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queria agradecer a inês que

me deu tanta força para escreve essa fic.

“a ciência não me preparou para o que estou sentindo. que


experimento poderia descreve a sensação”
gil grissom
grissom chegou na sala de descanso distribuindo os casos da
noite.
gg:sara, você e greg vão investigar um corpo encontrado perto de
um lago.
catherine e stokes, também um corpo em um lago, só que do lado
oposto da cidade.
warrick, você vem comigo; uma mulher foi atacada e está no
hospital. vamos.
todos se separaram e seguiram seus caminhos.
...
sara e greg já viram as luzes brilhando, indicando o local;
estacionaram o enorme tahoe, saíram os dois, e foram olhar o corpo.
uma mulher, jovem, grávida de aproximadamente nove meses,
cuidadosamente arrumada, estava estendida ali. sempre era triste ver
um corpo, mas aquele, em especial, abalou os dois csis.
sara, que teve um forte choque, e se sentiu um pouco nauseada,
falou a greg:
ss: hei, greg, não estou muito legal; você poderia ficar com corpo,
enquanto eu cuido do perímetro?
gs: o que você tem sara?
ss: este corpo me chocou um pouco, sei lá ...
greg olha preocupado para a amiga, que está pálida.
gs: claro sara. mas você esta bem mesmo ? talvez devesse ir para
casa.
sara dá um sorriso tenso.
ss: imagina, eu to ótima. obrigada, greg.

catherine e nick estavam parados, indignados, olhando para o corpo.


ns: dá pra acreditar que tem gente capaz de fazer algo assim ?
cw: infelizmente, fazem. mas para isso estamos aqui; vamos
descobrir o culpado, e arranjar-lhe alojamento na cadeia.
o corpo era de uma mulher de meia idade, em que o avançado
estágio de gravidez era notável.
catherine abaixou-se, para poder olhar detalhadamente o corpo.
chocada, ela aponta para uma
perfuração na barriga da vítima.
cw: nick, veja isso!
ns: parece que quem matou a mulher queria ter certeza que matara
também o bebe.
cw: não só isso; parece que ele foi o motivo do ataque, o local do
primeiro golpe ! bem, temos
que esperar o legista. só a autópsia vai nos dar certeza.
após o exame local do legista, e a liberação do corpo, os dois
processaram a cena do crime e voltaram para o laboratório com as
evidências coletadas. não haviam encontrado muita coisa e não
ficaram muito satisfeitos.
após encaminhar o material, seguiram para a sala de descanso.
catherine se joga no sofá, desanimada.
nick lhe serve uma xícara de café.
logo a seguir, sara e greg entram conversando sobre seu caso.
sara parecia estar melhor.
gs: puxa, pessoal, não vão nem acreditar no nosso caso...
ns: depois do que eu vi hoje, pode aposta que não vai me
impressionar...
ss: uma mulher grávida, morta, aparentemente por causa do bebe,
que foi assassinado ainda em seu útero, antes dela....
catherine olhou para nick, com um olhar confuso.
ns: vocês estão brincado, não ?
gs: e você acha que brincaríamos com uma coisa dessas?
ns: nosso corpo também...
antes que pudesse concluir a frase, grissom entra na sala.
gg: oi. já voltaram ?
todos respondem seu cumprimento.
gs: não vai me dizer que você também achou uma mulher grávida ?
grissom olha por cima dos óculos.
gg: por que ? eu deveria?
cw: nada disso, é que nossos casos apresentam uma estranha
semelhança e
warrick, que chegara na porta e ouvia a conversa, vê sara passar
rapidamente por ele, muito pálida. então, entra na sala perguntando:
wb: o que deu nela???
grissom, concentrado nos detalhes de ambos os casos, estranhamente
iguais, se perdera em seus pensamentos, buscando um significado
para estes fatos, pois sua mente arguta já previa algo abominável;
não havia reparado na saída de sara. nem mesmo via o que acontecia
a sua volta, enquanto raciocinava ferozmente. É arrancado deste
transe, pelo medo súbito que o golpeia, pois instintivamente, logo
sabe sobre quem estão falando.
gg: o que aconteceu com sara?
wb: eu não sei, estou perguntando pois ela passou...
greg, que só esperava uma oportunidade para falar de sua
preocupação, diz:
gs: ela não está bem hoje! quando fomos investigar nosso caso, após
ver o corpo, ela até pediu
para cuidar do perímetro...
grissom, nem o esperou acabar de falar, saindo à procura dela.
nervoso, viu-a retornando lentamente pelo corredor.
gg: hei, sara, você está bem?
a resposta de sara vem um tanto áspera:
ss: lógico que estou ! por que não estaria ?
gg: soube que você anda se sentindo mal. o que você tem? está bem,
mesmo ?
ss: só tive um pouco de dor de cabeça, grissom. você sabe bem
como é isso, não ? talvez seja contagioso..., disse com aquele sorriso
secreto, só seu, enquanto se sentia satisfeita de ver como ele estava
preocupado por ela.
grissom examina-a, com olhos protetores e possessivos, então solta
um pequeno suspiro enquanto pensa em como ela é capaz de abalá-
lo tanto. arquei uma sobrancelha, numa expressão intrigada.
ss: pode ficar tranqüilo, estou ótima, diz com um largo sorriso.
os corpos já haviam chegado ao necrotério. greg e sara foram ver se
havia alguma novidade. eles não tinham sido chamados para a
autópsia, não sabiam quando seria, mas queriam ver se no exame
inicial algo mais fora encontrado, para poderem começar o trabalho
rotineiro do caso. eles precisavam identificar a vítima, e digitais e
dna seriam o primeiro passo.
dr. ar: ainda não fui longe com os corpos, mas posso quase afirmar
que as duas mulheres morreram da mesma forma. quanto aos
bebês...
enquanto falava, o dr. albert robbins pegou o bisturi e fez uma
incisão no abdome da mulher.
dr .ar: É incrível como esse mundo é cruel...
ele retirou de lá um bebe totalmente formado; havia um buraco na
cabeça da criança, onde tivera o cérebro transpassado, ainda no
interior do corpo da mãe, que pelo sangramento, só fora morta
depois de ver seu filho ser assassinado daquela forma tão brutal;
algo cônico, comprido e afiado, como um pino longo, afilado com
precisão, como o fuso de uma antiga roca de fiar, como nos contos
de fadas, como aquele que espetou o dedo da bela adormecida,
monologava o doutor, com um humor muito ácido. aqui não havia
mágica que despertasse seus mortos, as vítimas...
ele deitou o pequenino corpo, com tanto cuidado, como se estivesse
ainda vivo. já fora tão machucado...
grissom, catherine e nick estavam chegando na porta do necrotério,
quando sara desabou. greg mal conseguiu ampará-la nos braços,
antes que caísse completamente desacordada.
grissom se dirigiu em para ela, angustiado:
gg: sara !
ela voltou a si, firmando-se de joelhos, enquanto empurrava grissom
e greg, e começava a vomitar sem poder conter-se; ficou
extremamente embaraçada e começou a zangar-se consigo e com
todos que presenciavam a cena.
o dr. albert robbins se aproximou dela, ajudando-a a levantar-se, com
seu jeito especial de médico, enquanto perguntava:
dr. ar: está se sentindo melhor, sara ?
grissom sentiu uma dor fria percorrer seu peito, pois não sabia como
ajudar sara. queria levá-la dali, cuidar dela, e tinha que fazer tanto
esforço para não abraçá-la e revelar seus sentimentos...
gg: eu vou levá-la a um hospital...
ss: nem pensar. eu estou Ótima ! respondeu, cada vez mais zangada.
gs: não está, não sara ! (greg não conseguiu conter-se. mostrava sua
preocupação claramente).
ss: eu só fiquei um pouco abalada com o corpo de um bebê, gente. É
só isso. não posso ser sensível, ás vezes ?
gg: desde quando corpos, mesmo de bebes, abalam você ? você já
viu tantos, de todas as idades, e sempre se manteve controlada... está
doente, é visível...
dr: posso falar com você sara?
ss: claro, dr. robbins. mas saiba que estou bem.
dr: em particular, por favor.
os outros saíram da sala e ficaram esperando do lado de fora, no
corredor frio.
grissom nunca havia sentido tanta apreensão antes; a ansiedade o
corroia por dentro, e ele precisava escondê-la.
após alguns minutos, sara saiu bastante pálida.
grissom se aproximou:
gg: sara, o doutor acha que você está bem ?
sara deu um sorriso com os músculos de sua boca, mas seu rosto
mostrava-se perturbado.
ss: eu não me tornei uma das pacientes dele, grissom. como vê,
ainda estou viva; só conversamos; ele não espera cuidar de mim tão
cedo.
o turno já estava acabando. sara chamou grissom a um canto e
pediu-lhe para sair um pouco mais cedo.
gg: você deve sair agora mesmo. afinal, sara, você tem muitas horas
de trabalho além do horário; precisa mesmo descansar. isto não é um
favor; é de seu direito.
ela fez uma cara bem maliciosa, ao responder:
ss: vou estar acordada, lhe esperando. você pretende demorar ?
gg: pode esperar. não vou reler nenhum livro hoje !
trocaram olhares, um sorriso tão íntimo, que só eles conheciam, e
sara saiu. grissom ficou olhando-a sair, se sentido tão só, de repente.
mas precisava fazer o trabalho prosseguir. sacudiu a cabeça, e seguiu
para sua sala.
aquele caso só foi ficando mais complicado e, no final do turno
grissom estava cansado e sentia que não tinham avançado
absolutamente nada. só se confirmara que os crimes foram iguais,
provavelmente cometidos pela mesma pessoa. mas não tinham
nenhum suspeito, motivos, nada. ele, no momento, só queria chegar
em casa, ver como sara estava, ficar junto dela, olhá-la... imaginava
a cena, enquanto se dirigia para seu carro, quando lady heather
apareceu. fazia um bom tempo que ele não a via, não queria pensar
muito sobre seu último encontro. sempre a considerara uma boa
amiga, e tinha contado com os conselhos dela num momento difícil;
bom, ela não tinha ajudado naquela vez. sentiu uma sombra cruzar
seu rosto, mas fez força para sorrir. ela era uma mulher muito linda,
além de inteligente, com profunda percepção das emoções humanas,
algo que sempre o deixava confuso. havia sido uma ótima amiga, em
outros tempos, e ele não sentia raiva contra ela. além do que, se ela o
procurava, era porque tinha seus motivos. ele não se recusaria a
ouvi-la, ou ajudá-la. todos estes pensamentos passavam rapidamente
por sua mente, enquanto se aproximavam; neste momento, uma
rajada do vento noturno abriu a elegante capa que ela usava, e ele
percebeu que ela estava lindamente grávida. ficou feliz por saber
que ela teria nova oportunidade de ser mãe. alegrou-se por ela e,
quando ia dar-lhe suas congratulações,
ela falou com voz embargada:
lh: grissom, preciso de ajuda. eu não o procuraria, se não fosse
grave. mas você é o único homem em que confio e, neste estado,
preciso confiar em alguém. ajude-me, por favor.
confuso com o desespero dela, ele só consegue murmurar:
gg: o que eu posso fazer...
lh: estão querendo me matar !
gg: quem ? por que ?
lh: não posso contar aqui. vamos ate minha casa? não me negue este
pedido !
grissom pensou um pouco. não podia recusar, não sendo grissom.
gg: você esta de carro?
ela respondeu, ofegante e assustada, que não.
gg: então, entre. vamos, embora eu não possa demorar.

nick e catherine encontraram uma digital no celular de uma das


vitimas e, após compará-la com as da própria vítima, sem resultado,
animaram-se, com esta primeira pista.
ns: possível suspeito?
cw: espero que sim.
colocaram no sistema que ficou buscando um resultado compatível.
o banco de dados era imenso, não havia como prever o tempo para a
busca se completar; poderia ser de 4 minutos, ou 4 horas, e nem
tinham certeza de que haveria uma combinação. só desejavam que
aparecesse alguém, para poderem interrogar.
resolveram ir pra casa, descansar um pouco.

enquanto isso, sara ainda esperava grissom; preocupada, ligou para o


celular dele, que estava desligado. achou estranho, mas pensou que
ele poderia ter ficado sem bateria. grissom não lembrava de coisas
sem importância, quando estava envolvido com um caso difícil.
deito-se na cama, para repousar o corpo, e acabou adormecendo.
sara acordou às 18:00 horas. ficou espantada com o tempo que
dormiu; olhou para o lado e o viu vazio; seu primeiro pensamento
foi ligar para grissom. onde ele estaria ? o celular continuava
desligado. será que eles haviam descoberto algo, e ele trabalhara até
agora ?
tomou um banho, comeu, e foi direto para o laboratório.
ao chegar, e ver nick e catherine saindo, perguntou:
ss: hei, pessoal, vocês viram o grissom?.
cw: não, e estou estranhado ele não chegar cedo, ainda mais com um
caso desses por resolver.
foi então que warrick chegou com novidades:
wb: gente, vocês não vão acreditar ! hoje foi encontrado mais um
corpo, com as mesmas características dos outros dois.
cw: bom gente, temos um suspeito e estamos indo pra lá, falar com
ele agora e, como os casos parecem ser do mesmo assassino, vamos
juntas sara? os rapazes podem ir examinar o novo caso.
ss: claro
nick e warrick foram processar a nova cena de crime, onde fora
encontrado outro corpo.
ss: e quem é nosso suspeito?
cw: lady heather; uma velha conhecida de outros casos, sempre
como suspeita.
sara sentia ciúmes da dominatrix, mas tinha que esconder. procurou
disfarçar seu mal-estar.
cw: e então, sara, está melhor ?
o comentário foi seguido de uma risadinha irônica.
sara entendeu o recado.
ss: estou ótima, já me sinto bem melhor. obrigada por se preocupar.
a caminho do carro, catherine continua:
cw: qual é, você acha que nasci ontem? nós duas sabemos que esse
seu mal só vai passar daqui a uns oito meses, não ?
sara ficou pálida.
ss: não sei do que você esta falando...
cw: eu já estive grávida e, acredite, não era nada diferente do que
você está sentindo.
sara ficou quieta.
cw: o pai já sabe?
apesar de observadora ela não sabia do romance de sara com
grissom.
sara e se rendeu, com um suspiro profundo.
ss: não, ele não sabe.
cw: então é verdade; quando foi que você descobriu ?
ss: ontem.
antes de terminar a conversa, chegaram à casa da lady heather.
catherine bateu na porta, ela atendeu.
cw: oi, somos da perícia de las vegas; podemos fazer umas
perguntas?
lh: claro, podem entrar.
elas entram na casa.
ss: você conhece esta mulher?
sara mostrou a foto da mulher que estava com o celular com digital
dela, lh.
lh: sim...
mostrando-se fragilizada pela gravidez, ela chora.
lh: Éramos amigas...
cw: onde você esteve durante o dia de hoje ?
uma voz masculina e muito conhecida delas, vem de dentro de uma
sala.
gg: estava aqui, comigo.
grissom, segurando uma xícara, surpreende as colegas,
principalmente sara, que se sente explodir por dentro.
ele olha diretamente nos olhos dela, tentando transmitir uma
mensagem que ela precisava entender. e completa sua resposta.
gg: estava aqui, ajudando uma amiga em dificuldades.
sara não se controla e fala irritada:
ss: ajudando em quê ?
triste, mas sério e formal, grissom só responde:
gg: sinto muito, mas isto não tem nada a ver com a investigação.
vocês precisam saber onde ela esteve, e eu afirmo que permaneceu
todo o tempo aqui, comigo.
sara sentiu um aperto no peito tentou não demonstrar e continuou
seu trabalho. não olhava mais para ele, não conseguia. quando
concluíram suas perguntas sobre a vítima, as duas saíram da casa,
catherine com cara inconformada.
você notou que ela está grávida?
ss: não dava para não notar.
cw: será que é filho dele?
sara se perguntava a mesma coisa. e não gostava de pensar nesta
possibilidade. não queria acreditar que grissom tivesse sido capaz de
agir assim com ela.
greg que já havia chegado, foi falar com sara.
gs: oi, sara, tudo bem hoje ?
sara, triste, não responde. apenas se vira e dá um abraço muito
apertado no amigo, buscando algum conforto.
greg, estranhando a atitude de sara, pergunta confuso:
gs: ei tudo bem?
sara caiu no choro.
os dois vão para a sala de descanso e sentam no sofá; sara apoiou a
cabeça no colo de greg.
ss: greg, eu só gosto de homem errado.
gs: por que diz isto, sara ?
ss: eu estou saindo com um cara de quem gosto demais; e, por peça
do destino, engravidei dele.
greg ficou meio sem reação.
gs: isso é ruim?
ss: não, mas hoje eu descobri que ele passou o dia com outra.
greg acariciou o cabelo dela, confortando-a.
gs: não liga não sara, eu ajudo você com o bebê... o tio greg vai
cuidar de você bebê, e da sua mamãe.
passando a mão na barriga dela, greg conversava com o bebê.
sara deu um sorriso triste, e pediu a greg:
ss: greg não conta para ninguém o que eu te disse, por enquanto.
gs: tudo bem. será um segredo só nosso...
grissom chega na sala e vê aquela cena: greg, acariciando sara na
barriga e falando baixinho, e rindo todo alegre.
enfurecido de ciúmes, grissom quase grita:
gg: o que está acontecendo aqui ? não tem trabalho para fazer greg?
greg, meio surpreso, meio assustado:
gs: desculpe, grissom. eu estava... a sara...
levanta e sai, sem saber como explicar. sara havia pedido segredo,
ele guardaria segredo. mas fica se perguntando porque grissom
estava tão irritado.
após greg sumir no corredor, do meio da sala, grissom olha
envergonhado para sara, pedindo desculpas com seu olhar mais
meigo, esperando pela raiva dela, que ele sabe que despertou, e que
está merecendo...
sara, com o rosto molhado, os olhos vermelhos, o observa,
esperando suas justificativas. como se ele pudesse tê-las, ela pensa.
desejando, desesperadamente, que ele diga alguma coisa.
grissom media as palavras, sem saber quais poderia usar.
gg: sara, quero que saiba que eu não estava fazendo nada errado lá,
só estava protegendo uma antiga amiga, que corria perigo...
sara abaixou a cabeça e disse:
ss: grissom, eu não estou brava por você ajudar uma amiga; estou
triste por você sumir sem me avisar, quando eu precisava tanto de
você. e então, eu encontro você na casa de outra mulher, e...
neste momento, o resto da equipe entra e começa a discutir o caso.
os dois se calam; voltarão a falar nisto depois. agora, volvem toda a
atenção para o caso; afinal aquele é seu trabalho, não vão descuidar
dele. sempre foram profissionais.
wb: bom, até agora temos três corpos, todos de mulheres grávidas,
em estágios diferentes da gestação, ou seja, nove, oito, e sete meses,
com morte cruel, infringida intencionalmente primeiro aos bebês,
quero dizer, aos fetos, e só depois às mães. não sei nem como
descrever esta barbárie. não consigo pensar neles, sem pensar em
criancinhas...
ns: e o foco dos ataques assassinos era, sem qualquer dúvida, os
bebes. todas as autópsias confirmaram que os bebês, foram mortos
antes que as mulheres sofressem quaisquer ferimentos. isto é
horrível de imaginar...
ss: o fato de ele saber em que estágio da gravidez as mulheres
estavam, seguindo uma seqüência decrescente, sugere que ele tem
informações exatas; as vítimas não são escolhidas ao acaso; ele pode
ser médico, enfermeiro, estudante dos cursos que envolvem
anatomia, alguém que sabia em que posição os bebes estariam;
alguém que trabalha em clínicas obstétrica, de pré-natal, de ultra-
sonografia, hospitais... ou alguém muito próximo destas mulheres,
como maridos ou parentes e amigos das amigas íntimas. precisamos
descobrir algo que elas tinham em comum, além da gravidez.
gg: podemos começar descobrindo em que clínicas cada uma fazia
suas consultas. temos um nome, por onde começar. uma das vítimas
foi identificada. vamos seguir esta linha de investigação, até termos
mais indícios.
lady heather tinha identificado a vítima que fora sua amiga, a
segunda, e informara seu nome: cristina alves. seu marido fora
encontrado e trazido para reconhecer o corpo. apesar de seu evidente
desespero e dor ao vê-la, daquela forma, o homem havia conseguido
informar o nome da clínica em que ela se consultava, embora não
lembrasse o nome do médico.
o capitão jim brass foi em busca de uma lista das pacientes da
clínica, e do médico de cristina. não foi muito fácil conseguir um
mandado de busca, para obter as informações junto à clínica, mas
uma juíza, considerou que uma relação de pacientes e seus estágios
de gravidez, não seria abusiva no caso, principalmente se houvesse
chance de se poder identificar duas vítimas anônimas, duas futuras
mães, e seus esperados filhos, de quem alguém precisasse de
notícias, mesmo que fossem tão dolorosas..
em poucas horas, brass chegou, com cópias da lista das pacientes;
dela constava nome, dados pessoais resumidos, tipo sanguíneo e o
tempo de gestação, sem mais detalhes do que o necessário. não
havia interesse em violar a privacidade de qualquer gestante.
jim entregou cópias a todos que foi encontrando. só faltavam sara e
warrick receber as suas.
jim entrou na sala de análise onde estavam os dois csis, com um
sorriso estranho. demonstrava alguma emoção, e não era sua
habitual personalidade cheia de ironia e sarcasmo que se
manifestava. ele estava muito gentil.
jb: ola, sara. você está bem ?
ss: sim, brass. obrigada.
ele entrega os papéis a eles e sai, olhando para sara quase com
doçura.
sara dá uma rápida olhada e sussurra:
ss: meu deus. e agora ?
ela afunda a cabeça entre os braços, apertando o papel em suas
mãos.
grissom, sentado em sua sala, começa a ver a lista e em meio às
últimas pacientes, ele nem acredita estar lendo aqueles dados:
nome: sara sidle gestação: 4 semanas
ele se sentiu fora do seu corpo por um longo tempo, como se
estivesse em um triplo looping de uma gigantesca montanha russa.
seu coração acelerado, batia tão alto, que ele pensava que pudesse
ser ouvido por todo o laboratório; ao mesmo tempo, ele sentia que
escutava outro coração, soando alto, chamando-o, era de sara aquele
bater ritmado, agora com um eco em contraponto, muito suave,
começando a encher os seus ouvidos.

como um sonâmbulo, ele caminhava em um corredor que não tinha


fim. então uma porta. grissom chegou onde sara estava trabalhando;
ficou ali, parado, olhando, quando escutou a voz de warrick.
wb: uau que é isso aqui ? sua voz sou muito animada.
sara finge não ter entendido.
ss: falou comigo ?
wb: então esse é o motivo de você esta passando tão mal ? meus
parabéns, sara !
com um sorriso só de canto, sara responde:
ss: obrigada ! (e pensa como esta palavra está ficando automática e
cansativa nestes dias).
antes que grissom possa se mover, chegam greg, nick e catherine,
que passam a sua frente;
abrindo a porta, entram, fazendo piadas e brincadeiras, abraçando e
parabenizando sara.
grissom permanece olhando da porta, parecendo ter encontrado uma
colônia de insetos raros, com uma cara de quem ganhou o grande
prêmio do cassino montecyto. estava sem reação.
sara o encara fixamente.
catherine que estava em pé, no canto da sala, observa os rostos de
ambos.
É quando nick pergunta:
ns: e o pai, já sabe?
sara se mostra embaraçada.
ss: não, ainda não. não sei como ele vair reagir ...
nesta hora, grissom não se contém mais:
gg: tenho certeza que ele vai adorar a notícia !
sara dá um sorriso, e faz um biquinho como só ela sabe, enquanto
baixa o rosto, deixando os cabelos encortinarem seus olhos.
ns: hei, você precisa nos apresentar esse cara, viu. temos que dar uns
bons conselhos para ele.
só nesta hora lhes ocorreu que eles teriam muito que explicar aos
colegas.
sara reagiu rapidamente:
ss: na hora certa vocês irão conhecê-lo.
grissom não consegue mais esperar e diz que o pessoal tem trabalho
a fazer; agora !
todos saem, e vão cuidar das suas atividades, com exceção de
warrick, que, já que está ali, junto a sara, trabalhando, não imagina
que as ordens de grissom o incluam.
gg: huumm... warrick, você pode ir ver se o dr. robbins... hã ... tem
alguma novidade?
warrick, distraído, comparando os dados da lista em suas mãos,
pergunta:
wb: mas ele já não terminou com os corpos? já temos os laudos...
grissom fulmina-o com seu olhar por cima dos óculos, naquele seu
jeito característico de dizer “saia agora !”
warrick, que conhece o chefe a tempo suficiente, afinal, entende o
recado; nem pensa em se perguntar os motivos de grissom para ficar
a sós com sara. pode se dizer que com a mente ocupada pela
“ordem” recebida, simplesmente saiu, sem pensar em nada.
finalmente, ele poderiam conversar o mais urgente, tão a sós como a
situação no laboratório permitia. grissom olha, pensativo, cheio de
culpas e arrependimento, para a mulher que ama.
pensou por uns segundos
gg: sara, me perdoe por ter lhe aborrecido; nunca desejei, nem por
um minuto, magoá-la.
sara olha para ele, muito séria.
ss: eu posso perdoá-lo, mas você ainda me deve uma resposta direta.

ele se aproximou dela, abraçou-a com tanto cuidado e carinho, como


se ela pudesse se quebrar com um toque mais desastrado; beijou-a,
bem docemente, e sem nem mesmo lembrar de onde estavam,
ajoelhou-se diante dela e beijou sua barriga firme, sem os sinais
visíveis da maravilha que ocorria naquele corpo.
gg: meu filho, papai está aqui... (e como um tolo, continuo a
conversar baixinho, dizendo palavras de amor incondicional àquela
criança em formação...)
sara, com um sorrisinho irônico, nem acreditava que grissom
estivesse fazendo um papel tão bobo, em local tão público. a
qualquer momento, alguém podia passar pelo corredor e observá-los.

ss: o que deu em você? onde está homem da ciência ? o homem


objetivo, que só considera os fatos ? lembro que você acreditava que
com quatro semanas, pelo estágio de desenvolvimento fetal, o bebe
ainda não escuta, seus ouvidos ainda não se formaram...
grissom levantou-se, lentamente, e olhou-a nos olhos; estava
profundamente emocionado. sua voz saiu com dificuldade.
gg: a ciência não me preparou para o que estou sentindo. que
experimento poderia descreve a sensação que um pai tem, ao falar
com seu filho pela primeira vez ? como um homem pode agradecer a
uma mulher por ensiná-lo o que é realmente amor ? obrigado, sara,
por ter esperado eu superar meus medos. obrigado por ter escolhido
a mim. obrigado por me fazer feliz. obrigado por ser você quem é, o
que me transformou em um homem que acredita na felicidade.
eu te amo, sara !!!!!!!
os olhos de sara brilhavam; a espera fora recompensada. ela o amara
por tantos anos e agora ele estava ali, e não pretendia mais fugir...
ss: eu também; eu sempre te amei.
o celular de grissom tocou; era jim, querendo algumas informações.
grissom se despediu e saiu; greg, que estava indo levar um fio de
cabelo que encontrou em uma das vitimas para análises-dna, passou
por ele, tocando mentalmente um rock pesado.
finalmente eles tinham algo com dna mas ainda não tinham um
doador suspeito, para fazer a comparação.
colheram o dna dos fetos, para ver se apontava o pai de uma das
crianças, mas deu em nada.
o caso estava esfriando e eles não podiam fazer mais que esperar.

sara tinha uma consulta marcada para aquela manhã. estava entrando
na quinta semana de gravidez.
grissom, apesar de animado, estava começando a temer que sara
pudesse ser uma das vítimas préviamente escolhidas pelo assassino,
e isso o fazia perder o sono, e ter suas terríveis enxaquecas com mais
freqüência.
após o turno, sara e grissom foram até a nova clínica que haviam
escolhido juntos, para fazer seu acompanhamento pré-natal.
chegaram à porta, sem poder esconder sua euforia. grissom
preencheu uma ficha com os dados de ambos e então sentou ao lado
de sara; poucos minutos depois, o nome dela foi chamado.
conversaram longamente com a médica, informando todas as
condições familiares de ambos e de como a gravidez vinha se
desenrolando. por fim, sara se deitou na maca para fazer um ultra-
som; em poucos segundos, a médica mostrou na tela o pequeno
embrião. grissom segurou a mão de sara, enquanto a medica
explicava tudo que podiam ver; grissom viaja em pensamentos,
imaginando ouvir o som forte do coração de seu filho batendo... uma
lágrima corre por seu rosto. o exame é concluído, e a doutora faz
algumas recomendações à mãe, sobre evitar álcool, fumo, remédios
e ter uma alimentação bem balanceada. ambos escutam atentamente,
tranqüílos por não terem quaisquer vícios nocivos ao bebê, em seus
hábitos rotineiros. sara diz que irá fazer caminhadas, para exercitar-
se, sem esforços físicos excessivos e grissom compromete-se a
acompanhá-la, para ficar em melhor forma (e protegê-la também, ele
pensa consigo); no geral, os dois estão saudáveis e o bebê em ótimo
estado.
no fim do exame, ao passar pela porta, grissom esbarra no assistente
da mulher, e escuta quando a doutora reclama com o empregado por
seus constantes atrasos.
os dois seguem para a casa de grissom. ficam sentados, vendo o dvd
do exame, como quaisquer pais bem corujas fariam. brincam,
escolhem nomes, fazem planos.
quando a campainha soa, grissom, sem pensar, pede a sara para
atender a porta e ela que está lá, bem próxima, pois fora bebe água,
gritou:
ss: já vai.
ao abrir a porta, fica espantada.
ss: greg, o que você esta fazendo aqui?
greg, pergunta confuso:
gs: aqui não é a casa do grissom ?
eles haviam esquecido que os colegas e amigos não sabiam do seu
romance. sara fala devagar:
ss: É, sim ...
gs: então, eu é que pergunto. o que você está fazendo aqui?
grissom, escutando aquilo, foi até à porta.
gg: ela está aqui a meu pedido, revisando alguns relatórios do caso
comigo.
era um desculpa muito fraca, mas o que ele poderia dizer ? esperava
que colasse, por enquanto.
greg ficou parado, juntando os fatos, quando grissom pergunta:
gg: e em que eu posso ajudá-lo, greg?
gs: vim lhe avisar que mais duas mulheres foram encontradas; as
duas na represa hoover. grissom só pegou suas chaves, o telefone, e
seguiu greg até o estacionamento; nada falou, pois sentia sara ao seu
lado.
os três entraram no carro de greg, que se que se lembrou de algo:
gs: sara, você acabou um turno de trabalho, aposto que nem
descansou; isso não é bom para você; pode fazer mal para a
baixinha.
sara sabia que ele tinha razão.
ss: greg, obrigada por se preocupar, mas tenho que ir junto, pelo
menos desta vez; prometo que mais tarde eu descanso.
greg que segurava o volante tirou de lá uma das mãos e a levou até
sara, que estava ao seu lado, e fez um carinho no seu cabelo e depois
na sua barriga.
grissom não gostou do que estava vendo e queria deixar isto claro,
mas ...
gs: eu prometi que ia cuidar de vocês. e vou !
grissom engasgou-se de raiva e ciúmes. tinha um olhar furioso
fitando greg...
chegando ao local, os três desceram e grissom chamou sara para
perto dele:
gg: mas o que foi aquilo que eu vi, entre você e o greg ?
sara dá um sorriso suave e fala:
ss: nada, só um amigo me protegendo, num momento de perigo.
sara repete a fala de grissom, quando tentava se justificar por estar
junto de outra mulher. ele não deixa de perceber a ironia, e
reconhece que mereceu.
depois disso, foram ver os corpos; uma das mulheres mostrava
ferimentos de defesa. sara ainda
sentia-se nauseada ao ver os corpos das mulheres grávidas, por
motivos que todos, agora, podiam compreender; por isso, processou
o perímetro da cena de crime. os corpos logo foram fotografados e
levados para exame.
em poucas horas, já haviam sido feitos os principais exames nas
duas grávidas; uma delas havia
sido violentada e o sêmen foi coletado; seriam feitos os exames de
dna; o padrão das mortes combinava com os casos anteriores;
estágios de gravidez: seis e cinco meses.
grissom sai da sala meio pálido; estava cada vez mais assustado com
tudo aquilo; temia por sara e seu filho. seguiu direto para a sala de
descanso, onde estavam todos, menos sara
gg; gente, antes de começar, onde está sara?
sua preocupação era evidente.
sara aparece na porta, com péssima figura.
ss: desculpem, não me senti bem...
ns: você não está legal. dá para notar.
ss: estou ótima, é só enjôo matinal...
sara estava realmente passando mal; estava cansada, viu que não
podia fazer hora extra aquele dia, apesar de ter muita vontade de
ajudar no caso. não poderia ficar.
ss: grissom, se não causar problemas, vou pra casa descansar até a
noite.
gg: tudo bem; você deve mesmo ir, sara.
ela se despediu de todos e foi pra casa. foi direto tomar um banho;
escutou a campainha e lembrou que precisava pagar o condomínio;
pegou o dinheiro que deixara sobre a mesa e foi até a porta e abriu.
um homem, de máscara, a empurrou para dentro do apartamento; ela
tentou chegar até sua arma, mas foi puxada com rapidez, o que a fez
bater a boca na mesa, causando um grande corte em seus
lábios.tentou se levantar e lutar, quando sentiu um pano sendo
comprimido contra seu rosto, cobrindo boca e nariz; reconheceu o
cheiro ao sentir-se desmaiar.
no laboratório grissom estava impaciente, sentindo algo incomodá-lo
por dentro, quando jim aparece por ali.
jb: meu amigo, tudo bem ?
gg: sim, só estou preocupado com sara...
grissom falou sem perceber.
jim, olhou espantado para grissom, que se justificou:
gg: É que ela não estava se sentindo bem quando saiu, e me
preocupo com meu pessoal.
jb: ligue para ela e...
foi quando catherine chegou.
cw: ligar pra quem?
jb: o grissom está preocupado com a sara; ela parece que não estava
bem.
cw: sim, é verdade... eu deveria ter ligado mais cedo, mas fiquei
revendo todo o caso e nem vi o tempo passar. de qualquer forma, ela
deve ter deitado, para descansar e dormir; foi bom que não
ligássemos acordando-a, ou ela ficaria uma fera.
ela imediatamente discou o número da casa de sara, e caiu na caixa
postal. tentou o celular, ouviu-o chamar várias vezes, mas não foi
atendido.
cw: ela não está atendendo, já deve estar no banho.. talvez dormiu
pesado demais. É normal no estado dela.
grissom ficou mais nervoso.
gg: e se ela passou mal sozinha em casa, desmaiou ?
cw: relaxe, homem. ela deve ter ido ver o namorado, afinal porque
você pensa que ela está sozinha ? eles têm muitos planos para
fazer...
grissom ficou embaraçado, sem poder argumentar, e nem um pouco
tranqüilo. brass notou, e acabou por falar:
jb: mandarei uma viatura passar por lá e ver como ela está. assim
ficamos todos despreocupados. grissom ficou quieto, enquanto o
amigo falava no rádio e saía. ele e cath foram se reunir com os
demais, discutindo o caso.
grissom passou um olhar pelas fotos dos bebes, ficou pensativo,
cenho cerrado, sentiu-se inquieto, e se levantou para pegar um pouco
de café.
jim brass irrompeu na sala, tenso e pálido. olhou para grissom e
respirou fundo, antes de falar.
grissom percebendo sua expressão, nem sentiu o copo de café cair-
lhe das mãos. os colegas estranharam o incidente, e olharam
confusos para seu supervisor, quando brass conseguiu dizer o que é
necessário:
jb: sara sumiu.
ele não tinha como dizer aquilo de uma maneira mais delicada.
gg: como assim, ela sumiu... o que aconteceu com ela ? (ele estava
gritando, sem perceber).
não pôde continuar. tirou os óculos e pinçou o alto de seu nariz,
apertando os cantos interiores dos olhos, entre seu polegar, indicador
e médio, como se sua cabeça doesse.
ao ver sua reação, catherine entendeu o motivo de sua preocupação.
jb: acalme-se grissom; nós vamos encontrá-la.
gilbert grissom cambaleia até uma cadeira junto à mesa, senta-se , de
cabeça baixa e solta um gemido estrangulado; larga os óculos sobre
a mesa, e une suas mãos, comprimindo-as contra a testa. atônitos, os
colegas olham-no sem saber o que falar, pois ele parece estar
passando mal. o grupo tenta assimilar o que está acontecendo,
quando grissom levanta o rosto mostrando seus olhos azuis
embaçado de lágrimas, e suas mãos permanecem largadas sobre a
mesa.
gg: por favor, encontrem sara e meu filho, antes que alguma coisa de
mal aconteça a eles.
seu pedido foi dolorido e patético, vindo daquele homem tão pouco
afeito a demonstrar emoções.
a equipe ficou chocada e sem reação aquilo que ouviu, tentando
absorver o impacto de cada fato, como se precisasse de algum tempo
para processar estes dados.
greg, que já que desconfiava deste relacionamento, quando teve
certeza, logo lembrou que sara corria perigo. olhou para cath, que
começava a compreender, também, a extensão da tragédia com que
lidavam, quando viu o pânico espalhando-se no rosto de greg, e
soube que a hora era de agir, e rapidamente.
cw: fique calmo grissom, estamos indo agora mesmo para a casa
dela, todos nós, e vamos localizá-la, eu prometo.
apesar de sua promessa, catherine não tinha muita esperança de
encontrá-la, pois sabia que aquele que caçavam era muito esperto. e,
pior, não poderiam contar com a inteligência de grissom, que no
estado em que estava, além de não conseguir auxiliá-los precisaria
do seu carinho de amiga e do apoio de toda a equipe. ele teria que
ficar junto deles.
jim passava ordens pelo radio, alertando todas as viaturas, e
mandando que fossem vigiados cada um dos lagos da cidade.
quando chegaram ao apartamento de sara, a porta estava aberta e um
policial montava guarda.
logo começaram a examinar a cena, onde alguns objetos derrubados
sugeriam que ela havia lutado e, o sangue na mesa e no chão, apesar
de não ser muito, deixou-os perturbados.
grissom, ao ver o local, nada falou, mas todos perceberam sua
expressão ao olhar para aquele sangue. cada um deles temia saber o
que ele estava pensando.
greg, não falou com grissom, em momento algum, e evitava encará-
lo diretamente. sempre havia admirado-o muito, mas não o perdoava
por ter magoado sara, ficando ao lado de lady heather
nick stokes se resolveu a falar o que todos já haviam concluído, e
não queriam aceitar.
ns: não tem nada aqui, que nos conduza a algum lugar.
grissom cerra os punhos e sente vontade de socar o colega, mas sabe
que ele tem razão.
coletaram fibras, e cabelos escuros, provavelmente da própria sara;
colheram amostra do sangue, para verificar se era dela, e recolheram
as digitais de todo o ambiente, mas nada parecia muito promissor.
tinham que levar estes poucos indícios para o laboratório e verificar
o que os policiais que estavam interrogando os moradores do prédio,
e dos prédios vizinhos conseguiram obter.

enquanto isso, sara começa a acordar...


sua cabeça doía bastante, e ela sentiu uma cólica bem fraquinha, que
a assustou; logo percebeu que era apenas a náusea, causada pelo
clorofórmio, que lhe fizeram aspirar quando foi atacada. seus olhos
já acostumados com a luz forte, começam a examinar o local onde
está e a primeira coisa que vê é o corpo de uma mulher morta;
começa a lembrar dos casos em que trabalhava, e sente o pânico
invadi-la; precisa se acalmar, respirar fundo, não pode ficar assim,
tem que pensar em si e no bebê. o bebê precisa dela. fecha
novamente os olhos, e procura regularizar sua respiração,
inspirando, expirando, inspirando...
de forma barulhenta, um homem entrou a sala; sara o reconhece,
como o empregado atrasado, que viu chegando em sua nova clínica;
fica desanimada, porque não adiantou deixar a outra clínica, não foi
o suficiente para ela e o bebê ficarem seguros... mas ela precisa
reagir, tentar alguma coisa, estabelecer contato com ele, descobrir
algo que a ajude. então pergunta:
ss: quem é você ? o que você quer ? por que me atacou, por que está
fazendo isto com estas mulheres todas ? (ela percebe que está
descontrolada.)
o homem não a olhava nos olhos; mantinha a cabeça baixa, não
falava, parecia quase mais assustado do que ela, tinha maneiras
tímidas. sara percebe que ele não seria capaz de armar isto sozinho.
talvez conversar com ele fosse a sua chance de sair dali. pensa com
cuidado no que vai falar, quando ouve uma voz conhecida que faz
seu sangue ferver de raiva.
xx: sara, sara sidle, quem diria, finalmente você está em minhas
mãos.
ss: lady heather ?!!
lh: surpresa de me ver?
ss: sim. ou não. eu não sei. estou muito cansada. sinto-me fraca,
minha cabeça e meu corpo doem; nem consigo pensar direito.
porque você está fazendo isso?
lh: sabe, sara, conheci muitos homens em minha vida. nunca me
impressionei muito com eles. realizei suas fantasias e extraí deles
prazer. sob meu domínio, eles me davam o que eu queria, e não
percebiam que não ganhavam nada de mim, exceto suas tolas
fantasias, onde eram menos que homens, menos que animais.
pensavam que eu os agradava, enquanto eu apenas zombava deles.
eram desprezíveis. então conheci grissom. ele era deferente dos
outros homens. ele era especial. decidi que o queria, que eu o teria.
teria que seduzi-lo, e ele seria meu. não poderia fazê-lo da maneira
mais obvia; tinha que seduzir sua mente. precisava encantá-lo,
impressioná-lo,
pois logo percebi que não poderia conquistá-lo pelos sentidos, pelo
prazer. eu teria que jogar xadrez, mover uma pedra de cada vez.
calcular cada lance, prevendo seus bloqueios e seus avanços. eu
podia fazê-lo. não tinha pressa, tudo estava correndo bem. mais
algumas jogadas, e ele se renderia. mas, em vez disso, ele se afastou.
quando o lembrei da nossa amizade, ele foi capaz de dizer que eu o
fizera descobrir o que realmente havia de valor em sua vida. eu o
fizera encarar o seu grande segredo, o seu medo. eu o fizera ter
coragem de se unir à mulher que sempre amara. você, sara sidle.
precisei muito controle naquele momento. e sorri, e disse que estava
feliz por ele. mas não desisti dos meus planos, e passo a passo, eu
prossegui. tudo deu certo. minha vida estava perfeita. fiquei grávida.
agora, só mais algum tempo, e poderia me aproximar dele, falar do
seu filho, então seríamos felizes e você não seria mais nada. eu
tiraria dele qualquer lembrança que pudesse ter de você. eu o faria
muito feliz. nós seríamos muito felizes, e ficaríamos juntos.
mas aconteceram duas coisas, que eu não pude evitar; você
engravidou, e eu pensava que você seria mais prudente.
enquanto isto, meu filho, o nosso filho, apresenta anomalias
cromossômicas, que não lhe permitirão viver mais de uma hora após
o parto.
e se meu filho não ia viver, o de vocês também não ia. nem os dessas
outras mulheres.
sara nem consegue falar, está aterrorizada com a frieza e a maldade
que percebe nos olhos e na voz daquela mulher. sara está assustada,
por si e pelo bebê, o filho de grissom, o seu filho.
lady heather continuou sua narrativa, no mesmo tom.
lh: quando esse inútil me falou que vocês estavam foram na clínica
em que ele estava trabalhando, vi a oportunidade de fazer minha
melhor jogada. xeque-mate.
como você acha que grissom ficará após perder você, desta forma
que ele não pôde evitar, nem protegê-la ? sabendo exatamente qual
será seu destino ? ele estará totalmente vulnerável, após perder tudo.

então eu entro em cena, apaixonada, sofrendo, precisando dele, e


podendo oferecer tudo o que ele acabou de perder.
ss: você não poderá lhe dar o filho dele, sua louca !
nesse momento, lady heather dá uma risada cristalina.
lh: mas eu vou dar o filho dele, sara. você vai morrer, o bebê não.
em alguns meses, este bebê que carrego nascerá, e o seu bebê, forte
e saudável irá substituí-lo. vamos cuidar muito bem dos dois até o
momento certo, e então, terei meu filho, o filho que darei a grissom.
você percebe como
tudo será justo e poético ? você tirou de mim o único homem que eu
amei, então tomarei tudo de você. o amor de grissom será meu, o seu
filho será meu e você sentirá o que senti quando, naquele dia em que
passou comigo, para me proteger, e eu me declarei, e ele
simplesmente disse que era você a mulher que ele amava e sempre
amaria.
pensando bem, serei generosa, e você não sofrerá como eu. você
estará morta.
agora vá para seu novo quarto, e cuide muito bem do meu filho.
nisso, o homem se aproximou de sara e a pegando-a pelo braço,
conduziu-a para um quarto sem janelas, espaçoso, para que ela
pudesse se exercitar, pois estava quase vazio, só tinha uma cama,
uma pequena mesa a um canto, e uma cadeira. ligado ao quarto, um
banheiro completo. havia cobertas na cama, uma muda de roupas. o
quarto era perfeitamente climatizado, com iluminação especial, para
ser graduada de acordo com o interesse de seus carcereiros. quando
o homem ia fechando a porta, lady heather disse, em voz gentil:
lh: É bom que você aprenda a apreciar seus aposentos. vai passar um
bom tempo aí. descanse bastante, exercite-se e alimente-se bem. seja
muito cuidadosa, pois não quero que nada de mal aconteça com meu
filho.
sara viu a porta se fechando e sentiu um grande desespero, enquanto
se perguntava: o que você fez, grissom ? como pode fazer isto
conosco ?
enquanto isso, os csis começavam a ficar desesperados. reunidos na
sala de descanso, reviam tudo que fora feito para encontrar sara, e
procuravam não pensar que já poderia ser tarde demais.
greg, sentou em uma das cadeiras à volta da mesa, e começou a
chorar.
gs: eu havia prometido cuidar dela e...
sofia chegou na porta da sala, visivelmente transtornada:
sc: encontraram um corpo no lago...
todos congelaram em seus lugares, e olharam para grissom, que, em
silêncio, levantou-se rigidamente, e seguiu para o estacionamento.
greg foi atrás dele.
os dois ficaram calados durante todo o percurso. o carro parecia nem
se mover, embora estivessem em alta velocidade.
grissom divisou ao longe, as duas viaturas policiais junto à faixa de
“cena de crime”. sentiu seu estômago se contrair, ao pensar em
quem poderia estar dentro daquele perímetro demarcado...
conrrad ecklie estava cuidando do caso.
grissom e greg, ultrapassaram a faixa, sem nem mesmo apresentar
suas identificações, enquanto
conrrad, que era sempre petulante e provocador, se aproximou
tentando ser gentil, pois neste caso, em especial, finalmente,
mostrava algum respeito aos sentimentos da equipe da noite e
entendia porque o sofrimento de grissom era tão visível.
ce: vocês não deviam estar aqui, não podem se envolver...
grissom ignorou o tom quase conciliador em sua voz, e, desviando-
se dele, foi em direção ao corpo, andando como um autômato...
sentiu um grande alívio inundá-lo, quando viu que não era o corpo
de sara; embora também sentisse compaixão pela mulher morta, não
pode deixar de agradecer a deus, por não ser ela. o fato não acabava
com seu sofrimento, mas lhe permitia ter mais um tempo de
esperança.
percebendo greg suspirar a seu lado, fez um gesto de cabeça,
chamando-o para irem embora, enquanto a equipe do dia trabalhava
naquele crime. ele temia que, como nos casos anteriores, não haveria
muitos indícios para serem encontrados.
já no carro, enquanto retornavam ao laboratório, levando a notícia
para os colegas, novamente ambos iam em silêncio, mergulhados em
seus próprios pensamentos, que seguiam caminhos paralelos. a
próxima vítima, poderia ser sara. eles não conseguiam encontrá-la e
sabiam o que havia acontecido com todas as mulheres grávidas que
estavam na lista daquela clínica.
sara estava desaparecida a mais de um mês. como seu corpo não fora
encontrado, todos os colegas teimavam em acreditar que ela ainda
estava viva, e trabalhavam sem descanso, em cima dos poucos dados
que tinham.
as vítimas todas, haviam sido identificadas como pacientes daquela
clínica, e seu médico, dr jonh
mac allistair, um homem não muito jovem, de origem escocesa,
franco e gentil, comprovara ser um homem idôneo, acima de
qualquer suspeita. o dr. robbins, já o conhecera, pois participaram
juntos, de alguns seminários sobre obscuras deformações intra-
uterinas, e suas conseqüências no processo de gestação, geralmente
fatal também para a mãe, daí o interesse do dr robbins, e que
mantinha o embrião, desde a concepção, em intenso sofrimento. por
isso o dr. mac allistair buscava conhecimentos que permitissem
diagnosticar estas deformações antes do início de uma gravidez
fadada ao fracasso e a dor para todos envolvidos. como ficou
provado, era um homem de caráter forte, mas generoso e
humanitário.
os empregados da clínica, também não tinham qualquer antecedente
criminal, e tanto quanto se pode descobrir, não tinham qualquer
relação com as vítimas, fora da clínica, e seus perfis não sugeria
indivíduos patológicos ou psicóticos, bem como suas atividades
externas, investigadas exaustivamente, nada apresentaram de
suspeito. não havia ex-empregados a procurar, pois todos já
trabalhavam com o médico há vários anos.
os maridos das vítimas, e seus demais familiares, também foram um
beco sem saída.
grissom não desistira de procurar sara, mas era um homem em
desespero. não falava mais do que o imprescindível, mal dormia,
mal se alimentava; analisava o caso repetidamente, vez após outra,
em busca de um detalhe que houvesse passado despercebido, e se
afastava dos outros, cada vez mais, embora reconhecesse o esforço
deles. sabia que tinham muitos outros casos para resolver, e que
procuravam deixá-lo tão livre para continuar sua busca, quanto era
possível, fazendo sua parte do serviço rotineiro também.

quando se completaram dois meses do seqüestro, o delegado


considerou que já tinham gastado tempo suficiente naquela busca, e
mandou suspendê-la, arquivar o caso, até que surgissem mais
indícios que justificassem nova investigação. ele decidiu que a
equipe já tivera tempo para superar a perda da colega; todos
deveriam voltar a trabalhar normalmente, exigindo a participação de
grissom nos casos atuais.
ecklie entrou na sala onde os csis do turno da noite estavam; o
ambiente estava diferente do que costumava ser, não havia mais
conversas nem animação no grupo; era como se sara houvesse
levado consigo toda a alegria da equipe.
ce: o delegado determinou o arquivamento do caso sara sidle.
gg: o caso não está resolvido, ela não apareceu, nem seu corpo foi
encontrado !
ce: sinto muito, grissom; não sou eu que estou desistindo, mas recebi
esta ordem, e a estou repassando.
grissom, cuja aparência demonstrava seu esgotamento e desespero,
tomou-se de fúria. ainda não havia sido derrotado. levantou-se, e foi
para a sala do delegado, onde entrou alterado, sem pedir licença, e
negou-se a acatar a decisão, contestando a ordem recebida. sua voz
soava alta e raivosa, sendo ouvida por todos do lado de fora daquela
sala. quando se calou, quase de imediato, saiu batendo com força a
porta as suas costas. encaminhou-se para sua sala, sob o olhar
assustado dos amigos. lá chegando, contornou sua mesa, recolheu
pertences pessoais das gavetas, jogando-os em uma caixa que pegou
de passagem, em uma das estantes; inclinando-se sobre a mesa,
deixou sua arma e identificação da perícia forense, e virou-se para
sair.
catherine falou, desolada, para grissom:
cw: por favor, gil, acalme-se; pense melhor no que está fazendo...
gg: peça desculpas a todos em meu nome, e despeça-se deles com
afeto, por mim. não há mais nada que eu possa fazer aqui. por causa
de minha carreira, perdi o que tinha de mais importante em minha
vida. eu preciso encontrá-la...

xxxxxxx

sara não suportava mais pensar em tudo que perdera; em como


poderia estar ao lado de grissom, os dois felizes, com seu bebê.
estava desanimada, mas alisava carinhosamente sua barriga, que
começara a crescer. estava arredondada e firme, pois caminhava
horas e horas, no espaço livre do quarto de confinamento, movendo-
se elasticamente; fazia alongamentos, e exercícios respiratórios,
além de comer disciplinadamente o que lhe era oferecido, buscando
manter seu corpo em boa forma, pela saúde de seu filho. Às vezes,
pensava em tentar fazer alguma coisa para fugir, mas temia pelo
bebê. se ela cooperasse, sua criança teria uma chance de sobreviver
e conhecer o pai. ela precisava ser forte, e apenas esta idéia lhe dava
um pouco de conforto e razão para viver. cada hora que ela passava
naquele lugar, era como morrer um pouco.
lady heather não apareceu mais por ali. depois do dia em que
chegara, quando conhecera os planos daquela louca, só via o homem
que a trouxera, e que lhe trazia água e comida com zelosa
regularidade.

xxxxxxx

grissom saiu do laboratório rapidamente, dirigindo-se ao seu carro.


ainda não estava pronto para deixar de procurar por sara. ele não
podia exigir ou esperar mais ajuda do pessoal, mas sabia que
não desistiria de encontrá-la, ou ao seu cadáver, algo que se negava a
considerar. era como se sentisse que, em algum lugar, ela estava em
perigo, mas viva, esperando que ele a fosse salvar.
ele foi para o seu apartamento, onde ainda estavam algumas roupas e
pertences de sara, de quando ela ficara lá, antes dele viajar. depois,
ela voltara a morar em seu próprio apartamento, e só visitava-o;
quando descobrira sobre o bebê, ele insistira para que ela viesse para
junto dele outra vez. mas como desejavam um apartamento maior,
ela manteve apenas parte de suas coisas lá, e então, desaparecera,
após uma última noite que passaram juntos. ele ainda sentia a
presença dela no apartamento; havia um casaco dela, com o cheiro
suave da colônia que ela usava, que ele mantinha cuidadosamente
colocado sobre o encosto de uma das poltronas, como se ela fosse
entrar na sala a qualquer momento. o pouco que ele dormia, era no
sofá, abraçado ao travesseiro dela, sentido o cheiro dos cabelos dela,
porque não podia ficar no quarto onde sabia que ela não dormiria... o
toque agudo da campainha, despertou-o de seu sonho acordado, e ele
foi atender a porta. era lady heather.
lh: eu soube o que aconteceu, pelos noticiários, grissom. sinto muito
por você. eu achei que não deveria vir antes, que você precisava de
tempo.
grissom fez um gesto de assentimento com a cabeça e convido-a a
entrar, postando-se ao lado da porta. não conseguia falar. fechou a
porta lentamente, de costas para ela, que fixava o casaco de sara com
profundo ódio. mas compôs-se em uma aparência solícita e gentil, e
ao virar-se para ele,
falou com muita doçura:
lh: pensei que talvez a presença de uma amiga, pudesse lhe ajudar.
vulnerável, naquele momento,grissom esqueceu suas reservas, e
falou, sem pensar, sobre tudo que estava trancado dentro dele, há
longo tempo. falou de seu amor por sara, do tempo que ele perdera,
sentindo medo e insegurança, e da felicidade que ela lhe ensinara.
falou do último presente, do filho dele, que ela carregava, e da dor
que sentia, com a perda repentina de tudo que tinha algum sentido
em sua vida. não se envergonhou das lágrimas que começaram a
rolar por seu rosto, apenas deixou-se cair sobre o sofá, fechou os
olhos e falou, falou, falou...
lady heather era uma mulher muito experiente e sabia ouvir. eles já
haviam conversado outras vezes, mas ela nunca o vira tão indefeso
assim. isso era bom para seus planos. sabia que após seu desabafo,
ele tentaria controlar-se, mais ainda estaria muito emotivo, então
chegaria sua vez.
quando ele ficou em silêncio, exausto, ela sentou-se a seu lado e o
abraçou, puxando-o para bem próximo de seu corpo, onde a barriga
já se projetava amplamente.
grissom deixou-se consolar, imóvel, e,ainda que já não confiasse
mais nela, estava cansado demais para raciocinar ou reagir. neste
momento, o bebê que ela esperava, moveu-se junto ao seu rosto,
como se tentasse tocar sua face. mais uma vez, e outra... ele ficou
bem próximo, sentindo aqueles movimentos, e lembrando que sara
já estaria com três meses e quase três semanas de gravidez. sentiu
uma grande saudade dela e, sem perceber, ergueu sua mão e
colocou-a sobre a barriga da amiga, sentindo a vida que acontecia
ali.
lady heather não fez qualquer gesto para detê-lo. ela sabia em quem
ele estava pensando, mas logo teria coisas bem mais próximas, com
que se ocupar. passou suavemente a mão livre nos cabelos de
grissom, enquanto seu outro braço rodeava os ombros dele,
mantendo-o firmemente junto dela. aguardou um momento, e, dando
um profundo suspiro, começou a falar, conforme planejara.
lh: grissom, eu não tenho como esperar mais. eu preciso lhe contar.
eu sei que não é a melhor hora, mas, talvez, possa consolá-lo um
pouco. o bebê, este bebê que você está sentindo se mover, o meu
bebê, é também seu filho! nosso filho. simulou um soluço, quando
grissom saltou do sofá, olhando-a com os olhos esgazeados.
gg: como você pode me dizer uma coisa destas ? o que significa
isto ? sabe que sempre a tratei como uma amiga, fiz confidências a
você, não me tornei seu amante ou...
lh: você sabe como tudo aconteceu. eu não podia prever, apenas
depois de algum tempo, eu tive certeza. e neste período, como antes,
não tinha havido mais ninguém. eu estava só há bastante tempo, eu
esperava que em algum momento você percebesse, então, naquela
noite... você não queria, realmente, eu sei, mas naquele momento eu
era apenas uma mulher apaixonada, e você estava lá, tão só e
confuso... quando eu soube do bebê, não sabia se devia procurá-lo;
eu devia,
mas você havia sido tão definitivo quando disse que não me queria,
que eu não podia usar o bebê. porém, naquela madrugada que fui
procurá-lo, haviam tentado me matar, eu estava assustada, e temia
pela criança. pedi seu auxílio, pretendia lhe contar... você passou o
dia em minha casa, se dispôs a nos proteger, mas contou-me que
estava feliz, porque enfim, tinha ao seu lado a única mulher que
poderia amar. então, calei-me. como eu poderia contar ? eu só
deixaria você confuso, talvez infeliz... baixa a cabeça, e chora em
silêncio, tremores sacudindo seus ombros.
grissom atravessa a sala, devagar, incrédulo. aquilo não podia estar
acontecendo, sua vida toda estava virando de cabeça para baixo,
sentia-se tonto, nauseado, um gosto amargo na boca e, mesmo
assim, ele sabia que o tempo coincidia, que ela estava falando a
verdade. então ele tinha outro filho... não conseguia alegrar-se com a
notícia, não agora, não ainda. precisava se acostumar a ela, mas...
tinha que aceitar o bebê. começou a lembrar, pensar naquilo que
fizera todo o possível para esquecer, que não tinha tido coragem de
contar a sara, porque fora algo que nunca desejara, na verdade, ele
estava apenas sentindo falta de sara...
o pensamento de grissom retorna a cinco meses atrás, em...

*** williamstown (ma), uma noite muito fria. na verdade, na grande


cama do hotel, vazia, todas as noites estavam sendo muito frias.
grissom se perguntava porque quisera ir para aquele sabbatical. ele
sabia que precisava de um descanso, de um tempo longe de cenas de
crimes; pensara que seus insetos seriam um repouso bem vindo.
mas, a verdade era que em suas aulas, os alunos eram medíocres, e
não estavam interessados nas oscilações observadas no
amadurecimento dos mosquitos do brejo. grissom, a contra gosto,
percebia que ele próprio estava menos empolgado pelo assunto do
que deveria. ele estava sentindo mais falta de sara, do que imaginara
poder sentir e muito mais do que conseguia traduzir em palavras. as
palavras sempre lhe faltavam, quando queria falar dos seus
sentimentos. ele reconhecia que fora tolice enviar um casulo para
sara. ele precisava sair de seu casulo, e se explicar melhor. ela estava
magoada com sua partida, sem explicações. acreditava que ele
estava se afastando dela, e a única coisa que conseguira dizer foi que
ia sentir falta dela. precisava que alguém lhe ensinasse com poderia
consertar este erro. não podia perdê-la. resolveu ir até o restaurante
do hotel, porque não havia comido nada desde o almoço. ela achava
que tinha almoçado, mas não tinha certeza.
quando saiu do elevador, surpreendeu-se em ver alguém conhecido,
de vegas, sorrindo ao vir em sua direção:
gg: lady heather, não esperava encontrá-la por aqui, tão longe de
casa. está sozinha ?
lh: gilbert grissom, meu perito forense predileto, meu único amigo
confiável. que faz aqui ?
gg: penso em jantar. me faz companhia ?
lh: se me oferecer um bom vinho ...
grissom nunca soubera ao certo em que momento daquela noite o
desastre começara. talvez o vinho tenha feito alguma diferença, só
que não fora o suficiente para justificar, ou apagar sua lembrança do
acontecido. quando a acompanhou até o quarto, pensava em pedir a
ela que o aconselhasse sobre como falar sobre seus sentimentos para
sara, por isto aceitou o convite para entrar e conversar. a saleta era
confortável e aconchegante, e ele considerava lady heather uma
mulher especial, sua amiga. quando se sentou ao lado dela no sofá,
foi surpreendido por sua declaração ardente, paixão intensa e o
desejo nos olhos dela. não conseguiu evitar seu beijo e afastá-la,
apenas sentiu, quando sua camisa foi aberta, as mãos dela
queimando seu peito, e foi tolamente seduzido quando o corpo o
dominou. quando recuperou o próprio controle, estava cheio de
vergonha. sentiu-se usado em um momento de fraqueza, mas sabia
que também tinha culpa, pois deixara as coisas irem longe demais e
correspondera fisicamente. zangado consigo mesmo, falou-lhe que
isto nunca deveria ter acontecido, pois ele amava outra mulher, que
sempre seria seu único amor. a partir daquela noite o respeito e
amizade que sentira por ela, transformaram-se em decepção. não
escondeu seu desgosto ao sair, e pediu que ela se afastasse dele
definitivamente.
depois daquilo, não conseguiu dormir. encaminhou-se ao williams
college, e foi para sua sala, ler para se acalmar. como ia explicar a
sara o que acontecera? esconder dela, aumentaria sua traição, mas
ele precisava dar um passo de cada vez. um dia teria que contar
sobre aquela noite, olhando dentro dos seus olhos, para que ela
pudesse ler sua dor e arrependimento. agora, precisava fazer algo
para que ela entendesse seu amor. ele tinha necessidade de se
comunicar com ela. lendo o soneto 47 de shakespeare, viu
claramente o que o que fazer.
pegou uma folha em branco e escreveu:
“sara
nossa despedida foi desajeitada. eu não sei porque encontro tanta
dificuldade em expressar meus sentimentos por você. mesmo
pensando na distância que nos separa, posso ver você tão
claramente, como se estivesse aqui comigo. eu disse que sentiria sua
falta, e eu sinto.
transcrevo este soneto, que pode expressar o que sinto, melhor do eu
consigo.
eu a amo.”
endereçou um envelope e colocou a carta dentro.
mas, ainda não podia enviá-la, não agora, depois do que
acontecera...***
voltou ao presente, quando lady heather suplicou:
lh: grissom, diga alguma coisa, este bebê não deve sofrer por nossos
erros.
grissom não estava feliz. a idéia de um filho (outro filho...), parecia
uma segunda chance que a vida lhe ofertava... uma espécie de
amarga compensação; amava sara e o filho de sara... mas tinha,
agora, um filho que precisava dele. e, ainda que este filho tenha sido
gerado sem amor, com uma mulher que ele não amava, era seu filho,
e ia amá-lo, como um pai ama um filho.
ajoelhou-se e encostou o rosto no ventre volumoso e falou:
gg: vou cuidar do meu filho com muito amor, e tratar com respeito
sua mãe. É tudo que eu posso lhe oferecer, o meu respeito. e quero
que saiba que não vou desistir de procura sara, enquanto eu viver !

no laboratório, catherine tentava conversar com delegado:


cw: você não pode demiti-lo assim; ele só precisa de mais tempo...
dl: eu não queria catherine, mas ele não me deu outra escolha. se e
quando ele recuperar o juízo, podemos considerar readmiti-lo.
catherine saiu da sala desolada; pegou os casos e foi distribuir para o
pessoal, que estava na sala de descanso, em profundo silêncio.
cw: nick e greg, ficam com um homem morto no quarto do hotel
duck’s. warrick vem comigo, temos um caso de uma mulher,
acusada de espancar o filho de cinco anos até a morte.
no carro, nem nick nem greg conversavam; para aliviar o clima,
ligam o rádio. mas não é possível suportar calados por mais tempo:
ns: hei cara, não fique assim. ninguém vai desistir dela.
gs: eu sei cara, nunca desistiremos...
ns: mas tudo vai ficar mais complicado, com grissom longe do
laboratório...
a semana foi passando lentamente. todos estavam angustiados.
grissom, que precisara tomar fortes remédios para dormir um pouco,
acordou mais descansado, pelo menos fisicamente. sabia que
precisava voltar para o laboratório; precisava seu emprego de volta.
levantou, tomou um banho, fez a barba, olhou sua aparência no
espelho e sentiu-se muito velho. mas, quanto a isto, não havia nada
que pudesse fazer. vestiu-se e saiu.
no caminho, parou em uma lanchonete, para comer alguma coisa. ao
lado, havia uma loja infantil. olhou para as roupinhas e sentiu que
devia começar a agir como um pai; comprou dois macacões
amarelos, um para o bebê de lady heather. e outro para seu filho com
sara. tudo que ele fizesse para um, faria igual para o outro. ainda que
sara e seu filho não estivessem com ele, ele sentia que ela voltaria.
chegando ao laboratório, pediu para falar com delegado.
gg: eu vim pedir desculpas por ter perdido a cabeça. preciso deste
emprego. pode me aceitar de volta ?
dl: grissom, você sempre foi excelente csi, talvez o melhor, embora
seja um grande teimoso. até posso readmiti-lo, porque a equipe está
incompleta e precisamos de mais um perito. mas tome muito
cuidado com seu comportamento. você estará em experiência,
qualquer abuso, e volta para a rua, desta vez sem nova chance.
gg: É claro, eu entendo.
dl: outra coisa, você não será mais supervisor. este cargo já é de
catherine. você vai começar do zero. terá que refazer sua carreira.
gg: mais alguma coisa ?
dl: por hora, só isto. vá apresentar-se a sua supervisora agora e passe
mais tarde no setor de recursos humanos, para assinar a papelada.
grissom dirige-se a sala de descanso, onde o pessoal se reunia, até a
distribuição dos casos. todos já deviam estar lá; poderia apresentar-
se logo a todos ao mesmo tempo.
warrick, nick e greg lá estavam, conversando, quando ouviram
chegou:
gg: boa noite, pessoal. deu um suspiro, de alguém que finalmente
volta para casa.
wb: cara, como é bom te ver de novo !
greg ainda não conseguira perdoá-lo por causa do que fizera a sara,
mas não deixou de cumprimentá-lo:
gs: também senti sua falta, grissom.
ns: então você é novamente nosso chefe ?
grissom, que estava pensando nos problemas que tinha pela frente,
respondeu calmamente:
gg: não, agora sou apenas um csi do turno de vocês.
catherine que chegava escutou o que grissom falara, e só pode dar
um leve sorriso e falar:
cw: bem vindo de volta, meu amigo, enquanto dava um grande
abraço nele.
cw: só quero que saiba, grissom, que ninguém aqui vai desistir dela,
jamais.
ele concordou com a cabeça.
ela começou a distribuir os casos daquela noite.
por volta do meio dia, grissom pegou a pasta com o caso das
mulheres grávidas, que havia sido arquivado e começou a examiná-
la.
greg sentou-se ao lado dele.
gs: hei, cara. quer ajuda ?
gg: obrigado, greg, mas você precisa descansar, se alimentar, cuidar
um pouco de sua vida, fazer as coisas que gosta. não pode só pensar
em trabalhar todo o tempo.
greg larga os papéis que estava estudando, e olha aborrecido para
grissom:
gs: você não é o único aqui que se importa com ela. todos sabem que
eu gostava dela, e por um bom tempo tive esperança de conquistá-la.
mas com o tempo, percebi que ela gosta de mim como um irmão, e
sempre amou apenas você. isto não me fez deixar de amá-la; eu
daria minha própria vida para trazê-la de volta. então, não me diga
para ir cuidar da minha vida, enquanto sara não estiver de volta. ela
é parte da minha vida, mesmo que me considere apenas um irmão.
grissom ficou parado, olhando-o fixo, e sentindo ciúmes... mas greg
estava ali pelo mesmo motivo que ele: trazer sara de volta.
gg: desculpe, greg. vou pegar um café para nós dois, e volto para
discutirmos o caso

xxxxxxx
sara olhava um cordão que grissom lhe dera, quando começaram a
se encontrar, e que ele gostava de saber que ela sempre o usava. era
de ouro, com um pingente duplo, em forma de coração, que quando
se abria, mostrava seu nome gravado. ela suspirou baixinho o nome
dele, quando a porta se abriu. era seu carcereiro, o homem que a
cuidava de sua prisão, trazendo seu almoço.
hoje ele estava irritado, e falava consigo mesmo:
cc: então ela pensa que agora pode simplesmente me descartar, para
ficar com aquele cientista forense ?
sara escutou estas palavras com seu coração acelerado...
ss: a quem você está se referindo ?
o homem olhou pra ela com desprezo, cheio de rancor.
cc: aquele seu namorado, pensa que pode ficar com lady heather;
recebeu ela de braços abertos, e ela quer se livrar de mim, como se
eu fosse um monte de lixo. mas eu vou me vingar eu já tenho meus
planos. ele olhou tão friamente para sara, que ela temeu por seu
filho...
ss: pois me solte, e você terá sua melhor vingança !
cc: não, você é assunto que ela quer liquidar pessoalmente.
sara estava muito assustada, com aquele homem tão submisso a lady
heather, que agora mostrava sua fúria. seu coração estava apertado,
tentando imaginar o que aquele maluco pretendia fazer.
ao mesmo tempo, se perguntava se grissom havia realmente aceitado
lady heather em seu lugar.
ela começou a chorar baixinho...

grissom voltou com o café deles. estava calado e pensativo. greg


examinava a pasta, analisando cada caso. o silêncio, quase amistoso,
que mantinham, foi quebrado por uma voz feminina:
lh: grissom, trouxe alguma coisa pra você comer. você não tem se
alimentado direito...
ele olhou embaraçado para greg, que não escondeu sua decepção.
fixou um olhar severo nela:
gg: muito obrigado, mas você não devia esta aqui...
nick e jim, que vinham entrando na sala, se espantaram em ver quem
estava ali. cumprimentaram-na, pegaram café e sentaram-se,
fingindo conversar, mas na realidade, cheios de curiosidade...
lh: tudo bem, eu já estou de saída. mas você precisa se cuidar, ou
não vai conseguir trabalhar assim; observei que não tem preparado
nada em sua casa. você nem fez compras...
greg pensou que com esse comentário, ela mostrava estar muito
íntima de grissom; era uma exibição do seu poder sobre ele. ela
estava marcando-o como seu homem.
ela olhou greg diretamente nos olhos. soube de imediato que ele a
odiava, e deu um sorriso triunfante.
lh: até mais tarde, grissom. não demore demais.
jim ouvia tudo com olhar de reprovação, mas nada disse.
greg não suportou mais:
gs: grissom, porque está fazendo isso com sara?
grissom respondeu sem dar muita importância:
gg: não estou fazendo nada greg.
greg balançou a cabeça como se não acreditasse no que ouvia:
gs: como você acha que sara vai se sentir quando voltar, e encontrar
lady heather lhe consolando, com tanto domínio sobre você ? seja
realista, grissom. acredita mesmo que ela só quer sua amizade ?
grissom, impaciente, respondeu:
gg: greg, não devo satisfações da minha vida a ninguém. mas se quer
realmente saber, eu não estou junto com heather; estou só cuidando
de meu filho...
grissom interrompeu-se, quando percebeu o que tinha falado. havia
contado algo que nem mesmo ele perdoava-se por ter acontecido.
jim e nick olharam de um para o outro, muito surpresos pelas coisas
que estavam ouvindo.
gs: É isso, então, grissom, foi por isto que você voltou. bastará esta
criança nascer, para você esquecer de sara. não sei como ela pôde
amá-lo. você só pensa em você, e nas coisas que são importantes
para você. o que sara viu em você gil grissom ?
os dois estavam muito alterados, elevaram suas vozes e grissom
parecia a ponto de explodir.
jim achou melhor interferir na discussão e acalmá-los.
jb: hei, parem com isto os dois ! se o delegado escuta essa confusão,
não vai ser nada bom para você grissom.
os dois se olham, ressentidos, mas param de discutir.
grissom resolve ir para casa; sabe que precisa descansar um pouco.
durante o trajeto, fica pensando no que aconteceu, e reconhece que
só se enfureceu com greg porque estava com raiva de si mesmo,
sentia culpa pelo que estava acontecendo, e sabia que não devia
fazer isto com sara. mas, a essa altura, não dava pra voltar atrás. ele
não podia mudar o que já havia acontecido.
seu celular toca; é o numero de ecklie.
ce: grissom, nem sei porque estou fazendo isso, mas achei que devia
lhe contar. temos novas pistas, outros corpos foram encontrados,
com mesmo mo (modus operandis) dos outros casos. ainda não
identificamos as vítimas.
grissom não queria acreditar. um dos corpos poderia ser o dela ?
sentiu-se sem forças para enfrentar este fato. desejou fugir, não ter
ouvido, e fingiu não entender o que foi falado.
gg: como??
ecklie, perdeu sua pouca paciência e tornou-se ríspido:

ce: não banque o tolo comigo, você entendeu muito bem! ligue para
sua supervisora imediatamente.
grissom ligou para o número de catherine:
gg: catherine, acharam mais dois corpos. o ecklie vai passar o caso
para nosso turno. por deus, cath, pegue o caso...
cw: É claro, grissom, mas não posso cuidar dele pessoalmente, pois
lindsay está doente. eu realmente queria muito estar aí, mas minha
filha precisa de mim. por ora, vou mandar greg acompanhá-lo.
algum problema ?
gg: lógico que não! e, catherine, muito obrigado.
cw: eu vou ligar para ele.
grissom retornou ao laboratório e foi direto ao necrotério, onde os
corpos já sendo preparados para a necropsia. quando entrou, greg
encontrava-se a espera dele:
gs: grissom, não dá para saber se é ela. será preciso esperar o exame
de dna; você sabe como o processo é demorado...
a cabeça de grissom começa a latejar; ele tinha desejado muito que
surgissem novas pistas, mas
imaginar que sara pudesse estar lá, dentro da morgue, enchia-o de
pânico.
greg sentou em uma mesa; suas pernas tremiam e ele sentia vontade
de chorar; mas precisava se mostrar forte; a raiva que estava
sentindo de grissom, por causa de lady heather, ajudou-o a conter-se.
sara estava angustiada. precisava encontrar um jeito de fazer com
que seus amigos soubessem o que havia acontecido com ela, e
descobrissem quem estava por trás de tudo aquilo ... temia as
conseqüências, que poderiam recair sobre sua criança e, ao mesmo
tempo, não suportava a idéia de grissom sendo enganado, envolvido
por aquela mulher... ao mesmo tempo, se perguntava como ele
poderia ter gerado um filho com a outra, e a resposta desta questão
era sempre muito amarga... ela poderia morrer a qualquer momento,
sem que ninguém descobrisse a verdade. nem ela própria...
estava presa num local onde o tempo não existia, nem trazia
qualquer esperança de liberdade.
grissom faz um movimento de cabeça e pergunta se greg não vai
com ele, assistir às autópsias; está muito pálido, ao pensar em quem
pode estar sob o bisturi do legista, mas tem que realizar seu trabalho
da melhor forma possível e sabe que alguém envolvido no caso tem
que estar lá, durante o procedimento. ele sabe que greg está
sofrendo, e que isto poderia ser demais para ele; fica comovido e
diz:
gg: eu posso fazer isto sozinho; não precisamos estar os dois lá
dentro... você pode ir analisando o material coletado na cena dos
crimes, e ver o que o pessoal do ecklie encontrou; ele já sabia que ...
do que se tratava, quando nos passou o caso. veja o que eles
encontraram, as fotos, tente achar algo que nos dê um indício para
encontrarmos... o responsável por estes... atos.
vestindo o avental adequado, grissom entrou na sala onde, nas macas
metálicas, os corpos anônimos começavam a contar seus segredos ao
dr robbins.
um csi do turno do dia entregou a greg, que era o responsável pelo
caso, uma pasta com as informações que tinham recolhido. a
primeira coisa que viu, foram as fotos dos corpos, que eram apenas
dois troncos desmembrados, imagens terríveis para se associar a
alguém que se conheceu. pensou em grissom, olhando o exame
daqueles horríveis restos humanos, e sentiu abrandar um pouco sua
raiva, porque tinha certeza de que ele estaria sofrendo, com ou sem
lady heather em sua vida. questionou-se se não devia estar lá
também. e decidiu que também assistiria a necropsia; poderiam
examinar o que fora coletado posteriormente, juntos. eles dois
estavam trabalhando no caso; precisava aceitar isto, além de
reconhecer que a experiência de grissom era um fato a considerar
seriamente, por mais que estivesse decepcionado com ele. vestiu um
avental, respirou fundo, e entrou na sala dos exames.
os dois homens lá dentro, olharam interrogativamente para ele, mas,
ao ver sua expressão decidida, nada disseram.
olhar de perto aquela monstruosidade, foi um choque para greg, que
mesmo sabendo o que veria, não conseguiu conter suas palavras:
gs: maldito psicopata ! quando eu pegar este sujeito...
grissom, de forma automática, tentando manter sua mente longe do
desespero que sentia, nem percebe que começa uma preleção
textual:
gg: autores psicanalíticos consideram a psicopatia como uma grave
patologia do superego, como sendo uma síndrome de narcisismo
maligno, cujas características seriam a conduta anti-social, agressão
ego-sintônica dirigida contra outros em forma de sadismo, ou
dirigida contra si mesmo, em forma de tendências automutiladoras
ou suicidas, sem depressão e de conduta paranóide.
a estrutura de tipo narcisística do psicopata teria as seguintes
características: auto-referência excessiva, tendência à superioridade,
exibicionismo, dependência excessiva da admiração por parte dos
outros, superficialidade emocional, crises de insegurança que se
alternam com sentimentos de grandiosidade.
portanto, dentro das relações de objeto (com os outros), seria intensa
a rivalidade e inveja, consciente e/ou inconsciente, refletidos na
contínua tendência para exploração do outro, incapacidade de
depender de outros, falta de empatia com para com outros, falta de
compromisso interno em outras relações...
greg ouvia tudo, com espanto.
o dr. robbins, entendendo o que se passava, olha o amigo,
interrompendo suas palavras, com suas próprias conclusões:

dr. ar: as vítimas estão mortas há pelo menos noventa dias; foram
mortas do mesmo modo que as outras; os fetos foram atingidos por
um objeto cilíndrico, de ponta aguçada, que não deixa marcas de
empunhadura, o que sugere algo como um longo estilete... uma
estocada fatal para os embriões, mas não mortal para as mães, que
tem intensa hemorragia. em seguida, são também trespassadas na
altura do coração, o que nos dá a causa de seus óbitos. nos dois
casos atuais, os corpos foram desmembrados com um instrumento
cortante, serrilhado, mecânico ou elétrico, uma vez que os cortes são
retos, sem hesitação, na base do pescoço, articulações dos braços e
pernas. as mutilações foram infringidas antes da rigidez cadavérica,
provavelmente logo após a morte, tendo havido uma grande
drenagem de sangue. não há como definir qual das vítimas foi à
primeira, nem qual o espaço de tempo entre elas. provavelmente,
muito próximo, uma vez que sua decomposição apresenta
semelhante desenvolvimento. os troncos foram preservados através
de resfriamento, ou seja, foram congelados e assim permaneceram,
até o momento de serem carregados para o local em que foram
encontrados. os senhores devem procurar uma cena de crime
primária, pois elas não foram mortas e ... cortada no local.
receberão meus relatórios detalhados, com os resultados das análises
de fluídos, dna e toxicológicas, mas não deverão ter muito mais
novidades.

sara estava sentindo o estômago reclamar, sua refeição estava


atrasada. esperava que logo o homem que cuidava dela aparecesse,
pois já passara da hora do almoço. como o homem costumava ser
muito cuidadoso com suas necessidades, ela começou a ficar
assustada, imaginando coisas ruins... e se ele tivesse resolvido matá-
la ? e se lady heather não quisesse mais o seu bebê ? e se... seus
pensamentos eram cheios de medo, quando a porta se abriu
e homem chegou com seu almoço. ele estava enfurecido, e falava
com mordacidade:
h: oi, sarinha. como se sente ? está satisfeita com suas
acomodações ? tem tudo que precisa ?
ela estranhou aquela atitude, mas resolveu esconder seus receios:
ss: estou péssima ! isto é um cativeiro, com uma intenção cruel ! o
que você acha que eu deveria sentir ?
ele não gostou da atitude desafiadora de sara. puxou-a pelos cabelos
e trousse seu rosto bem para perto do dele, num movimento tão
rápido, que sara não conseguiu se esgueirar.
h: olhe aqui mocinha, preste muita atenção em minha estória..
destilando sua raiva, começou a falar:
h: eu, por muito tempo fui submisso à lady, porque eu a amo muito;
ela sempre foi senhora da milha vida; fiz tudo ela mandou. eu peguei
todas aquelas mulheres, de acordo com os planos dela. os dois
últimos corpos deram mais trabalho; como você era o objetivo
principal, precisei aproveitar a oportunidade, antes que ficasse
protegida demais. já havia capturado as outras duas, mas antes de
cuidar delas, precisava trazer e acomodar você. e, tendo você nas
mãos, a lady queria confundir a cabeça do seu namoradinho ! não
quis que eu me livrasse dos corpos de imediato, porque eles iam
logo saber que não era você, e isso não era do interesse dela. disse
que eu teria que dar um jeito para que elas não pudessem ser
identificadas imediatamente, além de ter que guardá-las, para ele ter
bastante tempo para se preocupar... quando fossem encontradas, ele
deveria sofrer com a dúvida, sem identificar os corpos logo; era
preciso que ele ficasse se perguntando se uma delas era você. e
quando ele pudesse ter certeza que não, ainda teria que entender que
todas as mulheres desaparecidas só eram encontradas depois de
mortas, não importa quanto tempo se passasse. então, eu
desmembrei os corpos; sem cabeça, braços com mãos e dedos, ou
pernas, um simples tronco, não poderia ser identificado visualmente.
como era preciso que o caso chegasse a ele, teria que ficar claro que
a maneira como elas morreram seguiu o mesmo método das outras;
por isto, precisei congelar os troncos, com minha assinatura mortal,
nos bebês e nas mães. precisei limpar as partes cortadas, até que só
sobrassem os ossos; quebrei os dentes de cada uma pra dificultar a
perícia e a identificação dos corpos. veja, eu me diverti fazendo isto.
sabe por que toda a estória se tornou necessária ?
sara olhava-o, horrorizada:
ss: não, eu não sei.
ele soltou uma risada que fez gelar o sangue de sara.
h: porque a minha lady acha que o filho dela vai morrer. eu
trabalhava no laboratório que atendia as clínicas pré-natais, e pude
alterar os exames dela, com a esperança que ela fizesse um aborto e
se voltasse para mim, finalmente enxergando o quanto eu a amava e
como poderia fazê-la feliz!
sara olhava-o, sem conseguir acreditar no que ouvia.
ele não percebeu a confusão de sara, e continuou sua narrativa:
h: minha lady, então, ficou transtornada, e teve esta idéia de matar os
bebês das outras mulheres que passavam em seu caminho, e ficou
ainda mais furiosa quando descobriu que mulher que ele havia dito
amar, a outra, você, também estava grávida ! eu fui um tolo, falando
do resultado do seu exame. e foi azar meu, trocar de emprego e ir
parar na clinica da sua nova médica, mas para ela, foi um sinal de
sorte ! ela elaborou o plano de trocar o seu bebê pelo dela e, livre de
você, tendo também um filho dele, ela sabe que mais cedo ou mais
tarde, pode agarrar aquele perito idiota. e, após me usar,
simplesmente me abandonará... ha, mas eu sei o que vai acontecer
com o maldito filho deles ! e com este que você espera, também !
saiu do quarto, fechando a porta atrás de si, deixando sara trêmula,
agarrando seu ventre, imaginando o que aquele louco poderia estar
planejando... e mais uma vez, ele só conseguiu sussurrar bem
baixinho: grissom ... precisamos tanto de você !
grissom e greg, tentavam examinar o material recolhido pelo turno
do dia, enquanto aguardavam o resultado do dna; folheavam a pasta,
evitando olhar as fotos, e liam os relatórios, sem conseguir se
concentrar completamente, pois sentiam a angústia consumi-los.
apesar de tudo, sabiam que era preciso continuar o trabalho. assim,
se o pior se confirmasse, mais motivos teriam para querer agarrar o
criminoso. ele tinha que ter cometido uma falha, em algum
momento, algo que eles precisavam encontrar...
grissom reuniu todo o seu controle, e distanciando-se das emoções
pessoais, começou a relatar a descrição do material encontrado na
cena do crime, e isto motivou greg a esforçar-se para prestar
completa atenção:
gg: local: lago overton.
ocorrência: descobertos, bem próximo ao lago, dois corpos
femininos, caucasianos, extensamente mutilados, com o estágio
inicial da decomposição acelerado devido gradual elevação da
temperatura dos órgãos e tecidos, indicativa de anterior conservação
em ambiente refrigerado, por tempo não determinado, até serem
expostos ao ar livre.
segundo o relatório preliminar do legista, em exame local, ambos
corpos apresentavam ferimentos no ventre, com profuso
sangramento, indicando um primeiro ataque aos úteros fertilizados,
com as vítimas ainda vivas, sendo apontadas como causas das
mortes, as perfurações dos músculos cardíacos das duas mulheres,
como um tipo de execução.
os dois corpos foram decapitados na altura da primeira vértebra,
tiveram amputados os membros superiores nas articulações dos
ombros e os membros inferiores nas articulações coxofemorais,
possivelmente logo após a morte.
foram encontrados no local dois crânios e três fêmures descarnados,
partes de mandíbulas superiores e inferiores esmagadas, quarenta e
um dentes, falanges, e vários ossos, todos embalados e enviados ao
necrotério, junto com os troncos, embora não estejam identificados.
É admissível que pertençam às vítimas, que podem ter os corpos só
parcialmente recuperados, pois muitos dentes, ossos e seus
fragmentos estão faltando.
greg balança a cabeça, assombrados por visões torturantes...
gs: por que, por que esta selvageria insana com ela... com elas, além
dos ataques aos bebês ? por que este monstro mudou sua forma de
ataque... desta vez...
gg: isto nós precisamos, vamos descobrir! a mudança no padrão do
modo de se livrar dos corpos, deve significar algo... você observou
que os cortes foram nas articulações, precisos, como se feitos por
alguém que tivesse experiência em desmembramentos, ou
conhecimentos de anatomia. mas não foram utilizados instrumentos
cirúrgicos... também não havia marcas de hesitação, nem
irregularidades, que demonstrassem esforço físico; nosso criminoso
usou equipamento mecânico, provavelmente elétrico e fixo, para
serrar... sim, uma lâmina poderosa, denteada, como uma serra.
não uma moto-serra manual, não poderia fazer cortes tão perfeitos...
precisamos analisar estes cortes... podemos descobrir o que os
causou, identificar sua origem. você é um especialista em procurar
este tipo de informações; use sua capacidade, com uma dedicação
que nunca antes precisou... pode ser nossa melhor chance de
encontrá-la... encontrar algo... chegar ao assassino!
gs: você já está formando um perfil deste louco, ou louca,
acrescentou, desafiando grissom a contradizê-lo...
gg: você poderia estar certo, greg, não teríamos certeza de estarmos
lidando com um homem, apenas considerando a força física
empregada nos ataques, em todos os ataques, dado não termos
descoberto como as vítimas foram capturadas; o uso de um tipo de
serra de mesa, com motor, não excluiria uma mulher... mas está
esquecendo que uma das vítimas foi estuprada ! temos amostra de
sêmen, um dna masculino, que não consta do sistema. e temos ainda,
um segundo dna xy, em outro caso, um fio de cabelo, também
anônimo, também desconhecido.
não podemos sequer ter certeza se são dois criminosos, ou apenas
um... sabemos que temos um estuprador, além de um assassino
sádico, de bebês não nascidos, e das suas mães...
suas últimas palavras foram ditas em tom mais baixo e temeroso.
gg: também sabemos que nenhum dos doadores de dna é um dos
familiares das vítimas...
grissom começou a organizar um mural, reunindo dados de todos os
casos, desde o primeiro; foi adicionando algumas fotos, incluindo as
dos dois últimos casos, e num canto em destaque, as do
desaparecimento de sara. sentiu uma grande angústia ao rever as
cenas do apartamento dela; ainda podia lembrar cada detalhe dele,
em sua mente, de como era antes, quando a visitava lá... seu olhar
perdeu-se em lembranças, tão vivas e tão íntimas, até se chocar com
o que era mostrado nas fotografias de agora. tudo continuava
exatamente como fora encontrado, em desordem, com manchas de
sangue, e vazio de sara! ele trancara e selara o apartamento, embora
não tivesse mais estado em seu interior, depois daquela noite, que
transformara sua vida em um pesadelo...
greg, começara a auxiliar grissom, na montagem do quadro de
seqüência dos crimes. formaram uma linha de tempo, que não
parecia corretamente definida, e buscavam algo, que deveria estar lá.
olhavam todos os detalhes, tentando nada deixar escapar...
gg: não percebo por que ele mudou o comportamento. geralmente
não mudam um padrão, que aqui é a raiva que ele direciona aos
bebês. este seria o fato que provocaria os ataques... seus motivos,
podem ser diversos. um irmão mais jovem, monopolizando a
atenção dos pais ? crianças são capazes de reagir com profunda
intensidade a situações de ciúmes... um adulto instável, pode reagir
com violência à chegada de um filho indesejado, ou à perda de um
filho muito esperado...
observando a expressão estranha no rosto de greg, grissom pergunta
no que ele está pensando:
gs: pode ser uma mulher, que não consiga ser mãe, ou que tendo
sido rejeitada por seu parceiro, dispõe-se a culpar seu bebê, e
quaisquer outros que atravessem seu caminho...
grissom olha para greg, entendendo sua intenção acusadora...
gg: greg, vejo que me culpa pelo que aconteceu a sara, mas precisa
concentrar-se nas evidências! não pode deixar sua raiva levá-lo a
desconfiar de heather, só porque ela espera um filho meu! talvez
você me veja como seu cúmplice, estuprando mulheres grávidas,
matando seus filhos nascituros e cometendo todos estes crimes
selvagens... por que não solicita uma amostra de meu dna, e faz a
comparação com o material coletado nos homicídios... claro, não
tem necessidade de amostras, todos os meus dados estão arquivados
no sistema, como de todas as pessoas que trabalham aqui.
provavelmente você já fez os testes, mas deve acreditar que eu
adulterei os meus dados que constam do arquivo! o que você
prefere, saliva, sangue, ou talvez sêmen? por que não os exige de
mim ?
a explosão de grissom demonstrava seu cansaço, irritação, uma fúria
contida, mas acima de tudo, profunda tristeza e arrependimento. era
muito difícil estar todo o tempo justificando o injustificável...
greg sentiu-se mal por tê-lo pressionado. podia não gostar de lady
heather, por sara ter sido magoada com a proximidade dela e
grissom; podia ter sentido muita raiva de grissom, por ter traído
sara...e por estar ligado àquela mulher por um filho... mas nunca
poderia acreditar que seu líder, ídolo, o homem que ele sempre
admirara, aquele que conquistara o amor da mulher que ele, greg,
desejara e chegara a amar, fosse um psicopata assassino, e mais, este
tipo perverso de assassino... ele nunca imaginara grissom nem como
um cúmplice, apenas sua instintiva aversão à mulher que tentava
ocupar o lugar de sara, levava-o a considerá-la uma suspeita. ele
sabia que isto era algo irracional, sem que qualquer indício apoiasse
esta idéia, mas ela insistia em surgir em sua mente.
gs: desculpe, grissom, eu não quis acusar você, de forma alguma.
mas essa mulher parece pedir para ser culpada. e você está se
deixando dominar por ela, como... como um bobo !
grissom esboçou algo, que poderia passar por um sorriso ou um
esgar de dor. ele sabia que se deixara prender em um beco sem saída
! não podia rejeitar um filho, fosse qual fosse a forma como fora
gerado, e não podia simplesmente livrar-se da mãe desta criança,
como se fosse um objeto desnecessário. ele não apreciava as
exigências de atenção e tempo que heather lhe fazia, usando a
criança como motivo; mas não sabia o que podia fazer a este
respeito. fora totalmente franco com ela, quando dissera que
reconheceria o filho, mas não queria qualquer tipo de relação íntima
com ela; nem mesmo a amizade que lhe dedicara, conseguia mais
demonstrar. procurava ser gentil, e entender suas alterações de
humor, mas não ocultava seu desprazer, e reagia com repulsa quando
ela procurava atraí-lo e tocá-lo.
tentou retomar a análise do assassino, procurando ser paciente com
greg.
gg: uma mulher, que tivesse sofrido a perda de um bebê ainda no
ventre, de forma violenta, poderia tornar-se desequilibrada, e buscar
vingança, tirando o filho e a vida de outras mulheres cuja felicidade
lhe parecesse injusta... mas não podemos esquecer que o dna
encontrando não permite este tipo de interpretação ! um fio de
cabelo pode ser plantado, ou até mesmo, incidental, mas a presença
de sêmen, e as marcas do estupro não foram simuladas. em todos os
casos, os maridos foram excluídos de qualquer tipo de suspeita, e
não encontramos quaisquer indícios de outros, namorados ou
amantes, rejeitados e buscando vingança. quase todas as vítimas,
tinham casamentos estáveis e, tanto quanto pudemos descobrir, seus
maridos estavam felizes com a idéia de serem pais. e, antes que você
destaque o fato, heather disse não ter ninguém em sua vida, pelo
menos, no último ano, e assim as investigações confirmaram. você
participou das verificações que concluíram ter sua atividade
profissional se restringido a organizar os encontros e fantasias de
seus clientes, enquanto as garotas do domínio heather cuidavam da
parte operacional.
era embaraçoso para grissom, falar destes fatos, enquanto examinava
a pasta com o caso da agressão sofrida por lady heather, e recordava
como lhe fizera companhia naquele dia. eles não tinham conversado
muito, pois ele logo contou sobre sara e seus sentimentos por ela.
não queria ficar na casa dela, mas não pudera negar-se a auxiliá-la.
pensara em pedir a brass que enviasse uma viatura, mas sabia que
seu amigo não gostava da mulher, e não se sentira disposto a tomar
sua defesa, não após o que acontecera...
tinha consciência e arrependimento da sua parcela de culpa no
ocorrido, por isto, não pudera apenas virar as costas e deixá-la correr
perigo.

neste momento, o resultado do dna das vítimas é entregue.


grissom e greg olham para as folhas impressas, como se estivessem
diante de uma cascavel, cujo bote poderia ser fatal. após um tempo
que pareceu conter toda a eternidade, grissom se aproxima
lentamente da mesa, pega os resultados e tenta lê-los, quando os
nomes desconhecidos lhe saltam aos olhos. olha para greg, ainda
imóvel, e diz com voz rouca:
gg: as vítimas foram identificadas.
corpo 1 - patrícia davis, 27 anos, desaparecida há cento e quinze
dias, conforme registrado por seu marido, gerald davis jr. na época,
estava no terceiro mês de gravidez e era paciente da clínica do dr.
mac allistair.
corpo 2 - anne caroline morgan, 23 anos, desaparecida há cento e
treze dias, conforme registro feito por seu marido, nicholas morgan;
na época, estava no segundo mês de gravidez; também era paciente
da clínica do dr. mac allistair.
greg soltou um suspiro de alívio, que grissom não deixou de ouvir,
enquanto pensava que sara estava desaparecida há cento e doze dias,
desde quando estava com seis semanas de gravidez, e fizera seus
primeiros exames na clínica do dr. mac allistair... seu filho deveria
estar... com cinco meses de gestação... ele não podia deixar de temer
que outro corpo fosse encontrado. as demais pacientes da clinica,
estavam em segurança. todas as desaparecidas haviam sido
localizadas apenas depois de mortas, após verem a morte de seus
bebês. e ele... eles não tinham quaisquer evidências para chegar ao
criminoso, que passara a mutilar terrivelmente os corpos de suas
vítimas... precisavam ... tirando os óculos, grissom esfregou seus
olhos, que ardiam; imaginou se uma de suas enxaquecas estaria
chegando, pois sentia doer parte de sua cabeça, pescoço e ombros,
além de estar levemente nauseado... foi quando percebeu que
estavam trabalhando sem descanso há mais de trinta e cinco horas, e,
embora devessem ter comido algo, neste período, não conseguia
lembrar o que fora, nem quando... seus músculos rígidos, exigiam
um pouco de movimento, também. e greg não podia estar muito
melhor do que ele, pois, apesar de mais jovem, deveria alimentar-se
com mais regularidade e consistência do que tinham feito nestas
tantas horas; e ele não reclamara, nem se mostrara disposto a ir, em
nenhum momento. olhando para os olhos fundos, com olheiras, e as
faces abatidas de greg, grissom perguntou-se qual seria a sua
aparência e, o que diriam os colegas, se alguém chegasse e os visse
naquele estado...
deviam descansar e se alimentar. a madrugada estava em meio, a
equipe do dia, há muito deveria ter saído, e a turma da noite,
provavelmente estava em campo, sobrecarregada com o excesso de
trabalho. havia algo que ele queria fazer, mas não agora, pois
precisava da luz do sol. resolveu que ambos deveriam ir para casa,
tomar um banho e dormir por umas quatro horas; no momento,
podiam sentir algum alívio em saber que nenhum dos corpos nas
gavetas do necrotério era o de sara. falou com greg, que concordou
com sua sugestão. sabia que tinham ultrapassado seus limites físicos,
e deviam recuperar suas energias.

greg mostrou-se surpreso ao chegar, pois nem imaginava a


existência daquela praia. um belo lugar, mas desconhecido para a
maioria dos forasteiros. os moradores locais divertiam-se por lá nos
fins de semanas, com suas famílias, pois o recanto não fora incluído
nos roteiros para turistas.
grissom já estivera lá; trabalhara num caso, anos antes, quando
parecera ter ocorrido um crime no balneário, durante uma festa
escolar. procurar suspeitos entre adolescentes, quase crianças, fora
uma perspectiva desagradável, mas com sua perícia, decifrara os
indícios contraditórios e ficara provado que tudo não passara de um
acidente infeliz.
agora, no presente, após uma falsa pista ter levado seu colega a uma
investigação infrutífera, ele sabia por que tinham que reexaminar o
local, olhando tudo de maneira diferente. pediu a greg que
manobrasse o carro e retornasse pelo asfalto, por uns duzentos
metros.
gg: estacione no bem no meio do asfalto, pegue os cones de
sinalização de trânsito, e vamos fechar toda a largura de estrada, uns
dez passos à frente. o local é pouco freqüentado nesta época e
horário, mas não queremos causar nenhum acidente.
gs: mas grissom, estamos nos afastando demais do perímetro
investigado!
gg: acabamos de delimitar um novo perímetro, greg. vamos
vasculhar cuidadosamente cada lado da rodovia daqui até o lago.
podemos começar pelo lado esquerdo, é o mais provável...
gs: eu entendo que identificamos sem qualquer dúvida o carro que
deixou as marcas na areia e que ficou comprovado que ele não
estava envolvido no crime. também reconheço que você soube de
imediato que aquele não era o veículo que queríamos, e que, apesar
de seu aviso, insisti em investigar inutilmente. mas como você
adivinhou? as marcas ficaram lá, eram evidências...
gg: exatamente por isto greg, eram tão evidentes, que não eram
evidências.
gs: suas citações são impressionantes, mas não explicam como você
soube que não era o carro certo, nem o que você espera encontrar tão
longe do local onde os corpos foram desembarcados.
gg: simples. as marcas encontradas pertenciam a uma limousine,
uma das grandes, usadas apenas por vips. via-se pelo comprimento,
número de eixos, rodas e modelos dos pneus...
gs: você quer dizer que vips não cometem crimes?
gg: não, greg. eu quero dizer que limousines, podem ser rastreadas e
identificadas facilmente. principalmente uma com 19 metros de
comprimento, o que significa muito, muito luxo, até para os padrões
de las vegas. além do mandala bay resorts & casino, neste caso,
apenas o bellagio e, talvez, o mgm grand hotel & casino, seriam
capazes de oferecer um serviço tão exclusivo aos seus hóspedes. um
assassino não usaria um veículo destes porque assim nos levaria
diretamente a ele, como se desenhasse um alvo em seu próprio
traseiro!
gs: e porque um casal milionário, de meia idade, acima de qualquer
suspeita, hospedado no mandala bay, resolve vir neste lugar, à noite,
realizar suas fantasias sexuais? só para atrapalhar nossa
investigação...
gg: esta, greg, é a magia local. a pequena praia é chamada de silver
beach porque de noite, sob a luz do luar, as areias brilham como
prata líquida e, o brilho se estende por toda paisagem ao redor,
incluindo o lago. É um fenômeno muito interessante, causado pela
condensação que o ar seco do deserto transforma em névoa sobre as
águas do lago, que se esfriam rapidamente após o por do sol. os
habitantes daqui já se acostumaram com o espetáculo, raramente
vêm assisti-lo, mas ainda gostam de contar sobre seus poderes
românticos. as limousines com o teto retrátil, permitem aos casais...
hã... amarem-se sob névoa de prata, o que lhes garante a perenidade
do seu amor.
gs: Ótimo para eles... mas porque vamos examinar esta área tão
afastada, se o carro do nosso suspeito teve suas marcas disfarçadas
pela presença da limo. acaso ela está fora do campo mágico protetor,
ou a mágica do lago de prata vai nos expor algo que os outros não
viram?
gg: você acabou de responder sua pergunta! essa magia talvez nos
mostre algo que tenha passado despercebido. ela já nos fez entender
porque havia marcas de um carro na areia da beira do lago. agora,
deixe-se conduzir pelo raciocínio, e pense em porque nosso esperto
criminoso iria estacionar junto ao lago, onde deixaria marcas de sua
presença, se podia permanecer no asfalto, e não ser percebido?
gs: mas, ele precisava levar os corpos para próximo da beira do lago,
é sua assinatura... e ele não poderia parar tão longe, poderia?
gg: por que não? no estado em que estavam os corpos, não seria
difícil carregá-los.
pense comigo, greg. nosso homem é esperto, conhece as redondezas
e vinha para cá. porém, viu outro carro seguindo para esta estrada.
ela só conduz até aqui. sabia da praia, é provável que conheça o mito
e, pelo tipo de carro, imagina o motivo que o trouxe. ele só
precisaria esperar no entroncamento da rodovia... poderia simular
uma troca de pneus, para justificar sua presença, parado lá, em plena
noite. quando a limo foi embora, ele veio, aproveitou as marcas tão
evidentes deixadas por ela, fez o que planejava fazer, encenando
pequenos erros, para demarcar um falso ponto de desembarque,
mantendo-se suficientemente longe da areia para ficar fora do
perímetro que seria examinado... por que o sobressalto, greg?
gs: grissom, o motorista da limousine... quando conversei com ele,
perguntando se observara outros carros nesta estrada, aquela noite,
ele disse que não... achou “engraçado”, todo este trecho estar
deserto, e na saída para a nv – 169 e, ver apenas aquele coitado, que
deu o azar de ter um pneu para trocar...
gg: nosso assassino! ele o viu? pode descrevê-lo? e ao carro?
gs: não viu muita coisa, o homem usava uma espécie de macacão e
boné; estava abaixado junto à roda traseira, era um carro velho... se
ele não estivesse com passageiros, pararia para ajudar, porque o
sujeito só tinha uma lanterna fraca... os faróis potentes da limo
mostraram o que parecia ser um fazendeiro, por causa da
caminhonete, muito arranhada... azul, ele achava... grande, cabine
dupla, carroceria coberta por um encerado... mas o motorista não
prestou muita atenção, era só pneu vazio. ele guardou o fato, por ser
de madrugada, perto das três horas da manhã e porque havia sido
uma noite calma nas estradas; e ele havia tirado um cochilo, na
cabine, enquanto os hóspedes aproveitavam a o luxo lá atrás...
gg: observador, boa testemunha... você sabe onde ele trabalha,
converse novamente com ele.
tente fazê-lo lembrar de mais detalhes... talvez parte da placa da
caminhonete, qual o fabricante, alguma característica do modelo...
ele não sabe, mas teve sorte em não poder parar para ajudar; passaria
a ser apenas mais um cadáver, na lista do sujeito esperto, que cuidou
para não ficar sob muita claridade!
gs: então foi assim? quando voltarmos para a cidade, vou interrogar
o cara que dirige a limousine special gold do mandala bay, até virá-
lo do avesso! ele pode recordar mais alguma coisa. começo a
entender o que você quis dizer, sobre um novo perímetro... mister
morte teria vindo para cá quando viu a limo indo embora; as marcas
deixadas seriam úteis; ele sabe que não vai encontrar outros carros
aqui, pois ficou vigiando o início da estrada e quem houvesse
chegado mais cedo já teria partido; ninguém mais apareceria depois
do show do luar... então, ele pára sobre o asfalto, onde não deixa
marcas de pneus nem pegadas, e tira o... os corpos e... mas o que
devemos procurar?
gg: você compreendeu perfeitamente minha idéia, greg. imagino que
ele tenha parado em um dos lados da estrada, e retirado seus troféus
macabros, para levá-los até próximo à beira do lago, em algum
ponto, entre este em que estamos, e o final do asfalto; um lugar bem
longe da parada da limo na areia, onde ele deixou uns poucos
ossinhos caídos, um com um pedaço de plástico resistente e escuro
preso, outro com fibras de lona, sem exagero, suficiente para parecer
que foram perdidos durante o desembarque, que na realidade
ocorreu fora da área examinada. vamos procurar qualquer coisa, que
confirme esta teoria, e nos dê mais indícios para analisarmos.
gs: os corpos estariam sob a lona?
gg: não sei, talvez dentro do carro, atrás dos bancos dianteiros; os
dois volumes em que foram transformados, não chamariam muita
atenção, nem ocupariam muito espaço.
enquanto falavam, iam caminhando, máquinas fotográficas nas
mãos, os olhos analisando cada pedaço de chão da faixa direita. o sol
alto, que se aproximava do meio dia, faz sobressair um brilho
branco, leitoso, sobre o asfalto, chamando a atenção de grissom, que
se abaixa, examina cuidadosamente, bate uma foto, coloca luvas, e
com a pinça, pega o pequeno objeto: um dente humano, que coloca
em um envelope, e rotula cuidadosamente.
gg: foi por aqui...
ainda com um joelho no chão, grissom observa algo que parece o
brilho de um líquido, sobre o asfalto quente e negro, novamente
fotografa, e utiliza a pinça, para levantar um fragmento de plástico
preto, amolecido pelo calor, parecido com o plástico encontrado
anteriormente. mais a frente, avista uma falange, e outro dente;
todos os procedimentos são cuidadosamente repetidos, enquanto
greg se aproxima fascinado por algo escuro, que parece incrustado
no asfalto, poucos passos à frente...
gs: isto está parecendo...
pega uma pinça, recolhe um objeto escuro, com aproximadamente
três por dois centímetros de tamanho. usa um bastão de amostras,
faz o teste químico com a fenolftaleína, que dá positivo para sangue.
mostra ao colega.
gs: sou capaz de jurar que isto é um pedaço de um tipo de lâmina
dentada! tem resíduos de sangue... acho que pode ser um pedaço da
serra que desmembrou os corpos.
gg: e que não deve ser um utensílio muito comum! este é o primeiro
indício material que encontramos que talvez possa ser identificado
de alguma forma...
greg mostra-se otimista. acho que podemos descobrir o fabricante,
através de sua exata composição, formato e tamanho... vou pesquisar
tudo sobre serras, seus tipos e usos... vou descobrir de onde isto
veio, grissom, eu juro!
gg: eu sei que você fará tudo o que for possível, greg, e acredito que
terá resultados. vamos terminar de examinar a área. ele deve ter
andado até o lago, carregando partes das vítimas, de cada vez, e o
plástico que as envolvia rasgou-se, deixando para trás pistas que ele
não desejava plantar. depois de tudo arrumado, ele só pensou em
desmanchar suas pegadas na areia, com o próprio invólucro que
usou para acondicionar os ossos.
vistoriaram todo o local, detalhadamente, incluindo a área que já
fora investigada anteriormente. foram encontrados pequenos
pedaços de ossos, parte de um dente, e mais um fragmento metálico,
com sinais de sangue. já passavam das 17:00 horas, quando
liberaram a estrada e retornaram para a cidade. consideraram parar,
no local onde a caminhonete estivera, naquela noite, mas não
saberiam o lugar exato o auxílio do motorista que a avistara. além
disso, aquela era uma estrada estadual movimentada e que passava
pelo parque do vale do fogo, muito visitado pelos turistas, assim,
não seria provável encontrar nada após o tempo transcorrido.

grissom, já sentia algum cansaço, após mais de seis horas em campo,


sob o sol forte. havia sido um trabalho necessário, e não fora um
gasto inútil de tempo, mas seus olhos ardiam devido ao excesso de
claridade e areia soprada pelo vento, junto ao lago. possivelmente,
seu corpo também esperava mais algum alimento, após a última
refeição ingerida, mas não era esta a maior preocupação em sua
mente, enquanto o carro seguia pela rodovia ie 15 n, chegando à
vegas.
não queria pensar em heater, mas sua gravidez o preocupava. ela
dissera que tudo corria bem, e não desejava fazer os exames, mas ele
sabia que teriam que ser feitos. a saúde dela era boa, mas a diabetes
podia trazer alguma complicação, e ela já não era tão jovem; os
riscos para a criança tinham que ser considerados. e ele tivera um
problema hereditário, de otosclerose. precisava saber quanto deste
problema seria geneticamente transmitido para seu filho.
sara, em sua prisão, conversa com o bebê. fala do homem amado,
um bobo, gentil, distraído, carinhoso, inteligente e protetor, que vai
ser o melhor pai do mundo! não quer se deixar abater, precisa lutar,
mas às vezes sente que está enlouquecendo...
lá fora, um barulho a faz se sobressaltar. soa a marcha fúnebre; é o
toque do celular de seu carcereiro escolhido com perverso senso de
humor.

horácio se afasta da porta, onde estava chegando, para atender ao


telefone. sabe quem vai falar, ele sempre sabe quando é ela... ainda
que seu toque não fosse tão especial...
lh: horácio, tenho um trabalho para você! tem que ser feito o mais
rápido possível!
h: seus desejos são ordens, minha senhora! seu servo está ao seu
dispor.
em seu tom de voz, há um misto de adoração, rancor e zombaria,
que lady heater não deixa de perceber. ela se pergunta até quando
ainda poderá controlá-lo. sabe quão perigoso um homem enciumado
pode se tornar, e pensa que grissom pode se tornar um alvo muito
fácil!
lh: você tem que matar marcel, o médico que demitiu você da clínica
de spring valley. ele não pode fazer os exames que grissom está
exigindo; coisa demais seriam descobertas... cuide do assunto, não
cometa nenhum erro.
h: eu farei o que deve ser feito, ainda hoje. vou gostar deste trabalho,
e você, minha lady, vai gostar dos resultados...
lady heater não entende o que ele está querendo dizer, mas, no
momento, o essencial é que marcel saia de cena. ela teme que ele
fale sobre a fertilização, ao descobrir que o bebê tem problemas
genéticos que não lhe deixarão sobreviver. ela não vai correr o risco
de deixá-lo realizar os exames. até agora, conseguira fraudar os
resultados que mostrara a grissom, e ficara satisfeita dele se manter
ocupado e não insistir em acompanhá-la durante as visitas periódicas
ao médico. ele considerava seu dever assumir a paternidade da
criança, e ter certeza de que ela estava recebendo todos os cuidados
necessários, mas não conseguia esconder que ainda não amava este
filho dela.
quando o neném chegasse, aí as coisas seriam diferentes; ele ficaria
amoroso, e a mãe, frágil após um parto complicado, seria
merecedora de sua atenção. ela saberia transformar este apreço em
amor...

horácio desliga o telefone, exultante. a ordem de lady h. vinha na


hora exata.
seu plano já tinha amadurecido completamente, e agora, ele podia
agir, sem despertar as suspeitas dela, sem que ela pudesse prever o
que viria a seguir... heater ainda precisaria dele, mesmo após seu
primeiro gesto de rebeldia declarado... ele teria que estar lá, para
atendê-la no parto, só que faria as coisas a sua maneira... ela teria
uma grande surpresa!
ele começa a agir imediatamente. vai até o quarto de sara, levando o
jantar; recolhe as roupas da cama, os travesseiro, as roupas usadas, e
outros objetos que seriam úteis, levando-os consigo. ao voltar, traz
uma seringa, e tubos de ensaio; dizendo que é o dia dos exames de
controle, tira várias amostras de sangue, uma quantia considerável, e
para que ela não fique enfraquecida, certifica-se de que na pequena
geladeira que há no quarto, haja muitas frutas frescas, sucos e
repositores energéticos, que a aconselha a ingerir, bem como
bastante água. substitui tudo o que retirou do quarto. faz a cama com
lençóis perfumados, novos, como os vários travesseiros, roupas,
peças íntimas, artigos de toalete, que arruma cuidadosamente, no
armário e no banheiro, onde fizera meticulosa limpeza. comporta-se
de forma gentil, atento para que nada falte ao conforto dela, exceto a
liberdade. ele não sente ódio por ela...
sara apenas olha a cena sem reagir, nem tentar entender. concentra-
se em proteger sua criança, ciente de que enquanto ela não o desafia,
ele se mostra delicado e menos perigoso.
horácio lhe deseja um bom repouso, e sai, trancando a porta com um
sorriso. busca as cordas que usara, quando capturou sara em seu
apartamento, que têm algumas manchas de sangue, além de células
epiteliais dela, cuidadosamente preservadas e reúne ao restante do
material que vai utilizar. coloca tudo no carro, a velha camionete
azul, e parte em direção a casa do doutor marcel. tinha seus próprios
motivos para não querer que o médico procedesse aos exames em
heater, e fizera planos muito especiais para livrar-se dele, que
deixariam seu inimigo bem ocupado e confundiriam sua lady infiel.
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quando marcel chegou em casa, sentia-se cansado e faminto, pois
tivera um dia ocupado, da pior maneira, apenas com a papelada
administrativa. foi direto até a geladeira e fez um grande sanduíche
de tomate com palmito e molho de ervas frescas e picantes no pão
integral. cuidava de sua saúde mantendo uma alimentação
equilibrada, evitando o fumo e o consumo de álcool. um bom chá
verde era sua bebida predileta. fazia exercícios na academia
completa que montara no pavilhão, junto à piscina, onde dava boas
braçadas diariamente. uma vaidade inocente o levava a gostar de sua
aparência, cultivada ao longo de seus anos de trabalho dedicado a
medicina, e a manter seus cabelos naturalmente grisalhos e
volumosos bem tratados.
após jantar, resolveu entregar-se a uma relaxante hidromassagem,
ouvindo um pouco de música suave, antes de ir dormir. vai até a
suíte principal, onde abre as torneiras e deixa a água morna encher a
imensa banheira, e liga o sistema sonoro que funciona em todos os
cômodos da casa. pensa em tomar uma rápida ducha, para tirar a
poeira e o suor do corpo, quando se lembra de que precisa assinar
alguns papéis, que terá que despachar na manhã seguinte.
volta ao pequeno escritório onde deixara sua pasta ao chegar, tão
envolvido pelos altos acordes da música ambiente e nem nota um
vulto deslizando pelo corredor. enquanto ele revisa e assina os
documentos, uma sombra negra esconde-se em seu próprio quarto, a
espera do momento exato para atacar.
marcel, libertando-se da burocracia, vem checar a temperatura da
água e temperá-la com os sais adequados. ao sentir a tepidez
convidativa da água, desiste da ducha, despe suas roupas, que são
colocadas no cesto, onde põe tudo que deverá ser lavado, e que é
recolhido uma vez por semana. para manter sua casa em ordem,
contratou uma empresa de limpeza e jardinagem, que neste dia,
desembarca um batalhão de profissionais em seu lar, e em poucas
horas, deixam tudo perfeito, sem que ele precise dar ordens. um
serviço caro, mas satisfatório ao extremo, para alguém que se
acostumou a viver só naquela imensa casa. imerge, com um suspiro
de prazer, na banheira funda, e recosta-se, fechando os olhos, para
desfrutar totalmente da sensação repousante.
horário, que olhava pela porta do quarto, esperando para cumprir sua
tarefa da melhor maneira, resolve fazer, então sua entrada. usando
luvas, um macacão jeans, uma toca de esquiador, apontando sua
arma com firmeza, pronuncia o nome de seu alvo de maneira suave.
o doutor, sonolento, abre os olhos e se depara com o cano de uma
automática fixo em si; fica imóvel, mas sente o medo o dominar,
porque no brilho do olhar que o perscruta, ele vê a morte. gratificado
por ver o medo que causava, horácio examina o longo cabo do
secador de cabelos que já notara preso junto ao espelho, sobre a pia
com balcão de mármore, conecta-o à tomada e o liga. dá um passo
na direção do médico, que está incapacitado de reagir e joga o
aparelho ligado dentro da banheira, assistindo impassível a
eletrocussão provocada. as luzes se apagam, o som silencia, devido à
sobrecarga de energia. o corpo na banheira afunda sem vida, após
ser sacudido pela corrente elétrica que lhe paralisou o coração.
tirando as bota de borracha que usava, à luz de sua potente lanterna,
horácio veste um par de meias e sapatos do falecido doutor, para
concluir a parte final de seu plano. ao sair, deixará os sapatos, mas
levará as meias e suas botas, para não deixar indícios de si mesmo,
mas vai distribuir vários presentes, para os homens da perícia
encontrarem...
com ódio feroz de grissom, quer que ele sofra! fará com que ele
sinta a dor de saber que a mulher que ama está nas mãos de outro
homem.
quando o doutor marcel não apareceu na clínica, na manhã seguinte,
nem atendeu aos telefonemas para sua casa, carro e celular, sua
secretária ficou confusa, pois ele não costumava ausentar-se sem
aviso. não havia congressos, palestras, nem um evento para estes
dias, que justificasse uma viagem repentina; e por que ele não
levaria o celular, ou ligaria do aeroporto? ela era uma mulher
eficiente, mas não conseguia decidir o que fazer... talvez, ele tivesse
passado mal, ela sabia que ele morava sozinho... resolveu ligar para
o 911 e pedir que alguém fosse a sua casa verificar, pois ela sentia
que algo muito errado devia ter acontecido!
como se tratava de alguém de prestígio e dinheiro, uma viatura foi
encaminhada para o endereço, para uma averiguação. a câmara
eletrônica, da portaria, estava desativada. a campainha não emitia
som e os portões automáticos não estavam trancados. os dois
policiais se entreolharam, verificaram suas armas, e entraram na
propriedade, seguindo até a porta da frente da casa, de um único
andar, que ocupava boa área do terreno, vendo-se do lado mais
distante da entrada de carros, o brilho azul de uma piscina. a porta
escancarada para trás, e as manchas de sangue logo na entrada,
foram suficientes para que se reportassem à central, pedindo
reforços e orientações de procedimento.
jim brass, que passava bem próximo dali, ouviu o chamado pelo
rádio, e dirigiu-se ao local, pedindo mais dois carros para cobertura.
assumindo o comando da operação, ordenou que os homens
cercassem as saídas da casa, enquanto ele e mais dois entravam,
armas em punho, para examinar o lugar. rapidamente, encontraram o
corpo do doutor, mas viram muitas manchas de sangue, e outras
coisas bem preocupantes. o capitão sentia-se mal pelo que
encontrara no interior da mansão, mas quando chegou à garagem,
ocupada no momento por três carros, um luxuoso e esportivo; outro
clássico, do tipo que só se compra por encomenda e a velha
camionete cabine dupla azul, muito arranhada, suas conclusões
foram assustadoras e, devido ao alerta distribuído, ele sabia que
devia manter o seu pessoal afastado, pois já não havia vivos lá
dentro. era hora de chamar a perícia; sabia a quem o caso pertencia.
ligou também para catherine, além do legista.
greg olhava nervoso de brass para grissom, que ao receber o
telefonema do policial ficara pálido, e apenas murmurara que se sara
estivesse viva, estava nas mãos de um assassino louco... falara um
endereço e mantivera um silêncio amargo, mandíbulas cerradas, até
chegarem ao portão, vigiado por carros da polícia. lembrava-se de
ter olhado a entrada de uma casa de luxo, enquanto pegava seu kit e
o seguia. eles mostraram suas identificações e passaram pela faixa
amarela e preta, que já apontava uma cena de crime; um dos guardas
os acompanhou até próximo à porta da frente onde estava o capitão.
os dois amigos ficaram se avaliando longamente, antes que brass
conseguisse falar, esquecido da presença de greg.
jb: há um morto lá dentro, na banheira, e sangue que não parece
pertencer a ele. o legista não deve demorar e poderá para confirmá-
lo... o sangue forma uma trilha, de um quarto, no porão, onde deve
ter sido uma adega que foi reformada, até quase a porta, e ali na sala
há sinais de luta... há uma camionete azul muito velha, na garagem,
que não combina com os outros carros, que pode ser aquela que
vocês descreveram, no boletim de alerta para veículo suspeito. eu e
dois policiais examinamos o local para ter certeza de que não havia
mais perigo. cuidei para que não circulassem mais do que o
necessário nem tocassem em nada, e mandei que os aguardassem aí
mesmo, junto da porta. apenas eu estive na garagem e foi então que
liguei para vocês e para o legista. devem querer as impressões dos
nossos sapatos e nossas digitais, para não perderem tempo com
verificações inúteis...
tudo fora dito de um fôlego só. era evidente o desconforto de brass.
grissom não lembrava de tê-lo visto assim em qualquer outro caso e
se perguntou o que ele teria encontrado lá dentro que o fazia
acreditar que sara estivera lá... e por que ele pensava que ela
morrera, mesmo sem encontrar seu corpo?
gg: vamos examinar o cativeiro, de que você falou, enquanto o dr.
david não chega para liberar o corpo. você nos mostra o caminho,
jim?
jb: vão precisar de lanternas, lá embaixo. nem uma luz da casa está
acendendo. as janelas estão com as cortinas puxadas e o sol clareia
bem a casa. mas a escada é oculta atrás de uma falsa parede de
painéis de madeira entre a cozinha e a sala de jantar; só a notamos
porque estava aberta, e fica tudo escuro logo a partir do terceiro
degrau. o proprietário da casa, que por sinal é a nossa vítima na
banheira, é o doutor marcel dunbar avery, filho de mãe canadense e
pai americano, ambos de famílias de banqueiros. um morto
endinheirado, de renome internacional em obstetrícia e dono de uma
clínica especializada para milionários, em spring valley.
brass tentava recuperar sua atitude sarcástica, mas suas palavras
soavam falsas.
a menção à clínica em spring valley agitou algo na memória de
grissom, mas ele não lembrou de imediato do que se tratava. sabia
que recordaria mais tarde. no momento, devia concentrar-se no que
encontraria no final daquela escada. cauteloso, começou a descer um
degrau de cada vez, examinando atentamente o padrão das manchas
de sangue, sentindo uma sensação de frio percorrer sua espinha.
ao pé da escada, uma porta reforçada, metálica. as lanternas
iluminaram um amplo e confortável quarto de pânico, que fora
usado como cativeiro.
uma cama com armação em aço polido, os lençóis manchados de
sangue, com os pedaços da corda ainda amarrados e cortados
apressadamente, um par de algemas preso na cabeceira, contavam
uma história de pesadelo. uma porta simples, entreaberta, deixava
ver parte de um banheiro bem aparelhado. havia roupas femininas,
espalhadas e rasgadas pelo quarto. grissom tentava se convencer de
que eram roupas iguais a outras quaisquer, mas um sapato preto,
elegante e confortável, não muito alto, cujo solado mostrava pouco
uso, caído sob uma cadeira, era igual ao par que ele comprara para
sara, três dias antes de ela desaparecer; embora não fosse um modelo
exclusivo, era bastante caro, e não muito comum. podia ouvir em
sua mente a voz da vendedora que explicava: “todas as mulheres
devem usar belos calçados, mas só as inteligentes sabem que cuidar
de seus pés com carinho é tão importante como estarem bem
vestidas. este modelo garante ambas as coisas.”... o facho da
lanterna com que ele continuava a percorrer o quarto foi refletido
por uma fivela de cinto, na forma de um delicado “s” duplo,
confirmando seus temores; mas algo mais brilhou, perto de seus pés,
no chão; ele notou o distintivo, e adivinhou a foto antes mesmo de
vê-la. sabia agora, porque brass tinha certeza de que sara ocupara
esta prisão; era sua identificação. ela estivera aqui, estava viva até...
quando? e ele chegara tarde!
gg: precisamos de luz! imediatamente! greg, há uma caixa de força
ao lado da porta do banheiro.
use os protetores de sapato, e chegue até ela, andando junto a esta
parede; estes aposentos foram criados para ser um refúgio, em caso
de arrombamento ou assalto, devem ter um gerador elétrico próprio,
com sistema de baterias para garantir ventilação, luz, energia para os
monitores de vigilância e o sistema de telefonia especial, pois há
aparelhos sobre a mesa. a porta é de aço maciço e as paredes devem
ser resistentes, também revestidas em metal. quem mandou construir
este lugar sabia não ter acesso aos sinais de satélites daqui de dentro
e providenciou a instalação de uma linha telefônica subterrânea. não
podia correr o risco de ter a energia cortada aqui por fora. com
certeza, armazenou alimentos e dispõe também de abastecimento de
água potável, sem depender do exterior, ao menos por vários dias.
um indivíduo preparado para emergências...
grissom protegia sua mente do horror que ameaçava sufocá-lo,
racionalizando sobre a situação. ele precisava, literalmente, ter
claridade para examinar o local e extrair dali todas as informações
possíveis.
greg acabava de acionar a chave que ligava o gerador, e lâmpadas
frias se acenderam em ofuscante profusão, ferindo os olhos dos três
homens duplamente; parte por sua inesperada intensidade, parte pela
revelação cruel de detalhes que a escuridão anterior ocultara.

enquanto isto, catherine chegava à casa acompanhada de warrick e


nick, junto com o furgão do necrotério e chamava brass, para falar-
lhes sobre o que fora descoberto, enquanto o legista fazia seu
trabalho.
ao chegarem ao quarto, da porta olham para o homem estirado na
banheira. david examina-o e, considerando a temperatura interna do
corpo, a água e seu aquecimento na hora do banho, calcula que a
morte tenha ocorrido aproximadamente há doze horas, ou seja, não
antes das 23:00 nem depois de 01:00 hora (am). o corpo não
apresentava ferimentos nem sangramento; havia sido eletrocutado, o
que era compatível com o secador caído junto dele; esta era a causa
provável do óbito. outros detalhes poderiam ser encontrados durante
a necropsia, mas apesar de não ser jovem, o indivíduo aparentava
boa saúde. nada indicava se a morte fora suicídio, acidente ou crime;
a posição do corpo não sugeria ataque com violência ou tentativa de
defesa. como as fotos iniciais já haviam sido feitas, david preparava-
se para partir, levando o cadáver.
catherine, sabendo por brass da cela encontrada no porão e do
possível significado de seu conteúdo, dá ordens para que warrick e
nick prossigam com as fotos e comecem a processar esta cena,
enquanto ela vai até lá embaixo, ver como grissom e greg estão.
brass vai até o fundo do quarto, observa sobre a cama um pijama de
seda marrom, em cujo bolso sobressai um papel cuidadosamente
dobrado, e o mostra a catherine. ela se aproxima, fotografa os
objetos de vários ângulos e olha para ele, significativamente,
apontando as mãos dele já com luvas.
jb: faço as honras?
cw: por que não justificar o seu salário?
ele puxa o papel para fora, justo o suficiente para abri-lo e ler.
repentinamente, fica rígido e relata sombriamente:
jb: parece que temos um suicídio e uma confissão... o cara admite ter
matado todas as outras mulheres, mas diz que quando sua cativa
predileta quase conseguiu fugir, livrar-se dela foi uma perda
dolorosa demais para suportar...
cw: o sangue, a luta... quer dizer que ela estava aqui? ele a matou...
agora ... ontem?
grissom agora olhava o quarto sob luz forte. em silêncio, começou a
fotografar.
greg não precisava de orientações, já sabia o que fazer.
tecnicamente, no presente caso, ele era o csi mais antigo, e o
responsável pela investigação. poderia tomar qualquer iniciativa, e
se impor ao colega mais velho, mas não sentia vontade de fazê-lo.
mais do que nunca, precisava da perícia e experiência dele para
prosseguir. via no rosto de grissom que ele estava sofrendo. não era
agradável; ele próprio também lamentava pela amiga... as fotos que
estavam tirando do lugar em que ela estivera presa, nas mãos de
outro homem... um olhar na direção da cama, com cordas e sangue,
o fez estremecer... foi para o banheiro, e passou a fotografar tudo
havia por lá.

*** após as fotos, recolher as evidências, embalar, registrar, rotular,


enviar para análise. uma ação de cada vez, sem pensar, apenas seguir
os procedimentos... grissom repetia mentalmente esta ordem para si
mesmo, concentrando-se nos gestos, sem interpretar o que seus
olhos informavam ao cérebro. ensacou a identificação; sapatos,
cinto, roupas, tudo foi posto nos sacos de papel, próprios para este
fim. coletou amostras de sangue, em vários pontos do quarto, no
chão, respingos nas paredes... talheres, prato, copo, escova de
cabelos, uma caixa de talco, objetos que continham digitais; mais
fotos, antes de ser cuidadosamente embalados. os fios dos telefones
pendiam cortados. as paredes haviam sido lavadas, de forma
meticulosa, e não mostravam nenhuma impressão, apenas poucas
marcas de mãos enluvadas. por fim, não havia mais nada a examinar,
exceto a cama. grissom havia adiado esta parte, o quanto pudera.
temia o que poderia descobrir entre os lençóis sujos de sangue...
greg, que terminara o exame do banheiro, trazia escova de dentes,
pente, sabonete, xampu, algumas peças de roupas, toalhas, amostras
de cabelos e pelos recolhidos na ducha. o banheiro também fora
lavado, e não havia digitais aproveitáveis; além disto, em um balde
plástico, um boné e um macacão semelhantes ao que foram descritos
pelo motorista da limo, estavam mergulhados em alvejante e não
forneceriam dna.
juntos, os dois csis pegaram o refletor e, desligando a iluminação,
banharam as roupas de cama na luz negra, que foi evidenciando em
diversos matizes sêmen e outros fluídos corporais; muco,
substâncias salinas, ácidas e viscosas, nos lençóis, nas fronhas,
travesseiros e colchão (lágrimas? suor? saliva?); sangue ainda úmido
em algumas manchas. várias amostras são coletadas.
os dois homens têm as feições crispadas, quando a luz é novamente
acesa.
uma camisola rasgada, encontrada entre os lençóis amarfanhados,
bem como os pedaços de uma calcinha, que se espalham no chão
sob a cama, e os muitos fios de cabelos grisalhos e escuros, da cor
dos cabelos de sara, arrancados pela raiz, descrevem um tipo de
violência que eles não querem comentar.
ao embalar as cordas e algemas, em que digitais e epitélios serão
verificados, eles sabem que sofrerão outra vez a agonia da espera
pelo resultado dos exames de dna.
desta vez, porém, o que foi encontrado, não dá margem a muitas
dúvidas.
gg: vamos levantar o colchão e ver se há alguma marca no outro
lado...
gs: veja, grissom, mais roupas íntimas...
envolvido em tecido com resíduos de sêmen, e manchas de sangue
marrom ferrugem, um objeto estava oculto sobre o estrado da cama.
enrolada em uma delicada combinação rendada, uma bengala com
castão de carvalho esculpido, com uma ponteira em aço maciço,
cônica e pontiaguda, tinha todas as características da arma dos
crimes anteriores.
nauseados com esta última descoberta, eles a embalam, dando por
concluído o exame da cama.
catherine e brass chegam, trazendo o bilhete de suicídio.
cw: como vocês estão rapazes?
gs: encontramos a arma dos crimes...
gg: acabamos aqui dentro. as escadas e o corredor foram apenas
fotografados...
jb: warrick e nick já estão cuidando do banheiro onde o cadáver
estava. eles podem dar conta do resto, eu acho. as coisas já parecem
ruins o bastante por aqui, talvez você... vocês devam deixar que eles
continuem deste ponto. eu... cath, você quer falar com eles?
cw: achamos um bilhete. o dr. marcel diz que matou aquelas
mulheres... algo a ver com bebês que não deveriam nascer; porque
ele não lhes dera vida, e as mulheres precisavam aprender esta
lição... É melhor que você mesmo veja...

grissom lê o documento, protegido por um envelope de pvc


transparente, com greg espiando sobre seu ombro. um leve tremor
em suas mãos mostra como as palavras que contém vão sendo
absorvidas por ele. ao fim da leitura, permanece por um longo tempo
de olhos fixos no papel, muito quieto...
greg tenta sufocar os soluços em sua garganta.
grissom aperta a mão com força, sobre o nariz e a boca, num gesto
de extremo desalento. ao levantar a cabeça, nota nos olhos dos
amigos o brilho das lágrimas contidas; olha a cena da prisão uma
última vez. e quando fala, sua voz vai retomando o tom baixo e
firme, característico de sua obsessiva busca pela verdade.
gg: qual a cor dos cabelos do cadáver?
a pergunta parece tão absurda para catherine, que ela chega a pensa
que o cérebro do amigo não suportou a situação e fragmentou-se.
mas, olhando nos olhos dele, viu a seriedade sombria de seu
questionamento, e respondeu, descrevendo brevemente o corpo e o
que fora constatado até então. no caminho do porão, jim havia
explicado que nem grissom nem greg havia ido ao quarto nem visto
o cadáver ainda, porque nada poderiam fazer antes da chegada do
legista; ele não iria ficar mais morto, devido esta demora. e na cela,
de onde provinham as manchas de sangue, ele vira a identificação de
sara, o que o preocupara mais do que tudo no andar de cima. nada
falara a eles, mas é claro, devia ter sido a primeira coisa que
notaram...
gs: era ele, o miserável que a... os fios de cabelo na cama, eram
dele... e dela! ela nunca desistiu de lutar... as cordas, algemas...
covarde, assassino...
gg: não acredite nas aparências, greg. precisamos verificar as
evidências e descobrir o que elas provam. não temos certeza de que
quem esteve neste porão tenha sido assassinada; os indícios apontam
este local como o cativeiro de uma mulher, possivelmente sara sidle.
o sangue e o dna vão confirmar ou não, sua identidade. mas antes de
encontrarmos seu corpo, não sabemos se ela está morta. este bilhete
precisa ter sua autenticidade verificada. procure amostras da escrita
do signatário; procure o tipo de papel usado, para ver se pertence à
casa, e localize a caneta que foi usada. esta caneta é muito
importante! É uma caneta tinteiro, vê?
algo está errado neste cenário, e eu quero cada milímetro desta casa
e terreno vasculhado a pente fino. se uma mulher foi morta nesta
casa, onde está seu corpo?
jb: num lago, provavelmente. era assim que ele se desfazia delas...
das vítimas. vou passar um alerta, para que sejam verificadas as
margens dos lagos do condado.
cw: segundo o bilhete, o crime teria sido logo antes dele se matar. a
sua morte foi calculada em, deixe-me ver, são 13:55 h... há umas
treze horas atrás. não poderia ter se desfeito do corpo antes de 20:00
h, porque o risco de ser visto seria muito grande, pois ainda haveria
luz do dia...
gg: e o sangue que encontramos ainda está úmido nos lençóis. É
recente... não tem mais de doze a quinze horas que foi... derramado.
nosso crime teria sido por volta das 18:00 horas...
cath, você pode cuidar das coisas todas por aqui? quero levar o
material que recolhemos para o laboratório examiná-lo com
urgência, e há uns detalhes que preciso examinar, nos arquivos
daqueles crimes...
jb: você quer ter certeza sobre a arma?
gg: também, é necessário, mas há algo que preciso confirmar sobre
estes cabelos!
cw: gil, é claro que vamos cuidar de tudo, como você deseja, mas...
você tem certeza que está bem? quero dizer, vocês podem levar as
evidências para o laboratório, mas talvez você devesse ir para casa...
você sofreu um choque, precisa fazer uma pausa...
gg: eu só preciso descobrir o que aconteceu realmente, cath.
jb: porque você está tão interessado nos cabelos do morto, gil?
gg: eu acho que já vi estes cabelos em algum lugar. quero ter
certeza. greg, vamos pegar alguns papéis escritos, e procurar uma
caneta! brass, cath, não se esqueçam de providenciar a revista
completa do terreno também.

jb: você acha que ele está bem? porque os cabelos ficaram tão
importantes de repente?
cw: eu espero que ele saiba o que está fazendo. ele costuma saber.
grissom não vai aceitar a derrota facilmente. o melhor consolo para
ele é o trabalho. e para nós também. eu ainda não sei como me sinto
a respeito de hoje; eu só sei que vou virar esta casa pelo avesso e
encontrar tudo que houver para encontrar aqui, ou não me chamo
mais catherine willows.
jb: vou cuidar do jardim e do resto do terreno. acho que ainda
lembro como se faz...
no carro, a caminho do laboratório, greg já não consegue manter
silêncio:
gs: você se acalmou rapidamente. nem a morte dela consegue abalá-
lo?
gg: não quero acreditar que sara esteja morta, greg. não vou
acreditar enquanto eu não ver seu corpo na mesa do legista. perder
um filho que nem nasceu é uma dor muito grande, e terei que
carregá-la pelo resto de minha vida. mas não estou pronto para
perder definitivamente a mulher que amo. portanto, sei que ela ainda
está viva.
greg olhou espantado para o colega. sentiu-se envergonhado, de ter
acusado-o de indiferença, pois, embora suas palavras tenham sido
ditas com tranqüilidade, não escondiam a profunda emoção, e havia
sinceridade nos sentimentos que ele expressara de forma tão direta.
recuperando toda a confiança que sempre tivera em grissom, greg
dispõe-se a seguir suas ordens, sejam quais forem.
gs: e então, o que faremos a seguir?
gg: vamos aguardar o resultado dos exames de dna.
gs: e enquanto esperamos, não faremos nada?
gg: você vai continuar procurando a origem daquela serra. conseguiu
algo ali, não?
gs: sim, um modelo, de acordo com a distância entre os dentes, seu
formato, inclinação e material que a compõe: ferro, carbono,
estanho, chumbo e, acredite ou não, uma liga especial de níquel. o
ferro era usado em vez do aço, porque mantém o fio mais agudo, e
sendo aquecido e atingido por jatos da mistura...
gg: não precisa me informar todo o processo industrial, greg.
identificou o fabricante?
gs: ... É um modelo em desuso. de acordo com os registros da
fábrica, interromperam sua produção há quase três anos; alteraram
toda a linha, de acordo com as exigências do mercado. prometeram
enviar uma listagem da distribuição do produto, de todo o período
em que o produziram. tivemos sorte, a fábrica não só produz as
serras, que são exclusivas, como monta os equipamentos de corte
que as utilizam. só eles vendem estas máquinas. a maior parte aqui
mesmo em nevada. uma empresa pequena, especializada em... ok,
estou falando mais do que o necessário, novamente!
gg: muito bem, greg. você está fazendo um ótimo trabalho. prossiga
nesta investigação; ela pode nos levar ao lugar onde o assassino
agia... podemos encontrar o que é realmente importante lá, neste
local...
gs: você acha que ela pode ter sido levada para lá? vou descobrir
este endereço, nem que tenha que examinar cada açougue deste
condado... ou do resto do estado.
gg: e eu, enquanto espero, vou reler aqueles relatórios, e localizar
um fio de cabelo!

no laboratório, enquanto greg examinava os dados enviados pelas


indústrias iron and steel cuttings limited company, grissom, após
localizar os dois casos que procurava, e observar quase com
satisfação os dois resultados diferentes, ali registrados, dedicava-se a
pensar. colocando seus óculos sobre as pastas de relatórios na
bancada, ao lado de um microscópio, concentrou-se em algo que o
incomodava, desde a chegada à casa do médico, quando brass falava
sobre ele.
spring valley, um clínica, milionários, obstetra, bebês... bebês, sim,
era isto. não bebês mortos, gestantes... heater! seu bebê, a clínica
onde ela fazia seus exames! ela também fora um vítima, uma quase
vítima... a outra clínica, que ela freqüentava, a mesma que sara,
antes... havia algo aí, que ele não estava conseguindo entender. será
que sara foi a spring valley alguma vez? não, não acreditava que
fosse isso; era uma clínica para milionários, segundo brass; como
sara iria lá?
mas havia mais, lembrava-se de quando heater havia falado desta
clínica, ele verificara alguma coisa sobre ela... Ótimas qualificações,
a melhor do estado, equipamento de última geração, fazia todos os
tipos de exames pré e neonatais, atendia todas as demais clínicas
com seu laboratório
completo... era isto!
os exames... todos os materiais colhidos nas outras clínicas de
acompanhamento pré-natal da cidade, do condado, eram enviados
para os laboratórios da new life institute, com os nomes, idades,
dados completo das gestantes. era isto que havia em comum entre
todas elas, que servira de banco de dados para o assassino. a clínica
do dr. mac allistair fora apenas um engodo, para
levá-los ao local errado; não havia suspeitos por lá, não havia o que
encontrar, por isto, nada foi encontrado. agora... ele tinha suas
próprias idéias sobre os resultados de dna, mas ainda precisava
esperar por eles. entretanto, achava que conseguiria um mandado de
busca para a clínica women’s new life care, para a sala do dr. marcel,
e para os arquivos de empregados. mais provavelmente, ex-
empregados... enfermeiros, laboratoristas, médicos?
precisava perguntar a heater se ela conhecera o dr. marcel dunbar
avery. será que ele havia sido seu médico? isto poderia ser um
choque para ela.
horácio prosseguia em sua rotina. com o passar do tempo, tornara-se
muito atencioso com sara.
sorria interiormente, com a satisfação de uma criança que pregara
uma grande peça nos adultos, e imaginava como o perito de sua lady
estaria se sentindo neste momento...
não descuidava das refeições de sua prisioneira ela era preciosa.
observava sua saúde, media sua pressão, fazia os exames
necessários; ele lhe explicara que era médico, mostrara até seu
diploma, para deixá-la tranqüila quanto as suas qualificações. fora
mais difícil nas primeiras vezes, quando precisara usar as algemas e
ameaçara ferir o bebê se ela não se aquietasse; ela só desistira de
lutar quando entendera que os riscos não eram para si, mas para a
criança. agora ela aceitava docilmente sua presença; encarava-o
como seu médico e seguia as suas recomendações. percebera que ele
estava cuidando para que a gravidez prosseguisse em segurança, se
não por ela, pelo bebê.
ele nunca tocara nela com desrespeito. não a tratara igual às
mulheres que ele matara. eram desconhecidas, escolhidas ao acaso,
em uma listagem de computador, a princípio, seguindo ordens,
depois, porque o satisfazia matar aquelas crianças. era como se
matasse o filho do perito que sua lady esperava; as mães haviam,
então, desejado morrer...
ele queria vingança, uma vingança que derramasse sangue, o sangue
do outro, através dos seus filhos. ele, o outro, sobreviveria, para
sofrer... por isto, sara teria que morrer também. sua morte seria
gentil. ela não precisava sofrer.
talvez ele não matasse sara. quem desejava sua morte era heater, e
ele não mais pretendia obedecê-la. ele mataria os bebês, isto era
certo. o de sara e o da lady.
e, enquanto sua lady estivesse desacordada, fraca, indefesa, devido
ao parto forçado, ele fugiria, levando-a consigo, após matar os dois
filhos do perito, que até poderia encontrar e salvar sara; talvez ela o
odiasse por tudo o que passara. mas se ela o perdoasse e ficassem
juntos, o perito já teria sido castigado o suficiente, não é mesmo?
ele, horácio, teria sua lady só para si. eles estariam longe daquilo
tudo, e ele a faria feliz.
por agora, ele ainda mantinha as portas externas todas trancadas,
com as chaves bem escondidas. se a passividade de sara fosse uma
maneira de fazê-lo confiar indevidamente em sua cativa, ele não lhe
daria chances de fugir antes da hora...
grissom telefonara para lady heater e quando ela confirmara a clínica
em que fazia seus exames e o dr. marcel como seu médico, ele teve
que lhe falar da morte do doutor. recusou-se a dar mais detalhes,
declarando tratar-se assunto de trabalho, que exigia sigilo. no
entanto, preocupado com seu estado, quando ela deu mostras de
histerismo e medo, concordou em fazer-lhe uma rápida visita. os
resultados que ele precisava ainda demorariam várias horas. ele
tinha tempo para ir até o domínio acalmá-la, depois passar em seu
próprio apartamento, tomar um banho, vestir roupas limpas, se ele
encontrasse alguma em seus armários, talvez comer alguma coisa, e
voltar para cá, para receber em mãos os exames.
avisou greg que estaria fora por umas seis horas, no máximo.
aconselhou-o a sair, também, e obter um pouco de descanso e
alimentação por enquanto. eles poderiam retornar ao serviço de
madrugada.

lh: quem matou marcel? ele era meu médico, cuidava de nosso filho;
era quem faria os exames que você desejava... não entendo, porque
alguém o mataria? ele era rico, é claro...
estou falando bobagens. a notícia abalou-me profundamente. eu
gostava tanto dele, era um homem bom, um amigo... porque você
não me conta o que aconteceu? eu gostaria de saber. não vou
comentar o assunto com ninguém, mas você pode falar comigo,
dividir seu trabalho, suas preocupações... eu sou a mãe de seu filho,
lembre-se... pelo menos por este motivo, você vai me visitar muitas
vezes. considerar-me como uma amiga vai tornar a situação mais
confortável.
gg: não somos amigos. vim vê-la, para pedir que se acalmasse, mas
percebo que você já voltou ao seu normal, forte e controladora, e
que está bem. posso dizer-lhe que o dr. marcel suicidou-se,
deixando uma confissão sobre o assassinato das mulheres grávidas e
seus filhos. aparentemente, ele atingiu um estado de insanidade em
que se considerava o responsável por gerar todos os bebês que
poderiam nascer. encontramos, ainda, uma cela, em sua casa, onde
pelo menos uma mulher deve ter estado prisioneira. pertences de
sara, a mulher que amo, estavam lá, bem como sangue e sinais de
luta, que podem significar que era ela quem estava lá; e ele declara
ter matado esta cativa, possivelmente na noite passada.
eu lhe conto isto, porque notícias vão sair nos jornais e não sei o
quanto será dito. só sei que estarei ocupado e, enquanto não
solucionar este quebra-cabeças, e encontrar o corpo dela, vivo ou
morto, não terei tempo para conversas sociais com você.
ah, não se esqueça de procurar um outro médico... acho que na
clínica de spring valley há vários. ainda poderá usar os mesmos
laboratórios e nem precisará fazer nova ficha. cuide-se, para que esta
criança fique bem. quando todo este inferno terminar,
conversaremos sobre este filho e o que será melhor para ele.
grissom sentia-se irritado e agressivo com lady heater. a certeza de
que sara estava viva há tão poucas horas, enchera-o de raiva da
mulher de quem se despedira tão friamente. coincidência ou não, o
fato dela ser cliente do médico que mantivera sara em cativeiro, e
dizia tê-la matado, estava enfurecendo-o, como se heater soubesse
de algo a este respeito. estas visitas não eram mais um prazer para
ele, desde quando deixaram de ser amigos; agora, com a gravidez,
tornaram-se uma obrigação incômoda, mas hoje, ele sentiu-se
simplesmente manipulado por aquela mulher, que só desejava
dominá-lo. não sabia o que fazer quando seu filho nascesse.
grissom sentia-se irritado e agressivo com lady heater. a certeza de
que sara estava viva há tão poucas horas, enchera-o de raiva da
mulher de quem se despedira tão friamente. coincidência ou não, o
fato dela ser cliente do médico que mantivera sara em cativeiro, e
dizia tê-la matado, estava enfurecendo-o, como se heater soubesse
de algo a este respeito. estas visitas não eram mais um prazer para
ele, desde quando deixaram de ser amigos; agora, com a gravidez,
tornaram-se uma obrigação incômoda, mas hoje, ele sentiu-se
simplesmente manipulado por aquela mulher, que só desejava
dominá-lo. não sabia o que fazer quando seu filho nascesse.

lh: idiota! o que você plantou na casa de marcel? porque grissom


acredita que a mulher estava viva, até ontem? o que você pensa que
está fazendo?
h: eu matei o homem, minha lady. faço tudo para agradá-la. agora o
seu perito procura apenas um cadáver, além de ter um assassino que
se suicidou nas mãos! não vai perder muito tempo em procurar uma
mulher morta. este suicídio resolveu seu caso.
lh: você acredita que pode enganar grissom? não vê que ele é o
melhor perito do condado, talvez do estado inteiro?
h: e o que ele vai descobrir? vai centrar suas buscas na casa, nos
lagos, na clínica. vai chegar a um beco sem saída, porque mesmo
que adivinhasse minha existência, não teria como saber quem sou.
ele vai cansar de procurar um fantasma e um cadáver, e se voltará
para a minha senhora.
lh: não acredite muito nisto. tem certeza que ele não vai descobrir
você?
h: eu sou ninguém, minha lady.
lh: para sua segurança, é bom que você não exista para grissom. seja
muito cuidadoso, a partir de agora. cuide da criança que será minha;
falta pouco tempo agora.
a ligação foi interrompida sem despedidas. será que heater lembrara
que a morte de seu próprio médico poderia, de alguma forma, trazê-
la para perto das suspeitas? ela estava zangada, mas começava a
aceitar suas ações, acreditando no que ele dissera.
não que fosse exatamente verdade... até mesmo um idiota perceberia
que outra pessoa estivera na casa, aquela noite. ele fora meticuloso o
suficiente, para que o cenário fosse bom, mas não perfeito. o perito
iria procurá-lo; tinha provas da existência dele. isto era parte da sua
tortura. sem esquecer a surpresa quase agradável, transformada em
pesadelo e urgência! ele teria certezas só quando já fosse tarde
demais. seu riso se prolongou, espelhado em eco pelas paredes
azulejadas.

chegando ao laboratório, com dois copos de café na mão, grissom


viu greg conferindo listagens de computador. não ficou surpreso;
havia se forçado a um pequeno descanso. sendo mais jovem, o outro
não tivera esta cautela; não estava considerando o efeito que o
excesso de adrenalina faria em seu organismo, após algum tempo,
deixando em completa exaustão.
ele próprio já passara por isto, e sabia que certos limites precisam
ser respeitados, em benefício da necessária acuidade mental. as
emoções ainda o confundiam e aceitá-las e lidar com elas foi um
processo de aprendizagem difícil. conviver com elas, quando
ameaçavam dominá-lo, estava sendo doloroso e cansativo.
aproximou-se de greg e entregou-lhe um dos cafés. percebendo seu
cabelo molhado e as roupas limpas, perguntou-lhe se havia ido para
casa.
gs: dormi um pouco, em uma sala no necrotério. depois de tomar
uma ducha, me troquei, usando o que estava em meu armário. está
meio amassado, mas limpo. comi pizza com cogumelos... quer um
pedaço?
gg: obrigado. comi um sanduíche, antes chegar aqui. por isto
lembrei de trazer café.
gs: bem, este se pode chamar de café. o que tem lá na sala de
descanso, eu teria medo de analisar. misturei coca-cola, para poder
digeri-lo...
grissom ergueu as sobrancelhas, num arremedo de diversão.
entendia a intenção do colega, ao fazer piada, tentando aliviar a
tensão. olhou em dúvida para seu copo, pensando se cafeína era uma
boa opção, nas circunstâncias. decidiu que o café não poderia piorar
as coisas e foi sentar na mesma cadeira onde estava antes, voltando a
ler as folhas que havia deixado marcadas.
quarenta e três minutos depois, os resultados chegaram.
sara olhava um ponto na parede como se nele fosse encontrar
respostas para suas dúvidas. não vinha se sentindo bem nos últimos
dias. perdera um pouco de líquido amniótico e seu carcereiro e
médico dissera que ela precisava manter-se em repouso. ele que
fazia os exames dela, apalpava seu ventre e verificava as batidas
cardíacas do neném. além das análises de sangue, também havia
feito procedimentos mais íntimos, que ela não conseguira evitar, mas
que reconhecia, haviam sido perfeitamente profissionais. desta vez,
ela ficara tão assustada com o corrimento, que se sentira grata
quando ele viera olhá-la... agora, estava deitada, muito quieta,
procurando controlar sua respiração, e permanecer calma.
ela já completara seis meses de sua gravidez; a criança vinha se
movendo de forma tão ativa em seu ventre que chegava a ser
incômodo. porém, nestes dias, parecia chutar e socar, com mais
força, apesar de mexer-se com menos freqüência; como se
reclamasse da falta de espaço e conforto. apesar de tudo, parecia ser
bem forte. sara se desesperava, sem saber se sentiria seu filho em
seus braços antes de ser separada dele.
o homem entrou e perguntou como ela estava. trazia leite e queijo
sem gorduras para seu lanche. nunca esquecia das vitaminas e
cálcio, com que complementava sua dieta. pela manhã, trazia suco
de frutas frescas, que ele preparava para ela. saladas, fibras, legumes
e vegetais. não a forçara a comer carne vermelha, mas ela tinha
refeições diárias com algum tipo de peixe ou ovos. Às vezes, ela se
sentia como uma escolhida, sendo preparada para o sacrifício. uma
breve contração interrompeu o fluxo dos seus pensamentos. sentiu
medo outra vez. apenas seis meses, é muito cedo ainda...
horácio chegara à conclusão que as coisas não demorariam muito a
acontecer. decidiu que já era hora de se livrar do beberrão. logo
precisaria do local escolhido para realizar os dois partos.

grissom estava pronto para a maioria das confirmações que eles


traziam.
os cabelos eram do morto. era dele, também o dna obtido do fio de
cabelo encontrado em um dos crimes mais antigos.
o sêmen nos lençóis, não era do médico. era igual ao coletado na
vítima que fora estuprada e na roupa que envolvia a bengala; o
sangue, na roupa, também era da mesma vítima.
a bengala encontrada sob o colchão fora a arma de todos crimes
todos. suas medidas foram calculadas e o tipo de ferimento que
provocava foi analisado, resultando positivamente. foram
encontrados nela traços de sangues das várias vítimas.
o laudo do perito e o exame grafoscópico do bilhete de suicídio.
grissom leu todos os papéis, e passou-os para greg, sem se alterar.
por último, o que informava que as secreções encontradas na cama e
o sangue no local eram de sara. não havia qualquer dúvida quanto ao
resultado.
cerrando os maxilares, a mão novamente trêmula, grissom ia passar
o impresso para greg, quando seus olhos passaram em anotação
adenda às demais informações. sentiu-se congelar.
gg: não é possível...
gs: era ela, grissom?
gg: eu examinei e conferi as digitais dos objetos, greg; eram dela. o
sapato, o cinto, as roupas, eram dela. a identificação era a dela. eu já
esperava que as marcas nos lençóis, os cabelos, pelos e sangue
fossem dela. ainda assim, ela podia... poderia... pode estar viva! não
havia tanto sangue lá; só parecia haver.
gs: era muito sangue, grissom. uma longa trilha... nossa esperança
era que não fosse o sangue dela. o colchão ainda estava molhado
com ele...
gg: molhado, greg; deveria estar emplastado, não molhado. se o
sangue estivesse em sua composição normal, estaria coagulando,
viscoso, não líquido. estava molhado; havia encharcado o colchão.
uma solução de cloreto de sódio a 0,9 % foi adicionada a ele...
gs: cloreto de sódio... soro fisiológico!
gg: sim, alguém coletou o sangue dela, e o manteve diluído com
soro, e resfriado, até conseguir uma quantidade que causasse uma
impressão chocante.
gs: então, o sangue não foi... obtido todo de uma vez?
gg: pelo exame das hemácias, o sangue foi armazenado por algum
tempo...
gs: que tipo de louco faria uma coisa destas?
gg: o mesmo que cometeu os crimes e...
a voz de grissom pareceu falhar, e quando ele continuou a frase,
parecia formar cada palavra como se elas fossem de cristal muito
fino e pudessem ser quebradas por um sopro mais forte.
gg: ... manteve sara prisioneira, e permitiu que sua gravidez
prosseguisse...
neste ponto da conversa, virando-se para greg e olhando-o nos olhos,
ele conclui
gg: ... até matar um médico, simulando suicídio. veja o laudo da
perícia sobre o bilhete; a caneta com que foi escrito, que não
encontramos. os outros também a procuraram e ela não estava na
casa nem no terreno. alguém a levou de lá.
alguém que está com sara e nosso filho em seu poder.

quando catherine chegou, encontrou greg ainda com o papel na mão,


incrédulo, lendo e relendo,
como se não compreendesse corretamente o idioma.
ela adivinhou, pela expressão do colega, pelo menos em parte, o que
continha.
cw: oi, greg. são os resultados... era mesmo ela ... não há qualquer
possibilidade de erro, não?
como grissom suportou a notícia? onde ele está?
gs: ele disse que precisava ficar a sós, que provavelmente ia se
sentar um pouco em um banco de uma igreja... mas não acho que ele
vá querer falar com um padre... meditar, talvez... ele deve querer
entender o que está sentindo. cheio de raiva... ele está furioso! mas
meio feliz, sabe?
cw: greg, você não está bem, não é? eu sei que você gostava dela de
uma maneira muito especial... todos nós gostávamos dela. mas você
precisa se... você está falando as coisas de forma incoerente, sem
sentido...
gs: ela ainda está grávida, cath, ela estava... deve estar viva! É o que
diz aqui...
cw ... o que você está dizendo? dê-me este papel!
gs: leia aqui, cath, no sangue, as proteínas, hormônios e
aminoácidos, e taxas... a concentração é de uma mulher grávida!
vinte e seis ou vinte e sete semanas, por aí...

o dia começa a amanhecer. sara acorda com uma nova contração,


desta vez mais forte. tenta convencer-se de que é apenas uma cólica,
ou dores musculares, devido má postura.
horácio faz planos para a noite, enquanto prepara o desjejum.

no fundo da igreja, em um canto onde o bruxuleio das velas não


chega a iluminar, grissom permanecia sentado, fixando o crucifixo
esculpido, sentindo as próprias emoções, tentando racionalizá-las.
não conseguira acreditar que sara estivesse morta; e agora sabia que
ela estava viva. onde? e como ela podia ter protegido o bebê,
sozinha, todo este tempo... não quer pensar no que ela deve ter
sofrido, no que está sofrendo... em tudo o que pode ter acontecido a
ela. sara é uma mulher forte, uma lutadora. não vai se entregar. será
que ela ainda confia nele? será que ela ainda o ama? tanto tempo
distante, sem ele, com... quem, quem estará com ela em seu poder?
por quê? sente raiva, sente medo, sente solidão, angústia, saudade...
olha novamente para o cristo com sua face atormentada... e recorda
de quando era criança e esta visão era um símbolo de fé, trazia
conforto e esperança... talvez fosse por isto que viera aqui. porque
junto ao medo, agora havia uma esperança real, feita de evidências...
e evidências eram a essência do seu trabalho, com elas ele sabia
lidar. talvez uma parte dele pedisse silenciosamente por um milagre.
mas ele tinha que fazer sua parte, acreditando em milagres e ele
estava acostumado a agir... ele ficaria grato por qualquer auxílio
divino, mas cabia a ele o esforço para encontrá-la, encontrar ambas,
sua mulher e sua criança.
ele já sábia de um local onde começar a investigar.

lady heater sente o desconforto com a gravidez aborrecê-la. olha a


imensa cama, onde ainda dorme sozinha, enquanto este filho se
torna um incômodo... ele vai morrer e não lhe trará aquele que ela
deseja. ela terá que amar o filho da outra para que grissom seja seu!
tanto desejou outra criança, que fosse como sua linda zoe... a perda
de zoe foi algo que nunca conseguiu superar...

retornando ao laboratório, grissom vai falar com catherine. eles


precisam de um mandado de busca para a clínica de spring valley,
para a sala do médico, as fichas dos empregados e os laboratórios...
os indícios recolhidos provam que há mais alguém envolvido no
caso. ainda não identificaram o doador do sêmen encontrado no
local onde sara teria estado presa; este mesmo indivíduo já aparecera
como estuprador, num dos casos anteriores.
há muitos fatos a levar em consideração... o assassino demonstrou
conhecimentos de anatomia, intencionalmente ou não. e também
sabia como lidar com o sangue, o que ficou evidente na última cena
de crime. e tinha informações sobre as gestantes, sobre todas elas,
inclusive sobre sara, que só poderia ter obtido em um lugar: o
laboratório onde os exames delas todas haviam sido processados. o
material era colhido em vários lugares e analisados na clínica do
morto. o responsável por tudo isto, inclusive pelo falso suicídio,
deveria ter alguma ligação com a clínica; poderia ser um médico,
um sócio, um empregado ou ex-empregado. alguém que conheceu o
dr. marcel e teve acesso à sua casa, e aos exames. a clínica precisava
ser verificada.
catherine foi providenciar o mandado. deixaria a investigação por
conta de grissom e greg. e brass, é claro. um capitão do
departamento de polícia sempre causa forte impressão. ela cuidaria
da papelada, e dos demais casos. sabia como seu amigo estava se
sentindo. daria a ele todo auxílio e cobertura que pudesse. enquanto
procurava um juiz, catherine pensava que, depois de todo este
tempo, só agora eles tinham motivos para acreditar que sara pudesse
estar viva. e seu bebê também! ela e sara haviam discutido algumas
vezes, chegara a se ofender seriamente com as palavras de sara, mas
agora, só queria que ela voltasse e que pudessem ser amigas. o que
acontecera abalara todos no laboratório, até mesmo ecklies
mostrara-se quase humano, vez ou outra. eles eram uma família, e a
família precisava se reunir outra vez, para as coisas voltarem aos
seus devidos lugares. sacudiu a cabeça, censurando-se por sua
pieguice. a tensão estava cobrando um alto preço de todos eles, ela
ficara realmente abalada com as cenas do cativeiro.

sara continua sentindo contrações, e se pergunta se a hora vai chegar


tão cedo. haveria alguma possibilidade de ela ter errado nos
cálculos? não, claro que não, no máximo uma ou duas semanas,
nunca em quase três meses... os médicos teriam percebido... e ela
saberia, sem dúvida.

a busca na clínica em spring valley durou quase todo o dia.


médicos, enfermeiras, auxiliares, todos foram exaustivamente
interrogados. grissom examinou a sala do dr. marcel, e com o auxílio
da secretária dele, localizou todos os documentos comerciais e
pessoais do médico.
entre as fichas das poucas pacientes que ele atendia, encontrou a de
heater. ele já sabia que ele era seu médico, mas algumas datas,
anteriores mesmo ao período da gravidez, causaram alguma
surpresa. ela não lhe falara de tê-lo consultado antes de mudar de
clínica devido aos crimes... ele também não mostrara muito interesse
nas atividades dela. sentiu algum remorso, por se preocupar tão
pouco com este filho. mas algo mais estava incomodando-o. ele
sabia que iria lembrar mais tarde. por enquanto, dedicava-se
exclusivamente a procurar um assassino.
greg, que estivera interrogando o pessoal, junto com brass, reuniu-se
a grissom, quando ele verificava os registros de empregados, em
especial, os que haviam deixado o emprego. um nome, por fim,
chamou a atenção de ambos.
gg: médico, obstetra, especialização em doenças congênitas e
degenerativas dos fetos e nascituros, pesquisa em prevenção e
tratamento intra-uterino... phd, harvard, o que um médico desta
categoria fazia escondido em um laboratório, mesmo que fosse o
melhor do estado?
gs: parece que ele fazia a maioria das análises pessoalmente, e não
apenas conferia e assinava. estava executando o trabalho de um
técnico. há outros médicos responsáveis pela liberação dos
resultados...
gg: talvez o seu talento não estivesse sendo reconhecido. ele foi
mandado embora, por fraude, de algum tipo. parece que o nosso
brilhante doutor não estava muito satisfeito em ficar nos bastidores...
eis o formulário enviado para o conselho de medicina, onde o dr.
desmond martin roller é acusado de falsificar solicitações de
exames, em nome de vários de seus colegas, incluindo o dr. marcel.
não pode ser provado, mas há suspeitas de que também tenha
falsificado assinaturas em resultados... este pode ser o nosso homem,
greg. o período em que ele trabalhou aqui antecede de pouco a época
em que as mulheres assassinadas fizeram seus primeiros exames, e
sua saída foi... antes de sara desaparecer.
gs: ele já não havia ido embora quando ela mudou de clínica,
grissom? acha que ele a estava vigiando?
gg: talvez... mas tenho um palpite. a outra médica de sara teve um
novo assistente. lembro-me dela ter comentado que ele tinha
excelentes qualificações; ainda assim, dispensou-o quase de
imediato. era desagradável com as pacientes, desrespeitoso com ela
e estava sempre atrasado... esbarramos nele uma vez na saída do
consultório...
gs: ele parecia suspeito?
gg: havia algo de furtivo nele. talvez por causa do atraso. mas ele
parecia bastante arrogante...
anote o endereço que consta na ficha, e consiga uma cópia da
denúncia ao conselho.
chame brass, vamos falar com a médica de sara, quero o nome do
assistente que ela demitiu. depois podemos tentar o endereço deste
dr. roller. não acredito que ele seja verdadeiro.

já era noite quando retornaram ao laboratório, absolutamente


frustrados.
jb: um beco sem saída, literalmente. bom endereço, para o nosso
amigo. e agora, chamamos os caça-fantasmas?
o nome do médico despedido da clínica em spring valley e do
assistente da médica de sara era o mesmo. eles pensaram ter
avançado um grande passo para a identificação do assassino, porém
o endereço fornecido nos dois lugares era falso, um número que não
existia. onde ele deveria estar, havia uma ruela morta entre dois
prédios em ruínas na old vegas.
mas o golpe pior foi descobrirem que o médico que procuravam
havia morrido.
nos arquivos do conselho, descobriram que o dr. roller falecera no
colorado, dois anos atrás, em um acidente automobilístico, junto
com sua esposa. fotos, digitais, tudo fora oficialmente recolhido pela
polícia, e o responsável pelo acidente, um motorista embriagado,
também morrera no local. seus amigos e colegas estiveram presentes
ao enterro; o corpo foi reconhecido por seu pai, um oficial da
marinha de ilibada reputação.
o conselho estranhara a denúncia, e entrara em contato com o
representante da clínica sobre o assunto. aparentemente o dr. marcel
ficara chocado com o engano e ficara de apurar a correta identidade
da pessoa em questão, mas acabara por se escusar, informando que
houvera um erro na confecção de carimbos. não fora uma desculpa
convincente, mas sem um nome real, nada havia a fazer. o caso fora
arquivado.
gg: não temos o nome dele, não temos suas digitais... e seu dna não
consta do sistema. mas ele existe, tem conhecimento de medicina
suficiente para enganar todos os médicos com quem lidou na clínica
do dr. marcel, e para não causar desconfiança aos olhos
observadores da médica titular de uma pequena clínica particular.
além disto, ele sabia da morte de roller, e teve acesso aos seus
documentos... um amigo... um colega de harvard, talvez? pedirei
acesso aos arquivos da universidade.
jb: eu vou conseguir um desenhista do departamento para fazer um
retrato falado do homem que trabalhou no laboratório. amanhã,
tentaremos ver o que o pessoal da clínica e sua médica podem
lembrar. gil, você viu o sujeito também, sabe descrevê-lo?
enquanto grissom faz um esforço para capturar os traços fugidios em
sua memória, greg volta ao trabalho nos relatórios da iron and steel e
seus clientes. ele já aprendeu bastante sobre serras elétricas e seus
usos; o modelo que lhe interessa, destina-se ao desmembramento de
carcaças inteiras, congeladas; não é do tipo que se encontra em
estabelecimentos varejistas... isso vai reduz o campo de busca. havia
dez grandes armazenadores e distribuidores no estado.
gs: condado de clark, área de abate... serras, trinchantes, eram
encaminhadas para as instalações...

horácio havia examinado sara e não tinha dúvida. ela entraria em


trabalho de parto na noite seguinte, o mais tardar. o bebê estava bem
adiantado. não fazia muita diferença... não teria muito tempo de
vida, de qualquer jeito. a semente do homem que roubara o amor de
sua lady, não iria viver. este era o preço que ele, horácio ramirez
bellafonte cobraria por sua perfídia... ele faria o possível para salvar
a mulher. avisara-a para permanecer em repouso absoluto; deixara
tudo que ela pudesse precisar próximo a ela. ele ia sair, para resolver
o caso do dr. uísque, mas... voltou até o quarto onde sara se
encontrava, trazendo várias garrafas de água. ensinou-a como
respirar pausadamente, e a forma mais cômoda de se deitar, sobre os
travesseiros extras.
h: cuide-se bem. faça poucos movimentos, e sempre lentos. respire
de forma profunda e expire todo o ar viciado para fora de seu
pulmão a cada cinco aspirações. tome água fresca, mas não gelada.
levante-se apenas para ir ao banheiro. lembre-se, esse bebê parece
ter pressa de vir cá para fora. eu vou fazer tudo para que o parto
corra bem. vou à cidade buscar medicamentos, anestesia e tudo mais
que vamos precisar. fique calma. não demorarei mais do que o
necessário.
ao sair, antecipava mentalmente todos os seus passos, e a primeira
coisa a fazer era ligar para lh, avisando-a que sara estaria em
trabalho de parto antes do esperado.
sara, apesar de quase adormecida, observa que horácio se esquecera
de trancar a porta do quarto. força-se a repousar, e permanecer
calma, imaginando se na ausência dele terá, por fim, sua
oportunidade de fuga...

h: lady h, a mulher não vai demorar a ter o bebê. posso controlar a


situação esta noite, mas bem cedo, antes do clarear do dia, estarei
com ela no local escolhido para os partos. precisa chegar lá ainda
pela manhã, pois a criança dela terá que ser levada com urgência
para o hospital... retardarei a cirurgia o quanto puder, mas os riscos
para o bebê são grandes...
lh: está cedo demais... eu... eu não esperava que fosse agora...
h: bem, alguém aqui está com pressa de vir ao encontro da... mãe.
lh: não há jeito de adiar mais um pouco... eu... como vai fazer
comigo? não quero mais a cesariana... não posso correr este risco
fora de um hospital perfeitamente equipado!
h: não se preocupe, vamos induzir o parto. já tenho tudo o que é
necessário. sabe que sou capaz... e brilhante. eu fui o primeiro de
minha classe, lembre-se. estudei e aprendi muito... e pratiquei. o
mundo perdeu um médico de primeira qualidade quando tive que
morrer, durante aquela festa, porque a estúpida garota resolveu
ameaçar acusar-me de estupro... a vantagem de um incêndio em um
clube fechado é não haver certeza de quais e quantas pessoas não
conseguiram sair. há uma relação dos que estavam na festa. supõe-se
que os que não se apresentaram entre os sobreviventes são parte da
sopa orgânica que restou após o rescaldo dos bombeiros. devido à
quantidade de destilados que havia em estoque na casa, não houve
um único corpo que se pudesse considerar como tal. a bebida é algo
perigoso. É claro que tive sorte... fugindo de miami, cheguei ao
colorado, onde acabo por encontrar o segundo colocado de minha
própria classe, renovar nossa amizade, conhecer seus planos de
viagem... só para vê-lo perecer em tão triste acidente, deixando-me
seus diplomas e outros documentos... bêbados são tão perigosos nas
estradas...
lh: pare com isso horácio. não é um bom momento para falar de seus
crimes... eu sinto meu coração se apertar... achei que estava
preparada para isso, mas agora que chegou a hora... É o meu filho
que será tirado de mim...
h: talvez prefira desistir de tudo... arriscar-se a ter este filho que vai
morrer... e esperar que seu perito a queira consolar...
lh: cuide de tudo, estarei lá pela manhã... não posso ir cedo demais,
porque preciso justificar minha ida... aquele antiquário, onde fingirei
voltar abre às 10:00 horas...
h: 10:15 horas será um bom horário. providenciarei para que tudo
esteja imaculadamente pronto para recebê-la...
lh: como vai lidar com o médico, para que ele não fique sabendo da
outra mulher e... seu bebê?
h: o dinheiro que pagou a ele, lady heater, o manterá cego e surdo.
de qualquer forma, ele não estará acordado quando eu chegar.
minhas ordens serão para que fique curando sua ressaca com um
bom sono esta noite. logo antes de sua chegada lhe entregarei a
chave do novo e belo carro que lhe permitimos comprar e o
mandarei abastecê-lo, para que esteja tudo em ordem para
transportá-la e ao seu novo filho a um bom hospital...
lh: faça tudo direito.
o som do telefone sendo desligado fez com que horácio se
apressasse em direção ao carro. o carro que trouxera da garagem de
marcel. um carro que quase ninguém sabia que ele tinha. por isto, a
polícia não estava buscando o veículo ainda. marcel comprara o
carro em dinheiro, numa revenda distante. era uma pequena van,
bem equipada, que ele usava em suas pescarias solitárias, para uma
das quais havia convidado horacio, uma vez, quando ainda confiava
nele e estava impressionado com a modesta colocação que solicitara
na clínica. depois, ele acabara vendo uma das falsas requisições de
exame de heater, e achara que fora apenas para ganhar dinheiro extra
que ele as fazia... tolo.
a demissão atrapalhou um pouco, mas a denúncia ao conselho
poderia ser um problema no futuro... bem, aquele caso fora
resolvido.
mas agora, para a viagem que ele tinha em vista, o carro comprado
em nome deste doutor uísque, uma bmw classic, daria o conforto
necessário para sua mulher... ela teria que dormir bastante, até se
recuperar da perda de... dois filhos! até sentirem a falta do dono e do
carro, eles já estariam muito longe... uma risada estranha o sacudiu,
enquanto decidia que não precisava trancar as portas externas. sara
não ia sair esta noite...
no laboratório, grissom conseguira acesso aos anuários das turmas
de medicina, de harvard, nos anos em que o dr. roller estava lá e
procurava nos cursos seguidos por ele alguém que pudesse ter
acompanhado seus passos...
greg, neste meio tempo, descobria que existira um abatedouro, onde
os animais chegavam ainda vivos, próximo ao lago mead. uma
estrada de ferro particular ligava este estabelecimento a union
pacific railroad, por onde chegavam os vagões com o gado. eram
clientes da iron and steel, mas haviam encerrado suas atividades há
mais de cinco anos.
gs: por que será que fecharam? deixe ver... será que tem alguma
construção lá ainda? eles possuíam uma grande área, num local
valorizado... o tipo de local que procuramos... vamos ver... um
resort! droga, foi vendido para ser transformado num resort...

sara sentia suas costas doendo, enquanto seu desconforto


aumentava... sentia náuseas, e uma forte tontura. respirou
profundamente e procurou relaxar o máximo possível, mas uma
cólica intensa a fez arquear-se na cama. com os olhos cheios de
lágrimas, sussurrou baixinho:
ss: meu neném, o que você está fazendo? ainda é muito cedo, cedo
demais...
mas a criança em seu ventre já tinha tomado uma decisão. havia se
movimentado, deslizando para se encaixar na posição correta, e
começou a exigir de sua mãe mais cooperação...
o líquido quente que escorreu de dento dela fez sara concluiu que
não havia mais como lutar para conter a criança. para o melhor ou
para o pior, a hora chegara.
tentou lembrar-se de tudo que já ouvira, lera ou aprendera sobre
partos... no início de sua gravidez, quando sua vida era normal, ela
ia regularmente ao médico, e comprara livros, e aprendera como as
coisas deviam ser, mas ninguém a avisara que teria que fazer tudo
sozinha, que seria deste jeito...
o que começara como cólica, se transformou em violenta contração,
que durou uma eternidade.
banhada em suor ela tentou se concentrar:
ss: preciso contar o tempo entre as contrações... quanto mais
próximas, mais fortes serão e eu terei que fazer alguma coisa...
despiu as roupas, colocando uma leve camisola de algodão, que
estava sob o seu travesseiro; juntou todas as roupas de cama e
demais travesseiros que dispunha, e formou uma espécie de ninho,
onde se colocou em posição para o parto, apoiando as costas e
erguendo as coxas e joelhos da melhor forma que pode. aguardou a
próxima contração, que não demorou muito. lembrou-se dos
exercícios respiratórios que devia fazer e pensou em grissom... se ela
voltaria a vê-lo, se ele chegaria a conhecer esta criança e saber que
era deles...
nova contração, agora em intervalo menor.
sara não sabia se teria dilatação suficiente, se o parto seria possível.
mas estava decidida a dar o melhor de si pela vida que gerara.
as contrações sucederam-se. o tempo entre elas ia diminuindo, a
respiração tornava-se rápida... difícil, estava cansada...
ss: ... fazer força, empurrar... agora... empurrar com mais força...
ela já não saberia descrever tudo que sentiu ou fez, quando ou como,
nem por quanto tempo, mas finalmente, com um grito meio
desespero, meio alívio, sentiu como uma explosão dentro de si, e viu
aquela coisinha rosada, cheia de seu sangue, finalmente em suas
mãos, sobre seu ventre, e aconchegou-a com os braços protetores...
com a ponta do lençol, limpou o rostinho e a boquinha, que se
escancarou num choro feroz...
sara riu, mesmo chorando ela riu... examinou o corpinho,
rapidamente, era perfeito, era uma menina... pequena, mas parecia
forte, e chorava...
com um faca de mesa, o único instrumentos de que dispunha, sara
cortou o cordão umbilical.
rasgou em pedaços, fronhas, lençóis, o que conseguiu encontrar
ainda limpo, e umedecendo-os em água mineral, das garrafas que lhe
haviam sido trazidas, ela nem se lembrava quando, limpou um
pouco a pequenina. utilizou parte dos trapos para enfaixá-la e
enrolá-la firmemente...
percebeu que ela própria, estava fraca... sangrava. juntando mais
pedaços de pano, fez uma espécie de tampão, para si, e vestiu uma
calça jeans... o dia já estava clareando, horácio chegaria a qualquer
momento, ela precisava pegar sua cria e fugir... enquanto procurava
uma camisa, sentiu as mamas cheias, gotejando leite. a neném
resmungava, entre um choro e outro, possivelmente sentia fome...
sem saber se teria outra oportunidade de amamentar sua filha, sara
aconchegou-a ao seio, e sorriu quando a pequenina sentindo os
bracinhos liberados, agarrou-se ao peito e o sugou, gulosa.

horácio sentia-se furioso. não encontrara o médico em casa, e não


tinha idéia de onde procurá-lo. precisava esperar... sentindo-se como
uma fera enjaulada, foi na garagem verificar o carro e acabou por
levá-lo a um posto, onde encheu o tanque, verificou óleo, água e
pneus, e fez algumas compras, na loja de conveniências anexa.
assim, tudo estaria pronto para a viagem. tão logo anestesiasse e
fizesse adormecer lady heater, retiraria o bebe de dentro dela, deixá-
la-ia repousar até a noite, então, mantendo-a sedada, partiriam. tinha
todos os medicamentos que precisava... ela ficaria bem... só ele
poderia dar a ela o melhor tratamento.
o dia começava a amanhecer... onde podia estar aquele idiota?
examinou os instrumentos, e providenciou sua esterilização...
pensava se daria tempo de trazer sara até aqui... quando cobria a
maca com um lençol limpo e verificava os suportes para soro,
organizando tudo o que podia com antecipação, ouviu os passos
cambaleantes no corredor... antes que ele pudesse evitar, a porta
abriu-se de supetão, e o bêbado tropeçou para dentro da sala,
perguntando o que ele pensava esta fazendo...
horácio, com um bisturi que se destinava ao alto-clave nas mãos,
sentiu imenso prazer em alcançá-lo com um único passo, colocar-se
por trás dele e cortar sua garganta de fora a fora...
o sangue esguichou como um chafariz vermelho enquanto o corpo
caia lentamente.
trazendo sacos de lixo, para embalar o cadáver, arrastou-o até o
refrigerador, onde o ajeitou, após retirar todas as prateleiras e
escondê-las.
olhou aborrecido para a sujeira que ficara na sala... não havia tempo
de limpá-la totalmente... passou um rápido pano no chão, mas não
trocou o lençol sobre a maca.
com um sorriso cínico, amassou-o, e tornou a esticá-lo.
trancou a porta da sala, da casa e certificou-se que a garagem com o
carro pronto para a viagem também estivesse bem fechada. usou a
mini-van em que viera para ir buscar sara. faria o parto dela com o
máximo cuidado, para que ela não sofresse. já havia resolvido matar
apenas o bebê. este não poderia sobreviver.

sara forçara-se a levantar, após enrolar novamente a neném que


agora dormia calma. saiu de seu quarto, que fora esquecido
destrancado pela primeira vez, desde que fora encarcerada. talvez
isto fosse um bom sinal. caminhou por corredores de azulejo, até
encontrar uma porta, que se abria para a rua.
um estreito braço de lago passava por todo o terreno em que se
encontrava e, ao olhar em torno, identificou o lugar onde estava... o
matadouro star. ela se lembrou de ter acompanhado pelos noticiosos
o processo de fechamento daquele local terrível... animais eram
mortos e esfolados ali; sua carne era distribuída para todo o
condado... sara não mais comia carne, mas sabia que outras pessoas
comiam. procurava ter uma postura neutra. mas o problema com
aquele local foram os dejetos... não tinham um tratamento adequado
antes da vazão, e estavam sendo jogados nas águas do lago mead...
então, ela estava bem próxima de callville bay...
ela sentia o seu sangue escorrendo, sabia que estava com forte
hemorragia, não resistiria muito tempo... se houvesse um barco... viu
então, as caixas plásticas, que serviam para acondicionar os cortes
de carne para transporte... examinou-as com atenção:
ss: veja, eu posso usá-las como bóia... elas flutuam bem... você
ficará confortável dentro de uma delas, pois esta borda larga e dupla
impedirá que vire e a derrube. vamos buscar toalhas e travesseiros,
para acomodá-la, preciosa...
entrando novamente no prédio, sara faz uma trouxa com
travesseiros, lençóis e cobertas, tudo que consegue encontrar e corre
para fugir. mas confusa, segue pelo corredor errado e percebe que
está na frente do prédio desta vez. lá longe, um carro vem pela
estrada privativa da propriedade. apavorada, sara recua, e corre em
busca da outra porta... mas sabe que não poderá fazer o que
planejava... horácio logo as veria na água, e capturaria sua filha... ela
precisa fugir de outra forma... olhando a área deserta que se estende
atrás do prédio, sara toma uma decisão difícil. sabe que é perigoso
para sua filha, mas pode ser que ela tenha uma chance... se aquele
louco puser as mãos na neném, vai matá-la, não tem nenhuma
dúvida... ele deixou isto bem claro...
com urgência, sara acomoda sua fila em uma das caixas, aninhada
entre travesseiros e lençóis. tira seu cordão do pescoço, o cordão que
grissom lhe deu, o cordão que tem seu nome, e coloca-o com
cuidado no pescoço da filha. chorando, beija-a mais uma vez, e
coloca a caixa na água. observa-a indo, na lenta correnteza, em
direção ao lago. ela sabe que é exatamente em callville bay que ela
chegará e lá alguém vai socorrê-la... há a marina, turistas... pessoas
que logo vão encontrar sua filha...
porque o jogo fala mais alto em nevada... e há jogo lá...
sara percebe que está delirante... com um último lampejo de
consciência, faz um embrulho, com os lençóis que sobraram, e com
esforço, tenta correr para o deserto, agarrada fortemente ao falso
bebê.
o calor sufocante estava piorando a hemorragia de sara... o sol
queimava suas vistas esquecidas daquela claridade, a sede e a
fraqueza torturavam seus passos. sua mente divagava em miragens
de olhos azuis e sorriso gentil caminhando para ela, tomando-a em
seus braços fortes e protetores, quando suas pernas cederam no
abandono misericordioso da inconsciência.
horácio chegara com pressa de levar sara, não queria se atrasar para
o encontro com lady heater, finalmente vulnerável, para que ele
pudesse... seus planos se chocaram com o quarto aberto e vazio, os
sinais da fuga apressada e os vestígios do parto.
agora totalmente alerta, ele caminhou decidido para a saída nos
fundos... ele a teria visto na estrada, se ela houvesse ido por lá... não
fazia muito tempo, não podia fazer... havia muito sangue, ela não
poderia ter ido longe...
da porta aberta, horácio olha em torno, e vê ao longe, em direção ao
deserto, o vulto de sara, abraçado ao bebê, provavelmente morto...
pode simplesmente deixá-la prosseguir...
o sol impiedoso durante o dia, os coiotes à noite... ela não teria
nenhuma chance, nem o pequeno bastardinho... e o perito nunca
saberia o que aconteceu com eles... ou ele poderia contar, um dia...
em rápidas passadas, numa breve corrida, ele a alcançou quando ela
já caia.
a mulher fora corajosa até o fim... aquilo comoveu horácio. uma
última fuga, e ela estava fora do alcance da vingança dele...
pega-a em seus braços, com ternura... o sorriso na face dela... os dois
dentes um pouco afastados, visíveis na boca entreaberta, relaxada...
em seu rosto, alegria e uma paz profunda, tão absoluta... só quem
encontrou o refúgio final, onde não há mais nada nem ninguém a
temer se queda assim...
flutuando no lago, dentro do barco improvisado, um caixote de
plástico vermelho, cheio de panos e travesseiros, um pequenino ser
acorda, e manifesta seu aborrecimento por estar preso e faminto,
primeiro com leves resmungos, que deram bons resultados antes.
como nada acontece, sem receber a imediata atenção devida, sem o
conforto dos braços e sons maternos, nem o saboroso néctar a
regalar-lhe a boca, ela se enfurece e grita seu ressentimento a plenos
pulmões, num choro crescendo que se eleva na manhã calma.
as águas do lago, que embalam suavemente a coisinha irritada,
também espalham sua queixa, levando ondas deste barulho até onde
crianças brincam, em algazarra...
bem mais longe, na marina, os motores dos barcos são testados, em
sonoro festival...
caminhando junto ao lago, um bronzeado guarda-vidas atrai os
olhares das jovens, que só esperava sua chegada, para exporem seus
corpos e untá-los com cremes e loções, de forma provocante... um
sorriso distraído passa por seu rosto, enquanto pensa na esposa que
ama com paixão, e na criança que esperam para breve... o ruído que
ouve, parece sua própria imaginação, antecipando...
mas seus sentidos treinados e profissionais o deixam alerta, algo
estava errado... olha às crianças brincando, não estão assustadas, não
há nadadores em perigo, nem banhistas na área dos barcos, mas ele
ouve um... choro, é claro, um choro de bebê... ri e procura o
pequeno... não vê ninguém com crianças de colo e lhe parece que o
choro vem do lago... há alguns metros, vê uma caixa vermelha,
boiando e sente um arrepio correr por sua espinha... ninguém faria
isto, é ridículo... concentra sua atenção no objeto vermelho, sob o sol
da manhã azul e percebe que dele vem um pranto cheio de
frustração, fome e forte
ânsia de viver... ele pula na água e em rápidas braçadas alcança a
caixa e a traz para a margem... olha incrédulo para a trouxinha
minúscula e berrante, e carrega-a em seu casulo, para a sede, onde
há sombra, mulheres e telefones... passa pela entrada privativa dos
empregados em completa fúria, e pede a telefonista para ligar para
911, chamar a polícia, pois um bebê recém nascido fora abandonado
no lago e precisava de urgentes cuidados médicos... seu treinamento
incluíra noções do que fazer e do que não deve ser feito em casos
como estes, quer dizer, não exatamente como este... mas quando se
deparasse com situações de mortes ou risco de mortes, causadas por
dolo intencional ou ato criminoso. ninguém deveria mexer em
nada... antes dos paramédicos, a polícia e a perícia chegarem, apesar
do choro lhe cortar o coração... apóia a caixa sobre uma mesa e
senta-se ao seu lado, balançando-a falando baixinho, tentando dizer
àquela criancinha abandonada que agora tudo ficaria bem, ela estava
em segurança... os olhinhos do bebê
eram azuis, como os dele.
o capitão brass escutava os despachos da central, pelo rádio de seu
carro, quando as palavras lago e bebê, na mesma ocorrência o
sacudiram com força:
jb: outro crime daquele monstro! espero que não seja o corpo de
sara...
controla sua emoção, porque não vai deixar ninguém vê-lo abalado.
ele é um tira, um velho policial durão...
ao ouvir o código de pedido do socorro aéreo sendo emitido, ele
responde ao comunicado, assumindo o caso, solicitando viaturas
para o local e o envio da perícia. então, disca para grissom, sem
saber bem o que dizer ao amigo...

grissom sentia os olhos arderem, após horas olhando fotos dos


anuários de harvard, quando um rosto o encara da tela com
arrogância. era o homem que esbarrara nele, meses atrás, quando
saía com sara, do consultório da médica... tira os óculos, limpa as
lentes mecanicamente, fixando as feições regulares, os olhos
escuros...
lê os seus dados: horácio ramirez bellafonte... mãe americana, filha
de espanhóis e pai americano, filho de franceses. nascido em nova
orleans, família rica e tradicional. excelente aluno, com habilidade
cirúrgica extraordinária. seu currículo era perfeito, impressionante.
obstetrícia parecia ser seu grande interesse, complementado por
técnicas de fertilização in vitro... era seguidor de marcel dunbar
avery...
recolocando os óculos, grissom digitou o código do seguro social e o
nome de horácio, para obter mais informações, agora que sabia
quem ele era de fato.
simultaneamente, uma idéia terrível começava a tomar forma em seu
cérebro. o nome do médico e as datas e anotações na ficha de heater
começavam a fazer sentido de forma desagradável... algo que o
estivera incomodando, estava sendo decifrado...
primeiro ele precisava se concentrar em horácio, que estava com
sara em seu poder.
radicando-se em miami, ele tivera famosa, luxuosa e movimentada
clínica.
atendia a nata da sociedade local, em muitos procedimentos... talvez
nem todos legais, mas não houve registro de problemas. ele parecia
ser um excelente profissional e as pacientes não morriam devido a
seus tratamentos. sua ficha era limpa, sem processos profissionais;
nem mesmo multas de trânsito ele tinha... uma observação, no final
da ficha, fez grissom levantar um sobrolho:
gg: morto, durante um incêndio, possivelmente criminoso, em uma
festa privada... tanto quanto foi apurado, sete pessoas ficaram presas
no depósito com as bebidas mais fortes, quando parte do vigamento
desabou, bloqueando a porta. garrafas explodiram e o líquido
derramado transformou o local em uma fornalha por conter muito
material combustível, entre eles, embalagens de papelão, madeira,
palha, serragem, estopa, fibras... vários focos de fogo explodiram
pela casa simultaneamente, e a energia foi cortada, criando escuridão
e pânico. quando a sala finalmente foi aberta, durante o rescaldo do
incêndio, não havia como identificar quem estava naquele caldo de
incinerados orgânico.
os sobreviventes contaram que havia muitos fogos na casa, que
seriam queimados no final da festa. eles também informaram os
participantes que desapareceram, sendo estes dados como mortos. as
investigações não foram conclusivas e o caso foi arquivado...
por que precisar sumir de circulação? até ali, era um médico genial,
sem nada de criminoso em sua vida... pouco tempo depois, noutro
estado, um homem, cuja identidade ele assumiu, e sua esposa
morrem em um providencial acidente...
por que ele seqüestrara sara?
nesse momento, seu telefone vibra.
jb: gil, onde você está?
gg: descobri quem é ele, brass! precisa divulgar um boletim com sua
foto...
jb: grissom, temos outra vítima, agora no lago mead.
gg: nÃo! não... não ela!
jb: não sei todos os detalhes gil, mas foi solicitado socorro médico e
transporte para o hospital. acho que você deve ir comigo até o desert
palm... já pedi a catherine que enviasse alguém para o local, em
callville bay... devem falar com gerry, o guarda-vidas. estou
chegando ao estacionamento do laboratório...
gg: estou a caminho.

lady heater estaciona seu carro em frente ao antiquário the past


things, seus movimentos são lentos e rígidos... entra na loja, e se faz
ver pelo gordo proprietário, fazendo algumas perguntas sobre a
mercadoria. ele já vendera para ela uma ou duas peças bizarras,
destinadas a usos ainda mais bizarros, nas fantasias fornecidas pelo
domínio. a presença dela é festeja. algumas peças que recebeu são
bem incomuns... ela examina o que lhe é mostrado com pouco
entusiasmo, enquanto simula sentir-se mal e ver pela vitrine que há
uma clínica médica ali em frente...
lh: acho que vou lá, não me sinto bem e... no meu estado...
o homem a informa, como já fizera antes, que o médico é um bom
homem, mas amigo demais das garrafas. sim, se ela estava tão
indisposta, o doutor talvez ajudasse...
lady heater, sorriu, com certa dificuldade, e disse que um breve
repouso a deixaria melhor... isto, com certeza o doutor lhe
ofereceria.
outro cliente em potencial entrara naquele momento, então o
comerciante apenas assentiu, enquanto ela saia.
atravessa a rua e bate na porta, que é rapidamente aberta por horácio.
ele a apressa para a sala que eles haviam equipado para esta ocasião.
ela pergunta onde está o outro médico e recebe a informação que ele
já está chegando com o carro...
horácio aponta para uma sala fechada, e diz que sara está ali e que
precisam andar logo, porque o bebê é muito prematuro, precisa de
cuidados especiais.
lh: onde está a criança?
h: recebendo oxigênio, no berço cirúrgico... já vai vê-la.
empurra a porta e aponta para uma cuba de aço e vidro, onde mal se
vê uns cabelinhos escuros escapando da máscara respiratória que lhe
cobre o rostinho. dos bracinhos enfaixados, tubos e fios diversos
conectam-se em monitores e bolsas de nutrientes, soro, plasma... um
pezinho rosado que aparece fora da manta, também tem um cateter
preso nele.
ela começa a mover-se em direção ao berço, quando vê a maca, com
o lençol amassado e cheio de sangue e se assusta. olha o chão, vê
que não foi bem limpo; havia sangue nele também...
lh: o que é isto? que sangue é este? o que você fez?
h: o parto de sara não foi fácil, nem exatamente normal... perdoe-me,
precisei cuidar da criança, e não tive tempo de limpar tudo e trocar
os lençóis, mas já vou fazê-lo, lady. por que não se despe e põe a
camisola cirúrgica?
ele vai até o armário, pega roupas e lençóis esterilizados, selados em
sacos plásticos. oferece um dos pacotes para heater.
o sorriso irônico dele, ao falar friamente sobre o sangue a deixara
desconfortável; mas agora, quando ele a encara, enquanto lhe
estende o avental, ela pode ver o brilho da loucura nos olhos dele. e
sente medo real, pela primeira vez em sua vida. pega o saco que lhe
é estendido, vira as costas para aquilo tudo e sai da sala. e foge
correndo dali; aquele homem tem sangue demais nas mãos para ela
confiar nele.
um táxi que desembarcara seu passageiro na esquina, mal consegue
de frear quando ela atravessa a rua ainda sem o ver, com sua bolsa
na mão, a procura das chaves do carro.
o motorista, preocupado, abre a janela e pergunta se ela está bem,
quando horácio chega à porta vestido como médico. ela, então, entra
no taxi e pede que o motorista a conduza para um hospital, porque
não se sente bem.
lh: por favor, depressa, leve-me para o desert palm. acho que meu
filho quer nascer...

grissom faz perguntas a brass, mas este diz apenas que o helicóptero
de socorro já está no heliporto do hospital.
jb: a polícia vai isolar a área do lago onde...

horácio, vê sua presa escapar. por enquanto, tudo que ele pode fazer,
é voltar para seu esconderijo. heater vai se acalmar, e pensar
melhor... ela quer a criança, voltará por causa dela. agora, deve
voltar ao seu próprio território. tranca a frente da clínica, ajeita os
equipamentos e o que precisa ser levado; usa a passagem interna,
que comunica com a garagem, para não chamar a atenção dos
vizinhos. aciona a porta da garagem e sai. volta ao matadouro para
esperar notícias da sua lady até a noite. caso ela não se decida, ele
irá buscá-la em seu próprio domínio. não vai esperar mais. É sua
hora de tê-la, poder amá-la, longe de todos...

greg sentira-se cansado, e faminto. foi em casa, dormir um pouco, e


passou todo tempo sonhando com serras, mulheres mortas, e a
cabeça de sara, sobre uma bancada no laboratório, explicando que as
estrelas são mais lindas, vistas na escuridão do deserto...
acordou bem disposto, apesar disto... gostara de ouvir a voz de sara,
e ver seu sorriso maroto; recusava-se a pensar no fato de ela ser
apenas uma cabeça... era um sonho, e em sonhos coisas assim eram
normais.
uma idéia aflorara com o sonho... algo que ele devia ter visto, sem
perceber, e que pedia investigação.
já passavam das 15:30 horas... ele tinha o tempo justo para ligar para
um amigo que trabalhava na prefeitura e pedir que verificasse algo
nos registros... poderia comer alguma coisa, enquanto esperava a
resposta. ele tinha descoberto algo muito suspeito. não podia falar
com grissom, antes de ter absoluta certeza... talvez um laço se
apertasse em torno de um pescoço bem conhecido...

no desert palm, grissom segue brass. absorto, pensando se pode ser


sara viva, apesar de ferida quem irão encontrar, não percebe que são
encaminhados para a ala infantil.
aguardam por horas, assim lhe parece, até que um médico se
aproxima deles.
wa: boa tarde. sou william ames, o médico que a atendeu. desejam
falar comigo?
jb: sou o capitão brass, encarregado do caso. este é grissom, da
perícia...
gg: e ela? como ela está?
wa: uma enfermeira recolheu os objetos, para lhes entregar. ela está
muito bem, parece ser forte como uma potranca selvagem...
perfeitamente saudável, pelo que pude verificar... claro, pedi alguns
exames...
gg: o nome dela é sara?
wa: então já a identificaram? eu achei que o cordão ajudaria,
guardei-o comigo, mas...
gg: doutor, ela já está em condições de falar? preciso vê-la...
wa: acho que ela vai demorar um pouco para falar. você deve saber
disto. mas poderão vê-la através da janela. venham comigo.
grissom segue o médico, sem entender sua última observação. ele
dissera que sara estava bem...
wa: vejam, ela é linda. não consigo imaginar os motivos de seu
abandono...
brass fala com voz muito rouca:
jb: coragem e muito sacrifício, provavelmente...
enquanto o médico olha curioso para o policial, a voz de grissom soa
confusa e perplexa:
gg: mas sara não pode estar aqui...
wa: bem, é este o nome gravado junto à borboleta...
enquanto fala, tira do bolso de seu avental verde um saquinho
plástico, lacrado com fita adesiva, e o estende a grissom, que o
segura com a mão trêmula e fecha os olhos, preso de forte vertigem.
wa: ...os paramédicos o tiraram do pescoço dela, onde estava
colocado cuidadosamente, de forma a não machucá-la...
senhor grissom, está passando mal? venha até aqui, sente-se... deixe-
me ver...
gg: este cordão é de minha... minha mulher... namorada... queríamos
nos casar... ela foi seqüestrada... estava grávida... é o cordão de
sara...
eu... eu estou bem... pensei que ela tivesse sido encontrada... que
estava viva...
brass sente que sua garganta está cheia da areia do deserto, e
permanece calado.
wa: senhor grissom, é um bebê. foi encontrado um bebê abandonado
no lago, não lhe disseram? eu sinto muito, pensei que era seu
trabalho... não sabia que... eu deveria ter explicado antes...
jb: não, eu deveria ter contado, no caminho... não estava certo de
que fosse... eu não sabia da corrente com o nome...
wa: o rapaz que a encontrou conhecia os procedimentos... não tocou
nela, não deixou ninguém mexer em nada, até a chegada do socorro
médico... eles carregaram-na com tudo para o helicóptero, e só a
bordo, cortaram as faixas, para examiná-la, e acharam a corrente.
eles estavam de luvas, é claro, todos que o pegaram nela estavam de
luvas, então a lacraram no saquinho... são bons rapazes... vocês
entendem, eles sabem como deve ser feito... todos nós sabemos, por
isto, o que estava com ela foi guardado para lhes ser entregue...
gg: a criancinha é uma menina, o senhor disse... quantos meses...
quero dizer... ela é prematura, doutor? deve ser minha filha... tem
que ser minha filha, se ela estava com o cordão de sara. ela nunca o
tirava... a borboleta estilizada é formada com as iniciais do meu
nome... dois gg, um deles invertido... mandei fazer para ela... gravar
junto ao seu nome... o que terá acontecido com ela para...
quero ver minha filha. quero tocá-la. ela vai ficar bem, não vai?
wa: como eu falei, senhor grissom, ela está bastante bem. estava
bem aquecida e foi protegida do sol. estava faminta, e tem ótimos
pulmões. É um pouco pequena... e sim, é prematura, mas
perfeitamente formada.
gg: minha filha teria pouco mais de seis meses...
wa: precisaremos testar seu dna, para termos certeza...
gg: quero vê-la agora. levarei amostras de seu sangue para o
laboratório, e lá faremos o teste. ele será necessário, como evidência,
no caso. entretanto, tenho certeza de que é minha filha e quero vê-la
de perto.
wa: sr. grissom...
jb: qual o problema, doutor?
wa: bem, não sei se é o mais apropriado, neste caso, não há nada
comprovado...
jb: não se preocupe com estes detalhes, doutor. nós não vamos
questioná-los. ele não vai prejudicar a filha.
wa: não temos certeza ainda se é filha dele...
gg: eu tenho.
jb: ele tem o hábito de sempre estar certo, doutor. vamos lá.
wa: terão que usar roupas esterilizadas, luvas, máscaras...
jb: acho que conseguiremos fazer tudo certinho... sabe, conhecemos
os procedimentos.
brass murmura para si próprio que é um pouco diferente quando se
trata de gente viva... ficam em estufas, em vez de geladeiras.

lady heater chega ao hospital. paga o taxi, e agradece ao motorista.


só então percebe que estão na entrada de urgências, e alguém já a
aguarda, com uma cadeira de rodas. ela vai dizer que foi um engano,
um falso alarme, quando desfalece. o atendente a ampara, sem
deixá-la cair, enquanto outros dois já se aproximam com uma maca
onde ela é ajeitada e levada para a área interna.

grissom olha a pequenina que dorme tranqüila. desajeitado, estende


uma mão enluvada, tateia de leve seu pezinho... move lentamente a
mão, até a face, que ele roça suavemente, ressentido por só poder
tocar nela através do látex das luvas... uma ânsia de segurá-la no
colo aperta seu peito.
parecendo sentir a presença emocionada do pai, sua garotinha
sacode as perninhas e os bracinhos em orgulhosa exibição, e abre
preguiçosamente os dois olhinhos de um azul profundo, que
parecem se fixar diretamente nele. em seguida, dá um cômico bocejo
e fecha os olhos. sua face de porcelana relaxa novamente, no
abandono completo do sono.
grissom, talvez pela primeira na vida, parece não ter a perfeita
citação para o momento.
jb: ela tem seus olhos, grissom... mas se parece com sara...
a observação escapa dos lábios do policial antes que ele consiga
evitá-la. ficara comovido,
e humano demais, no seu próprio pensar. não deveria falar certas
coisas...
wa: sono e leite materno são suas necessidades imediatas. e
podemos fornecê-los aqui, sob supervisão adequada, até que ela
seja... que ela tenha condições de ir embora. ainda faremos alguns
exames e... precisamos verificar seu dna... talvez, sr. grissom, possa
nos dar uma amostra de seu sangue para comparação. sabe que
precisamos confirmar...
gg: eu darei amostras de meu dna. não tenho dúvidas de que ela é
minha filha, mas sei que é necessário. peço, por favor, que me
forneça amostras dela, de seu sangue. ele terá que ser testado no
laboratório da perícia também. os meus dados e da mão... estão no
sistema porque ambos trabalhamos lá.
eles tiravam as roupas descartáveis, quando o celular de grissom
tocou.
gg: grissom. minha mulher... heater, sim, sei... desert palm... meu
filho está para nascer? ... onde ela está? sim... 6º andar, suíte 622...
sim, eu irei...
brass fecha a expressão, ao ouvir esta parte da conversa e se afasta
com o espantado dr. william:
wa: eu pensei que ele... quantas mulheres grávidas ele tem?
jb: duvido que ele mesmo saiba... se ele acreditou nesta, é capaz de
acreditar em qualquer uma... sara é a única mulher da vida dele.
wa: bem, eu suponho que ele saiba como crianças são geradas?
jb: eu me pergunto... ele caiu nas mãos de uma “amiga bastante
profissional”. eu lhe recomendei o golfe, mas ele é teimoso. vamos
resolver isto na hora certa...
gg: jim, preciso falar algo com uma pessoa. heater chegou ao
hospital, parece estar entrando em trabalho de parto, pediu que me
chamassem. não vou demorar.
você precisa mandar revistar toda a região próxima a callville bay...
sara está em algum lugar próximo de lá... mande helicópteros,
policiais, cadetes... quero aquela área inteira totalmente vasculhada...
agora sabemos onde procurar...
jb: acalme-se gil. já está anoitecendo, não podemos...
gg: jim, ela está lá, em algum lugar, no meio do nada... teve uma
criança, está fugindo, ela pode morrer...
jb: há policiais procurando... viaturas já foram para lá, estão
vigiando o lago. se ela...
gg: eu vou procurá-la... doutor, falei com a supervisora catherine e
alguém da perícia virá buscar os objetos encontrados com minha
filha, e as amostras para exame. pode coletar minha amostra agora?
wa: venha comigo, senhor grissom.
quando grissom segue para o elevador, seu amigo pergunta:
jb: posso visitar madame heater, para oferecer-lhe meus parabéns?
gg: como queira. será uma visita bastante rápida.
greg voltara para o laboratório no começo da noite. seu amigo tivera
dificuldades para encontrar o que ele queria, e exigira um jantar em
alto estilo, como recompensa. custara a se livrar do sujeito.
entretanto, ele temia falar para grissom sobre o que descobrira.
desconfiara da mulher, quase desde o início, de uma forma bem
irracional...
agora, o fato de lady heater ser a atual dona das instalações do
antigo abatedouro e frigorífico star, conhecido como “o
matadouro”, que comprara a serra, cujo dente eles encontraram em
silver lake, a ligava diretamente ao caso...
ela afirmara ter sido vítima de um ataque... grissom acreditara nela.
eles tiveram um caso, era o pai da criança que ela esperava... como
reagiria à informação?
ele estivera fora do laboratório desde cedo, não soubera dos últimos
acontecimentos. encontrou nick, que saía para o desert palm, em
busca do material do lago, para ser processado. conversando com
ele, descobriu como tudo dera uma reviravolta, e ficou entre feliz e
desesperado:
gs: um bebê, a filha de sara? e sara, não foi encontrada?
ns: vamos testar o dna da criança para ter certeza... grissom
reconheceu o cordão de sara... mas não temos notícias dela, nem se
está viva...
gs: vou com você! eu sei onde sara está. preciso contar a grissom, e
vamos precisar da polícia... brass já está lá, ele vai organizar tudo...
sara está viva, ela falou comigo...
algumas lágrimas sentidas escorreram de seus olhos... ele reviu a
cabeça dela, solta do corpo, por um instante, e sentiu muito medo de
que ela estivesse se despedindo...
ns: quando... como ela falou com você? você está falando sério,
greg? ela conseguiu telefonar para você?
gs: não... talvez... deixe para lá, você não iria acreditar... vamos
rápido. precisamos chegar a tempo...
greg não sabia bem a tempo de quê... sentia uma grande urgência.
eles precisavam agir.

no desert palm, suíte 622, grissom confronta uma pálida lady heater,
angustiada, com dores devido às contrações...
lh: grissom! É bom que esteja aqui. com você ao meu lado durante o
parto, sei que tudo dará certo... nosso filho vai viver, e você ficará
sempre junto de nós...
gg: pare com isto! pare de fingir! chega. acabou! este filho... não é
meu. você me fez de bobo... já não importa. minha filha, minha
verdadeira filha, está aqui... e vou buscar a mãe dela, a mulher que
amo... ao lado dela... sim, ao lado delas eu ficarei.
lh: não, não é verdade... É o nosso filho, fruto de nossa linda noite
de amor! você não pode negar isto... não pode esquecer aquela noite,
quando me amou com tanta paixão e...
gerou nosso filho... sofri tanto, por vê-lo com outra... mas você
voltou para mim, você me ama, não entende...
descontrolada, ela gritava frases desconexas. em desespero, tentava
usar os próprios gritos para abafar as palavras duras de grissom... ele
descobrira algo... jamais falaria assim, sem ter provas... ele falara de
uma filha, ali...
lh: maldito, maldito horácio. ele trouxe o bebê, o bebê que seria
meu... eu esperei tanto, suportei esta gravidez inútil todos estes
meses... enquanto aquela desgraçada tinha tudo, tinha você, tinha
uma criança saudável... eu não ia perder você... eu não podia perder
mais uma vez minha filha... eu disse para ele mantê-la presa, até que
a criança pudesse ser arrancada dela e entregue para mim...
brass, que entrara discretamente no quarto, e se surpreendera
favoravelmente com as primeiras palavras de grissom, aproximou-se
neste momento, encolerizado, com tudo que aquela mulher estava
dizendo.
grissom, que a princípio julgara ser uma reação puramente histérica,
ouvia com horror as palavras dela, percebendo seu perverso
significado. uma fúria desmedida brilhava em seu olhar, quando ele
avançou um passo na direção do leito.

gg: você fez isto, planejou tudo... você... você queria a morte de
sara... tirar a filha de sara... você é uma... assassina... tenho vontade
de matá-la neste momento, com minhas mãos...
jb: não faça loucuras, gil. deixe este prazer para mim... você tem
uma filha para criar...
desta vez, nem todos os juízes do estado vão salvá-la... mas não
aqui... não agora, com tantos recursos ao alcance dela, e tantas
testemunhas...
eu vou querer interrogá-la... vai ser um lindo interrogatório...
lh: vocês não entendem? a criança era minha, ela a roubou de mim,
roubou meu amor, roubou minha filhinha, minha linda zoe... tinha
que morrer... quem matou zoe merecia morrer... você não devia ter
me impedido, grissom... disse que era meu amigo, que queria me
ajudar... mas zoe continuava morta... aquele monstro não merecia
viver...
um médico acudira aos gritos de lady heater, dizendo que ela
precisava ser sedada. eles deviam sair do quarto agora. ela não
estava em condições de falar com ninguém. a bolsa amniótica havia
estourado, ela tinha que ser levada para a cirurgia com urgência...
breve o bebê entraria em sofrimento...
médico: algum de vocês é o pai da criança?
jb e gg: nÃo!
médico: parentes, amigos?
jb: pergunte-me isto quando ela estiver na cadeia.
gg: não. não creio que ela tenha parentes... sua filha morreu, não tem
marido...
médico: vocês... ?
jb: somos adivinhos. prevemos o futuro dela.
médico: alguém deveria ser avisado...
grissom estende um cartão para o médico:
gg: estes são os advogados dela. fale com eles... avise-os que ela vai
precisar muito deles. vamos jim, eu vou procurar minha mulher...
saíram do quarto em silêncio, e rumaram para o elevador.
o celular de grissom emite vibrações, ele atende.

horácio lamenta por sara. não pretendia deixar que nada de mal
acontecesse a ela. mas ela escolheu fugir, e levar o bebê... ele
percebeu que ela quisera enganar-lo, escondendo a criança em
algum lugar, na esperança de salvá-la... e sacrificara a si mesma,
como isca.
ele não encontrara o bebê... não tinha importância, se ainda não
estivesse morto, logo estaria. sem comida, sem cuidados... nem valia
a pena procurá-lo mais.
ele fizera o melhor possível.
agora, precisava buscar sua lady. invadir o domínio, e carregá-la. já
estivera lá, sabia como chegar aos aposentos dela... e então partir.
não precisaria voltar ao esconderijo.
talvez, fizesse uma ligação anônima...

ao sair do elevador, grissom e brass vão ao encontro de greg, que


ligara a procura deles.
nick seguira para cumprir suas ordens, levar o material para o
laboratório, e chamar os colegas, para a busca. estava incrédulo, mas
ansioso para ajudar.
gs: grissom, eu queria falar frente a frente com você... você vai achar
difícil acreditar, mas... lady heater... ela está envolvida de alguma
forma, nos assassinatos...
gg: É verdade.
gs: grissom, ela comprou uma propriedade... onde funciona “o
matadouro”... é perto de callville bay, onde a criancinha apareceu...
ela vai ficar bem? É a filha de sara, não?
foi difícil descobrir a real identidade do novo proprietário... constava
que foi vendido para a construção de um spa, foi o nome que me fez
desconfiar... the new domain... um amigo verificou na prefeitura, a
solicitação de licença para a obra... foi requerida por lady heater...
jb: onde? onde é a propriedade?

gg: você sabe onde é o local? sara tem que estar lá. heater falou que
mandou detê-la...
precisamos resgatá-la... ela está em perigo. está nas mãos do
monstro que matou todas aquelas mulheres e ele vai matá-la...
jb: qual o endereço, greg? vou enviar viaturas para lá...
gs: abatedouro e frigorífico star... tem um acesso privativo, a partir...
jb: central, aqui brass, homicídios. preciso de reforços, antiga
estrada para lake mead nort cânion; 10-14, com refém, repito:
suspeito é perigoso e mantém como refém um dos nossos. deverão
aguardar na entrada do frigorífico star. fechar o cerco e esperar meu
sinal. câmbio e desligo.
gg: vamos buscá-la.

parte final:

horácio não encontrara lady heater. descobrira, com uma das garotas
que ela estava no hospital, em trabalho de parto.
então, tudo acabara. ele nada mais podia fazer... o filho do perito já
estava nascendo. ele estaria lá... com ela... logo saberiam que a
criança era saudável. o outro o vencera, afinal... teria seu filho... e
sua mulher também.
no hospital sua lady estava fora do seu alcance... ele poderia vê-la,
mas não havia como levá-la. ela ficaria furiosa quando soubesse que
ele mentira a respeito da criança. nunca o perdoaria. ele sonhara em
tê-la em seus braços nas areias de silver beach, amá-la sob os raios
prateados do luar dos amantes...
desde muito jovem, quando um amigo de seus pais falara sobre as
estórias da praia que unia para sempre os que se entregavam em suas
areias, desejou conhecê-la... muitas vezes andou por aqueles lugares,
passou noites à beira da água prateada, até saber tudo sobre o local,
seus acessos, o movimento de visitantes em certas épocas... o grande
lago artificial e a barragem no meio do deserto o fascinavam... em
suas férias e folgas, não era pelo prazer do jogo que vinha à las
vegas, com seus tolos amigos, mas sim pela sedução sensual daquele
recanto... quando conheceu a mulher de cabelos negros e olhos de
fogo, no domínio, ansiou por unir-se a ela naquele lugar perfeito,
tornando-a sua para sempre. como um adolescente bobo, entregara-
se a ela, a disposição de todos os seus caprichosos desejos, até vê-la
rastejar por outro homem e usá-lo...
voltou para o matadouro. estava cansado... perdera tudo. ia esperá-
los... sua lady já devia estar contando sobre este local... ela era
inteligente... só precisava se livrar dele, horácio, e estaria livre. ela
dissera que ninguém descobriria que o local lhe pertencia.
com sara fora do caminho, seria fácil ser apenas mais uma vítima.
ele facilitara tudo para ela, ao se livrar do médico beberrão. no final,
nada havia contra ela. ele não se importava mais. gostaria que ela
ficasse livre, tivesse seu filho... mas...
o outro, aquele que a roubou, morreria. tomada sua decisão, buscou
sua arma, uma glock 19, semi-automática, nove milímetros,
verificou se os dez projéteis estavam no pente e considerou com
ironia a situação:
h: matarei o homem que destruiu meu sonho e depois me matarei.
um tiro em cada cabeça, e nós dois estaremos estendidos lado a lado,
no necrotério...
com uma silenciosa gargalhada prediz que irão se encontrar no
inferno...
senta-se à mesa e começa a escrever sua história, enquanto espera.
acha que será bom que alguém saiba de tudo em detalhes... desta
vez, ele vai cooperar com a polícia.

o esquadrão especial, formado por homens com armamento pesado,


ferramentas de assalto, coletes à prova de balas, trajes de
camuflagem, máscaras e gás paralisante, se coloca estrategicamente
ao redor do prédio; o grupo se mantém em contato por falas breves,
através de códigos e só espera um sinal para iniciar a invasão. brass
exige que aguardem, até estarem certos de não ferir a refém.
a madrugada já avança para o amanhecer.
horácio fecha o caderno e apaga a luz. na claridade difusa, vai até o
interior do prédio, uma última vez.
não ouviu nenhum ruído, não viu nenhum movimento, mas sente
que eles estão por ali.
resolve sair... e esperar sua presa.
h: o homem está ansioso, vai acabar se expondo, antes que os outros
possam segurá-lo. grissom, é o nome dele, quer este confronto tanto
quanto eu. ele virá ao meu encontro...

brass discutia com grissom, que insistia em se adiantar. usava um


colete de proteção, não queria esperar mais. enquanto verifica sua
arma regulamentar, grissom percebe a
porta se abrir e uma figura alta, que desliza pela passagem... sem
pensar, salta na direção daquele vulto, saindo das sombras que o
protegiam junto aos outros.
com um sorriso de triunfo, horácio atira e vê grissom caindo,
enquanto é fuzilado pelos policiais do cerco.

eles entram na extensa instalação, e se espalham para vasculhar e


liberar o local.
greg e brass abaixam-se grissom está estendido, vendo o sangue.
seus olhos azuis muito abertos...
ele levar a mão à orelha esquerda, onde a bala raspou bem
superficialmente, apesar do abundante sangramento.
gg: por que vocês estão olhando com estas caras tolas para mim? eu
torci o tornozelo,
ajudem-me a levantar... quero ir lá dentro...
jb: seu louco teimoso, ele poderia ter explodido seus miolos, e seria
bem feito...
gs: você não devia ter...
gg: isso logo vai parar de sangrar. dê-me seu lenço e vamos logo...

um dos homens do esquadrão os chama da porta, dizendo que ela foi


encontrada, mas...
os três correm na direção indicada por ele, e chegam à porta do
quarto onde sara havia passado os últimos cinco meses...
estendida na cama, muito pálida, imóvel, ela tem uma máscara de
oxigênio no nariz, um tubo na traquéia, soro e plasma conectados ao
seu corpo.
chocados, eles percebem o som fraco, do monitor cardíaco, que
anuncia que ela ainda está viva, enquanto os para-médicos que
acompanhavam a investida, acionados, tomam conta dela.
grissom se acerca deles enquanto confirmam que ela está em coma.
novamente um helicóptero de socorro sobrevoa aquela área. mãe e
filha saíram de lá no mesmo tipo de transporte. desta vez, um
grissom ferido segura a mão da inconsciente sara. sua família vai ser
reunir no hospital.

brass e greg vêem uma boneca, de cabelos escuros, enrolada e


enfaixada como um bebê, ainda com cateteres e cabos colados ao
corpo com esparadrapo, em um berço hospitalar, num canto do
quarto, e se interrogam sobre seu significado.
sobre a mesa, na sala que dá para rua, um caderno com várias
páginas cobertas pela escrita firme e meticulosa, conta uma história
macabra, quando jim brass o folheia com sua própria caneta, ao lado
de um greg incrédulo.
gs: se ele deveria matá-la, por que ela estava medicada? e o que era
aquela simulação maluca de criança...
jb: você me diga, você é o perito... eu sou apenas o tira burro, que
corre atrás dos bandidos e só de vez em quando vê o vilão morrer.

o local é lacrado com a fita amarela e negra, que marca as cenas de


crime. a polícia vai mantê-lo sob guarda e outros peritos virão
coletar evidências.

lady heater, abalada mentalmente desde a perda da filha zoe, tem sua
criança saudável, mas não recuperas sua sanidade.
seu filho, um menino, é retirado da custódia dela. depois da
divulgação do caso, nos noticiários o pai biológico do menino, que
concordara em ser doador, sem conhecer as intenções dela,
reconhece a mulher que lhe fizera tal pedido, e se apresenta, em
busca da criança. sendo solteiro, um fuzileiro naval a ser embarcado,
entregará o menino para seus pais, que moram na flórida.
lady heater fica sob custódia judicial, após ser examinada diversas
vezes, por vários especialistas que confirmam sua incapacidade
legal. os anos após o nascimento de sua filha foram apagados de sua
mente. confinada em uma instituição para tratamento, ela vive seus
dias na ilusão de que a boneca que possui, igual a que lhe fora
mostrada por horácio, se trata de sua filha zoe, ainda bebê.
seu caso é considerado irrecuperável. a dominatrix foi subjugada.

o laboratório de perícia criminal de las vegas estava voltando à


normalidade, depois
dos tempos conturbados que abalaram suas estruturas.
grissom, atarefado com os casos que estavam pendentes e
precisavam ser resolvidos,
é chamado pelo delegado de volta a sala de onde saiu uma vez
furioso, outra em humilde situação:
delegado: grissom, eu soube que você vai se casar...
nunca poderia imaginar você casado. e com uma filha!
bem, acho que devo lhe dar algo em consideração ao fato.
eu lhe devolvo a supervisão dos csis do turno da noite.
você não precisava provar nada, eles seguiam as suas ordens... você
já havia provado sua capacidade muitas vezes.
eu só precisava fazer você entender que não pode entrar em minha
sala e gritar comigo só porque as coisas não são feitas do seu modo.
eu poderia ter sido mais gentil, grissom. mas você deve agir de
forma mais política, sabe?
e, quando a futura sra. grissom voltar ao trabalho, tenho certeza que
poderemos ajeitar um turno com outro supervisor para ela... pelo que
eu soube, é uma perita excelente.
catherine vai continuar supervisora. talvez duas equipes trabalhando
juntas, reduzam o acúmulo de papéis e apressem a solução dos
casos...
exijo a promessa que você não irá mais se envolver com suas
subordinadas...
e, por favor, mantenha-se longe das dominatrixs! siga os conselhos
de brass a este respeito. elas não me parecem amigas adequadas para
alguém como você...

em callville bay, o ruído dos barcos na marina, parecia distante


demais, quase um ronronar, naquela manhã de sol claro e céu azul.
um grupo animado ocupava a melhor área junto ao lago.
gerry, o guarda-vidas, sorria de orelha a orelha, com seu filho no
colo, ao lado de sua bela esposa, de longos cabelos negros e olhos
amendoados. ele se sentia feliz de estar ali, com aquelas pessoas. era
tratado como amigo de longa data. a fase dos agradecimentos já
passara, mas o respeito e a consideração o deixavam orgulhoso.
música suave soava pelos alto-falantes, discretamente oculto nas
árvores.
um monge de longo manto amarelo, a cabeça totalmente raspada, era
uma figura que poderia ser cômica, não fosse a placidez de sua
contemplação e a paz que emanava de seu ser, sua crença, sua
determinada rejeição à violência. era um convidado especial de
grissom, que o encontrara em um caso e maravilhava-se com sua
silenciosa dedicação à procura da perfeição dentro do homem para
conduzi-lo a um ser superior.
havia um ministro juramentado, bastante convencional que oficiava
a cerimônia, muito simples.
greg, catherine, nick, warrick, brass, sofia, doutor robbins, dr. david
e um ecklies, meio deslocado como representante do laboratório,
observavam a confusão de grissom:

gg: votos de casamento?


eu não escrevi votos. o que eu posso prometer à mulher que meu deu
angel, o mais belo e perfeito presente que um homem pode receber?
o que posso oferecer em troca do que recebi desta mulher, seu amor
e uma filha!
eu só vou dizer que quero estar ao seu lado, ao lado das duas, por
toda minha vida e ainda depois dela... para amar e protegê-las.
para você, que aceitou ser minha esposa, eu juro que vou ler muito,
porque tudo o que estudei de anatomia, biologia e química, não me
ensinou a lidar com fraldas e mamadeiras, ou como limpar... o que
precisa ser limpo. eu poderia usar meus conhecimentos de
entomologia, para fazer retornarem a natureza o conteúdo das
fraldas usadas, mas acho que não iria deixá-la feliz desta forma...
posso prometer desistir de criar baratas de corrida, e não mais fazer
experimentos que deixem cheiros desagradáveis nas geladeiras de
casa.
eu nada sabia sobre amor, até você entrar na minha vida, mostrando
beleza aos meus olhos e trazendo sentimentos ao meu coração.
amo você desde que a vi pela primeira vez, com seu rabo de cavalo e
tantas perguntas sobre antropologia. perdoe-me por ter demorado até
quase perdê-la, para confessar como você é importante, como vocês
duas se tornaram tudo para mim...
uma risada cristalina, entre terna e divertida, tornou mais bela a face
de sara, cheia de serena felicidade.
ss: eu me caso com você, gilbert grissom, mas não diga mais nada
de que possa se arrepender depois. entregue angel para greg segurar,
e encontre as alianças que você me prometeu, para que a cerimônia
seja completa, da forma que você planejou...
grissom, com um sorriso maroto, fez aparecer um estojo aberto em
sua mão esquerda, como em um passe de um mágica.
duas belas alianças brilhavam contra o veludo negro. cada uma delas
era metade ouro branco, metade ouro amarelo, dois aros se fundindo
em um, e em uma delas, na menor, havia um diamante perfeitamente
engastado.

as alianças foram trocadas, e as palavras rituais pronunciadas. eles


estavam casados, com autoridade concedida ao oficiante pelo estado
de nevada.

o rápido beijo cerimonial foi lindamente aplaudido.

sara, muito bonita, em um vestido leve, branco rosado, esvoaçando


na brisa de manhã, estava tão diferente da discreta profissional,
sempre em trajes sóbrios, que grissom não conseguia parar de olhá-
la ela aproxima a boca de seu ouvido e recorda-o do que fora
combinado.
segurando a mão de sua esposa, grissom aproxima-se de greg e
catherine, que babavam descaradamente em sua filha angel,
rodeados pelos demais amigos, que disputavam sua vez de paparicar
a risonha menina, que tinha os olhos do pai...
pedindo licença por um minuto, sugerem aos demais amigos que se
sirvam no bufe que fora armado sob as árvores. chamando também
brass, para completar um trio junto de angel, sara e grissom os
declaram seus mais próximos e queridos amigos, e lhes pedem que
sejam os guardiões de angel, em sua falta.
gg e ss: vocês aceitam serem seus padrinhos?
os três aceitam e maravilhados e enquanto greg e catherine discutem
quem vai fazer o quê para agradá-la mais, brass recebe um abraço de
sara e de grissom, que agradecem
ao policial e ao amigo por ter sido o cara durão que nunca desistiu
deles.
brass disfarça sua emoção, andando em direção aos outros dois, e
tomando deles sua linda afilhada que o encara e lhe dá um sorriso
especial.
o estouro do champanhe convoca o grupo para o brinde tradicional.
todos se revezam nos discursos, enquanto angel circula por muitos
colos, até chegar ao de ecklies que é saudado pelo franzir do
rostinho em esforço logo justificado pelo cheiro que anuncia sua
realização.
enquanto catherine se justifica como madrinha, efetuando os
procedimentos necessários, o casal de pais se afasta, caminhando
pela beira do lago.

de mãos dadas, sorrindo, se distanciam do grupo de amigos,


desfrutando seu primeiro momento a sós, após tanto tempo. tiram os
calçados e pisam com pés nus nas areias mornas, e nas águas
frescas.
seus olhares se encontram e seus lábios se procuram famintos,
devorando-se em longo beijo que apaga o sofrimento passado e os
faz esquecer as testemunhas presentes.

fim

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