You are on page 1of 278
‘ PEDRO ALVIM O CONTRATO DE SEGURO 3tedigao N27” 0722 q FORENSE Rio de Janeiro 2001 Medico ~ 1983, 2 edigdo ~ 1986 3" digo ~ 1999 3" edigdo ~ 1999-2 tragem : 3" edigio- 2001 ~3* tiragem © Copyright Pedro Alvin CIP. Brasil. Catalogapo-ne-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Rb. Alvim, Pedro i Aasae ‘© contato de seguro / Pedro Alvi, Rio de Janeiro: Forense, 2001. Bibliografia 1, Seguro—Contaios 2. Seguro Legislagao 1. Titulo eau 368.022025 36834 ‘O titular cuja obra sejafrandulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma wtilizada, poderd requerer a apreensio dos exemnplares reproduzidos ou a suspen- sio da divulgagdo, sem prejulzo da indenizaclo cabivel (art. 102 da Lei n* 9.610, de 19.02.1998). ‘Quem vender, expuser & venda, ocultar, adquirir, distibuir,tiver em depésito ou _tlizer obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter zarho, vantagem, proveito, luero dizeto ou indireto, para si ow para ouirem, seré Solidariamente responsdvel com 0 contafaior, nos termes dos artigos precedente, espondendo como conirafacores o importador € 0 dstribuidor em caso de reprodvgdo no exterior (art. 104 da Lei? 9.610198) "A EDITORA FORENSE se responssbiliza pelos vitios do produto no que conceme & sua ediglo, af compresndidas a impressio ¢ a apresentagio, a fim de possibilitar 20 eonsuraidor bem manuseé-lo€ le-lo. Os vicios relacionados &stualizagio Ais obra, aos conceitos doutrinsrios, as concepgbes ideolgicas e referencias indevidas sho de responsabilidade do autor e/ou atualizador. [As reclamagées devem ser feita até noventa dias a partir da compra e venda com nota fiseal(interpretagdo do art. 26 da Lei n° 8.078, de 11.09.1990). Reservados 0s direitos de propriedade desta ediclo pela ‘COMPANHIA EDITORA FORENSE _Enderego na Internet: hitp:/orerw forense.com.br ~ e-mail: forense @forense.combr 'Av. Brastno Braga, 299 1°, 2° ¢ 7? andares— 2020-000 — Rio de Janeiro RJ (OXX21) $33-3537 — Fax: (OXX21) 333-4752 lumpresso no Brasil Printed in Brazil 40s entes queridos de minha familia, como esposa, Jilhos, netos, genros e nora, que me alegram @ vida com sua afeigéo e estimulam o esforco para o trabalho intelectual. CAPITULO UM DA PROTECAO CONTRA O RISCO ANTES DO SEGURO I ASSISTENCIA MUTUA 1 — A eventualidade de fatos danosos aos interesses do homem sempre existiu, O riseo é inerente 4 luta de integracéo dos seres vivos ao meio ambiente. A expectativa de sua ocor- réncia acabou gerando a atitude permanente de vigilancia que constitui um dos privilégios do espirito humano. Chama-se pre- vidincia, fonte de inspiragio de todos os processos imaginados para prevenir ou suavizar os efeitos negativos do risco para 0 patriménio, a satide ou a propria vida. Estes processos de defesa contra o risco eram, a principio, ristices e primarios, como o préprio sistema de vida dos homens primitives; depois, foram se aperfeigoando, segundo as exigén- cias do desenvolvimento econémico e social, valendo-se do pro- gresso intelectual ¢ técnico, a ponto de atingir a complexa e requintada atividade do seguro moderno. Foram necessirios, no entanto, muitos séculos de experién- cia para a elaboracio definitiva do contrato de seguro, como inetituicdo juridica autdnoma. Embora os elementos essenciais de sua formagio j& fossem conhecidos e integrassem outras espécies de contratos, intentando o mesmo objetivo, resultou Jenta sua evolugSo histérica. Amadureceu, muito cedo, no espirito humano a importén- cia da solidariedade, como fator de superacdo das dificuldades 2 Prono Aue que assoberbavam a vida de cada um ou da propria comu- nidade. Percebeu-se que era mais facil suportar coletivamente os efeitos dos riscos que atingiam isoladamente as pessoas. O auxilio de muitos para suprir as necessidades de poucos ame- nizava as conseqiiéncias danosas ¢ fortalecia o grupo. A mutua- Hidade era, pois, uma condicgo altamente proveitosa para 2 coletividade sujeita aos mesmos riscos. Foi a mutualidade que serviu de suporte a todos os sistemas de prevengao ou de reparacdo.de danos, oriundos de riscos que interferem na atividade humana, Durante muitos séculos, esses sistemas tiveram organizacdo simples, pois se limitavam a pro- vidéneias de socorro imediato Aqueles que fossem atingidos por eventos danosos. Todo 0 grupo, por forga da solidariedade, con- tribuia com sua participagdo em espécie ou em dinheiro -para Teparar as condigdes do companheiro, lesado em seus interesses materials ou em sua saide. 2 — Foi a familia, sem diivida, o primeiro niicleo organi- zado de cooperagdo miitua de seus membros. A necessidade de protegdo & prole, durante longo periodo, até que os filhos atingis- sem o desenvolvimento necessério & sua propria subsisténcia, exi- gia a vida comunitaria. Os lagos de consangitinidade e a afinidade de sentimentos mantinham viva a solidariedade do grapo na ‘busca do interesse comum de abrigo, de alimento e de defesa, conferindo a essa instituiggo social o papel relevante que sempre destrutou e que ainda conserva em nossos dias. Louvando-se em M. Van Eeckhout, ensina De Smet que os antigos encontraram na familia toda a assisténcia mmitua ¢ as vantagens que Ihes pudesse proporcionar o seguro. Era o micleo em que 0 individuo centralizava sua atividade: a solidariedade familiar provia contra os riscos da existéncia e socorria com auxilio aqueles que o inforttinio atingia. O individuo fraid da ajuda e do apoio necessarios junto @ familia ou a tribo, a cujo destino sua sorte se achava estreitamente ligada. No tinha, pois, necessidade de seguro. A mutualidade por este criada ar- tificialmente era, ento, uma viva realidade.* 1 Robert De Smet, Les Assurances Maritimes, Paris, 1934, pég. IM. © Conmaro pe SzcuRo 3 3 — A formacdo das aglomeragses humanas gerava pro- biemas relacionados com a seguranca dos individuos cuja solu- cdo transcendia os objetivos puramente familiares. Surgiram, entao, organizacées de amparo, inspiradas por razées diversas, ora de carater puramente religioso, ora por espirito de classe, reunindo pessoas do mesmo grupo social ou expostas aos mes- mos riscos. Tinham por suporte da organizagio 0 mutualismo. Todos contribuiam para um fundo comum com sua ajuda financeira ou prestavam sua colaboracéo em servigos de assisténcia aos necessitados. A forma’primitiva em que se pode filiar a idéia rudimentar de seguro — escreve Fernando Emygdio da Silva — confunde-se com 0 socorro mutuo, no seu sentido mais amplo e duma orga- nizagdo de pessoas que se prestem reciprocamente servigos por meio de um fundo comum de qualquer maneira constituido. ? A Historia registra a existéncia dessas sociedades desde re- mota antigilidade. Segundo Plinio, funcionavam na Asia ad sustinendam tenuiorum inopiam. Esclarece 0 citado autor Fer- nando Emygdio da Silva que os gregos deram um largo desen- volvimento a0 principio associative em todas as suas formas, religiosa, politiea, comercial, maritima — e como tal criaram, sob 0 nome de sinedrias, hetairos ou eranos, sociedades do tipo o Socorro, mituo, Boeckh, caracterizando um eranos, cataloga-o francamente como uma sociedade de socorro miituo em que o socorrido em caso de necessidade voltava a ser socorrente se os seus negécios 0 permitissem. © mesmo faz Laurent. * Aparecem, também, em Roma, sob a denominago de soda- litia ou collegia, Reuniam, em geral, os individuos mais pobres ou pertencentes a ciasses humildes, com 0 propésito de angariar meios para a assisténcia médica aos doentes, despesas de fune- ral, sepultura honrosa ete. Posteriormente, os collegia adquiri- yam maior importaneia no meio social romano. # Fernando Emygdio da Silva, Seguros Miituos, Coimbra, 1911, pag. 122, * Fernando Emygdio da Silva, ob. cit, pag. 125. 4 Peoao ALynt Conta Will Durant que se aproximavam mais das associa- g6es beneficentes ou fraternais, com intimeros cargos e titulos hhonrosos. Os ricos, muitas vezes, fomentavam a formacéo dessas associagdes e delas no se esqueciam em seus testa- mentos. Num collegium todos os associados eram ‘“irmios”, e, nalguns 0 escravo sentava-se & mesa ou em conselho junto como homem livre. Cada “membro em bom pé” tinha asse- gurado um bom enterro A estrutura dessas sociedades que se valiam do sentimento de solidariedade, carecia de organizagao mais perfeita, por isso foi limitada sua expanséo. Sua prética era restrita a uma par- cela reduzida da populacdo. A maioria ndo chegava a sentir a necessidade desse sistema de protegao, preferindo a que lhe dispensava a autoridade constituida$ 4 —‘Durante a Idade Média, ocorreu profunda modifica. $40 na vida dos povos que integravam o Império Romano. De sapareceu 0 poder central. A sociedade se desagregou. Enquanto as cidades se amesquinhavam por falta de seguranca para o desenvolvimento de qualauer atividade comercial ou industrial, a parte mais humilde da populacdo procurava o amparo na Protegdo dos nobres que se refugiavam em seus castelos, trans- formados em fortalezas. Apareceu, ento, o Feudalismo que € uma das tOnicas na paisagem da Idade Média. Bastava a si mesmo economicamente em regime autércico. Sua produgio satisfazia a suas proprias necessidades e tinha Por fundamento a exploracéo dos servos da terra® + Will Durant, Histéria da Civitizagéo, trad. de Monteiro Lobato, 38 Parte, tomo 19, pig. 405. © De Smet, ob. cit, pig. VIT: “Mais cos manifestations de 'idée de mutualité étaient demeurées dans Yantiquité relativement exceptionelles et ne touchaient en tous cas, qu'une trés intime minorité de la popu- lation. Vautorité étant, & cette Epoque. forte et respectée, Ton ne sentait Pas la necessité de se grouper pour résister aux périls communs.” © Pedro Alvim, Politica Brasileira de Seguros, pag. 11, Ea, Mannais ‘Técnicos de Seguros Lttia, Sio Paulo, ‘© Cowmaro De SecuRo 5 Se contra a inseguranga decorrente das invasdes — ensina Waldemar Ferreira — no amparo dos senhores se deparou as classes humildes adequado remédio, contra os abusos da inctiria € de explorag3o feudal, se Ihes tornou necessério unir-se e asso- clarse para defesa dos interesses comuns. Surgiram as associa- goes de classes. Floresceram incentivadas pela importancia das autoridades no exercicio de seu papel econdmico e social. Eram de variado género. Confrarias religiosas. Associagdes de comerciantes. Corporagées de arte e oficios. Comunas. Domina- va-as © espirito mercantil. Surgiram no sul, no centro e norte da Europa, conternporaneamente, em prol da atividade econd- mica e da liberdade individual. Hanses. Guildas. Confrarias. Jurandas. “Corporations de Métier". “Pratellanza”. “Bruders- chaften”. “Maitrises". Grémios embandeirados de oficio? Estas novas associages no diferiam muito das antigas. Seu principal objetivo continuava sendo o mesmo: prestas3o Ge Socorro miituo a seus membros. Dispunham, todavia, de ‘uma organizagao mais perfeita e de maior poder econdmico. Segundo Franqueville, uma guilda tinha atribuicdes diversas, como assisténcia em caso de doenga, socorros na indigéncia Tesultante de doenga, de velhice e de desastre; indenizacio, pelo menos parcial, dos grandes prejuizos, em caso de incéncio, morte de gado etc., 8 semelhanga dos seguros modemos# © repassado espirito: religioso, que caracterizou a Idade ‘Média, inspirou também as confrarias, Louvando-se em Laurent, observa Fernando E. da Silva que nas corporagdes, como nas confrarias, @ parte a sua direcdo e a sua indole, a idéia rudi- mentar de socorro miituo tem integral realizagio: nas corpora- goes medievais os velhos e enfermos tinham o direito de ir, de oficina em oficina, reclamar a assisténcia de seus camaradas que era uso contribufrem com uma quota mensal para auxilio dos bons pauvres; nas confrarias eram generosamente distribui- * Weldemar Ferreira, Tratado de Direito Comercial, vol. 1, pag. 39, ‘Ba. Saraiva, 1960. © Franqueville, Etude sur les sociétés de secours mutuels d’Angle- terre, apud Fernando E. da Silva, ob. cit, pig. 135, 6 Prpro Avot das a oraco e a esmola aos pobres da comuna; os velhos € es enfermos, fartamente socorridos bem como os membros necessitados das confrarias, cujo cofre era patenteado para 0 pronto-socorro da indulgéncia ou de precéria situagdo dos mais miseraveis e havia até verbas estipuladas para despesas de fu- nerais, cercando-se os mortos de um respelito profundo.* Admitem alguns autores que a guilda medieval representou © mais avangado passo mutualista, realizando muitas das atri- buigdes que so hoje pertinentes as operacgdes de seguros. Foi alguma coisa mais do que a indisciplinada beneficéncia, no sentido de que se conheceu sumariamente da reparacéo normal dos sinistros, conforme licgo de Clément. u CONTRIBUIGAO OBRIGATORIA NOS RISCOS DO MAR 5 — O mesmo impulso de solidariedade esponténea, que Presidiu a formacdo das assoeiagdes terrestres de assisténcia miitua, assinaladas no capitulo anterior, devia inspirar a cria- do de organizacdes semelhantes para o tréfego maritimo. Mas no existia entre os mereadores uma sociedade estavel, como acontecia nas comunidades terrestres. A convivéneia entre eles durava o tempo da viagem. Nao havia, pois, condigdes psico- légicas para formac&o de uma sociedade ligada por lacos mais afetivos, de onde brotasse a generosidade do auxilio miituo, Do- minava o interesse egoista do lucro, como elemento fundamental da atividade coniercial. Reunidos no mesmo barco ou na mesma caravana, nZo tinham outro objetivo sendo vencer as dificulda- des da expediggo e tirar 0 maior proveito possivel de seus negocios. ® Fernando Emygdio da Silva, ob. cit, pag. 137. 3 Fernando Emygdio da Silva, ob. cit,, pag. 198. © Cowrrato Dz SecvRo 7 Por outro lado, maiores eram os problemas de seguranca, dada a precariedade das vias de comunicagao por terra ou oS imprevistos das viagens maritimas, por falta de melhor conhe- eimento da navegac&o e pela fragilidade das embarcagées. * ‘ram de tal magnitude os riseos a enfrentar nas expedigdes, que seria imprudéncia aventurar-se alguém desprotegido de um. processo qualquer de seguranga. Podia arruinar-se. #* 6 — & verdade que, a principio, quando se revelava ainda inicipiente a atividade comercial, prosperaram sociedades de con- tribuiggéo muitua entre os navegantes, parecidas com as de be- neficéneia, Quando algum proprietario de barco sofria sua perda, 0s outros componentes do grupo acorriam com a sua contribui- cdo para compra de outro. Esse costume € registrado entre os palestinos. Figura no ‘Talmud: “Sobre las préticas usadas por los riberefios del Golfo Pér- sico, el Talmud indicaba: “Los marinos pueden convenir que si uno de éllos pierde su nave por su negligencia o culpa, no habra obligacion de facilitar le otra. pero si la pierde sen culpa, se le construye otra. Si la pierde por conducirla a una distancia “1 Isidore Alavzet, Traité Général des Assurances, Paris, 1843, to- mo 1, pag. 4. “Les périls de la navigation étaient accrus alors par Yinexpérience, Sur Terte, le pillage, auquel étalent exposées les con- vols de la part des hordes sauvages, jetées de tout temps dans les aéserts quils devaient parcourir, se joignait aux dangers et aux fatigues insé- parables d'une longue route, Des réglements durent étre faits pour pro- teger ce commerce; des usages durent s‘introduire; rien n'en est parvenu susqu'a nows.” 1 Robert de Smet, ob. cit., pag. IV: “Il s'est avéré de tous temps, en effet, qu'un commergant courrait presque infailliblement & la ruine sil devalt commettre Pimprudence de conserver par devers soi 1a totalité des risques de ces entreprises, tant sont nombreux les risques de la navigation et considérabies les intéréts engagés dans chaque expédition. ‘Aussi les Anciens, chez qui le commerce maritime était déja fort dév loppé, chercherentails & se procurer,-par divers moyens, la sécurité indispensable & Yexercice de cette branche de leur activité.” 8 Pero ALna donde las embarcaciones no van corrientemente, no habré obli- gacion de construirle otra nave.” 13 7 — Os comboios maritimos ou terrestres constituiram Processos de seguranca nas viagens, Chegaram a ser considera- dos uma espécie de seguro por alguns autores. Com efeito, dz José da Silva Lisboa que as viagens em comboio no mar eram uma espécie de seguro mittuo contra os perigos do caminho, ad instar das caravanas no interior dos continentes, : Observa-se que esse processo de seguranca coletiva bus- ¢a um outro fundamento mais condizente com a natureza des atividades comerciais. A unio de varios barcos aumenta seu Poder de resistencia aos perigos do mar, sobretudo, & pilhagem Por corsarios ou inimigos. Mas no requer, como nos sistemas anteriores, a contribuicdo em dinheiro ou espéci i ‘ , espécie para os atin- gidos pela adversidade. ti i 8 — E curioso verificar-se que essa contribuiggo, que cons- tituiu 0 suporte de todas as organizacées de auxilio mituo, no desapareceu dos costumes maritimos. Mas néo dependia da so- Ueariedade espontanea ou da generosidade dos companheiros Ge viagem. Era imposta a todos, em determinadas situagées, por forga da eqitidade. Sua obrigatoriedade nao ficava & mercé ce um impulso moral, pois, se assim fosse, ndo encontraria eco Tos dentimentos egoistas dos mercadores. Surgia como conse- aiencia de riscos que demandavam processos especiais de sal- ‘Yago, sendo de toda, pelo menos de parte da expedicao, A embarcacdo maritima envolve, de um modo geral, inte: Tesses de varias pessoas: do proprietario do barco, do afretador, dos donos da carga e dos passageiros. A regra mais simples é deixar a cada um seus proprios prejuizos oriundos da fortuna do mar. A avaria do casco sera entdo suportada pelo proprieta- 48 Juan Fernando Cobo Cayon, Segures y Reusegur ta, 1968 eee YOR. Segures y Reweguros, Bogoté, 1962, 3 José da Silva Lisboa, Principios de Direi mniil, Ri neiro, 1874, tomo I, pag. LXIT, eee (© Cowrraro pe Secu 8 rio do barco, como os danos ocorridos & carga correm por conta do embarcador. Ensina, porém, J. Stoll Gongalves que ante 0 vulto do peri- £0, isto é, diante de um risco que ameaca a todos os que cons- tituem a aventura ou expedicao, o instinto natural leva o homem a usar de todds os meios para afasté-lo ou se jé realizado, obviar-lhe 08 efeitos e assim obter a salvacdo. E de que recursos se haveria de langar mao na emergéncia? Dilo o capitéo, i levado pelo dever e no pelo simples instinto — alijar a carga ou objetos de bordo, apagar o ineéndio, varar o navio, pedir 0 reboque para evitat a perigosa deriva, arribar para fugir a mal maior, usar de medidas de sacrificio para desencalhar, passar A combustdo de acessérios e cousas de bordo — e tantas outras ciligéncias a praticar segundo cada circunsténcia, indicadas pela sua experiéncfa e bom senso, na qualidade de chefe da expedigfo e responsdvel pela sua boa guarda e integridade. Esse costume que autoriza tais medidas ao comandante do navio — continua o autor — vem de remotos tempos: é fruto do sentimento de eqitidade que dominou os primeiros navegan- tes, quando sentiram que repugnava A sua consciéncia o se aproveitar do sacrificio de uns em beneficio de outros, com a finalidade. da salvaco do navio e do restante das fazendas de bordo, que todos estavam, juntos, expostos ao mesmo perigo, a que fugiram & custa daquele sacrificio. ‘A primeira legislagSo conhecida que acolheu essa pratica, diseiplmando seis diferentes aspectos Juridicos, denomina-se Jus Navale Rhodiorum. Escritores como Tito Livio e Strabo — observa José da Silva Lisboa — atestam o lugar eminente que na antigitidade ocupa- ram os rédios entre as nagées comerciantes, ¢ ainda entre os que tiveram pretensies a uma navegacéo exclusiva: concordan- do todos em elogiar a sabedoria da sua legislacao.** Mas nem todos os autores antigos concordam que tenha cabido aos rédios a gloria de primeiro legislar sobre 0 assunto. 28 J. Stoll Goncalves, Teoria € Prdtica de Avaria Comum, Rio de Janeiro, 1956, pag. 21. 36 José da Silva Lisboa, ob. elt, tomo I, pig. LXIT 10 Peono ALynE Pardessus nutre a opiniio — esclarece ainda José da Silva Lisboa — ao invés de outros autores, de que a Legislagao de Rodes foi. copiada de Atenas, e ndo esta daquela, fundando-se em que a cidade de Rodes fora edificada 408 anos antes de Cristo, quando 0 comércio e o poder maritimo dos atenienses estavam no maior esplendor: tanto mais quanto a semelhanca nas leis de ambas as cidades sobre 0 Direito Maritimo é cons- tante: questo que alids também pode pender para o lado de Rodes, visto como quase toda a itha tinha sido colonizada pelos. fenfcios, muito antes da fundacio da cidade do mesmo nome. 7 Embora se ignore a verdadeira origem desta legislacio, admitida pela maioria dos autores como sendo mesmo de ilha de Rodes, a verdade & que se tornou célebre entre os povos, con- seguindo sobreviver até os nossos dias. * 9 — Com efeito, os romanos, tao ciosos de seu direito, que €0 maior padrao de sua cultura, ndo tiveram dividas em nele incorporar as normas da legislagdo de Rodes. Figuram no Di- gesto sob o titulo — De Lege Rhodia de Iactu. Consta do pri- meiro fragmento: “Pela lei de Rodes se dispée que, se pare aliviar um navio se fez 0 alijamento de mercadorias, reparar-se-4 pela contribai- (Go de todos 0 dano que em beneficio de todos se causou."* 1 José da Silva Lisboa, ob, cit., tome I, pag, LXV. 38 Alauzet, ob. cit., tomo I, pag. 27: “Tl nous reste encore, pour rendre notre‘ revue compléte, a parler d'un document connu sous Ie nom de lois rhodiennes. Les trois parties, dont se compose cette compi- lation, sont loin d’avoir entre elles un rapport nécessaire et ont pu dtze écrites & des Epoques fort diverses. M. Pardessus croit que la trol- siéme est la plus ancienne: c'est en méme temps celle qui a le plus de valeur comme oeuvre de jurisprudence. On ignore quand cette compl- lation fut rédigee: si elle a certainement précédé les plus anciennes coutumes maritimes du moyen Age, 11 est sans doute universellement ‘admis aussi maintenant, que l'on ne peut y reconnaitre ces fameuses lois rhodiennes vantées par tous les jurisconsultes romains.” \ Digesto (XIV, 1, 1): “Paulus libro I: Sententiarem -- Lage Rhodia cavetur, ut, si levandae navis gratia iactus mereiu factus est, omnjum contribuitione sarciatur, quod pro omnibus datum est.” © Conznato ve SscuRO a © proprio Digesto esclarece a inteligéncia do texto, com 0 seguinte exemplo: “Bavendo reunido muitos mereadores, em um mesmo navio, mereadorias de varias espécies e navegando no mesmo muitos passageiros, escravos ¢ livres, por efeito de uma grande tem- pestade se tomou necessdrio o alijamento; perguntou-se depois © seguinte: deverdo responder todos pelo alijamento, mesmo aqueles que tivessem embarcado mercadorias que ndo pesavam no navio, tais como pedras preciosas e pérolas? Em que pro- porcdo contribuiréo? Deveréo pagar também as pessoas livres? Por que ago se poderia demandar isso? Estabeleceu-se que to- dos aqueles que foram beneficiados com o alijamento, deviam contribuir, porque as coisas conservadas deviam essa contribul- cdo: assim, também, 0 dono do navio estava obrigado & propor- c&0. O montante do alijamento devia distribuir-se, conforme o reco das coisas; no se pode fazer estimacdo alguma dos indi- ‘viduos livres; os donos de coisas perdidas deverdo exercitar a ago de condugio contra o transportador, isto é, contra o patrdo. Dis- cutiu-se, também, se deveria ser feita a estimacdo das roupas € dos anéis. Tudo seria incluido, sem excegdo das coisas embar- cadas para consumo, entre as quais os alimentos, com maior razSo, pois se tivesse faltado para a navegacéo o que cada um levara, seriam distribuidos ‘em comum.” 10 — As legislagdes posteriores, como as ordenangas do Gireito estatutario, mantiveram essa instituigdo que figure ainda nos codigos modernos. Aparece sob a denominagio de avaria grossa ou comum em oposicéo a avaria simples ou particular, 2 cargo exclusive do dono da coisa, Consta de nosso Cédigo Comercial: “As avarias séo de duas espécies: avarias grossas ou co- muns, e avarias simples’ ou particulares. A importincia das primeiras é repartida proporeionalmente entre o navio, seu fre- %® Digesto CKIV, If, § 2) 2 Prono ALvnE te ea carga: e a das segundas é suportada, ou 86 pelo navio, ou 86 pela coisa que sofreu o dano ou deu causa a despesa (art. 763). mm A ESPECULACAO SOBRE O RISCO 11 — A inseguranga das viagens maritimas indusiu o hhomem de negécio, desde épocas remotas, a especular em torno da cobertura dos riscos. Deveriam ficar a cargo do comprador ou do vendedor? Os costumes foram, aos poucos, sedimentando as normas que facilitavam a solugao dos casos quando 0 con- trato nao declarasse expressamente o responsével pelos danos. ssas normas supletivas nao impediam o “entendimento entre as partes sobre 2. responsabilidade pelos Tiscos, segundo os interesses de cada um. Evidentemente, a assungéo do risco influia diretamente no prego da mercadoria. Se ficava a cargo do vendedor, onerava ele o valor dos bens vendidos com a im- portancia que julgasse suficiente para compensar os danos eventuais da viagem. ‘Os mereadores foram, ento, adquirindo, aos poucos, uma nogéo econémica sobre os riscos das viagens que se repetiam com maior freqiiéncia. As estipulagdes a respeito se processavam inicialmente entre vendedor e comprador e, posteriormente, também terceiros que, por uma razo qualquer, interferiam no contrato de compra e venda. ‘Foram essas especulagdes que deram origem a um sistema de cobertura de riscos, inerente a atividade comercial e espe- cialmente as viagens maritimas. Nao era ainda um seguro, mas seus elementos essenciais se achavam implicitos no processo adotado e que perdurou por muitos séculos, satisfazendo as ne- cessidades dos transportes maritimos. $6 se esvaziou sua utili- dade quando o seguro apareceu. 12 — Trata-se do cdmbio maritimo ou contrato de dinheiro a risco, como é conhecido em nossa legislagdio comercial. Como © Cowreato pe SecuR0 B era praticado por todos 0s povos afeitos ao coméreio do mar, Possufa denominagées diversas, Nauticum foenus ou pecunia trajectia entre os gregos e romanos; Bomerie ou contrat 2 la grosse aventure entre os. franceses; Bottomry, na Inglaterra; Ipotéca e depois Prestito a cambio marittimo, na Itélia. Os por- tugueses o chamam de contrato de risco. Consistia a operagdo num empréstimo em dinheiro por um capitalista aos empresarios de uma viagem marftima. Se tudo corresse bem ¢ o navio voltasse ao porto de origem, o mutuante devia receber a quantia adiantada, acrescida de uma parcela substancial, a titulo de juros e de’ compensacao pelos riscos assumidos. Nenhum reembolso haveria por parte dos mutuarios, se 2 expedigo fosse mal sucedida com a perda dos bens trans- portados. Segundo alguns autores, essa instituicéo j4 era conhecida dos hindus, hé mil anos antes de Cristo, embora contestada por outros que preferem assinalar sua origem em periodo mais pré- ximo. Era familiar aos gregos que a transmitiram aos romanos. Ensina José da Silva Costa que o contrato de empréstimo a risco maritimo foi de frequente e utilissimo uso. As necessida- des do navio muitas vezes tomnaram necessario 0 emprege de Ginheiros, que o capitéo no tinha onde haver, néo estando presentes os donos dos navios nem os seus representantes. Ora eram os consertos de que carecia 0 navio, ora o seu aprovisio- namento para a expedic¢ao maritima, que reclamavam quantias mais ou menos avultadas. Em tais conjunturas, recorria-se. a. terceiro que, mediante a garantia do navio e seu carregamento, emprestava a soma precisa, sob condigSes de ser pago, no caso de feliz chegada do navio e do carregamento a seu destino, e de perderem o dinheiro emprestado, no caso de sinistro que fizesse Perecer os objetos sujeitos ao pagamento estipulado. Desse mo- do 0 mutuante s6 podia ser pago pelos bens afetos ao emprésti- mo, ou dos salvados quando de todo no se perdessem. As vantagens que proporcionava este contrato ao comércio em geral, so intuitivas, para que tenhamos aqui de as salientar; ¥ Propo ALyns mas, ulteriormente, com a prética do seguro maritimo e mais rapidos meics de comunicacio, foram rareando os contratos de cambio maritimo. * © empréstimo risco maritimo exerceu papel importante para o comércio dos povos antigos, ensejando a transferéncia de riscos das viagens maritimas pera aqueles que dispunham de maior poder econdmico e, portanto, em melhores condicdes que os mercadores, cujos recursos no podiam suportar a even- tualidade de uma expedig¢a0 mal sucedida. Os homens do mar eram geralmente recrutados entre lbertos, carecedores de for- tuna, mas corajosos e dispostos a enfrentar os perigos em busea de beneficios compensadores. 13 — Nao se pode negar que o empréstimo a risco"maritimo supriu, durante muitos séculos, as necessidades de cobertura das viagens maritimas e que foram posteriormente’ satisfeitas pelo contrato de seguro, Existem entre as duas instituigSes pen- tos de contacto, Ambas especulam sobre os riscos ¢ ambas transferem a um terceiro essa responsabilidade mediante com- pensagées econdmicas. Mas séo estruturalmente diferentes. Um autor chega a asseverar que empréstimo a risco contém mesmo nos seus termos a contradi¢do do moderno contrat de seguro. Assinala 0 seguinte: %_ Jost da Siva Gost, Direto Comercial Maritimo, Pivotal ¢ aéreo, de Janelzo, 1035, pags 304 € 288. : ioe 2 Alauzet, ob. cit., tomo I, pag. 34: “Le contrat a la grosse pré- sentalt done pour ies patents des avantaes plus eranés aie ne Hur en ot ott asrrance, pares que pouaint le borer & Tat €, tt quih aves nullement de aa nature de prendre, pour tire avantageax, un trés grand développement. Dans Tantiquté, e commerce était entre les mais de capitals oot les ichesses talent immense, et de sooitée pulsantes, cu bien itt eet par des omnes is pares, recat ps soot paral les affeanchle Les une pouvalont oe passer alsément da contrat dass os aufes, sane aucune fortune bravdnt les fatigaes eles dangers a cmanere,pacee gull doaaitgeéralement erat gl SY loraert des benefives consiaerabes, tsouvaint dans le pret la grosee une bien pls grande wits” © Commato ox SecuR0 15 “a) no foenum nauticus, na falt nautragio; no seguro, no; 5) no foenum nauticus, 0 dador expée 0 seu dinkeiro; no seguro, o segurador néo adianta nada de seu; ©) no foenum nauticus, 0 dador antecipou do capital; o segurador prémio, de modo que se segurou 1. mente 900; &) "no foonum nauticus, 0 dador carece de ter um fundo correspondente a ter um coméreio; no seguro, o segurador retira fandos dos seguros na quantidade dos prémios; 8) 0 dador eorre os riscos do mar e da insolvabilidade; o segurador s6 corre 0 primeiro; : 4) no cambio néutico 0 eutro perigo além dos do mai bilidade do segurador; a de prémio no caso de perde todas as somas que retém em todos os casos 0 000 libras a 10% perde so- que recebe 0 dinheiro nfo corre iT; No seguro, corre o da insolva- 8) 0 tomador tem necessidade haver de empréstimo somas Para equipar e aprovisionar 0 seu navio; e o segurado tem os seus fundos feitos © todo 0 seu cuidado é achar no seu segura dor meio cautelas de no perdé-to.”= 14 — Sem embargo dessas difere tuigdes, alguns escritores insistiram na tese, hoje superada entre os autores modernos, de que 0 seguro fora conhecido dos Povos antigos. Em defesa de seu ponto de vista, lembram outros cxemplos de especulacdo sobre os riscos maritimos, registrados pela historia romana. Examinando a questdo, escreve José da Silva Lisboa: “Alguns escritores pretendem que ele no fora desconhe- cido dos romanos, e citam em prova ao eminente historiador Tito Livio, que faz mengéo do contrato, que pelo tempo da segunda guerra Piinica fizeram os encarregados do fornecimento do exército da Espanha, estipulando expressamente que, de tudo ngas entre as duas insti- ss Ferreira Borges, Syndpsis Juridica do Contracto de Cambio Ma ritimo, apud Fernando Emygdio éa Silva, ob. eit., pag. 120, 6 Pepro AtvEt que se transportasse nos navios, fieassem por conta da Repti- blica os riscos de inimigos e de tempestades. Outro exemplo é extrafdo das Cartas de Cicero. Este famoso orador ¢ Consul de Roma tendo ganhado uma vitorla na Sici- ia, e prevendo que seria inevitével a guerra entre Pompéu e César, desejando por a salvo em Roma os Tesouros da Repiblica, esereveu a Caninio Sallustio, Proquestor em Laodicea, que pro- curasse alguma pessoa abonada, que tomasse a seu cargo os riscos do transporte do dinheiro pitblico. Mas esta operagdo mais se assemelha &s nossas Letras de Cambio do que ao contrato de seguro, Ha também uma passagem de Sueténio, onde se 1é, que ‘Tibério Cléudio, primeiro Imperador de Roma, propusera cerios lucros aos negociantes para fornecerem & Capital de trigo, to- mando ele sobre si indenizi-los de todo o dano, se acontecesse alguma perda por tempestades. Na Lei 67, Digesto, o juris consulto Ulpiano propée uma espécie de estipulacao, que parece supor 0 uso do seguro, diz: Ia stipulatio, decem millia saiva fore promittis, valet. Contudo, autores de grande nota, como Grocio, Bynkersoek, interpretando de diferente maneira os lugares daqueles escri- tores, so de parecer que o contrato de seguro fora ignorado absolutamente dos romanos: de sorte que nem a sua natureza, nem ainda o nome se acha na vasta Compilagao das Leis desse - povo, pois inteiramente barbara a palavra assecuratio, que adotaram os Praxistas modernos nos seus eseritos latinos, para designar aquela espécie de contrato.” * Concluiu 0 autor que, se houve exemplos de seguros entre 0s romanos, deviam ter sido raros, porque esse povo, dado & rapina e 20 peculato nas provincias conquistadas, chegou a possuir grandes riquezas, mas tinha pouca experiéncia comercial. ‘Outros autores examinaram essas transagées dos romanos sobre o risco, mas entendem que nao se trata de operagées de seguros, cujo advento se deu, muito mais tarde, apés uma lenta ‘José da Silva Lisboa, ob. cit,, tomo II, pag. 5. © Contato De SecuRo uw elaboracdo com base na experiéncia obtida pelos diferentes sis- temas inspirados pelo mutualismo ou pela especulacao. Os exemplos citados por Tito Livio e outros historiadores cuidam realmente de garantia contra riscos, mas nao revelam a existéncla de uma instituigio, ainda que rudimentar, com 0 objetivo de explorar essa cobertura, tal como acontece hoje as companhias de seguros. Tinham por fundamento a especulacao, como ja era praticada nas operacdes de compra e venda, como se viu acima, ou, entéo, apareciam como cléusula acessoria de contratos com as autoridades publicas, interessadas na execugio de programas importantes para a seguranga do Estado ou do bem publico. Em obra recente, Gasperoni manifesta sua opinio, ao ana- . lisar as mesmas passagens de Tito Livio e de Sueténio, concluin- do que séo exemplos de cobertura de riscos, acesséria de outros contratos de transporte para fins piblicos, sem o prémio cor- xespectivo, mas néo um contrat de seguro. Nao diverge a ligdo de Alauzet, para quem os citados exem- plos nZo passavam de convenges acessérias a um contrato de compra e venda. *° Nicola Gasperoni, Assicurazioni Private, Padova, 1972, pag. 6. %* Alauzet, ob. cit., pag. 13: “L’Assurance, si elle existait dans les cas que nous venons de rapporter, net ¢t6 tout au plus qu'une con- vention accessoire & un contrat de vente ou de transport; ou pour mieux dire une simple clause, par laquelle une partie prenait & sa charge des risques qui auraient di, en droit commun, rester au compte de Yautre contractant. Rien ne s‘opposait sans doute A ce que des con- ventions particuliéres vinssent modifier les régles propres aux contrats de vente ou de transport; mais si par cela seul que dans un contrat, quel quill soit, une partie prend a sa charge des risques dont, a moins de stipulations expresses, elle ne devrait pas répondre, il y a contrat assurance, certes alors ce contrat étalt eonnu et grandement usité & Rome: le Digest est rempli ’exemples de pareilles stipulations.” CAPITULO DOIS ADVENTO DO CONTRATO DE SEGURO I DUVIDAS SOBRE A ORIGEM DO SEGURO 15 — O seguro foi surgindo aos poucos, lentamente, numa decantagio de seus principios que se encontravam esparcos em diferentes sistemas de seguranga, imaginados pelos antigos pera socdrrer suas necessidades de protecéo. Eis por que se toma muito dificil precisar a época de seu aparecimento. Nao foi pro- duto da imaginaggo de alguém. Nao se elaborou nos gabinetes dos sAbios, mas foi, sem diivida, lapidedo, como um brilhante, pela paciéncia dos homens do coméreio, que precisavam de ins- trumentos de defesa para proteger sua atividade contra a so- lércia dos riscos que a ameacavam. Sua evolugSo acompanhou o ritmo do progresso, incorpo- rando os ehsinamentos da pritica e das ciéncias que iam se formando, mercé da difuséo e do aumento da cultura humana. ‘Mas antes de transformar-se numa instituigio auténoma, tun- dada na sistematizagdo de seus elementos essenciais, assumia formas diversas e incompletas que nao Ihe permitiam uma yer- feita configuracdo. Apesar de bem conhecidas as. diferentes formas de associa- ges miituas, beneficentes e de natureza especulativa de que se valeram os povos atitigos para resolver e equacionar o grave problema de amparo contra os riscos, como se mostrou no ca- pitulo anterior, a verdade € que os autores especializados em © Cowzrazo ve SxcuRO 19 seguro ainda divergem com relagdo ao advento dessa institui- cao. Ha muitas hipéteses para esclarecer suas origens. 16 — Alguns dividem os seguros em muituos e a prémio, confundindo os primeiros com as associagées organizadas so- bre o fundamento da mutualidade. Seriam elas uma forma de seguro rudimentar. O seguro a prémio ja estaria implicito no contrato de risco maritimo. # 0 que informa, por exemplo, Mo- ses Amazalak, prefaciando a famosa obra de Pedro Santerna — Tractatus de Assecurationibus et Sponsionibus: 7 “O Instituto do seguro apareceu sob duas formas: o seguro mituo € 0 seguro, a prémio. Sobre a primeira ndo me deterei, visto ter surgido, em esséneia, sob a sua moderna forma. A evo- luc&o dos seguros a prémio no foi téo simples nos seus primi- tivos delineamentos; este seguro quase se confundia com outras formas de especulagao a que Banolis chamou empréstimos sobre riseos de mar.”* A técnica de repartigao dos efeitos danosos dos riscos pelo processo do mutualismo néo evoluiu com o tempo. Em substan- cia ela continua sendo 2 mesma, desde remotas épocas: um grupo de pessoas se reine para formar um fundo comum que serd utilizado para determinado fim, podendo ser inchisive para protecdio contra riscos. Mas a idéia de seguro, tal como se con- cebe hoje, ndo se acha implicita nessas organizagoes que se prestam a finalidades diversas. Constituem uma técnica pare soluedo de problemas coletivos, mas nao necessariamente limi- tada as operagées de seguros que delas também se utilizam, Muitas empresas de seguro modernas sio estruturadas com base no mutualismo. : Amazalak menciona Goldschmidt para quem os seguros maritimos foram primitivamente esbocados no contrato de ris- co — “o seguro da antigiiidade”, na expressao de Ihering, era relativamente facil reconhecer 0 invélucro do contrato de risco nesse seguro, 1 Pedro Santerna, Tractatus de Assecurationibus et Sponsionibus, Lisboa, Bd. 1961, 20 ‘Pepro Auvie A especulagfio em torno do risco, assumido por uma das partes no contrato de compra e venda ou transferido para 0 mutuante no contrato de dinheiro a risco, revela a tendéncia do pragmatismo dos comerciantes em busca da instituigdo do seguro cujas linhas estruturais sé foram definidas bem mais tarde, & luz de prinefpios téenicos e juridicos entéo desconhe- cidos. S40 concepgdes que divergem, embora tenham de co- mum 0 mesmo elemento fundamental que é o risco. A primeira se Iimitave a especular com a sorte, enquanto a segunda opera com base num sistema complexo de eliminagdo da propria dlea para quem assume o risco. Essa especulacdo aparece, conforme j4 foi dito, como cléu- sulas acessérias de outros contratos, inspirada pelas circuns- tancias dos negécios, de cuja natureza participava. Nao se tinha ainda consubstanciado um:sistema auténomo de cobertura. Tan- te isso é verdade que as primeiras legislacdes estatutarias si- Ienciam sobre o contrato de seguro. Ensina José da Silva Lisboa: “Nao ha monumento donde conste @ época, em que se es- tabelecesse legislacdo sobre matéria de seguro; nem se acha vestigio algum dela no corpo das antigas leis maritimas dos Es- tados da Italia, conhecido debaixo do nome Consulato del Mare, publicado no século XIV, nem tampouco no Cédigo Amal- fitano, Leis de Oleron, e célebres Ordenancas de Wisby, que tiveram a maior estimacio na Europa, e que sendo da mais res- péitavel autoridade em todos os tribunais do Norte, serviram de base as Ordenancas das cidades da Liga Hansedtica, Lubek, Hamburgo, Bremen e Colénia.”* Entende, por isso, a maioria dos autores modernos que 0 aparecimento do contrato de seguro é de certa forma recexte. Com efeito, escreve Daniel Danjon que, malgrado 2 importan- cia dos servigos que presta o seguro, sua invencdo é relativa- mente recente: é talvez 0 menos antigo de todos os coritratos que praticamos, £ verdade — acreseenta — que os autores que escreveram sobre direito natural, no XVII século, e que tiveram por sistema a vinculac&o de todas as instituigdes a0 Direito Ro- 2 José da Silva Lisboa, ob. eit,, tomo IT, pag. 6. © Contasto De SecuRO a mano, pretenderam que os romanos tivessem conhecido e pra- ticado o seguro maritimo: mas esta opiniéio nao tem mais de- fensores € hoje se reconhece, geralmente, que o contrato de seguro foi ignorado pela Antigiiidade e mesmo pela Idade Mé- dia? an A PROIBICAO DA USURA PELO PAPA GREGORIO IX 17 — Revestia-se da maior relevaneia para a navegacdo maritima 0 contrato de dinheiro a risco ou cambio maritimo. Finenciava as expediges dos mercadores e Ihes dava garantia contra os riscos do mar. Tanto 0 empréstimo como a cobertura dos riscos se con- fundiam na mesma operacdo e representavam para o banqueiro um negécio perigoso sujeito a fatores imponderaveis, no obs- tante a experiéncia que adquiria naquela atividade. Era elevado 0 preco que se cobrava dos mutuarios, pois nele estavam incluidos os juros e a compensag&o pela responsabili- dade des riscos assumidos. Afigurava-se um empréstimo usurdtio e foi, por isso, atin gido pela decretal “Naviganti vel eunti ad Nundinas”, baixada, em 1234, pelo Papa Gregério IX, que proibiu a pratica da usura. Pode-se imaginar o transtorno que esta proibi¢go represen- tou para a atividade dos mercadores que se viram privados de uma instituicio de amparo a seus negécios, apesar do custo quase exorbitante exigido pelos banqueiros. Jé consagrado pela pratica de muitos séculos, 0 cambio maritimo supria satisfatoriamente as necessidades dos merca-. Gores, por isso jamais se pensou na sua substituicéo por outro processo que assegurasse os mesmos beneficios. 18 — Em face da inesperada situacdo criada pela Igreja, cuja autoridade era imensa, foi necessério apelar para a arg- % Daniel Danjon, Traité de Droit Maritime, Paris, 1928, tomo IV, pag. 216. 22 ‘Peoro ALVIN cia dos juristas, em busca de solugSes satisfatérias. No se po- dia afrontar a ordem emanada do Papa, mas era possivel discutita e, por via de interpretagdo tendenciosa, contormar seus efeitos. + Com efeito, varios expedientes foram adotados para res- guardar os Interessados das penas da Igreja, nos disfarces que se imaginavam para continuar a pratica do cdmbio maritimo. Assumiu, durante muito tempo, a forma de um contrato ae compra e venda, Estranha operacdo em que o banqueiro que tomava a seu cargo os riscos da viagem, declareva-se compra~ dor dos bens transportados e comprometia-se ao pagamento do prego, caso o navio ndo chegasse a bom porto. Anulava-se a vyenda, se a expedig&o lograsse born éxito, mas o comprador re- cebia um prémio pela operacde, o qual no se devolvia, qual- quer que fosse o resultado do negécio. * ‘Transformou-se, depois, numa cldusula que se inseria nos contratos de compra e venda, pela qual um dos contratantes assumia a responsabilidade dos riscos, declarando que as mer- cadorias seriam entregues sis e salvas no destino. © contrato era feito, entio, ad risicum et fortunam Dei, maris et gentium. ‘0 uso da cldusula, conhecida por sana eunte navi, tornou-se freqiiente nos contratos maritimos de venda e de empréstimos. ¢ 4 Alauzet, ob. eit, tomo I, pig. 52: “De tous c6tés, on chercha le moyen déviter les foudres de Iglise, et de ménager ses intéréts ot & Ioree dexaminer dans tous les sens, et ’analyser ce contrat si malen- contreusement frappé é'anathéme, on crut y étre parvenu, I netait pas permis de discuter une décision sévére peut-éire, mais péremptoice; on pouvait seulement commenter le texte et chercher & en dénaturer Je sens, et c'est une lberté dont on usa grandement. © Smet, ob. cit., pég. VET: “Lon imagina alors de se servir de jorétendus contrats de vente dans lesquels Ia personne qui se chargeait du risque déclarait avoir ach>té les objets transportés et sengagealt & en payer le prix, mais seulement dans le cas oit le navire ou la cargaison narriveraient pas & bon port! La vente devait étre au contraire anzulée, dans Yéventualité ot Yexpédition parviendeait saine eb sauve & desti- nation. Le prétendu “vendeur” versait @ “V'acheteur” une prime qui nietait restituée en aucun cas. ® G. Ripert, Droit Maritime, 2 ed., 1922, t, TI, n, 2.347, apud Smet, ‘ob. cit, pag. Ix. © Conreazo DE Secuo 28 A redagdo desta clausula, em separado, dentro do mesmo contrato, assinalava o primeiro passo para o desdobramento das duas convencées que conviveram durante longos séculos no mesmo instituto. A garantia contra os riscos maritimos passou a ser pacto acessério do eontrato de empréstimo. © esforgo continuado para simular as operagées contra as suspeitas de usura transferiu, no passo seguinte, a importancia maior da convengao para a garantia dos riscos. Inverteu-se a erdem: o empréstimo, de principal, passou a ser secundario, ¢ era feito mera caritate, Cobrava-se apenas a compensacao de- vida pelos riscos, com excluséo dos juros do empréstimo. 19 — Percebeu-se, depois, que as duas conveneSes podiam viver separadamente em contratos auténomos. A da garantia contra os riscos ido envolvia o adiantamento de qualquer im- Portancia em dinheiro, como acontecia na do mtituo. Bastava a promessa de pagamento, caso howvesse © sinistro. Era 0 contrato de seguro que despontava para seguir sua propria evolugao, firmando-se, aos poucos, até atingir a pleni- tude de nossos dias, independentemente do contrato de emprés- timo que, desde aquele momento, comegara seu declinio nas transagSes maritimas. ‘HA nessa verso sobre a origem do contrato de seguro uma ordem logica dos fatos que Ihe confere maior autenticidade. #, Por isso, admitida por muitos escritores que situam suas raizes no séeulo XII. Nao se deve concluir, todavia, que essa evolucio se processara rapidamente, Durou cerea de um século, pois, as primeiras noticias hist6ricas sobre o seguro comegam a apare- cer em fins do século XIV. 20 — Na sua primeira etapa, como negécio auténomo, ten- do o seguro desprendido do contrato de compra e venda, era natural que continuasse sofrendo sua influéncia. Durante os primeiros tempos, entenderam os doutrinadores que participava da mesma natureza, sendo uma espécie de compra e venda. O risco era negociado como se fosse uma mercadoria. O segurador 2 PEDRO ALVIM prometia 0 pagamento dos prejuizos, mediante 0 recebimento do prémio A elaboragio de suas cléusulas, misturadas a principio com 2s do contrato de compra e venda, néo é atributo de uma: pes- soa ou de um mesmo periodo. S6 pode ser fruto da experiéneia Jenta ¢ difusa de geracdes de comerciantes que praticavam 0 coméreio nos portos maritimos de nagdes diferentes. N&o se pode, por isso, precisar a época em que 0 contrato adquiriu a feic&io peculiar as suas caracteristicas, mas 0 certo € que, inspirados por sentimentos patriéticos ou induzidos ape- nas pela imaginacdo, os autores mais antigos atribuem a este ou aquele pais a honra de télo descoberto, com base em do- eumentos de seus arquivos. : ‘Um:dos documentos mais antigos que se conhecem, foi en- contrado em Flandres, Data de 1310. Cuida do estabelecimento de uma casa ou cdmara de seguros: : “A pedido dos habitantes de Bruges, em 1310, 0 Conde de Flandres autorizou nesta cidade o estabelecimento de uma casa ou camara de seguros, pela qual os negociantes pudessem fazer segurar suas mereadorias expostas ao riseo do mar, ou a qual- quer outro, mediante algum quantitative por certo, como ainda hoje se pratica. Mas, a fim de que esse estabelecimento tao util aos negociantes ndo pudesse ser logo dissolvido apenas formado, presereveu diferentes leis e formulas a que eram obrigados 2 seguir, tanto os seguradores como os segurados. Este texto encontrado por M. Ripert nas Crénicas de Flan- des (Chronyk van Viaandren) ndo merece crédito, segundo ‘Smet. Foi. redigido no século XV por alguém que deve ter feito uma confuséo de datas. Néo aparece nos usos e costumes dos Paises Baixos, durante 0 século XIV, 0 menor sinal do contrato de seguro, sendo, pois, inconcebivel a publicacdo de ume regu- lamentagéo que pressupunha sua pratica na regigo.~ * Numa P. do Valle, Seguro Maritimo ¢ Contrato de Risco. S, Pasto. 1919, pag. 13. Smet, ob. olt., pig. IX: “Cest un temoignage isolé; van chercherait-on & découvrir, dans les usages en vigueur ait 3 © Contato ve Secuno 25 Portugal também reivindicou o privilégio de ser 0 bergo do seguro, por ter sido encontrado um documento que faz mencao a ume organizacéo portuguesa de amparo a proprietdrios de navios, Era uma ordenanca referida por Ferndo Lopes, na crd- nica do Rei D. Fernando I, que reinou no periodo de 1367 a 1383. Criava uma bolsa para @ qual contribuiam todos os donos de navios, como fundo comum de socorro, de tal forma que “quando alguma nau se perdesse, no ficasse também perdido © dono dela”. ‘Lembram alguns autores a versio que atribuiu aos judeus estabelecidos na Italia, depois de expulsos da Franga, a desco- berta do seguro, como meio de proteger seus bens confiscados. Eram entregues a depositarios de confianca para transporta-los sob sua responsabilidade, Essa eonvengdo constava de um do- cumento que teria dado origem a’apélice de seguro. Nota-se, todavia, a tendéncia dos escritores modernos de conferir as cidades italianas 0 mérito de esbogar os primeiros contratos, como suportes do poderoso trafego comercial e ma- ritimo. Louvando-se em D. Danjon, pondera Smet que até mes- mo a terminologia edotada no contrato é originaria da lingua italiana. Valendo-se de Bensa e de Goldschmidt, esclarece Nicola Gasperoni que os primeiros documentos sobre a existéncia do ° M, Liard, Asgurance Maritime et Assurance Terrestre, Bordeaux. 1933, Prefacio de Bonnecase, pag. XIII: “La mesfiance leur suggera Tinvention de quelque rude commancement des brevets ou polices a’As- surance, pat Jesquelles tous les risques et dangers du voyage tomboient sur ceux qui les avolent assurea, moyennant un présent ou prix modéré, qu’n nomme A présent Primeur, ou la Prime” @ans les Pays-Bas méridionaux et septentrionaux, la moindre trace du contrat d'assurance, ce qui serait tou-aefait inconcebable si Templo de Vassurance avait été déjé & ce point répandu en 1310 quil dit étre Yobjet des préoccupations du Pouvolr. 11 est donc fort probable que le rédacteur de la Chronique des Flandres, ecrivant un siécle environ aprés Tévénement qu'il relate, aura fait une confusion de dates.” 26 Pepno Awvaa 7 contrato de seguro séo o Breve Portus Kallaritani (1318), os ‘Statuti di Calimala (1322) os Libri di Commercio di Frances- co del Bene e Compagni di Firenze (1318-1820) e, sobretudo, a Quietanza Grossetana (22.04,1329).1° 1 Nicola Gasperoni, ob. cit., pag. 8: “...la dottrina dominante ritiehe, sulle orme del Bensa e del Goldschmidt, che primi documenti delVesistenza del vero e proprio contratto di assleurazione a premio slano il Breve Portur Kallaritani (1318), agli Statuti Di Calimaia (1322), i bri di commercio di Francesco Del Bene e Compagni di Firenze (1318-1820) e soprattutto 1a Quietanza Grossetana del 22 aprile 1329. Altri serittori, soprattutto lo Schaube e di recente il Checchini, negano -che tall documenti si riferiscano alle assicurazioni e pospongono le ori- Gini delV'assicurazione alla meta del secolo XIV. 11 pli antico documen- ‘te incontestato rimane quindi quello del 23 ottobre 1347.” _©APITULO TRES O DESENVOLVIMENTO DO SEGURO pee © SEGURO NOS SECULOS XIV E XV 21 — Embora 2 especulagdo sobre riscos, como contratc auténomo, independente do c&mbio maritimo ou da compra ¢ venda, houvesse ocorrido no decorrer do século XIJI, panen se sabe de sua evolugio naquele perfodo. Somente no século XIV apareceram os primeiros documen tos referentes 20 contrato de seguro. Pode-se imaginar que, nos primeiros tempos, suas operagées ainde se confundissem com as do contrato de compra e venda, assimilando as mesmas clausulas, sobretudo as que se referiam A promessa de compra € venda. Talvez, fosse visto como uma espécie desse contrato. sem denominagao prépria Observa Vivante que 0 coméreio de seguro, restrito aos ris eos do mar, ere exercido por mercadores isolados. Cada nego cio significava para eles uma seducio e os perigos de uma ver- dadeira aposta. E acrescenta: “No era asumir sistemdticamente los riesgos clasificados segun la experiencia de los grandes mimeros; no habia deter- mainacién alguna anticipada del fondo necesario para pagar los siniestros, ni, por tanto, de las primas necesarias para consti tuirlo. Las primas tenian entonces que determinarse por la cz. 8 Peoro Atvine ; prichosa influencia de la oferta y la demanda, no por el cono- cimiento del costo efectivo del seguro.” A maior concentragao de negécios sobre seguros verificou- -se, a principio, nas cidades italianas de Pisa, Florenca, Gé- nova e outras, Irradiou-se, posteriormente, sua pratica para a Espanha, Portugal, Paises Baixos e Inglaterra. As primeiras apélices de seguro que se conhecem, sao: uma, de Pisa, datada de 11.07.1385, e outra, de Florenga, de 10.07.1397. Suas cléusulas j4 revelavam uma disciplina juridica desenvol- vida pelos usos e costumes das diferentes pracas comerciais. Segundo Hemard, citado por Smet, as operagdes de seguro, no fim do século XIV, tinham aleancado bom erescimento. So- mente um notério da praca de Génova fizera 80 contratos, num més, durante o ano de 1393. Esta expansio dos negécios ¢, sobretudo, a importancia de que se revestia o seguro para a atividade dos comerciantes des- pertaram naturalmente o interesse das autoridades. Era neces- sario estabelecer bases juridicas mais estaveis para essa ativi- dade que repousava exclusivamente nos usos e costumes cas pracas comerciais. 22. — Com efeito, alguns anos mais tarde, j4 no século XV, as Ordenangas de Barcelona, publicadas em 1435, destinavam ao contrato de seguro varias de suas disposigées, com o objetivo de aprimorar sua reguiamentacéo. Foi criado um tribunal es- pecializado para julgamento da matéria e proibida a pratica abusiva de certas operactes que desfiguravam a natureza do contrato. As Ordenancas de Barcelona foram alteradas sucessiva mente nos anos seguintes, em 1435, 1443, 1458, 1461 e 1484, ineluindo ou miodificando os dispositivos sobre seguro. Assevera 2 Cesar Vivante, del Contrato de Seguro De la Prenda — Det De~ posito en tos almacenes Generales, trad. argentina por Santiago Sentis Melendo, Buenos Aires, 1952, vol. T, pag. 3. © Comaro uz SecvKO 2 Pipia que a ultima reforma constituia uma verdadeira codifi- cago do seguro, com disposigdes de mérito, de forma e de procedimento Apesar de todo esse esforco legislative para disciplinar o contrato e resguardar os interesses das partes, careciam as ope- ragdes de maior estabilidade, justamente porque, no havia uma estruturagio técnica para suporte das obrigagées assumidas. Nao havia, por exemplo, a indispensdvel correspondéncia entre a receita de prémio e os sinistros ocorridos. Aquele era ealculado nas bolsas ou nos portos, submetendo-se as injungdes da concorréncia € nao as condigdes de periculosidade do risco. ‘Valia a experiéncia de cada um, nem sempre bem sucedida. Segundo Gasperoni, a necessidade de observagdes ‘estatis- ticas foi sentida, pela primeira vez, na praca de Florenga. Os ‘seguradores passaram a fixar 0 prémio em funcdo da experién- cia de outras pragas comerciais? ‘A inseguranga das operagdes induzia os seguradores a li- mnitarem sua responsabilidade em cada negécio. Além disso, era reduzida a capacidade de cada um, j4 que as obrigagées eram assumidas por pessoas fisicas e nfo por sociedades de grandes capitais. As responsabilidades eram, entio, fracionadas entre diversos seguradores que subscreviam o mesmo éontrato, obri- gando-se, cada um, por determinada parcela do tod. Para facilitar os entendimentos costumavam reunirse no mesmo local, onde tomavam conhecimento das condigées dos riscos e obtinham informagées a respeito dos negécios. Esse process coletivo de cobertura de riscos, assinando todos os seguradores 0 mesmo instrumento, ¢ mantido pela técnica moderna do seguro e praticado em larga escala. Cha- ‘™ma-se co-seguro. Seré examinado oportunamente. 2 Umberto Pipia, Trattato delle Assicurazioni Terrestri, Roma, 1905, rag. 12. Nicola Gasperoni, ob. cit, pég. 12. 30 Pepro Aen Quanto ao habito de se reunirem os seguradores em deter- minado local, sobreviveu apenas na Inglaterra, através de uma organizacio das mais importantes na atualidade, como centro de operagdes internacionais de seguro, como se verdé mais adiante. . __ Os-seguradores do século XIV conheceram também 0 resse. guro* que € outra modalidade de repartigio dos riscos entre varios tomadores. Em vez de assumir cada um parte da reszon- sabilidade, vinculado diretamente 20 segurado, apenas um segurador aparece contratando a garantia e se obrigando inte gralmente pela cobertura do isco. Em seguida, transfere para outros seguradores 0 excesso de sua capacidade de retengZo. Esta operacdo era mais cémoda para o segurado que niio precisava acionar, em caso de litigio, varios seguradores 20 mésmo tempo, como acontecia com o co-seguro. Para 0 segu- rador era mais um processo de pulverizacao dos riscos. & de grande utilidade no seguro moderno. A formacio de sociedades para exploragio do seguro chegou a ser esbocada no século XV, segundo informagdes registradas por Gasperoni® Prevaleceu, todavia, o costume de ‘seguradores individuais que sé desapareceu mais tarde, salvo na Inglaterra onde ainda sobrevive. +23 — Naquela época a atividade seguradora ainda se con- centrava na cobertura de riscos do mar, mas comegava a diver- sificar seu campo de atuagdo para abranger riscos de outra na- + Gesparonl, ob. cit, pig. 13: “Pure al secolo XIV risalgono le origini della riassicurazione, aplicata per rendere pitt sicuri i gua- agni ¢ diminnire Je perdite; con essa Vassicuratore, dietro pagamento i un promio, trasferiva ed assicurava la totalita o una parte del rischi ‘assicurati presso una terza persona: ill riassicuratore. Dei caratteri e el concetto, sia pure rudimentale, della rlassicurazione troviamo le tracee in un contratto del 1370." 3 Gasperoni, ob. cit. pag. 13: “Le prime societ di assicurarione si riscontrano dallnizio del seeolo XV: cosi troviamo che nel 1424 Ga- Jeotto © Tobia del Scipioni stringono societA con Giuliano Dondi allo scopo di fare ogni sorta di assicurazioni marittime e terrestri.” © Cowrrato pe SeouRo 31 tureza. Como prolongamento do seguro maritimo, as apélices estendiam a garantia para o percurso terrestre até o destino da mereadoria, Daf surgiram os seguros de. transportes terrestres. Os escravos foram inicialmente admitidos na cobertura dos riseos marftimos, equiparados & mercadoria, jé que podiam ser negociados. A indenizaciio corresponderia a seu valor de mer- cado. © seguro passou a interessar-se, depois, pelo resgate de pes- soas livres que, durante a viagem maritima, caiam prisioneiras de inimigos, A liberdade podia ser reconquistada, mediante o pagamento de certa quantia. O seguro efetuava o pagamento do resgate. Embora se tiatasse de um riseo diferente, estava ainda li- gado fortuna do mar. Mas, lentamente, os seguradores foram ampliando seus negécios para os riscos terrestres. A falta de experiéncia sobre esses negécios e os conhecimentos ainda rudi- mentares seguidos pelos seguradores, confundindo pratica- mente o seguro com 0 jogo, ndo puderam impedir a pratica de operagées estranhas ao objetivo da instituigao, Sob a forma de seguro, realizavam-se apostas sobre a vida de parturientes, de pessoas importantes, como principes e dignitarios da Igreja, comprometendo-se uma das partes ao pagamento de determi- nada soma em dinheiro, caso sobrevivessem a certa data, © risco ai contemplado era ficticio, oriundo da propria con- venggo. Sua ocorréneia nfo afetava propriamente o segurado, mas um terceiro. Ndo se tratava, pois, de uma reparacdo de danos sofrides pelo contratante, mas simples aposta sobre fatos eventuais. Escrevendo sobre 0 desvirtuamento da instituigéo do seguro naquele perfodo, diz Pipia que, esgotado o campo de riscos reais, limitado as atividades comerciais, voltou-se pata os riscos ficticios e o seguro degenerou-se logo em jogo ou aposta, & se- melhanga do que se verifica nos tempos modernos com as ope- ragdes a termo, nas bolsas. O anseio da especulacdo e do jogo de azar invadiu as pracas ¢ a bolsa em que se reuniam os mer- cadores e os navegantes. Alterou-se a fisionomia inicial do se- guro, desnaturando-se sua finalidade e suas normas de trabalho. 32 Pepao ALWDC © abuso, os enganos, as fraudes substituiram a real garantia do risco, mediante 0 pagamento do prémio. Segurava-se, sem esertipulo, 0 velho por novo, o vazio por cheio. Ao dolo dos segu- rades, em conluio com os capitées e & barataria da equipagem, correspondia a fraude dos seguradores que recebiam o prémio € no cuidavam de pagar a indenizacio, acumulando os riscos reais com 08 ficticios. © seguro e 0 jogo acabaram se confun- dindo no mesmo conceito e assim eram vistos pelos doutores. ° 24 — Era natural que esse desvio de uma atividade de real importancia para 0 comércio despertasse a atencao das autori- @ades, Embora chegasse @ ser proibida, como aconteceu na ci- dade de Génova, em 1467,.sua recuperagdo foi possivel, através de regulamentacdo sugerida pelos juristas, para os quais im- portava diferenciar 0 yerdadeiro seguro das simples apostas ou jogo.* : Como os demais contratos, o seguro podia ser convencio- nado verbalmente, por escritura ptiblica ou por instrumento particular. Os corretores ou intermadiarios preferiam esta wl- tima forma, lavrando o contrato num instrumento denominado apélice — potizza del sensale ov apodizia censarii, que se pole traduzir por apélice’ do corretor. Uma das medidas regulamentares para prevenir os abusos foi a de colocar na intermediacao elementos idéneos. A corpo- rag&o dos seguradores designava profissional de sua confianga para estas fungSes. Era o corretor oficial. As polices por ele emitidas se equiparavam as escrituras puiblicas e tinham forga executiva, ® © Pipia, ob. olt,, pag. 6. * Smet, ob. cit,, pég. SL ® Pipla, ob. cit,, pag. 13: “Ad impedire {1 dilagare delle seommesse @ successivamente disposto Tintervento dun pubblico ufticiale, notaio © sensale appositamente eletto e sottorosto a speciale sindicato. In se- vito, riconoseiuta alla polizza del sensale privilegiato la stessa forza del rogito pubbilco e specialmente el vantaggio dell’esecusione parata, tornd a prevale la seritura privata.” © Cowsnato DE SecuRo 3 ‘A repetiggo das mesmas clausulas redigidas pelos correto- res Oficiais foi dando aos contratos certa uniformidade, contri- ‘ouindo este fato para uma regulamentagéo harménica do se- guro em diversos paises por onde cireulavam as apélices. A uniformidade das cléusulas tinha ainda a virtude de fa- cilitar seu entendimento para a solugdo dos casos concretos, reduzindo os conflitos entre os interessados. n © SEGURO NOS SECULOS XVI A XVIII 25 — As grandes descobertas maritimas do século XVI, com a abertura de novo caminho para as indias e a revelagdo do Continente Americano, tiveram profunda repercusséo na economia européla. Intensificou-se 0 comércio com o Oriente € difundiu-se a riqueza oriunda da exploragao de produtos colo- niais. As rotas maritimas se ampliatam e cresceu o volume de bens transportados. Era natural que essa transformagéo refletisse na atividade seguradora, pols devia se aparelhar para garantir 0 comércio contra os novos riscos. Sua fungdo era vital para o éxito dos grandes empreendimentos relacionados com as colénias ame- ricanas e o trafego oriental. Fortalecer seus métodos operacionais, revigorar suas nor- mas juridicas e expurgar a instituicao dos vicios que compro- metiam sua evolucdo afigurava-se necessério para que pudesse o seguro desempenhar o importante papel que Ihe cabia naquela nova conjuntura. Com efeito, para lograr esse objetivo, houve intenso tra- ‘balho legislative, no século XVI. Além das Ordenangas de Bar- celona, jé comentadas, apareceram as Ordenancas de Florenca (1522, 1523, 1526 e 1528), de Burgos (1537), de Sevilha (1553), de Bilbao (1560), de Amsterdam (1598) e de Flandres (1537, 1549, 1551 © 1563). F 4 Peoro Alva . Valiamse os legisladores dos subsidios das leis anteriores mais difundidas, das alteragées introduzidas pela pritica 30s usos ¢ costumes, dos julgados dos tribunais e de trabalhos dou- trinarios que comecavam a surgir. 26 — A primeira obra importante de cunho doutrinério foi publicada por um portugués, Pedro Santerna ou Pedro de San- terna, intitulada Tractatus de Assecurationibus et Sponsionibus. A edi¢do original é de 1552. Existe uma recente, de 1961, em quatro idiomas: latim (original), portugués, inglés e francés. Esta dividida em cinco partes. Cada uma é precedida de um sumario, em que s4o formuladas questdes de natureza juridica, salientando os tragos mais importantes da instituic¢ao, com o propésito de evitar sua confusdéo com o jogo ou a usura, como ainda .acontecia naquela época. A edi¢do de 1961 é precedida de um estudo do Prof. Moses Amazalak. £ no meio deste estado de incertezas teéricas, diz ele, que Pedro Santerna escreve 0 seu Tratado, constréi cientificamente 0 conceito de seguro, es- tabelece com grande rigor a diferenciag&o entre os seguros ¢ os contratos que se Ihe assemelham, e langa com precisao rigorosa e clareza admiravel as bases fundamentais deste contrato. Outro trabalho de grande repercussio na época foi o de Stracca, publicado em 1567: Tractatus de Assecurationibus. Na cidade francesa de Rouen, surge a compilagéo denominada Guidon de la Mer, que se supée tenha sido publicada entre 1556 € 1584. Admite-se que seu autor tivesse em mente, ao preparar © trabalho, ajudar os novos juizes da jurisdigdo consular da cidade. * Exerceu, porém, influéncia decisiva na divulgacdo do ® Alauzet, ob. cit, pag. 99: “TD est possible que Vétablissemens de Ja juridiction consulaire & Rouen, ait engagé Vauteur du Guidon ée la ‘Mer, a rediger son ourrage, destiné peut-étre aux nouveaux fuges qui Gevaient exercer leurs fonctions dans cette cité. Le Guidon n’eut ja- mais foree de loi; c’était un simple recuell privé; Il n'y a pas et il ne peut y avoir aucun doute & cet égard: Vautorité qu'il pouvait avoir, méme a ce titre, et comme ouvrage de doctrine, ne s'tendit jamais hors de France; les contrées voisines avaient toutes sur les matiéres dont 1 s'occupe, des lols écrites et positives: il est bien loin d'avolr eu la destinge des “Réles d'Oléron” et du “Consulat de la Mer © Conrmaro Dz Secuno 35 contrat de seguro, sendo posteriormente aproveitada na reda- cdo da Ordenanga da Marinha Francesa, de 1681. Durante o séeulo KVYI, surgiram novos trabalhos doutri- nérios de direito comercial, incluindo estudos sobre seguros, como, por exemplo, o Tractatus de Commercii, de Scaccia (Roma, 1618); 0 Responsorum Legalium ac Mercatorum Nota- bitia, de Rocco (Napolis, 1685); 0 Discursus Legales de Commer- cio et Mercatura, de Ansaldis (Roma, 1689) e 0 Ponderationi Sopra la Contrattazione Maritime, de Targa (Génova, 1692). Publicdram-se, também, novas ordenancas e e6digos: 0 C6- digo de Middelbourg (1600); a Ordenanca de Rotterdéo (1604), © Codigo da, Suéeia (1661) ¢ a célebre Ordenanga da Marinha de Franga, considerada obra magistral pelos autores e que in- fluu decisivamente na legislacéo de outros povos, sendc que chegou a ser adotada como lei propria por outros. 27 — O século XVII assinala, também, a retomada da ex- periéncia de exploraco do seguro pelas sociedades e 0 advento das primeiras companhias de seguro incéndio. Os empreendimentos econémicos do século XVII envolviam capitais vultosos e, conseqtientemente, as responsabilidades atin- giram limites que ultrapassavam a capacidade dos seguradores partieulares. Os riscos aumentavam em numero e valor, exi- gindo para sua garantia nova estrutura financeira e técnica. Até que os seguradores se apereebessem da nova realidade foram freqiientes os insucessos de suas operagées. Muitos se arruinaram, arrastando consigo os segurados que neles confia- ram e deles ndo receberam as indenizagées. " Admitiu-se que @ instabilidade da instituigaio do seguro de- corria do fato de ser exercida por seguradores particulares e nO por sociedades que dispunham de melhores condigdes para reunir capitais elevados e estabelecer bases econémico-financei- ras mais sOlidas. As primeiras sociedades néo tiveram sorte mais favorével que os seguradores individuais. A maioria acabou na insolvén- cia, apesar de sua maior capacidade financeira. Careciam de 36 Pano ALI uma estruturacdo técnica & altura das obrigagbes que assu- miam e, por isso, acabavam resvalando para a especulacéo que © empirismo ndo sabia como prevenir. A malograda experiéncia das sociedades seguradoras, com reflexo negativo para a instituicgo e para a economia que néo podia prescindir das garantias do seguro, levou 0 governo fran- cfs & medida extrema de monopolizar as operagdes do seguro maritimo, a partir de 1685, as quais ficaram a cargo exclusivo da Compagnie Générale des Assurances et Grosses Aventures. 2 ‘Medida semelhante foi adotada, no séeulo seguinte, por ou- ‘ros paises. Napoles conferiu a uma companhia o direito de ex- plorar o seguro maritimo, em 1751. A Dinamarca criou socie- dades privilegiadas, em 1741. A Inglaterra, em 1720, s6 autorizcu duas sociedades: a London Insurance Company e a Royal E2- change Insurance Company, sem prejuizo das preexistentes e dos seguradores particulares. 28 — Foi a partir do fim do séeulo XVII que o seguro in- céndio adquiriu maior impulso. Sempre houve preocupagéo das comunidades com 0 risco de incéndio. Criavam entidades de socorro mittuo para seus associados, mediante contribuicdes voluntaries, quando ocorria um ineéndio. A idéia de amplier as operacées de seguro para cobertura de riscos desta natureza apareceu com o-grande incéndio de Londres, em 1666. Foram destruidas 13.200 casas, 89 igrejas, inclusive a Catedral de Sao Paulo. Ficaram sem abrigo mais de 20.000 pessoas. Esse pavoroso incéndio despertou a opinifo publica para o perigo desse risco nas grandes aglomeracées urbanas e esti- mulou a criag&io das primeiras seguradoras para sua explora cdo, embora 0 seguro restringisse, até entio, sua atividade aos riseos maritimos, 40 ‘Smet, ob. cit, pég. KIM: “Cet situation fit surgir Yidée de con fier Ie monopole des assurances & des sociétés privilégiées. C'est ainsi qu’en France, un édit du 21 mai 1635 créa une Chambre Générale dassurances ayant le privilége des assurances maritimes pour Paris sous le nom de Compagnie Générale des Assurances et Grosses Aven- tires.” © Conraato De Sxcur0 a Surgiram diversas sociedades: a Fire Office, em 1680; a Friendly Society, em 1684, e a Hand in Hand, em 1696. © advento dessas empresas marca o infeio de uma nova ctapa na evolugéo do seguro que passa a interessar-se pelos ris- cos terrestres, sem qualquer conotagao com os da érea maritima, 4% interessante observar que naquela época a instituigéo de seguro estava em erise, em diversos paises, como se viu, lutando para adaptar-se as novas condigdes econémicas. Nem por isso desanimaram os ingleses em ampliar suas atividades para os riscos terrestres, sobre os quais inexistia qualquer experiéncia. Apesar dos tropecos iniciais e da falta de um embasamento téenico adequado, pois as operagdes de seguro ainda continua- vam sendo empiricas, 0 certo é que o desenvolvimento dos se- guros terrestres foi mais répido que o maritimo, nao sé na In- giaterra, como em outros paises. 29 — Registra, ainda, 0 século XVII 0 langamento das ba- ses cientificas do seguro de vide, com os estudos atuariais e a elaboragao das primeiras tébuas de mortalidade. Pascal publicou, em 1662, a Aleae Geometria ou Geometria do Acaso que Petty ¢ Graunt precisaram nas estatistieas mor- tuarias do mesmo ano, segundo a licdo de Fernando Emygdio da Silva que acrescenta: ‘Johann de Witt (1625-1672), diplomata, estratégico e fi- naneeiro, devia juntar & gléria dos seus vinte e dois anos de Grande Pensionario a de fazer as primeiras aplicagées da cién- cia dos atuarios, seguido de perto do grande Christian Huygens (1629-1695), 0 inventor dos relégios de péndulo, que havia de também medir as oscilagées da vida humana pela fundagdo da teoria das probabilidades. Moivre, Price, Bailay continuaram na Inglaterra a tradic¢do dos mestres. © caminho estava naturalmente entreaberto para a defi- iva fixag3o da disciplina basilar do seguro de vida, desco- brindo a seu turno a técnica da operagio, indissoluvelmente presa 4 organizada mutualidade. A primeira tdbua de mortaii- 38 Pepe ALvnr 7 dade, base fundamental deste ramo de seguro, aparece logo em 1693, devida ao inglés Halley.” 30 — Na segunda metade do século XVIII, os seguros ter- restres, sobretudo, os de incéndio e vida, j4 se haviam expan- dido pelas diferentes classes sociais, depois de reformularsm ‘suas operagdes em bases cientificas mais consentaneas com a natureza da instituigao, Conforme a ligdo de Picard et Besson, o seguro tomara consciéncia de sua técnica e a sua propria nogo se delineava com clareza. Informam os autores que M. Hamon, em seu lirro sobre a Histéria do Seguro, reproduz uma apélice de seguro contra incéndio, de 30 de julho de 1786, que contém a maior Parte das condigdes gerais que se encontram nas apélices mo- dernas. ** : Desapareceram as restrigdes legais para a exploracdo do se- guro por sociedades. As grandes companhias praticamente =x- pulsaram do mercado os seguradores individuais, salvo na Inglaterra, impondo-se confianga de seus segurados, mereé dos novos principios téenieos que orientaram sua atividade. * 31 — O sucesso de uma empresa soguradora depende da conjugacao de dois fatores: o financeiro e o técnico, B neces- 21 Fernando Emygdio da Silva, ob. cit, pig. 150. 2 Maurice Pieard et André Besson, Praité Générale des Assuran- ‘ces Terrestres, Paris, 1938, tomo I, pig. 6, 28 Pipia, ob, eit,, pag. 15: “Il principio assicurativo, affidato alle poderose forze delle societé anonime, na oramai guadagnato ogni clas- ‘Se sociale, ed @ prezioso elemento di previdenza, di moralizzazione, dl progresso eivile. Liaccurato studio delle legei di probabilita che presie- ‘dono ai sinistri, 'aecertamento razionale dei danni e le tavole di mor- ‘Valita hanno oramai fissato i valore reale del rischio. Le tariffe speri- mentali dei premi presentano una sicura garanz'a per la Compagnia assicuratrice e per T'assicurato, ponendo in grado quella di esercitare ‘una funzione di distribuzione, sotto forma di indennita o di capital assicurati, delle somme riscosse sotto forma di premi, ed accertando questo che il suo risch{o, eollocato in una grande massa di rischi omo- ‘Benel, & sicuramente fronteggiato dalle contribuzioni di quanti corrono 32 suo stesso rischio.” © Conmeazo ne SecuRO 39 sario estabelecer uma situag&o financeira que atenda aos as- pectos industriais e administrativos de sua organizagdo, sob a égide de uma orientagao técnica capaz de resguardar a estabi- lidade das operagdes. As primeiras sociedades, embora dispu- sessem de recursos financeitos, careciam de estrytura técnica, que Jhes perinitisse uma previsio adequada de suas responsa- bilidades, -azdo por que acabavam insolventes. Eis por que a forma societdria da exploracdo do seguro, quando os principios téenicos substituiram 0 empirismo, tor- nou-se generalizada em todos os paises. & 0 proceso moderno de formagao de grandes capitais para explorar atividades eco- némicas. Mas na Inglaterra sucedeu uma evolugdo sui generis. A proibigio de novas companhias de seguro, durante um perfodo relativamente longo, foi aproveitada pelos seguradores indivi- duais para desenvolver uma organizagdo que Ihes permitiu so- breviver e adquirir uma importancia de tal ordem que trans- cendeu os limites de sua patria para angariar a confianca do seguro internacional, transformando a Inglaterra no maior cen- tro de negécios de seguros, em nossos dias. Escrevendo a respeito dessa curiosa organizagio, Vivante diz o seguinte: “Durante este largo periodo, en el que se prohibié 12 cons- . titueién de nuevas socledades para el ejercicio de los seguros maritimos y estas dos se beneficiaron cachazudamente de su monopolio (referéneia as duas sociedades inglesas London In- sarance e Royal Exchage), los aseguradores de Lloyd quedaron casi dueiios del campo y, con una continuidad admirable de providencias, dieron a su asociacién muchas funciones que re~ paron, em parte al menos, la impotencia a que se hubieran visto obligados como aseguradores aislados. Instituyron bateles de salvamento por todas las costas de Inglaterra; instituyeron a expensas en comin agencias por los principales puertos del mundo para tener noticias en la Oficina de Londres del movi- miento de todas las naves y: de sus siniestros: este sistema de informaciones se ordené eon tal pericia, que él Lloyd rindié, a fines del siglo pasado y principios del actual, en tiempo de guer- 2 Pepro ALvine z ra, eminentes servicios al Estado. Instituyeron un diario que es- parce estas informaciones a todos los socios y abonados de todas las partes del mundo y que cuenta hoy con siglo y medio de existencia; instituyeron el Lloyd Registry of Shipping, un registro de todas las naves de la marina inglesa, compilado con “1a quia de las pericias hechas por los inspectores del Lloyd que asisten a su construccién y a sus reparaciones.” m1 © SEGURO NOS SECULOS XIX E XX +32 — A difusio do seguro terrestre, iniciado com os ramos de seguros incéndio e de vida no séeulo XVIM, adquiriu maior ¥igor no século seguinte com a exploracdo de outras modali- -Gades. O aprimoramento das bases técnicas que fez do célculo de probabilidade a alavanea do progresso da instituigao, ense- jou a oportunidade para seu estudo e diversificagao. Além do seguro de transportes maritimos, terrestres ¢ £u- viais que constituiu a operacao classiea dos primeiros séculos, acrescido, depois, pelos seguros de incéndio e de vida, surgiram varias modalidades de cobertura, como a de responsabilidade civil, de.acidentes pessoais, de acidentes do trabalho, de furto, de roubo, de locacdo e outras. Qualquer risco com expressdo econdmica que se submetesse a uma experiéncia estatistica satisfatéria ou a lei dos grandes mtimeros, podia ser objeto de uma nova carteira. As regras téc- nicas seriam as mesmas dos ramos j4 desvendados. varlando apenas a correlacdo dos elementos da cobertura, de acordo com a natureza da garantia. 44 Vivante, ob. cit., vol. T, pag. 8. \5 Nicola Gasperoni, ob. cit, pag. 14: “Puo dirsi ormai che non esiste pili alcun campo di umana attivita che sia sottrato al beneficio principio dell'assicurazione: la complessita della vita sociale fa sentire sempre pitt vivo il bisogno di essa; Ia sua utilita @ dappertutto apprez- zata ¢'il suo perfevionamento tecnico le conferisce un carattere vera- mente scientitico.” (© Cowzearo nz SecuRo a Nao se processava @ exploragéo simultinea dos diferentes ramos pela mesma seguradora. Por prudéncia, adotava-se a es- pecializacdo que facilitava 2 melhor observacio e classificagdo dos riscos. Algumas sociedades sé operavam em seguros de vida, outras em transportes, incéndio e seguro maritimo. Especiali- zavam-se, também, em seguros de acidentes do trabalho, Atual- mente, as grandes seguradoras operam em todos os ramos, mas a tendéncia & especializagao continua, preferindo a maioria dedicar-se a um dos grupos, em que se dividem as operagées: seguros de pessoa e seguros de dano. 33 — Tal como aconteceu 2o seguro maritimo, euja legisla- do apareceu bem mais tarde, os seguros terrestres no tiveram uma legislagdo especifica, durante os primeiros tempos. Aplica~ vam-se as normas do seguro marftimo, naquilo que era compa- tivel, ¢, subsidiariamente, os prinefpios gerais do direito, parti- cularmente, o direito das cbrigagées. Os usos e costumes dos diferentes paises foram consolidando as clausulas prineipais dos contratos, 2 medida que a experién- cla induzia sua necessidade. A regulamentacdo juridica posterior serviuese desse material, como subsidio indispensavel 4 sua elaboragéo. ‘Com o advento do sistema de codificacZo que passou a ser uma das caracteristicas do século XIX, as normas de seguro, que figuravam’ nas antigas ordenangas, passaram por nova compilacio. A publicacdo do Cédigo Comercial franeés, em 1807, foi 0 ponto de partida e com enorme repercussfo nos mreios juridicos de outros paises. Segundo José da Silva Lisboa, esse -famoso monumento francés foi em breve a norma de outros trabalhos do mesmo género nas nagées européias, com excegdo a Inglaterra, em razo do sistema que segue em sua legislacao que repugne codificar. ‘Mas este Cédigo s6 cuidou do seguro maritimo, embora 0 seguro terrestre j4 houvesse alcangado alguma importancia eco- José da Silv1 Lisboa, ob. cit., tomo I, pag. DLXTIT 2 Pero aume : némico-social. Foi o Cédigo da Holanda, de 1838, que inseriu no seu texto, pela primeira vez, dispositivos sobre seguros ter- restres, A partir da segunda metade do século XIX, publicaram-se diversos eddigos com a incluso de preceitos de seguros mari mos e terrestres, como 0 italiano, de 1882; o rumeno, de 1887; © portugués, de 1888; 0 espanhol, de 1889 ete, Nas Américas, surgiram os cédigos da Argentina, em 1862; do Uruguai, em 1866; do Paraguai, em 1870; do Chile, em 1865 ete. © Cbaigo Comercial do Brasil é de 1850, mas s6 trata do seguro maritimo, Os seguros terrestres tiveram de aguardar 0 Cédigo Civil, publicado em 1916. 34°— Sem embargo de pequenas divergéncias, peculiares, a cada pais, observa Morandi que as normas sobre seguro dos eédigos do séeulo KIX, mantiveram muitos tragos comuns, re- velando, entre outros, os seguintes: a) normas com caréter dispositive: b) indiferenca pela desigualdade das partes contratantes; ¢) auséncia de elaboracdo técnico-juridica das disposigdes que se limitaram a consagrar as condigées fundamentais dos usos e costumes, vigentes na época; d) desconhecimento da natureza do contrato de seguro, quanto as exigéncias de produc&o em massa, bem como a fungdo social a ser cumprida pela seguradora. Daf a auséncia de fisca- lizagdo, salvo algumas normas inorganicas de poucos paises, inclusive as cireulares da Austria, de 1860, 1878, 1880 e 1896, que constituem a primeira regulamentaco juridica das empre- sas seguradoras e do controle estatal sobre sua administracdo técnica; e) desconhecimento das modalidades de contrato de segu- 10, dos tipos de cobertura e do seguro social; (© Cowrnaro pe SecuRO 8 f) caréncia de uma concepedo funcional do contrato de seguro, sob 0 ponto de vista técnico, econémico e social. * Para o escritor portugués, Moitinho de Almeida, a caracte- ristica da legislago promulgada no século KIX 6 o seu indivi- Gualismo, estabelecendo-se uma disciplina facultativa do con- trato em que se ndo tomam em conta os legitimos interesses dos, segurados, sujeitos a0 poderio econémico das empresas de seguros € aos somtratos nos termos por esta impostos. Como escreve Donati, dominam as normas dispositivas, consagrando-se to seguro mais o aspecto tradicional da uberrimae bona fides do que a sua natureza real de contrato de adesio, e 0 contetido daquelas € mais inspirado na tutela do segurador do que na do segurado, As leis sobre o exercicio da atividade seguradora limitam-se & autorizagdo do funcionamento da empresa, e ndo a0 respective controle. ** : 35 — O desdobramento, no plano histérico, das operactes de seguro justifica a posicgo adotada pelo legislador, quando teve de elaborar as normas do seguro terrestre. Durante muitos séeulos, como j4 foi dito varias vezes, 0 seguro s6 explorava os riscos maritimos. Foi a experiéncia desse campo restrito que serviu de fundamento & legislacio do seguro, satistazendo plenamente os interesses das partes contratantes, colocadas no mesmo plano econémico. O desnivel que ocorria com alguma freqiiéncia, dizia respeito aos seguradores, revelando sua insta- bilidade no cumprimento das obrigagées. Dai se preocupar 0 legislador da época em corrigir apenas esta situagdo, mantendo © carater dispositive das normas contratuais, no pressuposto da igualdade das partes que realmente tinham condigées para dis- cutir e defender seus interesses préprios. ‘Os seguros terrestres estavam se afirmando, quando se prepararam as normas codificadas do século passado. Era natu- ‘Juan Carlos FOX Morandi, Estudios de Derecho de Seguros, B. aires, 1971, pags. 33/34. Ye J. ©. Moitinho de almeida, © Contrato de Seguro no Direito Por- tugués @ Comparado, Lisboa, 1971. pag. 9. 4 PEDRO ALYIE ral que conservassem a mesma natureza dispositiva que carac- terizava a do seguro maritimo. Ainda ndo estavam bem definidas as nuangas que iriam distinguir 0 contrato dos seguros terres- tres, colocando 0 segurador numa posigéo de superioridade técnico-econémica em relaco ao segurado. Contribuiu para isso o fato de que as seguradoras nfo con- tratavam apenas com mercadores, como sucedia ao seguro maritimo. Os planos dos seguros terrestres passaram a interessar as diversas camadas sociais, induzindo a necessidade de con- fratos-padréo, conhecidos juridicamente como contratos de adeso, os quais deveriam ser aceitos pelo segurado sem discussio de suas condigbes mais importantes. S6 através de contratos padronizados se atenderia & massi- ficagdo das operagées, embora isso colocasse a outra parte, isto @, © segurado em relativa inferioridade, pois nAo tinka como discutir as clausulas da convenc&o. Deveria aceita-las em bloco. Foi este desiquilibrio que obrigou o legislador & intervenedo com nova regulamentagao para prevenir os abusos que a liber- dade de contratar ensejava. 36 — A ténica legislativa do séeulo atual consiste, pois, em estabelecer condigdes que mantenham a institui¢éo do seguro em perfelta consonancia com sua func&o econémico-social, sem Prejuizo da estabilidade de suas operagdes, atendendo, porém, a0s interesses da massa segurada, As normas dispositivas dos cédigos permaneceram em vigor, mas, simuitaneamente, uma disciplina juridica, tecida de nor- mas imperativas, deslocou o centro das decisdes sobre a estru- tura juridica do contrat para os poderes piiblicos, armados de ampla competéncia para interferir em todos os setores da vida empresarial, seja ele técnico ou administrativo. As condigées gerais dos contratos de seguro dos diferentes ramos nao depen- dem do consenso das partes, como outrora, nem s&o impostas Pela seguradora, mas formuladas pelos érgos oficiais. ‘Nao fol, todavia, descaracterizada a nogio de contrato, pois © consenso das partes é ressalvado para os aspectos secundérios, © Conznato De SecuRO 45 ou melhor, poder atuar até o limite em que ndo rompa o equi- Vibrio assegurado pela intervenedo do Estado. © século XX, escreve Halperin, marca uma reagéo notavel: os Estados Unidos, Alemanha, Suica e Austria sancionaram suas leis especiais sobre seguro e controle das empresas, tendentes a proteger o segurado, por se tratar de um contrat de adesao. © objetivo & estabelecer um conjunto de normas proibitivas, crientadas no sentido de dar & institui¢do uma fisionomia rigida, inalteravel pela vontade das partes. 37 —-Bssa legislagdo é mais de natureza administrative, relacionada com o funcionamento da empresa de seguro. Sao conhecidos trés processos diferentes de fiscalizagéo pelo Poder Piblico. O mais antigo impunha a seguradora uma série de Pablicagdes sobre seus atos administrativos para conhecimento dos segurados. £ 0 chamado sistema de publicidade. Como nao produziu’ os resultados esperados, concebeu-se o sistema norma- tivo que submete a atividade da seguradora a normas previstas na regulamentacéo. Este sistema evolufu para uma interferén- cia mais acentuada dos érgios ptblicos na vida da empresa seguradora, dando origem ao sistema discricionario que os au- tores preferem denominar de “sistema de concesséo e fiscaliza- cao do Estado”. Sobre este tiltimo sistema que se acha em vigor em todos os paises, gu, pelo menos, na maioria deles, tivemos oportunidade de dizer 0 seguinte, em outro trabalho: “A lei, em vez de tracar os limites da fiscalizacdo, fixando as normas que devem ser cbservadas pelas empresas, como acontecia ao sistema normativo, delega & autoridade adminis- jrativa poderes normativos que permitem sua pronta interfe- réneia para adaptar o mercado as condigdes exigidas pela situa~ 0 do momento. Seus atos ndo dependem da norma preesta- ‘elecida. Por forga da delegacdo, opera por via de resolucdes que se impéem & observacdo imediata das seguradoras. Através desse sage Halperin, Contrato de Seguro, B. Aires, 1966, 24 ed., pag. 7.

You might also like