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“DISCURSO ESTETICO” E “DISCURSO UTILITARIO” Scanned with CamScanner { “Estou furioso com este processo, pois foi a causa do éxi- to (de Mme. Bovary) e nao quero-assaciar a arte coisas que lhe sao alheias.” (Flaubert) “Nao se deve falar ném escrever se nao for para instruir.”” (La Bruyere) — Yrredt- . “‘Arrebata todos Os sufragios q oo jase tornou. lugar-comum scan quea lteratu- ¢ jovens tem desem sempre caracterizou esse sm ie Tata tipo de manifestacio literaria. Nela,/o cuidado com a elabora- Gio do discurso $6 interessava na medi SEE ea re rnema Gas por_exemplo, a coer de seus aspectos: personagens, enredo, tem: A “feltara® cr seat de literatura.para criangas ¢€ jovens. E isto porgu empre foi recone com eee annie, Eni f+ posi roomed aa es > dt no. wee OTA JUDIDA, | 27 gti Scanned with CamScanner Taco, ci Enquanto tal, a literatura para cxtlngas ¢ jovens constitui- | Contudo, apesar de seus compromis: rigem, causa estranheza 0 fato de esse tipo de discurso a servico’} nao ter 3 ssa ata clang em ge stent ise 6 ‘ve. No Brasil, caso que nos interessa mais de perto, s6 recente- _p mente esse modelo de discurso € efetivamente colocado em 240 ‘exemplo, ser abala- 10 + ‘Semnos 20s anos 70 para que’ rio di- _--tigido a criangas e jovens tomasse novos rumos em nosso pals. quistas estéticas observ4veis em obras dirigidas a adultos com as observaveis em obras dirigidas as falxas infanto-juvenis. Assim, estudando, por exemploj'o'conceito'de “desinte! (resse'| nas artes, Osbome mostra 0 quanto perdeu em prestf- 28 fone J se prioritariamente em veiculo de prog da das idéias das (/% i ila clases burguesas— vitorosas em 1709 —Junto Bs lanes com Pp i acesso a esse tipo de produgio. Utilizando recursos que a lite- |) i// BOT” gio a idéia de utilidade, pare ‘século XVIII. Na verdade, , €tentando explicara importincia que “urd a negacdo do utllitarismo assume a partir da ascenisio burgue- 40> — sa, outro estudioso 62 Ante, ischer, reconhece que essa foia iy? forma — ainda que ineficaz~ que o artista encontrou para pro- b~ “i ",osuunda feliz ohn que a nova, e ize que u de promessa. Segundo ele, mesmo uma atitude extrema como a_ "ane pela arte”, em que pesem as declaracdes de seus adep- tos, "€ um protesto contra. o usilitarisma-sailgar, contra.as me- cocupagdes da burguesia, com seus negécios. £ uma atitude’ ‘da determinagio do artista de n4o produzir mercadorias em um mundo no _ Para Fischer, assistindo & mercantilizacto crescente da Ar. (aW%> ro! te sob o capitalismo burgués, “‘o artista sincero e humanista ja feo, no podia afirmar semelhante mundo. Jé nao podia acreditar, bey ‘mo recusa, como negacZo do pragmatismo burgués que trans- formaria todos os produtos humanos em mercadoria. sar vultaio s40 sua propia esstacta Po — pss tdita — Swclhasphics a TndBwye oe dndel : oN udiliin I! i Sue. It BO Scanned with CamScanner vezes, por doses generosas:de instrumentalidade; og Discurso instrumental x Discurso utilitrio AG\ Vs Se considerarmos as distancias temporais, assim como as oF ideolégicas ¢ metodoldgicas de diferentes autores que, de um “ modo ou de outro, trataram da questo que nos interessa aqul, vveremos que, apesar das diferencas de toda espécie que pos. ‘y ‘existir entre eles, hd, todavia, um ponto em comum: 4. a. Todavia, informa-nos Roberto Brandio, no seu A tradicfo | sempre nova, para Arist6teles “a atividade poética deve ser ava- liada através de critérios que Ihe si0 especificos, e no a partir de um conceito de julgamento que no Ihe diz respeito”. Em ‘outras palavras, Arist6teles admite a existéncia de uma zona es- ca da pottica que no-permite.confundi-la com a ret6ri- ‘ca. Para ele, “‘ndo € igual o critério de correcdo na postica e OX, 4 politica, e semelhantemente,-o de qualquer outra arte em od telagio a poesia”. » so-de recursos que sto préprios a : nN te, a poesia, jé que "se alguém compuser em verso um tratado 4 de medicina ou de fsica, esse serd vulgarmente chamado “poe: o. 20" ta"; na verdade, porém, nada h4 de comum entre Homero Empédocles, meteficagio a parte; aquele merece o nome de 30 on yn ye 7 Milage an te 2 tree ever atc | poeta, € este 0 de fisi6logo, mais que o de poeta”: Sendo as- | sim, ojcardter da no se confundiria nunca com a de prop2- da que aquela poss desempenhat um papa insu 4 mental como esta. yt ca era ‘ anes i fc un seja, de politica. Sy ‘ou de are pura, aoutra de politica (ou seja, de pol ocean su Eee wy Scanned with CamScanner a tem incapazes de expressé-los artisticamente, isto 6, em sua pr6- Ss pra atividade, e vangloriam-se assim da pura forma que € seu vd Proprio contetido etc. etc.”. ry : . ed with CamScanner Scanni —2 lows @ rnewninfan ap at usleseu elevado Soa do fnstrumeataade, 0 "Tad Bel ea acta quedo vis b comutcaclo,e que & ae ‘precisamente 0 lado criapto-apropriagio; tenta-se pelas palavris* - * _Glarss cosas, por exemplo,“amesa formas oequivalente Scanned with CamScanner reconhecida também por ertico insuspeito do mundo capita: Ihortratamento dos elementos tcueltos al presents. ApOSclo- leu feltos da obra. O defeito maior consiste folk des tora ter se fosse somente o prazer, Oar eta no mar gr be Fuad a pata 2 ao sim como Dante e Cervantes; 0 métito principal de Craft and Loves de Shiller consiste em se tratar do primeiro drama de pro- Scanned with CamScanner srexpressio.dealguma coisa-que-sentimos-mas-parrrquat-nd 0 4 > temos palavras,. que/4mplia nossa conscientizagio-ateapenas ! YR: aeeemeiCoem a? produzir esses dois efeitos simplesmen- Como se vé, a0 contrario de Engels ou Sartre, mesmo um criador que concede um primado inequfvoco a forma, como €0 caso do fundador do ‘inew criticism”, distingue na arte um nivel instrumental que ndo se confunde com a “heresia didti- a”, maneira pela qual Poe chamava a cren¢a na poesia como instrumento de edificacao. 0 $0, 0 problema que nos fica ¢ o de que a literatura |¢ jovens nao $¢ satisfez com a tradicao da arte con- nto instrumento apenas em um de seus nivels, mas, ed with CamScanner Scanni ta, a0 que parece, do instrumental caminhou cada vex mals pa. 20 utllitério. Extehte > als palornnn i Prag rae forma diferenciada, pois, por uma série de circunstincias, aa quela dirigida a0 pablico"adulto. > moto j & obow-}| Scanned with CamScanner “orsyiimin. OV TVINSWNULSNI Od *€ esti Scanned with CamScanner ta para as escolas” por Livio Andsénico. E, a partir do século ‘VI, Homero é um clissico escolar, sendo “desde ento a litera- tura disciplina escolar”. Fodavia, se "a Idade ME- Antigil jonal ligacdo epopéia € ¢s- cola”, por outro lado, “‘pés-Ihe ao lado as epopélas biblicas, que exteriormente imitavam Virgilio, mas no podiam superd- 1o.qatleitura delas "um tormento) Virgilio transformou-se na espinha dorsal do ensino do latim". Ao mesmo tempo que isso ‘corre, também "os classicos das nagdes modernas passaram a leurs excolaes,embora, para lis Sam tio pouco adequa ainda, observa-se a respeito de Marcial ¢ PetrOnio o seguinte: 45 Scanned with CamScanner “ambos encerram muita coisa Gril, mas também coisas indig- ‘nas de serem ouvidlas” io ccriangas das categorias mais abastadas para o exercicio do man- do social. ‘Todavia, em que pese 0 uso instrumental da literatura, es- ta ainda nfo fora atingida em seu 4mago pela concep¢ao utili- => —tiria, pois trata-se, no caso, do uso dia literatura para fins prag- @ méticos ¢ nao da literatura em-si enquanto discurso utilitério. Este ficava por conta das,“‘sentengas’,‘‘sétiras alegoricas”, dos = 2 3 ci feudais, dos artifices contra os burgueses, dos operdrios contra 0s artifices, dos camponeses contra 0s feudais, dos burgueses contra os ¢amponeses". Assim, se essa tradicdo utilitaria de bases orais € viva na Ida- de Média, a escola preza os cléssicos, naquilo que eles pode- slam oferecer nao s6 enquanto modelo de vida moral, mas tam bém enquanto modelo estético, Se 4 literatura eratomadaem sewaspecto instrumental, ainda assim seu discurso se conser- 46 tavaaescotha de autores, a “moralizacio" ficava por conta desse Outro tipo de discurso que a escola sempre distinguiu do dis- curso estético: Oldiscurso utiliticio, {0 Mas, se até a Idade Média distinguiu-se o instrumental do A Contra-Reforma, diz Soriano, refaz ‘os manuais escola- 1 res ¢ universitérios (utilizando) um outro meio para lutar con- traa Reforma: € o método dos ‘excerpta’”. O método, diferen- mA \s "A mutilaglo dos textos deixa claro, pois, que estio em ques- te t4o muito mais problemas referentes 2 organizac4o social que ot problemas propriamente estético-literdrios. A literatura € vista, i esse momento, ndo apenas como agente formador, mas co- ot ‘mo manifestagdo capaz de doutrinar 0 leitor, como manifesta-_(() glo retérica, Rompe-se, assim, a tradicional distingdo feita en- “re o discurso estético ¢ 0 discurso ulitrio, operando-se uma «cf fusio que a sociedade burguesa procuraria conservar também ca OE, 9" PK | ed with CamScanner Scanni nas manifestacdes literdrias que circulam fora do cireuito esco- Jar 0 que se convencionou chamar de “literatura infantil”, Means agers es no setor dalteratura para erlancas de. Canis forma gam em oro oe fro eritrio, este, palftico, nfo é menos importante. obras destinadas 2 juventude nZgjdevemjamaisrcolocarqm ‘A partir, portanto, da Contra-Reforma, o critério moralista * que dirigia as leituras selecionadas para criancas ¢ jovens deixa de ser apenas uma preocupagio orlentadora paral hipertrofiando-se, tornar-se 0 cd crado para opie infant esse sentido, compreender a posicdo em discussdes sobre a fungdo da arte, € escl ‘moralizagdo ria Salvo sua Obra da medioct- No final do século XVII, Perrault participa de uma polém!- ca-que passou para a hist6ria literdrla como a “‘polémica dos Antigos X Modernos”. Boileau aparece af, como defensor dos 48 “Antigos”’ ¢ Perrault sitou-se do lado dos “Modemos”, A pole- raul, onde este afirma a superioridade do século de Luts XIV sobre toda a Antiguidade. ‘Todavia, como afirma Soriano, “essa famosa querela nio'é ‘Tal posicdo, segundo o autor de Culture savante et traditions populaires, conduziria fatalmente Perrault a uma concepgio mo- ral da arte, entendida como instnimento de propagacao da vit- tude entre os homens, “Ser moral, para ele, € situar-se numa perspectiva religiosa, perceber o pfogresso que representa 0 cristianismo na evolugio da humanidade, respeitar 2s regras s0- clals € 0 pudor que sucederam 3 rudeza dos primeiros tempos”. (Ora, a posigao de Perrault no é tnicae isolada. Amaud, que servird como rbitro da polémica, em sessio na Academia que reconcilia Boileau, de um lado, ¢ Perfault, de outro, pergunta sem rodeios: Qual é 0 problema essencial? o da significacao da arte. Ela deve ser moral, cristi.” verdade que essa questdo se coloca muito mais na pritica que nos principios. Daf, ser necessério saber ‘quem, na pritl- ca, defende realmente a moral € 0s bons costumes", quem a arte. Num ca80 ou noutro, fica evidente a intengdo moraliza- sobre sua validade, Pira o autor dos Contes, a literatura para criangas ¢ jovens é "um setor privilegiado em que se pode mos- trar claramente, concretamente, 0 absurdo que estaria em de- fender uma arte de puro divertimento. Nao defender os inte- 49 Scanned with CamScanner resses de Deus, preocupat-se em agradar, € também una toma- da de partido, mas uma tomada’de partido contra Deus". ‘Tal preocupacio reaparece também em outros contemport- neos de Perrault. Assim, se-escritores como Racine, La Fontal- Ul" Por isso; 0 proprio Pesraultya quem Sonano atribul o uso ‘constante de,uma;-moralizagdo indireta’/"ambi nude perda/ Que deixar de cumprir com seu dever”, Em Fénelon, 2 postura. moralizante utilitarista € ainda mais evidente. A moralizacio € buscada obsessivamente ¢ 0 autor fo educativa e elaboracio artistica nao se equilibrem”. (O"doce”’ Cedeu lugar, definitivamente, ao “‘itil’’, Mas a ques- 140 pode, ainds,'ser melhor esclarecida se tomarmos por base "A umaropgio de Perrault: 08 contos de adverténcias Q que sao lest “S40 0s tinicos-contos tradicionais que; ‘estayam constiruem-se em vefculo do adulto para aproximar-se da crian- ca, Nensinando-a’” a viver. Narrativas centradas no destinatério, 08 contos de adverténcia usam elementos artisticos a fim de ob- ter uma eficdcla maior junto 20 receptor. ‘A esteutura narrativa presente neles é sempre idéntica, ape- 4n don”, ‘iz Escarpit. | Se © discurso utilitério segue o seu curso normal, are gando até nossos dias como forma dominante, a partir-do.sé- culo XIX deixa de ser 0, @tagas 40 abalo que o roman- nay n Se ¢Gzanig Denise Escarplt situa seu comego por volta de 1840 ¢ ‘cham atengio para o fato de que mesmo tal tendéncia nao es- tard isenta completamente de preocupacdes pedagogizantes. ‘Todavia, seria no rastro dessa cultura r omantica que surgita OU ‘uma das mais expressivas obras da literatura para criangas e que ilustrard & perfeigio a nova tendéncia: Alice no pals das mara: +e Ai nee oe Scanned with CamScanner ie {terra menos lis oa especie e para crian- gibt Carrol (1832-1889). . Alieera0 contririo ‘maoralista, € 0 absurdo tornado possivel, €0 magi- ct Suas meramorfoses, bem com 2 de ele ‘mundo de jogo, o qual, 20 mesmo tempo routro onde tudo € poss ado antes dele a pontos to brlhantes,£ evidente queries mo partir do século XVII, 0s jovens jé tinham tido a oportu> nil que se apoderou deles, como j4 ocorrera antes com 0 Qui- zxore, de Cervantes e 0 Gargantua, de Rabelals, Todavia, tratava- se de um discurso que ndo fora criado ‘especialmente para a yy crianga ou 0 overs E partir dos anos 60 e estaria ainda em dizer que somente no nosso sécul'€ que a concepeo utiité ‘tia daarte para ¢riancas sofreria abalos consideriveis, sendo pfo- fundamente questionada por artistas, estudlosos ¢ por todos aqueles que se interessam pela questo. Tal fato ndo ocorre de forma isolada, mas em varias partes.do mundo. E, como se trat ta de uma concepeao ni4o claramente delineada ainda, os:¢s- ‘gundo Escarpit, estariam:"em ruptura aparente com © passa do”..£ 0 que che de “utilitarismo as avessas”” € que vere- Filip tctrinsminoe ipa histéri- senso burguesa, Contra-Reforma — a litera- tura para ciangas enveredou por caminhos estranhos 4 época 52 q | Sachs leur dos cisiens onemandose sexo por ete.

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