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Sara Salih qrapucao E Notas GUACITA Lopes Louro auténtica Digitalizado com CamScanner Sara Salih Judith Butler e a Teoria Queer Traducao e notas | Guacira Lopes Louro 5? reimpressao auténtica Digitalzado com CamScanner penne § qual geralmente se considera que eles pertencer mento” & qual geralment ; s NNo entanto, ands que ela sj, sem divide influenc da Jelos modos de pensamento e de anilise pés-estruturalistas, Iii outras influéncias igualmente importantes na obra de 1 teoria psicanalitica, a teoria femni- bio Butler — em particular, co nista ea teoria marxista ~¢ alguns desses textos, junt com as teorias “butlerianas” correspondentes, estio listados rno quadro em anexo. Ideas tas como “performatividade” ronoueeenen 15 Digitalizado com CamScanner € “citacionalidade” podem parecer pouco fin enguano, mas sero arts os captor gee ne Em grande parte, a obra de Butler la teora prcensn psicanalitias (iso vale em particular para The Psychic Lye Por 1997), em eecl obs de Sind Freud ct psicanaita fancéspés-estruralista Jacques Lacan, eur cis sobre sexo, sexualdadee ginero tem sido erucie rng tuna sie de pectadors feminsns. A obra de Butler €or mente afetada pelos escrtos de pensadoras feminists, inclu. do a filésof existencialsta Simone de Beauvoir, Monique Wittig, Luce Irigaray ea antropéloga norte-americana Gayle Rubin A medida que leno ox seo de Butler ones observi-s retornando repetidamente a um importante en. ssio do pensidor ffancés marxista Louis Althuser, no qual ele descreve a estrutura e o fancionamento da ideologia e ddaquilo que ele chama de “sparelhos ideolégicos de estado” Muitas vezes Butler se aproxima ( algumas vezes se apropria) de pensadores e pentadoras dos quais, medida, suas propriasideias dependem, num esp (ua sua acepeio filoséfica, © no na sua ac umm rema sobre o qual el também discorret “What is Critique?” (2000). Butler no é uma uma foucaultiana tampouco uma marxista, uma feminists ou uma pé-estruturalita; em vez disso, podemos dizer que ela ca dna com cao cot ee proj pol cos, no se identifcando com nenhuma dela em particular, smas utilizando uma série de paradigmas teéricos sempre que parega conveniente, sob as mais variadas, e por vezes 9 alguna de eee fo vulyat). inesperadas, combinag6es. 16 nomemune avon cn ideias de Butler mo-em-processo Influéncias & exo. v. 1 I ({1949] 1980) ‘A “mulher” como um tert simone de Beauvoir: 0 segundo Monique Wittig: “A mente hétero™ (1980) Gayle Rubin: “0 trafico de mulheres: notas sobre a'Economia politica do sexo" (1975) ‘A moral do senhor & do escravo G.W.F Hege!: Fenomenologia do espitito | ((1807] 1992) Fiedch Nietsche: A genealogia da moral ((1887] 1998) Genealogia/subjetivagao Michel Foucault: A histéria da sexvalidade v. 1(11976] 1988); Viger e punto nascimento da prisio({1975] 1987) Melancolia Sigmund Freud: "Luto e melancolia” ({1917] 1996); 0 ego @ ‘id (1923] 1996); O makestarna ciilizagao ({1930), 1996) Interpelagio Louis Althusser: Ideologia e aparelhos ideoldgicos do estado ({1963} 1980) O falo lésbico Jacques Lacan: "A signficagéo do falo” (|1958] 1998) Performatividade e citacionalidade Jacques Derrida: “Assinatura, acontecimento, contexto” ((1972] 1991) J.L Austin: ‘omo fazer coisas com as palavras (1955) ronquewunen 17 Digitalizado com CamScanner Textualmente Queer Abra de Butler tem se com a anil, Preocupado, e « 2 consequente desenabilizaeig as wee 0 suet" (am procewo que la chama de “na oo critica das omtologas de ginero"), © que fiz com que oe vist por muitos como a ebrica quer por exedlaorns wae gue, até o final dos anos 1980, Bude eva wabalhand bre Hegel e sua recepcio pelos fl6sofos frances oo dai resultant, Subjects of Desire, curiosamente mona pone, imterese mas quesibes que iriam preocupi-la a segura &, a formacio do sujeito no interior das estruturas d semuadas ¢“ le poder “genctficadas”. Porém, ts textos publicados mex Epoca dio uma indicagio clara das fucuras direcdes teGrieat de Butler: “Sex and Gender in Simone de Beauvoir's Second ‘Sex (1986) e “Variations on Sex and Gender: Beauvoir, ‘Wirig and Foucauit” (1987) preparam 0 caminho para Gener Trouble, publicado apenas poucos anos depois, enquanto “Foucault and the Paradox of Bodily Inscriptions” (1989) uma reflexio sobre a construgio discursiva do corpo em A Ihisévia da sexualidadev. I,de Foucault,e em seu Vigiar¢ pani, Esse € um assunto ao qual Butler ird retomar em Bodies That Matter, em que faz uma andlise muito mais ampla da “matéria do sexo” (veja capitulo 3 deste volume). Esses textos dio uma clara indicagio dos pensadores ¢ as teorias centrais a que Butler se remete, e a combinagio de foucaultianismo, psicanilise e feminismo que, desde 0 inicio, caracteriza sua obra é parte daguilo que faz com que suas teorias sejam qualificadas como queer. De fato, nos anos 1980, quando Butler ingressou no campo tebrico filoséfico. a teoria femninista comecava a questionar (tal como Butler) a categoria “o sujeito feminino” como uma entidade estivel € evidente. Uma série de tedricas, inluenciadas por Foucault, rejeitava a ideia de que 0 “sexo” era — como até entio se sect uci acl todos plor uss osexo ea exalidade si dicunivatnens ce ee ea non roelons ch yosta COMO Se jo mui discursos feministas dos anos ts cm ee je una alianga (is vezes ‘A teoria queer surgin. pois, dk incdmoda) de teorias feministas, pos-estruturalistas © psiea~ nalticas que fecundavam ¢ orientavam a investigacio que jt vvinha se fazendo sobre a categoria do sujeito. A expressio “uc” iagio radical de um termo que *quec#” consticui uma apropriagio radic = sinha sido usado anteriormente para ofender ¢ insultarse s€ no reside, pelo menos em parte, na sua resistencia jo — por assim dizer ~ fieil. Sedgwick, uma tedrica “queer cujo influente livro Bpistemologia do armaio foi publica ddo em 1990, no mesmo ano de Gender Tiouble,caracteriza 0 {queer como indistinguivel,indefinivel insti “© quceré um, cimento, um motivo continuo ~ recorrente, vertigineso, roublant [perturbador]”, escreve ela em “Tendén- cias, sua coletinea de enssios, slientando que a raiz latina da palavra significa auravessdo, que vem da raiz indo-latina torguere, que significa “torcer”.¢ do inglés thwart de través] (1993), identifica como uma énfase te6rica em routes {rotas] mais do que em roots [raizes};em outras palavras,0 quer esti preocupado com definigio, ixidez ou estabilidade, mas trnsitivo, milkiplo ¢ aveso 4 asim acto. roneateenen 19 Digitalizado com CamScanner Enquanto os studos ce ganer, os ests gays e esico, ea teoria eminista podem ter tomado a existéncia de %y sujeito” (isto &, 0 sujeito gay, 0 sujeito lésbico, a “femea”, o sujeito“Feminino”) como um pressuposto, a teoria qvees tmpreende uma investigngio € uma desconstrugio dessy categorias afirmando a indeterminagao e a instabilidade de todas as identidades sexuadas ¢ “generificadas”. E impor. em mente que um dos contextos definidores para tante te a teoria quer nos anos 1980 e 1990 foi o virus da Aids eas reagdes de muitos defensores da “cultura hétero” contra os agus, em resposta ao que era (e ainda 6) geralmente visto como uma “praga gay”, Diante dessas violentas reagdes, torna-se ainda mais importante investigar as formulagdes da “normalidade” sexual para revelar 0 que, sobretudo aquelasidentidades que se apresentam ostensivamente como héteros,legitimas, singulares ¢ estiveis, t2m de queer por debaixo de sua aparente “normalidade”. As te6rics tericos quer por outro lado, afirmam a instabilidade indeterminagio de todas a8 identidades “generificadas” € feadenqanto Sdgvik Formula nogio de “pine ose” pat honor decree pox panos da cult ‘co nue mip, cmbiameeindeterinad ds ees De em useage da eter Tien Feud vendona como uma estat tonne timed es gu bend 7 iti¢io primaria - soci; wanda haat Pini scaent ines Ena een A serosa mele ae 8 mais impo “oth tere exemplifies 9 pe de Butler para tee otinento” (al come caracterig dsr ee De aa tPetbito/confutode nice Per Seeewich) m Gender To ‘Benero [gender trouble]. Be Sede Butt nen let 9br aide lancliege **tidade sexual ea identidade » a Moot Performatividade [A performatividade sera discutida em detalhe no ca- pitulo 3 deste liv, mas neste momento pode ser til dar Jpenas uma peguena amosta desta ideia-chave de Buler. 4 vimos que ela esd menos interesada no “individuo” ema texperiéncia individual” Ge é que existe tal coisa) do que em snalisar 0 processo pelo qual 0 individuo vem a assumit sua posi¢io como um sujeito. Em vez de supor que as idenida- des so autoevidentes ¢ fixas como fazem os essencialisas, 0 traballto de Butler descreve 0s processos pelos quis a identi. dade 6 construda no interior da linguagem ¢ do discurso:as ‘ori construtivistas nfo tentam reduzir tudo a construges sever as condiges ter Iinguistcas, mas estio interessadas em desc de emergéncia ~ neste caso ~ do sujeito. Butler, seguindo Foucault, caracteriza esse modo de anilise como “geneal6- "De forma muito breve, a gencalogia é um modo de investigagio historica que nfo tem como meta “a verdade” ou o conhecimento. Como diz Butler, “a genealogia nio é 4 histdria dos eventos, mas a investigagio das condigdes de emergéncia (Enstehung) daquilo que € considerado como historia: um momento de emergéncia nio pass, em sleima analise, de wma fabricago” (RBE,p. 15) Uma investigagio genealégica da constituica0 do su jeito supde que sexo e género sto efitos ~¢ no causss— de ‘nstituigdes, discursos e prticas;em outras palavras,n6s, com? sujeitos nig eriamos ou causamos as insteuiges, os disursos¢ as pritias, ma eles nos eriam ou causam,ao determinas nos? sexo nose sexwalidade, nosso género.Asandlises genealégicas dde Butler vio se concentrar no modo como 0 efito-stelte como cls 0 chama, se di, ela sugere,além dso, que hi ‘outros modos pelos quais o sujeito poderia se “eferwar”. Se © sujeito no esti exatamente “IA” desde o comego (sto 6 uido em context0s desde o momento que nasce), mas é inst ico” oroueeunenr 21 Digitalizado com CamScanner specifics eem momentos especificos (de tal modo qu fuscimento em si se constitui numa eena de subjetivagioy, entioosujeito pode ser inttuidodiferentemente, sob formas {que no se limitem a reforgar as estruturas de poder exist ‘Como veremos nos capitulos que seguem, a critics sgencalégica de Butler relativamente 3 categoria do sujeito Se ajusta sua nogio de que as identidades “generificadas" ¢ sexuadas so performativas, Neste aspecto, Butler amplia 6 famoso insight de Beauvoir de que “ninguém nasce mul torna-se uma mulher” (1980, v. 2, p. 9), para stigerir ‘mulher”& algo que “fazemos” mais do que algo que sos" Bimporeante fisar que Butler no esti sugerindo que 2 identidade de género & uma performance, pois pressuporia 2 exitincia de um sujito ou um ator que est fazendo eal efomance. Butler reeita esa nogio a0 afar que a perfor ‘mance preexist ao perfomere esse argumento contraintitivo, aparentemente impossivel, levou muitas letras e leitores 2 confindir performatividade com performance. Ela propria addmite que. quando formulou inicialmente essa idea, no fez uma distingio suficentemente clara entre a performatividade ~ um conceito que, como veremos, em bases linguistias ¢ flosficaespecificas~ ea representagio tatral propriamtente dita, E importante ter em mente que, tal como muitas das formulagSes de Butler © como as categorias de identidade ‘que ela ex descrevendo, performatividade & um conceito cambiante que se desenvolve gradualmente a0 longo dos ‘ros livros so toma fc dfini-to com alguma prec sm movamentssgifca qu forma e 0 método da ecit locam em agio a teoria que deserevern. es, ‘Amorte do sujeitor Essas ideas serfo tratadas a epoemnes peg mas a Fando nos eptaos cutidas no contexto de outras 22 semamancenanscia teorias igualmente importantes (e muitas vezesigualmente complexas) Para muitas pessoas o nome"Judith Butler” anda significa género performative (ou género como perfor”, {quando resolvem simplifiar) ou parodia ou diag embora iso rio fag justica, de modo algum,variedade e 5 amplitude das suas teorias. Na verdade, 28 ideias de Butler tversm um im pacto significative sobre tebricas feminists, tedricose tedricas sys, lésbicase queer, e sua obra tem influenciado wm extenso conjunto de campos (veja © capitulo “Depois de Budler” para ‘uma discustio mais abrangente sobre sua influéncia) ‘Ainda assim, alguns crticos de Butler ém se mostrado impacientes com 0 que vem como sua atengio exagerada i linguagem e a consequente poucaatengio concedida 20 material «e20 politico, acusindo-a de quietismo (isto & de ura atiude de pasividade) de niilimo e de"“eliminar” 0 sujeto; uma fl6sofa anual chegou a afirmar que Butler “é conivente com 0 mal”, tuna acungio extrema que demonstra, no minimo,3s violets reagoes que as teorias de Butler sio capazes de provocar. Por to lado, muitas leitorse leitorestém encontrado um enorme potencial para a subversio politica em teoras, como a dela,que portincia de desesabilizat © afiemam consistentemente a desconstruir os rermos pelos quais 0s sujeitos ¢ as identidades sio constituidos.A ideia de que o sujeito nio é uma entidade preexistente, esencial,e que nossas identidades so construidas significa que as identidades podem ser econstruitas sob formas que desafiem e subvertam as estruturas de poder existentes nas € questbes para os quais Butler retorna 1? O que éa subversio? Como Esses sio problem repetidamente: O que é 0 poder & possivel fazer a distingio entre 0: dois? Apolitica do estilo em rclagio 0s debates Butler em manifestado surprest 2 ctitcos genados pelo que ela chama de “a popularizario rneaemn 23 Digitalizado com CamScanner Gonder Toule”, 0 quais,embora “interessantes [..] acabaramy por se constiuir numa terivel dstorgo do que eu quer dizer!" (GP, p. 3). Nio é nada surpreendente que Butler tena sido, como ela propria admite, mal interpretada e may compreendida, jf que 05 conceitos com os quais ela lida sig filosoficamente desafiadores, muitas vezes aparentemente “contraintuitivos” € nem sempre descritos numa lingua. gem imediatamente acessivel, Em 1999, revista académica Philosophy and Literature concedew a Butler 0 primeiro lugar nna sua selecio anual dos “piores escritores”, definidos como os responsiveis pelas “passagens estilisticamente mais lst- tigos académicos”. Tem-se a impressio miveis em livros e art de que nos tiltimos anos o seu estilo de escrita tern recebido tanta atengio critica quanto as suas ideias. E possivel que se queixar do estilo da escrita de Butler seja um substituto para a compreensio de suas ideias e um pretexto ficil para rejiti mas no estaremos s6s se, como muitos leitores, acharmos a sua escrita exasperante;ela pode parecer repetitiva, dubitativa alusiva e opaca, fazendo com que nos perguntemos, depois de algumas paginas: por que, afinal, ler Butler? (Os textos de Butler sio certamente exigentes tanto linguistica quanto conceptualmente, mas nio deveriamos ficar demasiadamente perturbados ou desencorajados por sua aparente obscuridade ¢ seu cariter alusivo, mesmo se, is ‘vezes, nos sentirmos perdidos ou desorientados. Na verdade, antes de simplesmente rejeitar Bueler como uma estilista de ‘escrita tortuosa ou uma pensadora arrogante que nao se dé a0 trabalho de explicar seus conceitos, é importante reconhecer_ que o estilo de Butler é ele priprio, parte das intervengdes te6ricas e filos6ficas que cla esté tentando fazer (veja 0 ca pitulo “Depois de Butler”). Como uma pensadora que esti ‘rvadmaiguagem extemamente consented it~ oe linguistico, € bastante improvivel que ‘0 1a pensado sobre como fazer cois coisas com as 26 tome lavas nina vex que da tam, com Gegutacl Ect qu the im sdo hens ent mre tes ss repeit,podemas deduce que esa & de fato una questo caval parle Ne preficio 3 edigio comemoratia de Gone Tole em 199, Butler reconhece que, para alguns leitores, deve ser"entranho ¢ exasperante” ser confontado com um tert que ado tsforga or set fcimente absorvido, mas que, na veda, pode fazer prectamienteo contro, Butler reat, conto, F viedo, ue € parte do “senso comm”, de que wn "bom" estilo de esrta 6 necesariamente um el clo aficmando {que nem o estilo nem a grandes so polteamenteneutos Sera inconsiente para Butler contestar a norma de géneo, qe el firma ser construidse meds linguisiamente, stm contestar também prprialingusgem ea granitic nas Gas exis norinas so instulda Al dso, veremos que um ronto constante de seu projet causa"prtubasio" fo rouble" chamando steno para as isabiidades sneoeréncis do sexo edo género « pra 0 poten polco ddesoesinstabilidades. De novo. lingwagem que Butler wa ssa estatéga politca,e€evdente queseu exo de nent edeldendamene desir ¢ M30 ek G parte des eserita é estrategica yma de uma mente confusa. ler descreve o estilo de escrita e é curioso um sinto En Subs of Desi, Bur deserve de Hegel, outro filésofo notoriamente “difici 7 is Sobre a Feromerloia do eit 8x ero seus coments lerosse -e estilo de escrita: das suas préprias ideias sobre linguagem tenn Sean Penal cei tet fo en co et er aque transmitem que “é” somente 0 na rxctroer 25 Digitalizado com CamScanner sjgeressantes [2] acabarain do que eu queria dente que Butler interpretada e mal oar el rE a » gp i ee econ osc ide tena sido» como Speen filosoficament® onto” jen meant 2 ‘Plosply and Lie ee atl OS 2 respnsves pels “passages as vezes aparentemente idescritos numa lingua ‘a eevista académiica nem sempre vel Em 1999. see a Buller 0 imei gar ““piores: ‘escritores”, definidos como 1s estilisticamente mals lasti- Pi ios €atB05 neadémicos”. Tem-se 2 impressio que nes tims as 0S ‘estilo de escrita rem recebido dius ten erica quanto 28 SUAS jideias. E possivel que se quezardo slo da seria de Butler seja um substituto para a inpreenso de suas dela um Prete facil para rejeiti-las, car saemos 68 COMO MURDS HOPS? acharmos a aptameela pode pace rept’ UD NTs shai eopaca fazendo cot qUe HOS PeTBUBEE IO depois de algumas paginas: por que afinal er Butler? ‘Os textos de Butler sio certamente exigentes ante linguiea quanto conceptualmente, mas N30 deveriamos fear demasiadamente perturbados ou desencorajados por pee obscuridade e seu carter alusivo, mesmo 5 masts pie cu desorientados. Na verdad! ————— in Be como we estilista de cern oa oy anna agate que nio se di a0 ax oa ae reconhecer ti fan rate fori, parte das intervengSes vito "Depois de Bae’) Com tentando fazer (veja 0 ca" incest lngugem ce cremneae e esti ort do dial extemamente consciente da im- he io tena peng nc bastante 4 paais whe conn improvivel que fizer coisas com aS % sm mene, ona verge atm, com Gegutnc, spo er et sid» erp Posen! 2 ie er ef goto ci kN cele gl comerorat te GT 18 Sie co par agus etores, deve er"eanho Peon com um eto que THO se Torvide, mas que, ma verde, contd, palavrs, Butler recom f exasperante” seF cO8 < gore por ser faclmente a ode finer prectamenteo conto ‘Butler refita, ros que parce do “senso comm’ de que “vom” 2 vp ge esrita 6 necesariamente wm exile claro, afirmando gq nemo esilonem a grams so politicamente neutros. se reorient para Ber contest a O*T=s de gner0, Gq ela afrma ser consuls & ‘medidas linguisticamente, at contestar também a propria inguagem ea gramitica nas sp esas ormas sto insula ANE disso, veremos que um meno constane de seu projeto€ causaE “ perturbagio" [0 ee gchamando acengao par ssid & w do génezo ¢ para o potencial politico ‘De novo,a linguagem que Butler utiliza poltica,e € evidente que seu estilo de ‘ee delberadanente Gesafiador, € 080 cease “ jincoeréncias do dessas instabilidade estat & parte dessa estrategicament ‘uma mente confusa Butler descreve o estilo de escrita famente “dificil”, ¢ € curioso Feniomenologia do espirto 3 luz estilo de escrita: el cla em 0 05 iiicades Jas mostram que aquilo escrita é tum sintoma de Em Subjects of Desire, de Hegel, outro filésofo notor Jer os seus comentirios sobre a das suas proprias ideias sobre linguagem ¢ ‘As sentengas de He: aque transmitern;na verdad, € que“é” somente 0 €08 medida em que € clecado emt cacao. AS: sentengas hegelianas sio lidas com dificuldade porque seu significado 10 € mediatamente dado ou powpecidozelasexiger er eit hs ‘exige ser idas om diferentes enkonacbes ¢ cai, Da ‘nfases gramati snare mpneicequesmmr versie POS nos faz part poncueaer, 25 Digitalizado com CamScanner sderar que © modo como ele é dirg re & cic, a5 seneencas de Hepa) a arengi0 pars si Mesmss, dg jens na pagina aPeDsS momen rem A ilusio de pensar que Minos ¢ estitcos sevdo revelados peh oss lieu Se 140 renunciarmos 4 expectativa de pe siifcaos nOeD® Tinearmente arranjados vig eds pals 0s FEN jremos achar Hegel ‘confiso & jnsuportivel © desnecessariamente denso, ge questionaos #5 SHPOSEES relativamente 4 compreensio que @ cescrita exige de ‘nds, iremos experimentar 0 incessant ‘movimento da frase que ‘constitui 0 set significado (SD. P- 18-19) ele desnecessariamente densa” ¢leitoras frustrados poderiam gere nessa passagem de faz parte daquilo a consi mente cha das e esti sig “Confiusa € insuportay exatamente como os leitores escrever a escita de Butler, mas ela su que ess aparente obscuidade ¢ dificulda que ela quer der (na verdade, inseparivel daquilo que cla quer dizer). Ao er texto de Hegel (eo de Butler) cuidadosa ‘e¢ meticulosamente, 2 leitora iri efetivamente experimentar Sqailo que os filésofosestio dscrevendo, muito apropria- ddamente, como “a compreensio” no caso que Butler cit esta clos em ago aqui que descreve, uma ideia que € mas fouls de Ber sobre 2 performatividade ines pois ‘Além diso, tal como o proprio “aero tenis ovo ‘movimento com qual os sie t iba. io fequetenente identificados, eee so" an adors” em virrude de sua paigetan fie de sua recusa a se de nd imerreaco" eae de sua criativa vulnerabi- “sual en ao 2 8, E nesse sentido que Nessie eos desonsrugio que nome. és dos uss fancona ega n amente ‘essa “teoria-em-estilo”. x ‘moomoo — Contra a definigao ge ocento d ecita de Butler ¢simplesmente ym a politica, mas efetivamente clo em ‘ayo a po ‘o evidentemente minha descri¢io ydera substituir a leitura direta dos (© estilo inimitavel € 1 ele descreve, ent de Butler nio po va eu nao pretenda emular ta de Butler, este resumo necessariamente Toca esti escrito num espirito similar de resolugio ou de fechamento. Nio ‘de Butler. E leitora deveria se apro~ ee com caurela daguilo que parecer” definigdes, pois eas yp preencdem ser nas nem cares 2 marca da autoridade. Essas cauitelas podem parecer desnecessirias, pois nem mes- si stler sevindicaia tera palara inl sobre Butler, mas ine & importante chamar a atengl0 Para ©, elemento mo de certa “violéncia”, inerente talvez mest ‘ode qualquer pensador ou pensadors, ‘ott aquela que transmite stas ideias de ma si mesmo um desafio politic. sxaminario a obra de Butler do-se naquilo que po- principais reas de seu das teorias jivros. Embor snte da escrit sua ol je auséncia de exige! jimitado de abertura ¢ d fento defini as teorias penso 4 de apropriagio, a qualquer interpre particularmente aque modo que se constitui en (Os capitulos que segue € ondem cronolégica, concentran' erin ser identificado como as cinco pensamento: 2 seit; 0 sere 0 $680 Tinguagem; © psiqne. Poderia ser merodico e conveniente adotar ‘certa progressio” i seunto 20 outro,mas i vimos que st 0D de padrio linear € veremos,a segain gue cada ‘maior ou menor grau em cada racterizei a escrita de Butler como a cperita que se envorve numa relago dale consigo 6 significa que assuntos que 0 apresentados € 5s, reanalisados ¢ sevisados ‘uma autora que tenha potencial um aque levasse de w rejeita esse tipo tum desses topicos étratado em tum de seus textos. J6 ca mesma, € iss debatidos num texto S30 retomados no seguinte. Na ‘verdade, Butler nio é aac ve repeti ,perfeitament consciente dO onqueamenr 27 Digitalizado com CamScanner fa ¢ volta a citar ironj. sstaalmente ento © manter ppetigio,is veres ela iagunientos inter © it io de evitar 0 fecha iva que se pode cara medida que lermos os cs ida que ls “apie subersivo a eus proprio’ De novo, so tem 0 ‘de abertura interpret nda que, ‘préprios textos de Butler, possamos ica daquilo que parece ser nte tals que segue € 08 nos perguntar sobre a eficicia pol einentemnente numa estatégia festa, Se erie difeudades ox vidas, talvezseja tl eer em i rode que Burler suger para uina Ieitura“bem-sucedida de Hegelcomo Feitorse leitores deverfamos abandons nossa srca de significado Tineares, “univocos” (isto é singulares) a fin de “experi- sas proprias suposicdes, dda frase que constitui 0 seu guestionando no: rmentar 0 incessante movimento significado” (SD, p.19)- 28 neon mUCARoaA Ga IDEIAS-CHAVE Digitalizado com CamScanner 1. O SWEITO Contexto fs com Subjects of Desire (SD), seu primeiro livro, que Butler inaugura sta anélise sobre “o sujeito”, O livro tem origem na sa dissertagio apresentada 4 Universidade de Yale em 1984, Apés ter passaclo por uma revisio em 1985-1956, de foi finalmente publicado em 1987, tendo uma segunda edigio em 1999. No preficio a essa diltima edigio, Butler afirma que SD & um teabatho juvenil, publicado prematu- pede que os leitores tenham uma “grande dose " para com um texto que, diz ela, exigira agora reescrita e revisio profundas (SDIL, p. viii). Na verdade, 0 tema de SD pode parecer estranho a leitores para 0s quis fo nome de Judith Butler esti associado a teorias sobre 2 identidade queer ¢ a discussbes sobre 0 género ¢ © COrPO: questBes que no parecem estar muito em evidéncia nese extudo sobre Hegel a filsofia francesa do século XX. Nie “obstante as tentativas da propria autora de minimizar 0 $0 sleamee,tata-se de um texto filos6fico importante, que, a= Je ideias que Butler desenvolvers ‘mais, apresenta uma série d em trabalhos posteriores mais conhecidos. Originalmente SD trata da recepgio de Fenomenolo- aia do esphrito, de Hegel, pelos filésofos franceses dos anos a Digitalizado com CamScanner No prefico A edigio de 1999, Butler expla que, como bobsia dt Fundagio Fulbright na Universidade ee ideberg, a Alemana, elas dedicou principalmen. oe los da Europa consinental estudando pensidores importantes tas come Kael Marx € Hegel, além de Martin Heidegger, Soren Kietkegzard, Maurice ‘Merleau-Ponty ¢ aaee ripe eros ds Escola de Frankf. Nos anor 19706 {9a0, Butler nha tido um coneato muito superficial comas ceorin pés-etruturatisas de Derrida ¢ De Many ela conta que foi mas tre, num semindcio da Faculdade de Estudos que “descobriu" Fou- dh Malher da Universidade de Yale, ‘aul, exjs excetos iam influenci-la bastante. Apés deixar fe pés-doutoramento na Wesleyan Yale para realizar estudos de University, nos Estados Unidos, Butler tomourse receptivad tora fancesa i qual tinha antes resistido, ¢, quando revisou re a nova geragio de sua tese,acrescentou algumas segdes sok autores fanceses ~ Lacan, Foucault e Gilles Deleuze ~ que 1930-1940. nio finiam parte do esto original. No preficio i edigio de 1999 de SD, Butler admite a aoe trabalho inical o trabalho posterior, fern ue 0 neree pelis formulagdes hegelianas snkonieo,odeioe 0 reconhecimento atravessa toda a ees sie, todo meu trabalho continua aoe determinado conjunto de questOes Hegtimas Qué elo entre 0 desjoe o reconhedi- eer Be fato de que a constituigio do aleidade?" (SIL Panne radical ¢ constitutiva com @ Prt Lie Pn en baer ‘retoma” a Hegel em The Fao omg co segs sobre Hegel, 0 257-0 ns impor vie —— complemen- EEO" SD Cwatt 2 pergunta central roa “Onno pl ee necesariamente Vers, fdeia 4 qual Butler 2 omy principais correntes do Pensamento Crtico Fenomenologia fo estudo da consciénci ov do modo como a5 cS pare: cem para nés. 0 termo tem sido usado desde o século XVIll ce Passcado, no século XX, cm 2 flosofa de nmanvel Kant e G. W. Hegel, e, nO século XX, com a filosofia de Ed- mund Husserl, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty. ij mufas vertentesiferentes na fenomenolaga por 80 no ef resumi-ta em uma ou duas frases, mas para Huse 0 srindo tal como ele € vido pela conscéncla¢ 0 pont de Farida pra afenomenelagia. Em temas ampls 2 eras nologia diz respeito ao modo como a mente percebe o que é treme a ea, sto 6 a sua percep(ao da essénca das cosas Escola de Frankfurt Compreende fil6sofo iados como lstituto em 1929. Entre seus pensal TheodorAdoimo, Herbert Marcuse Er e lingen Habermas A Escola de Frankfurt égeralmen civiida sas fase e duas graces, passando pelo mateialisro histérico, a teora critica e "a catica da razao instrumental”. Hermes, que erence a segunda geraao pviegiaa dss aaetosfondamentos normativse @pesqusaiterdiscPina. 5s, critcoscuturasecientistas socials a880- de Pesquisa Socal, fundado em Frankfurt, dores-chave estdo Max Horkheimet, ich Fromm, Walter Benjamin Estruturalismo Trata-se de um movimento te palmentena Franca, com origem ao de Saussure. Entre seus pensadores-c logo Claude Lévi-Strauss e 0 critco cul Barthes, O estruturalismo, como sugere na andlise das estruturase dos sistemas, e"3 ,brico que se desenvolveu princi- bra do linguist Ferdinand have est 0 antrope- tural e literario Roland ‘onome, concentra-se jo no conteddo. peeuscune- osuaro 33 Digitalizado com CamScanner és-estuturalismo Trata-se de um termo muito questionado e que é, algu- mas vezes, utlizado como se fosse a mesma coisa que des. ‘onstrugao, Ente 0s pensadores-chave associados com 9 pis-estruturalismo estéo Jacques Derrida, Paul de Man e Michel Foucault. critica desconstrutivista tenta solapar ag bases da metafisica ocidental, a0 questionar e dissolver as oposigdes binérias,colocando em evidéncia o seu caréter idealista e mostrando o quanto elas dependem de um centro ‘ude uma presenca essencial, Uma leitura desconstrutivista cde um text no chega nunca a um significado final ou com- plto, piso significado nunca esté presente em sizele &, em vez disso, um processo que ocorre continuamente. O autor no é mais considerado a fonte do significado de um texto, 0 que enseou que Roland Barthes anunciasse "a morte do autor" em um ensaio que tem exatamente esse titulo. O herd infliz de Hegel Otituloalemio de Fenomenolagia do espiitoé Phinomenolagie des Geistes(* Geist” pode ser traduzido aproximadamente pot ‘spirito” ou “mente”), Nessa obra Hegel registra o progresso de um Espirito cada vez mais autoconsciente em diregio a0 saber absoluto. O “Geist” de Hegel se parece com 0 prota- Sonista das narrativas de ficgio, nas quais o heréi (em geral progride gradualmente da ignorin- © autoconhecimento, e, embora 0 tamente © mesmo que o “sujeito” de a lentes. 0 filésofo a "ava que Hegel fz a orn Espitico ndo sejaexat Butler, le est suf este capitulo, ‘enos equiva ‘compara nar de maneira que s como mais ou ineo Jonathan Rée x iada” metafisica do OOH Eaton ute Pe Espirito a textos tis como a Oils de Homero, a Din Camédi, de Dante, © progreso do peregrine, de Banyan era cada ui dos quais 38 experiéncias do her6i em sua ingens Conduzem-no a um exado de sabedoria ou de imine rise cada vez maior até que ele acaba por ating-las Ree diz ue a Fenomenologia de Hlegel & uma hstia,"a historia de Espirito ou do Homem Comum — individuo univers — aque percorre a longa estrada que leva do dominio bruto da conseiéncia ‘natural’2o saber absoluto,“abrindo” no caminho, a sua passagem através de cada um dos sistemas filoséficos possiveis” (1987, p. 76-77). Embora a Fenomenologia seja a hist6ria do progresso do Espirito em dirego ao saber absoluto, o Espirito de Hegel, ‘20 contririo das narrativas que mencionei, nio chega efeti- ‘vamente a lugar nenhum, pois a sua"yjornada” é uma jornada, metafisica, que representa também 0 progresso da historia do mundo. A “fenomenologia” pode ser descrita de forma muito geral como 0 estudlo do modo como 5 coisas se nos apresentam e da natureza da percepgio. Assim, Fenomenologia de Hegel é um estudo das sucessivas formas da consciéneia, O “Saber Absoluto” é o conhecimento do mundo tal como ele realmente é,€ no final da Fenomenologia descobrimos que esta realidade iiltima esti em nossas proprias mentes. Em outras palavras, tudo no mundo material é um construto da consciéncia, razio pela qual é tio importante compreender como a consciéncia funciona ou como é que chegamos 20 conhecimento. O conhecimento absoluto s6 é alcaneado quando a mente compreende 0 fato de que a realidade mio independente dela, e que aquilo que ela esti se esforgando por conhecer é,na verdade, a si mesma. ‘A Fenomenologia também é frequentemente compa rada a. um Bildungsroman, Literalmente, Bildungsoman quet dizer “romance de formagao” ow “romance de educa¢io’ + isto & trata-se de um romance que documenta a formagio roeuscwe- osuero 35 Digitalizado com CamScanner desse género agonista. Exemplos pee fe una joven 10 rd Fina out a entrada d Withelm Mester, de JW. Goethe, as Charles Dickens, ¢ Un retrato do artista temese a impressio de que o tucagio de s ova ele Bo deriam inci te Frances Burney, iqandes espera 8 ones Jove quando joven, de Fm sees por homens e sobre ho- Bildungoman € om) 7am a jornada metaforica ou literal mens. Esses romances A ce da ignorancia até do herdi ou heroina da inexperiéncia c rexando pelo estigio no qual o Espirito, tal ide Bunyan ou Evelina de Burney, comete 0 percurso de sta jornada edu- a experiéncha,P como Christian tama série de erros durant u wana reconhecendo cada erro a medida que progride ©

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