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PAIDEIA A Formagao do Homem Grego AIMHN IIEOYKE TIAEI IIALAEIA BPOTOTE Werner Jaeger Tradogio Martins Fontes Sa Fao 1995 Paideia, a palera que serve de tale a ita obra, mio apenas um ome smb; ba nica designay exata do tema histo nola eta dh, Este toma 6 deft, dial defini: come airs coneites de grande amplitude (por exemplo o defilosofia ow cultura), rect a deixar- se encrrar numa formals absrata O sex cota esgnifiada 16 1 re- tela plenamente quando lamas a sua bistria¢ be segues 0 esfog> ‘Para coneguiremplasmar sna ralidade Ac empregar tm terme grge para exrimir uma cosa grea, quero dara enter que eva scontepla, no como lbs do emi dena, mas sim com o do bone gag. (Ni pode evitar o emprege de expresses madenas como civiliza- ‘io, cultura, radigéo, lcerarura av educaglo; nenbume dela, po- i, coincide realmente com 0 que os Gregas entendizm por paidéia. Cada wm daguees termes s limita a exprimir um asp daquelcon- xte global, «para abrangro campo ttal do conto greg, tertamas de empregdlos todos de wna 6 vex E no entanto a vrdadcira eséucia da aplicsao an tudo ¢ das atividade do estudlis base na unidade origindria de sods aque ‘aspects —wnidade vincada na palavra grega ~, endo na divesidade Hlinbada econsumade peas locas madera (Os antigo exanam comvncids de que a educazio ea ltr mio constitwem uma arte formal ow wo tia abitata,ditints de eata- 1a istricaobjeina da vida epritual dea majo; para ds, tts vee lores cortzaaese na literatura, que ba expres real de ad elt a superior. E & dete made que devemasinterprtar a defini do bomen ‘auto apresentada por Frisia (Cf. xAOROYOS, p. 483 Rutherford) Gud oyes 6 gAAW A6yous Kal enOUBAaW Repl RenBeiov. Lugar dos Gregos nna histOria da educagio ‘Todo povo que atinge um certo grau de desenvolvimento sente-se naturalmente inclinado a pritica da educagio, Ela é 0 prinefpio por meio do qual a comunidade humana conserva € transmite a sua peculiardae fisicae espiritual. Com a mudanga das coisas, mudam os individues; 0 tipo permanece o mesmo Homens e animais, na sua qualidade de sere fisicos, consolidam. sua especie pela procriagio natural. 86.0 Homem, porém, con: segue conservare propagara sua forma de existéncia sociale espi- ritual por meio das forgas pelas quais a criou, quer dizer, por ‘meio da vontade consciente e da razio. O seu desenvolvimento ganha por elas um certo jogo livee de que carece 0 resto dos Setes vivos, se pusermos de parte a hipstese de transformacdes _pré-histGricas das espécies e nos ativermos ao mundo da expe rincia dada Uma educacio consciente pode acé mudae a natures fisica cdo Homem e suas qualidades, clevando-Ihe a capacidade a um vel superior. Mas 0 espirito humano conduz progressivamente& descoberta de si prdprio e cra, pelo conhecimenco do mundo ex- terior e interior, formas melhores de existéncia humana, A natu teza do Homer, na sua dupla estrutura corpieae espiciual, cia condigGes especiais para a manutenco e transmissio da sua forma particular exige organizagéesfisicas e espiticuas, o canjanto das quais damos 0 nome de educagio. Na educagio, como o Ho- ‘mem a pratica, arua a mesma forg vital, criadorse plistica, que ‘sponcaneamence impele todas as espécies vivas & conservagio ¢ 4 inTRODUGAO propagasio do seu tip. & nel, porém, que ess forga ange 0 thai alto grau de intensidade, ateavés do esfrso conscience do conhecimento e da vontade, diigida para a consecuso de um firm Derivam daquialgumasconsideragies geri [Antes de tudo, a educagio aio € uma propriedade indvi- dual, mas pertence por esncia 3 comunidade-O carter da co- rmunidade imprime-se em cada umn dos seus membros e € no ho- tmem, G@oV FORKED, muito mais que nos animas,fonce de {ora ago e de rodo comportamento. Em nenhuma parte o ifla- x0 da communidade nos seus membros tem maior orga que 90 > forge constant de educar, em conformidade com seu proprio sentie cada nova geragi, A estrurura de toda a socedade assenta tas lls e normas esrtas € no escritas que a unem © unern os seus membros. Toda educaglo€ assim o resultado da consciéncia ‘iva de uma norma que rege uma comunidade hamans, quer Se tae da familia, de uma classe ou de uma profissio, quer se trate de um agregado mais vaso, como um grupo éinico 0a sum Estado, ‘A ecucago participa na vid eno crescimento da socedade, canto no seu destino exterior como oa sua esruturagio interna © desenvolvimento espizitual; e, uma vez que 0 desenvolvimento social depende da consciéncia dos valores que regem a vida hu- ‘mana, histéria da educagio estéexencialmente condcionada pela transformagio dos valores vidos para cada sociedade, A ‘Stbilidade das nomas vidas comesponde a solider dos funds- tmentos da educagio. Da dissoluglo e destaigo das normat tdvém a debilidade, a flea de seguranga e até a impossbilidade tholuca de qualquer aco eductiva. Acontece isto quando a tra- (fo ¢ violenamente destrufda ou sof decadénci interna. Sem ‘vida, a extablidade no ¢indicio seguro de side, porque rena também nos estador de sigidez snil, nos momentos finais de tuma cultura: assim sucede na Chia confucinistapré-revolucio- tive, nos dtimos tempos da Antiguidade, nos dermdeirs dss Go Judatsmo, em certs periodos da histria das grea, da are das ecolascentificas. & monstaosa a impressio ged pela fi {ez quaseincemporal da hstéria do antigo Bgito, através de mi- LUGAR DOS GREGOS NA HISTORIA DA EDUCAGAO 5 lenios; mas também entre os Romanos a estabildade das reaces sociais plies fi considera como valor mais aloe apenas se conceden justfcago limitada as ancise desis inovadores. (© Helenismo ocupa uma poticfo singular. A Gréiarepre- senca, em face dos grandes povos do Oriente, um “progresio” fundamental, um now “estédio” em cado 0 que se refere a vida dos homens na comunidade. Esta fandamentase em principios completamente novos. Por mas elevadas que julguemos as reali- zagées artsticas, eligiosas e policicas dos povoe anteriores, a hit- t6ria daquilo a que podemos com plena consciéncia chamar cul- ‘tura $6 comega com os Gregos. ‘A invertigacio modema no sfculo passado sbriss imenss sence o horizonte da Histcia. A oibuomene dos Gregos¢ Roms- not “Clssicot, que durante dois mil anos coincii com os limi- tes do mundo, foi asgada em todas of sentidas do expagoe pe- rance o nosso olharsurgiram mundos espiituis até eno insus- peitados. Reconhecemos hoje, todavia, com a maioecareza, que tal ampliasio do nosso campo visual em nada mudou este fto: 4 ‘nossa histéria ~ na sa mais profundaunidade~, asim que deixa ‘limites de um povo particular ¢ nos inscreve como membros sum vaso elo de prs, “ame” com pari dos Gre ‘08. Foi por esta mao que a ese grupo de povos de a designac Ae belenocétrica. “Comey” no quer dae aga inicio tempor ral apenas, mas ainda pz, origem ou fonteespititul, a que sempre, seja qual for o grau de desenvolvimento, se tem de re- _grestar para encontrar onentagio, Eexteo motivo porque, no de- Curso da nossa histéria voltamos constantemente a Grécia. Or, ‘ete retomo A Gréia, «sa xpontinea renovagio das inflncia, to significa que Ihe tenhamorconferido, pea sua grandeza espi- ritual, uma autoridade imucivel, fae independente do nosso destino. O fandamento do nosso regresso reside nas nossas pré- ria necessidades vit, por mas variadas que eas sejam através dda ist6ra,E claro que, para n6se para cada um dos powos deste circulo, a Grécia e Roma aparccem como algo de radicalmence 7 Verormes eno intodutco na ole Altre nd Giga, 2 is Leipsig. 1920, : merropucdo stro, Esta separa fdas em part 9 sigue ¢n0seni- Spent, en parte na erutur do espititoe das insttigies, a0 Siradiegda ejecta a eee ago ea que sentimos ante os povos orienta, itnts de 6s pelssagae pelo esprito, a diferenga € gigantea. E €, sem Suvi ees flo de pepe htc seared A nda elses o8 povos ecidents, como algun esciores fa sen por uma barrel comparivel A que nes separa da Chir da nda ou do Egio. Nios eta 6 de um sentimento de parenteco sca, por nsor queen importncia deste itor pana compreensio f= spa de outro pono, Ao dizermos que asosabistria come ra Grin preseamos aguirir uma consiénia lara do sentido que reste cho damos & palava “histra™. Histriasigaitia, por ‘Kempo, a exploasio de mundosetanhos,singulares © miste- tron, Assim aconcebeu Hert. Também hoje, com aguda fercepcio da morfloga da vida humana em casas ss fo Fis nd nos aproximamos das povos mai rernto procurmos ence nooo expo proto, Mas € precio dsinguir abst Tir neste sentido quae ancopoligco da histria que e fund ‘menta nur unio espirtual viva e ativa ena comunidade de ur destino, quer sta 0 do préprio povo, quer o de um grupo de po- vos estteitamente unidos, S6 nesta espécie de hist6ria se tem uma Jncima compreensio e contato criador entre uns e outros. $énela existe uma comunidade de ideais ede formas socaise espieiusis {que se desenvolvem e crescem independentes das maltiplas inter- rupgies e mudangas através das quais varia, se cruza, choca, dest parece ¢ se renova uma familia de povas diversos na raga € 1a [penealogia. Essa comunidade exisce na totalidade dos povos oci- dentais «entre estes ea Anriguidade clissca, Se considerarmos a Historia neste sentido profundo, no sentido de uma comunidade radical, nao podetemos supor-lhe como cenfrio 0 planeta inteiro , por mais que alarguemos of nossos horizontes geogrificos, as ffontetas da “nossa” histéria jamais poderio ulerapassar @ anc ‘guidade daqueles que ha vérios milenios tragaram 0 n0ss0 dest- ‘no. Nio € possivel dizer aeé quando a Humanidade conrinuari a LUGAR DOS GREGOS NA HISTORIA DA EDUCAGAO 7 ‘rescer na unidade de sentido que tal destino Ihe asin isso importa para o objeto do nosso estado Nilo € possivel descrever em poucas palavras a posigio revolucionadorae solidéria da Grécia na histria da educagio hu: ‘mana. O objeto deste live € apresencar a formacio do homem ‘rego, a paidéia, no seu carter particular e no seu deservolvi- ‘mento histérico. Néo se tara de um conjunco de idéias abstratas, ‘mas da pr6pria historia da Grécia na ealidade concreta do seu destino vital. Concudo, esa hiséria vivida jé teria desaparecido hd longo tempo seo homem grego nie ativesecriado na sua for- ima perene. Criou-se como expressio da alrcsima vontade com que talhou o seu destino. Nos estiios primicivos do seu cresci _mento, no teve a idéia clara dessa vontade; mas, 4 medida que avangava no seu caminho, ia-se gravando na sua consciéncia, com clareza cada ver maior, afinalidade sempre presente em que a sua vida assencava: a formagio de um elevado tipo de Homer. A idéia de educagio representava para ele 0 sentido de todo o esor 4@ humano. Era a justificagio Gltima da comunidade eindividoa- lidade humanas. O conhecimento préprio, a intelig2acia clara do Grego encontravam-se no topo do seu desenvolvimento. Nao hi qualquer rezio para pensarmos que os entenderiamos melhor por algum género de consideragio psicoldgica, histérica ou socal ‘Mesmo os imponentes monumentos da Grécia arcaica sio perfi- ramence inceligives a esta luz, pois foram criados no mesmo es- tio. E foi sob a forma de pda, de “culcura, que os Gregos

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