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¢ José ¢ Jacinta nem sempre vivem nos mesmos lugares: reflexdes em torno de uma experiéncia de etnogratia multi-situada 1. Os lugares d Num contexto de produgio intel or de um: luma pratica obrigatéria pal Qetnogeate toi, por isso, concebido pela viajante que, para conhecer outras cull residéncia em lugares geogeifica concebidla, a figura do associada, A don (1988a,1988b), ar foi central para a organizaga Pologico, mas conduziuy a uma disc: nativo, reerado. A associagao entre native. toantro que estio de O que precisa Esse encarcerame fica das dimensoes mor aantropologia pensi © acreditam. Dito de outra forma nus uma concepga lectuais dos nativos. Segundo App inados pelo que sabem, sentem explorador, © sonagem dotada de 1ndo aprision ide, p ada por uma cultura ( a Etimoiogia: Antropologia dos Processos Identitirios E claro que tudo isso teve, tem, implicasdes civicas. Enquanto as elites ocidentais so concebidas como a palavra viagem sem pre foi acompanhada de alguma aura, as outras pessoas que viajam s30 concebidos como imigrantes, e, nessa qualidade, sio sempre associados, a uma cultura de origem, localizada num lugar diferente do lugar onde residem No interior de um esforgo de marcacio, necessério & insttuciona- lizagio de uma disciplina metodologicamente credivel, face as prices e discursos de outros viajantes interculturais, 0 etndgrafo distanciou. -se, sem no entanto a abandonar, da figura do viajante, para se finan, a partir de Malinowski, na figura do residente. Ou, para sermos mais Precisos, do co-residente: aquele que reside com o nativo no lugar do nati Depois de Malinowski, o trabalho de campo entre nativos tendeu a ser cons ‘truido mais como uma pritica de co-residéncia do que de viagem, ou mesmo de visi A observasao participante surgiu, neste contexto de produgao con- ceptual do objecto da antropologia, como uma técnica apropriada:oantro- logo residia num lugar especifico, onde conhecia uma cultura espe- cifica, e fazia-o através do relacionamento directo com as pessoas que wam esse lugar e que, por isso, representavam essa, ¢ $6 essa, cultura, Enesse sentido que se pode falar do lugar como sendo uma construglo conceptual intimamente associada a uma pratica de investigacio. Como demonstrou Augé (1992), 0 trabalho de terreno tradicional pressupds a existéncia, ao mesmo tempo que lhe deu forma, do lugar antropolégico, ‘uma figura que, segundo 0 mesmo autor, tem origem na concepsa0 de Mauss da cultura como algo localizado no tempo e no espaco. S6 essa associagio — que Augé faz questio de relativizar, afirmando que, até certo pponto, corresponde a ilusao do etndlogo e ao semi-fantasma do indi {gena- permitiu que o lugar antropolégico fosse concebido como iden- {itério, elacional e hist6rico. Fazer equivaler uma cultura a um lugar cor- respondeu a fazer a economia de todos os mecanismos de produgao de cultura associados & deslocacao das pessoas, tal como conceber pessoas ‘como nativos equivaleu a ignorar o facto de elas se movimentarem. Dai resultaram textos que mostram as culturas mais como realidadles mono- cidveis das retas que as Iiticas e abstractas do que como realidades diversas e indi epresentacies, das emogoes e das praticas das pessoas c produzem e transformam, A desmontagem das condigées de producio do discurso antropols- gico coloca em causa, de forma evidente,a classica relacio entre cultura e lugar, mas essa critica no chega para justificar a crise actual da nogdo de vesenciagal wl ila NY Silvano: fst ‘nem sempre vivem nas mesmos bgares 5 lugar. Hé ainda que acrescentar-the o facto de a realidade social se ter transformado num sentido que também favoreceu a sua problemati- zasio. Claro que o capital inte tante do que isto, € formagoes emp lizagOes transformada informacio mas também das pessoas, e olago que ne a cultura anespago J ndo € do mesmo tipo (Featherstone 1990; Hannerz 1996). Dai que os antropdlogos tenham sentido a necessidade de rever as stas téenites oe investigagio de forma a adapti-as ds novas configuragbes espacais da esse contexto que surgem propostas de realizac3o de etno tuadas (Appadurai 1997; Cardeira da Silva (org.) 1997; on 1982, 1972, 1997b; Marcus 1995a, 19956, que déem conta do facto de a cultura ser fe espacos multilocais, Como James Clifford (1997) comenta, a situagdo actual est4 ainda sobretudo atravessa: grafias mul antropolgicas classcas metas novas acontemporines, as nodes de viogem, ra, de co-residéncia, de interacgio, de int nae i efnido o campo eo proprio trabalho de compe retrabalhadae? (Supra: 58) jmasindo deixam de surgi algumas propostas bem sucedidas de etnogra fas de um novo tipo, Noessencal at alleragdes parece foclianee sea forma de conceber a pratica dos dois personagens centrais Go trabalha tnogrifico, Do etnégrafo, que passa a ndo poder centrara sua observacio hum $6 lugar, e do sinformante», que passa a nao poder ser observado enquanto pessoa artificialmente confinada a um lugar. A figura doanine, Pélogo viajante~_mas que agora viaja para acompanhar os sinforman. tes» viajantes ~ reaparece assim como uma pos Como prope Marcus (1995a), «seguir as pess Sbvia de mate ¢ 56 er lait: Antropologia dos Processos Id observacao participante pode, nessas circunstincias, manter-se, na medida fem que oetndgrafo continua a manter relagdes duradouiras com os «infor: ‘antes, mas aconcepgio do espaco tem de alterar-se, visto que os infor- antes so observados numa situagao de mobilidade espacial. A opo simples entre o «aqui» da cultura em estudo e 0 «além» dos outros, dei definitivamente de fazer sentido. A primeira lo; que se iculdadede uma et rontar com o ido em objecto facto de ela tersempre se vale passa Ser ingular © Neste contexto, énecessirio encontrar respostas ad formagaes do espaco, e € prec dia observagao tetnogrifica come também da abordagem conceptual. O facto de a via gem surgir como um atributo de todas a8 ae faz com Jao com 0 espaco passe a depender de miltiplos pont ta, resultantes de diferentes formas de apro mento dos lugares # evidente que hoje todos os higares cou mediatizada com 0 exterior, € que, por isso, a producio de cu implica sempre a relagao com out dade, a concepcio do espaco tem de se socorrer de os lugares ~ como €ocaso da masa quest jedade contemporinea parece ter desen smos da sua produ. tadas as de Iugares sio 'scapazes de mobi- i tanto em casos apresenta-se ho izar mais energias, sendo que esse facto se pode ve le poy es fixadas num espaco com 1988). Penso por isso que, tal como propoe James Cliffor jose trata 2m sempre sven nos mesos gaes 7 pela do eviajante» intercultural, mas die estudar as miltiplasarticulagées que se estabelecem entre elas, bem Como os contextos precisos em que esses articulagoes se desenvoivem E necessirio continuar a estadar o lugar, mas agora sem fazer a ec mia das stas interacgdes com as outras escalas de pertinéncia espac (Neves 1988, 1994; Pellegrino 19639, 183b, 1986a, 1986b; Silvano 19 1988, 1990a, 1990b, 1993, 1994a, 1994b, 1984, 1995, 1997a, 19976, 1998) Constataressas mudancas equiv a propor uma alte ragio na tamente. de se alargar, enfrentando as di decorrem, a outras escal pertinéncias culturais espe dugao no trabalho etn de vista pontode da mol das representacoes do observador como do .as e das representagdes das pessoas observadas, Rodrigues, cineas nas filmagens de um doc familia de j grantes portugueses Guerra da Mat o- Es indo e de ( 58 _Etiologia: Antropologia dos Processos Identitarios cconsequentemente, as suas identidades. Nesse ano acompanhamos € filmémos o quotidiano da familia nos percursos entre as suas duas casas ide Paris e a5 casas dos pais de ambos, em Tras-os-Montes. Entretanto foi-se desenhando, face ao desejo da famulia visitar a Expo 98, um segundo projecto de filme, a rodar em Lisboa durante 0 Verao de 98. Na altura, Fazer mais um filme correspondia, para mim, a criar condigdes de trabalho para desenvolver algumas das questées que tinha colocado durante as Frimeirasfilmagens. Esta tinham-me permitido acompanhar os percur- roe habituais da familia e observar como é que o cinema podia dar a ver ‘Ge mecanismos de construcio das identidades e de producao da cultura Gscociados e esse movimento. Para continuar a trabalhar a questo do jugar da viagem na pesquisa etnografica interessava-me, num segundo memento, poder deslocar a familia para omeu proprio terreno, alterando ssi o sentido do movimento: deslocar os «informantes» e localizar 0 ‘emégrafo, Interessava-me também observar os efeitos, em pessoas com identidades fortemente marcadas pela diéspora, de uma visita a capi do Pafs ~ tinham-nos perguntado como era Lisboa, se era uma cidade tio {grande como Paris no momento em que aise realizava uma exposi¢d0 oem visibilidade internacional, assim como observar os mecanismos de Construgao de uma nova componente das identidades pessoais, a identi- Gade deturista. A vinda da familia 4 Expo conjugava dois tipos diversos de viagem: ado emigrante que retorna@ patria e, visto que nao conheciam ‘Lisboa, a do turista que visita uma cidade desconhecida, ’A dela de fazer um novo documentrio ~ Viagem a Expo ~ acabou pot agradar a todos e comegémos, cineastas, «actores» ¢ antrop6loga, a pre- paré-lo a partir do Outono de 1998, Entretanto fol terminada @ monta- fem do primeiro filme, que a familia teve oportunidade de ver, em case Primeiro e, depois, na televisao, durante as férias do Verio de 98, ji com Py odagem do segundo acabada. Na Primavera de 99, terminow-se a mon- tagem do segundo, que a familia também viu antes de ser mostrado pela primeira vez na televisio, no dia em que se comemorou a passagem de tum ano sobre a abertura da Expo. ‘O trabalho de acompanhamento da realizacao dos dois filmes referi- dos resultou na construcio de um interessante conjunto de dados, que, para ser sistemitica, arrumo.em quatro grupos: 1. observacbes recolhidas erraves da técnica tradicional da escrita de um diario de campo; 2. ima- gens video de situagdes que presenciei; 3. dois filmes feitos a partir da Sclecgao e montagem de algumas das imagens registadas; 4. reacgoes da familia aos filmes realizados. As notas do disrio de campo, que incluem ‘os momentos de visionamento dos filmes e zam descrigdes com apontamentos interpre! Gas tedricas e conceptuais. Por contraponto, as imagens filmadas repro- Guzem, através de um enquadramento muito preciso, que éo do olhar do toma a familia ( Slvanor José Jacinta nem sempre vivem nas mesmos lugares 2 Jodo Pedro, as situagdes vividas. O texto que aqui 5 sxto que aqui apresento resulta da ‘minha relagio com esses dois tipos de materias etnogréficos, que concebo como materializagSes da minha meméria do terreno. De forma a poder conceber um texto que se adaptasse ao espaco de uma revista, fixei-me ‘essencialmente em alguns momentos das filmagens relativas ao primeiro documentario. 3. «Residndo-vigjando» ¢ «Viajando-residindo> Josée Jacinta passam a semana em Paris num pequeno apartamento deporsraAtthy poucotempo,or dos hos dorniam no apartament, ‘mas agora johnny, que jé é quase um adolescente, passoua dormir num quarto cedido pelo condominio do prédio e s6 Léa ficou a dormir em casa. Jacinta passa a maior parte do seu tempo no prédio onde vive, visto que é ai que exerce a sua profissao de porteira. José parte de manha cedo para a oficina de sapateiro de que ¢ proprietdrio e que fica a cinco minu- tos de casa. Vem a casa almocar e depois volta para ld até ao fim da tarde. As criancas, quando nao estdo na escola, vém para casa onde encontram {uase sempre a mae. Ao fim de semana vio para a moradia que tém na periteria de Paris, perto da casa dos pais de José. Ai t8m espaco para tudo: quarto para as criangas, sala de jantar para receber convidados, jardim para cultivar flores e legumes sitio para fazer grelhados e garagem ppara.ocarro, Ao domingo de manha vém de carro até Pars, vio. missa 8 ‘greja da paréquia de St. Josephe, que fica perto do apartamento, e retor- joltam de metro para Paris e deixam 0 carro na nama moradia, | garagem da casa da campanha. Quando chegam as férias de Verdo, Lea e Johnny partem para Portugal numa carrinha com outros portugueses & snr ts cm cum nt awa mntermon On pal chegan altar jurant jeles a familia vai andando entre Argoselo e Espada- nedo, as aldeias dos avés. eee No essencial, as priticas espaciais da familia Fundo corr : smilia Fundo correspondem & descrigio que ficou fet. Conugam stages maito diversas, facto que ituralmente interessante. As trés geragdes vivem entre Paris e Trds-os-Montes, mas fazem-no de uma forma diferente. Os pais de José foram emigeantes de primeira geracao e construiram em Ti “Montes a primeira «casa de emigrante» da aldeia de onde so 0! ros - Argoselo. Hoje estio reformados e vive nos arredores de iar, mas no Vero v3o todos os anos & aldé onde sao origin: vamente central, Av. de la République, num apartamento de porteira e sio proprietarios de uma moradia unifamiliar na periferia. Os pais de Jacinta vivem em Trés-os-Montes ~ Espadanedo ~ numa casa que pertence ea mulher vivem em Paris, numa zona relati- yy © nega: Antopolgin dos Processs Mentos Silvano ose 4 familia hd varias geracdes que, apesar de modernizada, mantém a festagies individuais e subject iagdes mais gerais que 3 are MS dicional © pai emigrou algum tempo, mas a mae nao sail tlesenvolvem no interior de um eampo social preciso, que é¢ da emigre ‘ente Ga aldeia. As terras que possuem deram-Ihes um rendimento su para sustentar a casa, mas 03 filhos j oplaram, uns de forma defi intros provisoriamente, pela emigragao. Num quadro destes, em que as praticas espaciais da familia se desenvolver entre dois paises 0 wrecisas, entre uma cidade e duas aldeias,situadas em Giferentes, é impossivel pensar a relac3o entre cultura ¢ espago de um ponto de vista estave. A familia apresenta condigoes para tentarresponcler J proposta de trabalho formulada por Ja ford (1997): pecitieas de poder a e da exclusd ja uma constante que 3 todos _que esté em causa é uma abordagem ise praticas quot ndo-viajande (Supra : 34) jando-tesidindo, res fazer durante o primeiro ano de filma, acompanhi o quotidiano e os percursos cla familia. Queria pereeber como {que os seus membros construiam que cada um representaya a sua condicio de pessoa em constante my a esnto entre a ruralidade de um pais semiperitérico (Sousa Santos 1993) ¢ fa urbanidade de um pais central. Nesse sentido, pretar os dados etnogrs ando-05 1 lo que parece ser, pata ele, a imagem ideal magem revela-se com um forte poder to central do processo dk iar. De inicio, quando o cont sndo que achava do vemigrante port identificador suas identidades pessoal e fam fazer o pri Gifica que & a vida de uma familia de emigi propostas sintetizas (1992, 1996), conceber as identidades dos. importante que a: aene membros no interior das dindmicas pracessuais que vao orientando ‘movimento das suas vidas, [Ainda que parega invocarem uma oF m em correspon tsar 0s recursos da hi sentar o papel do emigrante p 3 problem: dialogo entre cate trabalho etnogrsl que um ‘Ao fazermos uma proposta de amos a fa de José ¢ reveladora identidades pess plicam a manipulagao de discursos, ‘a que todos foram sujeites nai ervagio se te marcadas pe 0 de uma imagem e de um discurso q) ibuir a referida categ: Ge José e Jacinta, porque me parece serem ¢ a mnologia: Antropologia dos Processes Identitirios bilidade de fixar publicamente aquilo que pensa ser a concepgio «emer da categoria «emigrante portugués». Ao longo das filmagens, fo nando claro que, a partir do momento em que fol testemunh: ‘Amara, a 0p¢a0, feita anteriormente, de se identificar, de form trav nela uma narrativa que dé sentido a sua propria vida, com a figura do «emigrante portugués», se reforgou. Essa opgao i Siv-o a uma atitude performativa (Turner 1982) que se traduziu numa ppostura de grande confianga face as cimaras: sempre a repre: sentar o papel do personagem que. o referente para a cons- trugao da sua identidade pessoal. A ri atitude, que quase Ihe permitiu elidir as contradigdes e 0s con! construgio das identidad trastava com a da mulher, mui ’A diversidade das posturas face A camara, ea importancia etnogral dessa observacao, coloca algumas questoes relacionadas com o facto de tum filme documental se rodar no interior de processos de 630 intersubjectiva (Crawford 1995). vida quotidiana d pessoa ser registada por uma cimara ma por uma outra pessoa Coloca a primeira, inevitavelmente, numa 2x30. Pri ‘meiro porque, como acabimos de ver, act de fazer um filme ps por uma reflexao prévia que imy vag gundo, porque a presenca da camara significa a pre pessoas com valores culturais diferentes e consequentemente im rioridade dle que seestioa tada por outros" 10 processo descrito, José manteve uma vor «pul que as leva a ter consciéncia terpre ‘como papel que razoes que a levaram a participar no filme. A ro urso &, qual icagao a tinica o seu perc proxima de alguem c de fo do, a nossa presenga desde as primeitas filmagens. Envolta num Jue reserva muito pouco espago para o seu discu presenga da cimara sobretudo para se fazer ouvir, consciente de que es fra um importante instrumento de fixagao das suas palavras*. Os mem. bros da ‘agens transformaram-se assim, num contexto de idade pessoal que procura fazer a dificil articula: wal portugués eos da classe média urbana ferlocutores privilegiados. A cdmara registou uma vor ‘hum universo privado ~ muito mais hesitante do que a de José e, strugao e tixagio da «verdade» qu jora de um personagem marcado ps ido, pela abertur idade cultural e pe lidade para colocar a experiéncia das filmagens no interior de 0 reflex! dda identidade pessoal. agens deram-m subjectivas dos «informan: pretencle ter~e re curiosidade pelo desco permit ‘como preconiza MacDougs como um processo constante de negociagdo, interpretagao e reinvengao es peaticas e valores desapateiro ides profis- de emigrantes que conseguiu integrar-se, feita em Fra mia do pais de cia reconhec queo ‘gio nigrante/emigrante ideal parece estarem fortem da sociedade AAs identidack ‘marcadas pelo frat referénci mesmos obje propria vida, Mas, e apesar disso, a comunidade de origem — cons- sida primeiro , depois pelos consi res ou por serem v em igrantes portugueses em ¢ rolegt: Anttopologia dos Processos Mdentitirios rane desenvover as suns relagdes intgpesoss” A exc igo argelino, propretirio de uma Inj prto da sus of antec qualquer lagi extertoray batho qu spac social refer, Esse univer cul ie Jes Necessdrias a construgdo de um esti tele gue se encontamas pessne gue serve tanto ce mo Interlocutores e,conseguerement, den Uim pean epentio ques asso on ema qusse norms eem que frequent T70Km por hora podeserviraqul deeremplo. Acer a ow com foto de estanmoc a por as novos vida em inser m comportaniente que se rev se situasse no smbem parece conter todas, smpre a mostrou-se incomodada ‘a nossa presenca para ¢ Silvano: mesmos lugares 65 it casa, filmadas durante uma tram essa postura, embora 0 contexto m que foram filmadas justifique uma parte da compostura, algo nervosa, ‘0 casal exibe: na presenga do padre e da comunidade portuguesa do ro, Jose e Jacinta assumiam naquele domingo o papel de actores prin- ipais de um filme sobre emigrantes. Ou seja, apresentavam-se pul wente como os representantes da comunidade presente. A possibilidade de assumir essa postura re que consey onstruir no inifesta nos comentarios da pro- que considerou que tinhamos escolhido uma familia exemplar: is XI ~ligada a nga de um curso de por le direcsa0, pret nals que dao lentificagao desenvolvidas pela comunidad por ranga. As situagdes observadas a0 longo. rabalho de inserirmos os dados etno- _xséficos no contexto mais global da reprodugao da ideia de nacdo e, nese ia dada pelos «informantes» ao ensino da lingua pode coniro1 que Benedict Anders ciclo gera fugues dri inde dis ce 66 Ethnologia: Antropologia dos Processos Identitarios filme sobre emigrantes portugueses. Trata-se de um paroco francés, cons ciente das dificuldades que decorrem do facto de trabalhar numa paroquia jque recebe comunidades de imigrantes de diferentes nacionalidades Ga missa de sabado a tarde destina-se 4 comunidade tamil e a paréquia {integra também uma comunidade espantola). A recente partida do paroco portugués torna as coisas ainda mais complicadas, porque a comunidade ‘portuguesa insiste no seu desejo de manter a missa na lingua nativa. Face 2 isso, 0 paroco aprendeu a dizer algumas partes do joso em portugués e optou pela utilizacao das duas linguas. Ex uma conversa com a equiipa de realizacao e, depois, em frente aos por tugueses que preparavam os cAnticos, as raz6es dessa sua opsao: a comu- nidade portuguesa nao pode ficar fechada sobre si prépria ea missa tem de poder ser acessivel aos outros membros da pardquia A {que se prende com o.caracter universalista da religiao catolica, nao é rece: bida de bom grado pelos portugueses"*: aos argumentos do péroco, com trapdem 0 seu desejo de comunicar, na tinica altura em que @ comuni: dade se retine, na sua lingua ‘As filmagens foram percepcionadas como um momento de prod} lade e, por isso, acabaram por reve: Jar alguns dos inves jos pelos seus mem- bros. Primeiro, a preparagio dos cAnticos para a missa que filmémos impli- cou uma dura negociagao, em que um grupo de emigrantes se bateu por cantar 0 maximo possi ida a JJ em portugués, e depois, uma vez det fara em que haveria pouca gente: as comegado, ¢ por isso as aulas de catequese e de portugues tinhar jertos da obrigacao de trazerem paraco descansou-os dizendo ar as coisas tal como so, ao que eles responceram tar em Outubro, porque nessa a impos Je de manter na sua paroquia a portuguesa, o mesmo grupo de emigrantes fe com orgulho & Igreja da Sr de Fatima, essa sim, grande, com issa em portugués e gerida por portugueses. No dia das filmagens, depois da missa da pardquia de St. Josephe, que se inicia as nove horas ‘da manha, a familia Fundo, acompanhada por um casal de amigos, levou. “nos 3 referida igreja, onde assistimos a uma parte de uma cerimonia que se desenrola debaixo de uma notavel izagao— quando chegamos fomos recebidos por hospedeiras que nos orientaram para um lugar vago terior ~ e onde, segundo José, todos os emigrantes de 20 pelo ‘menos alguns domingos por ano. A dimensao da Igreja, a quantidade de ‘pessoas presentes eo orgulho com que os emigrantes nos afirmavam que ( Silvano: fos ja épropriedade da comunidade portuguesa, transcrevem a importancia que a religiosidade também parece ter para a afirmacio publica da sua cia, Nesse dia fomos almogar 8 casa da campanha e, apesar de a js ter assistido a missa dominical, 0 rédio manteve-se sintonizado na emissora que transmite, a partir da Igreja da Sr’ de Fitima, a missa dos portugueses, até esta terminar. 6. Diéspora e recomposigto dos espagos domésticos idades sociais descritas, mas mantém iscreta e menos entusiasta que José. A sua posica« I revela.a vontade riando uma pequena de relagdes soci e énela que vai procurar os modelos para o e para a sua fa atribua um lugar no exterior jando assim forma a uma vida pill grar nos modelos Portelra do prédio francesa, coloca-a no int média francesa e permite observar outros esilos de vida, baseados fem outros valores e noutras piticas socials, A tenativa de reproduzit Aiguns deses valores ealgumas dessas pratias esd sujelta a constantes nepoclagBes, que colocam em confront os diferentes projectos de vida dos membros da familia. Acompreensio das oppbesterritoriaisrelacio- nadas coma defingto do sistema residencial defor nuclear depend, ‘met ver do entendimento dos pontos de vista que integram essasnego- Cages! ar ose, nfo parece ser muito importante ter uma casa que permita seproduit 0 modelo de vida urbano frances, Por isso privilegie a pro imidade do trabalho ea manuteng3o dos lagos famlares, iver Aum tapao mintsculo em Parise passa os fins adia 20 pé dos pais parece-the um modelo de vida aceltavel, Alem coreeponde hsituagho dem ue prescindem do to quotidiano para poderem ter uma residénciasecundétiana per moniais, em quea ligag3o emocional entre o homem ea mulher se desen- i 7 Ethnologia: Antropologia dos Processos Idemttérios atica as estabe- sim a presenca de nnciados: enquanto © le vida rural que acentua a élicos e as praticas sociais em que José investe, para por em suas proprias opgdes de estilo de vida. As relacoes: lece com os espagos e obj uma negociagao entre dois estilos de homem preconiza a reproducao de um 1 privilegia 0 quo- iano citadino, a autonomia da familia nuclear e as relagoes sociais com o exterior. © modelo «do citcuito da cultura» apresentado por Paul du Gay & Stuart Hall (1997) coloca as identidades numa outras dimensées, a saber, a representacao, a regulacao, o cor produgao. Tem a vantagem de no que podemos obs antes como manifestacoes individuais de processos colectivos de produ- ‘30e reproducao de cultura. Aquilo que tentei apresentar até agora como sendo uma dinamica identitaria pode, de facto, ser vista que, ao integrar outras dimensdes, \duza a ‘que, em simultineo com as identidades, vai sendo produzida, Os exem: pplos apresentados conduzem-nos a hipétese de os mecanismos de prod a0 de cultura, observados em contexto de emigracio, integrarem uma diferenciagao de género. No caso observado, a identidade mas contra-se associada a reproducao de praticas e valores que ci sao regulados, no interior das teias de relagoes familiares e de v que se organizam a partir dos lugares de o1 cidade como Paris, do modelo de mascul sente— marcado pela exposicio publica indiscutivel sobre a famflia nuclear em privado~ $6 seria possivel no ss urbanos, que nao reconhe- tao habituados.a representar, temem pela estabilidade das suas identidades e desenvolvem tacticas para as manter. ‘Uma situagio vivida antes do ini revelaa transcr Pr im sobretudo na esfera pri vada, podem assumir. Alguns dias depois de chegarm eueo Joao Rui esperavamos na loja de José por um momento livre para falar: _mos um pouco sobre o nosso projecto de filme quando entrou uma rapa riga com uns sapatos para arranjar. Dirigit-se em francés a José, que na iptsc re mates prise en li Ale a vsmimne, Seria el ue elas revelam conflitos e {as da apropriagio, por parte de esto associados, no sentido de os 8 modernidade*", Quando a li de um confronto de géneros, como atégia parece ser sob: queajovem mulher de origem face a0 grupo de homens emigrantes portugueses, a0 ara Lingua da comuni rigem francesa. Em conformidadi jovens comegaram, por vezes, _ Pais. Tudo parecia decorrer num relat ‘meses depois, um contlito revelou, seq limento até que ‘0 entendimento até que, alguns ido o discurso das mulheres mais ( n EEtimolagia: Antropologia dos Processos Identitsrios rnovas da comunidade, a ma inlutncia do pai do rapaz no comportamento deste. Face & passividade que o velho emigrante via no comporlamento dio filho, aquele comecou a pressionar o jovem no sentido de bater na cla, argumentando que, se ndo 0 fizesse naquele momento, musta ia ola Pelo seu lado, as mulheres, sobretudo quando as suas vidas profis: slonais se desenrolam no interior das vidas domésticas das classes medias francesas, concebem os modelos identitarios femininos urbanos como fepert6rios de valores e de comportamentos disponiveis para serem ut lizados nas suas proprias técticas identitarias. E dbvio que também os im para negociarem com os homens das suas familias o exercicio dia autoridade masculina, Nesse jogo surgem situacdes de confi como vimos no exemplo anteri e de violencia, Na zona de Paris em que decorreu o trabalho de campy uma parte significativa das porteiras ¢ portuguesa, Conhecerse um as outras e desenvolvem entre elas mecanismos de controlo e protecgs que passam pela partiha das suas historias de vida. Ou historia eapercebi-me de que quase todas vive doloroso, quando nao zes e raparigas) na sociedacle francesa adultos, se manifestam frequentem assim o poder dos pais. Mari emigracio portuguesa em gem da porteira, 0 mest dade a parte e di nnhos, com os diferentes gr 2 observagio de outros mod ter efeitos sobre a ascensio soc Neste contexto, ler as vidas de José e de Jacinta como duas sadas, de viver a «viagem cul- Para Jose, essa viagem parece im pro: cesso de integragao econémica em Franga que se traduzira pela etecti vagio de uma mobilidade social ascendente. Mas esse processo d Silvano: José Jai pe oem mesmos lugares 2 sracao, que implica a construcio de uma identidade profssfonal que inte f'2 valores da sociedade urbana francesa, parece comportar, 2 outros Aves, alguns riscos de desestabilizagao identitaria, que José previne a0 investiena construgdocle uma «comunidade portuguesa imaginada», ato és de mecanismos de produgio e patilha de memorias do paseado, per. ppetuacdo da heranca e realizagio do desejo de estar junto (Fall 1992) Esta atitude, que é teproduzida por outros membros da comunidade tana produgio de uma culturadedispora que se sustenta vgar de origem.E claro que Jacinta participa, como todos ‘0s emigrantes com que mantém relagdes préximas, nesse processo cole de produdo de cultura. Mas para ela a viagem comporta, mais do idade de cons Wu-a ainda numa situagio de abertura ide acco mais marcada por meca- rnismos de articulagao com valores exteriores. ja de rabathog rabalhosespectiven doin ( ™ _Ethmologia: Antropologia dos Processos Identities Inoperante onwoque as pessoas, través da nica forma possvel deo fazer, 0 Se buat expressdes vubjectivas, Muitas vezes ese exerccio srd feo pa Teitura das imagens cinematograficas, que aparecerbo assim como um suport 4 Tambeém aqui podemos refer a existncia de algum desencontro entre as conc Sobre os quaisaimentava expecta tanitha no Verio das flmagens de Vi os, Aquestio esencial prendia-se ‘ldsica,centralizada na cara, ou 9a, firectamente& identidade pessoal, nso idade pode ser tratada no interior smodos rule qus produs uma sperspectvan ftuurse partir da Vor de alguém que fala na primeira pessoa, ou sca, de alguém que Silvano Josée Jacinta nem sempre oivem: nos mesma lugares 5 Aestemunha: «0 testemunh € 0 que not dé 9 vox subjectva da pessonhistrica; no fentanto, nds estamos implicados no destino dos outros através da narrativ ressupse uma op¢so de intogragio simbelica na das tenias de impressio coma fatal diversidacie fewma nova forma de comunidade imagi a cena para o aparecimento da nagao C 7% Ethnoioia: Antropologia dos Processos Kentitirios acto de consurmi, agora entendido como um proceso ‘consumo deve relagbo de segunda mao com o mundo cu lama forma passva; 0 nosso objectivo e frequentement 3 para or nossos prprios propesitoss (Miller 1997-26) \s Sobre a nogao de setilo de vida, Celia Lary arma: sEnguanto modo de consumo, 0 fede consumo, relerese as formas que cada pessos procura pa Appadurai, Arjun, Mos 1997. — «introduction: Place and voice in anthropologi ws, Cambridge, Cambridge University Press, 1986, 1a nem sempre vivem nos mesmo lugares 7 aris, Sei, 1992, de conomie ol Paris, Gallimard, Gallimard, 1968. 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