Professional Documents
Culture Documents
sara tinha uma consulta marcada para aquela manhã. estava entrando
na quinta semana de gravidez.
grissom, apesar de animado, estava começando a temer que sara
pudesse ser uma das vítimas préviamente escolhidas pelo assassino,
e isso o fazia perder o sono, e ter suas terríveis enxaquecas com mais
freqüência.
após o turno, sara e grissom foram até a nova clínica que haviam
escolhido juntos, para fazer seu acompanhamento pré-natal.
chegaram à porta, sem poder esconder sua euforia. grissom
preencheu uma ficha com os dados de ambos e então sentou ao lado
de sara; poucos minutos depois, o nome dela foi chamado.
conversaram longamente com a médica, informando todas as
condições familiares de ambos e de como a gravidez vinha se
desenrolando. por fim, sara se deitou na maca para fazer um ultra-
som; em poucos segundos, a médica mostrou na tela o pequeno
embrião. grissom segurou a mão de sara, enquanto a medica
explicava tudo que podiam ver; grissom viaja em pensamentos,
imaginando ouvir o som forte do coração de seu filho batendo... uma
lágrima corre por seu rosto. o exame é concluído, e a doutora faz
algumas recomendações à mãe, sobre evitar álcool, fumo, remédios
e ter uma alimentação bem balanceada. ambos escutam atentamente,
tranqüílos por não terem quaisquer vícios nocivos ao bebê, em seus
hábitos rotineiros. sara diz que irá fazer caminhadas, para exercitar-
se, sem esforços físicos excessivos e grissom compromete-se a
acompanhá-la, para ficar em melhor forma (e protegê-la também, ele
pensa consigo); no geral, os dois estão saudáveis e o bebê em ótimo
estado.
no fim do exame, ao passar pela porta, grissom esbarra no assistente
da mulher, e escuta quando a doutora reclama com o empregado por
seus constantes atrasos.
os dois seguem para a casa de grissom. ficam sentados, vendo o dvd
do exame, como quaisquer pais bem corujas fariam. brincam,
escolhem nomes, fazem planos.
quando a campainha soa, grissom, sem pensar, pede a sara para
atender a porta e ela que está lá, bem próxima, pois fora bebe água,
gritou:
ss: já vai.
ao abrir a porta, fica espantada.
ss: greg, o que você esta fazendo aqui?
greg, pergunta confuso:
gs: aqui não é a casa do grissom ?
eles haviam esquecido que os colegas e amigos não sabiam do seu
romance. sara fala devagar:
ss: É, sim ...
gs: então, eu é que pergunto. o que você está fazendo aqui?
grissom, escutando aquilo, foi até à porta.
gg: ela está aqui a meu pedido, revisando alguns relatórios do caso
comigo.
era um desculpa muito fraca, mas o que ele poderia dizer ? esperava
que colasse, por enquanto.
greg ficou parado, juntando os fatos, quando grissom pergunta:
gg: e em que eu posso ajudá-lo, greg?
gs: vim lhe avisar que mais duas mulheres foram encontradas; as
duas na represa hoover. grissom só pegou suas chaves, o telefone, e
seguiu greg até o estacionamento; nada falou, pois sentia sara ao seu
lado.
os três entraram no carro de greg, que se que se lembrou de algo:
gs: sara, você acabou um turno de trabalho, aposto que nem
descansou; isso não é bom para você; pode fazer mal para a
baixinha.
sara sabia que ele tinha razão.
ss: greg, obrigada por se preocupar, mas tenho que ir junto, pelo
menos desta vez; prometo que mais tarde eu descanso.
greg que segurava o volante tirou de lá uma das mãos e a levou até
sara, que estava ao seu lado, e fez um carinho no seu cabelo e depois
na sua barriga.
grissom não gostou do que estava vendo e queria deixar isto claro,
mas ...
gs: eu prometi que ia cuidar de vocês. e vou !
grissom engasgou-se de raiva e ciúmes. tinha um olhar furioso
fitando greg...
chegando ao local, os três desceram e grissom chamou sara para
perto dele:
gg: mas o que foi aquilo que eu vi, entre você e o greg ?
sara dá um sorriso suave e fala:
ss: nada, só um amigo me protegendo, num momento de perigo.
sara repete a fala de grissom, quando tentava se justificar por estar
junto de outra mulher. ele não deixa de perceber a ironia, e
reconhece que mereceu.
depois disso, foram ver os corpos; uma das mulheres mostrava
ferimentos de defesa. sara ainda
sentia-se nauseada ao ver os corpos das mulheres grávidas, por
motivos que todos, agora, podiam compreender; por isso, processou
o perímetro da cena de crime. os corpos logo foram fotografados e
levados para exame.
em poucas horas, já haviam sido feitos os principais exames nas
duas grávidas; uma delas havia
sido violentada e o sêmen foi coletado; seriam feitos os exames de
dna; o padrão das mortes combinava com os casos anteriores;
estágios de gravidez: seis e cinco meses.
grissom sai da sala meio pálido; estava cada vez mais assustado com
tudo aquilo; temia por sara e seu filho. seguiu direto para a sala de
descanso, onde estavam todos, menos sara
gg; gente, antes de começar, onde está sara?
sua preocupação era evidente.
sara aparece na porta, com péssima figura.
ss: desculpem, não me senti bem...
ns: você não está legal. dá para notar.
ss: estou ótima, é só enjôo matinal...
sara estava realmente passando mal; estava cansada, viu que não
podia fazer hora extra aquele dia, apesar de ter muita vontade de
ajudar no caso. não poderia ficar.
ss: grissom, se não causar problemas, vou pra casa descansar até a
noite.
gg: tudo bem; você deve mesmo ir, sara.
ela se despediu de todos e foi pra casa. foi direto tomar um banho;
escutou a campainha e lembrou que precisava pagar o condomínio;
pegou o dinheiro que deixara sobre a mesa e foi até a porta e abriu.
um homem, de máscara, a empurrou para dentro do apartamento; ela
tentou chegar até sua arma, mas foi puxada com rapidez, o que a fez
bater a boca na mesa, causando um grande corte em seus
lábios.tentou se levantar e lutar, quando sentiu um pano sendo
comprimido contra seu rosto, cobrindo boca e nariz; reconheceu o
cheiro ao sentir-se desmaiar.
no laboratório grissom estava impaciente, sentindo algo incomodá-lo
por dentro, quando jim aparece por ali.
jb: meu amigo, tudo bem ?
gg: sim, só estou preocupado com sara...
grissom falou sem perceber.
jim, olhou espantado para grissom, que se justificou:
gg: É que ela não estava se sentindo bem quando saiu, e me
preocupo com meu pessoal.
jb: ligue para ela e...
foi quando catherine chegou.
cw: ligar pra quem?
jb: o grissom está preocupado com a sara; ela parece que não estava
bem.
cw: sim, é verdade... eu deveria ter ligado mais cedo, mas fiquei
revendo todo o caso e nem vi o tempo passar. de qualquer forma, ela
deve ter deitado, para descansar e dormir; foi bom que não
ligássemos acordando-a, ou ela ficaria uma fera.
ela imediatamente discou o número da casa de sara, e caiu na caixa
postal. tentou o celular, ouviu-o chamar várias vezes, mas não foi
atendido.
cw: ela não está atendendo, já deve estar no banho.. talvez dormiu
pesado demais. É normal no estado dela.
grissom ficou mais nervoso.
gg: e se ela passou mal sozinha em casa, desmaiou ?
cw: relaxe, homem. ela deve ter ido ver o namorado, afinal porque
você pensa que ela está sozinha ? eles têm muitos planos para
fazer...
grissom ficou embaraçado, sem poder argumentar, e nem um pouco
tranqüilo. brass notou, e acabou por falar:
jb: mandarei uma viatura passar por lá e ver como ela está. assim
ficamos todos despreocupados. grissom ficou quieto, enquanto o
amigo falava no rádio e saía. ele e cath foram se reunir com os
demais, discutindo o caso.
grissom passou um olhar pelas fotos dos bebes, ficou pensativo,
cenho cerrado, sentiu-se inquieto, e se levantou para pegar um pouco
de café.
jim brass irrompeu na sala, tenso e pálido. olhou para grissom e
respirou fundo, antes de falar.
grissom percebendo sua expressão, nem sentiu o copo de café cair-
lhe das mãos. os colegas estranharam o incidente, e olharam
confusos para seu supervisor, quando brass conseguiu dizer o que é
necessário:
jb: sara sumiu.
ele não tinha como dizer aquilo de uma maneira mais delicada.
gg: como assim, ela sumiu... o que aconteceu com ela ? (ele estava
gritando, sem perceber).
não pôde continuar. tirou os óculos e pinçou o alto de seu nariz,
apertando os cantos interiores dos olhos, entre seu polegar, indicador
e médio, como se sua cabeça doesse.
ao ver sua reação, catherine entendeu o motivo de sua preocupação.
jb: acalme-se grissom; nós vamos encontrá-la.
gilbert grissom cambaleia até uma cadeira junto à mesa, senta-se , de
cabeça baixa e solta um gemido estrangulado; larga os óculos sobre
a mesa, e une suas mãos, comprimindo-as contra a testa. atônitos, os
colegas olham-no sem saber o que falar, pois ele parece estar
passando mal. o grupo tenta assimilar o que está acontecendo,
quando grissom levanta o rosto mostrando seus olhos azuis
embaçado de lágrimas, e suas mãos permanecem largadas sobre a
mesa.
gg: por favor, encontrem sara e meu filho, antes que alguma coisa de
mal aconteça a eles.
seu pedido foi dolorido e patético, vindo daquele homem tão pouco
afeito a demonstrar emoções.
a equipe ficou chocada e sem reação aquilo que ouviu, tentando
absorver o impacto de cada fato, como se precisasse de algum tempo
para processar estes dados.
greg, que já que desconfiava deste relacionamento, quando teve
certeza, logo lembrou que sara corria perigo. olhou para cath, que
começava a compreender, também, a extensão da tragédia com que
lidavam, quando viu o pânico espalhando-se no rosto de greg, e
soube que a hora era de agir, e rapidamente.
cw: fique calmo grissom, estamos indo agora mesmo para a casa
dela, todos nós, e vamos localizá-la, eu prometo.
apesar de sua promessa, catherine não tinha muita esperança de
encontrá-la, pois sabia que aquele que caçavam era muito esperto. e,
pior, não poderiam contar com a inteligência de grissom, que no
estado em que estava, além de não conseguir auxiliá-los precisaria
do seu carinho de amiga e do apoio de toda a equipe. ele teria que
ficar junto deles.
jim passava ordens pelo radio, alertando todas as viaturas, e
mandando que fossem vigiados cada um dos lagos da cidade.
quando chegaram ao apartamento de sara, a porta estava aberta e um
policial montava guarda.
logo começaram a examinar a cena, onde alguns objetos derrubados
sugeriam que ela havia lutado e, o sangue na mesa e no chão, apesar
de não ser muito, deixou-os perturbados.
grissom, ao ver o local, nada falou, mas todos perceberam sua
expressão ao olhar para aquele sangue. cada um deles temia saber o
que ele estava pensando.
greg, não falou com grissom, em momento algum, e evitava encará-
lo diretamente. sempre havia admirado-o muito, mas não o perdoava
por ter magoado sara, ficando ao lado de lady heather
nick stokes se resolveu a falar o que todos já haviam concluído, e
não queriam aceitar.
ns: não tem nada aqui, que nos conduza a algum lugar.
grissom cerra os punhos e sente vontade de socar o colega, mas sabe
que ele tem razão.
coletaram fibras, e cabelos escuros, provavelmente da própria sara;
colheram amostra do sangue, para verificar se era dela, e recolheram
as digitais de todo o ambiente, mas nada parecia muito promissor.
tinham que levar estes poucos indícios para o laboratório e verificar
o que os policiais que estavam interrogando os moradores do prédio,
e dos prédios vizinhos conseguiram obter.
xxxxxxx
xxxxxxx
xxxxxxx
sara olhava um cordão que grissom lhe dera, quando começaram a
se encontrar, e que ele gostava de saber que ela sempre o usava. era
de ouro, com um pingente duplo, em forma de coração, que quando
se abria, mostrava seu nome gravado. ela suspirou baixinho o nome
dele, quando a porta se abriu. era seu carcereiro, o homem que a
cuidava de sua prisão, trazendo seu almoço.
hoje ele estava irritado, e falava consigo mesmo:
cc: então ela pensa que agora pode simplesmente me descartar, para
ficar com aquele cientista forense ?
sara escutou estas palavras com seu coração acelerado...
ss: a quem você está se referindo ?
o homem olhou pra ela com desprezo, cheio de rancor.
cc: aquele seu namorado, pensa que pode ficar com lady heather;
recebeu ela de braços abertos, e ela quer se livrar de mim, como se
eu fosse um monte de lixo. mas eu vou me vingar eu já tenho meus
planos. ele olhou tão friamente para sara, que ela temeu por seu
filho...
ss: pois me solte, e você terá sua melhor vingança !
cc: não, você é assunto que ela quer liquidar pessoalmente.
sara estava muito assustada, com aquele homem tão submisso a lady
heather, que agora mostrava sua fúria. seu coração estava apertado,
tentando imaginar o que aquele maluco pretendia fazer.
ao mesmo tempo, se perguntava se grissom havia realmente aceitado
lady heather em seu lugar.
ela começou a chorar baixinho...
ce: não banque o tolo comigo, você entendeu muito bem! ligue para
sua supervisora imediatamente.
grissom ligou para o número de catherine:
gg: catherine, acharam mais dois corpos. o ecklie vai passar o caso
para nosso turno. por deus, cath, pegue o caso...
cw: É claro, grissom, mas não posso cuidar dele pessoalmente, pois
lindsay está doente. eu realmente queria muito estar aí, mas minha
filha precisa de mim. por ora, vou mandar greg acompanhá-lo.
algum problema ?
gg: lógico que não! e, catherine, muito obrigado.
cw: eu vou ligar para ele.
grissom retornou ao laboratório e foi direto ao necrotério, onde os
corpos já sendo preparados para a necropsia. quando entrou, greg
encontrava-se a espera dele:
gs: grissom, não dá para saber se é ela. será preciso esperar o exame
de dna; você sabe como o processo é demorado...
a cabeça de grissom começa a latejar; ele tinha desejado muito que
surgissem novas pistas, mas
imaginar que sara pudesse estar lá, dentro da morgue, enchia-o de
pânico.
greg sentou em uma mesa; suas pernas tremiam e ele sentia vontade
de chorar; mas precisava se mostrar forte; a raiva que estava
sentindo de grissom, por causa de lady heather, ajudou-o a conter-se.
sara estava angustiada. precisava encontrar um jeito de fazer com
que seus amigos soubessem o que havia acontecido com ela, e
descobrissem quem estava por trás de tudo aquilo ... temia as
conseqüências, que poderiam recair sobre sua criança e, ao mesmo
tempo, não suportava a idéia de grissom sendo enganado, envolvido
por aquela mulher... ao mesmo tempo, se perguntava como ele
poderia ter gerado um filho com a outra, e a resposta desta questão
era sempre muito amarga... ela poderia morrer a qualquer momento,
sem que ninguém descobrisse a verdade. nem ela própria...
estava presa num local onde o tempo não existia, nem trazia
qualquer esperança de liberdade.
grissom faz um movimento de cabeça e pergunta se greg não vai
com ele, assistir às autópsias; está muito pálido, ao pensar em quem
pode estar sob o bisturi do legista, mas tem que realizar seu trabalho
da melhor forma possível e sabe que alguém envolvido no caso tem
que estar lá, durante o procedimento. ele sabe que greg está
sofrendo, e que isto poderia ser demais para ele; fica comovido e
diz:
gg: eu posso fazer isto sozinho; não precisamos estar os dois lá
dentro... você pode ir analisando o material coletado na cena dos
crimes, e ver o que o pessoal do ecklie encontrou; ele já sabia que ...
do que se tratava, quando nos passou o caso. veja o que eles
encontraram, as fotos, tente achar algo que nos dê um indício para
encontrarmos... o responsável por estes... atos.
vestindo o avental adequado, grissom entrou na sala onde, nas macas
metálicas, os corpos anônimos começavam a contar seus segredos ao
dr robbins.
um csi do turno do dia entregou a greg, que era o responsável pelo
caso, uma pasta com as informações que tinham recolhido. a
primeira coisa que viu, foram as fotos dos corpos, que eram apenas
dois troncos desmembrados, imagens terríveis para se associar a
alguém que se conheceu. pensou em grissom, olhando o exame
daqueles horríveis restos humanos, e sentiu abrandar um pouco sua
raiva, porque tinha certeza de que ele estaria sofrendo, com ou sem
lady heather em sua vida. questionou-se se não devia estar lá
também. e decidiu que também assistiria a necropsia; poderiam
examinar o que fora coletado posteriormente, juntos. eles dois
estavam trabalhando no caso; precisava aceitar isto, além de
reconhecer que a experiência de grissom era um fato a considerar
seriamente, por mais que estivesse decepcionado com ele. vestiu um
avental, respirou fundo, e entrou na sala dos exames.
os dois homens lá dentro, olharam interrogativamente para ele, mas,
ao ver sua expressão decidida, nada disseram.
olhar de perto aquela monstruosidade, foi um choque para greg, que
mesmo sabendo o que veria, não conseguiu conter suas palavras:
gs: maldito psicopata ! quando eu pegar este sujeito...
grissom, de forma automática, tentando manter sua mente longe do
desespero que sentia, nem percebe que começa uma preleção
textual:
gg: autores psicanalíticos consideram a psicopatia como uma grave
patologia do superego, como sendo uma síndrome de narcisismo
maligno, cujas características seriam a conduta anti-social, agressão
ego-sintônica dirigida contra outros em forma de sadismo, ou
dirigida contra si mesmo, em forma de tendências automutiladoras
ou suicidas, sem depressão e de conduta paranóide.
a estrutura de tipo narcisística do psicopata teria as seguintes
características: auto-referência excessiva, tendência à superioridade,
exibicionismo, dependência excessiva da admiração por parte dos
outros, superficialidade emocional, crises de insegurança que se
alternam com sentimentos de grandiosidade.
portanto, dentro das relações de objeto (com os outros), seria intensa
a rivalidade e inveja, consciente e/ou inconsciente, refletidos na
contínua tendência para exploração do outro, incapacidade de
depender de outros, falta de empatia com para com outros, falta de
compromisso interno em outras relações...
greg ouvia tudo, com espanto.
o dr. robbins, entendendo o que se passava, olha o amigo,
interrompendo suas palavras, com suas próprias conclusões:
dr. ar: as vítimas estão mortas há pelo menos noventa dias; foram
mortas do mesmo modo que as outras; os fetos foram atingidos por
um objeto cilíndrico, de ponta aguçada, que não deixa marcas de
empunhadura, o que sugere algo como um longo estilete... uma
estocada fatal para os embriões, mas não mortal para as mães, que
tem intensa hemorragia. em seguida, são também trespassadas na
altura do coração, o que nos dá a causa de seus óbitos. nos dois
casos atuais, os corpos foram desmembrados com um instrumento
cortante, serrilhado, mecânico ou elétrico, uma vez que os cortes são
retos, sem hesitação, na base do pescoço, articulações dos braços e
pernas. as mutilações foram infringidas antes da rigidez cadavérica,
provavelmente logo após a morte, tendo havido uma grande
drenagem de sangue. não há como definir qual das vítimas foi à
primeira, nem qual o espaço de tempo entre elas. provavelmente,
muito próximo, uma vez que sua decomposição apresenta
semelhante desenvolvimento. os troncos foram preservados através
de resfriamento, ou seja, foram congelados e assim permaneceram,
até o momento de serem carregados para o local em que foram
encontrados. os senhores devem procurar uma cena de crime
primária, pois elas não foram mortas e ... cortada no local.
receberão meus relatórios detalhados, com os resultados das análises
de fluídos, dna e toxicológicas, mas não deverão ter muito mais
novidades.
jb: você acha que ele está bem? porque os cabelos ficaram tão
importantes de repente?
cw: eu espero que ele saiba o que está fazendo. ele costuma saber.
grissom não vai aceitar a derrota facilmente. o melhor consolo para
ele é o trabalho. e para nós também. eu ainda não sei como me sinto
a respeito de hoje; eu só sei que vou virar esta casa pelo avesso e
encontrar tudo que houver para encontrar aqui, ou não me chamo
mais catherine willows.
jb: vou cuidar do jardim e do resto do terreno. acho que ainda
lembro como se faz...
no carro, a caminho do laboratório, greg já não consegue manter
silêncio:
gs: você se acalmou rapidamente. nem a morte dela consegue abalá-
lo?
gg: não quero acreditar que sara esteja morta, greg. não vou
acreditar enquanto eu não ver seu corpo na mesa do legista. perder
um filho que nem nasceu é uma dor muito grande, e terei que
carregá-la pelo resto de minha vida. mas não estou pronto para
perder definitivamente a mulher que amo. portanto, sei que ela ainda
está viva.
greg olhou espantado para o colega. sentiu-se envergonhado, de ter
acusado-o de indiferença, pois, embora suas palavras tenham sido
ditas com tranqüilidade, não escondiam a profunda emoção, e havia
sinceridade nos sentimentos que ele expressara de forma tão direta.
recuperando toda a confiança que sempre tivera em grissom, greg
dispõe-se a seguir suas ordens, sejam quais forem.
gs: e então, o que faremos a seguir?
gg: vamos aguardar o resultado dos exames de dna.
gs: e enquanto esperamos, não faremos nada?
gg: você vai continuar procurando a origem daquela serra. conseguiu
algo ali, não?
gs: sim, um modelo, de acordo com a distância entre os dentes, seu
formato, inclinação e material que a compõe: ferro, carbono,
estanho, chumbo e, acredite ou não, uma liga especial de níquel. o
ferro era usado em vez do aço, porque mantém o fio mais agudo, e
sendo aquecido e atingido por jatos da mistura...
gg: não precisa me informar todo o processo industrial, greg.
identificou o fabricante?
gs: ... É um modelo em desuso. de acordo com os registros da
fábrica, interromperam sua produção há quase três anos; alteraram
toda a linha, de acordo com as exigências do mercado. prometeram
enviar uma listagem da distribuição do produto, de todo o período
em que o produziram. tivemos sorte, a fábrica não só produz as
serras, que são exclusivas, como monta os equipamentos de corte
que as utilizam. só eles vendem estas máquinas. a maior parte aqui
mesmo em nevada. uma empresa pequena, especializada em... ok,
estou falando mais do que o necessário, novamente!
gg: muito bem, greg. você está fazendo um ótimo trabalho. prossiga
nesta investigação; ela pode nos levar ao lugar onde o assassino
agia... podemos encontrar o que é realmente importante lá, neste
local...
gs: você acha que ela pode ter sido levada para lá? vou descobrir
este endereço, nem que tenha que examinar cada açougue deste
condado... ou do resto do estado.
gg: e eu, enquanto espero, vou reler aqueles relatórios, e localizar
um fio de cabelo!
lh: quem matou marcel? ele era meu médico, cuidava de nosso filho;
era quem faria os exames que você desejava... não entendo, porque
alguém o mataria? ele era rico, é claro...
estou falando bobagens. a notícia abalou-me profundamente. eu
gostava tanto dele, era um homem bom, um amigo... porque você
não me conta o que aconteceu? eu gostaria de saber. não vou
comentar o assunto com ninguém, mas você pode falar comigo,
dividir seu trabalho, suas preocupações... eu sou a mãe de seu filho,
lembre-se... pelo menos por este motivo, você vai me visitar muitas
vezes. considerar-me como uma amiga vai tornar a situação mais
confortável.
gg: não somos amigos. vim vê-la, para pedir que se acalmasse, mas
percebo que você já voltou ao seu normal, forte e controladora, e
que está bem. posso dizer-lhe que o dr. marcel suicidou-se,
deixando uma confissão sobre o assassinato das mulheres grávidas e
seus filhos. aparentemente, ele atingiu um estado de insanidade em
que se considerava o responsável por gerar todos os bebês que
poderiam nascer. encontramos, ainda, uma cela, em sua casa, onde
pelo menos uma mulher deve ter estado prisioneira. pertences de
sara, a mulher que amo, estavam lá, bem como sangue e sinais de
luta, que podem significar que era ela quem estava lá; e ele declara
ter matado esta cativa, possivelmente na noite passada.
eu lhe conto isto, porque notícias vão sair nos jornais e não sei o
quanto será dito. só sei que estarei ocupado e, enquanto não
solucionar este quebra-cabeças, e encontrar o corpo dela, vivo ou
morto, não terei tempo para conversas sociais com você.
ah, não se esqueça de procurar um outro médico... acho que na
clínica de spring valley há vários. ainda poderá usar os mesmos
laboratórios e nem precisará fazer nova ficha. cuide-se, para que esta
criança fique bem. quando todo este inferno terminar,
conversaremos sobre este filho e o que será melhor para ele.
grissom sentia-se irritado e agressivo com lady heater. a certeza de
que sara estava viva há tão poucas horas, enchera-o de raiva da
mulher de quem se despedira tão friamente. coincidência ou não, o
fato dela ser cliente do médico que mantivera sara em cativeiro, e
dizia tê-la matado, estava enfurecendo-o, como se heater soubesse
de algo a este respeito. estas visitas não eram mais um prazer para
ele, desde quando deixaram de ser amigos; agora, com a gravidez,
tornaram-se uma obrigação incômoda, mas hoje, ele sentiu-se
simplesmente manipulado por aquela mulher, que só desejava
dominá-lo. não sabia o que fazer quando seu filho nascesse.
grissom sentia-se irritado e agressivo com lady heater. a certeza de
que sara estava viva há tão poucas horas, enchera-o de raiva da
mulher de quem se despedira tão friamente. coincidência ou não, o
fato dela ser cliente do médico que mantivera sara em cativeiro, e
dizia tê-la matado, estava enfurecendo-o, como se heater soubesse
de algo a este respeito. estas visitas não eram mais um prazer para
ele, desde quando deixaram de ser amigos; agora, com a gravidez,
tornaram-se uma obrigação incômoda, mas hoje, ele sentiu-se
simplesmente manipulado por aquela mulher, que só desejava
dominá-lo. não sabia o que fazer quando seu filho nascesse.
grissom faz perguntas a brass, mas este diz apenas que o helicóptero
de socorro já está no heliporto do hospital.
jb: a polícia vai isolar a área do lago onde...
horácio, vê sua presa escapar. por enquanto, tudo que ele pode fazer,
é voltar para seu esconderijo. heater vai se acalmar, e pensar
melhor... ela quer a criança, voltará por causa dela. agora, deve
voltar ao seu próprio território. tranca a frente da clínica, ajeita os
equipamentos e o que precisa ser levado; usa a passagem interna,
que comunica com a garagem, para não chamar a atenção dos
vizinhos. aciona a porta da garagem e sai. volta ao matadouro para
esperar notícias da sua lady até a noite. caso ela não se decida, ele
irá buscá-la em seu próprio domínio. não vai esperar mais. É sua
hora de tê-la, poder amá-la, longe de todos...
no desert palm, suíte 622, grissom confronta uma pálida lady heater,
angustiada, com dores devido às contrações...
lh: grissom! É bom que esteja aqui. com você ao meu lado durante o
parto, sei que tudo dará certo... nosso filho vai viver, e você ficará
sempre junto de nós...
gg: pare com isto! pare de fingir! chega. acabou! este filho... não é
meu. você me fez de bobo... já não importa. minha filha, minha
verdadeira filha, está aqui... e vou buscar a mãe dela, a mulher que
amo... ao lado dela... sim, ao lado delas eu ficarei.
lh: não, não é verdade... É o nosso filho, fruto de nossa linda noite
de amor! você não pode negar isto... não pode esquecer aquela noite,
quando me amou com tanta paixão e...
gerou nosso filho... sofri tanto, por vê-lo com outra... mas você
voltou para mim, você me ama, não entende...
descontrolada, ela gritava frases desconexas. em desespero, tentava
usar os próprios gritos para abafar as palavras duras de grissom... ele
descobrira algo... jamais falaria assim, sem ter provas... ele falara de
uma filha, ali...
lh: maldito, maldito horácio. ele trouxe o bebê, o bebê que seria
meu... eu esperei tanto, suportei esta gravidez inútil todos estes
meses... enquanto aquela desgraçada tinha tudo, tinha você, tinha
uma criança saudável... eu não ia perder você... eu não podia perder
mais uma vez minha filha... eu disse para ele mantê-la presa, até que
a criança pudesse ser arrancada dela e entregue para mim...
brass, que entrara discretamente no quarto, e se surpreendera
favoravelmente com as primeiras palavras de grissom, aproximou-se
neste momento, encolerizado, com tudo que aquela mulher estava
dizendo.
grissom, que a princípio julgara ser uma reação puramente histérica,
ouvia com horror as palavras dela, percebendo seu perverso
significado. uma fúria desmedida brilhava em seu olhar, quando ele
avançou um passo na direção do leito.
gg: você fez isto, planejou tudo... você... você queria a morte de
sara... tirar a filha de sara... você é uma... assassina... tenho vontade
de matá-la neste momento, com minhas mãos...
jb: não faça loucuras, gil. deixe este prazer para mim... você tem
uma filha para criar...
desta vez, nem todos os juízes do estado vão salvá-la... mas não
aqui... não agora, com tantos recursos ao alcance dela, e tantas
testemunhas...
eu vou querer interrogá-la... vai ser um lindo interrogatório...
lh: vocês não entendem? a criança era minha, ela a roubou de mim,
roubou meu amor, roubou minha filhinha, minha linda zoe... tinha
que morrer... quem matou zoe merecia morrer... você não devia ter
me impedido, grissom... disse que era meu amigo, que queria me
ajudar... mas zoe continuava morta... aquele monstro não merecia
viver...
um médico acudira aos gritos de lady heater, dizendo que ela
precisava ser sedada. eles deviam sair do quarto agora. ela não
estava em condições de falar com ninguém. a bolsa amniótica havia
estourado, ela tinha que ser levada para a cirurgia com urgência...
breve o bebê entraria em sofrimento...
médico: algum de vocês é o pai da criança?
jb e gg: nÃo!
médico: parentes, amigos?
jb: pergunte-me isto quando ela estiver na cadeia.
gg: não. não creio que ela tenha parentes... sua filha morreu, não tem
marido...
médico: vocês... ?
jb: somos adivinhos. prevemos o futuro dela.
médico: alguém deveria ser avisado...
grissom estende um cartão para o médico:
gg: estes são os advogados dela. fale com eles... avise-os que ela vai
precisar muito deles. vamos jim, eu vou procurar minha mulher...
saíram do quarto em silêncio, e rumaram para o elevador.
o celular de grissom emite vibrações, ele atende.
horácio lamenta por sara. não pretendia deixar que nada de mal
acontecesse a ela. mas ela escolheu fugir, e levar o bebê... ele
percebeu que ela quisera enganar-lo, escondendo a criança em
algum lugar, na esperança de salvá-la... e sacrificara a si mesma,
como isca.
ele não encontrara o bebê... não tinha importância, se ainda não
estivesse morto, logo estaria. sem comida, sem cuidados... nem valia
a pena procurá-lo mais.
ele fizera o melhor possível.
agora, precisava buscar sua lady. invadir o domínio, e carregá-la. já
estivera lá, sabia como chegar aos aposentos dela... e então partir.
não precisaria voltar ao esconderijo.
talvez, fizesse uma ligação anônima...
gg: você sabe onde é o local? sara tem que estar lá. heater falou que
mandou detê-la...
precisamos resgatá-la... ela está em perigo. está nas mãos do
monstro que matou todas aquelas mulheres e ele vai matá-la...
jb: qual o endereço, greg? vou enviar viaturas para lá...
gs: abatedouro e frigorífico star... tem um acesso privativo, a partir...
jb: central, aqui brass, homicídios. preciso de reforços, antiga
estrada para lake mead nort cânion; 10-14, com refém, repito:
suspeito é perigoso e mantém como refém um dos nossos. deverão
aguardar na entrada do frigorífico star. fechar o cerco e esperar meu
sinal. câmbio e desligo.
gg: vamos buscá-la.
parte final:
horácio não encontrara lady heater. descobrira, com uma das garotas
que ela estava no hospital, em trabalho de parto.
então, tudo acabara. ele nada mais podia fazer... o filho do perito já
estava nascendo. ele estaria lá... com ela... logo saberiam que a
criança era saudável. o outro o vencera, afinal... teria seu filho... e
sua mulher também.
no hospital sua lady estava fora do seu alcance... ele poderia vê-la,
mas não havia como levá-la. ela ficaria furiosa quando soubesse que
ele mentira a respeito da criança. nunca o perdoaria. ele sonhara em
tê-la em seus braços nas areias de silver beach, amá-la sob os raios
prateados do luar dos amantes...
desde muito jovem, quando um amigo de seus pais falara sobre as
estórias da praia que unia para sempre os que se entregavam em suas
areias, desejou conhecê-la... muitas vezes andou por aqueles lugares,
passou noites à beira da água prateada, até saber tudo sobre o local,
seus acessos, o movimento de visitantes em certas épocas... o grande
lago artificial e a barragem no meio do deserto o fascinavam... em
suas férias e folgas, não era pelo prazer do jogo que vinha à las
vegas, com seus tolos amigos, mas sim pela sedução sensual daquele
recanto... quando conheceu a mulher de cabelos negros e olhos de
fogo, no domínio, ansiou por unir-se a ela naquele lugar perfeito,
tornando-a sua para sempre. como um adolescente bobo, entregara-
se a ela, a disposição de todos os seus caprichosos desejos, até vê-la
rastejar por outro homem e usá-lo...
voltou para o matadouro. estava cansado... perdera tudo. ia esperá-
los... sua lady já devia estar contando sobre este local... ela era
inteligente... só precisava se livrar dele, horácio, e estaria livre. ela
dissera que ninguém descobriria que o local lhe pertencia.
com sara fora do caminho, seria fácil ser apenas mais uma vítima.
ele facilitara tudo para ela, ao se livrar do médico beberrão. no final,
nada havia contra ela. ele não se importava mais. gostaria que ela
ficasse livre, tivesse seu filho... mas...
o outro, aquele que a roubou, morreria. tomada sua decisão, buscou
sua arma, uma glock 19, semi-automática, nove milímetros,
verificou se os dez projéteis estavam no pente e considerou com
ironia a situação:
h: matarei o homem que destruiu meu sonho e depois me matarei.
um tiro em cada cabeça, e nós dois estaremos estendidos lado a lado,
no necrotério...
com uma silenciosa gargalhada prediz que irão se encontrar no
inferno...
senta-se à mesa e começa a escrever sua história, enquanto espera.
acha que será bom que alguém saiba de tudo em detalhes... desta
vez, ele vai cooperar com a polícia.
lady heater, abalada mentalmente desde a perda da filha zoe, tem sua
criança saudável, mas não recuperas sua sanidade.
seu filho, um menino, é retirado da custódia dela. depois da
divulgação do caso, nos noticiários o pai biológico do menino, que
concordara em ser doador, sem conhecer as intenções dela,
reconhece a mulher que lhe fizera tal pedido, e se apresenta, em
busca da criança. sendo solteiro, um fuzileiro naval a ser embarcado,
entregará o menino para seus pais, que moram na flórida.
lady heater fica sob custódia judicial, após ser examinada diversas
vezes, por vários especialistas que confirmam sua incapacidade
legal. os anos após o nascimento de sua filha foram apagados de sua
mente. confinada em uma instituição para tratamento, ela vive seus
dias na ilusão de que a boneca que possui, igual a que lhe fora
mostrada por horácio, se trata de sua filha zoe, ainda bebê.
seu caso é considerado irrecuperável. a dominatrix foi subjugada.
fim