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A religido de Rabelais, Lucien Febvre nos diz.o seguinte: “O problema consiste em determinar com exatidao a série de precau- esa serem tomadas, de prescrigbes a serem observadas para que se evite 0 pecado dos pecados, o pecado entre todos irremissivel: oanacronismo”" O texto citado apresenta trés questoes que tentarei desenredar aqui: primeiro, por que, para historiador, o anacronismo €0 peca- do entre todos irremissivel? Segundo, que deve ser 0 anacronismo para ser esse pecado? Terceiro, que deve ser 0 historiador para dar a0 anacronismo esse estatuto de pecado mortal contra seu espirito? Essa tripla interrogacdo, por sua vez, inscreve-se no ambito de uma reflexio mais abrangente sobre a questo da verdade na histéria, * ste texto foi originalmente publicado em Liactul,n 6, p. $3-68, 1996. Tra: ddugdo de Ménica Costa Netto. 1, Febvre, Lucien Le probléme de incroyance au XVe sce. La religion de Rabelais. Paris: Albin Michel, 1968. p. 15. 2 reflexio conduzida por uma hipétese que formulo aqui na sua maior generalidade. ‘AGipee de que a constituicao da histéria como discurso cientifico implica um né de questbes filosdficas que nao tém nada a ver com questdes ditas de “metodologia’ ou de “epis- temologia” da histéria. Esse né concerne as relagées do tempo, da palavra e da verdade. Apenas ele nunca ¢ tratado como tal no dis- curso do historiador. Ble & tratado por procedimentosoatico) de Construgao da narrativa historica. Entenda-se “poética” no sentido ‘ssico: como dizendo respeito a uma tekhné da construcio de intr as, & disposicéo de suas partes e ao modo de enunciacio apropria- do, ou seja, as trés fungdes tradicionais da inventio, da dispositio e da filoséficas que ela evita colocar-se como tais. F ‘sua aplicacéo ao nosso problema seria a seguinte: o anacronismo €| Jum conceito poético que serve como solugao filosdica da questas| Sobre o estatuto da verdade do discurso historiador. Posto isso, podemos retornar & passagem citada e & primeira questo que ela suscita: por que esse privilégio negativo do anacro- nismo? Para compreendé-lo precisamos nos perguntar, em primeira andlise, qual 0 significado m{nimo da palavra. O dicionétio Rober! ‘© resume assim: “Acdo de situar um fato, um uso, um personagem, ‘tc., mima época distinta daquela a que eles pertencem ou convém realmente” Essa definigio apresenta um primeiro problema. De acordo com o primeiro sentido do prefixo -ana, que designa um movimento de frente para trés, de um tempo para um tempo an- terior, o anacronismo é 0 erro que consiste em situar um fato cedo demais. Supée-se, com alguma légica, que exista um erro simétrico consistindo em situé-lo tarde demais. E, de fato, 0s di 2 século XIX dio mostra de um tal esforco de racionalizagio léxica. Inventa-se, diante do pecado do anacronismo, o de paracronismo. Inventa-se até mesmo um conceito geral de metacronismo do qual © “procronismo”e o “paracronismo” seriam as espécies. Mas essas racionalizages nio vingaram. Restou apenas o anacronismo para designar a falta para com a cronologia em geral Qual a razio desse privilégio? £ preciso, segundo penso, buscé-la no duplo sentido de -ana, Esse prefixo também designa 'um outro movimento: o que vai de baixo para cima. Uma hipétese pode ser dai deduzida: 0 anacronigmo ¢ assi ado porque ue es js as um probleme de sucessio. Nao é um problema horizontal da ordem dos tempos, mas um problema vertical da ordem do tempo na hierarquia dos seres. E um problema a parte que cabe a cada qual A questo do anacronismo esté ligada Aquilo que o tempo tem, em verdade, como parte, numa ordem vertical que conecta o tempo a0 que esta acima do tempo, ou séja, 0 que comumente se chama a Decomponhamos os termos do problema. O anacronismo, ‘como diziamos, néo se relaciona apenas com o simples recuo (re- ‘montée) de uma data para outra data, Ele esté ligado ao remontar (remontée) do tempo das datas para o que ndo é 0 tempo das da- fas? Esse remontar, por sua vez, designa duas relagées distintas 2. NT: Confronta-se aqui uma dfculdade de tradusio: 0 termo franc8s remontée rio possui equivalente direto em portugués com 0 mesmo sentido, iso &, conservandoaideia de verticalidade detacada no texto. Temos, contudo, verbo “remontar"uilizado com o mesmo sentido de remonter: remontar& época dos omanos’; “este fato remonta a tempos remotos" etc Fizemos, assim, a opedo de 23 Ae examinarel sucessivamente, Trata-se, em primeiro lugar, do ‘emontar ao tempo que nao se pode datar, o tempo lendério, A cultura humanista europeia conheceu trés grandes cronologias: & cronologia crists definida pelo nascimento de Jesus Cristo, a Gronologia romana ab urbe condita e a cronologia grega ligada is Olimpiadas. Ora, o anacronismo esteve primeiramente ligado a Ron Ie Donna eae Sy TrGarvard Untesty Pres, 1973), 25 aluno a necessidade de distinguir os tempos.‘ Quer dizer, antes de tudo, distinguir o que pertence ao tempo da lei de natureza, da lei escrita ow da lei evangélica. Uma época é, portanto, um determinado recorte de tempo numa economia da revelacio, da maneira como © eterno desdobra e dé a conhecer a verdade no tempo. ‘A economia crista da revelago é uma economia da remissio da culpa. Mas, por detrés da remissdo da culpa no tempo, existe a questio do resgate do proprio tempo. Por detris da relacéo do homem falivel e mortal com o Eterno, existe a relacéo da ordem do devir com a ordem daquilo que é sempre idéntico a si mesmo. Digamos, para sermos breves, a relagio entre Chronos e Aion, entre / ‘tempo e eternidade. Antes da Biblia e de Santo Agostinho, velo 0 ‘Timeu e, com ele, a formula retida pela histéria, mesmo nao sendo la literalmente exata: “O tempo é a imagem mével da eternidade vel”. A formula dé a ideia de “resgate do tempo” o seu sentido preciso, Resgatar o tempo - a falsidade do devir - étorné-lo 0 mais “semelhante” possivel aquilo de que ele € a cépia: a eternidade do Aion. A questio da veridicidade da histéria depende, antes de qual- quer questo de “método’, dessa operago de resgate. Ora, resgatar 0 tempo nao pode significar colocé-lo na boa ordem seguindo alei da sucesso, j4 que ¢ precisamente a inexorabilidade da sucessio que ‘opor o temy jento de uma totali smpo como 4, NIT: Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704) foi preceptor do principe Louls de France lho de Louts XIV, para quem escreveu este discurso, 26 heterogeneidade de partes sucessivas. Ora, existem duas imagens ~ prvegadas ds nile doorsicne no tempo. A primeira é @ ordem causal, que coloca o encadeamento da causa e do efeito no lugar do antes e do depois dos acontecimentos. A segunda é a permanéncia, o tempo coagulado das épocas, cada uma definida como lei de imanéncia de seus fendmenos. A primeira imagem, a primeira forma de resgate do tempo, substitui a ordem sucessiva dos acontecimentos pela ordem légi-

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