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BIBLIOTECA GARIOCA A\s TROPAS ; ~ DA Moperscéo AS TROPAS DA MODERACAO € um livro inspirado de Alcir Lenharo! Originalmente, 0 livro veio a publico no ano de 1979, tornando-se referéncia fundamental para o estudo da histéria do Brasil. A rigor, a pesquisa tinha sido elaborada entre os anos de 1974 e 1977, como parte das atividades do programa de pés-graduagao da USP, quando o autor obteve seu grau de mestre. Atualmente, Alcir Lenharo é professor titular da UNICANP, tornando-se autor de outros livros e ensaios. Esta obra, reeditada em boa hora pela Prefeitura do Rio de Janeiro, através de iniciativa da Biblioteca Carioca, caracteriza o surto de comércio de abastecimento ocorrido no Brasil, na época da Independéncia, retratando, ao lado disso, o universo social do tropeiro. Com efeito, o autor termina por investigar a importancia que os interesses regionais assumiram na conjuntura politica da primeira metade do século XIX. O processo de diversificagao da economia interna, especialmente do Sul de Minas, garantiu a ascensao de grupos sociais, como comerciantes nativos e atravessadores, ligados ao abastecimento da Corte, filiando-se, em geral, 4 tendéncia dos liberais moderados, em detrimento dos tradicionais setores do poder ligados a burocracia do Estado e agentes monopolistas vinculados ao comércio colonial. Alcir Lenharo relaciona, assim, os interesses sociais envolvidos em torno do comércio de abastecimento e o seu papel politico na construgao do Estado nacional no Brasil. A\s TROPAS DA MopERACAO O abastecimento da Corte na formago politica do Brasil: 1808-1842 Alcir Lenharo 2 edigdo Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes Departamento Geral de Documentacao ¢ Informagao Cultural Divisao de Editoragao Colegao BIBLIOTECA CARIOCA Volume 25 Organizador Afonso Carlos Marques dos Santos Copyright® Alcir Lenharo, 1992 Direitos desta edicao reservados a0 Departamento Geral de Documentagao ¢ Informagao Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes. Proibida a reproducdo, total ou parcial, e por qualquer meio, sem expressa autorizagao. Impresso no Brasil - Printed in Brazil ISBN 85-85096-27-6 L563 Ficha catalografica elaborada pela Divisio de Processamento Técnico do CI/DGDI/DEB Lenbaro, Alcir ‘As tropas da moderagao (0 abaste- cimento da Corte na formagio politica do Brasil - 1808-1842) / Alcir Lenharo. ~ 2.ed. — Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cul- tura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentagao e Informagao Cul- tural, Divisio de Editoragao, 1993. 136-p. - (Biblioteca Carioca; v. 25) 1, Brasil — Hist6ria — Império. 2. Brasil - Histéria - Império — Comércio Sul de Minas ~ Rio de Janeiro. 3. Rio de Janeiro (cidade) séc. XIX — Comércio de abastecimento — As- pectos sociais. 4, Sitiantes e tropeiros, séc. ‘XIX - Aspectos sociais. 1. Titulo. II. Titulo. O abastecimento da Corte na formagao politica do Brasil. IIL. Série. CDD 981.04 PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Cesar Maia SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, TURISMO E ESPORTES Helena Severo DEPARTAMENTO GERAL DE DOCUMENTACAO E INFORMACAO CULTURAL Graga Salgado DIVISAO DE EDITORACAO Heloisa Frossard CONSELHO EDITORIAL Presidente Afonso Carlos Marques dos Santos Membros Helena Corréa Machado Paulo Roberto de Araujo Santos Sandra Horta Marques da Costa Samira Nahid de Mesquita Mauricio de Almeida Abreu Maria Augusta F. Machado da Silva Evelyn Furquim Werneck Lima Eliana Rezende Furtado de Mendonca Maria Isabel de Matos Falcio Edigdo € revisdo de texto: Ana Lucia Machado de Oliveira, Célia Almeida Cotrim ¢ Diva Maria Dias Graciosa Da Divisio de Editoragao do CT/DGDI Capa e projeto grafico da colegao: Ivone Barros Arte-final da capa: Vera Camisio Do Centro de Pesquisa e Comunicagao Social/SMCT 1 edigao Sao Paulo: Simbolo, 1979 23 edigao 1993 Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes Departamento Geral de Documentagao ¢ Informagao Cultural Rua Afonso Cavalcanti, 455 sl. 201 Cidade Nova — Rio de Janeiro ~ CEP 20211-110. Tel.: 273-9390 SUMARIO PREFACIO DA 14 EDIGAO, 7 AS TROPAS DA MODERACAO, 15 INTRODUCAO, 19 1, O ABASTECIMENTO DA CORTE APOS 1808, 33 2. ESTRADAS E INTEGRAGAO DO CENTRO-SUL, 47 3. SUBSISTENCIA E INTEGRAGAO, 60 4, 5. A PROJECAO SOCIAL E POLITICA DOS A CONEXAO MERCANTIL SUL DE MINAS-RIO DE JANEIRO, 75 "SITIANTES" E TROPEIROS, 91 CONSIDERACOES FINAIS, 115 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS, 121 POSFACIO DO AUTOR PARA A 2% EDICAO, 131 © AUTOR, 133 PREFACIO DA 12 EDIGAO Este livro traz uma contribuigao nova para o estudo da sociedade brasileira, na época da Independéncia, tanto mais valiosa quando enfrenta, com paciéncia e forga, a dificuldade enorme que representa para o historiador a extrema dispersdo das fontes que se propés consultar para recriar, numa perspectiva ampla, o surto do comércio de abastecimento da Corte e 0 papel politico que os interesses regionais do Sul de Minas desempenharam no processo de construg4o do Estado brasileiro, nas primeiras décadas do século passado. O autor delimita cronologicamente o seu estudo de modo a abordar uma conjuntura, a seu ver, curta e transitéria, favoravel a diversificagao da economia interna do Sul de Minas e, concomitantemente 4 ascensdo social de novos setores das camadas dominantes, a dos produtores mineiros, que emergem nos primeiros anos da Regéncia, nao somente na praca, mas também no cenirio politico da Corte. Este momento favoravel 4 produgdo » de géneros de abastecimento e a integragao de um mercado 1 interno ja vinha florescendo nas ltimas décadas do século XVIII; teria o seu papel no processo de expansag da lavoura do café, que, por sua vez, veio cercear e sufoca-lo*. O estudo da producio de géneros alimenticios e de consumo seria um tema de per si significativo e cheio de implicagées para a formagao do nosso meio social; oferece um interesse ainda maior quando focalizado neste periodo de transicdo da Colénia para o Império, como demonstra Maria Thereza Schérer Petrone em uma obra pioneira, onde estyda o papel de Sao Paulo no comércio de abastecimento da Corte®. A dificuldade de organizar a producao dos géneros de abastecimento e 0 modo como se fazia a sua comercializacao na economia colonial tem-sido continuamente lembrada por nossos historiadores. As implicagdes sociais deste fendmeno continuam pouco estudadas, embora seja um dos assuntos mais importantes para a hist6ria das tensoes, dos conflitos e da propria estrutura da sociedade brasileira. Este setor das atividades econémicas foi uma verdadeira arena de livre proveito para diferentes grupos das classes dominantes da Colénia, e nado apenas para burocratas e T MAXWELL, K. 1978. 2 Ibidem, p. 130 e 134. 3 PETRONE, M.T-S. 1976. 8 Preficio monopolistas do Reino, pois também oferecia um meio de ascensao social para atravessadores e comerciantes nativos, em geral acobertados por figuras proeminentes da burocracia Portuguesa, tais como governadores ou ouvidores. Por outro lado, era neste setor preciso da economia que se tornava mais aguda a concorréncia do trabalho escravo com 0 trabalho livre, mascarada pela forca dos preconceitos contra qualquer forma de trabalho manual, que também contribuia para a decadéncia do artesanato e marcava de forma decisiva as relagdes sociais de trabalho nas aglomeragoées urbanas. O autor nado descuida em seu livro deste aspecto de grande importancia para nossa Hist6ria Social. No capitulo.5, estuda a coexisténcia de trabalho livre e escravo na formagio das tropas, aprofundando-se na anflise de todas as implicagdes que trazia para o "universo social do tropeiro". Tive oportunidade de acompanhar a elaboragio deste trabalho desde seu principio, pois nasceu de um projeto de pesquisa integrada sobre "Estado e sociedade na época da Independéncia: o papel dos comerciantes portugueses do Rio de Janeiro", que orientei no curso de pés-graduacgao do Departamento de Hist6ria da USP. Este projeto, financiado pela FAPESP, deu bons frutos, pois, juntamente com o presente trabalho de Alcir Lenharo € com ele estreitamente relacionados, vieram a lume duas outras teses de mestrado: a de Lenira Menezes Martinho sobre o papel politico dos caixeiros portugueses e a organizacao interna das ‘irmas comerciais, e o de Riva Gorenstein sobre 0 enraizamento dos negociantes portugueses de grosso trafo na Corte ena economia do Centro-Sul (ambos no prelo)*. Neste livro, Alcir Lenharo se propée analisar as implicagées sociais e politicas dos interesses ligados ao comércio de abastecimento da Corte e o seu papel no processo de centralizagio do poder politico e administrativo, em trés momentos ou etapas bem distintos: 0 primeiro, de iniciativa da propria Corte, € o da politica joanina de integragao e garantia do setor de abastecimento, feita através de uma série de medidas de incentivo, financiamentos, abertura de estradas, distribuicao de terras e de titulos honorificos. Foi a penetracdo dos comerciantes portugueses -pelo interior da provincia, seguindo os antigos caminhos do ouro. O segundo momento, grosso modo correspondente ao periodo do Primeiro Reinado, foi o da ascensdo social dos produtores mineiros, o de sua penetragdo na praca do Rio de Janeiro: € quando se definem os seus interesses politicos regionais, com 0 surto da imprensa local das cidades do Sul-de Minas, e o aparecimento de seus primeiros lideres politicos. Estes, apésa abdicagao de Pedro I, passam a ter uma atuagao mais significativa no cenario politico do Rio de Janeiro. Aderem aos liberais MARTINHO, LM. 1977; GORENSTEIN, R. 1978. Preficio moderados e procuram deslocar o centro de decisGes politicas do Pago, monopolizado por burocratas e comerciantes de origem portuguesa, para a Camara dos Deputados’. O terceiro momento focalizado pelo autor corresponde ao da fundagao do partido conservador e A politica centralizadora e escravocrata do "Regresso", quando se da a cooptacao destes novos setores emergentes pela antiga oligarquia do Pago, agora enriquecida pelo café e enraizada no Vale do Paraiba, Politica de abastecimento e construgao de Estado tém sido ultimamente objetos de alguns livros e de ensaios, entre os quais 0 de Charles Tilly sobre as crises de abastecimento e a manugen¢ao da ordem publica, no contexto do Antigo Regime europeu”. No Brasil, desde cedo as crises de abastecimento foram pretexto para intervengées da Coroa, fosse apenas na tentativa de organizar a produgdo, concentrando-a em determinadas areas do litoral baiano, a fim de garantir o abastecimento das frotas ou no sentido de permitir e de articular em momentos de crise mais aguda o socorro de uma capitania por outras; estas intervencdes das autoridades centrais também se faziam necess4rias por ocasiao de motins contra a carestia e novos impostos, que mascaravam, em geral, os motins de fome no Brasil colonial, como seria por exemplo em 1711 0 episédio do Maneta, na Bahia, ou a revolta de Pitangui em Minas, em 1720. As mesmas crises se reproduzem durante o Império com levantes de escravos na regido cafeeira e também no Nordeste, como seria 0 caso da Praieira, "Ronco do Abelha" e o "Quebra-Quilos"... As crises periédicas de abastecimento deram, pois, motivo para as primeiras intervencdes do poder central junto ao mandonismo local. Pode-se imaginar outras coordenadas com as quais trabalhar o problema da construgdo do Estado no Brasil, tais como a das presses externas, no sentido de integracdo do pais no liberalismo ocidental, apés 1822, ou da importagao das instituigdes politicas do colonialismo europeu. No entanto, uma das trilhas mais importantes a serem exploradas continua a ser 0 estudo dos momentos de cooptagéo do mandonismo local pelo poder central, que podem ser captados através de uma anilise da politica tibutaria do Império ou do estudo da politica de controle dos cargos piblicos, No caso do presente livro, 0 autor teve como principal preocupacdo articular, na andlise da politica integradora e centralizadora da Corte, aspectos varios como diversificagao das classes dominantes, participagdo politica, representacao, regionalismo econémico. Num estilo torturado e inquieto que lhe é peculiar, o autor sabe esmiugar nas particularidades as suas implicagdes mais amplas: é com esta sensibilidade de historiador social que explora 5 CASTRO, P-P. de. A experiéncia republicana: 1831-1840. In HOLANDA, $B. de. 1972. 6 TILLLY, Charles. The formation of national states in Western Europe. Princeton University Press, 1975. 10 Prefacio a sua documentagdo. Aproveita, por exemplo, um relato das localidades em que Pedro I se hospedou, durante uma viagem ao Vale do Paraiba, para reviver as figuras dos oligarcas do comércio da Corte, que iam obtendo sesmarias no interior e se enraizando na terra por aliancas de casamento com familias locais: Fernando Carneiro Ledo, Jacinto Nogueira da Gama, Paulo Fernandes Viana, Joao Rodrigues Pereira de Almeida. Com 0 mesmo cuidado e riqueza de pormenores localiza, na praca do Rio de Janeiro, os comerciantes intermedidrios dos produtores mineiros "instalados com armazéns na praia dos Mineiros e nas ruas do Sabao, Sado Pedro e das Violas, da rua Direita para baixo, por onde s6 em casos mui extraordin4rios transitam seges, carrocas". Ali compravam dos tropeiros os seus produtos para revendé-los em consignagdo, oferecendo facilidades de acesso ao mercado, pastagens, caixeiros, servigos de tropa. Com o mesmo culto pelo pormenor sugestivo, descreve cuidadosamente uma das primeiras firmas mineiras a se instalar na Corte. Traz também dados minuciosos sobre a natureza das fortunas dos capitalistas mineiros e o seu modo de operar, seja como credores e abastecedores das primeiras fazendas de café, como foi 0 caso dos Leite Ribeiro e Teixeira Leite de Sdo Joao del-Rei, ou ainda como traficantes de escravos. Analisaa organizac4o doméstica das firmas, os seus negécios enredados nas relagdes familiares, mais "a complementaridade entre fazenda, rancho, venda, pastagens, postos em servigo de modo integrado". Identifica alguns dos principais invernistas mineiros como Anténio Francisco de Azevedo, Francisco José Melo e Sousa ou José Custédio Dias, de Alfenas, que procuravam intervir na politica de abastecimento da Corte. Os primeiros sintomas da penetracdo dos produtores mineiros no mercado da Corte s4o pressentidos no jogo dos interesses regionais, que v4o se imiscuindo no cené4rio politico e na prépria politica central de abastecimento. Em 1828, Bernardo Pereira de Vasconcelos discursava no parlamento sobre a importancia de isentar produtores e tropeiros mineiros dos rigores do recrutamento militar, outros politicos, representantes de interesses mineiros como os padres José Custédio Dias e José Bento defendiam a liberalizacéo do comércio de abastecimento da carne... O préprio Evaristo da Veiga, em seu jornal Aurora Fluminense, tomava o partido de interesses monetarios regionais do Sul de Minas contra os bilhetes do Banco do Brasil, que queriam manter depreciados... Alcir Lenharo também recria o burburinho quotidiano das principais estradas de acesso a Corte, descrevendo ao lado dos “camaradas" as figuras dos "proprietérios-tropeiros", um pouco ambiguas na escala de valores da sociedade escravocrata do Império, porém bem caracteristicas de uma fase inicial de ascensao social dos produtores do Sul de Minas. Prefacio 11 Em 1818, vislumbra a passagem do tropeiro Narciso Antonio, que voltava do Rio com trés camaradas e cinco escravos, " de idade de 48 anos, estatura ordindria, olhos pardos, sobrancelhas delgadas". Encontra-o novamente em 1825, mais préspero, com 64 anos de idade, voltando do Rio pela estrada da Policia, acompanhado de 14 camaradas e levando 34 escravos novos para vender pelo caminho. Politica, valores ideolégicos e trama de negécios regionais comp6em este estudo que reconstréi, num estilo minucioso e colorido, peculiaridades originais da sociedade da Independéncia, trazendo para 0 leitor dados inéditos sobre um assunto pouco conhecido. S40 Paulo, 18 de marco de 1979 Maria Odila da Silva Dias Professora titular de Historia do Brasil Departamento de Histéria da FFLCH / USP A Zulmira, minha mae; a Madalena e Nivaldo, meus irmGos. A\s TROPAS pA MopEeRACAO (..) e s6 se fala com respeito da Casa de Braganga, mostrando todos o maior desejo de permanecerem unidos ao Rio de Janeiro, tnica ci- dade onde os cultivadores da regido acham escoadouro para as pro- dugdées de suas terras. August de Saint-Hilaire . INTRODUGAO +> . Os estudos hist6ricos relativos ao abastecimento urbano tém produ- zido algumas obras de cardter. monogr4fico que incidem especial- mente sobre o abastecimento das Gerais no século XVIII". Outros trabalhos, também monograficos, tém escolhido o ciclo do muar em Sao Paulo como tema de pesquisa, fornecendo subsidios para os estudos de abastecimento. Entre eles, O bardo de Iguape, de Maria Thereza Schérer Petrone, dimensiona as caracteristicas do mercado interno no Centro-Sul, tomando o Rio de Janeiro como o pélo orde- nador do fluxo de géneros de primeira necessidade’. Apareceram, recentemente, duas contripuigdes que alteram de modo substancial o panorama desses estudos”, Trata-se de duas obras que tomam o abastecimento como objeto de investigacao. Otexto de Maria Yedda Linhares estuda o abastecimento em longa dura¢ao, alinhavando-o com.a expansao da economia exportadora. Constitui uma estimulante incursdo pela histéria do abastecimento no Brasil, acompanhada de um grande esforco de periodizacao. Ja o livro de Katia Mattoso, além de estudar o abastecimento de Salvador como objeto em si, utiliza-o também como recurso meto- dolégico para pesquisar a geografia, a economia € a sociedade de Salvador e do Recéncavo. Trata-se, portanto, de um estudo que elege 0 abastecimento também como instrumento de percep¢ao e analise de outros niveis do real histérico. Algumas das caracteristicas evidenciadas nestes estudos apre- sentados também sao componentes do presente livro. Enfoca-se aqui, preferencialmente, a problemitica do abastecimento urbano. Estuda- se a estruturacdo dos meios de distribuig4o, nao se perdendo de vista o alcance das bases s6cio-econémicas da produ¢a4o e buscando-se recuperar a historicidade do fendmeno estudado. A especificidade deste livro procede do esforgo em analisar 0 abastecimento como uma. tematica politica. Escapando dos parametros da Hist6éria Econémica, buscou-se estudar a formagao de um setor social novo oriundo da produgio e distribuigao de géneros de primeira necessidade para 0 consumo interno. Mais que isso, procurou-se demonstrar 0 modo como este setor da classe proprietaria do Centro-Sul articulou-se politicamente em nivel regional e se projetou no espago da Corte. Tal movimento tomou impulso a partir da Independéncia, quando novos setores sociais perceberam alargadas as possibilidades de participagao. No caso dos representantes politicos do setor abastecedor, tiveram facili tada sua.caminhada rumo 4 Corte através da prépria pratica mercantil 19 20 Introdugdo A sua projecdo politica deu-se progressivamente como que acompa- nhando o desdobrar dos seus negécios rumo ao mercado consumidor. Essa perspectiva politica da pesquisa acabou por delimitar o setor de abastecimento estudado — a produgao mercantil de subsisténcia e suas rotas terrestres.de distribuigdo, colocando em evidéncia as areas interioranas Produtoras de géneros de primeira necessidade. Privile- giou-se estudar o Sul de Minas uma vez que esta regido converteu-se, durante o periodo estudado, no principal nacleo produtor e abastecedor do mercado carioca, Nao se perdeu de vista a necessidade de reconstruir as bases de organizagdo do comércio vigente bem como suas .vincu- lagdes com o mercado do Rio de Janeiro. Desse modo, 0 objeto de estudo escolhido constitui apenas uma fatia menor do conjunto do abastecimento. Ocorre, no entanto, que ele se constitui na fatia mais rica de andlise, j4 que permite um amplo campo de constata¢des acerca da projec4o e do desempenho politico do setor produtor e mercantil no processo politico do periodo. Para se ter uma visdo de conjunto do problema abastecimento, é interessante que sejam conhecidas as principais fontes fornece- doras do mercado do Rio de Janeiro, assim como se compare a importancia desta atividade em relacao a outras no contexto da vida mercantil. Grosso modo, pode-se dividir 0 conjunto do abastecimento em wés fontes: a externa, cujas pragas maiores eram Lisboa,.Porto e 0 Prata; a interna, de cabotagem, cujos nicleos principais eram 0 Rio Grande do Sul, Santa Catarina e as 4reas mais préximas da Corte, como Campos e Parati; a terceira fonte, também interna, era a circuns- crita as rotas terrestres que alcangavam principalmente as capitanias de Minas e Sao Paulo e, através delas, os centros produtores de Goids € Mato Grosso, De Lisboa e Porto provinham sal, vinho, azeite, azeitonas, sardinhas, bacalhau, vinagre, trigo, farinha de trigo. O Prata abastecia © Rio de Janeiro de carnes salgadas, toucinhos e sebo. No segundo grupo despontavam as importagées do Rio Grande do Sul, que fornecia carnes salgadas, couros, trigo e peixe. Santa Catarina contribuia com milho, feijaéo, arroz, trigo, cebola e farinha de mandioca. Arroz, feijao, mandioca, café, milho e outros géneros provinham de centros diversificados*. Podem ser ainda arrolados neste grupo a producao de hortalicas, a criagdo de animais de pequeno porte, a pesca, nas imediagdes do Rio de Janeiro, cuja distribuigao dependia em grande parte do movimento de embar- cagées na baia de Guanabara. O terceiro setor abastecedor, objeto deste estudo, produzia e exportava gado em pé, em grande quantidade, além de porcos, galinhas, carneiros, toucinhos, queijos, cereais. O principal centro abastecedor era o Sul de Minas. Sua produ¢do era complementada por outras regides de Minas, Paracatu, por exemplo, e pela produgdo paulista. Apesar do maior vulto comercial, a import4ncia politica dos dois primeiros setores era menor. A fonte externa e a interna de cabotagem constituiam-se em atividades subsididrias das grandes casas impor- Introdugao 21 tadoras e exportadoras do Rio de Janeiro, nao alcangando pois ex- pressdo politica prépria. Casas como Carneiro, Viiva e Filhos, Joaquim Pereira de Almeida & Cia., José Joaquim de Siqueira & Cia. preponderavam no setor de abastecimento, em cujas atividades era extensivamente utilizada a, mesma estrutura mercantil dos negécios de importag40/exportacao’. O mesmo parecia se dar com os negécios do trafico negreiro, com as companhias de seguro e com as arrematacgoes de contrato para cobranga de impostos, afianga uma pesquisa recente’. Riva Gorens- tein observa que estas atividades, bem como os negécios de cabo- tagem, estavam enfeixados nas m4os de um grupo restrito de grandes comerciantes que utilizavam sua estrutura de negécios em campos diversificados de atividades, restringindo desse modo os custos de empresa, abrigando-se de riscos imprevistos e ampliando a sua faixa de lucros. Ja o abastecimento por vias internas constituia-se em um setor recente; sua organizagdo distributiva era vinculada em grande parte as propriedades interioranas ou a firmas de tropas independentes das grandes casas de comércio da praca carioca. A expansao do fluxo de comércio angariou para os proprietarios, comerciantes e tropeiros do interior uma crescente influéncia politica na Corte - mercado. que drenava a maior parte de sua produgao. O contexto s6cio-econédmico pode ser pormenorizado através do clima de pressio em que se encontravam os comerciantes por- tugueses. De um lado, como se assinalou logo atras, registrava-se um. avancgo dos proprietarios do interior no sentido do mercado. De outro, principalmente apés a abertura dos portos, a penetragdo in- glesa fez-se intensa, abocanhando a parte mais expressiva dos negécios da importacdo — para nao dizer de seu avango até mesmo no setor de varejo — e dos privilégios, concessdes e isengdes cedidos pela Coroa portuguesa’. Em vista disso, 0 setor de abastecimento de cabotagem ab- sorveria, apds 1808, um nimero maior de comerciantes portugueses acossados pela pressao inglesa nos negécios de importagao. Per- dendo o papel de intermediarios do comércio colonial, os comercian- tes portugueses buscaram se alojar nos negécios de abastecimento e, por vezes, em _atividades produtivas, também ligadas ao abastecimento®. A reacdo defensiva dos portugueses nao se fez tardar. No to- cante 4 cabotagem, trataram de garantir junto ao regente o afas- tamento da penetra¢ao inglesa também nesse setor. E‘o que se pode apurar através da Decisio de 9 de janeiro de 1815, que proibia aos navios estrangeiros a participagdo no comércio de cabotagem’, Outras conquistas parciais foram conseguidas. O comércio a varejo e a redistribuigao de mercadorias importadas aos demais por- tos brasileiros foram vedados aos estrangeiros. De outro lado, o regente incentivou a expansdo do comércio e das atividades produ- tivas no pais através da criagdo de diversos projetos de infra-estru- tura, e de uma liberal politica de distribuigdo de terras, que auxiliaram 22 Introduga@o a desafogar a situagdo de pressdo em que se encontravam os comer- ciantes portugueses. Excepcionalmente, os comerciantes portugueses continuavam participando, em Pequena escala, do comércio importador através de sua associagdo com firmas britanicas. Funcionavam como "testas-de- ferro" prestando servigos para firmas inglesas, fosse como subterfigio para aplicacdo de capitais onde lhes era vedado, fosse para facilitar a importagdo e distribuigéo de mercadorias no mercado local’®, . A pressio que procedia do interior, ao que tudo indica, agia de modo considerdvel sobre o mercado carioca. Pode-se perceber a disputa pelo dominio do mercado através de amplo debate travado no interior do Senado da Camara do Rio de Janeiro. Comerciantes portugueses e outros setores tradicionalmente instalados no mercado desferiram ataque cerrado contra os intermedidrios — termo genérico que, no mais das vezes, era empregado pejorativamente para discriminar os novos comerciantes que disputavam parcelas do mercado. Tal como sera descrito ainda no primeiro capitulo, o ponto critico dessa disputa rompeu-se quando da quebra do regime de contratacao da distribuicdo das carnes verdes. Em 1823, d. Pedro liberava 0 comércio da carne, e o setor abastecedor conquistou significativa vitéria, consolidando-se de vez no mercado. Sugestivamente, sera a partir de 1826, na retomada dos traba- lhos da Assembléia Legislativa, que a atua¢ao parlamentar dos repre- sentantes do abastecimento se intensificara, para transbordar-se na participagdo ativa que cumpriram nos eventos associados 4 deposi- ¢40 do imperador. Nessa oportunidade, a oposi¢4o aos comerciantes portugueses se alastrara, convertendo-se mesmo numa frente de luta popular. A penetracao comercial e politica dos proprietarios do interior fazia-se em meio a um contexto tomado de tens6es, cuja face mais radical se mostrou nas arruagas, saques a casas comerciais, acompanhados da resposta de caixeiros e comerciantes reindis. O tema da nacionalizagaéo do comércio veio 4 tona, mas os politicos representantes do setor abastecedor, agora assegurados no mercado, buscaram esvaziar a discussio e arrefecer as posicdes radiciais, temendo que tal situagdo extrapolasse para outras também susceptiveis de participagao popular. Nao ha pois que se surpreen- der diante do gesto contemporizador assumido pelos moderados quando, circunstancialmente, buscou-se a adesao politica dos pré- prios comerciantes portugueses para fazer frente a ascensao do movi- mento popular. O carater politico a que se quer chegar com a presente investi- gacao reaparece no estudo do que se convencionou chamar de politica de integragéo do Centro-Sul™. Por integragdo entende-se aqui 0 processo de articulagao mercantil desenvolvido entre as areas produtoras e o mercado consumidor, viabilizado pelos meios de comunicagio existentes entre os dois pélos. Fica claro, portanto, que a integracdo péde ser efetivada a partir da ordenacdo do fluxo regional do excedente produzido e absorvido pelo mercado carioca. Introdugao 23 DA-sé, no entanto, que a integragdo — um dado prioritario — podia, como o foi, ser utilizada politicamente para diferentes fins. Desse modo, interessa entendé-la inicialmente como o objeto de investiga¢ao, como nucleo informante da pesquisa. E vazada concei- tualmente, ela dever4 acionar teoricamente a temAtica abastecimento. O passo seguinte sera associd-la 4 necessidade de fundamentagdo das bases politicas do Estado no Centro-Sul. A administragao joanina, por exemplo, empenhou-se em alicergar suas bases politicas no Rio de Janeiro, utilizando, como um dos instrumentos primordiais, a busca da regularizacdo do mercado da Corte. A nova conjuntura aberta apés 1808 expds o mercado carioca em expans4o a conviver com crises intermiten- tes de abastecimento, impelindo o regente a incentivar a produgdo de géneros de primeira necessidade, bem como a resolver 0 problema do escoamento das mercadorias, dada a insuficiéncia de meios de comuni- cacao interna. Decisdo de 1° de dezembro de 1815, por exemplo, visava incentivar a produgio e o comércio da regio de Valenga, entre o Sul de Minas e 0 mercado da Corte’’. Outras medidas de igual importéncia foram tomadas no sentido de abrir e preservar novas vias de comuni- cago, a fim de que fosse regularizado o fluxo de mercadorias para 0 mercado do Rio de Janeiro. Através do. desdobramento teérico do conceito de integragao, serio englobados fenémenos que passam a ganhar uma significagao mais ampla. Desse modo, a organizagao da produgao e a comerciali- zacgao dos géneros de primeira necessidade no interior do Centro-Sul, a ocupacdo, distribuicdo pelo Estado e concentracao de terras nas faixas em que emergiria a economia cafeeira, a abertura de estradas para a regularizag4o do fluxo de mantimentos para o mercado carioca integram um conjunto de transformagées que, em Ultima instancia, subsidiam a formagao das bases estruturais do Estado nacional. O nicleo central destas consideragdes prende-se, pois, 4 tese de como a integragéo do Centro-Sul atuou como mecanismo de modelagio das bases s6cio-econdmicas do Estado nacional, tendo como pré-requisito o fluxo do excedente comercializado regional- mente e orientado para atender 4 demanda consumidora da Corte sediada no Rio de Janeiro. Pode-se mesmo afirmar que, até os anos 30, quando somente entdo o café deslanchou e passou a conduzir a expansao econémica do Centro-Sul, a economia mercantil de subsisténcia ocupou um espaco vital no crescimento das forgas produtivas da regiao, apoiada na exportacdo do seu excedente para 0 consumo da Corte. Avancando esta argumentacao um pouco mais: a propria colo- niza¢do do Vale do Paraiba e a expansdo da economia cafeeira foram, basicamente, lastreadas sobre recursos egressos do setor de sub- sisténcia mercantil. As rotas de abastecimento facilitaram a pene- tracdo e colonizacao da regido, cujas estradas foram povoadas prin- cipalmente para dar cobertura aos tropeiros e viajantes que por ai transitavam. Isto para nao falar no contingente migrante e no capital oriundo das zonas mineiras em crise e das 4reas abastecedoras pro- priamente ditas. 24 Introdugdo Apurou-se, no desenrolar da pesquisa, um importante movimento de mudangas sociais na regiao, em que despontaram dois grupos distintos de proprietérios que, aos poucos, passaram a apre- sentar comportamento politico também distinto entre si. O primeiro grupo apontado, o abastecedor do mercado carioca, crescia politicamente em nivel local e provincial, mas, no Ambito da Corte, era barrado por um processo seletivo de nobilitagao e arregimen- taco burocraticas, geralmente efetivadas nos escaldes do alto comércio. Isto foi uma constante nos governos de d. Jodo VI e de d. Pedro I. O Sul de Minas, principal nacleo produtor, contribuiu decisi- vamente para a composi¢Ao social e politica deste grupo. Mas ele era também extensivo a outras regides mineiras, paulistas e fluminenses, onde, por sinal, torna-se dificil, 4s vezes, precisar os limites entre producgdo mercantil de subsisténcia e produgao mercantil tipica de exporta¢ao. O outro grupo procede da Corte e foi recrutado principalmente no alto comércio, nobreza e alta burocracia de estado. Gracas a uma politica "generosa" de d. Joao, também levada adiante por seu filho, vasta extensado de terras foi doada a poucas e ricas familias da Corte. Complementando a tendéncia, varios comerciantes compraram terras na regido do Paraiba, investindo na produgdo, em parte para escapar 4 pressdo exercida pelos ingleses no comércio do Rio de Janeiro. Ja foi observado que a proje¢do politica do primeiro grupo nao se fez de modo rapido. Pode-se também dizer que ela se fez descom- passadamente em relacao 4 penetra¢gdo dos produtores no mercado. Isto significa dizer que enquanto o abastecimento integrava 4reas produtoras e seu mercado consumidor, a projeg4o politica do-setor abastecedor ndo se fazia de maneira correspondente. O ajuste se consumaria em 1831, oportunidade em que politicos interioranos das zonas abastecedoras despontaram e conduziram as liderancas da classe como um todo no processo politico. O segundo grupo apresenta tragos de evolucgao curiosos. Primeiro porque evolui do comércio para a produgao agricola de agicar e café principalmente. Segundo porque, sendo esteio do Estado no Primeiro Reinado, foi apeado do poder pelo movimento de 1831 que depés o imperador. Nos anos 30, no entanto, pds-periodo de acomodagdo com outros contingentes sociais, 0 grupo formado na regiao cafeeira do Vale do Paraiba ganhara identidade prépria e constituir-se-4 na base social do movimento regressista e, portanto, do conservadorismo no Brasil. Em outras palavras, 0 entéo grupo de altos comerciantes, nobres e burocratas, identificados com o governo imperial, volta ao poder, lastreado na propriedade escravista de café, fundamentando o Regresso e as bases infra-estruturais do Estado nacional. Julgo ser importante a descrigdéo deste quadro, na medida em que apresenta outra vertente interpretativa da construgdo do Estado nacional em sua etapa inicial. Geralmente, a historiografia, sob an- gulo juridico, detém-se na idéia do Estado importado, marcado ape- nas por tragos de permanéncia do que imigrou da metrépole, ten- Introdugao 25 dendo 4 imobilidade. O movimento social aqui apresentado mostra um outro lado da quest4o, mais rico e esclarecedor, apresentando 0 Estado em formagdo de face materializada, isto é, classista, em trans- formacgao determinada pela expansio s6écio-econémica do pdlo dinamico do pafs, o Centro-Sul. Este estudo nado despendera cuidados especiais com a anilise da pratica politica e dos postulados ideol6gicos basicos dos politicos representantes do setor abastecedor e dos liberais moderados, grupo politico mais amplo de que faziam parte. Isto implicaria desenvolver ‘um outro estudo, dada a especificidade e alcance do objeto em si. Ensaiarei, no entanto, analisar 0 crescendo da participagao politica dos principais lideres, os padres José Custédio Dias e José Bento Ferreira de Melo. Este, em particular, recebera aten¢do espe- cial, em vista de sua atuagdo dinamica na imprensa, no legislativo, na administra¢4o provincial, na articulacgdo do grupo e na proposi¢ao de teses politicas caras 4 gestéo moderada. De resto, adiantarei algumas reflexdes sobre certas situagGes politicas e ideolégicas, sempre que privilegiaveis, relativas ao desem- penho dos liberais moderados enquanto agrupamento politico. Bus- carei perceber, em termos de dura¢do mais longa, e no nivel da classe, a funcdo que cumpriram para ela. Nesse sentido, eles nao se diferen- ciavam radicalmente dos regressistas que os sucederam no poder. Cumpriram, em momentos diferentes, os objetivos que a classe pro- prietaria como um todo exigiu deles, seus representantes. Uma outra face deste livro apresenta também preocupagées alternativas, desdobramentos refletidos de elementos cultivados ao longo da pesquisa. Refiro-me ao intento de levar adiante algumas proposicées classicas de Sérgio Buarque de Holanda, preocupado em recuperar a figura do comerciante, visto comumente na historiografia como uma categoria social secundarig em relacdo a supremacia e a0 predominio da aristocracia fundiaria’*. Conforme foi apresentado no transcorrer desta introdugao, nao € raro que o proprio setor mercantil ensejasse a acumulacdo de capitais necessarios 4 ampliacgdo dos negécios, como a compra de terras e 0 investimento na produ¢do agricola. No caso do povoamento de larga faixa situada entre.o Sul de Minas e a capital, comerciantes da comarca do Rio das Mortes, particularmente de Sao Jodo del-Rei, e comerciantes do Rio de Janeiro penetraram pelos dois flancos na regido, convertendo-se nos seus principais proprietarios. Dedicaram- se a producdo de géneros de subsisténcia, agacar e, depois, o café. Nessa linha de pesquisa, propde-se demonstrar a projegao do comerciante ligado ao abastecimento, observando como ele tem sido visto apenas enquanto categoria secundaria em relacdo a dos pro- prietarios rurais e dos burocratas da Corte. Nao se pretende inverter a relagéo estabelecida entre as citadas categorias; registra-se, na verdade, sua justaposigao em relacdo as demais, ensejando uma tipica relagdo de complementaridade sécio-econémica. No universo rural, acontece algo semelhante com a _relagdo proprietarios de terra/tropeiros. Neste caso também.se manifesta a

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