar, sem divida, us gan justificads cor primeira le: de para as mulheres, sua educagio continuava :t ser iestino de mie, Tal justificativa ji estava exposta na custo patblica do Brasil, de 1827: As mulheres creeem tanto mais de instrucio, porquant sito elas le Gaal p> soelra educagao aos seus filhas. Sa0 elas que fazem os: homes ~ hess» mins; ste as origens das grandes desordens, como dos grandes ns; os homens moklam a sua conduta aos sentimen: tos deiis das do seculo XIX apontam, pois, part a necessidade mulher, vincukindo-t & modernizagio da sociedad, ‘lia, A construcio da cidadania dos jovens. A preocu- conceito de trabalho toda 1 carga de degradagio que Dor causa da escravidio e em vinculi-to 3 ordem e pro- -dutores da sociedade a arregimentar as mulheres das camadas populi-=s, Elas deveriam ser diligentes, honestas, ordeiras, as- seadas; a e!2s ex*=ria controlar seus homens ¢ formar os novos trabualha- dores ¢ trabalhas cas do pais; Aquelas que seriam as mies dos lideres tambem se siribu:. tarefa de orientagao dos filhos e filhas, manutengi0 de um 1 distirbios e perturbagdes clo mundo exterior. Para mitos, « educ nina nao poderia ser concebida sem uma solida formaglo rsa, que seria a chave principal de qualquer projeto educativo. Deve-se notar que, embora a expressio crista tena um carter mais abrangente. 3 referéncia para a sociedade brasileira da época era, sem diivida, 0 catclicismo. Ainda que a Reptiblica formalizasse a separa- to da Igreis eats.2ca do Estado, permaneceria como dominante a moral teligiosa, que apentava para as mulheres a dicotomia entre Eva e Maria. A escola entre esse+ dois modelos representava, na verdade, uma ndo-e tha, pois se espers+2 que as meninas e jovens Construissem suas vidas pela imagem de purez= Ga Virgem. Através do simbolo mariano se apelava tan- to para a sagradis missdo da maternidade quanto para a manutengao da pureza feminina, £sse ideal feminino implicava 0 recato e 0 pudor, a busca constante de um Derfei¢do moral, a aceitaglo de sacrificios, a agho educa- dora dos filhos e # has de educacio par. higienizacio da = pacio em afastar Ihe era associac gress levou 08 ¢ afustac ur sro 04S MUBIERES No ASL, Para outros, inspirados nas idéias positivistas e cientficistas, justifica- va-se um ensino para a mulher que, Mgado ainda 2 fungio gaterna, afas- lasse as supersticdes e incorporasse as novidades da ciéncia, em especial das ciéncias que tratavam das tradicionais ocupagdes fernininas. Portanto, quando, na virada do século, novas disciplinas como puericultuta, psico- Jogia ou economia doméstica viessem a integrar o curriculo dos cursos femininos, representariam, a0 mesmo tempo, 2 introdugo de novos con- Ceitos cientificos justficados por velhas concepgdes relativas a esséncia do que se entendia como feminino. . José Verissimo, escrevendo imediatamente apés a Prockamagao da Repiiblica, em 1890, a sua Fducacdo nacional, advoga uma “nova edu- cago” para a mulher e responde qual seria 0 “programa” dessa edu- cacao: Todo programa de educacao ha de atender a duas condigoes, 0 esse do educando € 0 interesse da coletividade em vista da'qual se faz a educagao. O interesse do educando € indicado pela natureza ou emprego da atividade a que ele se destina; o da coletividade, pelas suas condigdes € prospectos no meio das outras sociedades humanas, ‘A mulher brasileira, como a de outra qualquer sociedade da mesma ivilizagio, tem de ser mae, esposa, amiga e companheira do homem, sua aliada na luta da vida, criadora e primeira mestra de seus filhos, confidente ¢ conselheira natural do seu marido, guia de sua prole, dona ¢ reguladora da economia da sua casa, com todos os mais deve- res correlativos a cada uma destas fungdes. Nem as ha, ou pode haver ‘mais dificeis, nem mais importantes e consideraveis e, portanto, mais dignas € mais nobres ¢, se houvessem de ser desempenhadas na per- feigao, requerer-se-iam na mae de familia mais capacidades do que tem de comum ainda os mais capazes chefes de Estado. Se esse ideal, como todos os ideais nao pode ser atingido, nem por isso devemos abandoné-lo, porque, em moral, para alcancarmos o minimo compati- vel com a imperfeigao humana, havemos de pretender 0 méximo."* 2X9 MAGISTERIO TRANSFORMA-SE EM TRABALHO DE MULHER © abandono da cducagao nas provincias brasileiras, denunciado des- de 0 inicio do Império, vinculava-se, na opiniao de muitos, a falta de mes- tres e mestras com boa formago. Reclamaviim, entdo, por escolas de pre~ paragio de professores e professoras. Em meados do século XIX, algumas ‘medidas foram tomadas em resposta a tais reclamos e, em algumas cidades do pais, logo comegaram a ser criadas as primeiras escolas normais para formagao de docentes. unin WaSaLA De AULA 449 ais instituigdes foram abertas para ambos os sexos, embora o regula- mento estabelecesse que mogas e rapazes devessem estudar em classes separadas, preferentemente em tumnos ou até escolas diferentes. Vale lem- brar que 2 atividade docente, no Brasil, como em muitas outras socieda- ides, havia sido iniciada por homens aqui, por religiosos, especialmente jesvitas, no periodo compreendido entre 1549 e 1759. Posteriormente, fo- ram homens que se ocuparam do magistério com mais freqiiéncia, tanto como responsiveis pelas “aulas régias’ ~ oficiais— quanto como professo- res que Se estabeleciam por conta propria. Agora, no entanto, as mulheres eram também necessiirias e, como vimos, as classes de meninas deveriam ser regidas por “senhoras honestas” ‘Ao serem criadas as escolas normais, a pretensao era formar professo- res € professoras que pudessem atender 2 um esperado aumento na de- ‘manda escolar. Mas tal objetivo nao foi alcancado exatamente como se imaginava: pouco a pouco, 0s relat6rios iam indicando que, curiosamente, as escolas normais estavam recebendo e formando mais mulheres que homens, Em 1874, por exemplo, relata o diretor geral da instrugao que a Escola Normal da provincia do Rio Grande do Sul vinha registrando “um rndmero crescente de alunas, a par da diminui¢ao de alunos’. Essa tendén- cia preocupa o diretor, que acrescenta: © Asilo de Santa Teresa proporciona & Escola, todos 0s anos, um ‘bom nimero de educandas, ¢ o mesmo poderd fazer o Asilo de Santa Leopoldina. As educandas tém em geral freqientado com aproveita- mento curso normal e algumas, na regéncia de cadeiras, tém dado provas de excelente vocacio para 0 magistério, Dentro de certo tem- po acontecera que teremos superabundancia de professoras habilita~ das pela Escola Normal e falta de professores nas mesmas condi goes." O mais grave era que tal tendéncia nao parecia ser-uma.caracteristica enas dessa provincia, Em algumas regides de forma mais marcat ‘fas menos OenouToRE estavam abaadonaado 38 & ‘salas de aula. | ito daria origem a (feminizaya6 do magistéria” — também ol lo cm outros paises ~," fato provavelmente vinculado.ao_processo de ‘urbanizacao e industrializag’io" que ampliava as oportunidades de traba: S Homiens. A presenga dos imigrantes e 0 crescimento dos seto- tes sociais médios provocavam uma outra expectativa com relacio a~ “escolarizagao. Fases latores eainda-rampliagio das atividades de comér- io, a maior circulagao de jornais € revistas, a instituigao de novos habitos ‘ecomportamentos, especialmente ligados &s transformagées urbanas, es- Femni2nc svam produzindo novos sujeitas sociais tudo concorta dlesse movimento. | O processo no se dava, contd, sem esitencis ou rita, A iden= | tificagao da mulher com a atividade docente, que hoje parece | natural, era alvo de discussoes, disputas e polemicas. Part tima completa insensatez entregar s mulheres usualnrente despreparadas portadonas de cérebros ~pouco desenvol¥idos” pelo ses Wesuso” a educa reo das criangas, Um dos defensores dessa idéia, Tito Livio de Caste, Em uma crdniea datadla de 19183 Sfrmava que havia uma aproximacio notivel entre a psicoloa feminina | (Ginny ETT ee TA ee er eralnanea pudesse sugeriruma "man" indici- | jenfos em rela" mile tantas menins que todos os anasacodem a0 ada mulher para o ensino das criangas, na verdade representiva “um | eoacurso de admissio a Escola N a EA etl um perigor uma ireflexio desastrosa”, Na sua argumentacdo, mulhe Sees rene cero viviam voltados para o passido €, portanto, no poderiam “Pt parar organismos que se devem mover no presente ou no futuro (utnas vozes surgiam para argumentar nt direcao posta. Afirmavam aque as mulheres tinham, -por natureza", uma inclinacao para o trato corn atriancas, que elas eram as primeira € “naturais educadoras", portanto ada mais adequado do que hes confiar a educacao escolar dos peque- hos. Se o destino primordial da mulher era a maternidtade, bastaria pensar {que o magistéio tepresentava, de cert forma, “a extensto da maternida- Ger eada aluno ou aluna vistos como um filho ou uma filha *espiritual”. 0 srgumento parecia perfeito: a docéncia nio subverteria a funcio feminina fendamental, ao contririo, poderia amplii-la ou sublin-a. Para tanto se tis importante que o magisterio fosse também representado como uma ttividede de amor, de entrega ¢ doaglo. A ele acorreriam aquelts que tivessem -vocacio Fase discurso justificava a saida dos homens das salas de aula ~ dicados agora a oulras ocupagdes, muitas vezes mais rendosas ~€ leit sreva entrada das mulheres nas escolas — ansiosas para ampliar sew diniverso._resrito a0 lar e 3 igreia. A partir de entdo passam a ser associa das ao magistério caractersticas tis como “tipicamente femininas" paces tia, minuciosidade, afetividade, doacio, Caracteristcas que, por sua ve2, Wao se aticular 2 tradigio religioa da atividade docent, reforgando ainda + idéia de que a docéncia deve ser percebida mais como umm *sacerd6cio” dis que como uma profissto. Tudo fot muito conventente para que se eons titugse a imagem das professoras com “trabalhadoras d&ceis, dedicadas € pouco reivindicadoras’,* 0 que servria fururamente para hes dificultara SrinayhiSasea ven caine uoeineetansns Fiscussao de questbes ligadas a salrio, carrera, condigdes de trabalho et da mulher, Cada aluno ou aluna era t | sobre a docéncia ~a determinagio de contetidos ¢ 0 niveis de ensino, a exi géncia cle credenciais dos mestres, horirios, ou alirios-, ou como u processo para : como um pr paralelo a perda de autonomia que pass: av OH HOS GB tes do ensino." E importante, no entanto, evitar acai causalidade clietieinica qué leve a perisr que 3 perda dessa autooon cc ocorre simplesmente porque as mulheres assuiie mais adequado entender que part tanto se articul 1itos tc alguns parecia | perda dessa autonomia miagistério; talvez seja am miiltipios fatores, ios oS anos acodem a0 seguida, terescenta aternidade, o destino primordial ‘ procesto de feminizato do magistrio™ambem poe ser compres ox Re aeiued ta donee vena ean ite we he re se que fine engia Geom Anata © Cio see Jango montane Kn vote de pended Em 1921, Lourenco Filho também observa: em todos os paises do mundo uma fun’ ‘tras publics avaliam cooper q Fios encarregados do © magistétio prinario Feminine: no Drs 8 i {is mules em quase 70D do total de Fanci Sesino,Parculumente em Sao Paul, I un Hse sre ececo blice, [cl Formaramse, et 1861, nove homens € wma mH Pu nove mules « anv omees | Dai pot cane, mene eas, o numero de senhiorss formandas norialists fol fradativamente crescendo, a ponto de nos ciltimos dez anos ser quase de homens no © tiplo Essa tendéncia, percebida, como jf se salientou, ainda nas primeiras décadas de funcionamento dos cursos normais, acabaria exigindo a ado- ‘Gio de algumas medidas. Em relatGrio de 1877, referente & provincia do Rio Grande do Sul, transcrito por Primitivo Moacyt, 1e-se F demasiado sensivel a falta de professores: mais da metade das cacel- Fig do sexo masculino esti por prover; Comarcas inteiras no possuerd Ng fe ninco cnondss da Fac Normal por cssidades do ensino part o Sexo mas fenquanto nao satistazem as necessidad c crina de caceiras, em sua ulino, se o pessoal que busca a regencia interina de cackiras, em 5 feneralidade, nao tem idoneidade © capacidade, como proveder? A Megencia das escolas vagas do primeiro grau do sexo masculino deve Ter dada bs professoras habilitadas na Escola Normal, opina o digetor feral. E-de fato incontestavel a supremacta da mulher para as funcoes do magisterio primario nao s6 para a iafancia como para os adulton, Now Estados Unidos &priica ger ver o magintéio execido por horas [1 No Brasil, a experiencia ext Diante dessa realidade, impunha-se alterar algumas das disposigdes anteriores. A “crescente freqiéncia das mulheres ¢ decrescente dos ho~ mens" fazia supor que brevemente as escolas cle meninos estariam ser mestres, A solucao seria permitir que mulheres Thes dlessem aulas, mas isso ia algumas precaucoes. Diz, entao, o mesmo relattirio de 1877 As as publicas que nao estiverem providas [1 com professores ormalistas on vitalicios, sero postas em Concurso, em MaREO € OU bro, de cache ano. © cargo de professor efetive s6 poder ser provide. por professor normalista e que tenhsl completado 20 anos de idade, Para as iulas do sexo masculine poderio ser nomeadhas as aormtalistas que houverem atingido 23 anos de idade, Estas aulas serdo mistas, & eeeherae me os de até 10 anos.” Buscava-se assim cercar de salvaguardas a sexualidade dos meninos e das professoras. E para isso se langaria mao de miiltiplos recursos e dispo- sitivos. De muitos e variados modos ~ através de proibicoes, de arranjos urquitetOnivos, da disteibuicao dos sujeitos, dos simbolos, das norm: ratava-se do sexo no espaco ct escola, Os responsiveis e autoridades mmantinham-se “num estado de alerta perpéwo". Percebicls e constituida como frag, mulher precisava ser protegida e controlada., Toca ¢ qualquer atividade fora do espaco doméstico podria representar um risco. Mesmo o trabalho das jovens clas camadas populares nas fabricas, no comércio ou nos escrit6rios era aceito como uma espécie de fatalidade. Ainda que indispensavel para « sobrevivencia, o trabalho poderia ameagi-las como mulheres, por isso o trabalho deveria ser exerci- do de modo a nao as afastar da vida familiar, dos deveres domésticos, da alegria da maternidade, da pureza do lar. As jovens normalistas, muitas delas atraidas para o magistério por necessidade, outras porambicionarem ir além dos tradicionais espacos sociais e intelectuais, seriam também cer- cadas por restrigdes e cuidados para que sua profissionalizagio nao se chocasse com sua feminilidade. Foi também dentro desse quadro que se construiu, para a mulher, uma concepcio do trabalho fora de casa Conio ocupacao transitoria, a qual deveria ser abandonada sempre que se impusesse a verdadeira missio fe~ ‘minina de esposa e mae. O trabalho fora seria aceitivel para as mocas solteiras a1é 0 momento do casamento, ou para as mulheres que ficassem s65~as solteironas e viivas, Nao ha diivida que esse cariter provisério ou transit6rio do trabalho também acabaria contribuindo para que 0s seus salérios se mantivessem baixos.® Afinal o sustento da familia cabia 20 ho- mem; o trabalho externo para ele era visto no apenas como sinal de sua ‘capacidade provedora, mas também como um sinal dle sua masculinidade. Dizia-se, ainda, que o magistério era prdprio para mulheres porque cra um trabalho de “um s6 turno”, o que permitia que elas atendessem suas “obrigacdes domésticas” no outro periodo. Tal caractetistica se cons- tituiria em mais um argumento para justificar o saldrio reduzido - suposta- ‘mente, um “salério complementar". Com certeza nao se considerava ‘ situacdes em que o salario das mulheres era fonte de renda indispensivel para a manutencao das despesas domésticas. ‘A incompatibilidade do casamento € da maternidade com a vid pro- fissional feminina foi (e continua sendo!) uma das construgdes sociss Mais persistentes, De fato, 0 “culto da domesticidade™* ji vinha se constiuiinds 1o longo do século XIX e representava uma valorizagio da functo seni nna no lar, através da construco de vinculos entre o espaco domestic € a sociedade mais ampla. A autoridade moral que as mulheres excrciam clen~ to de casa era o sustenticulo da sociedade e se fortalecia “nit medica em que o lar passava a adquirir um conjunto de papéis de ordem social, po} tica, religiosa e emocional J mais amplo do que tivera até ents (Os argumentos religiosos e higienistas responsabilizavam a atulher pela manutengao de uma familia saudivel ~ no sentido mais amplo do termo, A esses argumentos iriam se juntar, também, os novos conhiecimen tos da psicologia, acentuando a privacidacle familiar € 0 amor msterno como indispensaveis a0 desenvolvimento fisico ¢ emocional «kas csianeas (O casamento e a maternidade eram efetivamente constituidios com er dadeira carreira feminina. Tudo que levasse as mulheres se afestirem desse caminho seria percebido como um desvio da norm. ‘Como vimos, as atividades profissionais representavam um risco para as fungdes sociais das mulheres. Dessa forma, ao se feminizarem, aigunsss “ocupacoes, 2 enfermagem e 0 magistério, por exemplo, tomsram empres tado as caracteristicas femininas de cuidado, sensibilidade. amor.» gilde cia etc, De algum modo se poderia dizer que “0s “oficios novos’ abertos 2s mulheres neste fim de século levario a dupla marca do modelo religioso & da metafora materna: dedicacao-disponibilidade, humildade-subsissio, abnegagio-sacrificio”* ‘A fragilidade feminina, constituida pelo discurso religioso. médico. juridico e educacional € também constituinte de sua protecto ¢ tutela. & professora tera de ser prodluzida, enti, em meio a aparentes paradox it que ela deve ser, 20 mesmo tempo, dirigida e dirigente, profissional ¢ me spiritual, disciplinada e disciplinadora PRODUZINDO PROFESSORAS: As escolas normais se enchem de mocas. A principio sto algumas, depois muitas; por fim os cursos normais tornam-se escolas ce mulheres. Seus curriculos, suas normas, os uniformes, o prédio, os corredores, 0s {quadeos, as mestras e mestres, tudo faz desse um espaco destinado x trans- formar meninas/mulheres em professoras. A instituicdo € a sociedade uti lizam mitiplos dispositivas e simbolos para ensinar-lhes sua missiio, de- senhar-lhes um pel proprio, confiar-thes um tarefa A Forma te tambent se feminiza Os arranjos fisicos— do tempo e do espago escokires - esto informan doe formundo. Talvez possamos entender que a propria anquitetura &, nese etso a arquitetura escolar, constitu’ como que unt “programa” que fala aos sujeitos, ue lhes diz como ser ou como agit, enfim que acaba por institut, “em sik materialidide, um sistema de valores, como ordem, disciplina ¢ vigilincia’ * As escolas normais, phintads inicialmente nas principais cidks- des do pais, buscam, desde suas Fachadas,freqientemente sotenes, indiear a {ods as pessoas quee por ali passam que sio distintas dos demais prédios, que tm Un objetivo especial, Seu espago interno tem também uma organi- zaio plena de significados: “seus corredores¢ salas, a capela ou o crucifi- x0, as handleiras ou os retratos de autoridhides, os quadros de formarurs ow ‘os bustos das “personalidades ilustres'estao afirmando ou ocultando sabe- res, apontand valores e ‘exemplos,, sugenindo destinos: © cotidiano das jovens no interior dessas escolas &, como 0 cotidiano de qualquer instituigto escolar, planejado e controkido, Sets movimentos & suas agdes Sto distribuidos em espagos e tempos regulados e reguladores, Elas devem estar sempre ocupadas, envolvidas em atividades produtivas. E importante notar que o tempo escolar se constituiu, em suas origens, como uum “tempo disciplinar’® Mestres e estudantes tiveram (e tém) de aprencler tuma ldgica © um ritmo prOprios ck escola, O tempo escolar, como um fato cultural, precis ser interiorizado ¢ aprendido, A formacao das professoras, portanto, também se faz. pela organizagio e ocupagio de seu tempo, pelo. uso dos espagos, pelas permissdes e proibigdes para onde ir ou nao it Ess instituicdes cle ensino tinham suas diferengas: escolas normais pablicas, colégios normais religiosos, alguns internatos paticulates; cur- S05 localizaclos nas cddades mais importantes das provincias e dos estados, cursos de cidades menores, escolas laicas ou de orientacio religiosa, pa- £18 ou gratuitas, As mocas que freqiientavam esses cursos tinham origens sociais diversas, o que dificulta qualquer tentativa de caracterizé-las glo: balmente; mesmo a passagem do tempo acarretou outras mudancas na populagio escolar. Em alguns momentos ¢ em algumas comunidades, as escolas normais se tornaram prestigiadas instituigoes de ensino, e acres centaram, a0 curso de Formagio de professor primirio, cursos de especia- lizagio, captando uma clientela socialmente privilegiad ‘Uma série de rituais ¢ simbolos, doutrinas e normas foram mobiliza- dos para a procugio dessas mulheres professoras. Em salasfrequentemente encimadas por crucifixos, mesmo nas escolas laicas, as mulheres tiveram docen- tL ISTOMA DAS AMIENS NO WAS aulas de portugués, matematica, geografia nacional, historia do Brasil e ‘geral, hist6ria sagrada, catecismo, pedagogia e também puericultura, psi- cologia, economia doméstica, tabalhos manuais, higiene escolar, sociohy- gia e ainda outras. Elas aprenderam canto orfednico, educagio fisica e gindstica, tiveram aulas de moral e civismo e, em alguns momentos, até de teatro. Ao longo dos anos, seus programas seguiram diferentes pressupos- tos pedagogicos e orientacées politicas. Continuidades e descontinuidades marcaram essa produgao docente. ‘Nas primeiras escolas talvez sejam encontradas algumas das referén- cular’.*{ Reivindicar reconhecimento como profisstanal tamhém se cons- & /gruza numa forma de mulheres professoras lutarem por salirios iguais aos dos homens e por condigdes de trabalho adequadas, E possivel admitir que esse novo discurso representava um contra argumento em relagao A concepcao do magistério como uma extensao das atividades maternais, de cuidado, apoio emocional etc. Agora se estava acenando’para um conjunto de saberes de carater técnico, cien- tifico ¢ especifico, que delimitaria o campo pedagdgico € que, por con- seqiiéncia, permitiria aquelas ou aqueles que ali atuavam se percebe- rem como profissionais, No entanto, também haveria resistencias a essa concepgio. Por um lado, como uma espécie de reafirmagio da funcio afetiva e de sua importincia central na atividade docente, muitas professoras ¢ muitos professores subvertem a pretendida programacao desejada pelos érgitos administrativos e educacionais, modificam as tarefas e atividades progra- madas, introduzem caracteristicas prOprias aos sistemas de insirucio ¢ pas- sam a usar fig como fofessora. Algu- ‘mas das vertentes psicopedagdgicas entio correntes, que se opunham, por Seu turno, as concepgdes tedricas que davam suporte ao discurso tecnolégico, s4o apropriadas para referendar essa tendéncia. Se essa nova denominacio parecia revesti 0 espaco escolar de caracteristicas familia~ res, poderia ter como efeito, no entanto, o favorecimento do “anonimato da professora”,* jé que, chamando-as todas indiscriminadamente de tias, ‘0 alunos e alunas deixavam de identifici-las por seus nomes proprios. Considerando, ainda, que essa tendéncia se acentua no momento em que a burocratizacao da area educacional é intensificada, com uma valorizacio 3 maior de especialistas e experts, a professora seria ~ como usualmente é a juém que nao detém sutoridade para decidir ncas, Num momento em que varias das usuais atribuigdes docentes savam a ser exercidas por supervisoras, orientadoras & psicdlogas, & ssora “caberi ser tia de seus alunos”, para o que “nao necessita >, nem de condigoes de trabuilho especiais pre a educagao das, Uma outra forma de resistencia se engendraria a partir da percepeao de que, juntamente com a alegada profissionalizacao do ensino, estaria se dando um processo de “proletarizagao da categoria docente” * Os indica dores dessa proletarizagio seriam observados, cle forma mais evidente, na acentuada queda dos saldrios jf tradicionalmente baixos, mas também poderiam ser reconhecidos na medida em que se jnterpretasse 0 exercicio Ua atividade docente como se aproximando da forma de organizagao do trabalho fabril — expressada pela mencionada expropriacio do saber dos agentes de ensino, separacio entre aqueles que decidem ¢ os que execu tam, parcelarizagao ¢ intenso controle das atividades etc. Dentro desse quadko, professoras e professores vio buscar formas de luta também se melhantes as dos operrios. Antigas entidades associativas, como grémios beneficentes ou associacoes, dao lugar ou se transformam em um movi mento docente muito mais aguerrido; criam-se centros de professores € sindicatos que express és de greves e de mani- festacdes publicas de maior visibilidade e impacto social. O discurso desse movimento é, entao, ditigido as trabalbadoras e aos trabalbadores da edu: cagao. fetivamente é um outro sujeito social que se constitui, A professora sindicalizada, denominada de trabalhadora da educa pela mulher militante, disposta a i as ruas lutar por melhores salirios & Inelhores condigdes de trabalho. Ela deve ser capaz de parar suas aulas pritar palavras de ordem em frente a palicios e sedes de governo; expor publicamente sua condicio de assalariada, nao mais de mae, tia ou reli- fiosa, ¢ exigiro atendimento de seus reclamos, Face & discreta professorinha do inicio do século, o contraste parece evidente: sao outros gestos, outra estética, outta ética ‘© movimento organizativo se gesta no interior de uma sociedade av- toritiria, em especial nos anos em que o regime militar comega, lentamen- te, ase ver obrigado a uma distensio. Ao final dos anos 70, a8 entidades do magistério jé sio capazes, em varios estados brasileiros, de mobilizat parcelas bastante expressivas de docentes ¢ as primeiras greves sto deflagradas. Flas representam uma espécie de choque para muitos, pois parecem uma ruptura muito Forte com o cariter de doacio e entrega que 1m suas reivindicagdes atra tr adicionalmente cercava a professora, O espanto pelas manifestagdes pode ec avaliado por esta erdnica de Carlos Drummond de Andrade, publ 1979: rade, publicada Uma greve nao é acontecimento comum no Brasil. S a greve € de pro fessores, tr a-se de caso ainda mais rar, F se os professores so minei- Tos, © caso assume proporcoes de fendmeno tnico © que teria levado as pacatas, doce: diante de centenas ce municipios onde as mestras cruzaram os bragos fe aguardam uma palavra do Governador do Estado. As normalistas ou professorinbas, de acorde com pedagogia em voga, deveriam ser menos severas ¢ mais sorridentes. Na foto, formatura de normalistas em 1956, 45 sronta 104s MULES No ANAS A decantada pouca atengio das professoras para com seu salirio ~ desatencao estimulada por décadas de associacao do trabalho doceate 40 sacerdécio €2 maternidade — implodia. Cada ver mais o salirio das mulhe- res era peca fundamental para a sobrevivencia familiar; cada vez. mais bus- ccavam o magistério jovens que efetivamente necessitavam exercer a profis- ao para se sustentar ou sustentar dependentes; cada vez mais se tornavam imperativos reajustes da remuneragao diante da economia inflacionatia do pais, {As professoras jf ndo mais se percebiam tio isoladas. Sem diivida sua atividade didria continuava mantendo caracterfsticas de isolamento, bem ‘como alguma dose de autonomia, na medida em que ao fechar a porta de sua sala cada docente era, de certo modo, ciona de sua classe. Mas agora se afirmava um novo discurso que acenava para a concepcio de categoria pprofissional, um discurso que ligava cada professora a um conjunto muito grande de parceiras € parceiros € constituia esse conjunto na forma de um ‘movimento social organizado. Aexperiéncia de entidades congregando professores niio era nova. final, desde o inicio do século XX registram-se algumas, como a ASso~ ciagao Beneficente do Professorado Pablico de Sao Paulo, ou mesmo antes dessa data. A principio essas entidades tinham objetivos beneficentes:

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