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Walt Copyright ° 2023, Metanoia Editora Editora Léa Carvalho Capa Design: MaLu Santos Fotografias: DEGAS! E: Divulgagao/Governo do Rio Projeto grafico MaLu Santos Revisora Clarissa Batista CIP-BRASIL. CATALOGAGAO NA PUBLICAGAO, SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P245 Parcerias : entrelagos na socioeducacao / organizagéo Hebe Signorini Goncalves Fernanda Bottari Lob&o dos Santos. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Metanoia, 2023.. 244 p.; 23cm Inclui bibliografia ISBN: 9786586137842 4. Sociologia educacional. 2. Psicologia educacional. |. Gongalves, Hebe Signorini. ll. Santos, Fernanda Bottari Lobao dos. III. Titulo. 23-66415 CDD: 370.115 CDU: 37.013.78 Gabriela Faray Ferreira Lopes - Bibliotecaria - CRB-7/6043 Todos tora podiens 7 os direitos reservados, Nenhuma parte deste livro, sem autorizagao prévia por escrito da Ed) " uuilade ou repradusida - em qualquer meio ou forma, seja MecAnico ou eletOnico, fotocopla, SW ‘as de dados. Letan ‘ANO1A Rua Santiago, 319/102 © Penha Rio de Janeiwe RY Cop: 21020-400 Jaleconoscommetanoiaediora.cont 21-4030.0903 | & 21 90478-5384 Jo, vite. = Ne aproptiads ou estocada em sistema de Associada: Higa Brasileita de Editors - www.libre.org.br Sind kc indicalo Nacional dos Editores de Livios (SNEL) - www.snelLorg.bF MARIANA RODRIGUES BARBOSA MIGUEL LACERDA NETO WILLIAM PEREIRA PENNA RAPHAEL THOMAS FERREIRA MENDES PEGDEN ANA SAAD CAMPOS INTRODUCAO A grande maioria dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas € negra, sendo tal dado frequentemente naturalizado € pouco questionada sua génese histérica ¢ social. Apés seis anos de duragao do projeto Parcerias junto ao sistema socioeducativo, sentimos que se faz urgente trazer a tematica étnico- racial como foco de pesquisa. Percebemos que no cotidiano das atividades do projeto os adolescentes em cumprimento de medida eos agentes socioeducativos da unidade de internagao do DEGASE pouco evocaram este tema. O préprio sistema socioeducativo contribui para o esvaziamento dessa discussio quando nao disponibiliza informagées acerca do perfil racial dos adolescentes que cumprem medidas (MAPA DO ENCARCERAMENTO, 2015). Neste cendrio, fazer uma andlise das relagdes raciais nesse local nao constitui uma tarefa facil. Por insuficiéncia de dados e de trabalhos que abordem diretamente este tema, circunscrevemos nossa discussio a partir de outros dados estatisticos. Fizemos um levantamento sobre a populagao negra que embasa a discussio ¢ levamos em consideragio os dados contidos nos seguintes documentos: Mapa do encarceramento: os jovens do Brasil (2015) e Infopen (2014). OU + FAR UCSD © EIT iayie lie Ao longo da pesquisa percebemos que, apesar de ser conhecido 0 fato di unidadesde internagao do Sistema Socioeducativoabrigarem majoritariamen, jovens pobres negros moradores da periferia e das favelas, S40 escassos ¢ dados sobre o perfil dos jovens internados. O Mapa do encarceramento ¢ 2015 tomou como objetivo a observagao de uma perspectiva amplificada d populagéo carceriria, levantando dados sobre a relagao entre a vulnerabitidad da populacao jovem negra ¢ os sistemas prisionais do pais. No que se refere socioeduc: 10, o relatério é diretivo: informacao sobre o perfil dest adolescentes, quando ocorre, restringe-se somente aos dade superficiais, como 0 ato infracional cometido € 0 mimero adolescentes por unidades. Inexistem informagées sobre, pc exemplo, o perfil racial € etadrio, que possibilitariam a anili de qual a faixa etéria da maioria destas pessoas. (MAPA Di ENCARCERAMENTO, 2015, p.8) Percebe-se que a coleta de Se os dados acerca da cor, raga ¢ etnia da populagao atendida nas unidade socioeducativas sio praticamente inexistentes, a auséncia de um censo qu trate da questio é reflexo de um contexto maior. Dada a insuficiéncia desse dados no sistema socioeducativo, buscamos informagées sobre a presen¢ da populacéo negra no sistema carcerario, apostando numa _perspectiv comparada, de modo que 0 estudo sobre o perfil do encarcerado no sistem penal possa oferecer pistas sobre a composicao do perfil do adolescent atendido na socioeducagéo. Como apontam os trabalhos de Adorno (1996 € Neri (2009), apesar do Sistema Socioeducativo agir sob as diretrizes d. Estatuto da Crianga ¢ do Adolescente (ECA), que regula a aplicagao ¢ medidas para os atos infracionais, na pratica, as instituigdes de internaci cumprem uma fungao similar ao sistema carcerdrio, teproduzindo a légic penal. : Segundo 0 Mapa do encarceramento (2015), 0 percentual de pres negos € proporcionalmente superior & quantid: Pei ceo cas do J9GE GOTO on ngs pet or ae ea ira, enquanto 0 relatério do Jufopen (2014) mostt: ee eee flees negras ho sistema prisional é de 67%. [2 See ae peo Porcentagens inconcilidvel* eo pope gto brasileira ~ cuja discussie 90° dessescensos ~ no podemon deiear de comida on Bor cae € proporcionalmente maior do que a de brancos. Tale deo cece | existéncia de uma légica racista, que marginaliza ¢ criminaliza a popalsc® lade de brancos encarcerados negra brasileira. Recorrendo ao conceito de racismo institucional, & possivel situar esses dados em um contexto ampliado, que diz respeito & organizacio diferenciada de espagos, papéis, beneficios © oportunidades conforme a perspectiva racial. Segundo Lopez (2012), O racism institucional (...) atua de forma difusa no funcionamento cotidiano de instituigoes organizadas, que operam de forma diferenciada na distribuigio de servigos, beneficios e oportunidades aos diferentes segmentos da populacio do ponto de vista racial. Ele extrapola as relagdes interpessoais e instaura-se no cotidiano institucional, inclusive na implementagao efetiva de politicas piblicas, gerando, de forma ampla, desigualdades inquietantes. (p.127) Sob esse enfoque, o sistema carcerdrio, juntamente com os operadores juridicos que Ihe dio forma ¢ existéncia, seria um dos maiores exemplos dos processos da discriminagao que se exercem no Brasil. Cabe, porém, refletir sobre seus efeitos no DEGASE. Para entender a desigualdade étnico-racial nessa esfera, podemos ainda recorrer aos trabalhos que descrevem o modo pelo qual se produziram politicas de segregagéo que culminaram em processos de naturalizagio da ldgica racista. © texto que se segue iri trabalhar 0 tema do racismo enderecando-o ao contexto do DEGASE. Faremos, assim, uma reflexdo histérica sobre 2 mninalizacdo da populacio negra, entendendo que o tema exige referéncia «nosso passado escravocrata, bem como 3 manutengio do racismo no modo “le fanctonamento da nossa sociedade atual, Serd necessatio, portanto, tragar linhas que conectem o passaco da exploracio do povo negro 20 atual context marcado pela segregacio ¢ marginalizacio, ¢ sublinhar os diferentes modos is de sujeicao, apropriagio ¢ controle empregndos na dominagio mo no interior do ¢ estratégi dos negros, Na sequéncia, buscaremos relletir sobre o re c partir dos didrios de campo produzidos pelo projeto Parcerias. oedeang ' VATU venve 0 CORPO CATIVO O ordenamento politico, social € economico brasileiro estruturous sobre a escravidao, e para tal, capturou © povo negro cm diferentes regime de poder: a violéncia foi além da agressao Fisica ea ae om * « Ke i e subjugar a vida da populacio negra. o castigo, wee P > qua 3 XerCi: a violencia sobre 0 corpo negro, também produzia Se correci: e prevengao contra variados tipos de rebeldia. “Mesmo ap! a lo a0 corp individual, 0 castigo produzia efeitos coletivos j4 que pretendia Constrange a comunidade escravizada 4 obediéncia (LOBO, 2008). O uso da violéncia para além da posse sobre 0 corpo negro, deve ser examinada como pratica qu visava moldar o individuo com vistas a transformar 0 corpo cativo em um: maquina de trabalho a servigo da légica escravocrata. Mesmo apés a abolicéo as formas de apropriagéo do corpo negr ganharam outros contornos e passaram a se definir nao tanto pela violénci fisica, mas principalmente através do discurso higienista, que constitui um modelo eugenista como nova estratégia de sujei¢éo da populagao negr no Brasil. Desde entdo, a imagem do negro como “elemento perigoso (... seria aos poucos construfda com o auxilio de nossos intelectuais a partir d absor¢ao de um modelo racial de cunho bioldgico, 0 que permitiu expo! em um segundo momento, o negro como um problema para a sociedad brasileira.” (MARTINS, 2014, p. 277). Em suma, o higienismo desloco' © centro da dominagao: da mercantilizagao do corpo negro, passamos a su higicnizagio. Sendo assim, queremos destacar 0 papel do discurso higienist na institucionalizagao da opressio racial no Brasil. 0 CORPO HIGIENIZADO Segundo Souza Lima (201 1), durante o perfodo colonial, alguns pouc® mete peeemee uma estreita preocupagio médica com a satide 4 Brio Miner diene koe Ferreira, por exemplo, iria descrever em St! nos nai seiner relacionadas 4 populacio negra e observad# também terie peeries de Azeredo, fisico-mor da colénia da Angol se ocupado do assunto em sua obra Ensaio sobre algun enfermidades da Angola. Contudo, segundo Lobo (2008), até 0 século XIX nio podemos identificar no Brasil uma sistematizacio do discurso médico sobre a populagio negra. Dois motivos justificam isso: primeiro, havia poucos médicos no Brasil, vindos das universidades portuguesas; segundo, mesmo com a transferéncia da Corte para o Brasil, em 1808, e a consequente instalacao das primeirz ” 4 sa rimeiras faculdades de medicina em terra brasileira, a atuagio dos médicos teria privilegiado o ambiente urbano ea satide da elite, deixando as questées pertinentes & satide da popula escravizada em segundo plano. Foi com a disseminagio do saber médico que comecamos a assistir & emergéncia do projeto de uma Medicina Social, que visava intervir no espago urbano para promover a higienizacéo para a populagdo branca. A negligéncia quanto a satide do corpo negro em parte derivava do fato de que ele era visto apenas como forca de trabalho, descartavel e substituivel. Como se vé, nem mesmo a abolicao da escravidio foi capaz de fazer com que o negro fosse concebido como ser vivo cuja satide deveria ser preservada; sua importancia social ligava-se estritamente & sua utilidade como forca produtiva. Desse modo, 0 corpo negro ganhou relevancia com as teorias racistas do final do séc. XIX, vocalizadas pelo saber médico, quando o negro € apontado como vetor de deterioracao racial, ética e social da populacio brasileira. Como mostra Lobo (2008), o interesse particular do discurso eugenista sobre o negro pode ser mais bem compreendido quando se leva em conta © cenério politico e econdmico nacional ¢ a preocupagio das elites com a construgéo de um projeto de nacionalidade que atendesse a exigéncias normativas e biologizantes equivalentes as europeias. Nesse projeto, os escravizados deixam de ser uma maquina econdmica — subjugados se necessario pela violencia dos castigos corporais ~ ¢ no pés-aboligio, © povo negro passa a ser abordado como objeto da ciéncia ~ com sua histéria, sua culvura ¢ sua identidade remodeladas pela ideologia do saber médico. Nao se tratava mais de castigar, mas antes compreender, para higienizar 0 corpo negro. Cientistas € figuras da elite nacional tomaram a frente deste processo ¢ inclufram o negro como foco de andlise na Antropologia, na Psiquiatria e na Criminologia, desencadeando projetos de higienizagio dos centros urbanos que entao nasciam no pais. O objetivo deste esforgo era con aera formacio do povo brasileiro a partir de sua constituigao étnica, a lo as contribuigdes de cada uma das “racas” presentes na constitul jo pais. nesse perfodo que vemos a disseminagio das teorias da degenerescnci no Brasil, Desenvolvida por Morel na Franga na década de Ei — teoria sustentava que as patologias estariam, relacionadas Claas ‘ adepeneracte da espécie, compreendida como um desvio hereditario da norma gia. dlegenerescéncias poderiam ser adquiridas (mediante préticas mors, PENS he _ sempre transmitidas heredi para a medicina que se desenvo itariamente. Esse modelo serviu de matriz tedric Ivia no Brasil no final do século XIX. Busco. se justificar as diferengas sociais entre a populacso we a bran Pay de critérios raciais, como se a cada raga coubesse are Pp F specifica n, desenvolvimento evolutivo da espécie. Como exemp!o, Po! eos Nos refer, ao trabalho de Nina Rodrigues. Considerado o fundador da antropolog, criminal no Brasil, esse autor buscou argumentar que a populacio brasileir, estaria estratificada em diferentes racas € que a diferenga entre elas estatia ng seu grau de degeneracao. Assim, em ambito penal, ° médico brasileiro it argumentar a necessidade de criagao de diferentes caries de aplicagio dk lei que atendessem as determinagées impostas pelas condicoes raciais de cad, individuo. Segundo 0 autor, 0 atraso do Brasil em relagdo aos OUtrOS paises desenvolvidos estava na presenga de racas degeneradas na composigio de sug populagao. Assim, argumentava que o desenvolvimento do pais dependeria do desaparecimento das racas consideradas degeneradas. Compreendidas hoje em dia como exemplos de racismo cientifico, as teses de Nina Rodrigue: nao sé foram amplamente aceitas pelas elites brasileiras no inicio do séculc passado como também teriam influenciado outros médicos e psiquiatra brasileiros. Assim, é importante destacar: O que obra de Nina Rodrigues evidenciava a partir do seu model médico-juridico nao era uma simples dicotomia social representad: pela polarizacao branco-negro, mas sim a criacao de mecanismo juridicos-politicos que favorecessem 0 total desaparecimen em pouco tempo do elemento negro da sociedade brasilcit (MARTINS, 2014, p.287) Segundo Lilia Moritz Schwarcz, a elite brasileira precisava das teoria do determinismo biolégico e do racismo cientifico porque, “para além do problemas mais prementes relativos & substituicgao de mao-de-obra ou mesm¢ a conservacao de uma hierarquia social bastante tigida, parecia ser precis’ estabelecercritérios diferenciados de cidadania” (SCHWARCZ, 1993, p. 24) Com a Abolicao, 0 Brasil inaugura um novo perfodo para a populacic negra, é 7 oe . eee produzir rupturas significativas com as marcas dé scravidao, ae j 0. inal, Os negros continuaram hegemonicamente marginalizado: €a manutengio de: seucte oe a imagem degradada produzid: século, Assi i édic ilei ince oe médico brasileiro, que se apropriou da nogio 4’ ‘ ia vinculando-a 4 populacao negra, Propés como solugio pata! muiscigena¢ao do pais a vinda de mao-de-obra euro, embranquece le. " ‘obra curopeia para “em! a pelo discurso racial do inicio d¢ Com o termo “embranquecimento”, referimo-nos a ideologia racista que defendia o cruzamento de genétipos de “racas” distintas, favorecendo a manifestagao fenotipica europeia numa populagio majoritariamente negra. Como exemplo deste preconceito nos discursos oficiais da época podemos citar a declaragao de Benedito Lacerda no I Congreso Internacional das Ragas de 1911, quando teria dito que o incentivo a imigragio europeia permitiria transformar a populacio brasileira em branca ao final de um século. HA ai um duplo efeito do discurso médico rai 0 incentivo 2 vinda de mio de obra imigrante europeia e a justificativa para a manutengao da exclusao social da populagao negra. Apartados do mercado, os ex-escravizados tiveram de optar por estratégias de sobrevivéncia que nao deixaram de ser perseguidas e criminalizadas ao longo de toda a primeira repiblica. 0 CORPO CRIMINALIZADO A abolicgao resultou na liberacdo de um contingente populacional que, herdeiro do trabalho cativo, permaneceu & margem da sociedade ¢ teve negado 0 acesso aos postos de trabalho. Desqualificado pelo racismo ¢€ competindo com a mao-de-obra imigrante, valorizada pela perspectiva do “embranquecimento”, 0 negro permaneceu preso a um sistema de exploragao que nao valorizava sua forga produtiva. E neste perfodo que emerge a cultura de criminalizagio da populacao negra, valendo-se da tipificagao criminal da vadiagem. A vadiagem transformou-se, de fato, no destino da grande maioria dos ex-escravizados que nao conseguiam vender seu trabalho e 0 vadio era apontado como ameaga 4 ordem justamente por nao se encontrar inserido na Idgica do trabalho. Do mesmo modo, a capoeira foi objeto de tipificagao penal e razao da prisao de muitos negros que a praticavam. Jn verbis: ‘Art, 402.Fazet nas ruas pragas piblicas exercicios de habilidade te destreza corporal conhecidos pela denominagao de capoeiragems andar em corterias (...) Pena — Priséo celular por 2 a 6 meses. (BRASIL, 1890) E assim que, sob a politica de valorizagio do trabalho e repressio da ociosidade, podemos identificar 0 projeto de criminalizagao do negro. Podemos compreender a nogao de “classe perigosa” ¢ “criminalidade” como aquilo que “representaria a franja externa alimentada pela area fluida da vagabundagem, ela propria alimentada por uma zona de vulnerabilidade mais ampla, feita da instabilidade das relagées de trabalho e da fragilidade dos vinculos sociais” (KOLKER, 2011, p- 202). t_ & -- — 9G - PARCERIAS - entrelacos na socioeducacao genista foi dado pelo pensameny, roduzir determinada concepgao q. acial fundamentada nas teorias q, © paso seguinte do discurso eu criminoligico, cujas teorias buscaram pr delinquéncia a partir da discriminagio Segundo Coimb degenerescénck ucdessto, em grande parte, origingtio, de secenulentes, 0 higienismo, alia aos ideais eugénicos e a Teo. dda Degenerescéncia de Morel, vai afirmar que aque es advin os dk “boas faniias” teria naturalmente penclores para a vireude; a contririo, aqueles que traziam “md heranga” ~ cise os pobre sciam portsdores de “degenerescéncias”. Dessa forma, justifica-y aaevihe de medidas contra a pobreza. (..) Os pobres considerady “Viciosos”, por sua vez, por nao pertencerem ao mundo do trabalh, — uma das mais nobres virtudes enaltecidas pelo capitalismo Viverem no écio, sio portadores de delinguéncia, sio libertinos maus pais e vadios. Representam um “perigo social” que deve se erradicado; justificam-se, assim, as medidas coercitivas, j& que six criminosos em potencial. (COIMBRA, 2006, p.5-6) Aoconceberem que viciose vir Pode-se perceber 0 modo com a pobreza ganha um significado marcadc pela crenca numa periculosidade inata. Contudo, vale destacar que a projeca desse “risco social” esta articulada também com a produgao de um medo di elite branca sobre a populagao negra. Afinal, segundo Bento (2014, p.35-36) “Esse medo assola o Brasil no perfodo préximo a Aboligéo d: Escravatura. Uma enorme massa de negros libertos invade a ruas do pais, € tanto eles como a elite sabiam que a condigio & miserdvel dessa massa de negros era fruto da apropriagao indebi (para sermos elegantes), da violéncia fisica e simbélica durant quase quatro séculos, por parte da elite”, Assim, a criminalizagio da popul i agao pobre e negra constituiu um’ importante estratégia por parte da elite a imp : para a manutengao do controle sobre esse contingente populacional, & : ! neste Ambito, marc: pela criminalizaga aaa ado pela segregagao ¢ (0, que 0 negro by x asileiro adentra 0 século XX. De bragos di ip bragos dados com © higicnismo, a cugeni Praticas repressivas © os i riticas ‘a preconceitos is, si a ae pobre « nega. i : CUOS sOciais, Surge a preocupagdo com oun ee 6 8 que [aos olhos da elite branca] poderia compo! as Classes periposas” (CO| cree itr rx as Bosas” (COIMBRA, 2003, p.6). Assit™ cas € adolescentes um a ser objetos de atengao ‘da — 7 da legislagao brasilei d > res ong: a lagdo brasileira no fj inal séc ve praeaiaate to sécul XIX. A esse espeito, Goncalves as crengas racistas, Certo € que a fo 1 € © trabalho representaram as pilastras tos de disciplinarizagio social no mundo adulto, enquanto que a infincia pobre nao foi oferecida base eficaz de normatizagio, Ela permaneceu na rua, € tia era entendida como veiculo da socializagao divergente e via quase direta do crime. Nessa rota, resta como alternativa retirar as criangas das ruas, antes que a Tua € 0 crime tomem conta delas. Isso foi feito, como se vera, sob a égide da tutela juridica, com tintas marcadamente repressivas. (GONGALVIES, 2011, p. 73). A CRIMINALIZACAO DA JUVENTUDE NEGRA CRIMINALIZACAO DA JUVENTUDE NEGRA DURANTE A PRIMEIRA METADE DO SEC. XX A produgio discursiva do inicio do século XX jé anunciava 0 modo pelo qual o racismo, fundado em preceitos pretensamente cientificos, era convocado para justificar e manter a ordem social que estruturava a sociedade pos-escravista. Mas a forma como 0 discurso médico se justapGe ao juridico na producao da nogio de “individuo perigoso” aponta para o contexto do qual emergem as instituigées de controle destinadas as ditas classes perigosas, incluidos as criangas ¢ os adolescentes ditos em situagio de risco. Nesse periodo surgem, por exemplo, a Secio de Menores da Casa de Corregio, 0 Asilo de Menores e depois 0 Servigo de Assisténcia ao Menor. Todas elas foram instituigdes destinadas ao controle socio-penal de criangas ¢ adolescentes em situagao de abandono e em confronto com a lei. Estudando processos das primeiras décadas do século passado, Vera Malaguti Batista (2003) mostra ado de Menores em 1923, se que a justica para criangas, até a criagao do Juiz exercia nas Varas de Orfios ¢ se ocupava quase exclusivamente de criangas s) saidas do Asilo de Menores ¢ encaminhadas as trabalhar nos servigos domésticos como forma de “readaptagao ¢ inclusio social”. F. importante apontar que a articulagao entre o Asilo de Menores, o vinculo familiar ¢ a moral do trabalho evidenciavam a as elites brancas buscavam perpetuar no periodo ico nto (em sua maioria negr: casas de familias ricas pa estratégia por meio da qual republicano praticas comuns remunerado). Nas Varas de Orfios istoria de miséria, exclus ao eseravismo (0 trabalho dome e no Juizado de Menores destaca-se a oe abandono. Segundo esma dos os em outras conjuntura marcada por h Malaguti (2003, p.71) “¢ impressionante como a maiori: + as elites resolvem seus ¢ casos se refere a meninos pobres 48 ~ PARCERIAS -entrelagos na socioeducaca0 gadoras”. Percebe-se aqui a presenga ¢ ava a partir da seletividade do sistema , cégias de controle conforme os stray, informais € néo segre' | que se efetiv 5s estral instancias, racismo institucional E justiga, que acuava com diferentes sociais, Conforme observa Baratta, significativa, as fortes Critica, ambos — fomentadas pela abertura politica que se anunciava — Seguiram Que, em 1988, com a nova constituigi 0, abriu-se espago para a reform do paradigma da in| fincia ¢ juventude. Em 1990 foi sancionado o F: Crianga edo Adolescente (ECA), quando €“menores” co afinal, igualdade juridica, Todavia, ingresso das idei neoliberais — cor lags Statuto ¢ Nquistaray essa reformulacio coincidiy com as neoliberais na politica e no mer mo 0 Estado minimo para a execucao de politicas puiblicas juridica, cado brasileiros, Ni; ~ fepresentavam entraves impor capazes de colocar em pratica a equ (0G, tant tidac De todo modo, crianga e adolescen deixaram de ser objet C: de sujeitos de direit, Pela lei, o Estado, a soci ili assegurar os direitos in lazer; a profissionalizagio; & convivene a0 respeito ¢ 4 dignidade, Foram ctiad de deliberagio, que transversal; secretarias estadu: izam a poli ais € municipais, stituicgao Federal edo Estatuto, cri ‘iveis, embora, quando em conflito com a lei Pelos seus atos e passiveis de aplicacao de medid. Spectivamente, Em 1993, 0 Decteto no 18 de Janeiro, 6 Departamento Geral de Agdes Socioeducativas (DEGASE Fruto de uma politica que visava a descentralizacio Politico-adminiscrativ © DEGASE surgiu como a instituica ja tarefa seria executar as medid sociocducativas previstas pelo ECA aplicadas pelo poder judiciitio « adolescentes em contlito com a lei. Do ponto de vista formal, a leg FAME @ manutengio dos direitos de adoles levantadas intimeras eriticas em telagio Aspects A pris inova AiO eM Ambito 1 foi apomtada por Ngas e adolescent. sao inimput » Fesponsabilizad: as Protetivas e socioeducativs -493 criou, no estado do R lags Cente; NO entanto, for 4 precariedade do DEGASE, qt fio. Apesar d Kes No campo d Nacion: se assemelhava em Muitos em um contexto de a proposta ter surgi¢ sociveduc: ia lei, a realidade do sister aqui discorrido no Rio de Janeit experiéncia que beirava a falénci tl, Como alguns autores como une As delegacias penitene nascidos sob a é ide do E clevou & categoria de" Has superlotadas por uma legio de jov Muto da Crianga edo Adolescente, a Sujcitos, cujos direitos devem ser protegi¢ integralmente, de forma prioritaria”, por si s6, jd apontam para 0 grande fracasso da proposta pedagégica idealizada. (LOPES, 2009, p.1) Na busca da solugio para este impasse, em 2012 0 Conselho Nacional dos Direitos da Crianga (CONANDA) criou o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). O documento, produto de discussao e negociagio ampliada, abrangeu todo o territério nacional, ¢ foi sancionado em 2012 com a Lei 12.594/2012. Assim, sobre 0 adolescente incide uma nova roupagem juridica. Mas, conforme apontaram as pesquisas de Salo de Carvalho (2015), a garantia de direitos continua se restringindo ao formalismo da leis pois no plano das praticas institucionais e juridicas revela-se a seletividade, (sobretudo racial) do sistema socioeducativo: A seletividade racial é uma constincia na historiografia dos sistemas punitivos e, em alguns casos, pode ser ofuscada pela incidéncia de varidveis auténomas. No entanto, no Brasil, a populagao jovem negra, notadamente aquela que vive na periferia dos grandes centros urbanos, tem sido a vitima preferencial dos assassinatos encobertos pelos “autos de resisténcia” ¢ do encarceramento massivo, o que parece indicar que o racismo se infiltra como uma espécie de metarregra interpretativa da seletividade, situacio que permite afirmar o racismo estrutural, nao meramente conjuntural, do sistema punitivo. (CARVALHO, 2015, p.649) 0 DEGASE Uma ver tendo refletido historicamente sobre a construgao social de determinadas estratégias que tornaram possivel o racismo institucional, pretendemos nos debrucar sobre algumas experiéncias relatadas nos didrios de campo do Projeto Parcerias para compreender, a partir de uma perspectiva interna, 0 modo pelo qual as questées étnico-raciais podem ser pensadas em nossa experiéncia no DEGASE. O interesse principal desta seco do texto te em se ocupar (mesmo que brevemente) do seguinte questionamento: de que modo o racismo aparece ou deixa de aparecer para aqueles que habitam o interior dessa institui¢ao? Nossa intengio, contudo, nao sinaliza um pensamento que traz consigo uma respos' ‘a definitiva. Afinal, a questao é demasiado complexa ¢, antes de querer buscar qualquer resposta, queremos nos permitir refletir. O que estd em jogo com a presente questio sioas condigoes de vi do tema das relagdes étnico-raci ibilidade is no DEGASE a partir dos relatos de campo. Por “condigées de visibilidade”, pensamos naquele conjunto de fatores, gestos, | | | | 42 + PARCERIAS - entrelacos na socioeducayae ‘as que teazem os objetos 3 lt de modos especifcos, as as formagoes discursivas, pela enunciagao de algo, gy, “silenciar”. Aqui, queremos pensar Io fildsofo Michel Foucault (199¢ dispositivos e estratégi determinados pelas suas for pode se dar no scu “dizer” ou no seu . Fi antal tedrico ofertado pel - ' partir do instrumental tr pe vem toda sociedade a produsio do discury 9 este nos diz p- 8-9), quand é ee glad, seleeionada, organizada ¢ redistribuida pg e a0 mesmo vey rocedimentos” que tendem a delegar papéis, fixar lugares cere an jcar¢ por em movimento estratégias de poder. Nao se trata excl tifa abertura de um campo de reflexdo. O modo pelo qual o tema das relagdes ae sae long dos didtios de campo pode nos oferecer pistas sobre esse exercicio le pode © racismo institucional, que se encontra em joge- Ao nos depararmos cor a totalidade desses didrios, elaborados a partir de idas ao DEGASE px estagidrios ao longo dos seis anos do projeto Parcerias, algo nos acomete, notamos que, em um ambiente majoritariamente ocupado por adolescent negros, a percepcao da negritude foi pouco verbalizada ou posta em questic tanto pelos agentes socioeducativos como por adolescentes e estagiarios a longo da nossa insergao na instituicao. Em um dos raros trechos encontrados, a percep¢do da negritude nesi espaco evidencia-se por uma via inusitada: o estranhamento de uma estagiéri do projeto ao encontrar com um adolescente branco na unidade: Um deles me chamou a atengio: 0 tinico adolescente branco ¢ turma (ou serd da [unidade] inteira?). Ele disse que estava someni ha duas semanas ali e que era a sua primeira passagem. Me parece completamente desnorteado. (Trecho de DIARIO DE CAMPC 27 de agosto de 2015) Naquele momento, a instituigéo encontrava-se superlotada, comportand uma enorme quantidade de adolescentes muito além do maximo estipulad pelo SINASE, Dessa maneira, pensar que o garoto que chamou a atencio d i for ee eee branco presente no ambient ae eo sel a ae racial no sistema penal. Em outt € problematizada por um agente socioeducativo: Também falou sobre 0 “perfil”, iz » 0 fendtipo i j4 dente dizendo que a maiori ipo dos meninos | iss0 0 afeta, pele fa hg ttebtte de comunidades carentes € aleta, pelo fato dele també . diferente pras ambém ser negro € que a tal justict julho de Dats eee (Trecho de DIARIO DE CAMPO, 08 4 A fala do agente evoca como esse “fendtipo” ou “perfil” do adolescente torna-se alvo do sistema de justiga e é elegido como populagao majoritaria das unidades de internagio. Entendemos que esse quadro € resultado de um longo processo histérico de criminalizagéo da populagéo negra, que culmina no que chamamos de seletividade penal, ou seja, nao é por acaso que 0 publico-alvo do sistema sociocducativo é negro e pobre em sua maioria, como explicita 0 agente: Quando algum agente falou que falta responsabilizagio, M. [agente sociveducativo] interviu. Ele foi brilhante (...) ao questionar para todos ao redor — estagidrios € agentes — qual a cor do DEGASE qual a cor das novelas e comerciais de margarina, Sé existem pessoas negras © pobres cumprindo medida de socioeducacao ¢ ele se aproximava dos meninos ao apontar para a sua propria pele negra. Os agentes pareciam confusos com um discurso tao distante do famoso “também sou pobre e nao virei bandido” € nés, estagidrios, sentimos vontade de bater palmas. (Trecho de DIARIO DE CAMPO - 09 de outubro de 2015) A partir dessa visivel assimetria entre negros ¢ brancos no DEGASE, também assistimos uma percepgdo bastante diferente no olhar de outro agente socioeducativo: Falou que na [unidade] s6 tinha negro, que ele nao estava discriminando ninguém, que era apenas a verdade, que isso € os morros (atrés da [unidade]) eram quilombos e que nada tinha mudado desde os tempos da escravidao. Disse que os meninos sio assim porque tém no sangue o sofrimento ¢ a humilhagio do povo que veio nos barcos negreiros. Que set bandido estava na genética deles e que eles nao tinham recuperagio. Disse que achava nosso projeto muito legal, centar passar algo acles, mas que eles nao tinham jeito. (Trecho de DIARIO DE CAMPO, 08 de setembro de 2011) (.) E como era genético, os meninos nio podiam mudar (pouco depois ele veio a dizer que jé havia mudado trés), Se eles ngio podem mudar, o correto é bater. Barendo, segundo ele, voce nao recupera o menino, voce pode, se tiver sorte, transformé-lo num “robozinho” (palavras dele) que fiz 0 que mandam. (Trecho de DIARIO DE CAMPO, 08 de setembro de 2011) Afala doagenteilustia comoa logica das eorias do determinismo biolbgico nda habita os discursos da contemporaneidade, € do racismo cientifico caracterizando, assim, a raga negra por um pretenso atraso evolutivo € uma predisposicao & criminalidade. Nessa perspectiva, a genética parece ser 0 crucial ¢, portanto, determinante para o cariter do sujeito, sem possibilidade AOHd 09-5) avanpania0s eu Sode|ad + 08 &y ah PARCERIAS - entrelagos na socioeduca¢20 de m ca. O tom da conversa exposta nesse trecho demonstra ” = ‘clan vezes é e bre o signo da ide: “ a evelando 0 que muitas vezes € encoberto sobre o sig! ideo, explicito, r v da democracia racial em nosso pais. nase i 1a da Conscié, ‘Assim, nao € por acaso que quando indagado sobre o dia d scién, ssim, Negra, um adolescente negro demonstrou fer pouca conexio com a tem legra, étnico-racial: na sexta seria feriado e perguntei se eles sabiam , i que an Comentei q falei que eta feria, gue, disseram que nao faziam ideia do que era, fa da consciéncia negra. G. comentou que tinha feito algum trabal na escola sobre um simbolo de uma mao negra e uma bran, falou algo sobre preconceito. Perguntei 0 que cle entendia con bia, depois eu comecei a explic preconceito, ele falou que nao sa que é um pré conceito, voce julga a pessoa antes de conhecer, ele conseguiu dar alguns exemplos de preconceito, como co gays, mulheres e negros. (Trecho de DIARIO DE CAMPO, 19 novembro de 2015) De uma forma geral, os adolescentes pareciam pouco se conectar coi a discusséo que envolvia racismo. Um possivel analisador € que, em ani de trabalho em grupo com eles na unidade, notamos pouquissimas ve antincio de algo que se relaciona explicitamente com a tematica racial, S Dissemos a eles que sexta-feira seria feriado ¢ fiquei curiosa pa saber se haveria alguma atividade na unidade ou se algo havia si feito durante a semana. Os garotos nao pareciam saber do feriad: A. pontuou que era o dia da Consciéncia Negra e aproveitamos pa explicar brevemente do que se tratava. Indagados sobre o significac de preconceito, eles nos olharam em divida. Comecamos a d alguns exemplos até que G. disse: por exemplo, eu sou neg! voce € branca, ai vooé nio quer andar comigo por isso, enti? Preconceito, Bingo, Ele disse que a escola deu a eles um desenho uma mao negra apertando outra branca nesta semana. Mas afirm¢ que nao houve muita discussi (Trecho de DIARIO DE CAMPO, 19 de novembro de 2015) CONSIDERACGES FINAIS “Existe uma histéria do povo negro sem o Brasil, mas nao existe uma historia do Brasil sem 0 povo negro”. No ano de 2016, esta frase estava grafitada no auditorio da unidade do DEGASE em que realizamos as atividades do projeto Parcerias. Ela marcou © processo de construgao deste capitulo de livro de modo que agora, na conclusao deste trabalho, vale a pena tecer algumas consideragées sobre 0 efeito que ela produziu em nos. Nio sabemos como esta frase foi grafitada, por quem, nem quando. Mas isso pode indicar que, apesar das tentativas de invisibilizagao, das opress6es brutais presentes no contexto do sistema socioeducativo e da nao abordagem do racismo que gritava no cotidiano daquela unidade, existiam tentativas de valorizagao da histéria do povo negro naquele ambiente. Ao longo deste capitulo buscamos trabalhar os dados estatisticos referentes a seletividade racial do sistema socioeducativo, bem como a génese histérica do racismo brasileiro ¢ a sua intima relagéo com as politicas ¢ instituigdes que antecederam e que geraram as condigdes para a existéncia do DEGASE tal como ele se configura hoje. Além disso, discutimos alguns trechos dos didrios de campo do projeto Parcerias onde a questéo racial aparece, seja de maneira a problematizar o racismo ¢ a seletividade do sistema socioeducativo, seja em algumas falas que tentam justificé-lo ea fortalecé-lo. Logo depois que comecamos a escrita inicial deste texto, 0 projeto Parcerias teve a sua vinculagdo com o DEGASE encerrada. E nés, autores deste capitulo, ao revisarmos ele tantos anos depois de sua primeira versio, percebemos que ele se constituiu como um inicio de conversa sobre o racismo na socioeducagao. Por condigées que escapam ao nosso campo de ag’o nao pudemos continuar a nossa atuag4o na unidade € dar continuidade a este trabalho de pesquisa e de intervengao. Assim, néo sabemos dizer como todas estas questdes se desenrolaram na unidade. No entanto, esperamos que esta primeira abordagem sobre 0 tema contribua para que outras praticas - mais ativamente comprometidas com 0 combate ao racismo — floresgam no campo da socioeducagio. P 5

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