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Quem precisa da identidade? | stuart hat | Estamos observando, nos tiltimos anog, uma verdadeira explosio discursiva em torno do conceito de “identidade”, O conceito tem sido submetido, a0 mesmo tempo, a uma severa critica. Como se pode explicarésse paradoxal fendmeno? Onde ‘nos situamos relativamenteao coniceito de “identidade” PEst4-se efetuando uma completa desconstrucao das perspectivas iden- titérias em uma variedade de dreas disciplinates, todas as quais, de uma forma ou outra, criticam a idéia de uma identidade integral, origindria © unificada, Na filosofiatem-se feito, por exemplo, a critica do sujeito auto-sustentivel que esti) no centro da metafisica ocidental pés-cartesiarla. No discurso| da erftica feminista e da critica cultural influentciadas pela psica- nilise t8m-se destacado os processos inconscientes de forma- $0 da subjetividade, colocando-se em questo, assim,| as concepgées racionalistas de sujeito. As perspectivas que teori- zam o pés-modemnismo tém celebrado, por stia vez, acxisténci de um “cu” inevitavelmente performativo. ‘Tém-se delineado, em suma, nocontexto da critica antiessencialista das Goncep- 6es.6tnicas, raciais e nacionais da identidade cultural elda “politica da localizacao”, algumas das concepgées teéricas mais imaginativas e radicais sobre a questiio da subjetivida- de e da identidade. Onde esti, pois, a necessidade de mais uma discussio sobre a “identidade”? Quem precisa dela? Existem duas formas de se responder a essa questo. A primeira consiste em observar a existéncia de algo que distingue a critica desconstrutiva A qual muitos destes con- 103 ceitos essencialistas tem sido submetidos. Diferentemente daquelas formas de critica que objetivam superar concei- tos inadequados, substituindo-os por conceitos “mais verdadeiros” ou que aspiram a produgdo de um conheci- mento positivo, a perspectiva desconstrutiva coloca certos conceitos-chave “sob rasura”. O sinal de “rasura” (X) indica que eles nao servem mais ~ nao sio mais “bons para pensar” ~em sua forma original, ndo-reconstruida. Masuma vez que eles nao foram dialeticamente superados e que nio existem outros conccitos, inteiramente diferentes, que possam subs- titui-los, nao existe nada a fazer sendo continuar a se pensar com cles — embora agora em suas formas destotalizddas € desconstrufdas, nao se trabalhando mais no paradigma no qual eles foram originalmente gerados (Hall, 1995). As duas linhas cruzadas (X) que sinalizam que eles esto cancelados permitem, de forma paradoxal, que eles continuem a ser lidos. Derrida desereve essa abordagem como “pensando no limite”, como “pensando no intervalo”, como uma espé- cie de escrita dupla, “Por meio dessa escrita dupla, prec mente estratificada, deslocada e deslocadora, devemos bém marear o intervalo entre a i que toma baixo aquilo que eraalto[...)ea emergéncia repentina de um novo ‘conceito’ que nao se deixa mais ~ que jamais se deixou — subsumir pelo regime anterior” (Derrida, 1981, p. 42). A identidade 6 um desses conceitos que operam “sob rasura”, no intervalo entre a inversio e a emergéneia uma idéia que niio pode ser pensada da forma antiga, mas sem a qual certas questdes-chave néo podem ser sequer pensadas. Um segundo tipo de resposta exige que observemos onde c em relagio a qual conjunto de problemas emerge a irredutibilidade do conceito de identidade. Pens resposta, neste caso, esté em sua centralidade para a questo da agéncia' e da politica. Por “politica” entendo tanto a importincia ~ no contexto dos movimentos politicos em 104 Tee ved =o suas formas modernas ~ do significante [‘identidade” ¢ de sua relagio primordial com uma_politica da localizagio, quanto as evidentes dificuldades e inistabilidades que tém afetado todas as formas contemporgneas da chamada “politica de identidade”. Ao falar em “agéncia’, nio quero expressar nenhum desejo de retornar a uma nogio nio-me- diada e transparente do sujeito como o Autor centrado da pritica social, nem tampouco pretendo adotar uma. aborda- gem que “coloque 0 ponto de vista do sujeito na origem de toda historicidade ~ que, em suma, leve 2 uma consciéncia transcendental” (Foucault, 1970, p. XIV) 1 Concordo com Foucault quando diz que o que nos falta, neste caso, nao é “uma teoria do sujeito cognoscente”, mas “uma teoria da pratica discursiva”. Acredito, entretanto,|que ‘© que este descentramento exige — como a evolugao do trabalho de Foucault claramente mostra|- 6 nfo um aban- dono ou aboligao mas uma reconceptualizagao do “sujeito”. E preciso pensé-lo em sua nova posigio -| deslocada ou des- centrada—no interior do paradigma. que éna tentativa de rearticular a relagio entre sujeitos e priticas discursivas|que aquestio daidentidade -oumelhor, a questio daidentificagdo, caso se prefira enfatizar o processo de subjetivagio! (em vez das priticas discursivas) e a politica de exclusig que essa subjeti- vacio parece implicar — volta a aparecer:, O conceito de “identificagio” acaba por ser'um dos conceitos menos bem desenvolvidos da teoria social e cul- tural, quase tio ardiloso ~ embora preferfvel ~ quanto o de “identidade”. Ele nao nos dé, certamente, nenhuma garan- tia contra as dificuldades conceituais que tém assolado 0 tiltimo. Resta-nos buscar compreensées tanto no repertério discursivo quanto no psicanalitico, sem! nos limitarmos a nenhum deles. Trata-se de um campo seméntico demasia- damente complexo para ser deslindado aqui, mas é itil es- tabelecer, pelo menos indicativamente, sua relevancia para a tarefa. que temos & mio. Na linguagem do senso comum, a identificagio é construida a partir do reconhecimento de alguma origem comur, ou de caracteristicas que so parti- Ihadas com outros grupos ou pessoas, ou ainda a partir de um mesmo ideal. 1 em cima dessa fundagiio que ocorre 0 natural fechamento que forma a base da solidariedade e da fidelidade do grupo em questio. Em contraste com o “naturalismo” dessa definigdo, a abordagem discursiva vé a identificago como uma constru- ‘co, como um proceso nunca completado—como algo sem- pre “em processo”. Ela nao é, nunca, completamente deter- minada —no sentido de que se pode, sempre, “ganhé‘a” ou “perdé-a’; no sentido de que ela pode sex, sempre, susten- tada ou abandonada. Embora tenha suas condigées deter- minadas de existéncia, o que inclui os recursos materiais e simb6licos exigidos para sustenté-la, a identificagio é, ao fim € ao cabo, condicional; ela est, ao fim e ao cabo, alojada na contingéncia. Uma vez assegurada, ela ndo anularé a dife- renga. A fusio total entre o “mesmo” e o “outro” que ela sugere é, na verilade, uma fantasia de incorporacéo (Freud sempre falou dela em termos de “consumir 0 outro”, como veremos em um momento). A identificagio é, pois, um processo de articulagéo, uma suturagio, uma sobredeterminagio, e nao uma subsungio, Ha sempre “demasiado” ou “muito pouco” — uma sobrede- terminagio ou uma falta, mas nunca um ajuste completo, uma totalidade. Como todas as priticas de significacio, ela sti sujeita ao “jogo” da différance. Ela obedece a logiea do mais-que-um. E uma vez que, como num processo, a iden- tificagio opera por meio da différance, cla envolve um trabalho discursivo, o fechamentoe a marcagio de fronteitas simbélicas, a produgio de “efeitos de fronteiras”, Para con- solidar 0 proceso, ela requer aquilo que é deixado de fora =o exterior que a constitu 106 | \ O conceito de identificagio herda, comegando com seu uso psicanalitico, um rico legado semantico. Freud chama-a de “a mais remota expresso de um lago emocionél com outra pessoa” (Freud, 1921/1991). No contexto do complexo de Edipo, o conceito toma, entretanto, as figuras do paieda mide tanto como objetos de amor quahto como objetos de competicio, inserindo, assim, a ambjvaléncia no ‘pentro mesmo do processo. ‘A identificagio, na verdade, 6ambiva- lente desde o inicio” (Fretid, 1921/1991: p. 134), Em Luto e smelancolia ela nfo 6 aquilo qué prend¢ alguém a um pbjeto ue existe, mas aquilo que prende algyém a escolha He um objeto perdido. Trata-se, no primeiro caso, de uma “holda- gem de acordo com o outro”, como umia compensagao pela perda dos prazeres libidinais do narcisismo primal. Ejaesté fundada na fantasia, na projegao e na idealizagio. Seu objeto tanto pode ser aquele que é odiado quanto aquele que é adorado, Com a mesma freqiéncia com que ela 6 trahspor- tada de volta.ao eu inconsciente, ela “empurrao eu pata fora de si mesmo”. Foi em relacdo a idéia de identificagao que Freud desenvolveu a importante distingio. entre “Ser” e “ter” 0 outro. Ela se comporta “como um derivado da primeira fase da organizagio da libido, da fase oral, em que 0 objeto que prezamos e pelo qual angiamos é assitpilado pela ingestio, sendo dessa maneira ahiquilado como tal” (Freud, 1921/1991: p. 195). “As identificagdes vistas como um todo”, observam Laplanche e Pontalis (1985), “nao sao, de forma alguma, um sistema relacional cocrente. Coe: tem no interior de uma agéncia como o superego [supereu], por exemplo, demandas que sio diversas, conflituosas ¢ desordenadas. De forma similar, 0 ego ideal 6 composto de identificagdes com ideais culturais que nio sio necessaria- mente harmoniosos” (p. 208). : i ‘No estou sugerindo que todas essas conotagdes devam ser importadas em bloco e sem tradugio ao nosso pensa- mento sobre a “identidade’; elas so citadas aqui paraindi- 107 car os novos significados que o termo esté agora recebendo, Oconceito de identidade aqui desenvolvido niio 6, portanto, Wim _conceito essencialista, mas um conceito estratégico Posicional. Isto é, de forma diretamente contraria aquilo que parece ser sua carreira ‘Semantica oficial, esta concepeao de identidade nao assinala aquele miicleo estavel do ew que Passa, do infcio ao fim, sem qualquer mudanea, por todas as vicissitudes da histéria. Esta concep¢ao nao tem como refe- réncia aquele segmento do eu que permanece, sempre e j4, “o mesmo”, idéntico a si mesmo ao longo do tempo. Ela tampouco se refere, se pensamos agora na questio de iden. tidade cultural, Aquele “eu coletivo ou verdadeiro que se esconde dentro de muitos outros eus - mais superficiais ou mais artificialmente impostos ~ que um povo, com uma histéria ¢ uma ancestralidade Partilhadas, mantém em co- mum’ (Hall, 1990). Ou seja, um eu coletivo capaz de esta- bilizar, fixar ou garantir 0 pertencimento cultural ou uma “unidade” imutavel que sc sobrepse a todas as outras dife- rengas ~ supostamente superficiais. Essa concepoio aceita due as identidades nfo sio nunca unificadas; que elas sio, na modernidade tardia, cada vez mais fragmentadas e fra- turadas; que elas no ndo sao, nunca, singulares, mas mul tiplamente construidas ao longo de discursos, priticas 6 Posigdes que podem se cruzer ou ser. antagOnicos. As iden- tidades estio sujcitas a uma historicizaglo radical, estando constantemente em processo de mudanga e transformag’o. Precisumos vinculu as discusses sobre id tidade a todos aqueles processos e praticas que tém perturbado o cariter relativamente “estabelecido” de mut s populagdes © culturas: os processos de globalizagio, os quais, eu argu mentaria, coincidem com a modernidade (Hall, 1996), ¢ os Processos de migragiio forgada (ou “livre”) que t@m se tor. nado um fenémeno global do assim chamado mundo pés-co- lonial. As identidadles pareeem invocar uma origem que residiria em um passado hist6rico com o qual elas continue. 108 i : iam a manter uma certa correspondéncia. Elas tém a ver, entretanto, com a questio da utilizagio dos recur os da historia, da linguagem e da cultural para a produlgéo nao daquilo que nés somos, mas daquilo po qual nos tornamos. ‘Tém a ver nio tanto com as questées'“quem nés somos” ou ‘de onde nés vemos", mias muito inais com as questées “quem n6s podemos nos. tornar”, “tomo nés tentos sido representados” e “como essa representecio afeta a forma como nés podemos representar a ngs préprios”. Blas tem. tanto a ver com a invengdo da tradigag quento com. alpropria tradigiio, a qual elas nos aa ler nfo como uma incessante reiteragéo mas como “o mesmo que se transfor- ma’ (Gilroy, 1994): noo assim chamatlo “retorno Astaizes”, mas uma negociagio com nossas “rotas”* Elas surgem da narrativizagao do eu, mas'a natureza necessariamente fic. cional desse processo néo diminui, de forma alguma, sua eficdcia discursiva, material ou politita, mesmo qué a sen- sagio dé pertencimento, ou seja, a “suturagio Ahistéria” por meio da qual as identidades Surgem, esteja, em parte, no imaginério (assim como no simbélico) e, Portanto, sempre, Gm Parte, construfda na fantasia ou, 40 menos, no interior de um campo fantasmatico, | E precisamente porque as identidades sio construfdas ] dentro € nao fora do discurso que és precisamos com- | preendé-las como produzidas em locals hist6ricos ¢ insti cionais especificos, no interior de formagées e praticas | discursivas especilicas, por estratégias ¢ iniei tivas espect- ficas. Além disso, elas emergem no|interior do jogo de | ‘fodalidades espeetficns de poder e si, assim, mais.0 pro. | duto da marcagio da diferenca e da extlusio do que 0 signo de uma unidade idéntica, naturalmente constituida de uma “jdentidade” em seu significado tradicional ~ isto é, uma mesmidade que tudo inelui, uma identidade sem costuras, inteiriga, sem diferenciagio intema. | 109 ‘Acima de tudo, e de forma diretamente contréria aquela pela qual elas so constantemente invocadas, as identidades so construfdas por meio da diferenga e nao fora dela. Isso implica o reconhecimento radicalmente perturbador de que 6 apenas por meio da relagio com o Outro, da relagéo com aquilo que nao é, com precisamente aquilo que falta, com aquilo que tem sido chamado de seu exterior constitu- tivo, que 0 significado “positive” de qualquer termo — e, assim, sua “identidade” - pode ser construfdo (Derrida, 1981; Laclau, 1990; Butler, 1993). As identidades podem funcionar, ao longo de toda a sua histéria, como pontos de identificacao e apego apenas por causa de sua capacidade para excluir, para deixar de fora, para transformar o diferente em “exterior”, em abjeto. Toda identidade tem, A sua “mar- gem’, um excesso, algoa mais, A unidade, ahomogeneidade interna, que o termo “identidade” assume como fundacional nao é uma forma natural, mas uma forma construida de fechamento: toda identidade tem necessidade daquilo que Ihe “falta” — mesmo que esse outro que Ihe falta seja um outro silenciado ¢ inarticulado. Laclau (1990) argumenta, de forma perstasiva, que “a constituigio de uma identidade social 6 um ato de poder”, pois se uma identidade consegue se efirmar é apenas por meio da repressio daquilo que a ameaga. Derrida mos- trou como a constituigio de uma identidade esta sempre aseada no ato de exchuir algo e de estabelecer uma violenta hierarquia entre os dois pélos resultantes ~ homemy/mulher ete. Aquilo que é peculiar ao segundo jm reduzido - em oposigio i essencialidade doprimeiro~a fungio de um acidente, Ocorre amesma coisa com at relagiio negrofbranco, na qual 9 branco & bviamente, equivalente a “ser humano”. “Mulher” e “negro” sio, assim, “marcas” (ist é, termos marcados) em ‘coun os terms io-mareados “homent” €"bra- at, 1990: p. 33). termo Assim, as “unidades” que as identidades proclamam sio, na verdade, construidas no interior do jogo do poder 10 : | | ¢ da exclusio; elas sio 0 resultado nfo de uma totalidade ‘naturalinevitavel ou primordial, mas\de um processo natu- ralizado, sobredeterminado, de “fechamento” (Bhabha, 1994; Hall, 1993). Se as “identidades” s6 podem ser lidas a: contrapbo, isto &,ndo como aquilo que fixa.o jogo da diferenca em um ponto de origem e estabilidade, mas como aquilo que é construido na différance ou por meio dela, send constantemente de: sestabilizadas por. aquilo.que deixam, de fora, comp pode- ‘mos, entio, compreender seu significado e como ppdemos teorizar sua emergéncia? Avtar Brah (1992, p. 143), em seu importante artigo “Diferenga, diversidade e diferenciagao”, levanta uma série de importantes questdes que esses novos modos de conceber a identidade colocam: ‘Apesar de Fanon, 6 ainda necesséo trabalhar muito sobre 2 questio de como 0 “outro” racializado é constitufdo no domfnio psiquico. Como se devel analisar a subjetividade ‘pés-colonial em sua relagiio com 9 género e com a raga? O privilegiamento da “diferenca sexual” e da primeira infan- cia na psicanglise limita seu vhlor explicativd para a ‘compreensio das dimens6es ptfquicas de fenémenos sociais tais como o racismo? Delque forma a “diferenca sexual” e a ordem social se articulam no processo de formagio do sujeito? Em outras palavras, de que forma se deve teorizar o vinculo entre a realidade social e a ealida- de psiquica? (1992, p. 142) | | © que se segue é uma tentativa de comecar a responder este conjunto critico mas perturbador de questées, Em meus trabalhos recentes sobre este t6pico, fiz uma apropriagao do termo “identidade” que nao é, certamente, partilhada por muitas pessoas ¢ pode ser mal compreendida. Utilizo o termo “identidade” para significar 0 ponto de en- contro, o ponto de sulura, entre, por um lado, os discursos cas priticas que tentam nos “interpelar”, nos falar ou nos convocar para que assumamos nossos lugares como'os su- un jeitos sociais de discursos particulares e, por outro lado, os processos que produzem subjetividades, que nos constroem como sujeitos aos quais se pode “falar”. As identidades sio, pois, pontos de apego temporirio as posigdes-de-sujeito que as priticas discursivas constroem para nés (Hall, 1995). las sio o resultado de uma bem-sucedida articulaggo ou “Bixagio” do sujeito ao fluxo do discurso — aquilo que Stephen Heath, em seu pioneiro ensaio sobre “sutura”, chamou de “uma interseegio” (1981, p. 106). “Uma teoria da ideologia deve comegar nio pelo sujeito, mas por uma descrigio dos efeitos de sutura, por uma deserigio da efetivacio da jungio do sujeito as estruturas de significagao”, Isto 6, as identida- des sto as posigdes que 0 sujeito é obrigado.a assumir, embora “sabendo” (aqui, a linguagem da filosofia da cons- ciéneia acaba por nos trait), sempre, que elas sio repre- sentagdes, qu struida ao longo de uma “fall na divisiio, « partir do lugar do. Outro e que, assim, a, ser ajustadas — idénticas —aos processos de sujeito que sio nelas investid Se uma suturagi do sujeito a uma posi exige nao apenas que o sujeito seja “convocado”, mas que © sujeito invista naquela posigio, entio a suturagio tem que ser pensada como uma articulagao e nio como um processo iv podem, nun unilateral. Isso, por sua vez, coloca, com toda a forga, a identificugio, se nfo as identidades, na pauta teorica. As referéncias ao termo que desereve 0 “chamamento” do sujeito pelo discurso ~ “interpelagio” — nos fazem lem- brar que essa discussdo tem uma pré-hist6ria importante e incompleta nos argumentos que foram provocados pel ensaio de Althusser “Os aparelhos ideol6gicos de Estad (1971). Esse ensaio introduziu o conceito de interpelagéo ¢ a idéia de que a ideologia tem uma estrutura especular, numa tentativa de evitar 0 economicismo e 0 reducionismo das teorias marxistas clissicas sobre a ideologia, reunindo ‘em um tinico quadro explicativo tanto a fungio mater ne | | da ideologia na reprodugao das relagdes sociais de produgao (marxismo) quanto a fungao simbélicd da ideologia nia cons- tituigao do sujeito (empréstimo feito a Lacan). Michele Barret deu, recentemente, uma importante contribuiglo para essa discusséo, ao demonstrar a “natureza profunda- mente dividida ¢ contraditéria do. arg nento que Althusser estava desenvolvendo”. Segundo ela, “havia, naquele en- saio, duas soluges separadas, relativamente ao dificil pro- blema da ideologia, duas solugGes que, desde entio, tem sido atribuidas a dois diferentes pélos{ (Barret, 1991, p. 96). Nio obstante, mesmo que, néo tivesse sido bem-sucedido, o ensaio sobre os aparelhos ideolégicos de Estado assinalou um momento altamente importante dessa discussao. Jac- queline Rose, por exemplo, argumenta no seu livro|Sexua- lity in the field of vision (1986) que “a questo da identidade —a forma como ela é constituida e mantida — 6, portanto, a questio central por meio da qual ajpsicanilise entra no campo politico”: i sta questdo da identidade é una das razdes pelas quats a psicanslise lacaniana chegou ~ yia 0 conceito de ideolo- gia de Althusser e por meio de duas trajetérias: a do fe- minismo e a da anélise do cinema ~ a vida intelectual inglesa. O feminismo, porque a questio da fornia como 0 individuos se reconhecem a si préprios coma mascu- linos ou femininos ¢ a exigéncja de que eles assim 0 fagam parece estar em uma relacio extremamente fun- damental com as estruturas de desigualdade e subordi- nagio que o feminismo se propse a mudax. O cinema, porque sua forga como um apayelho ideolégico reside nos mecanismos de identificagio ¢ fantasia sexual dos uals todos nés parecemos participar, mas que,|fora do cinema, siio admitidos, na maioria das vezes, apenas no diva [do psicanalistal. Se a ideologia é eficaz 6 porque ela age nos nfvels mais rudimentarés da identidade e dos impulsos psfquicos (Rose, 1986, p. 5). t Entretanto, se no quisermos ser acusados de abando- nar um reducionismo economicista para cair diretamente us ‘em um reducionismo psicanalitico, precisamos acrescentar que se a ideologia é eficaz 6 porque ela age tanto “nos niveis rudimentares da identidade e dos impulsos psiquicos” quanto no nivel da formagio e das priticas discursivas que constituem 0 campo social; e que é na articulagao desses campos mutuamente constitutivos, mas nao idénticos, que se situam os problemas conceituais reais. O termo “identidade” - que surge precisamente no ponto de in- terseccao entre eles — é, assim, o local da dificuldade. Vale apenaacrescentar que é improvavel que consigamos, algum dia, estabelecer esses dois constituintes [0 psiquico e 0 social] como equivalentes — 0 proprio inconsciente ‘age como a barra ou como o corte entre eles, 0.que faz do inconsciente “um local de diferimento ou adiamento perpé- tuo da equivaléneia” (Hall, 1995), mas nao é por essa razio que cle deve ser abandonado. Oensaio de Heath (1981) nos faz lembrar que foi Michel Pécheux quem tentow des it de acordo com a perspectiva althusseriana e quem, na verdad, registrou o fosso intransponivel entre a primeira e a segunda metades do ensaio de Althusser, assinalando a “forte auséncia de uma articulagéo conceitual entre a ideo- logia c 0 inconsciente” (citado em Heath, 1981, p. 106). Pécheux tentou “descrever o discurso em sua relagéo com os mecanismos pelos quais os sujeitos sio posicionados” (Heath, 1981, p. 101-2), utilizando 0 conccito foucaultiano de formagio discursiva, definida como aquilo que “determi- nao que pode c deve ser dito”. Na interpretagio que Heath faz do argumento de Pécheux: 0s individuos sio constitufdos como sujeitos pela forma- io diceursiva, processo de sujeigio no aval [aproveitando aig do carter especular da constituigio da subjetivi- dade que Althusser tomou emprestada de Lacan] oindi- viduo é identificade como sujeito para a formag! discursiva por meio de uma estrutura de falso reconheci ua . | | ento®(o sujeito & assim, apresentado como seniioa fonte dos significados dos quais, na vdrdade, ele é umlefeito). A {nterpelagio nomeia omecanismo dessa estrutuya de falso reconhecimento; nomeia, na verdade, o lugar do sujeito no discursivo e no ideol6gico — 6 ponto de sua cbrrespon- déncia (1981, p. 101-2). | | Essa “correspondéncia”, entretanto, contin wa inco- modamente nao-resolvida. Embora continuasse a r ‘usado como uma forma geral de descrever p processo pelo qual o sujeito é “chamado a ocupar seu lugar”, 0 conceito de interpelacdo estava sujeito A famosa critica de Hirst. A interpelagdo dependia ~ argumentava Hirst — de um reco- nhecimento no qual, na verdade, se bxigia que o “sujeito”, antes que tivesse sido constitufdo opmo tal pelo discurso, tivesse a capacidade de agir como um sujeito. “Esse algo que ainda no é um sujeito deve jé ter as faculdades neces- sérias para realizar o reconhecimento que 0 constituiré como um sujeito” (Hirst, 1979, p.|65). Este argumento mostrou-se muito convincente a muitos dos leitorés subse- qiientes de Althusser, levando, na verdade, todo o campo de investigagdo a uma interrupgao inesperada. | : Essacritica era certamente impressionante, mas inter- rupgio, nesse momento, de toda inyestigagao, mostrou-se prematura. A critica de Hirst foi impdrtante, ao mostrar que todos os mecanismos que constitufan} 0 sujeito pelo r- 50, por meio de uma interpelagao ¢ por meio da estrutura specular do falso reconhecimento, deserita de acordo com a fase lacaniana do espelho, corriam o risco de pressupor um sujeito jé constitufdo. Entretanto, uma vez que ninguém tinha proposto renunciar & idéia do sujeito como sendo constituido no discurso, como um efeito do discurso, ainda era necessirio mostrar por meio de qual mecanismo—e de uum mecanismo que néo fosse vulnerfvel & acusagio de pressupor aquilo que queria explicar — essa constituigto podia ser efetuada. O problema ficava adiado, mas nio us resolvido. Pelo menos algumas das dificuldades parceiam surgir do fato de se aceitar sem muita discussio a proposi¢ao um tanto sensacionalista de Lacan de que tudo que é cons- titutivo do sujeito nao apenas ocorre por meio desse meca- nismo de resolugéo da crise edipiana, mas ocorre num mesmo momento. A “resolugio” da crise edipiana, na lin guagem extremamente condensada dos evangelistas lac nianos, era idéntica — ¢ ocorria por meio de um mecanismo equivalente — submissio A Lei do Pai, & consolidagio da diferenga sexual, & entrada na linguagem, & formagio do inigonsciente e (ap6s Althusser) ao recrutamento is ideoo- gias patviareais das soviedades ocidentais de capitalise tardio! A idéia mais complexa de um sujeito-em-processo ficava perdida nessas discutiveis condensagdes © nessas equivaléncias hipoteticamente alinhadas (ser que o sujeito Gracializado, nacionalizado ou constituido como um sujeito empreendedor ¢ liberal tardio também nesse momento [de resolugio da crise edipianal?). O préprio Hirst parecia pressupor aquilo que Michele Barrett chamou de “Lacan de Althusser”. Entretanto, como diz cle, “o complexo e arriscado processo de formagio de um adulto humano a partir de um ‘animalzinho' nfo corres- ponde necessariamente ao processo descrito pelo mecanis- mo da ideologia de Althusser (...)@ menos que a Crianca (..) permanega na fase do espelho kicaniana, ou a menos que ns forremos o berco da crianga com pressupostos antropo- l6gicos” (Hirst, 1979). Sua resposta a isso é um tanto per- functoria. “Nao tenho nenhum problema com as Criancas, @ nao quero declaré-las cegas, surdas ou idiotas, simples- mente para negar que elas possuem as capacidades de sujeitos filoséficos, que elas tém os atributos de sujeitos cognoscentes, independentemente de sua formagao ¢ trei- namento como sujeitos sociais”. O que esti em questio, aqui, a capacidade de auto-reconhecimento. Mas afirmar 116 que o “falso reconhecimento” € um atributo puramente cognitivo (ou, pior ainda, “filos6fico”) significa exptessar um pressuposto sem qualquer fundantento. Além disso, 6 pouco proviivel que ele aparega na crianga de um s6 golpe, caracterizando um momento claramente marcado por um “antes” e por um “depois”. i i Parece que os termos da questio foram, aqui, inexplica- velmente, formulados de uma forma ym tanto exagerada. Jo precisamos atribuir ao “animalzinho” individual a pos- se de um aparato filos6fico completo para explicar a razio pela qual ele pode ter a capacidade pars fazer um ‘reqonhe- cimento falso” de si proprio no reflexq do olhar do outro, que é tudo o de que precisamos para colocar em movimento ‘a passagem entre 0 Imagindrio ¢ 0 Sinfbélico, para utilizar ‘os termos de Lacan. Afinal, de acordo dom Freud, para que se possa estabelecer qualquer relagio com um muntlo ex- temo, a catexia basica das zonas de atividade corporal ¢ 0 aparato da sensagio, do prazer e da doy devem estar ja “em agio", mesmo que ém uma forma embrionéria. Existe, jé, ‘uma relagdo com uma fonte de prazer (a relagio com a Mie no Imaginério), de forma que deve existirjaalgo que capaz de “reconhecer” o que é prazer. O préprio Lacan observou, tem seu ensaio sobre 0 estigio do espelho, que “o filhote do homem, numa idade em que, por um curto espago de tempo, mas ainda assim por algum tempo, ésuperado em: inteligén- cia instrumental pelo chimpanzé, ja reconhece nfo obstante como tal sua imagem no espelho”. | | ‘Além disso, a critica parece estar formulada em wna légica bindria: “antes/depois”, “ou isto ou aquilo”. A fase do espelho nfo é 0 comeco de algo, mas a interrupedo ~ aperda, afalta, a divisio—que inicia o processo que “funda” o sujeito sexualmente diferenciado (e 0 inconsciente) ¢ isso depende no apenas da formagio instanténea de alguma capacidade cognitiva interna, mas da ruptura e do deslocamento efetua- uy dos pela imagem que é refletida pelo olhar do Outro. Para Lacan, entretanto, isso é jf uma fantasia—a pr6pria imagem que localiza a crianga divide sua identidade em duas. Além disso, esse momento sé tem sentido em relagdo com a pre- senga ¢ o olhar confortadores da mie, a qual garante sua realidade para acrianga. Peter Osborne (1995) observa que, em “O campo do Outro”, Lacan (1977b) descreve “um dos pais segurando a crianga diante do espelho”. Accrianga langa um olhar em diregio & mae, como que buscando confirma. fo: “ao se agarrar & referéneia daquele que o olha num espelho,o sueito v8 aparecer ndo seu ideal do eu, mas seu eu ideal” (p. 257 [242]). Esse argumento, sugere Osborne, “explora a indeterminagéo que é inerente & discrepancia entre, por um lado, a temporalidade da caracterizagio—feita por Lacan — do encontro da crianga com sua imagem corpo- al no espelho como um ‘estégio’ e, por outro, o caréter pontual dat apresentagio desse encontro como uma cena, Cujo ponto dramético esti restrito as relagdes entre apenas dois ‘personagens’ a crianga e sua imagem corporal”. Ei tretanto, como diz Osborne, das duas uma: ou isso repre- sonta um acréscimo erftico ao argumento do “estdgio do espelho” (mas, nesse caso, por que o argumento no é desenvolvido?) ow isso introduz uma logica diferente eujas implicagées nao so absolutamente discutidas no trabalho subseqiiente de Lacan. A idéia de que niio existe, ali, nada do sujeito, antes do drama eclipiano, constitui uma leitura exagerada de Lacan A afirmagio de que a subjetividade nao esti plenamente constituida até que a crise edipiana tenha sido “r resolvida” nio supde uma tela em branco, uma tabula rasa, ou uma concepeio do tipo “antes e depois do sujcito”, desencadeada por alguma espécie de coup de thédtre, mesmo que ~ coma Hirst corretamente observou = isso deixe sem solugio a ns problemitica relagio entre o “individug” ¢ o sujeito (o que “6” 0 “animalzinho” individual que ainda nao é um. sujeito?). Pode-se acrescentar que a explicagao de Lacan é apenas uma dentre as muitas teorizagdes sobre a formaydo da subjetividade que levam em conta os processos pslquios inconscientes e a relagdo com o outro. Além disso, agora que © “dilivio lacaniano” de alguma forma retocedey ¢ nao existe mais o forte impulso inicial naquela diregio dado pelo texto de Althusser, a discussio se apresenta de uma forma ‘um tanto diferente. Em sua recente e interessante discussio. sobre as origens hegelianas do conceito le “reconhecinen- to” antes referido, Peter Osborne critica Lacan pela “forma pela qual, ao abstrai-la do contexto de stas relagdes com os ‘outros (particularmente, com amie), eleabsolutizaa relagio da erianga com sua imagem”, tomando essa relagio, 20 mesmo tempo, constitutiva da “matriz!simbélica de onde emerge um eu primordial”. Ele diseute, a partir Hessa critica, as possibilidadles de diversas outras variantes (Kris- teva, Jessica Benjamin, Laplanche), as quais nao esto con- finadas ao falso e alienado reconhe¢imento do drama lacantano. Esses sfio indicadores fitets para nos tiger do impasse no qual, sob os efeitos do “Lacan de Althusser", essa discussio nos tinha deixado, quando viamos as meadas do psiquico e do discursivo escorregar de nossas mios. | Eu argumentaria que Foucault também aborda o impas- se que nos foi deixado pela critica que Hirst faz de Althusser, mas a partir da diregio oposta, por assim dizer. Atacindo, de forma enérgica, o “grande mito da interioridade”, ‘e im- pulsionado por sua critica tanto do humanismo quanto da filosofia da consciéncia e por sua leitura negativa da psica- nélise, Foucault também efetua uma radical historicizagio da categoria de sujeito. O sujeito é produzido “como um feito” do discurso ¢ no discurso, no interior de formagoes 9 nio tendo qualquer existéncia pr6- ma continuidade de uma Posiga0-de-sujeito para outra ou qualquer identidade trans. cendental entre uma posicéo e outra. Ne Perspectiva de seu trabalho “arqueolégico” (A. historia da loucura, O: nascimen- to daclinica, As palaoras eas coisas, A arqueologia do saber), 08 discursos constroem — Por meio de suas regras de forma. Sto ¢ de suas “medalidades de ‘enunciagio” ~ posigdes-de-n, Jeito. Por mais convincentes ¢ originais que sejam trabalhos, a criti que thes 6 feita pareoo, ustificada, Flos dao uma deserigdo f Posigdes-de-sujeito no interior do discur: to pouco, em troca, sobre ocupam certas posigdes- Como as posigées sociais dos indie Vidluos interagem com a construgio de certas posigdes-de-su- Jeito discursivas “vazias”, Foucault introduz uma anti- cecal entre as posigdes-cle-sujeito e os individuos que as Scupam. Sua arqueologia dé, assim, umpa descrigio formal critica, mas unidimensional, do sujeito do discurso, As po- Sigbes-de-sujeito discursivas tornam-se categorias q Priori, pyaais 08 individuos parecem ocupar de forme niio-pro- blematica (McNay, 1994, p, 76-7). A importante mudanga no trabalho de Foucault, de um método arqueolégico para um método genealégico, contri- Em especial, 0 poder, que estava ausente da deserigéo mais formalista do discurso, 6 agora introduzido, ocupando uma posiga tral. So importantes, igualmente, as estimulantes Possibi- lidades abertas pela discussio que Foucault faz do duplo cardter — Sujeigio/subjetivacao (assujettisement) do pro- cesso de formacao do sujeito. Além disso, a centralidade da uestio do poder e a idéia de que o préprio discurso éuma 120 ! | «i formagio regulativa e regulada, a entrada no qual é deter- minada pelas (¢ constitutiva das) relagdes de poder que Permeiam o dominio social” (McNay, 1994, p. 87), bazema concepgio que Foucault tem da formicio diseursiva para mais perto de algumas das clssicas quéstées que Althusser tentou discutir por meio do conceito de “ideologia” + sem, obviamente, seu reducionismo de classe, suas conotagdes cconomicistas ¢ seus vinculos com assergdes de verdade. Persistem, entretanto, na drea dal teorizagio sobre ° ‘wieito ea identidade, certos problemas. Uma das implica. des das novas concepgées de poder desenvolvidas no tra- balho de Foucault é a radical “desconstrugio” do corpo —o tiltimo residuo ou local de refiigio dd “Homem” ~je sua “reconstrugao” em termos de formacoés histéricas, genea- logieas ¢ discursivas. O corpo & construido, moldado ¢ temoldado pela intersecgio de uma variedade de Prdticas discursivas disciplinares. A tarefa da enealogia, proclama Foucault,."é a de expor o corpo totalmente mareado pela histéria, bem como a historia que arrufhao corpo” (1984, p. 63). Embora possamos aceitar esse argumento, com)todas as suas implicagGes radicalmente “construcionistas’ ig cor- Po torna-se infinitamente maledvel ¢ contingente), no es- tou certo de que possamos ou devamos ir tio Jonge a ponto de declarar como Foucault que “nadandhomem nem mes. _mose 0 — é suficientemente estavel para servir deb ara 0 auto-reconheciment Outros homens”, Isso nao porque o corpo se consti “um referente realmente estavel e verdadeiro para o proceso de antocompreensio, mas porque, embora possa se tratar dle um “also reconhecimento”, é precisamente sob essa forma que 0 corpo tem funcionado como o significante da condensagiio das subjetividades no individuo e essa funcio nao pode ser descartada apenas porque, como Foucault tao bem mostra, ela no é “verdadeira”, i 121 Além disso, o meu préprio sentimento 60 de que, apesar das afirmag6es em contrério de Foucault, sua invocagao do corpo como o ponto de aplicacéo de uma variedade de pré- ticas disciplinares tende a emprestar & sua teoria da regula- go disciplinar uma espécie de “concretude deslocada ou mal colocada”, uma materialidade residual, a qual acaba, dessa forma, por agir discursivamente para “resolver” ou aparentar resolver a relagao, indeterminada, entre 0 sujeito, © individuo e 0 corpo. Para dizé-lo de forma direta, essa “materialidade” junta, por meio de uma costura, ou de uma “sutura’, aquelas coisas que a teoria da produgio discursiva de sujeitos, se levada a seus extremos, fraturaria e dispérsa- ria de forma irremediével. Penso que “o corpo” adquiriu, na investigagio pés-foucaultiana, um valor totémico, precisa- mente por causa dessa posigaio quase magica. E praticamen- te 0 tinico trago que resta, no trabalho de Foucault, de um “significante transcendental”. A critica mais séria tem aver, entretanto, com o proble- ‘ma que Foucault encontra ao teorizar a resisténcia na teoria do poder desenvolvida em Vigiar ¢ punir ¢ em A hist6ria da sexualidade. Tem a ver também com a concepgio do sujeito inteiramente autopoliciado que emerge das modalidades disciplinares, confessionais ¢ pastorais de poder discutidas nesses trabalhos, bem como com a auséncia de qualquer exagin sob poderia, de alguma forma, int romper, impedir ou perturbar a tranqiila insergio dos in viduos nas posigées-de-sujeito construfdas por esses dis- cursos. Conceber 0 corpo como submetide, por meio da “alma’, a regimes de verdade normalizadores, @ uma ma- neira produtiva de se repensar a assim chamada “material dade” do corpo — uma tarefit que tem sido produtivamente assumida por Nikolas Rose ¢ pela “escola da governamen- talidade”, bem como, de uma forma diferente, por Judith Butler, eum Bodies that matter, 1993. Mas é dificil deixar de 122 \ questionar a concepgéo do préprio| Foucault de que os sujeitos assim construfdos sao “corpos déceis” & todas as implicagdes que isso acarreta. Nao ha nenhuma teorizagio sobre as razées pelas quais 0s corpos deveriam, sempre ¢ incessantemente, estar a postos, na hora exata—exatamente 0 ponto do qual a teoria marxista clégsica da ideolggia co megou a se desembaracar e a préprip dificuldade que Al- thusser reintroduziu quando ele, normativamente, | defini 1 fungio da ideologia como sendo|a de “reproduzir as relagdes sociais de produgio”. | Além disso, néo hé nenhuma teorjzagio sobre of meca- nismos psfquicos ou os processos interiores que jpodem fazer com que essas “interpelagdes” autométicas sejam pro- duzidas ou, de forma mais: importante {que podem fazercom que elas fracassem ou encontrem resjsténcia ou sejam ne- gociadas. Mesmo considerando o trabalho de Foucaiilt, sem duvida, como estimulante e produtivo, podemos dizer que, nesse caso, ele “pula, muito facilmente, de uma descricéo_ do poder disciplinar 6 s formas de controle social para uina formulagio de poder. diseiplinar como uma forga monolitica plenamente instala- da—uma forga que satura todas as relagGes sociais. Isso leva ‘a.uma superestimagdo da eficécia do poder disciplinar e a uma compreensio empobrecida do individuo, o que impede que se possa explicar as experiéncias que escapam ao terre- no do ‘corpo déci!” (McNay, 1994, p.'104). i Que isso se tornou ébvio para Foucault torna-se eviden- te na nitida e nova mudanga em seu trabalho, representada pelos tiltimos (e incompletos) volumes da assim chamada “Hlistéria da sexualidade” (O uso dos prazeres, 1987; O cuidado de si, 1988, e, tanto quanto podemos deduzir, volume inédito e importantfssimo - do ponto de vista da critica que acabamos de revisar ~ sobre “As perversoes”). Pois, aqui, sem se afastar muito de seu inspirado trabalho 123 \ ia das modernas | sobre 0 carter produtivo do processo de regulag’ {iva (nenhum sujeito fora da Lei, como expressa Judith Butler), ele tacitamente teconhece que nao é suficiente que a Lei convoque, discipline, produza e regule, mas que deve haver também a correspondente produgio de uma resposta ~ © portanto, a capacidade e o aparato da subj lade — por parte do sujcito, Em sua introdugio critica ao livro O ‘uso dos praceres, Foucault faz uma lista daquelas coisas que, Resse momento, poderfamos esperar de sew trabalho (“a correlacdo entre campos de saber, tipos de normatividade e formas de subjetividade”, em uma cultura particular), mas agora criticamente acrescenta | 88 priticas pelas quais os individuos foram levados a: ‘pres- | tar atengio a eles préprios, a se decifrar, ase reconhecer € se confessar como sujeitos de desejo, estabelecendo de si { Paraconsigo uma certarelagio que lhes permite descobrit, no desejo, averdade de seu ser, seja ele natural ou decafdo. Em suma, a idéia era a de pesquisar, nessa genealogia, de que maneira os individuos foram levados a exercer, sobre eles mesmos ¢ sobre os outros, uma hermenéuticn do desejo (Foucault, 1987, p.5[11), Foucault descreve isso ~ corretamente, em nossa opi- = como uma “terceira mudanga, uma mudanga que ermitiria analisar aquilo que se chama de “o sujeito”. Pa- receu-lhe necessério examinar quais sio as formas e as modalidades da relagéo com 0 eu pelas quais 0 individuo se constitui e se reconhece qua sujeito. Foucault, obviamente, no faria realmente uma coisa tao vulgar como a de invocar @.termo “identidade”, mas com a “relagio com o eu” e a constituicao e o reconhecimento de “si mesmo” qua sujeito, estamos nos aproximando, penso eu, daquele territ6rio que, hos termos anteriormente estabelecidos, pertence, legiti- ‘mamente, 3 problemitica da identidade __ Este niio¢ 0 lugar para explorar os muitos e produtivos insights que surgem da andlise que Foucault faz dos jogos 124 (St. Ane nance spe | de verdade, do trabalho ético, dos regimes de autoela iio ¢ automodelagio e das “tecnologia do cu” envolvidas na constituigéo do sujeito desejante. Ndo existe, aquil cer- tamente, nenhuma conversio, por parte de Foucault, que re-instaure qualquer idéia de “agéncia’| de intengao gu de voligéo. Mas hi, aqui, sim, uma consideragio das praticas de liberdade que podem impedir que esse sujeito se torne, para sempre, simplesmente um corpo sexualizado décil. Ha a produgéo do,eu como um cies do mund priticas de autoconstituigao, o reconhecimento e a réfl a relago com a regra, juntamente com fp atengéo escrupu- Tosa a regul normativa e com os constrangimentos das regras sem 0s quais nenhuma “subjetivagio” é produzida. ‘Trata-se de um avango importante, uma vez que, sem es- ‘quecer a existéncia da forga objetivamesite disciplinary Fou- cault acena, pela primeira vez em sia grande obra, & * existéncia de alguma paisagem interior do sujeito, de alguns mecanismos interiores de assentimento|a regra, 0 que livra essa teorizagio do “behaviorismo” e do objetivisma que ameagam certas partes de Vigiar e punir|A ética eas préticas do eu so, muitas vezes, mais plenamente descritas por Fo cault, nas suas iltimas obras, como uma “estéticadaexistéhcia”, como uma estilizagio deliberada da vida cbtidiana. Além isso, as tecnologias af envolvidas aparecem miais sob a forma de préticas de autoprodugio, de'modos espeeificos de conduta, constituindo aquilo que aprendemos a reconhecer, em in- vestigagdes posteriores, como a de Judith Butler, por exem- plo, como uma espécie de performatividade i O que vemos aqui, pois, na minha opiniio, é Foucault sendo pressionado, pelo escrupuloso rigor de seu priprio pensamento e por meio de uma série de mudangas concei- tuais, efetuadas em diferentes fases de seu trabalho, a se mover em diregao ao reconhecimento dé que— uma vez que © descentramento do sujeito nao significa a destruigao do as 125 Pelas quais regulam.a simesmos — fazendo-lhes resisténcia, hegociando-as ou acomodando-as, In, suma, 0 que flea 6a exigéncia de se pensar essa relacao do Sujeito com as forma- bes discursivas como, unaarticulagdo (todas as ar ticulagdes sto, mais apropriadamente, relagdes “sem qualquer corres, Pondéncia neces a”, isto 6, fundadas naquela continggn. cia que “reativa o histérico” Laclau, 1990, p, 35), , portanto, ainda mais fseinante os ar que, quando Foucault, finalmente, ndo dio passo decisivo nessa direcaio (no Wabalho que foi, : tragicamente interrompido), ele i | € impedido, obviamente, de recorrer a uma das Principais fontes de pensamento sobre esse negligenciado aspectd, isto 6, a psicanilise; ele é impedido, pela sua prépria criti , de ir naquela diregao, j4 que ele via a psicanilise como sendo simplesmente mais uma rede de relagd isciplinares de poder. O que ele produz, em vez disso, 6 tmafenomenologia discursiva do sujeito (voltando, assim, talvez, a fontes ein- que corre o risco de ser atropelada Por ua énfase exagera- Porta jé estava, para ele, fechada. | Felizmente, ela no permaneceu fechada. Em Gender trouble (1990) ¢, mais especialmente, em Bodies that matter (1993), Judith Butler analisa, por meio de sua preocupagio com “os limites discursivos do sexo” e ¢om as politicas do feminismo, as complexas transag6es ent osujeito, odorpo e a identidade, ao reuniz, em um tnicd quadro tico, concepgses foucaultianas e Perspectivas psicanaliticas. Adotando a posigao de que o sujeito ié discursivamente construfdo e de que nao existe qualquer sujeito antes oi fora a Lei, Butler desenvolve o argumento He que | 2 categoria do “sexo” 6, desde o inicio, normative: ela & aauilo que Koucault chamou de “ideal regulatno”: Nessa sentido, pois, o sexo nio apenas funciona como ua norma, dae gate cle umaprética regulatéis que produz os corper ave governa, isto €, toda forga regulatéiia manifests so cory las espécio de poder proclutive, 0 poder de preduc demarea circulu; diferenciar ~ 06 corpos que Conteh © 1820" € um construto ideal que & forgossmente matcric Haado através do tempo (Butler, 1999, pIf153-1). A materializagao 6, aqui, repensada como um efeito de odler.A visio de que o sujeito é produrido novia tego, materializagio estd fortemente fundamentada em uma teo- ria performativa da linguagem edo sujcito, masa performa- tividade é despojada de suas associagdes coma voligao, com a escolha © com a intencionalidade, sendo relida (contra algumas das interpretages equivocadas de Gender trouble) ‘no como oato pelo qual um sujeito traz a existéncia aquilo que cla ou cle nomeia, mas, ao invés disso, como aquele poder reiterativo do discurso para produzir os fenémenos que ele regula ¢ constrange” (Butler, 1993, p. 2 [155)). A mudanga decisiva, do ponto de vista do argumento aqui desenvolvido, 6, entretanto, a ligugio que Butler fyz do ato de ir” questao da identificagiio e com os meios discursivos pelos quais o imperativo heteros- sexual possibilita certas identificagdes sexuadas e impede ou nega outras identificagdes” (Butler, 1993, p.5 [155]. Esse centramento da questo da identificagio, juntamente com a problematica do sujeito que “assume um sexo”, abre, no trabalho de Butler, um dilogo critico e reflexivo entre Fou- cault © a psicandlise que é extremamente produtivo. E verdade que Butler ndo fornece, em seu texto, um meta-ar- gumento teérico plenamente desenvolvido que descreva como as duas perspectivas, ou a relacdo entre o discursivo €opsiquico, devem ser “pensadas” de forma conjunta, além de uma sugestiva indicagao: “Pode haver uma forma de sujeitar a psicandise a uma reelaboragao foucaultiana, mes- ‘mo que 0 proprio Foucault tenha recusado essa possibilida- de”. De qualquer forma, este texto aceita como ponto de partida a idéia de Foucault, de que opader regulat6rio produzos sujeitos que controla, ue o poder nio é simplesmente imposto externamente, mas que funciona como 0 meio regulatério e normative pelo qual os sujeitos sio formados. O retomo a psicandlise € orientado, pois, pela questio de como certas normas regulat6ricsformam um sujeito “sexuado”, sob condigées que tornam impossivel se distinguir entre a formagio psfquica ea formagio corporal (1993, p. 23) 138 A relevincia do argumento de Butler é ainda jmais pertinente, entretanto, porque 6 desentolvido no contexto da discussio sobre o género ea sexualidade, feita no quadro te6rico do feminismo, remetendo, assim) diretamente, tanto &s questdes sobre identidade e sobre politica de identidade quanto as questées sobre a fungao parddigmética da/dife- renga sexual relativamente aos outros eixos de exclusio, tal como ressaltado no trabalho de Avtar Brah, anteriormente mencionado. Butler apresenta, aqui, ofeonvincente argu- mento de que todas as identidades fun¢ionam por meio da exclusio, por meio da construgio discursiva de um exterior constitutivo e da produgao de sujeitos abjetos e marginali- zados, aparentemente fora do campo dp simbélico, do re~ presentivel (“a produgio de um ‘exterior’, de um dominio de efeitos inteligiveis” [1993, p. 22]), o qual retorna, entao, para complicar e desestabilizar aquelas foraclusdes que nés, . prematuramente, chamamos de “identidades”. Ela formula esse argumento, de forma eficaz, em relacao a sexualizacao € A racializagio do sujeito ~ um argumgnto que precisa ser desenvolvido, para que a constituigao dos sujeitos por meio dos efeitos regulat6rios do discurso racial adquira a iinpor- tancia até aqui reservada para o género e a sexualidade (embora, obviamente, seu exemplo mais trabalhado Seja 0 da produgio dessas formas de abjecio sexual geralmente “normalizadas” como patolégicas ou perversas). _ Como observou James Souter (1995), “a critica interna que Butler faz da politica de identidade feminista e de suas premissas fundacionais questiona a adequagio de uma po- Iitica representacional cuja base é a juniversalidade e a unidade presum{veis de seu sujeito — a categoria unificada sob 0 rétulo de ‘mulheres”. Paradoxalmente, tal como ocor- re com todas as outras identidades, quando sao tratadas, politicamente, de uma maneira fundacional, essa identida- de “esta baseada na exclusio das mulheres ‘diferentes’ ¢ no | privilegiamento normativo das relagées_heterossexuais como a base de uma politica feminista”, Essa “unidade”, argumenta Souter, 6 uma “unidade ficticia”, produzida e Constrangida pelas mesmas estruturas de poder por meio das quais a emancipagao é buscada”. Significativamente, entretanto, como Souter também argumenta, isso ndo leva Butler a argumentar que todas as nogées de identidade deveriam, portanto, ser abandonadas, por serem teoriea, mente falhas. Na verdade, ela accita a estrutura especular da identificagiio como sendo uma parte de seu argumento. Mas ela reconhece que um tal argumento sugere, de fato, “os limites necessarios da politica de identidade”: a Neste sentido, as identificagdes pertencem ao imasgindio, Clas sio esforgos fantasmaticos de alinhamento, de lealdar de, de coabitagées ambiguas e intercorporais. Elas deses. tabilizam 0 eu; elas sio a sedimentagio do “nos” na Constituigdo de qualquer eu; elas constituem a estrutura so presente da alteridade, contida na formulagio mesma 1 do eu. As identificagdes nfo slo, nunca, plenamente finalmente do incessantemente reconstituldas ©, como tal, estio sujeitas & logica volatil da iterabilidade ‘Eh slo aquilo que & constantemente arregimentae, consolidaclo, reduzido, contestado e, ocusionalmente, obi, gado a capitular (1993, p. 105), © esforco, agora, para se pensar a questo do cariter distintivo da légica pela qual o corpo racializado ¢ etnicizado € constituido discursivamente — por meio do ideal normati- vo regulatério de um “eurocentrismo compulsive” (por falta de uma outra palavra) ~ nao pode ser simplesmente ener, tado nos argumentos brevemente esquematizados acima. Mas cles tém recebido um cnormee itl impulso desse enredaclo ¢ inconcluso argumento, que demonstra, sem qualquer sombra de dlivida, quea questio ea teorizagio da identidiade ¢ um tema de considerivel importaneia politica, ue 86 poder avangar quando tanto a necessidace quanto a “impossibilidade” da identidade, bem como a suturae 130 do psiquico e do discursivo em suaconstituicao, forem: plena ¢ inequivocamente reconhecidos. | Notas a ” LL. “Agéncia” 6, aqui, a tradugio do termo “agency ,”, amplamente utilizado na literatura de teoria : social anglo-saxénica para desi ir oelemento ativo da agho, individual. Ver Tomaz ‘Iadeu da Silva. Teoria cultural e educagdo. On vocabu- i Uério eitco. Belo Horlaonte: Auténtca, 2000 (N. do). | 2. Jogo de palavras, intraduzivel, entre “roots” (ages) e “routes” rota, eami- thos) (N. do T). | . 4 inn neoprene! ¢duzides, ambos, em ger, na literatura psicanalites, por “desconhodiment 4 Por considerar que o portugués “desconhecimenfo" nio expressa x idéia “conhecimento” ou “reconhecimento” Slusério al falso que estd contida na palavra inglesae na francesa, prefer traduzie por pe reconhodimehte, Referéncias bibliograficas | i ALTHUSSER, L. Lenin and Philosophy i Other Essays. Lon- dres: New Left Books, 1971. BARRETT, M. The Politics of Truth. BHABHA, H. The Other Question, Londres: Routledge, 1994. he ' : vere i po. BRAH, A. Difference, diversity and differentiation, in: NALD, J. & RATTANSI, A. (orgs,). Race, Culture and Diffe- rence. Londres: Sage, 1992: 126-45. | | BROWN, B. & COUSINS, M. The linguistic fault, Econoiny and Society, 9(3), 1980, | BUTLER, J. Gender Trouble. Londres: Reuledge, 1960. —. Bodies That Matter. 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