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: Amanda Muaei Gornes ‘es das Iinguagens polticas da Escola de Cambridge, Pocock e Skinner e a contribuigio co Aicionsrio alemo de conceitos palfteos organizado iniciimerte por Kosellec, ver: Rate, ‘Mein. "Reconstructing the history of politieal languages: Pocock, Stinrer,ancithe Geschichtlche Guunabegrtfe". History and Theory, vol. 29, n. Feb. 4990, p. 38-70. * Swws, Lulz Antonio. Op. cp. 11-712, 16,120, ' Neves, Margarida de Souza, “Historia da Cranica, Crdnica da Histéria”, in: Rezende, Beatriz (Org). Ccanistas do flo. flo de Janetre: José O'ympio/CCBB, 1995, p. 25. News, Margarida de Souza, “Histéra de Crénlea,Créice da Histéria” In: Rezende, Beatrs (Org. Cronistos do ia, Rio de Saneiro; José Olympic/CCBB, 1995, p. 25. 42 DisLopos, Rio de Jeueiro/RJ, a. 3, Sembee de 2009 ‘Candomblés e Mafuas em imagens barretianas — relagées sociais, de sexo e formagio da nacionalidade brasil Celi Silva Gomes de Freitast O.cordéo ¢ 0 Camaval, & 0 diltimo elo das religibes pags, é bem o cconservador do sagrado dia do Deboche ritual; 0 cordao é a nossa alma ardente, lunuriosa, triste, meio escrava e revoltosa, babanda lascivia pelas mutherese querendo maravifhar... Jobo do Rit Aautoria da epigrafe € do também literato cariaca Joo do Rio, que fnasceu no mesmo ano de Lima Barreto (1881) € morreu um ano antes, em 1921, Embora contempordneos, as experiéncias urbanas de um ¢ de outro ceram distintas e, cbviamente, os dois literatas olhavam sua cidade natal de modo bem diferente, Em nossa interpretag0, Joo do Rio buscou ¢efinir 0 Carnaval através da Imagem do “cordao”, uma espécie de caminhads festiva pelas ruas da cidade, na qual os camnavalescos e as carmiavalescas dangavam, pulavam, cantavam, enfim, brincavam o carnaval, “maravilhando ¢ maravilhando-se” na multidéo. No trecho "babando lascivia pelas mulheres”, observamos que as mulheres eram olhadas como seres passivos¥objetos de atos libidinosos praticados pelos homens. Seguindo outro percurso, a imagem do Carnaval apresentada por Lima destacou a “embriaguez que a multidao trex’ como "a mais inafensiva de todas”, e fez uma critica & falta de sentido das “cantaralas” dos “vates dos cordes e ranchos”: "Nunca ful carnavalesco, mascorne tad melancdlico e contemplativo, gosto do ruido o da multidio 2 nfiofugia a le. 0 isolamento faz-me mal a alma @ 0 pensamento, Mergulho no barulho dos outros, deixo de pensar em mim e nas fantasmagorias ‘que ou mesmo cri para omeupadocer. Aemriaguez que a multidio traz, é a melhor e a mais inofensiva de todas que se tem agora inventado. Nem o épie, nem o akoal, nemo hachisch produzem a smiriaguez que com adela se assemelhe. Temas vis6es extranormais, semestrapar a satide...[..] Nao partitho da opinido da policia, [..] ‘Oponto de vista de imoralidadee chulice pouco me preocupa; oque me preocupa éo intelectual e artistico, (...] Fazendo estas despretenciasas consideracées, nfo me move nenhuma ‘espécie de antipatia pelo falgar do povo; mas, pedir unicamente aele ppréprio que nessa sua folganes, nesse poetar de sua alma alanceada, ‘quando procura, nestes trés dias, esquecer oseu penar ea sua dor, no riso, no gargathar e no estontezmento, pusessemos seus trovado- a3 res mais gosto, mais sentido, compusessem mais cantares que ‘pudessem ser entencidos, coisa que ndo Ihes € impossivel, pois todos ‘conhecemos as poesias roceiras, as quadras populares, quase sempre expressivas e denunciando verdadeira poesiat. A “alma ardente, luxuriosa, triste, meio escrava € revoltosa”, na imagem de Joo do Rio, deu lugar, na concep¢do de Lima Barreto, A “alma alanceada” do carnavalesco que, nos trés dias de Momo, buscava “esquecer (seu penar ea sua dor”. Desse modo, para Lima Barreto, aimagem do Carnaval eraa de uma espécie de parnteses navida atormentada do povo, que assim desfrutave de um breve instante para 0 “riso", o “gargalhar’, 0 “estonteamento”. Como principal personagem dessa primeira imagem barretiana do Carnaval, encontramos 0 povo, um coletiva de gentes formado por mulheres e homens quase sernore humildes, embora ativos, de um modo ou de outro: Resta-nos o carnaval;é ele, porém, tio igual por toda a parte, que foi Impossivel, segundo tudo faz crer, ao suburbio dar-the alguma coisa e original. [..] enfim, 0 carnaval em que como Ié diz Gamaliet de ‘Menconga, no seu ukimo livto —Revelacéo: - Os hamens so jograis; asmulheres, bacantes. [.° Para completar a cena da festa carhavalesca, observamos na citagio uma diferenca entre a imagem de homens-jograis e a de mulheres-bacantes, distinguindo posicionamentos nas telagGes sociais de sexo. Na observacio da cena das feiras e festas populares através do discurso barretiano, focalizamos as seguintes crénicas: “Bailes e Divertimentos Suburbanos” e “laid das Marimbes", do volume Margindlia; “Feiras e Mefuds” e “Sobre o Carnaval’, do volume Feiras e Majuds; e “No Mafué dos Padres” e "Feiras Livres’, do volume Vida Urbana. As cenas de uma “guerra dos sexos” em curso em uma determinada poca histérica podem ser reveladas através de imagens. Tals cenas delimitam cenarios — ou lugares — nos quals homens e mulheres esto em relacdo. Uma das tarefes as quais nos propusemos foi realizar um inventario de imagens reveladoras de uma guerra dos sexos travada no espaco-tempo da cidade do Rio de Janeiro na Primeira Republica. O corpus de andlise concentra~ se na obre do literato Afonso Henriques de Lima Barreto, especialmente naquela parte cujo suporte s8o as crénicas publicadas originalmente em periddicos carioces entre 1911 €1922. Na definiso do tema, em lugar de “retagdes de género” — uma expresso muito recente na historiografia francesa — , preferimos utilizar a expresso menos pelissémica e mais descritiva “relagBes sociais de sexo”, a 4a Dis-Logos, Rio ds Jeco/I, a. 3, Seno de 2000 CCadombiés « Mafwis em imagens barcianas — telagBes soca ‘de saxo ¢ formagie da ractcenlidade bxsilies fim de retomarmos o debate ainda necessério acerca das complexas implicagdes que o uso do termo “género” occulta, ‘Michéle Ferrand historiciza o emprego da expresséo “relagties socials de sexo”, estabelecendo etapas de abordagem em um longo caminho percorrido pelos estudos feministas. Em linhas gerais, 2 primeira etapa ‘correspondeu & concessBo do “estatuto de objeto leg'timo de pesquisa” & mulher; a segunda etape representou uma “verdadeira ruptura epistemolégica”, uma vez que as pesquisas passarem dos “estudos sobre as mulheres para as anélises sobre 0s sexos e sobre as relagdes que estes mantinham entre si, Nessa ctapa, o termo “genero”, no sentido de “sexo social”, nao era bem acolhido pelas pesquisadoras francesas, em virtude de sua indefinicdo, generalizacaoe do efeito de eufemismo que seu uso produzia em diversas esferas, No entanto, o termo “relagdes sociais de sexo” foi preterido por ser “longo, pesado, dificil de utilizar nos titulos, etc... e,com a influéncia das anglo-sexds ea ajuda das instituiges internacionais™; um pouco a contragosto, as pesquisadoras francesas capitularam, passando a empregar “a terminologia bastarda” — “relagées de género” — a partir das décadas de 1980-1990. No caso do Brasil, esse ultimo termo parece consagrado pelo uso corrente no campo académico, bem como e nos demais espagos de discussao da temética, ‘Ro vefletir sobre as relacdes sociais de sexo, Michale Ferrand 2s descreve como antagénicas, transversais, dinémicas, bicetegorizadas e que constroem categorias ou classes de sexos, formendo um sistema. Os antagonismos fazem parte do campo dos poderes e das lutes travadas pela sua reproducio, ou superacao, ou ainda pela conquista de novos espacos de poder. As relacées entre os sexos atravessarn a sociedade e esto presentes tanto nos espagos piblicos quanto nos privados; , sendo dindmicas, pois que determinadas pelos movimentos histéricas, cientificos, culturais ¢ politicos, essas relagdes sociais de sexo atribuem posicSes definidas através de hierarquias para os homens e as mulheres na sociedade. ‘No dislogo interdisciptinar que elegemos come carninho metedolégico, buscamos na teoria da andlise do discurso a nogie de “cena”. Como elemento de uma metéfora teatral, a “cena” designa “a dimensdo construtiva do discurso, que se ‘coloca em cena’, instaurando seu proprio espago de enuncia¢ao"”. Encontramos na abertura ca cronica “Sera Sempre Assim?” uma reflexdo de Barreto sobre o significado da “cena” para ele: Devido a um acidente ridiculo que me impediu de calgar, curante ‘quase todo més de dezembro ultimo no ful cidade, Debxei-me ficar ‘em casa, mal saindo do meu modesto aposento, para os outros da 4s eh Siva Gomes de Feeins ‘minha humilde residéncia. &m comeco, aborreckme com a couse, porque sou andarith de vocago, ne bende — bem entendido — ou ‘melher: gosto de estar em lugares em que 2s cenas varieme venham ase reprasentar, &s vezes, algumasimprevistast . A“humilde residéncia” do “negro-intelactual” carioca situava-se no sublirbio de Todos 05 Santos, onde Lima Barreto passou a residir em 1902, ‘quando estava com 21 anos de idade, Id permanecendo até a morte, em 1922. Segundo nossa interpretacdo, o discurso barretiano, tamado como fonte da pesquisa, néo deve ser interpratado coma mera adereco ou apéndice as situacties vividas. Na citagdo, Lima Barreto fez referéncia ao seu “modo ambulatério”, praticado como andarilho, como passageiro do bonde e, néo podemos esquecer, do trem suburbano na cidade do Rio de Janeiro. A “variedade” e a “imprevisibilidade” foram as qualidades das cenas anontadas por Barreto como fundamentais e, assim, as cenas que “venham a se representar” so/foram 2 matéria-prima das crdnicas. Portento, as “cenas de uma guerra dos sexos” tomnaram-se representaces de uma guerra instituidas fem suas crénicas. Mas... por que escolhemos a crénica? O genero textual “crénica” é um instrumento que qualifica a modernidade, 0 estilo da modernidade, n5o porque & eve, mas porque mostra as experiéncies urbanas em sua “variedade” & “imprevisiblidade”, ou seje, em sua plenitude, O espaco pUblico se desdobra, portanto, em miiltiplos cendrios, nos quais Lima Barreto vivenciou em sua trajetéria uma experiéncia urbana que resultou em um trabalho intenso de olhar a cidade e seus habitantes para, em seguida, registrar suas observacdes e andlises atravésdas crénicas, cuja publicacéo em periddicos cariocas, comoa revista Careta 2.0 Jornal Correio da Noite, deu margem a que passéssemos a tratar 05 fatos como fenémenos possive's de serem interpretados historicamenta. Levantamos, nas crénicas de Lima Barreto, o que denominamos “cenas da guerra’, ou seja, 05 lugares privilegiados para a ocorréncia de tensbes, de confltas, de lutas nas relages socials de sexo. As cenas de uma guerra dos sexos no estéo isoladas; suas fronteiras s80 permeaveis e, portanto, suas praticas transversalizam as demats cenas, formando um sistema de complexas relagBes sociais, culturais e politicas, Para esse artigo, recortamos uma parte de uma das cenas estudadas, a “cena das felras e estas populares”, buscando destacar as formacoes discursivas® que a caracterizam, ‘Na crénica “Bailes e Divertimentos Suburbanos”, captamos algurrias imagens de uma guerra dos sexos na cena do baile: “O balle, nao sei se é, era ou foi, uma instituicéo nacional, mas tenho cerzeza de que era profundamente carioca, especialmente suburbano™. Segundo Lima Barreto, tal modalidade de festa popular perdera o brilho antigo em um intervalo de tempo de vinte 46 Dis-Logos, Rio de jascto/RY, 0.3, Setembro de 2009, (Coedlomblés » Mafe em imagens boretianas — roles voce e fexo ¢ formagio da racionslkdaderasilsira anos, entre 1902 € 1922: Sem receio de errar, entretanto, pode-se dizer que o bale familiar ‘burguas, democratico e efusivo, esté forada mo¢a, nossubUrbios. A carestia da vida, a exigtidade das casas atuals e a imitacao da alta bburguesia desfiguraranv-no etendem a extingu-lo*. Na passagem, Barreto estabeleceu uma oposi¢ao entre “burgués” e “alta burguesia’, atribuindo valor positivo ao adjetivo que qualificou o antigo. “baile familiar e burgués”. Ao narrar sua experiéncia urbana, escreveu nessa mesma cronica sua observacao acetca da chegada da modernidade @ Belle Epoque Tropical: Asduasee mela, interromp!o sono estive acordado até as quatro da ‘madrugada, quando acabou 0 sarau. A no ser ummas barcarolas ‘antadas em italieno, ndo ouvi outra espécie de musica, a no ser polcas adoidadas e violentamente sincopadas |.) Pergunteia minha rma, provocade pela mondtona musicarie de baile da vizinhanga, se nos clas presentes nao se dangavam mais valsas, ‘mazurcas, quacrithas ou quadtas, etc. Qual! disse me cla.— ldo se gosta mais disso... que apreciam os dancarinos de hoje, sio musicas apoleadas, tocadas io dab, que server para dancar tango, fox-trot, ragtione, e... % ~Coke-wal?~ perguntel, Rina no se dana, ou}ése dengou; mas agora, esté aparecendoum {al de shimmy? A.citago é parte do relato de uma experiéncia da vizinhanca de Lima Barreto, no bairro carioca de Todos os Santos, que ele acompanhou e nerrou desde os preparativos que antecederam a festa doméstica até seu epfiogo. Em lugar do produto nacional ou nacionalizado em época anterior como a valsa, observamos que 0 subtirbio carioca incorporava outros ritmos importados com 0s novos ventos da modernidade. Interessa-nos destacar a consulta de um irmao a sua irma acerca de temas cotidianos, como 0s ritmos @ as dangas que estavam “na moda”, demonstrando que a cena das feires estas populares constituia um objeto de conversa familiar. No didlogo com a inn Evangelina, predominaram termos em inglés para n&o s6 designar os ritmos recém-chegados como também denunciar a origem comum americana de todos eles. Na cronica, Lima Barreto ainda aproveitou a situagio do ‘desaparecimento dos bailes para ressaltar um aspecto econdmico da mudanca na paisagem suburbana da cidade. A meméria nostélgica de um tempo que do existia mais, de “choros", “valsas, mazurcas, quadrilhias ou quadras”, Barreto acrescentov 2 critica que buscava politizar 0 cotidlano: Cali Sve Gomes de Freias Hoje, porém, as casas minguam em geral, @ especialmente na capacidade dos seus aposentos e cCmodos, Nas alas devs'tas das stueis mal abem o piano e uma mele mobili, adquirida 2 prestactes. {sto acontece comas familias remeciadas; comas erdacelramente ppobres, a coisa piora. Ou moram em cémodos ou em casitas de -Bvenidas, que s80 bin pouco mais amplas do que a gatola dos passarinnos*., Além da referéncia as “prestagdes” como forma de aquisicao de “uma meia mobilie”, alronia barratiana, que nunca era apenas comica, mas sempre ‘régica ou tragicémica, erticulou no discurso a leveza dos balles de outrora ‘com a construcao politica do espaco. Na comparacao entre a “casita” de um pobre habitante do subtirbio e uma “gaiola de passarinhos”, aquela levava vantagem, pois era “um pouco mais ampla”, Uma modalidace de festa como esses “bailes suburbanos” resultava em ocasido propicia para encontros entre moses @ mogas: Nesses bailes suburbanos, 9 maértir era 9 cono de casa: "Seu" Nepomuceno comegava porno conhecer mats da metade da gente (que, transitoriamente, abrigave, porque Caciida trazia Nen eestao imo que era namorado daquela —a tnica cujafamiliatinha selacdes com a do “Seu” Nepomuceno: e, assim, a casa se enchia de desconhecidos. Além desses subconvidados, ainda existiam os penetres. Charnava-se asim certos rapazes que, sern nentusria especie econvite, usavam deste ou daquele truque, para entrar nos bailes — penetrar, Em geral, apesar da multidodos convidados, essas festas domésticas ‘inham um grande cunho de honestidade e respelto, Eram raros os ‘excessos e as dencas, com o intervalo de uma hora, para uma cela odesta, se prolongavam até a clarear do dia sem que o mals arzuto do sereno pudesse notar uma discrepéncia nas atitudes dos pares, dancando undo. Sereno, era chamado o agrupamento de curiosos que ficavam na rua a espiar a baile. Quase sempre era formado de pessoas das vizinhancas e outras que néio haviam sido convidadas ei £5 portvar paratersesunto em que bacenssom a sua despetida critica, Esses alles burgueses nf eram condenadas pela religiéo. Se algumas nada diziam, calavam-se. Outras até elogiavam. O puritanismo era francaments favoravel a eles, Afirmava ele, pele boca de adeptos autorizados, que ossas reunides faciitevam a aproximacio dos mocos Esses bailes burgueses nao eram condenados pela religiao. Se algumas nada diziam, calavarn-se. Outras até elogiavam. O puritanismo era Srancamente favoravel a eles. Afirmava ele, pele boca de adeptos autorizados, que.escas reunidesfacitevam a aproximacsio das mores lds csc ala paiaracadaun ues facisbceree, ‘semtarem ocasiao de tracarimpressées, ..J. 48 Din Logos, Rio de fancivo/ RI, a, 3, Sewembro de 2008 Candonblis ¢ Matos om imagens barstinnae —reagie socinie de sexo c formacic ca macionaliade braiita © povo estava representaco pela “multidéo de convidados”, pelos “desconhecidos”, ou “subconvidados”, e ainda pelos “penetras”, além do grupo do “sereno”. E, para abrigar tanta gente, era desejével que o comodo: da casa destinado a receher os convivas fosse espacoso: [Na escolha da casa, presidia sempre a capacidade da sala de visitas pata a comemoracéo coreogrdfica das datas festivas da familia. Os ‘construtores das casas jd sabiam disso e sactficavam o resto da habitaco a sala nobre. Houve quem dissesse que nds faxfamos casa, ‘ou as tithamos para os outros, porqueamelhor necadeisera destined pestranhos", Contraditoriamente, a relacao com os “outros”, tratados camo “estranhos’, significava “comemoracio", “festa em familia”, na perspectiva da vida publica, e “sacrifcio”, pela reduco do conforto no ambito da vida privada. ‘Observamos um estreitamentode privado em detrimento de nablico, atéo panto em que a sala de visitas da residéncia se expandia para o outro lado da rue, onde ‘estavam instaledos os “penetras”, também participantes da festa: 'Nos tempos idos, essa gente verde das nossas elegincias- verde & sempre uma espécie de orgot ~sempremutavele varidvelde ane pera ano, ~ desdenhava o subuirbio e acusava-o falsamentayde dangar 0 ‘manixe;hoje, noha diferenga; todo io de Janeiro, dB ato abatxo, incluides os Bemocréticos eo Music-Club dasLaranjeiras, danga, Ha uma coisa a notar: € que esse maxive familiar ndo fo dos *Tscorregas" de CascadiuraparaoAchileon do Flamengo, 20 Contato, veio deste para aquela [... Nessa ditima citacéo da crénica “Bailes ¢ Divertimentos Suburbanos”, Lima Barreto contrapds a regiéo suburbana, representada por Cascadura, a0 centro e bairros elegantes da cidade, para afirmar lronicamente que o maxixe nfo fora uma invenca dos suburbios, logo, tratava-se de um “maxixe familiar”, nascido em um clube do bairro aristocrético do Flamengo. &m sua defesa das festas populares, Lima Barreto tratou do preconceito contra 0 “camdombié”, revelado nas perseguigGes policiais 3 essas manifestagdes da cultura de ancestralidade africana: uma cousacuriosa dos nossoscostumes o que, certas vezes polis, ou antes, onoticidrio policialrevela. Hé dias, ndo sel hd quantos, © comissério, doutor Edgard Romero, fol cbrigado a prender por causa de um “rolo” setenta e poucos sécios de uma sociedade dancante, {que se diz Familiar, inttulada “laid das Marimbas”. ‘Atoda gente, tal cousa parecers de pouco apreco; masaum observa- 49 Geli Siva Gomes de Frias dor de costumes, elacionande-0s com a formagiie da nacionalidade, ‘a cousa tem mais interesse do que 2 questa das candidaturas presidenciais. \Vejam os senhores s6 como a estratificarao da nossa sociedade foi acaber de tal forma que a policia formidavel do Senhor Geminianoé ‘obrigada a arranjar um combolo de "vitwas-alegres” para prender guase ume centena de freqientadores e freqientacoras de "candombiés"*, No segundo pardgrafo da citaglo, Barreto tornou evidente sua posicéo de cronista da modernidade. As relacdes entre o5 “costumes” € a “formacéo da nacionalidade” era uma questéo de interesse superior a das candidaturas presidenciais, porque revelava “a estratificaco da nossa sociedad” brasileira, de um lado; e, de outro lado, a pritica de “candomblés”, que inclufa “ireqiientadores e frequientadoras’, indistintamente, como “um movimento de reconstrugdo transformadora dos modos de ser histéricos”, inserido “na lute politica dos afrodescendentes"®. A imagem do equilibrio de poderes nas relagGes sociais de sexo ficou fortalecida no momento da prisio “de quase uma centena” de praticantes de “candomblés”, homens e mulheres daquela “comunidade ltirgica”® do terreiro “Iaié das Marimbas’. ‘Ao reprimir os “costumes” ce determinados grupos socials como aquele, 2 aco policial estava reintroduzindo, na cena das feiras e festas populares, as tensGes proprias das relagdes étnico-raciais e, desse moco, Feafirmando 2 permanéncia de praticas discriminatérias nia formacdo da nacionalidade brasileira, Através do processo discursive irénico, Lima Barreto ‘confessou-se freqientador de “candombiés’, ‘canjerés’, ‘mambembes” para, em seguida, denunciar que a autoridade policial também apreciava “tals ceriménias": ‘Com a policia acontece o mesmo. Eles gostam de tais carimBnias religiosas de certa raneira, tanto assim que dio um tento para surpreendéls. (O doutor Edgard Romero que prendeu tanta gente, sem culpa nem crime formado, me disse como Tito, a delicia de género humano: — Fol o melhor dia da minha vida; e isto por causa da “laié das Marimbas"® Amistura entre violéncia e diversio, entre o ato ce prender “tanta gente, sem culpa nem crime formado” e a deciaracdo cinica do agente da instituicio policial de ter sido este “omelhor dia da minha vida", revelava um jogo no qual as classes subalternas utilizavam téticas de seducao pela exibicSo vigorosa de formas e gestos simbélices, presentes nas dancas, nos c&nticos, nos ritos, Do 50 Dis-Logos, Rio de Jaaczo/RJ, a. 3, Setembro de 2009 Candomblce « Mefxs em imagene brrretinnna — rlagSee voce «de tex0 ¢ formagio ch mciomiidade besten ‘embate entre a ordem do poder estatal ¢ as praticas cutturais de grupos populares, como as comunidades litirgicas afrodescendentes, emergiam ccertas flutuacBes das relacdes de poder, nas quais as marcacdes dos espacos hegeménicos se deslocavam. Entretanto, naquele espaco-tempo da Primeira Repiiblica na cidade do Rio de Janeiro, as manifestagées festivas que ndo sofriam qualquer restricao eram os “mafuas”, promovidos pela igreja catélica, eas “Telras”, patrocinadas pela prefeltura, mas inspiradas nas festas eclesiésticas: ‘2 pove chante tas coisas de “mafiuss”. Ndo atino qual sejaa origem do tetmo. H4 quem diga que é corrupteia do francés: ma foi — “minha 6". (.o] Saja como for, “mafus” é colsa pitoresca, Funciona aos king &afesa, opasselodoringuato por scien, co powo dos subsirbios. ‘Aldea eclesidstca do “mafua" nao delxou Ge tera sua repercussio nas concepgSes socials dos nossos ctuals dirigentes. O parentesco do “mafus” com a “feira livre” da superintendancia & evidente, & Ha, entretanto, pequenas ciferengas: 0 “mafua” &8 nolte ea “feira livre" € pela manhi, nesta ndo hs “todas”, ndo hd “pinguelim”, naquele 13.85; no mais, ambos t@m umconstante arde familia. Fa mesma coisa, com oidéntico aspecto de festa popular, pretexto gara passeios ediscretos namoros;e, tanto nuim, comens outra, vertie-se deum tudo, como diz 0 povo® Enquanto os terreitos de candomblés eram (e so) uma “pequena Aftica reinteroretada"™, segundo Muniz Sodré, os espagos dos mafuds e das feiras reproduziam aquele das feiras da Europa medieval. Como “sintese lituirgica e territorial” que retrabalhava os cultos e os deuses africanos, 0 terrairo fechava-se em tomno de segredos que definiam uma alteridade @ urn pertencimento resultantes da ancestralidade negra. Segundo as palavras de Lima Barreto, os mafudse as feiras, ao contrério dos terreiros de candomblés, adequavam-se as “concepsies sociais dos nossos atuals dirlgentes”, pelos significados que possuiam, expressos pela imagem de festa familiar domingucira. ka crénica “No “Mafud’ dos Padres”, Lima Barreto continuou buscando uma definicSo para o termo “mafud”": ‘meu amigo doutor loo Ribeiro ainda rome pide explicar oque quer dizer ‘mafua”, Apesar disso eu, pela boca do povo, sei que, mais oumenos ta termo ‘exprime uma barafunda de homens @mulheres de todasascondigbes. io quero contribuirparaodicondtio de brasileismos da Academis mas o que aprendo ensinc, 51 Cli Sea Gomes de Feeias Ouvi este tarmo de “mafud” no Engenho Ge Dentro, para designar umas barraquinhas que os padrestinhamn|é feltas. Era, como lédizlam, o*mafus” dos padres. Eles fazem um leilZo de prendas, por intermédio de mogas mais ou menos decotadas. Na citacdo, Barreto buscou duas fontes de pesquisa, a académica e 2 popular, para afirmar que “aprendeu” peta boca do povo, no suburban balrro do Engenho de Dentro, o significado de “mafua” como “uma barafunda de homens e mulheres de todas as condicSes” .A partir de suas préprias observacdes, ‘ocronistaacrescentou outros semidos para otermo “mafud’, quetambém passou ‘a Gesignar “umas barraquinhas que os padres tinham Ié feltas”, nas quals eles fazlam “umleilgo de prendas, por intermédio de mocas mats ou menos decotadas”. A finalidade econdmica esteva, portanto, assegurada e aintencdode auferirlucros era o abjetivo principal dos padres, como administradores dos mafuds: Nas tardes emque eles funcionam,asbondes mastodénticos da Light chegam nas proximidades deles, apinhads de passagelros de outros suburbios, onde no 03 ha € despejam uma multido, que s2 val ‘olear por entre as barracas, sob a luz firme dos focos eétrices, 20 compassc de uma charanga rouca ¢ estridente, olnande avicamente pera aquiles objetos tentadores das barracaspicdosas, nasua primeira tentapso. © branco domina o vestuério das mulheres; e'0 cinzento, 0s temos dos homens. Nas barracas hd de tudo. Ha leitdes, ha carneiros, ha galinhas, hd cabritos, ha chapéus, hd bengalas; mas @ barraca mais procurads € aquelaem quese extraem por sorte frascos de per‘umes. Hela, acompetente “roda” girao dobro de vezes mais do que as das ‘outras emauese vendem cosas mals ites e proveitoses. Ha dc haver quem censure. Convém, porém, recordar que ndo 6 56 de po que viveo homem, eo CCéntico dos Cantices, co grance Salomo, rescende a mirra, a alogs, 2 sandalo, enardo..[] Se 0 sablo Salomao ¢ a curiosissima rainha de Saba eram assim tio amigos de inebriantes aromas, porque os madestos suburbanas, de ambos. 05 sex0s ede todas as cores, noo podem ser também a seu modo e conforme es suasfortunas? “Homo sum’. Essa suburbana folganca domingueira acabe cedo, as dez horas da noite; e,entdo, éde verse odesfile caquela gente, 2 maioria cheia de decepees, mas uma boa parte carreganco despretensiosamente patos, perus,galinhas e leitdes|... Na passage, retirada da crénica “Feiras ¢ Mafuds”, destacamos na cena das feiras e festas populares @ presenca dos transportes coletivos, representada pela imagem dos “bondes mastodénticos da Light”, que 52 ‘DinnLoyes, Rio ce Jameiro/IY, n. 3, Setembro de 2009 - Candoanblés © Matis em imagens berresnar — rslagdeesocaie de reno ¢ formagio de anctonsidede brite chegavam “apinhados de passageiros de outros subirbios"; nessa imagem, podemos igualmente descobrir cue os ventos da modernidade sopravam na regigo suburbana, desde que nos lugares politicamente convenientes. Lima Barreto atualizou a imagem do “pao e citco” para incluir os "inebriantes aromas” no topo da lista de objetos do desejo dos “modestos suburtbanos, de ambos os sexos todas as cores” que, assim, preteriam as “colsas mals, Uteis e proveltosas” e, ao fazer tal opgdo, corriam o risco de softer alguma censura, De sua experiéncia urbana, Barreto recolheu uma interessante passagem, acontecida em uma visita que fizera a uma feira da vizinhanga: Mais adiente, pare, em face de um mercador que oferecia uma singular mercacoria, Eram sapatinhos de crianga, toalhas de craché, toucas, rendas de bilros, etc. Entre estas éhimas havia algumaslindas, bem acabadas, de um desenho feliz, que bem podia rwvalizar com aquelas que o Rei Alberto trouxe nos pordes do “Sao Paulo” e sie ‘fabticadas em Bruxelas. Conquanto c mercadortivesse uma catadura de domador de feras, eyme animel adrigit-she a palavra, nestes termes: Eo senhor mesmo quem faz essas fincas coises de moca prendada? Que perguntal Nao; é minha mulher! AY [ol No dislogo com o mercador, observomos que 2 aistingBo entre os papéis masculinos e femininos produziu um estado de tenséo nas relacoes, sociais de sexo, pela contraposicao entre os termos da pergunta, “E o senhor mesmo quem faz essas lindas colsas de moca prendada?”, eo tom da resposta do vendedor: “— Que pergunta! No; é minha muther!”, indicando sua indignagdo perante a insinuaco maliciosa do narrador. Na sequéncia, Barreto ‘trouxe a imagem do encontro da “modesta burguesia suburbana” com a alta burguesia “do Leme ou de Ipanema” que chegava & faira de automével: ‘Afeira estava no auge. Dos bondes desclam mores e senhoras aos ‘magotes. Todas bem vestidas e agasalhadas convenientemente. Os ‘automéveis chagavam buzinando, Vi descar deles gente quenao.era positivamente suburban. TInham vindo, certamente, de Leme ou de: Ipanema. ‘Amodesta burguesia suburbara clhava esse pessoal que sediverte, com sustoe, a0 mesmo tempo, com estranha curiosidade”* Enquanto a diverséo era comum aos dois grupos, osusto, acuriosidade 20 espanto eram sentidos apenas pelos “suburbanos”, ao estranharem & presenca na feira de algum grupo de “gente que no era positivamente suburbana”, como um casal retratado por Lima Barreto: 83 (Cal Sls Gomes de Peis Dente ele, salientava se ura guaps rapcriga, morena, umtanto fanaa, ‘mas, assim mesmo, ainda bela comas suas vicosas olheiras roxas. O cavalhelro que a acomoanhava, apesar de ter passado a noite em dro, come era fécil se percebes, tinha ainda 9colarinho imaculado e reluzente.Peios dedos, pelo peito, anise brihantes; 2 muiher também, ‘endo ainda por cima brncos, colarese braceletes. ‘Acompantekos com eto, Dirigiem-se para atenda do tal domador de feras, que vendia artefactos da feminina indiistria doméstica ‘0 domador, vendo.a dama, tomou mais firme oseu mau clharesperto. ‘Arapariga disse ent para ocavatheiro que Ihe ia 20 lado: — aime, compra aqueles sapatinhos cor-de-rosa eaquelatouca branca, comrendas, = Para que, Benvinda? — perguntouele, surpreendido, —ParapérnaZeré. = Que 2ez4? — expectorouo rapaz. — Talo! A boneca, a minha boneca, que estdé no quarto, No a tens visto? = Bem, ~ rematou otal Jaime; ¢ compro as prendas domésticas do ddomador de edes,tgrese panteras. Esté ai uma coise que nao ¢ [a muito suburbana: comprar toucas e Sepatinkos para parem honecas.Se fesse parabebésdecarnee oss0..*. Na descricdo do casal, foram acentuadas em Benvinda equelas caracteristicas desqualiticantes, tais como “um tanto fanada” e “viciosas olheiras roxas”; enquanto isso, Jaime “tinha ainda o colarinho imaculado reluzente”. Embora © casal estivesse insone, apenas @ imagem da mulher destacava aspectos da sua aparéncia fisica, com a intencao de manté-la em posicdo inferior ao seu acompanhante, sobre 0 qual nada ficamos sabendo da aparéncia, Os sinals exteriores de riqueza eram exibidos por ambos, que portavamn muitas j6ies espalhadas gor diversas partes do corpo. Lima Barreto, como moratlor do suburbio que era, estranhouaatitude perduiéria “quendo élé ‘muito suburbarie” de equisicdo de roupas para “pér em bonecas”. Nas relacdes socials de sexo, reproduziram-se as papéis do homem provedor e da mujher dependente, 20 se efetivar a compra de uma touca e sapatinhos para Zezé, uma boneca. Como os "mafuds’, as “feiras livres” espalhavarn-se pelas areas suburbanas da cidade do Rio de Janeiro: 'Nasminhas vizinhancas, isto &, no Méier, hduuma delas. Li fulter. NEO era muito cedo. Nao me levanto as primeiras horas do dia, embore seja pobre. Fui as oito horas da manh3, Que lindeza de mocas'e senhoras! Nuncaas vi tao lindas nem mesmo na Rua do Quvidor que frequento desde as dezassais anos quando me matriculei naGscola Politécnica, Naturalmente, um homem comoeu, estendoem “feiralivre” evendo tanta mora benita, havia deficar coniente’. 34 ‘Logos, Rio de Janeito/RJ, 9.3, Setemiaro de 2009 (Candorabiés © Mafuis er: imayens bereetiznas — relagbssenciais ‘de sexo ¢ forvagio dis necionaidede brakes Na passagem, a comparecdo das lindas mulheres que embelezavar a “feira livre” do bairro do Méier com aquelas que circulavam na Rua do ‘uvidor poderia, em principio, resultar do sentimento bairrista de Lima Barreto. Por outro lado, podemosinterpretar cue o desfile de mulheres bonitas era um espetéculo apreciado pelo cronista em qualquer circunstancia, e independia do cenério ser ou n&o 0 centro carioca das elegéncias. Para encerrar a analise da cena das felras e festas, selecionamos essa Imagem de belas mulheres circulaado as oito horas da mah em uma “felra ivre” suburbana sob a mira do cronista que olhava “contente” esse movimento das mulheres. As duas imagens fundiram-se para reapresentar uma cena das relacdes sociais de sexo na modernidade. Além de caminhar e olhar, quais outras ages seriam praticadas por mulheres e homens naquele ‘espaco pliblico? E quals outres representacBes seriam significativas pare fazer parte do inventério de imagens que elaboramos no trabalho? Na cena das feiras e festas populares, buscamnos levanter, através da andlise do discurso de Lime Barreto, um conjunto de imagens que funcionassem como representagdes de uma guerra dos sexos nas relagdes sociais em curso ma cidade do Rio de Janeiro das primeiras décedas do século XX. Notas e Referéncias : * Doutaranda ~ VER), ema: cllslva@hotmaikeom RIO, Jodo, "Cordes" In: alma encartadore dos ruas: crénicas Rio de lane: Secretaria Munizial de Cultera, Dap. Geral de Doc int Cultural, 1987, p-97 FBARRETO, Lima. "Sabre © Camavaf’ nz Feiros e Mo/uis, 2a ed. io Patle: Srasilense, 1961, 1. 208-212, (Obras de Lima Barreto, vol XI), P DARRETO, Lima, "Bales ¢ Civertimentos Suburbanes”, Gazeta de Noticias, 7/2/1922. In: Mongingi. 25 ed So Paulo: Brosllerse, 1961, p. 6-68, (Obrac do Lima Barreto, vl. XI). “FERRANO, Miche. In: RIAL, Carmen, LAGO, Mara Coeino de Scuza e GROSSI, Miior Pilar ‘Relagies socials de sexo e relagées de género: entrevists com Michéle Ferrand, Reviste Estudos Feminitor,Focianépoks, 13 (3): 677-689, seterbro-daxerbro/2005. idem idem, 9. 680. “Ider, fokdem, p. 68 2 CHARADEAU, Patrick MAINGUENIEAU, Dominique. Diciondrio de ondise do dscurso. 23 ed ‘8 Paulo: Contento, 2006, p.95-97. *BARRETO, Lima, “Serd Sermare Assim2", Coreto, Fi, sd fgng. In: Mergindla, 2a ed. S80 Poule: Brasionse, 1961, p. 170-172. (Obras de Lima Barreto, vol. Xi). Grifos nosso * FREITAS, Cel Siva Gomes de, Entre a Via Gulombo ea Avenide Centrl:a dupiaezteroridade ‘em tima Barreto, Rio de Janeiro, RJ, PPGH/UER}, DissertacZo de Mestrado, 2003. As expres 625 “regro-intelectual”e “intelectvat negro” foram usadas pera caracterizar a tejetie de Lima Barreto em nossa dssertagde de Mestrads. "= MAINGUENEAU, Dominique. Termos-chave ca andise de discus, Belo Rerzante, MG: ed. UFMG, 1998, o. 67-9. * BARRETO, Lima, “Bailes e Divertimentos Subsrbancs". Op cit, p. 62. 58 Cel Siva Gomes de Pecias idem. tbidem. 66 idem, bier, p. 61 “idem, ibidem, p. 62. idem. sbiciem, p65. “idem. idem, p. 62, “Idem. Ibidem, p, 62-63. “= BARRETO, ima, “lag das Marimbas", Coreto, Rio, 3/6/1922. In: Manginto, Op. ct. p. 149. SODRE, Muniz, Caras e escuras: entidodle, povo e midia no Brasil. PotrOpolis, RU: Vores, 4999, p. 210-212. "© sentido do termo “urge” & “uma forma de vida arcieviada coma dmensao do segrado, uma heterotopia nacional”. Ver: Muniz Sadré. Ibe, p. 200, BARRETO, Lima, “laid das Marimbas’, Op ct, p18 * Idem, “Feiras © Maluis”. in: Feros e Mofuds, Sao Paulo: Brasliense, 1959, p. 71428 (abras de Lina Barreto, vol. X). * SODRE, Muniz, Op. ct., p. 211 % Idem, tidem, p.2n € 23, BARRETO, Lima, “No ‘Mafui’ dos Padres", Carete, »/ro/'sta. In: Vida Urbana. S30 Paulo: Brasilonse, 1956, p. 186-187 (obras de Lima Barreto, vo. Xl} idan, "Felras e Mafuss", Op. chy p. 23.225. 2 idem, tbidem, 2. 26-27. dem. ibidem, 9.27. * Idem. tbidem, 9.27-28. * Idem, “Feiras lives", Coreto, 16/7/1920. in: Vida Urbana, Op. ct, p. 248-249. 586 ‘Dia-Logos, Rio de faneiio/RJ, 1.3, Setombm dle 2009, © programa nuclear indiano, 1947-1964 Claudio Esteves Ferreira* Introdugio ‘Muclear power & uma expressdo ambigua apropriada pera o estudo da politica nuclear empreendida por Jawaharlal Nehru e Homi Bhabha. ‘Segundo Perkovich, desde antes da independancia, ambos queriam para a India todo o prestigio, o status e os beneficios essociados a ser uma poténcia nuclear, incluindo a ops4o de construir a bomba, se necessario. Para asta autor, uma “lenda” nega 2 ambiglidade das intencdes de Nehru e defende suas “pacificasintengSes” caracterizadas por uma aversio as armasnucleares, desde Hiroshima. Os propésitos pacificos do lider indian seriam movidos por um ideatismo clentifico que visava a grandeza da India e foi expresso'pela ‘maior parte dos discursos de Nehru. Segundo esta interpretaco, teria sido Bhabha e no Nehru o impulsionador do carter dual do programma nuclear indiano. Segundlo Perkovich', Kapur* e Abraham, ume atencSo mais cuidadosa desmente esta versio, J4 em 1946, discursando em Bombay, Nehry efirmou: Enguarto o mundo se constituirda forma como , tod pais terd de criare de usar os titimos instrumertos cientficos disponiveis para ‘ua protegio. Eundo tenho dkividas de que a India desenvolvers ties pesqulsas centificase espero que os cientistasindianos usema forca _atmica para pronésitos construtivos. Mas sea India for emeacada, elaierd inevitavelmente de tentarse defender de todasas maneirasa ‘seu dispor. Espero que a fndla, em acordo corn as outros pelses, Previna-se do uso de bombas atbmicast Nehruem suas palavras, aces e suporte politico possibilitoua Bhabha a implementag3o de um programa nuclear ambiguo. Haveria um Nehru ambicioso, realista, que acreditava no poder da ciéncia e da tecnologia para tirar a India do atraso, A formagtio de um Estado Nuclear dentro do Estado ~ 1948 ‘O mais proeminente defensor do programa nuclear indiano foi Homi Bhabha. Com origem em uma rica familia Parsi’, doutorou-se em Fisica por Cambridge, no ano de 1935 e conhecia Farmi, Bohr e todas os grandes nomes a Fisica de sua época. A guerra o impediu de retornar a0 Ocidente e, ento, 37

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