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SOCIOLOGIA FUNDAMENTAL CLASSICA SOCIOLOGIA FUNDAMENTAL CLASSICA Luciano Miranda UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA Santa Maria | RS 2019 1.2.2 Formalizacao da teoria socioldgica com Weber 0 objetivo principal da sociologia de Max Weber (1864-1920) 6a compreensio da vida social em sua singularidade, isto é, a significagao cultural de suas diversas manifestagdes associada as suas relacdes de interdependéncia, bem como as causas singulares que propiciaram com que ela se tornasse o que se tornou, e nao outra coisa. Nessa vida social, o olhar weberiano volta-se em especial para o poder e a dominagéa Para tanto, 0 sociélogo realizou pesquisa histérico-comparativa de ignificati (0 e profundidade, Dela concluiu que nao é somente o domi nio econémico que concorte para os resultados da agao social. Ela, de fato, resulta de uma trama de percursos relacionados a diferentes dominios sociais - também referidos como “esferas sociais” ou “ordens sociais” (gesellschafiliche Ordnungen) ~ (economia, direito, religiao, etc.) Esses dominios dinamizam-se com base em regras ~ “leis” ~ pr6prias e organi zagdes universais (familias, comunidades tradicionais, clas, etc.). Concomitante a existéncia de regras préprias, cada dominio apresenta questdes ou temas que também hes sao préprios. Por exemplo, o sofrimento e a morte na religiao. E entao desse modo que o socidlogo estabelece as fronteiras para a anélise de cada dominio. O desenvolvimento da teoria sociolégica weberiana deve ser entendido no contex- to das transformagdes ocorridas na Alemanhaa partir do século XIXe as influéncias dessas sobre a possibilidade de organizaciio das ciéncias sociais naquele pafs. Em comparagao coma Franca, que pode contar com toda uma evolugao institucional coerente ~ como abordado nas unidades anteriores, iniciada com o Tluminismo, passando por Comte e todos os desdobramentos advindos do positivismo, até al- cangar a maturidade com Durkheim ~ a sociologia alema desde os primérdios foi muito fragmentada, contando com uma organizagao institucional débil. AAlemanha vivenciava periodo de grande turbuléncia no século XIX: 0 ascenso dos trabalhadores estimulava a reagao conservadora. Pautado no nacionalismo e militarismo, Otto von Bismarck (1815-1898) tornou-se o homem forte do pais, o hanceler de ferro”, ministro-presidente da Prussia entre 1873 e 1890 que antes liderara a unificagao alema (1871), pois até eno a sociedade germanica nao lo- grara constituir um Estado tinico. Nesse interim, enquanto empreendia implacavel perseguiciio aos integrantes de organizacdes socialistas e social-democratas, Bis- marck criava condigdes para a industrializacao alema, processo ec em relacdo a paises rivais como a Inglaterra e a Frangé Tendo nascido e crescido nesse contexto social, Weber recusava-se a attar somente no ambito da atividade intelectual, por mais profunda e reveladora a ciéncia social que estava a formular. Queria participar também da arena politica do seu pais, Assim o fez durante a vida inteira, Produziu para tanto, concomitante gestagao e difusdio da sua sociologia, intimeros discursos e artigos de jornal em que ctiticava os grupos e classes sociais da Alemanha, Bismarck foi criticado por liquidar a possibilidade de surgimento de liderangas independentes; a aristocracia rural, por seu militarismo, conservadorismo, sobre- posicao de interesses particulars aos do pais e perseguicées a classe operdria; a EDUCAGKODO CAMPO [Sociologia Fundamental C “37 burguesia, porsua ausente consciéncia de classe e inapeténcia a atuagao pol funcionérios piblicos, por seu servilismo e burocratismo. Dente todos, admirava 0s trabalhadores, em face de sua nogao de dever e competéncia - mesmo assim 08 criticava, pois, sendo como eram, tendiam a passividade ante a autoridade, so- bretudo se comparados com os trabalhadores franceses, sempre potencialmente insurgentes (KALBERG, 2010). Subjacente a essas transformagoes na Alemanha - em grande medida replica- doras de fundamentos econdmicos e politicos de paises vizinhos - verifica-se a singularidade da civilizacao ocidental e seu processo de transiciio para a sociedade moderna, Essa é a chave de leiturapara a obra de Weber: Componentes importantes de sua critica politica e social sobre amodernidade s6 podem ser compreendidos como uma tentae tiva complexa e intrincada de abordar as evidentes fragilidades internas da cultura politica alema e de sugerit instrumentos simples ¢ realistas para superd-las. Weber desejava conservar clevados padrdes de vida e modos eficientes de organizar 0 tra- balho e fabricar produtos— eo capitalismo Ihe parecia oferecer asmelhores possibilidades de realizar esses objetivos. Contudo, cram evidentes para cle os varios elementos de desumaniza¢ao desse sistema econ6mico (KALBERG, 2010, p. 100-101). De fato, na medida em que se aprofundava a evolugao do capitalismo, aprofun- dava-se também a desumanizagao e um sentimento de caos espiritual, Em face dessa conjuntura, de crise da civilizagao ocidental, Weber questionava de que modo seria possivel a sobrevivencia da acao ética e solidaria, Os bens materiais passaram a exercer forga inafastavel sobre os individuos e os interesses da vida cotidiana, a ponto de virem a ter seus valores explorados e manipulados de modo sistematico. Apesar de o socidlogo se impressionar com o potencial das sociedades industriais de viabilizarem acesso a altos niveis de vida, nutria o temor do declinio dos ideais, e valores mais nobres em face dessa dinamica capitalista, Seu temorera de que relacdes impessoais, ésperas e manipuladoras transformas- sem a sociedade numa “jaula de ferro” (de iron cage, no socidlogo estadunidense Talcott Parsons, que adaptou para o inglés a metéfora weberiana da stahlhartes Gehéiuse). Na medida em que esses contextos econdmicos, sociais e culturais incidem entdo com modos de dominagao particulares dos individuos, é preciso empreender-se a pesquisa do sentido subjetivo de grupos de pessoas que atuam emesferas sociais especificas. Noutros termos, se as estruturas sociais “capturam” 0s individuos, eles definem sentido que viabiliza.a sua emergéncia ou conservacaio: O capitalismo hodierno, dominando de longa data a vi nomica, educa e cria para si mesmo, por via da selegao econd= mica, os sujeitos econdmicos - empresdrios e operdrios ~ de que necessita, E entretanto é justamente esse fato que exibe de forma palpavel os limites do conceito de “selecao” como meio de explicagao de fendmenos histéricos. Para que essas modali= 38 dadles de conduta de vidae concep¢ao de profissao adaptadas & peculiaridade do capitalismo pudessem ter sido“selecionadas’, isto 6, tenham podido sobrepujar outras modalidades, primei- ro elas tiveram que emergir, evidentemente, e nao apenas em individuos singulares isolados, mas sim como um modo de ver portado por grupos de pessoas (WEBER, [1904] 2004, p. 48) Enesse enquadramento que ¢ preciso buscar-se a compreensao do capitalismo edacrise de valores. A perda desses valores elevados em torno de ideais éticos ea respectiva crenca neles—conduz.a uma despersonalizagio, isto é, acarreta o fim da personalidade individual independente e unificada, Surge com isso uma “disjungao” entre 0s valores e ideais outrora acalentados ea vida vivida, isto 6, seu fluxo empirico, Na medida em que as pessoas passam a imbuir-se de um pragmatismo radical na condugao das suas vidas, a autonomia individual desaparece e cristaliza-se um ntenso conformismo social, Por conseguinte, aquela crise civilizat6ria apresenta dimensio da perda da dignidade das pessoas ¢ a emergéncia do dominio da forca. Buscando respostas ante essa constatacao, Weber procurou compreender as possiveis estratégias de aciio que pudessem enfrentar os problemas e os dilemas advindos dessa crise. O desejo do sociélogo, em cuja formagio foram muito im- portantes as influéncias religiosas, 6 que a a¢ao individual pudesse ser orientada por um conjunto de ideais e valores os quais caracterizariam o melhor do legado civilizat6rio do Ocidente: conduta ética, autonomia individual, personalidade inte- gtada, responsabilidade, sentimento de honra, fraternidade, compaixao e caridade. Nao obstante, como parte do resultado de suas pesquisas comparadas, Weber concluiu que mesmo os valores mais nobres extinguem-se se nao sao reforcados, em especial por meio da continua atuacao dos seus “depositérios’ - ou “portadores” (Trager) - propagadores, conjuntos de individuos que se encarregam de fortalecer esses valores e de difundi-los em face da existéncia de outros valores os quais com eles competem. Essa competicao por valores é percebida por Weber de modo po- sitivo, jé que sua defesa e fortalecimento, por meio do engajamento dessas pessoas, acarreta a permanéncia, a perenidade deles no tempo e no espaco. Ao terem éxito em sociedade, esses valores passam a orientar a agao dos indi- viduos e a proporcionar-lhes 0 desenvolvimento de sentimentos de honra e dig- nidade. Com isso, na medida em que propiciam a reunificagao da personalidade, contribuem para as tomadas de iniciativas e a lideranga no citculo dessas pessoas. Porém, esses valores $6 so capazes de vincularem-se As pessoas ~ a ponto de tornarem-nas responsédveis por eles e poderem contradizer interesses materiais imediatos - em sociedades abertas e dinamicas, ambiente em que é possivel a existéncia da competicao entre valores pluralistas. Em face dessa constatacao, da importancia da existéncia de sociedades abertas edinamicas orientadas por valores, Weber posicionava-se politicamente em defe sobretudo das democracias parlamentares e dos ideais que elas sustentam - direitos individuais, direito de reunido, liberdade de expresso, império da lei -, por crer que elas incentivam o dinamismo social necessério ao debate piblico eas tomadas, de decisdes orientadas por valores. Portanto, sua concepeao de lideres fortes e de parlamentos fortes, preconizada EDUCAGKODO CAMPO [Sociologia Fundamental C +39 pelo sociélogo, nada tem a ver com perspectiva autoi da propria democracia em prol daqueles valores (WEBER, [1917-1918] 1993). Es- sas pessoas que atuam na politica - os politicos ~ devem observar a disciplina de um c6digo moral fundado na “ética da responsabilidade” (Verantwortungsethiki “A honra do chefe politico (...) consiste justamente na responsabilidade pessoal exclusiva por tudo quanto faz, responsabilidade a qual ele nao pode re delegar” (WEBER, [1919] 1999, p. 79) Nessa perspectiva, desempenha o papel das ciéncias sociais: o cientista, orientado por “ética de condicao’, busca fundamentos que fornecem condicées a realizacao oua possibilidade daqueles ideais nobres. Mas isso no significa que a ciéncia possa servir por si mesma como fonte de valores. E ilusrio a construgao deles a partir da atividade cientifica. Afinal, a ciéncia se fundamenta sobre base empirica que esta em continua mudanga no decorrer da historia. Nisso, é evidente que cada época ou geracdo atribui significado cultural maior ou menor a certos valores. Essa atribuigao diferencial de valor nahistéria acarreta, mesmo nas observagdes dos socidlogos, a explicitacao de certas realidades ¢ 0 ocultamento de outras. Hoje so valorizados os direitos individuais, a liberdade, a igualdade, etc, Mas isso nao foi sempre assim, tampouco por mais nobres que eles possam ser, nada assegura que assim sejam considerados no futuro. Aquilo que é sagrado para alguns pode encontrar a oposicao de valores compartilhados por outras pessoas, que as consi- deram to ou mais sagrados. Por consequéncia, a conduta a ser observada pelo sociélogo nao deve ser con- fundida com a incorporagio de uma teleologia & ciéncia social. Isto é, deve-se evitar a fundamentagiio da sociologia com base em concepgdes evolucionistas, do “curso da histéria” ou da “ideia de progresso”. Noutros termos, nao existe uma diregao e um sentido tiltimo para as atividades humanas tampouco para a hist6ri Portanto, a rejeicao a essas concepgoes evolucionistas da historia orienta o enfoque da ciéncia social empirica weberiana, baseada no sentido subjetiva Des» sa maneira, Weber acaba por confrontar-se a toda uma tradigao no pensamento ocidental entre os séculos XVII e XIX, jé que a hist6ria deixa de ter um sentido inde- pendente. Ao contrario, a hist6ria depende do sentido que as pessoas depositam & sua construgao. Independentemente do resultado hist6rico, sao essas pessoas que se toram autoras de seus destinos, causa e centro de sttas aces. E daluta delas -e para tanto suas escolhas — para realizarem a plena significagao de suas vidas que surge a hist6ria como resultado social. Por conseguinte, a mu- danga social tem como causa a combinagiio de ideias e interesses por que atuam s individuos. Entretanto, tende a nao decorrer de uma tinica causa, mas de uma pluralidade de causas. Nesse sentido, a depender das diversas configuragdes sociais, os individuos atribuem sentido a certos tipos de agao e nao a outros. Compreender essa multi- us arretou a Weber o desenvolvimento de andlises pluridimensionais. Porai, as varias dimensGes estudadas passariam a dar conta de diferentes dominios —ou esferas ~ sociais para além do dominio econdmico. ‘Com base em estudos empiricos, Weber concluiu que, em diferentes civilizagées, essa mudanca dependeu de figuras carismticas apoiadas por depositarios (Tidigen, propagadores dessas ideias, que foram organizagées politicas, ou religiosas, ou 40 ainda econdmicas, isto 6, diferentes pontos de apoio para causas diversas. Porexemplo, em fins do século XIXe inicio do século XX, umaversio brasileira do positivismo tornou-se ideologia hegeménica junto a classe média e elites do Rio Grande do Sul. Contou como grande figura Jtilio de Castilhos (1860-1903). Em face de pautar-se em filosofia cientificista, valorizava a educagaio. A educacao como valor encontrou base de apoio em sua organizagao politica, o Partido Republ Rio-Grandense (PRR) e junto aos seus herdeiros politicos como Borges de Medeiros € Gettlio Vargas, além dos militares, que conseguiram forjar uma contra-eliteimpe- rial intelectualmente articulada pelo positivismo. No entanto, por causa em parte de seus fundamentos autoritarios e instrumentais a realizacio de interesses como a industrializacao do Estado gaticho, setores populares - em especial de operarios anarquistas - constituiram, de modo concomitante, suas préprias instituigdes de ensino. Em suma, no periodo se fortaleceria o valor atribuido & educagao, o que trouxe como uma das consequéncias o incremento a alfabetizacao. S@)_ I THRArIVIDADE: O documento “Capela Postivista de Porto Alegre’, de Yuri Victorino, reitera informacoes sobre © positivism, abordadas em subunidades anteriores deste livro, situando-as no caso exemplar da sua experiéneia no Rio Grande do Sul que pode ser estudada com base em enfoque weberiano, Disponivel em: https:/ /www.youtube | MWKF3ekaM comfwateh? Destarte, as varias esferas da vida - econdmica, politica, juridica, etc. - ndo se istalizam numa sintese para impulsionar o progresso. Na medida em que a so- ciedade se modemniza e se torna mais complexa cada uma dessas esferas tende a autonomizar-se e com isso a seguir regras— leis - proprias de desenvolvimento, as quais podem levé-lasa chocarem-se, num conflito irteconcilidvel (KALBERG, 2010). Portanto, decisdes independentes nessas esferas, concomitantes a acasos ou des- 10s imprevistos, afastam a possibilidade de uma evolu: inear da historia, ‘Tendo em conta que sio as pessoas que conferem significado a historia em vez da Evolugio, leis naturais ou Deus - entao se torna necessério formular questoes sobre o modo pelo qual as pessoas orientam suas agGes e fundamentam o seu agit ético e responsavel. Em suma, em face da realidade de sociedades capitalistas di- namizadas pela industrializacao e burocratizacao, Weber problematizou os modos pelos quais os individuos fazem suas escolhas ou tomam suas decisdes. Dessa problematizacio, foram elaboradas as grandes obras do sociélogo, cujo destaque cabe ao ensaio A Erica Protestantee o Espirito do Capitalismo ((1904| 2004), que enfatiza a sociologia dos valores, da religiao e da cultura, Economia e Sociedade (\1910-1922] 1996), cuja énfase recai sobre a formulacao de uma teoria do conflito ~ naio-maraista focada nos interesses individuais, no poder e na dominagao. De modo muito sintético, nessas obras Weber analisa a articulacao de ideias ¢ interesses presente na aco social, que é compreendida em diferentes estégios (LAGO, 1996) por meio da adocao de tipologia - abordada adiante. Para tanto, dito de outro modo: EDUCAGKODO CAMPO [Sociologia Fundamental C “Al No centro da sociologia weberiana esta a tentativa de “compro ender interpretativamente” (verstehen) as diferentes maneiras psa pelas quais as pessoas percebem sua propria “aga soci acdo dotada de sentido subjetivo é o foco da atencao dos so ci6logos, nao 0 comportamento reativo ou imitativo (quando numa multidao, por exemplo, as pessoas acham que vai chover abrem os guarda-chuvas simultaneamente). A acao social, d Weber, implica ao mesmo tempo “uma orienta paraaconduta de outros e o aspecto interpretativo ou reflexivo mas nao sao apenas :las tém a capacidade para interpretar ativamente do individuo’, As pessoas so seres social sociais situagdes, interagées ¢ relagdes referindo-as a valores, crengas, interesses, emocdes, poder, autoridade, (Ges, habitos, ideias etc. (KALBERG, 2010, p. 33 costumes, convene 3) Destarte, 0 enfoque da sociologia weberiana é a ago social. Ao compreendé-la, busca-se a racionalidade que Ihe funda, entendida essa racionalidade como uma adequacdo entre os “meios” empregados pelos individuos com vistas & realizacao de determinados “fins”, Suas causas resultam da combinacao de ideias e interesses diversos, origindrios de diferentes dominios que se orientam por regras préprias. Como consequéncia, 0 sociélogo busca observar: (1) 0 varios - ou mailtiplos - motivos possiveis para que uma agao seja empre- endida; (2) a variagao do sentido subjetivo atribuido a um ato em relagao as diversas motivacdes que o desencadearam; e (3)as diferencas no curso-ou desenvolvimento - da acao em face dessas variagdes. A figura 5 esquematiza os principais elementos em torno da agao social. FIGURAO5~ Enfoque da teoria sociolégica weberiana sobre a acdo social, Foco: ACAO SOCIAL RACIONALIDADE (adequacao meios e fins) Causas: IDEIAS + INTERESSES Multicasual (Diferentes dominios/ordens sociais orientados por regras prdprias) Interpretada ativamente: (com referéncias a valores, crencas, interesses, etc.) FONTE: AUTOR (2018) Portanto, aagao social de que se ocupaWeber nada tem a ver com comportamen- tos reativos ou imitativos, Busca-se compreender como os individuos interpretam ativamente suas ages, 0 sentido que eles atribuem a elas. Mais do que o sentido subjetivo, interessa 0 sentido intersubjetivo da acdo. Isso porque os individuos nao podem definir um sentido as suas ages sem levarem em conta as agdes de outros individuos com quem interagem, Isto 6, os individuos sao capazes de prever, em termos relativos, as respostas fornecidas por outros individuos em face das agdes dos primeiros. Com efeito, 6 desprovida de sentido a acao incapaz de fundamentar essa previsio, pois é dessa fundamentagao que se enquadra o sentido intersubjetivo com referéncia a inte- resses, crengas e valores, 0 enfoque weberiano sobre a aco social apresenta dimensao politica funda- mental na medida em que a realizagao dos valores - ou o atingimento das metas —necessita do agir dos individuos. No entanto, a eficacia da agdo para a realizacao desses valores 6 sempre relativa. Isto 6, ela pode ser sempre mais ou menos eficaz aos fins a que se propée. Isso porque a acao nao é limitada ou determinada por um caminho somente. Existem diferentes formas de agio & disposigaio dos individuos que as hierarqui- zam eselecionam de acordo com seus valores, ou seja, os critérios de opgao da acao variam de acordo com os lugares ao longo da hist6ria, Por outro lado, também a cada momento e espago, 0s individuos nao conseguem fazer duas coisas, Em suma, as diferentes alternativas para 0 curso da agao implicam diferentes possibilidades de escolhas, de eleigoes (Wahl), que podem vir a obter maior ou menor eficécia a determinadas finalidades. Adespeito de Webersaber que cada um desses modos ¢ racional na medida em quese considera a relagao entre meios e fins, ele estava mais interessado em bu: compreender as necessirias condigées para a agao referente a fins, bem como as formas que manifesta e suas consequéncias. Ademais, além deste modo da a¢ao, Weber acrescia aquilo que ele considerava como “tipos puros de aco racional’, a agio referente a valores. Nessa perspectiva: A posicdo que Weber adotava (...) recusava (...) a identificar a onal. As aces humanasimpulsionae das por [diferentes] forgas seriam governadas pelo exato oposto daliberdade de escolha: tal liberdade era dada na medida em que aconduta se aproximasse da ‘racionalidade”, o que aqui significa acorrespondéncia dos meios aos fins na aco orientada. Assim, identificou dois tipos puros de acao racional, cada um inteli- givel em termos da relacao entre meios e fins, para o cientista social: “racionalidade referente a fins” (Zweckrationalitdi, na qual o ator racionalmente estima a totalidade da extensao das consequéncias engendradas pela selecao dos meios dados para a obtengao de um determinado fim, e “racionalidade referente valores’, na qual um individuo conseientemente persegue um fim que cons is importante, com uma devocao particular, sem “evar em conta os custos”. Weber contrapunlha esses dois “vontade livre” com o irrat am: Pundamental C EDUCAGKO DO CAMPO |Sociolog “43. tipos a acao itracional, ¢ estabeleceu como prineipio metodo» ligico basico a prescrigdo segundo a qual “todos os elementos irracionais, afetivamente determinados do comportamento”, deveriam ser tratados “como fatores de d elagao ao tipo conceitualmente puro de acao racional” (GIDDENS, 1998, p.53)- esvioem Do ponto de vista logico, nesse esquema, a moral estava separada do racional, ja que a esfera do racional nao podia estender seus critérios de avaliagao a padroes éticos conflitantes. Por outro lado, em face desse esquema metodolégico, esses modbs de agao, sejam puros ou nao, sao identificaveis em todos os lugares em diferentes momentos histéricos. No entanto, gracas a forcas sociais mais identificaveis em certas épocas ou civi- lizagdes, um tipo especifico de aco pode vira predominar em relagao a outros. De toda sorte, a compreensio dessas forgas histéricas é buscada no sentido proprio dos individuos, isto é, nas intengdes que eles depositam as suas acdes, de modo que, na acepcao weberiana, elas preponderam sobre as estruturas sociais. A forte vinculagao da aco a uma estrutura social (por exemplo, o Estado) nao afasta a necessidade de o cientista social reconhecer a heterogeneidade dos motivos. A existéncia de uma enorme variedade de motivos contidos numa tinica “forma exterior’, diz Weber, é possivel tanto do ponto de vista analitico quanto do empfrico, ¢ tem uma grande importancia do ponto de vista sociolégico. O sentido subjetivo da acao varia até mesmo no contexto de uma solida organizacio da estrutura politica ou da seita religiosa. Mas esse raciocinio traz ele mesmo um problema para Weber: por que razdes subjetivas as pessoas orientam sua acao conjuntatal como formulada por grupos definidos? Essa pergunta ¢ particularmente urgente por- que eleesté convencido de que a falta dessas orientagées—com relacao, por exemplo ao Estado, as organizagdes burocraticas, 8s tradicdes ¢ aos valores ~ significa que as “estruturas” deixaram de existir. O Estado, portanto, acaba sendo nada mais que as orientagoes padronizadas de acao dos seus politicos, juizes, policiais, funcionérios piblicos etc. (KALBERG, 2010, p. 37]. Nessa concepsaio, com efeito, encontra-se a observancia ao “individualismo metodol6gico” na formalizacao de Weber. Coletividades como 0 Estado, nesse sentido, devem ser tratadas unicamente como resultado da articulagao das acoes, individuais, pois somente estas sao apreensiveis no curso de uma ago compreensivel subjetivamente (WEBER, [1910-1922] 1996). No entanto, mais interessa & pesquisa sociolégica a concertagao dessas agdes do que o sentido de um individuo isolado. Isso porque a sociologia est mais interessada em compreender as regularidades da aco significativa, empreendida por grupos definidos, Para tanto, a fim de que seja possivel a determinagao do sentido subjetivo e intersubjetivo verificado nas agdes, 0 socidlogo recorre aos tipos ideais. O tipo ideal é uma ferramenta de pesquisa por meio da qual se torna possivel 44 0 registro dos padrdes ou regularidades de aco manifestadas pelos individuos. Ele é uma espécie de “fotografia de acontecimentos” que aproxima a realidade de uma dada sociedade sob certas condig6es de sua organizagao (MORRISON, 1995). Assim, 0 tipo ideal é construido {..] mediante a acentuacio unilateral de um ou varios pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quantidade de fen6émenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior ou menor ntimero ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista ur teralmente acentuados, a fim de formar um quadro homogéneo de pensamento. Torna-se impossfvel encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza conceitual, pois trata-se de uma utopia. A atividade historiografica defronta-se com a tatefa de determinar, em cada caso particular, a proximidade ‘ou afastamento entre a realidade e o quadro ideal, em que me- dida portanto o cardter econdmico de determinada cidade [por exemplo] poderd ser qualificado como “economia urbana” em sentido conceitual. Ora, desde que cuidadosamente aplicado, esse conceito cumpre as funcdes especificas que dele se espo- ram, em beneficio da investigacao e da representacao. (WEBER, [1904], 1979, p. 106). Portanto, o tipo ideal é uma ferramenta de trabalho do pesquisador por meio da qual se opera a saturagio de visdes de mundo junto com o encadeamento de dados, de modo a definir um quadro de realidade. Mas alidade nao existe na realidade empirica. £ tao-somente uma realidade conceitual que serve como instrumento de avaliagdo da medida em que a realidade empirica se aproxima ou se afasta desse conceito. Por exemplo, emA Etica Protestantee o Espirito do Capitalismo, Weber define o ipo ideal do “puritano” a fim de justificar as regularidades na aciio desses crentes, voltada ao trabalho metédico e uma existéncia ascética. A saturagao de dados que definem 0 “puritano” nao se encontra na realidade empirica em sua forma pura. Nao corresponde a um individuo tampouco a soma deles. No entanto, esse quadro ideal posto em comparagiio coma realidade observada pelo socidlogo presta-se a0 entendimento do que é um individuo “puritano", bem como de fendmenos a ele associados, como 0 ascetismo ea concepcao de missao relacionada a uma vocagao. Aise tem fendmeno que emerge do dominio religioso acarretando consequéncias noutros dominios, em especial 0 econdmico, que marcou a organizacao social dos Estados Unidos. Para a experiéncia brasileira, Sérgio Buarque de Holanda ({1936] 2014) - pensador muito influenciado pela sociologia weberiana ~ formula o tipo ideal do “homem cordial” cujas caracteristicas definem os brasileiros: formagio de afinidades a partir da intimidade da estrutura familiar; relagdes de simpatia; dificuldade de incorpo racdo normal a agrupamentos institucionalizados; aversao a relagdes impessoais; redugiio das normas impessoais ao padrao pessoal de nivel afetivo; patrimonialismo. EDUCAGKODO CAMPO [Sociologia Fundamental C “45; Por conseguinte, diferente do que nao raro 0 senso comum tende a atribui-lo, nao é a bondade o pressuposto do “homem cordial’, mas a aparéncia afetiva das relagées, em geral superficiais e nem sempre sinceras, que predomina nas relagées cotidianas. Possui “dupla face”, que combina ao mesmo tempo candura e violencia, pois as condutas irracionais deflagram-se como paixdes - em sua acepcao filoséfica —associadas ao coragio. Dai o “cordial” (relativo a coragao). Enfim, na realidade empirica, nao seré encontrada a forma pura do “homem cordial” em nenhum brasileiro individual tampouco na soma de todos os brasileiros. No entanto, 0 tipo ideal descrito por Holanda contribui em muito & compreensio do ser brasileiro. Destarte, 0s tipos ideais sao, conforme Weber ([1910-1922] 1996), “ferramentas” para a pesquisa empirica de causas. A intencao nao é o seu emprego para acom- preensio direta ~ ou “reprodugao” ~ da realidade vivida. Eles so simplesmente instrumentos analiticos por meio dos quais 0 socidlogo realiza a apreensio do verificado empiricamente no mundo se raciocinio vale para todos os exemplos de tipos ideais. Em termos ope- racionais eles estabelecem pardmetros ou pontos de referéncia “em fungao dos quais se pode comparar e ‘medir’ regularidades de sentido subjetivo em um caso particular. A particularidade dos casos pode ser nto claramente definida por meio de umaavaliagao de sua aproximacao ou desvio com relacao ao tipo teoricamente construido” (KALBERG, 2010, p. 43). Nesse sentido, a dominagao ~ objeto de pesquisa tao caro a Weber ~ deve ser entendida com base nos parametros dos seus tipos ideais. Com efeito, mais espe- cificamente, o socidlogo refere-se a tipos de dominagio, os quais siio abordados adiante. Antes disso, apresenta-se a definicao weberiana de “dominacao” em con- traste ao de “poder”: Poder significa a probabilidade de impor a propria vontade dentro de uma relacdo social, ainda que contra toda resisténcia e qualquer que seja 0 fundamento dessa probabilidade. Por dominacao deve entender-sea probabilidade de encontrar obediéncia a um mandato de determinado contetido entre pessoas dadas (..) Oconceito de poder é sociologicamente amorfo. Todas as qua- lidades imaginaveis de um homem e todasorte de constela possiveis podem colocaralguém na posigao de imporsua vontade em uma situagao dada. O conceito de dominacao tem, porisso, que ser mais preciso es6 pode significara probabilidade de que ‘um mandato seja obedecido (WEBER, [1910-1922] 1996, p.43) Portanto, numa situagdo de dominagao existe alguém que manda de modo eficaz outro individuo, que obedece de modo voluntério, isto é, nao forgado. E essa situagao que interessa as ciéncias sociais. Para Weber, importa a pesquisa da dominagao legitima, isto é, aquela a que se atribui a relagao de dominagao algum, grau de legitimidade. Por conseguinte, ao existir dominagao legitima, sempre ha necessariamente um minimo que seja de consentimento, ou concordancia, ou ainda 46 aquiescéncia, em contraste com 0 efeito direto do poder que é a imposigao da forca. De um modo geral, aqueles que dominam procuram incutir junto aos domi- nados a ideia de que exercem a dominagao por direito. Se tiverem éxito ~ e para tanto procuram convencer asi mesmos desse direito que supostamente possuem, ctiarao predisposigfo a obediéncia — cuja eficécia afasta a necessidade do uso da forca- fundada numa renga “tipica’, a qual é uma pretenséo a legitimidade que funda um tipo ideal de dominacao. Com base na natureza dessa crenga tipica que Weber delimita o critério para a construcao da tipologia da dominagao. figura 6 esquematiza os tipos de dominagao legitima, mediante os quais 0 socidlogo afirma que os detentores do poder - inde- pendente do dominio -valem-se de trés principios de legitimagao ao exercicio da sua dominagao: (a) tradicional; (b) carismatica; (c) racional-legal. FIGURAOG~ Esquema da dominacio legftima e sua tipologia. DOMINACAOProbabilidade da emissao de uma ordem encontrar obedién i Depende de CRENCAS. Interessa aWeber a dominacao legitima: a) Tradicional b) Carismatica c) Racional-Legal FONTE: AUTOR (2018) ‘QUADROO4 ~ Correspondéncia entre natureza das crencas e tipos de dominacao, aera O Try Cy Meas Oona? No reiterado emprego ou uso, feito TT “tradicGes! desde tempos imemoriais que dao sustentacao aqueles que dominam bem como as ordens que emitem, Na devogao afetiva ao cardter exemplar, heroismo ou santidade de alguém, quase sempre revestidos de uma espécie de aura ou magnetismo, dando sustentagao aqueles que dominam bem como as ordens que emitem, fo ate No direito e em regras sancionadas que dao CTC Once sustentagdo aqueles que dominam bem como as ordens que emitem, FONTE: ADTOR (2018) EDUCAGKO DO CAMPO [Sociologia Fundamental Classica “47 Na vida vivida, isto é, na realidade empiri ocorre sempre por meio de uma combinacao desses tipos, em que os casos verificados no cotidiano apresentam com frequéncia tragos caracteristicos de cada um dos tipos. Por exemplo, a hegemonia ou o imperialismo dos Estados Unidos, no século XX, encontra elementos da dominacao tradicional pela via do belicismo, isto é, da guerra ou da iminéncia dela ao equilibrio de forcas, sem que ela fosse necessa- riamente imposta — vide a “Guerra Fria’; da dominagao carismatica, no American Way of Life (“estilo de vida americano”) desejado por contingentes expressivos da popula¢do mundial e facilitado pela industria cultural daquele pais - vide o cinema hollywoodiano; da domina¢ao racional-legal, ja que os Estados Unidos nao dei- xam de participar das principais organ internacionais-ONU, OTAN, OMC, FMI, etc, -de modo a buscar assegurar os seus interesses no direito internacional, bem como a obter seguranga juridica em suas transages comerciais e financeiras. Ademais, cotidianamente, a obediéncia tende a ser motivada por uma combinacao de costume com “calculo” racional que avalia a adequagiio meios-fins para a realizacao de interesses materiais. No entanto, esses motivos por sis6s nao se constituem como suporte duradouro e confiavel para a continuidade da domi- nagao, Para que ela subsista, é preciso que haja, mesmo que minimamente, alguma crenca da parte do dominado. Dela depende toda a disposicao para a sua obediéncia e reforga a importancia da tipologia acima elencada, Na medida em quea sociedade se amplia e se comple- xifica, a tendéncia é de um acento da dominagao racional-legal no conjunto social. Entretanto, como ja dito, legitimados por depositarios (Tréiger) propagadores, a mudanca social dependeu de lideres carismaticos, Todavia, esses assim a realizam, contrariando todos os valores, tradi¢des, costumes (dominacao tradicional), normas leis (dominacao racional-legal) Adominacao carisméticaé ia por umllder sobre di ce seguidores que creem nos poderes extraordindrios dele. Esse Ider, que surge em situagdes de crise, pode ser um profeta, um her6i guerreiro, um politico, um demagogo, um oréculo, ou um magico. Em todos esses casos, a dominacao do lider carismético deriva do reconhecimento de seus dons excepcionais e nao acese ere siveisa pessoas comuns, Uma vez reconhecida a autenticidade desses poderes, disc{pulos e seguidores sentem-se obrigados ao dever dese dedicarem integralmente ao lider carismatico, o qual cexige estrita obediéncia. Discipulos ¢ seguidores obedecem as ordens do lider em virtude da devogaio afetiva que sentem por elee da convicgao de que existe uma auténtica relagao pessoal entre eles (KALBERG, 2010, p. 80-81). ‘Tendo em conta que est4 centrada num lider portador dessas caracteristicas “sobrenaturais’, a dominacao carismética ¢ fragil e instavel. Isso mesmo porque esses homens e mulheres possuem um tempo de vida e precisam demonstrar con- tinuamente o quanto sao incomuns mediante seu carisma. A fim de que esse tipo de dominacao sobreviva no curso da histéria é preciso que encontre “herdeiros” ou 48 que se institucionalize, incorporando formas rotinizadas e impessoais, como, por exemplo, na figura de sacerdotes para a Igreja, instituigao que por sua vez se cons- truiu a partir de liderangas carismaticas de “carne e osso”. A natureza fortemente pessoal dessa dominagao a conduz.a rejei¢ao da racionalidade legal ‘A figura 7 apresenta exemplos de liderangas carismaticas no século XX. Da es- querda para a direita e de cima para baixo, Rosa Luxemburg (1871-1919), Mahatma Gandhi (1869-1948), Juan Domingo Per6n (1895-1974), Martin Luther King Jr. (1929- 1968), Malcolm X—Al Hajj Malik Al-Shabazz (1925-1965), Madre Teresa de Calcuta ~Anzejé Gonxhe BojaxhiuM. C. (1910-1997), Che Guevara - Ernesto Guevara de la Serna(1928-1967) e 0 Papa Joao Paulo II - Karol J6zef Wojtyla (1920-2005). FrGURAO7~Algumas liderancas carismaticas do século XX. FonTE: Adaptado pot NTE (204 Nesse sentido, em oposigao tipica 4 dominagao , a dominagaio ra cional-legal encontra exemplo nas burocracias Sua legitimidade 6 verificada na medida em que existe observancia a normas procedimentais - regulamentos e regtas gerais ~ claras e impessoais devidamente publicizadas, que sao respeitadas por todos os individuos que integram a organizagiio burocratics Estado moderno a contempla ea privilegia, No entanto, como todo tipo ideal, nao se encontra em sua forma pura na sociedade, Portanto, nao raro, aparecem formas “hibridas’, em combinagao com formas de dominagao carismatica ou mesmo de dominagao tradicional. Alids, quanto a estas, na experiéncia brasileira, o Estado republicano, ao passo que apresenta configuragoes de moderna burocracia, conserva tragos de patrimo- nialismo em que os individuos lidam com a coisa puiblica como se fosse propriedade particular deles mesmos, Assim surge o fendmeno brasileiro definido por cientis- tas sociais como “burocracia-patrimonialista” ou “patrimonialismo-burocratico” (CARVALHO, 2003; FAORO [1957] 2012; URICOECHEA, 1978 et. al). Enfim, mediante a defini¢ao desses critérios encontrados na relagao entre a EDUCAGKO DO CAMPO [Sociologia Fundamental Cl

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