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CAPITULO V © SENHORIO RURAL (+) aNa obscuridade do século X e comegus do século XI escreveu G, Duby—, o regime dominial tinha sido ‘demolido” a pouco e pouco, dando lugar ao senhorio, © qual, ele proprio, iria em seguida sofrer “comutagées”.» ‘Existem varias «naturezas de senhorios», pot ° termo entender-se de diferentes maneiras dado que cada senhorio pode revestir diversos aspectos. Eis os dois principais: o senhorio é um grande dominio, herdeiro da villa na regiio carolingia, do «mancirs (4) na regio 7) BOUTRUCHE (R), La crise dune socidé: seignears et paysans du Berdolee pendant ta guerre de Cent as, Pans, Belles Aires, Ist Canbldge Economic History of Europe (he) BP eaasbrtge ti. Press, 1966 (Az sambem respetto 4 (6ria social). --FOURQUIN, OLIVIERMARTIN, The Oxford Hilly, op, ellos cap. Ill ¢ Vo~ PERRIN (Ch, Fa, Le servage eh Frage ot em Altemaune (Cover. tnter. dt Scunpe Storie, Florence, Sansont, 1985, p: 215249).=- PLATSSE (Ay, La barons due Nogbourg: essa ahistoire agraire, économique et sociale, Parig, Brose Universitaires de Peance, 196. BEVOTTE (hy a region de Bars Beli 2 la in du Moyen Age ft Adbut du itt stote au rplon da XVI sel); etude Bor Meigu etsoetdle, Lille, publ. Univ, Lille {Hf 1915, — CHEDE- HEE fa5, Gharirés ot def campagnes OU-XLIt siéctes), Pani, Mincksteed, (e7S. FOSSIMR Gl, La ferre et les hommes er Prone nse fa fin dec XII dct, Louvain Paris, Nauvelaest, 1968, SANEAGON (Rt), Défrichements, periplement et institutions ee asides of Hout Poltou dat Xe a Riff siecle, Ousbec, 1967 SORTOSRY (6), Les structures dgraires et ia vie rurale dans te Fae hen de Mili shee ou debut du RUE Stace), 2 ¥oh, Lite tpubl, Unie Lille IE, 393. ‘oP Manoir, ém sentidé, restrito, desigan apenas a, habitacio seniofial, Na fealilade pode 4omarcse 9 termo_ como. des seenSustamente com & propriedade senorial a ela igada, Neste SERAge Gprorimadamene equivalents de senhorio, embora 0 157 ‘anglo-snormanda, com uma base territorial ainda dividida em dois (reserva e tenures); € também um de exploracao judiciario e econémico. Mas a continuidade da evolugao observase bastante mal, porque as Fontes escritas so raras, do sécula X aos anos 1150. Sdo necessarias investigacdes muito pacientes, como as de Ch-Bd. Perrin para a Lorena, a fim de encontrar os westratos sucessivos» dessa evolugso. Depois, passados os anos 1150 ou 1180, os documentos multipli- camse, facilitando 0 estudo. ‘Vamos assim entregarnos ao exame das duas princ is faces do senhorio, por outras palavras, do senhorio indiario e do senhorio banal. 1L Os dois rostos principals do senhorio A) O senhorio fundidrio Qual foi a dimensfio do senhorio tomado no seu | conjunto? Qual foi a da reserva, a dos mansi? De resto, sera que os mansi da primeira Idade Média subsistiram? ‘Acteditouse num processo de «desmembramento da ‘illay depois de J. Flach, que recordou a historia da propriedade religiosa de St. Vaast d’Arras entre 866 & © final do século XII: desvastagées, usurpagies e enfeu- damentos parciais tinham-se conjugado para desorgani- zar muitas villae, Em algumas, os monges apenas conser- varam algumas terras ou alguns direitos. Em suma, uma antiga villa tinha podido dar lugar a diversos senhorios | distintos. Por isso, o termo villa foi suplantado pelo de curtis (=corte, depois, por tradugéo, curia), F © dominio, tendo finalmente sido qualificado de village {aldeia, vila). Este exemplo nfo ¢ tnico € muitos outros bens ecle- siésticos sofreram idénticos prejuizos. Mas, cerea do século XI, ia esbogarse um movimento inverso, ou seja, um movimento de reconstituicao, pelo menos parcial, do antigo dominio: nis, L151, obteve a restituiglo ou resgatou direitos © terras da antiga reserva, de maneira a constituir senhorios de {ertpo mianoir soja normalmente uilzado pura as explorasses Seahoriais em regido anglo-normanda. icf, a obra de Marc Bioch Scimneure franpeise et eovtr angtais (NP) 158 abade de St. Denis, falecido’em | boa dimensio. A reforma gregoriana desempenhou ine- velmente um papel importante nesta inversio de ten- lencin para as terras eclesidsticas, as tinicas bastante bem conhecidas. Com razfio se costumam opor «os imensos campos dominiais cavados pelos escravos das grandes abadias carolingias» & «reserva, limitada e muito proxima da casa, "com que os senhores, trés séculos mais tarde, haveriam de fornecer as suas mesas» (G. Duby). Ha portanto, na Germania como na Franca ¢ na Inglaterra, numerosos indicios duma dissolugo por vezes, na maioria dos casos dum loteamento da reserva, Mas este processo foi lento. De tempos a tempos, um pequeno lote era separado ¢ em seguida entregue’a um camponés a titulo vitalicio ou perpétuo: era retirado das terras mais distantes do centro do senhorio on de terras recentemente adguiridas, ou entéo porque se tornava necessdrio, na sequéncia duma pentria de mio-de-obra, reduzir as superficies em exploragao directa. Além disso, para os senhores leigos, | iniervira ainda nfo apenas a constituigio de feudos para os vassalos (ao que a Igreja, também ela, era conduzida) mas também e sobretudo as partilhas sucessérias: assim se fraccionavam as junturas. Percebe-se que existe ai uma necessidade familiar, ndo uma vontade deliberada de reduzir as reservas dominiais. «Na maioria dos casos é pois necessario entender o loteamento do indominicateent como um fendmeno acidental, provocado frequentemente pelo proprio crescimento do patrimonio» (G. Duby), pelo menos no caso dos clérigos. Acresceatemos, enfim, que os rendimentos da terra se tinham clevado ¢ que o abas- tecimento do senhor e da sua casa exigia a partir de entio menores superficies cultivadas. Nao deve generalizar-se, de resto, esta reducio das reservas, Houve senhores que quiseram desenvolver as suas reservas para «aumentar a exploragio directa>. As ‘ordens inonasticas que desejavam manter alguma coisa do ideal eremita, Cister em primeiro lugar, eram as préprias.a trabalhar os campos e as vinhas, pelo menos aié aos anos 1150. Num primeiro tempo, os Cistercienses dividiram integralmente os seus bens ‘em reservas, as franja, cade una deles confiada a trabalhadores dovnts Hcos dirigidos pelos monges. Qutras monges, camo 05 de Cluny ou de St, Denis, no século XII, aumontaram as suas reservas, E houve leigos que foram um pouco no mesmo sentido: os arroteamentos que controlaram ou dirigiram deram origem a reservas 20 mesmo tempo 159 we a fentires camponesas, 0 que ¢ demonstrado pela Aindacdo de vilasnovas © pelos contratos ‘de. divisio de senhorios. E assim que nos séculos XI e XII nfo existem, salvo excepgies, senhorios sem reserva, atingindo esta facil mente uma dimenséo varias vezes superior & duma fenure, Como outrora, compreende campos, prados, vinhas, sem falar dos bosques ¢ baldios. E néo faltam, tanto em Ingiaterra como no continente, as reservas com varias centenas de hectares, andlogas & (ele total dos ‘mansi. Devendo ter-se presente que, tal como outrora, 2 superficie cultivavel da reserva pode ser unica ou com- posta de parcelas numerosas ¢ disseminadas por todo 0 terreno, Mas muitas terras foram arroteadas em nume- | rosos casos. Por isso, em muitas 4reas, «a superficie «| relativa e a importéncia econdmica (relativa) da reserva» foram reduzidas perante o aumento do mimero das} tenures camponesas. (Ch-Ed. Perrin). of Entre a reserva ¢ as fenures, que restou dos lagas econdmicos de outrora, lacus que cram to estreitos sob ‘os Carolingios, entre o médio Loire e o Reno? Para res- ponder, vamos colocst-nos nos séculos XI XII ¢ apenas nas velhas reas que mio beneficiavam — ou ainda nfio— de camplas franquias». ‘Subsistem as trés antigas possibilidades para a explo- | ragdo da reserva. Apelo & familia, apelo aos tenanciers, | apelo & mio-de-obra assalariada, podendo estas trés possi- | bilidades ser combinadas. Serdo as relagdes entre elas” | as mesmas, em cada regio, que durante os Carolingios? A verdadeira exploracio directa € aquela em que o |} senhor aloja uma familia, ou seja, os seus «servidores - |: domesticoss, O papel desta permancceu, com bastante frequancia, primordial, tendo 0s servos. substituido os | escravos. O que prova a importancia deste papel ¢ 0 facto de os criados ou os prebendarios serem_consi- derados como formando, juntamente com as alfaias ¢ | ‘os animais de tiro, «0 equipamento de base de todas as cortes> na Iiha-de-Franga, na Borgonha ou na Itdlia, Outros servidores, estes mais numerosos do que sob os "}: Carolingios, vinham todos os dias trabafhar na reserva ||: mas possuiam lima casa e uma pequena tenure: eram | 09 servi quotidian’, que recebiam distribuicdes de viveres “| em complemento dos seus magros rendimentos. Por tl- timo, para os trabalhos mais importantes, havia os miris. teriates, dotados dum «fendo» isento de impostos, mas 160 muito pequeno: também a estes 0 administrador distri- bula viveres e produtos, © apelo aos assalariados, auxiliares temporarios des- tinados aos periodos de pouta do ano agricola, parece ter-se tornado mais geral e macico. Os préprios Cister- | cienses necessitaram de ajudar 0s seus conversos me- diante uma mio-de-obra complementar, E os tenanciers ingleses com menos terra, os caseiros pobres, os bor diers © os cottiers (*), alugaramese aos senhores ou 205 egrandes» lavradores, Em que medida tera a terceira possibilidade —o tra balho forcado dos tenanciers — desempenhado ainda um grande papel? Este ultimo estava evidentemente ligado A dimensdo da reserva. Como deixaram de existir reservas imensas, o trabalho forcado reduziu-se geralmente, meso nas provincias que a ele tinham recorrido em maior escala, G. Duby, ao tentar esbocar uma geografia destes servigos, opde a metade Norte & metade Sul do Ocidente. Na metade Norte, as presiagdes permaneceram consi- deravelmente pesadas, ainda que menos penosas. Nao finham variado de natureza, consistindo na cultura de duas parcelas (em reglio de rotacao trienal), em servicos sasonais, em trabalhos na floresta, etc. Mas estavam efectivamente em vias de declinar: 0 abade de Marmou- tier, na Alsécia, chegou mesmo a substitutlas por um tribute em dinheiro, invocando «a incuria, a inutilidade, a moleza ¢ a preguica daqueles que serviam» (Ch-Ed. Perrin). Talvez se deva tomar em consideracio uma certa ma vontade, um movimento mais ou menos concertado dos tenancters dum mesmo senhor. E igualmente neces- sério ter em conta outras causas: 0 fraccionamento de senhorios ¢ de reservas, o surto das trocas e © aumento das necessidades de numerario dos senhares, dispostos a substituicao por impostos em dinheiro (que os campo- neses podiam pagar, uma vez que dispunham de espécies gracas a vendas de colheitas mais importantes que eutrora), ao melhoramento das técnicas para evitar o recurso a tantos bragos como anteriormente, Quanto aos fornecimentos de produtos fabricados, tornavam-se me- nos necessfrios com a extensdo do artesanato rural a ces eaBoriors: do froncts borde, que sigutica cabana. Bor ler designa, pots, um tipo de camponts muito pobre, que geral ‘mente delem a terra em resime de parceria. Cottier: ata-se do atrancesamento da palavra inglesa ottager. que. designa 0 cam. Donés pobre, habitanie de uma casa de exrapo. (A. 161 tempo completo. Ponhamos no entanto a Inglaterra de parte, onde, no século XII, a unio orginica entre reserva € tenures sé mantivera melhor. Nos manoirs viviam duas espécies de ‘enanciers: alguns camponeses estavam su- jeitos a simples prestacdes com cardcter complementar, como na Franga setentrional e na Alemanha; os outros 08 vilaos (villains) — estavam pelo contrério subme- tidos a um verdadeiro trabalho forcado. Aos weekworks obrigavam-nos a irés dias de servigos semanais, para além dos trabalhos sasonais. ‘Ao sul do Loire (*), mas também a oeste, no Sul da ~ Franga e em Itdlia, a situagdo era completamente dife- rente: a maioria das tenures encontravam-se quer isentas quer obrigadas a servicos muito ligeiros quando o tra. balho apertava (sementeiras, colheitas, etc.). Em todo este sector, como se sabe, as prestagdes em trabalho tinbam sido sempre muito menos constrangedoras do que noutros lados. ‘Através dos tempos, em que se teré transformado © mansus? O seu fraccionamento, {4 iniciado desde 0 comeco do periodo carolingio, generalizouse. E na Lorena que se pode seguir melhor o processo (Ch-Ed. Perrin). Ainda eram af raros, no século IX, as semi-mansi © os guartos (quartiers). Mas, no século XII, «0 quarto fiahage tornado a unidade de tenure por excelénciax ¢ formava a nova base dos tributos: podemos perguntar-nos como é que uma familia podia af viver, dado que a sua superficie era geralmente de trés a quatro hectares nas, sem que # elevacdo dos rendimentos pudesse sex di- vida permitir compensar a diminuigio da zerure familiar. Em todo caso, salvo desfasamento cronoldgico, a situacao era idéntica no Namurois (L. Genicot): a partir de 1200 jé nfo se faz mencko a mansi, mas somente 8 quartos (4 a 115ha, aproximadamente). Em Inglaterra, a hide resistiu' mais tempo: s6 no século XIII cederé o lugar & vergée (quarto de hide) e & bovée (oitavo de ride). Este desfasamenta explica-se porque o imposto régio, precoce, era baseado na unidade de tenure, Quanto 8 Alemanha, 0 que fica escrito sobre as resides francesas ao sul do Loins »ndbersatiausaies Uestaviad sacuit © nose aunigo Ch. Higowuet fezmos observar, a propésito da cevolagao do mansws, ‘esta estrutura snes uitrapassou, em Lnhas gerais, a Dor i, na direogao. do sudoeste. A Gasconha, por exempio, igno- you a eolidariedade ‘mansuereserva, apenas se encontram af ‘asales independentes, som obrigagoes de servigos em geval. 162 menos atrasada nesta matéria, assistiuse ao precoce fraccionamento da Hufe em Halbehufe e em Vierielinfe. ‘Os desfasamentos cronolégicos sfo nitidos, e a Lorena © Namurois sao casos medios, dado que a Normandia viu desde o século XI o mansus substituido pela charrnée, enquanto a hide inglesa s6 veio a desaparecer no sé culo XIII, ‘Uma vez desaparecido o mansus, depois os seus sub- miultiplos, que raramente viveram tuito tempo, deixou de existir unidade territorial para a cobranga ‘dos im- postos, De ento em diante, estes tiveram de se indi dualizar, ficando cada parcela cereada ou no sujeita a tributagdo separada. E, no entanto, esta consequéncia iégica nao foi tirada em ‘todas as regides: na Alemanha do Notceste, na Baviera, proibiram-se as partilhas das tenures e impés-se aos camponeses o direito de morgadio, de tal maneira que a unidade de tenure foi ai salvaguar- dada. No Namurois os senhores bloquearam a evolucdo, no século XIIT, fazendo incidir 0 venso sobre o quarto mesmo nos casos em que este se encontrava fraccionado, ‘Ao contrario, a evolugdo pdde chegar ao seu termo na Alsacia, na Sudbia, na Fi S, Na regiaio parisiense, isso desde o século XII. Mas os senhores foram obri- gados a estabelecer censuais muito detalhados, por outras palavras, a mandar estabelecer periodicamente a lista das parcelas (com o nome de cada possuidor) com indi- cacao de cada um dos impostos que lhe eram devidos, Trabalho indispensavel e que proporciona aos historia: dores uma mina quase’inesgotdvel para a reconstituicAo dos senhorios. B) O senhorio banal Qs camponeses no deviam apenas tributos ao senhor fandidrio e, em alguns casos, servicos. Fxistia toda uma hierarquia de «senhorios», concentrados ou ndo nas mios do mesmo senor. Devedor para com o senhor fundiario, © tenancier eva stibdito do senhorio judiciétio exercido pelo personagem que tinha o direito dé julgar pelo menos as causas de baixa justica, portato as questées menos importantes, mas também, frequentementé, questées rele. vantes da média e da alta justica. Tendo em conta que senhorio fundidrio e senhorio judicidrio eram facilmente acumulados pelo mesmo homein ¢ que um simples senhor fundiério detinka a

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