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FORGA EXTRA SEGUNDA CHANCE Ainteligéncia artificial ajuda ou atrapalha o time de RH? | Vale apostar em um funciondrio de baixo desempenho REVISTAVOCERH.COM BR CAUSA MORTIS: TRABALHO O RITMO DIARIO, OS SALARIOS BAINOS EA FALTA DE TEMPO PARA a CUIDAR DA PROPRIA SAUDE LEVAM A MORTE 120000 PESSOAS POR ANO APENAS NOS ESTADOS UNIDOS — UM PREJUIZO DE 180 BILNDES DE DOLARES v SUMARIO © rusresgloorcane , TRABALED Leonardo Mendonca, do __ Hospital Oswaldo Cruz: prémios para as equipes que ‘mais fazem consultas de rotina Mba com problemas de CAUSA MORTIS: ddesempenho, empresas ‘ oferecem programa PAREDAGA REA TRABALHO de reabilitagao Novos tempos O ritmo didrio, os satarios FEEDBACK baixos, a falta de tempo 8 i wucanesmenives lay, tongs MFLEREIR Amodernizagao da Livelo gera economia de pip cairn tiga “ ee c gera economia de um prejuzo de @uma das habilidades No que é preciso prestar Recrutamento Ginn Sle SUL gsi O Sicredi redesenhou encanta seu processo seletvo TIME DE CENTAUROS = Sestaode pessoas DESAFIO DO RH 0s desafios eas De um coworking, Marcia Lets & GESTAO Raitagen de nar ‘Almstrom cuida de 700 Js impactos da revisto ima equipe de RH metade funcionérios da Keyrus auxilios-doenca uipe de RH'mmetade SINTA-SE EM CASA humana, metade maquina com inteligéncia artificial razer 0s parentes VISAO DE FORA NAESTANTE O othar inovador Leia um trecho de 0 de Gabriela Poder dos § Segundos aumentar a sensacdo Monteiro, diretora de SEGUNDA CHANCE de pertencimento, aceleracao digital da PENSATA Para nao perder Saiba como organizar farmacéutica Sanof O agile € modismo? funcionarios que s desse tipo 20 voce RH FEV/MAR 2019 CAUSA MORTIS: OL O RITMO DIARIO, OS SALARIOS BAIXOS EA FALTA DE TEMPO PARA CUIDAR DA PROPRIA SAUDE LEVAM A MORTE 120 000 PESSOAS POR ANO APENAS NOS ESTADOS UNIDOS — UM PREJUIZO DE 180 BILHGES DE DOLARES BARBARA NOR VIMAR 2019 VOCE RH 21 SAUDE pessoas estao morrendo por um salario, Essa é a conclusio do professor de comportamento organizacional da Universidade Stanford, nos Estados U eum dos maiores especialistas em gestio de pessoas do mundo, Jeffrey Pfeffer. Sua estimativa 6 que o emprego acabe com a vida de 120000 pe: ano apenas naquele pat um prejuizo de 180 bill 04 8% do eusto total co idos, soas por dolare a esses mtimeros, ele avaliou dados coletados por organismos piiblicos e privados, corrigindo fatores como idade, genero e classe social. O resultado da andilise estd no livro Dying for @ Paycheck (HarperBusiness, 110 reais, sem edigao no Brasil), langado em meados de 2018. “A ma noticia é que o trabalho est matando”, disse Jeffrey a VOCE RH. “E ninguém realmente se importa.” Esse problema n restrito a nagao mais poderosa do planeta. Uma consulta ri pida nos dados da Previdéncia il mostra que, nos nove primeiros meses de 2018, foram concedidas pelo INSS 8015 licencas por tra ‘omportamentais adquiridos no servigo —um avango de 12% em rela de 2017, Jé 0 afastamento por depressio e ansieda- de aumentou quase 5 pontos percentuais. década, quando comegaram a ser mapeadas, encas mentais representavam menos de 4% dessas situagées. Assim como nos Estados Unidos, a conta brasileira 6 alta, Em quatro anos (de 2012 a 2016), os gastos piiblicos li nstornos psicoligicos ¢ comportamentais somaram 784,3 milhoes de reais, o equivalente a 7% das despesas médicas do pats. Situagoes relacionadas ao di ibalho, aos baixos salirios e a falta de tempo para cuidar o estaria Social no Bri \stornos 40 a0 mesmo periodo do: 22 VOCE RH FEV/MAR 2019, 60% 0S DIAS PEROIDOS NO ‘TRABALHO ACONTECEM POR (CAUSA DE ESTRESSE, SEGUNDO LEVANTAMENTO DA AGENCIA [EUROPEIA PARA SEGURANCA E cial SAUDE NO TRABALHO (OSHA) orga EZ da propria satide seriam os principais agentes de causa mortis (veja quadro ao lado). Parte, claro, 6 consequéncia da sociedade modern, que exige individuos conectados 24 horas por dia. As pessoas, acredita Sigmar Malvezzi, professor de psicologia da Universidade de Sao Paulo, tém dificuldade de se adaptar a um ritmo tao intenso. tecem numa velocidade alta e a competitividade 6 grande.” Essas condicoe dele mesmo, a fim de colo ‘Os eventos acon- roubam o ser humano 4-lo a servigo de o uulos repetitivos tornariam os indivi- Variados esti oe, no limite, duos reativos, sem tempo de reflex: autoritarios. “O que se observa 6 que os projetos de vida sao pequenos”, afirma Sigmar. “A gente vive uma situagao de desumanizagao.” Contudo, outra parte é se quela da cultura corporativa instalada nos tilt Falamos ‘reter’, ‘pipeline’, ‘selecionar’, uma linguagem na qual as pessoas so tratad: ‘como um recurso a explorar”, diz Marcelo Cardoso, ex-CEO do Hopi-Hari e hoje presiden te da Chie, consultoria espe- ada em transfor nagao ional. A conjuntura se agrava conforme mudam as relagdes trabalhistas. C mais gente atua na chamada gig economy, fa ou prestando servicos extr: com a ajuda de aplicativos, como quem dirige pela Uber ou faz entregas pela Rappi. Isso resulta em uma quantidade maior de trabalhadores que precisam se virar por conta pré- os de satide nem outros da vex ndo bicos: pria, nao beneficios e sofrem de inseguranga financeira, “Os profissionais so vistos como tinicos responsaveis por si mesmos, ¢ isso intensifica a pressao’, afirma Anderson Sant’Anna, professor do mestrado profis- sional em Administragio na Fund: coordena 0 Observatério de Relacdes 6 Jentro do mundo empresarial, os huma- agens. » Dom Cabral, onde também Individuo-Orga Fora ou s-Sociedade. nos se transformaram em meras engret Custo de manutencao ‘Toda maquina, até mesmo a humana, precisa passar j0. Quando isso nao acontece, entra em parafuso. Criou-se até um termo para definir quem se exaure de trabalhar: burnout. A rotina de ra.a instalagao extenuante, 0 excesso de cobranga, a escas: recursos so a combinagao perfeita p de doencas crdnicas (como diabetes, hipertensao e problemas cardiovasculares), que representam trés quartos dos gastos com satide nos Estados Unidos. Para Jeffrey Pfeffer, esses males estao intimamen. higiene mental dos individuos — duas coisas impactad te relacionados ao estilo de vida e & s pelo tra- balho. “Se vocé abusa de um equipamento e faz com que 0 custo de manutengao seja alto, voce é demi- tido. Mas se abusa de alguém, causando desgaste, ninguém parece prestar tanta atengao”, diz o pro- fessor, ao concluir que as empresas sao 0 mal, e nao a vitima, da famosa inflagao médica. No Brasil, segundo Alberto Ogata, conselheiro de gestio da Associagao Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), essa perda poderia representar 6% da folha de pagamentos das organizacdes s6 no aumento de taxas de seguro de satide, Além dos g tos, funcio nérios adoentados e estressados pioram indices que os lideres de recursos hu 0s de rotatividade e de produtividade. Quem tem burnout, por exemplo, “questiona todo dia a propria capacidade, e isso tem impacto direto no desempenho’ diz Brian Heap, scio da Gallup no Brasil ‘anos adoram medir, como De acordo com um estudo da consultoria 0s funciondrios esgotados sio 50% menos propensos a conversar com chefe sobre suas necessidades de ntrega e 63% mais propensos a faltar no trabalho por de doenga. Ao mesmo tempo, sua probabilidade de procurar um novo emprego é trés vezes maior. Re- sultado: gente infeliz, improdutiva e entrincheirada, effrey calcula que os custos indiretos provenien- tes do di esengajamento, da desmotivagio e do pre- sentefsmo sejam cinco vezes s das despesas médicas di uperiores ao montante Marionetes do trabalho Um determinante na satide das pessoas ¢ 0 nivel de controle sobre seus afazeres — o que Jeffrey chama de job control. Em sua andlise, ele diz que, assim como o fumo é um fator importante para predizer 0 CONTA ALTA Veja quanto as condicées de trabalho precarias impde de custo extra ao sistema de satide americano (eM BILHOES DE DOLARES) 46 40 16 DDESEQUILIBRIOENTRE VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL = lt INSTABILIDADE. yw DESEMPREGO a EXCESSO DE TRABALHO FALTADE SEGURO-SAUDE AMBIENTE INJUSTO ‘CARGA HORARIA EXCESSIVA ‘TRABALHO EM TURNOS PROFISSAO DE RISCO Quanto pior a qualidade de vida, maior a mortalidade (WOMERO DE MORTES POR ANO) rmroeseinosioe..........90 000 DESEO nnn 90 OOD rmusavocurimes.._.___19 000 Pouca AsTONOMA 17000 ecesooemmmano..B 000 INSTABILIDADE.. BAIKO SUPORTE SOCIAL... FEV/MAR 2019 VOCE RH 23 risco de doengas eardiacas, a autonomia sobre ho- rérios e local de trabalho e a clareza nas r bilidades seriam tio o tes para o nivel toxicoldgico de um emprego. Nem sempre o controle ¢ explicito. Longos perfo- dos de deslocamento, jornadas extensas, constantes e pr impressao de comando, “O que mata é nao ter uma visio de futuro”, diz Roberto Aylmer, profe: Fundago Dom Cabr empresa que leva seu sobrenome, “Se o trabalho 6 pesado e 0 funciondrio s prego ou q veze Ao por resultado também geram. e consultor de lideranga da nte que vai perder o em- nao dard conta oestresse 6 duplo.” As nem descansar 6 possivel, pois hi percepcaio de que e-mails e mensagens de WhatsApp precisam ser respondidos em tempo real Essa rotina esta ada na cultura corpo: rativa e na forma como gestores lidam com a equipe que € dificil perceber suas consequencias. Por isso, Jeffrey Pfeffer defende politicas para limita trabalhadas — dentro e fora das organi oes —e para acabar com a “glamourizagio” do estresse. Me- nos radical, Jennifer Deal, pesquisadora do Center for Creative Leadership, nos Estados Unidos, acredi ta que 0 fim da microgestio e de prazos impossiveis “As companhias, precisam dar autonomia e colocar prazos especitficos: las tarefas, para que sejam plausivei ticas de carreira devem ser transpa questdes pessoais e financeiras. 0 Grupo Algar, que retine empresas de tecnologia a turismo, tenta seguir esses conselhos. No fim de 2018, optou por d Dessa forma, eles, que jé contavam com priticas de home office e horétio flexivel, foram beneficiados com o Talento Flex, que abre a possibilidade do horétrio in- termitente e de tornaria o trabalho mais agradavel. * diz, 1es e apoiar "As pra- autonomia aos 19000 funcionarios. ada um acertar sua jornada. “A gente que algumas mulheres, por exemplo, paravam de trabalhar quando tinham filhos’, diz Eliane Garcia Melgago, vice-presidente de gente do grupo Algar. A ideia ¢ que, em vez de se demitirem, elas reajustem o expediente com o gestor de formaa facilitara vida, 4 0 horério intermitente permite aos empregados, entrar e sair do servigo conforme necessario, em acordo com o chefe. Agora, o time de RH busca casos de sucesso para divulgé-los ao restante da corpora 0 desafio 6 convencer a lideranga. “Precisamos 24 Voce RH FEVIMAR 2019 SINDROME DO ESGOTAMENTO Um estudo da Gallup com 7500 funciondrios americanos, em 2018, mostrou que dois tercos deles passam por burnout, a sindrome do esgotamento fisico e mental no trabalho, pelo menos uma vez nna carreira, Quem enfrenta esse problema tem: MAIS Mais: TAES VELES MENOS PROPENSKO RIScODE | MAIS CHANCE CCONFIANGA 63% os 23% gy ravanwo. | depnocuran 19% po ‘TRABALHO PRONTO- | ATIVAMENTEUM PROPRIO POR DOENCA soconmo | NOVO EMPREGO DESEMPENHO Heloisa Searantino, gerente sénior de gestio de pessoas da Muttiptus: 0 equilibrio entre trabalho evida pessoal é fator de etencio FeVMAR 2019 Voce RH 25, SAUDE identificar pontos de resisténeia ¢ criar um ambiente propicio para a nova politica’, diz Eliane. O foco tem sido explicar a estratégia dessas agoe: pela crenga de que dé para cobrar pela entrega de s 10 pelo tempo no escrit6rio. “Isso se torna um fator de atracao, principalmente de jovens, que buscam liberdade.” Em dezembro também foi Jancado 0 projeto Estacao, uma unidade especial da Algar Telecom que pretende testar modelos dgeis de gestdo, com as equipes organizadas em squads, com menos hierarquia e mais liberdade. “Precisamos ser lum bom lugar para trabathar, porque é uma questao de longevidade do negécio”, diz a executiva. A expec- tativa é que cerca de 10000 funciondrios possam se beneficiar das novas modalidades. Rever uma mentalidade enrai- zada hé tanto tempo ndo ¢ tarefa facil. Ainda mais quando isso eexige mudar radicalmente a for- ma como se enxerga o emprego: em vez de um local de cobrat tum de confianga; diferentemente de trabalhadores tratados como centros de despesa, eles seriam parceiros necessérios para atin gir a estratégia do negécio. 0 professor de Stanford sugere que as pessoas sejam geridas nao com base nos custos que incorrem, mas como ativos. Enquanto essa mudanga nao acontece, as companhias inves- tem em agoes sutis para mini- mizar os danos. Foi o que fez a Multiplus, empresa de planos de fidelidade. Ha trés ‘anos, 0 escrit6rio saiu do centro de Sao Paulo para Alphaville, a 26 quilémetros de distancia, 0 risco de perder gente e sofrer uma queda na motivacao era alto, Isso fez com que o RH buse: dos empregados. Um canal de comunicagao foi aberto para receber as preocupagoes; em paralelo, o time de recursos humanos revia os beneficios. A Multiplus decidiu assumir o dinheiro gasto com pedagio e ga- solina, ¢ ainda contratow fretados, Para compensar as horas de deslocamento, deu forga ao home office (permitido por dois dias) ea flexibilidade de horé- rio, Os chefes passaram por um més de teste antes motivadas Itados, € 26 VOCE RH FEV/MAR 2019, de o projeto ser estendido, “No comego, as pessoas achavam que quem ficava em casa estava de folga ou inacessivel", diz, Heloisa Scarantino, gerente sénior de gestao de pessoas. Essa crenga foi se dissipando conforme a pratica se consolidava. Hoje, os beneficios esto elaros. “Eq pessoal 6 nosso segundo fator de retengao, 86 perde para oportunidade de crescimento”, diz Heloisa, que come- mora 89% dle satisfagao na tiltima avaliagao de clima, brio entre trabalho e v Ativos preciosos Além de mudar a cultura de comando e controle, as empresas teriam de repensar suas priticas de quali- fo ‘comportamento dos individuos, mas nao faz uma mea culpa das condigoes corporati- vas, “Vocé diz para as pess fazerem meditagao, massagem, mas o problema ¢ organizagao do trabalho, com pouca trans- paréneia, comunicagao falha e sensagao de injustica’, afirma Alberto Ogata, da ABQV. Uma alteragao significativa exigiria a criagao de indicadores médi- cos que fossem além do gasto ‘com sinistros ¢ afastamentos por licenga. Afinal, a satide, es- tudos cientificos jé provaram, engloba aspectos como rela namentos, lazer, realizagao e estabilidade financetra —ne- nhum deles isolado entre si Uma das melhores formas de medir essa relagio é perguntando diretamente aos funciondrios. A autoavaliagio, segundo indica Jeffre em seu livro, é um preditor importante de problemas, podendo ser m te do que check-ups. Essa é a abordagem do ‘GRUB, que desde 2010 mantém o programa Bem- -Estar, premiado internacionalmente. Sua principal ferramenta 6 0 questionétio ce autoavaliagao que os mais de 3000 funcionarios preenchem. Com ele, 0 RH analisa indicadores como sedentarismo ¢ estado emocional. E, gracas ale, o time de gestao de pessoas colocou em pratica coisas como aulas de canto e ioga © uma academia com orientagao de um profissional dade de vida, uma v z que a maioria delas io- is eficie ' * & a : i funcionsrie necessidades, pessoal. FEV/MAR 2019 VOCE RH 27 iy para fortalecimento ¢ fisioterapia. O ambulatério conta ainda com médicos, enfermeiros, nutricionis- tas, psicdlogos, assistentes sociais e farmacéuticos Isso se alinha ao nosso lema, que € ‘quando somos bem cuidados, podemos cuic melhor’, diz Ramos, superintendente de desenvolvimento humano ¢ institucional do Oswaldo Cruz Mais de 50 profissionais foram certificados em coa ching de satide e bem-estar para atuar no programa. Essa capacitagao é para auxiliar 0 empregado a montar uma agenda tinica com o objetivo de melhorar sua vida’, diz. Cleusa. Ao longo dos anos, essa equi pe, coordenada pelo gerente de qualidade de vida Leonardo Mendonga, ¢ cou a ser procurada com frequéncia para orientar em mudangas de habito, com foco em atuagao preventiva, o que trouxe as pessoas uma nova mentalidade em relagao as consultas de rotina, Para aumentar a adesdo, o RH implantou um ma de milhagem: as equipes concorrem entre si para ver qual teve mais participagaio e as vence doras recebem prémios. Os setores que apresentam problemas sdo acompanhados de perto e o gestor ¢ chamado para conversar. Os resultados vieram. Em 2010, a empresa tina apenas 48% de adesao aos exa mes periddicos — que, alis, sA0 obrigat6rios por lei Hoje, ela 6 de 98%. Além disso, de 2010 uma reduciio de 37% na média de presséo arterial, de 2017, houve 35% no colesterol e de 46% no tabagismo. O nivel de estresse, avaliado por meio do questiondrio, caiu 31 jd o absentefsmo passou de 3,6% p 2.4% a partir de 2013. Gragas ao quadro saudavel, o hospital passou trés anos sem renegociar os valores do plano de satide No fim do ano passado, o programa foi ampliado aos dependentes e agora so 6500 vidas atendidas, Casos como o do Oswaldo Cruz mostram que investir a melhor estratégia no longo prazo. Em tempos de crise econdmica e politica, como esta pela qual passa Brasil, torna-se ainda mais urgente propiciar um ambiente de seguranca psicol6gica para os trabalha- dores. Contudo, na pritica acontece o contririo, Na tentativa de equilibrar o caixa, as companhias entoam > mantra “cortar, cortar, cortar”, De acordo com uma pesquisa da consultoria de beneficios Mercer Marsh ‘om 690 organizagdes no pais, metade delas pretende redesenhar o programa de beneficios com foco no FEVIMAR 2019 VOCE RH 29 SAUDE controle dos custos —muitas rebaixaram ou mudaram. de operadora de satide nos tiltimos trés anos para eco: nomizar. Apenas 38% planejavam expandir os progra: mas voltados para o bem-estar nos proximos dois anos. A fabricante de cosméticos Avon segue esse caminho. Ha trés anos, o RH notou um mimero maior de funciondrios faltando no emprego para ir ao pronto: socorro, mas a ida ao médico nao solucionava 0 problema e a visita se tornava recorrente. Foi quando velo a percepgao de que e1 preciso melhorar a qua: lidade de vida. “Se nao temos um ambiente em que 0 funciondrio possa cuidar de sua satide, ele vai deixé-la em segundo plano, mesmo que diga que é prioridade diz Meire Blumen, gerente de satide e bem-estar na Avon. As praticas e os beneficios foram consolidados num s6 programa, o Viva Bem. A evolugao comecou do bisico, com a reforma do ambulatério, que passou a ocupar um lugar mais visivel e a oferecer consul tas odontolégicas, ginecol6gicas e de clinica-geral, além de coleta de exames basicos. Como o ptiblico 6 em grande parte ferninino, ha salas espectficas para amamentagio e creches, Todas as informagoes ficam armazenadas em um sistema tinico, junto com atestados e dados de medicamentos comprados com co subsidio da empresa (de 75%), e so usadas em andlises preditivas. A Avon ainda acompanha cerca de 600 funciondrios e dependentes com doengas era. nicas, que receber orientaco continua. “Mostramos as liderangas que isso nao 6 uma questao de custo, mas de valor”, diz Meire. E os gastos diminuiram. O contrato do plano de satide foi renegociado para 0 modelo de p6s-pagamento, ja que o conhecimento da 017 e 2018, populacdo possibilita prever o uso. Entre osinistro teve queda de quase 14% com exames, 19% com consultas e 13% com internacdes. De quem éa responsabilidade Se nas tiltimas décadas, em meio a competigao acir rada pela globalizagao, 0 discurso em relagao & car reira foi se alterando, com ideias como “empregabi- lidade” (que colocam a responsabilidade da vida no trabalho sobre as prépr s pessoas), para Jeffrey Pfeffer isso nao exime as companhias dos efeitos que seu ambiente causa aos individuos, “Esse argumen: to presume que se pode facil mente encontrar outro emprego, 0 que nao é verdade’, diz, Além disso, ha a série de fatores psicol6gicos que dificultam a 30 Voce RH FEV/MAR 2019, roro, : Meire Blumen, gerente de saidee ‘da Avon: equalidade de vida dos empregados SEM CONTRAPARTIDA ‘Apesar de exigir cada vez mais dos empregados, as ‘empresas ofertam pouco para methorar a satide. A porcentagem de profissionais que afirmam trabalhar num Local com acdes para o bem-estar ainda é baixa: estavos EUROPA @ S@6 ® oo AMERICA MEDIO E ‘ LATINA AFRICADO AFRICA ‘CARIBE NORTE” SUBSAARIANA Quando ha programas, nem sempre os funcionarios os veem com bons othos: ub% 3th 20% AcREDITAM PENSAM QUE A AcHAM QUEA ‘QUE ExISTEM EMPRESAOFERECE ACOSO EXISTE APENAS PARA ESSES PROGRAMAS PARA QUE POSSAM CORTARCUSTOS _--PORQUESEIMPORTA. —-TRABALHARMAIS. ‘COM SADDE COMOSEMPREGADOS —_INTENSAMENTE FEV/MAR 2019 Voce RH 31 SAUDE NiO ESTA FIL PARA NINGUEM Entre pessoas com sérias preocupacées financeiras: Ow >) esthoen, GANHAM esthoeM ATIVIDADES. eNOS DE EMPREGOS INSTAVEIS 13 DOLARES. De BAIKA OU DEMEIO POR DIA QUALIFICAGAO eriooo ‘OU MANUALS ENTRE A FORGA DE TRABALHO DE MODO GERAL: YW 3 18% REPORTAM estao. ‘ero piFicucoaoes ‘AciMaDO als DE PARA MANTER PESOOU SS ANOS (OBEM-ESTAR sho oBESOs £2030 troca de servigo, especialmente quando o trabalha: i doente, estressado e esgotado, S« Jeffrey, as pessoas nao pode por que x Mas o professor de Stanford nao acredita que, sozinhas, as organizacdes fardo muita coisa para rever esse quadro, Seria preciso os funciondrios se organizarem politicamente. Um dos motivos de sua descrenca est na competitividade exacerbada e nas mudangas aceleradas, que fazem com que 0 pensamento no mundo corporativo seja de curto prazo, “Quando as empresas precisam se reportar aos acionistas a cada trimestre, isso cria um conflito de interesses”, diz o consultor Roberto Aylmer. O padrio 6 cobrar (¢ priorizar) 0 retorno financeiro imediato. 32 VoCERH FEV/MAR 2019 IMPACTO DA DEMIS; Segundo Jeffrey Pfeffer, professor na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, ‘ninguém ganha com dispensas em massa — nem empresas nem sociedade. Para as companhias, ha gastos com multas, outplacement e impostos, além de novas contratagées. Jd 0 custo social ¢ Grande. Taxas de suicidio crescem duas vezes € de doengas cardiovasculares aumentam até 40% 0 BARATO SAI CARO Os gastos de empresas com doencas no trabalho chegam a 15% da renda mundial. Nos Estados Unidos, o valor é de 2,2 trilhdes de délares por ano — ou 12% do PIB DDOENGAS CRONICAS. 1,1 trithao deastares FALTADE ENGAJAMENTO ‘550 bithoes de détares ESTRESSE. [300 bithdes de détares ACIDENTES. 250 bithoes de détares Para Anderson San’Anna, da Dom Cabral, isso preju- dica a todos: “Pode parecer vantagem no curto prazo, mas para o negécio 6 danoso. O riseo 6 de minar a inovagao e a competitividade”, Ambientes inseguros provocam medo de inovar e arriscar com novas ideias. E nenhum ser humano capaz de pensar — nem em inovacao nem em nada — com a cabega cheia eo corpo cansado, 0 organismo entra em colapso. Por isso, Jeffrey Pfeffer insiste: “S6 se cria valor © se oferece o melhor servico por meio de melho- res funcionarios”. Mirar a redugao de custos nao acrescenta perenidade ao negécio, pelo contrario, Da mesma forma, cortar gente traz. consequéncias E preciso comegar a impor limites — a pensar na sustentabilidade humana. ¢

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