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A ESSENCIA DO Peas A oMreluarelg OO Slag conc ane ere) Neen ee tea oc ale Eee to Clee neteearieck (aero ese tena trated Peersstei eto: ea ian waren ee ea Utes feet cece Cm a ernimento caracteristicos, Osho nos mes coer ete Eien Coes Priced eran erie ce tensa: foie ene, CR sino) meniscus a Sesser ic ise seca) Pece ete ce ket oe Peeters ene oi tte anche Pt eee erent chong} Meera conn ico errata Caer ee uso eecuek ected Gee te ose carin erste oem lee eels} ress Ora ore MG Meal ts Abrir mao das expectativas, das regras eerie nar Dace elu Ree ec Tver ots acolo eo Petre eee Manter a chama do amar viva e Sec) ren eck iy Pecan oe Rene merce Seta \Vencer 0 egacentrismo para que possa Reet e Coe Cole Ee sachs ues vindas ao amor na sua vida de maneira to- talmente nova e sentir a alegria de estar Ree iene hrc en ates OSHO A ESSENCIA DO AMOR Como arnar com consciéncia e se relacionar sem medo ‘ Tradugéo Denise de C. Rocha Delela Edlitora Cultrix sou Titulo original: Beang in Lave Copyright © 2008 Osho International Boundation, Switzerland. www.osho.com/ copyrights Copyright da edigao brasileisa © 2009 Editora Pensamento Cultrix Leda. Publicado mediante acordo com Harmony Rooks, uma divisio da Random House, Ine P edigao 2009. 3° reimpressio 2014. OSHO é uma marca registrada da Osho Intemational Foundation, usada cam a devida permissio ¢ licenga, warosho.com/trademarks Texto de acordo com as novas regras orzogréficas da lingua portuguesa. Os textos contides neste liveo foram selecionados de vérios discursos que Osho proferit 20 public “Todas os discursos foram publicados na integra em forma de livr0s, ¢ esto disponiveis também na lingua original em audio. As gravagaes em audio ¢ os arquivos dos textos em lingua original podem ser encontrados via online no site www, osho.com. ‘Todos os diseitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, clesrénico ou mecinico, inclusive forocépias, grava armazenamento em bance de dadas, sem permissio por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em sesenhas criticas ou artigos de revistas: ‘30s ou sistema de A Editora Culurix néo se responsabiliza por evensuais mudansas ocorridas nos enderegos conven- consis ou eletrdnicos citados neste livro. Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Osho, 1931-1990 A esséncis do amor : como attar com cunseignela e se relactonar sem medo Osho waduyio Denise de C. Rocha Delela. -- Sup Paulo : Cultrix, 2009, how to love with awareness and relate swithous (ear 1. Amor ~ Aspectos seligiosos 2. Vida espiritual - 1, Titulo, 9.06412 co0-299.93 indices para catalogo sistematico: 1, Amor; Ensinamentos de Osho : Religioes de natureza universal 299.93 Direitos de traducio para a o Beasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LIDA,, que se reserva a propricdade literdria desta uaducio. Rua Dr. Macio Vicente, 368 — 04270-000 — Sao Paulo, SP Fone: (11) 2066-9000 — Fax: (11) 2066-9008 E-mail: atendimento@editoracultrix.com.br hrep://wwweditoraculstix.com.be Fol feito 0 depésito legal. SUMARIO Introducio: O qucéo amor? 7 PARTE I. A jornada do “eu” para 0 “nés” Compreenda a natureza do amor ¢ como nutti-lo Além da dependéncia ¢ da dominagio ~ rompendo a crosta do ego As etapas naturais da vidaedoamat 27 Acchama da consciéncia 39 PARTE Il. O amor é uma brisa Aproveite o romance a0 méximo Ideias absurdas na sua mente 45 “O amor fere” ¢ outros mal-entendidos 64 Atragao e oposi¢ao 87 Diga adeus a0 Clube dos Coragées Solitirios «98 Almas gémeas ou “celas” gémeas? 125 O amor e aarte do nio fazer 160 PARTE Ill. Do relacionamento ao relacionar-se — © amor como um estado de ser Compreenda a natureza do amor ¢ como nutri-lo O “amor” é um verbo 187 Aconselhamento de casais —ideias pata viver e crescer no amor $6.0 amor permanece 217 Sobreoauror 223 Sobre o Resort Osho” de Meditagio 224 Para maiores informagoes 224 19 193 INTRODUGAO: O QUE £ 0 AMOR? E lamentavel que tenhamos de fazer essa pergunta. Se as coisas seguissem o scu curso natural, todo mundo saberia 0 que é 0 amot, Mas, na realidade, ninguém sabe, ou quase ninguém, sabe, O amor se tornou uma das mais raras expe- riéncias da vida. Sim, fala-se a respeito dele, Histrias e roteiros de cinema so escritos sobre ele, cangdes so compostas sobre ele, yoo’ o encontra nos pro- gramas de TY, no ridio, nas revistas ~ existe uma grande indtistia para nos su- ptir de ideias sobre o que seja o amor. Muitos se dedicam & indéistria de ajudat as pessoas a entender 0 que seja o amor. Contudo, © amor contin fendmeno desconhecido. E deveria ser um dos mais conhecidos. E quase como se alguém perguntasse o que é comida. Vocé nao ficaria surpreso se alguém 0 procurasse para fazer essa pergunta? Somente se essa pessoa nascesse esfomeada € nunca tivesse provado nenhum alimento, essa pergunta tetia fundamento. O mesmo vale para a pergunta “O que 60. amor?” Q amor ¢ 0 alimento da alma, mas yocé vive com fome. A sua alma nio recebe nenhum alimento, por isso vocé nao sabe que gosto ele tem, Por isso a pergunta é relevance, embora lamentivel. O corpo recebeu alimento, por isso continua vivo; mas a alma nao recebeu, por isso esté morta, ou néo nasceu ainda, ou esté sempre no leito de morte. Quando nascemos, chegamos ao mundo com a capacidade plena de amar ¢ ser amados. Toda crianga nasce cheia de amor e sabe perfeitamente o que ele é Nao hé necessidade nenhuma de dizer a uma crianga o que é 0 amor. Mas o problema surge porque a mac ou o pai nao sabem o que é 0 amor, Nenhuma crianga recebe os pais que merece — nenhuma crianga jar mais recebeu os pais que merece; esses pais simplesmente nao cxistem na ‘Terra. E na época em que essa crianga se tornar pai ou mée, ela também jé tera perdido a sua capacidade de amar. 8 A ESSENCIA DO AMOR Eu ouvi falar de um pequeno vale onde as criancas nasciam e, em tres meses, ficavam cegas. Era uma sociedade pequena e primitiva, e havia um inseto ali que causava uma infecgdo nos olhos ¢ levava os bebés a cegueita, de modo que toda a comunidade era cega. Todas as ctiancas nasciam com visio perfeita, mas com trés meses, no maximo, ficavam cegas por causa desses insetos. Ora, em algum momento posterior da vida, essas criancas de- vem tet perguatado “O que sao olhos? O que vocé quer dizer quando usa a palavra ‘olho’? O que € visio? O que significa ver? O que voce quer dizer com isso?” E essas perguntas seriam relevantes. Essas criangas nasceram en- xergando, mas perderam a visio em alguma etapa do seu crescimento. E isso o que acontece com o amor. Todas as criancas nascem com to- do o amor que podem conter, com mais amor do que podem conter; nas- cem transbordantes de amor. A ctianga nasce como amor; ela ¢ feita dessa coisa chamada amor. Mas os pais so incapazes de dar amor. Eles tém as suas prdprias dores — os pais deles nunca os amaram. Os pais s6 podem fingir. Eles podem falar de amor. Podem dizer “Nés te amamos muito”, mas o que cles na realidade fazem € “mal-amar”, A maneira como se comportam, a maneira como tratam a crianca € insultuosa; nao existe respeito, Nenhum pai respeita o filho. Quem jé pensou em respeitar uma crianga? A crianca nao é vista como uma pessoa. E vista como um problema. Se cla ficar quie~ ta, é boazinha; se nao gritar nem fizer nenhuma travessura, 6timo; se ficar simplesmente fora do caminho dos pais, maravilhoso. E assim que uma crianca deve ser. Mas no existe respeito nem existe amor. Os pais nao sabem 0 que é amor. A esposa nao ama o marido, 0 ma- rido no ama a esposa. Nao existe amor entre eles — existe dominagao, pos- sessividade, citime, e todos os venenos que destroem o amor. Assim como certos venenos podem destruir a nossa visdo, 0 veneno da possessividade ¢ do citime pode destruir o amor. O amor é uma flor muito frdgil. Ele tem de ser protegido, tem de ser fortalecido, rem de ser regado; s6 assim ele fica forte. Fo amor da crianca é muito frégil — naturalmente, pois a crianca é frdgil, o seu corpo é frégil. Vocé acha que uma crianca abandonada & prépria sorte é capaz de sobrevi- INTRODUCAO: O QUE E O AMOR? 9 ver? Pense em como a ctianca-humana é indefesa — se ela é abandonada & préptia sorte, nao consegue sobreviver. Ela morrerd, ¢ isso é 0 que esta acon- tecendo com o amor. O amor esti abandonado & propria sorte, sem ter quem cuide dele. Os pais sao incapazes de amar, nao sabem 0 que € 0 amor, nunca flo- resceram no amor. Basta pensar nos seus proprios pais — ¢ lembre-se, nao estou dizendo que cles sejam responsdveis, Eles s4o vitimas assim como vo- cé; os pais deles também eram. E assim por diante... vocé pode retroceder até Adao e Eva ¢ Deus Pai! Parece que nem o Deus Pai era muito respeitoso com Adio c Eva. E por isso que, desde o comego, ele mandava neles, “Faca isto”, Nao faca aquilo”. Ele comegou fazendo as mesmas bobagens que todos os pais fazem. “Nao coma o fruto desta arvore.” E quando Adio comeu o fru- to, Deus ficou tio furioso que expulsou Adio ¢ Eva do paraiso. Essa expulsio ¢ sempre uma possibilidade, e todo pai ameaca expulsar 0 filho, mandé-lo embora. “Se nao me ouvir, se ndo se comportar bem, vo- cé vai embora.” E claro que o filho fica com medo. Ir embora? Para os ri- gores da vida lé fora? Ele comeca a fazer concessbes. A crianca pouco a pouco é corrompida, ¢ comeca a manipular. Ela néo quer sorrit, mas se a inde esta por perto e ela quer mamar, ela sorti. Agora isso € politica ~ 9 ini- cio, o ABC da politica. LA no fund, a crianga comeca a odiar os pais, porque ela nao é respei- tada; 14 no fundo, comega a ficar frustrada porque nao é amada como ela é. Esperam que ela faga certas coisas, s6 entio serd amada, Q amor tem con- digoes; ela no é valorizada pelo que é. Primeito tem que se tornar merece- dora, s6 entéo recebe 0 amor dos pais. Entéo, para se tornar “merecedora”, a crianga comega a ser falsa; perde toda nogéo do seu valor intrinseco. Per- de o respeito por si mesma e, pouco a pouco, comeca a se sentir culpada. Muitas vezes ocorre & crianga, “Serd que eles séo meus pais de verda- de? Seri que ndo me adoraram? Talver estejam mentindo para mim, pois ndo parecem me amar”. E milhares de vezes ela vé raiva nos olhos dos pais, esgares de raiva no rosto deles, ¢ por coisas téo pequenas que ela ndo con- segue entender a proporgéo da raiva causada por essas pequenas coisas. Por A ESSENCIA DO AMOR coisas to pequenas cla vé a fiitia dos pais — nao consegue acreditar em ta- manha injustica! Mas ela tem de ceder, tem de se curvar, tem de aceité-la por necessidade. Aos poucos, a sua capacidade de amar é exterminada, Q amor $6 cresce em meio ao amor, O amor precisa de um ambiente de amor ~ essa ¢a coisa mais fundamental para se lembrar. $6 num am- biente de amor o amor ctesce; ele precisa & sua volta do mesmo tipo de pul- sagao. Se a mae amorosa, se 0 pai € amoroso — nfo sé com a crianga, se eles si amorosos um com o outro também, se a casa tem uma atmosfera onde flia.o amor — a crianca comecaré a agit como um ser de amor, e nun- ca perguntard “O que é 0 amor?” Ela saberd, desde 0 comecinho; o amor se tornaré a sua base. Contudo, isso néo acontece. E lamentavel, mas nao tem acontecido até 0s dias de hoje. E as criangas aprendem a set como os pais — aprendem as suas queixas, os seus conflitos. Basta que voce continue se observando. Se éuma mulher, observe — voce pode estar repetindo, de modo quase idén- tico, 0 modo como @ Sua mae costumava se compartar. Obser -se quan- do estiver com o seu namorado ou matido: 0 que esta fazendo? Nao estd repetindo um padrao? Se é um homem, observe: 0 que estd fazendo? Nao estd se comportando igualzinho ao seu pai? Nao esté fazendo as mesmas bobagens que ele costumava fazer? Antigamente voce ficava surpreso — “Co- mo 0 meu pai pode fazer uma. coisa dessas?” ~ ¢ agora voce esté fazendo ivem imitando uma a outra. O ser igual. As pessoas vivem se repetindo, humano é um macaco. Voce estd repetindo 0 queo seu pai ou a sua mae fa- ¢ isso tem de acabar. S6 entao vocé sabers 0 que é 0 amor, do contré- _tio continuard corrompido Eu nao posso definir o que € 0 amor porque ele néo tem definicao. E uma daquelas coisas indefiniveis como nascimento, morte, Deus, medita~ cao. E_uma daquelas coisas indefiniveis — eu no posso defini-lo, Nao pos- so dizer “isto é 0 amor”, ndo posso mostré-lo a vocé. Ele néo é um fenédmeno visivel. Nao pode ser dissccado, nao pode ser analisado; 56 pode ser vivenciado, ¢ s6 por meio da experiéncia voce realmente sabe 0 que ele Mas eu posso The mostrar como vivencié-lo. INTRODUCAO: © QUE E O AMOR? ul O primeiro passo livrat-se dos seus pais. E nao estou querendo dizer com isso que vocé desrespeite os seus pais, claro que ndo. Eu seria a tiltima pessoa a dizer isso. Nao quero dizer que vacé deva se livtar dos seus pais fi- sicos; quero dizer que vocé_precisa se livrar das vozes interiores dos seus pais, do seu programa interno, das fitas cassete que tocam dentro de voc’. Elimine-os... ¢ vocé vai ficar simplesmente surpreso ao descobrir que, a0 eliminar os seus pais do seu ser interior, vocé ficard livre. Pela primeira vez voce conseguir sentir compaixao pelos seus pais, do contririo nao conse- guir4; vocé vai continuar ressentido. Todas as pessoas sentem ressentimento pelos pais. Como vocé pode no ter ressentimento se eles lhe fizeram tanto mal? E eles nao fizeram isso de propésito ~ sé queriam 0 seu bem, queriam fazer tudo pelo seu bem-es- tar. Mas 0 que eles podiam fazer? Nao € porque vocé quer uma coisa que ~claacontece. Desejar o melhor nao basta. Eles desejavam o melhor para vo- cé, isso é verdade; disso nao ha diivida; todos os pais querem que o filho sé tenha alegrias na vida. Mas 0 que podem fazer? Eles prdprios nunca tiveram nenhuma alegtia. Eles sao robés, € conscientemente ou nio, intencional- mente ou ndo, criaram uma atmosfera em que os filhos cedo ou tarde se tor- nariam robés também. Se vocé quer se tornar um ser humano e néo uma maquina, livre-se dos seus pais. E vocé precisard ter muita cautela, Trata-se de um trabalho ér- duo, muito arduo; voc’ nao consegue faré-lo num estalar de dedos. Tera de ter muito cuidado com seu comportamento. Observe ¢ veja quando a sua mie entra em cena, ¢ comeca a agir por seu intermédio — assim que perce- ber, afaste-se desse comportamento. Faga algo absolutamente novo, que 2 sua mae nem poderia imaginar. Por exemplo, o seu namorado esta olhan- do para outta mulher com um brilho de admiracio nos olhos. Agora ob- serve o que voce esté fazendo. Esté fazendo 0 mesmo que a sua mie fazia quando 0 seu pai olhava com admiragao para outra mulher? Se estd, voce nunca saberd o que é 0 amor; vai simplesmente repetir a mesma histéria, Se- +4 a mesma cena representada por outros atores, mais nada; o mesmo ato desgastado sendo repetido varias ¢ varias vezes. Nao seja uma imitacao, saia A ESSENCIA DO AMOR di ber. Faga algo que o seu pai nem sequer poderia conceber. Essa novidade so. Faca algo novo. Faca algo que a sua mae nem sequer poderia conce- tem-que brotar do seu set, sé. entéo.o.amor comecardé.a fluir, O primeiro principio bésico, portanto, é livrar-se dos seus pais. O segundo € o seguinte: as pessoas acham que sé podem amar quan- do encontram um parceiro digno delas — bobagem! Vocé nunca encontra- 4. um. As pessoas acham que s6 amario quando encontrarem 0 homem perfeico ou a mulher perfeita. Balelal Vocé nunca os encontrar, porque a mulher ou o homem perfeito ao existem. E se existirem, nao se importa- réo com o seu amor. Nao estardo interessados, Ouni falar de um homem que continuou solteiro a vida toda por- que estava em busca de uma mulher perfeita. Quando estava com 70 anos, alguém lhe perguntou, “Vocb viajou tanto — foi de Nova York a Katmandu, de Katmandu para Roma, de Roma para Londres, sempre nessa busca. Néo conseguiu encontrar uma muther perfeita? Nem mesmo uma?” O velbo aparentou uma grande wistexa, “Sim, uma vez encontrei. Muito tempo atrés, conheci uma muther perfeita.” O outro indagon, “Entéo 0 que acontecest? Por que néo se casaram?” Pesaroso, 0 velho responden, “Adivinhe. Ela estava em busca do bomen per E, lembre-se, quando dois seres sao perfeitos, a necessidade que tém de amor no é igual A sua necessidade. E algo totalmente diferente Vocé néo compreende nem mesmo 0 amor que é possivel para vocé, como seré capaz de compreender 0 amor que envolve alguém como Buda, ou 0 amor que fui de alguém como Lao-Tsé para vocé — vocé néo é capaz de compreender. meiro vocé tem que entender o amor que é um fenémeno natutal mo esse aconteceu ainda. Primeiro vocé tem que entender o. na- 40 0 transcendental. Portanto, a segunda coisa a lembrar é& INTRODUCA! © QUE E O AMOR? 13 nunca saia em busca do homem perfeito ou da mulher perfeita, Essa ideia também foi incutida na sua mente — de que a menios que enconete o homem perfeiro ou a mulhet perfeita, vocé nunca serd feliz. Entdo vocé continua em busca do perfeito, e ndo o encontra, portanto vive infeliz, Nao € preciso perfeigéo para fluir e crescer no amor. O amor nao tem nada a ver com o outro. Uma pessoa amorosa simplesmente ama, assim co- mo uma pessoa viva respira, come, bebe ¢ dorme, Exatamente desse modo, uma pessoa realmente viva, uma pessoa amorosa, ama. Vocé nao diz, “A menos que 0 ar esteja perfeitamente puro ¢ despoluido, nao vou respirar”. Vocé continua respirando mesmo que more em Los Angeles; vocé continua respirando mesmo que more em Mumbai. Continua respirando 2onde quer que va, mesmo com o ar poluido, envenenado. Continua tespirando! Voce do pode parar de respirar s6 porque o at nao esté nas condicdes ideais. Se est com fome, vocé come alguma coisa, seja o que for. No deserto, se esté morrendo de sede, vocé bebe qualquer coisa, Nao insistird para que lhe tra- gam coca-cola, qualquer coisa servird — qualquer bebida, égua, até 4gua su- ja. Jd se soube de pessoas que beberam até a propria urina. Quando voce esta morrendo de sede, nao importa o que & vocé bebe qualquer coisa para ma- tara sede. Pessoas matam camelos no deserto para beber égua — porque os camelos tém agua dentro deles. Porém, isso ¢ perigoso, porque depois a pes- soa ter’ de andar por quilémetros, Mas ela estd com tanta sede que pensa primeiro no mais importante — primeiro na égua, do contrdrio morrer, Sem agua, mesmo que o camelo estivesse ali, 0 que ela iria fazer? O came- lo teria que levar um cadiiver para a cidade mais préxima, pois sem dgua vo- cé morreria, ‘Umna pessoa viva ¢ amorosa simplesmente ama. © amor é uma funcéo natural. Endo, a segunda coisa a lembrar &: néo espere perfeigaos do cont amor nenhum fluird de vocé. Do contrério, vocé serd “desamoroso’ Aque- les que exigem perfeicao séo pessoas muito “desamorosas”, neuréticas. Mes- mo que consigam encontrar um companheiro, elas exigem perfeicéo, € 0 amor é destruido por causa dessa exigencia. 14 A ESSENCIA DO AMOR Assim que um homem passa a amar uma mulher ou uma mulher pas- sa a amar um homem, comeca a exigéncia. A mulher comeca a exigir que o homem seja perfeito, sé porque ele a ama. Como se ele tivesse cometido um pecado! Agora ele tem que ser perfeito, tem que sc livrar de todas as suas limiragées — de repente, 86 por causa dessa mulher? Agora ele nao pode mais ser humano? Qu ele tem que se tornar sobre-humano ou tem que se tornar um impostor, alguém falso, trapaceiro. Naturalmente, tornar-se sobre-humano € muito dificil, entao as pes- soas se tornam trapaceiras. Elas comegam a fingir, representar ¢ fazer jo- guinhos. Em nome do amor, as pessoas esto apenas fazendo joguinhos Por isso a segunda coisa a se lembrar é nunca exigir perfeicdo. Voce nao tem o direito de exigir nada.de ninguém, Se alguém ama vocé, seja grato, mas no exija nada ~ porque 0 outro nao tem obrigacdo de amé-lo. Se uma pes- soa ama, trata-se de um milagre. Emocione-se com o milagre Mas as pessoas néo se emocionam, Por causa de pequeninas coisas, clas acabam com todas as possibilidades de amor. Elas nao esto muito in- teressadas em amor e na alegria que ele traz. Estéo mais inveressadas em ou- “tras viagens do ego. Preocupe-se com a sua alegria. Preocupe-se totalmente com a sua ale- gria, preocupe-se apenas com a sua alegria, Todo o resto € secundario. Ame = como uma fungéo natural, tal como respirar, E quando amar uma pessoa, nfo comece a fazer exigéncias; do contrério desde o inicio vai comecar a fe- char as portas. Néo tenha nenhuma expectativa. Se algo cruzar o seu cami- » nao hd nho, sinta-se grato. Se nada acontecer, nao € preciso que acont necessidade nenhuma que aconteca. Vocé nao pode ter expectativas. Mas observe as pessoas, veja como clas nfo déo nenhum valor umas as outras. Se a sua esposa lhe prepara o jantar_vocé ndo agradece. Nao estou dizendo que vocé tenha de verbalizar o seu agradecimento, mas ele tem que estar nos seus olhos. Mas vocé no se incomoda com isso, nao dé a menor o dela. Quem disse? Se o seu marido vai trabalhar para ganhar dinheiro, voce nunca agra- importancia ~ é a obrigac Nio sente a menor gratidio. “E, isso mesmo que um homem tem de TRODUGA 1 © QUE EO AMOR? fazer.” Isso é 0 que voct pensa. Como 0 amor pode crescer? Fle precisa de um clima de amor, precisa de um clima de gratidao. Precisa de uma at- mosfera em que nao haja exigéncias, nao haja expectativas. Essa é a segun- da coisa. alembrar. Ea terceira é em vez de pensar em como receber amor, comece a amar: Se vocé da, vocé recebe. Nao existe outra maneira. As pessoas estéo mais in- teressadas em receber, em se apoderar, Todo mundo esté interessado em re- ceber e ninguém parece gostar de dar, As pessoas s6 déo alguma coisa com muita relutincia~se dio, € 56 porque querem receber algo em troca; ¢ qua- se um negécio, um comércio. Blas estao sempre querendo ter certeza de que vao receber mais do que dao — ai seré um bom negécio, vai valer a pe- na. Ea outra pessoa esti fazendo a mesma coisa. O amor néo é um comércio, portanto pare de agit como um comer- ciante. Do contrério vocé nao aproveitard a vida, 0 amor ¢ todas as coisas belas que ela tem — porque nada que é belo ¢ um comércio. O comércio é a pior coisa do mundo —um mal necessétio, mas a existéncia nao sabe na- da sobre comércio. As drvores florescem, nao é um comeércio; as estrelas bri- Iham, nao é um comércio ¢ vocé no tem que pagar por isso nem ningném ige nada de vocé. Um péssaro vem, pousa na sua porta ¢ comeca a can- tar, ¢ 0 pdssaro nao Ihe pede um certificado ou algum sinal de que voce es- td gostando, Ele canta e depois sai voando alegremente, sem deixar rastro. E assim que o amor cresce. Dar, e ndo esperar para ver quanto pode re ceber em troca. Sim, vocé reeebe, ¢ recebe multiplicadamente, mas isso é al- go natural. Vem por conta prépria, nao preciso que voce exija. Se exigin, nao vem. Quando exige, voé mata 0 amor. Portanto, dé. Comece a dar, No inicio, seré dificil, porque a vida toda voce teinou nao para dar, mas para receber. No inicio, vocé terd que lutar com a sua propria armadura A sua musculatura se tornou rija, 0 seu coracdo se tornu uma pedra de ge- lo, vocé se tornou uma pessoa fiia. No inicio, sera dificil, mas cada passo 0 lovaré mais longe ¢, pouco a pouc: © tio comecaré a fluir. Primeizo livre-se dos seus pais. Livrando-se dos seus pais, vocé se livrard da sociedade; livrando-se dos seus pais, vocé se livrard da civilizacado, da 16 A ESSENCIA DO AMOR educacio, de tudo ~ porque os seus-pais represcntam_tudo isso, Voce se tor- _na um individuo. Pela primeira ver. na vida, vocé nao far mais parte da massa, vocé teré uma individualidade auténtica, Voce estard por conta prd- pria, Isso € que é crescimento. E assim que uma pessoa adulta deve ser. A pessoa adulta € aquela que nao precisa dos pais, A pessoa adulta ¢ aguela que nao precisa se agarrar nem se apoiar em ninguém. A pessoa adul- ta é aquela que vive feliz na sua solidao — a sua soliddo é uma cangao, uma celebracdo. A pessoa adulta ¢ aquela que vive feliz em sua prépria compa- nhia. A sua solidac nao € propriamente solidao; é solitude, é meditativa. Um dia vocé teve que sair do titero da sua mae. Se tivesse ficado ld por mais de nove meses, teria morrido — e nao s6 voce, mas ela também. Um dia vocé teve que sair do tivero materno; entéo um dia teve que sair também, do seu ambiente familiar, outro utero, ¢ ir a escola, Entao um dia teve de sair da atmosfera escolar, outro titero, ¢ entrar num mundo maior. Mas la no fundo voce continua sendo uma crianga. Vocé ainda estd no titero! camadas ¢ camadas de titero e esse titero precisa ser rompido. Isso € 0 que, no Ocidente, vocés chamam de segundo nascimento. Quando voce passa pelo segundo nascimento, fica completamente livre das impressdes dos pais. E a beleza disso ¢ que s6 entio a pessoa sente gratidao pelos pais. Ela sente compaixao ¢ amor por eles, Jamenta por eles, porque também sofreram do mesmo jeito. Ela nao fica com raiva ¢ faz tudo para aju- dar os pais a conquistar a plenitude da solidao, o dpice desse sentiment. ‘Tornar-se individuo, isso éa primeira coisa. A segunda é: no espere per- feicao e no peca nada, nao cxija nada. Ame as pessoas comuns. Nao hé na- da de errado com as pessoas comuns. As pessoas comuns sio extraordingrias! Todo ser humano ¢ tinico e exclusivo: tenha respeito por essa originalidade. Terceiro, dé, e dé ser condig6es — entéo vocé saber o que é amor. Eu nao posso defini-lo, $6 posso Ihe mostrar 0 caminho que leva ao seu cres- Cimento. Posso the mostrar como fazer com que ele se tore uma roseiza, como regi-lo, como fertilizé-lo, como protegé-lo. Entio um dia, a partir do nada, surge a rosa, ¢ a sua casa fica toda perfumada. E assim que o amor PARTE | A jornada do “eu" para o “nés” Compreenda a natureze do amor € como nutri-lo Q.mor nao pode ser aprendido, nao pode ser cultivado. O amor cultivado nao seré amor coisa nenhuma. Nao serd uma rosa de verdade, seré uma flor de plastico. Se vocé aprende alguma coisa, isso significa que ela veio de fora; néo é um crescimento interior..E o amor tem que crescer interiormente para ser auténtico e verdadeiro. © amor nao é um aprendizedo, mas um crescimento. © que vocé precisa fazer nao é aprender maneiras de amar, mas desaprender maneiras de "desamar”. Os obs- taculos precisam ser removidos, as pedras tém que ser re- tiradas do caminho, para que ele possa fluir. Ele jé existe -escondido atras de muitas pedras, mas a sua nascente ja existe. Ele 6 0 seu proprio ser. ALEM DA DEPENDENCIA E DA DOMINAGAO Rompendo a crosta do ego Eu sempre me surpreendo com a quantidade de pessoas que me procuram e dizem que tém medo do amor. Por que medo do amor? Porque, quando vocé realmente ama alguém, o seu ego comeca a se desva- necer, a derrerer. Vocé nfo pode amar com ego; o ego s¢ torna uma bar- reira ¢, quando vocé quer tirar a barreira entre voce ¢ 0 outro, 0 ego diz, “Isso vai ser a morte, cuidado!” A morte do ego nao éa sua mortes a morte do ego 6, na verdade, a sua possibilidade de vida. O ego é apenas uma crosta sem vida em volta-de vo- cé, ela tem de ser quebrada e abandonada. Ela se desenvolve naturalmente ~ como o viajante que acumula pocira nas roupas, no corpo, € tem que to- mar banho para se livrar da sujcira. Com o tempo, a poeira das nossas ex- periéncias, do nosso conhecimento, da vida que vivemos, do pasado, vai se acumulando, Essa poeira se torna o ego. Ela se acumula e se rorna uma crosta em torno de vocé, e tem que ser quebrada e abandonada. F preciso tomar banho todos os dias, na verdade a todo momento, para que essa cros- ta nfo se torne uma priséo. 19 20 A ESSENCIA DO AMOR E muito dtil entender de onde vem o ego, entender as raizes. Acrianga nasce ¢ ¢ totalmente indefesa, principalmente a crianca hu- mana, Nao podemos sobreviver sem a ajuda de outras pessoas. A maioria dos filhotes de animais, as drvores, os passaros conseguem sobreviver sem os pais, sem uma sociedade, sem uma familia. Mesmo que as vezes precise . Mas a crianca humana é tao indefesa que passa anos dependendo de outras pes- de ajuda, é muito pouco — alguns dias, no maximo alguns me soas, E af que é preciso buscar as rafzes. Por que esse desamparo deu origem ao ego humano? A crianga ¢ inde- fesa, ela depende dos outros, mas a mente ignorante da crianga interpreta es- sa dependéncia como se o mundo gitasse em torno dela. A crianga pensa, Sempre que eu choro, a minha mae vem correndo; sempre que tenho fo- me, basta eu dar um sinal para que me oferecam o peito. Sempre que estou molhado, choro um pouquinho e alguém troca as minhas fraldas”. A crian- gavive como um imperador, Na verdade, ela ¢ absoluramente indefesa e de- pendente, ¢ a mac ¢ 0 pai, a familia ¢ aqueles que cuidam da crianga esto, todos eles, ajudando-a a sobreviver: Eles ndo dependem da crianga, a crian- ca é que depende deles. Mas a crianca interpreta isso como se 0 mundo gi- rasse em torno dela, como se 0 mundo inteiro s6 existisse por causa dela. E o mundo da crianga, obviamente, 6 muito pequeno no inicio. Ele consiste na mae, a pessoa que cuida dela, no pai, que esté ali por perto ~ nis- so se resume o mundo da ctianca. Essas pessoas a amam. E a crianga se tor- na cada vez mais egoista. Bla se considera o centro. de toda a existéncia, ¢ dessa maneira o ego ¢ criado. Por meio da dependéncia ¢ do desamparo. 0 ego é criado, Na verdade, a situacéo real da crianga ¢ justamente 0 contrério do que cla pensa; nao existe uma justificativa real para que esse ego seja criado. Mas a crianga € absolutamente ignorante, néo é capaz de entender a complexi- dade da coisa. Fla n4o sabe que é indefesa, acha que ¢ um ditador! E, en- 10, pelo resto da vida, cla continuaré tentando ser um ditador. Bla se rf. um Napoleao, um Alexandre, um Adolf Hitler ~ 08 seus ptesiden- primeiros-ministros, ditadores, s4o todos infantis. Eles estio tentando ALEM DA DEPENDENCIA E DA DOMINACAO 21 conseguir a mesma coisa que viveram na infincia; querem ser 0 centro de toda a existéncia. Com eles, o mundo tem que viver ¢ morrer o mundo in- teiro éa sua periferia ¢ eles s40 0 centro do mundo: o proprio significado da vida esté encerrado dentro deles. A ctianga, ¢ claro, naturalmente acha essa interpretagdo correta, pois, quando a mae olla para ela, nos seus olhos cla vé que é ela quem dé senti- do para a vida da mae. Quando o pai chega em casa, a crianga percebe que € ela quem dé sentido para a vida do pai. Isso dura uns trés on quatro anos nunca mais ha- ~€ os primeiros anos da infincia sao os mais importantes; verd um tempo, na vida da pessoa, com o mesmo potencial. Os psicélogos dizem que, depois dos primeiros quatro anos, a crianca esta quase completa. Todos os padrées jd estéo fixados; pelo resto da vida ela repetiré os mesmos padroes em diferentes situacées. E ali pelo sétimo ano, a ctianga jé tern todas as atitudes confirmadas, o seu ego jé estd esta- belecido. Agora ela sai para o mundo ~ ¢ dai em diante em todos os luga- res encontrar problemas, milhées de problemas! Depois que ela sai do irculo familias, os problemas comecam a surgit — porque ninguém se im- porta com vocé como a sta mée se importava; ninguém estd tdo preocupa- do com vocé como o seu pai estava, Pelo contririo, aonde quer que va vocé 86 encontra indiferenca, ¢ 0 ego fica fetido. Mas agora o padrao jé estd estabelecido. Ferida ou nao, a crianca nao pode mudar o padrdo — ela se tomou a prépria cépia do seu ser. Brincard com as outras criangas ¢ tentard dominé-las, Ind a escola e tentard dominar, ser a primeira da classe, ser a aluna mais importante. Talver ela acreditasse que era superior, mas vai descobrir que todos os alunos acteditam na mes- ma coisa. Existem conflitos, existe egos, existe briga, discussdes, E essa se torna toda a histéria da vida: existem milhdes de egos em tor- no de vocé, assim como voce, ¢ todo mundo estd tentando controlar, ma- nipular, dominat — por meio do dinheiro, do poder, da politica, do conhecimento, da forca, das mentiras, das pretensées, da hipocrisia, Até mesmo na seligito ¢ na moralidade, todo mundo estd tentando dominar, mostrar ao resto do mundo que “Eu sou o centro do mundo”. 22 A ESSENCIA DO AMOR Essa é a raiz de todos os problemas entre as pessoas. Por causa desse conceito, voce estd sempre em conflito ¢ lutando com uma pessoa ou ou- tra, Nao que os outros sejam inimigos seus — todo mundo € como voce, es- t4 no mesmo barco. A situacéo é a mesma para todo mundo; eles foram ctiados do mesmo modo. Existe uma certa escola de psicandlise ocidental segundo a qual, a me- hos que as criangas sejam criadas longe do pai e da mae, nunca haverd paz no mundo. Eu nao concordo com eles, pois sem os pais as criangas nao se- 130 criadas de mancira algumal! Esses psicdlogos tém uma certa rao, mas trata-se de uma ideia muito perigosa. Porque, s¢ as criancas forem criadas em creches, longe do pai e da mae, sem nenhum amor, com total indife- renga, elas podem nio ter os problemas do ego, mas teriio outros, até mais prejudiciais ¢ perigosos. Se a ctianga for ctiada com total indiferenga, ela nao terd centro. Ela seré uma confusio, seré desajeitada, nao saberd quem cla ¢, Nao ter ne- nhuma identidade. Com medo, apavorada, ela nao ser capaz de dar nem mesmo um passo sem morrer de medo, porque ninguém a amou. E claro que nio haverd ego nenhum, mas sem ego cla nao terd centro. Ela nfo se tornaré um buda; seri apenas alguém embotado ¢ incapacitado, que sente medo 0 tempo todo. E preciso amor para que vocé sinta destemor, para que se sinta aceito, alguém que nao é imprestivel, que pode ser jogado no lixo. Se as criancas fo- rem criadas numa situago em que nao haja amor, elas nao terdo ego, isso ¢ verdade. A vida delas nfo terd tantas disputas e combates. Mas elas nao se- rao absolutamente capazes de se defender. Estao sempre fugindo, correndo de todo mundo, escondida nas cavetnas do seu proprio ser. Elas nao seréo budas, ndo irradiarao vitalidade, nao viverdo centradas, 2 vontade, em casa, Serio simplesmente exeéntricas, fora do centro. Também néo seré nada bom. Portanto, eu nao concorde com esses psicdlogos. A proposta deles cria tia robés, nao seres humanos—¢ os robés, é claro, nao tém problemas. Ou pode dar origem a seres humanos que sejam mais parecidos com ani- rc veré menos preocupacio, menos tilceras, menos cancer, mas nada ALEM DA DEPENDENCIA E DA DOMINACAO z disso vale a pena se significa que vocé nao pode chegar ao ponto mais ¢ vado da consciéncia, Em vez disso, voce estard numa queda livre; estard re- gredindo. & evidente que, se vocé se tornar um animal, haverd menos angiistia, porque haverd menos consciéncia. E, se vocé se tornar uma pedra, uma rocha, nao haveré preocupagéo nenhuma, porque néo haveré ninguém ali dentro para sentir preocupacao, para sentir anguistia, Mas nao vale a pe- na. A pessoa tem que ser como um deus, nao como uma rocha. E com is- so quero dizer absoluta consciéncia e mesmo assim nenhuma preocupacio. Nenhuma ansicdade, nenhum problema; viver a vida como um péssaro, celebrar a vida como um péssaro, cantar como um péssato ~ nao regredin- do, mas avancando até um nivel étimo de consciéncia. A crianca forma o ego - é natural, nada pode ser feito com relacdo a isso. E preciso aceitar. Mas, postetiormente, nao hd necessidade de se con- tinuar com ele. Esse ego ¢ necessério no inicio, para que a crianga se sinta aceita, amada, bem-vinda ~ sinta que ela é um convidado de honra, no um acidente..O pai, a mac ¢ o calor humano em tomo da crianga a ajudam a crescer forte, enraizada, ancorada. E necessério, o ego lhe dé protegao - ¢ bom, € assim como a casca de uma semente. Mas a casca no deve se tor- nar definitiva, do contrério a semente morrerd. A protecdo pode durar por tempo demais ¢ se tornar uma priso. A protecéo precisa continuar sendo uma protec enquanto for necessdria ¢, quando chega o momento de a casca dura da semente cair por terra, ela precisa morrer naturalmente para que a semente possa brotar e a vida nascer. O ego é 86 uma casca protetora — a crianga precisa dela porque é in- defesa. Precisa dela porque é fracas porque é vulnerdvel e existem milhées de forcas em torno dela. Ela precisa de protecdo, de uma casa, de uma ba- se. O mundo todo pode ser indiferente, mas ela sempre pode se voltar pa- rao seu lar, ¢ ali pode adquirir importancia ‘Mas com a importancia vem o ego. A crianga fica egoista, e com 0 ego surgem todos os problemas que voce enfrenta. Esse ego ndo deixard que vo- o€ se apaixone, Esse ego gostaria que todas as pessoas se rendessem a ele; ele no vai deixar que vocé se renda a ninguém — ¢ o amor s6 acontece quan- 24 A ESSENCIA DO AMOR do vocé se rende. Quando vocé forga outra pessoa a se render, isso € detes- tavel, destrutivo. Nao é amor. E se nao existe amor, a sua vida nao terd afe- to, nao terd poesia. Ela pode ser prosa, matemiética, Idgica, racional. Mas como viver sem poesia? Nao hé nada de etrado com a prosa, racionalmente tudo bem, ela € til, necesséria — mas viver apenas por meio da razio ¢ da logica pode nun- ca ser uma celebragho, pode nunca ser festiva. E quando a vida nao é festi- va, cla é chata. A poesia é necessdria — mas pela poesia vocé tem que se render, Precisa descartar o ego. Se fizer isso, se colocé-lo de lado por alguns instantes, a sua vida terd vislumbres da beleza, do divino. Sem poesia vocé nao consegue viver de verdade, vocé s6 pode existir. O amor é poesia. E, se o amor nao é possivel, como vocé pode ser reveren- te, meditativo, consciente? E quase impossivel. E sem uma consciéncia me- ditativa, vocé seré apenas um corpo; nunea ficaré consciente da sua alma mais profunda. Somente na devocio, na meditacao profunda e no siléncio vocé chega ao pice. Esse siléncio reverente, essa consciéncia meditativa, es- td no dpice da experiéncia — mas o amor abre a porta. Carl Gustav Jung, depois de passar a vida toda estudando milhares de pessoas ~ milhares de casos de pessoas doentes, psicologicamente mutiladas, psicologicamente confusas —, afirmou que nunca tinha conhecido uma pes- soa doente cujo problema real, depois dos 40 anos, nao fosse espiritual. Existe um ritmo na vida, € na casa dos 40 anos surge uma nova dimensio, a dimensio espiricual. Se vocé ndo lidar com ela direito, se ndo souber 0 que fazer, ficard doente, inquieto. Todo o crescimento humano é uma conti- nuidade. Se vocé queima uma etapa, cle fica descontinuo. A crianga forma © ego —e se ela nunca aprender a deixar esse ego de lado, nao conseguird amar, nfo conseguiré ficar & vontade na companhia de ninguém. O ego vi- verd guerreando. Vocé pode se sentar em siléncio, mas o seu ego esté cons- tantemente brigando, procurando maneiras de dominas, de ser ditatorial, ¢ ser o governador do mundo. Isso s6 cria problemas em todo Ingar. Na amizade, no sexo, no amor, iedade — em todo lugar, vocé esta em conflito. Havera conflito até ALEM DA DI PENDENCIA E DA DOMINAGAO mesmo com os pais que The deram esse ego. E raro que um filho perdoe 0 pai, € raro que uma mulher perdoe a mie. [sso acontece muito raramente. George Gurdjieff tinha uma frase na parede da sala onde ele costue mava receber as pessoas. A frase era assim: “Se voce ainda ndo fez as pazes com 0 seu pai ea sua mie, vé embora. Nao posso fazer nada por voce", Por que? Porque o problema foi criado ali ¢ tem de ser resolvido ali. E por isso gue todas as tradigécs 0 aconselham a amar os seus pais, a respeitar os seus pais tanto quanto possivel — porque 0 ego vem dali, essa é a base. Solucio- ne-o, caso contririo isso vai assombrar vocé em todo lugar, Os psicanaliscas também chegaram 4 conclusio de que tudo o que fi- zem € levar o paciente de volta aos problemas que existiam entre ele e os pais € tentar resolvé-los de alguma maneira, Se vocé conseguir resolver 0 seu conflito com os seus pais, muitos outros conflitos simplesmente desapare- cerdo, porque eles se basciam no mesmo conflito bésico. Por exemplo, um homem que nio se dé bem com o pai nao consegue se dar bem com o chefe no escritério — nunca, porque o chefe é uma figura paterna, Esse pequeno conflito com os pais continua a se refletir em todos os seus relacionamentos. Se vocé nio se di bem com a sua mae, também nao se da bem com a sua esposa, porque ela representa as mulheres; voc® nfo con- segue se sentir bem com as mulheres em geral, porque a sua mae é a primei- ra mulher da sua vida, é 0 seu primeiro modelo de mulher. Onde quer que haja wna mulher, a sua mae est, ¢ um relacionamento sutil continua. © ego nasce no relacionamento com o pai ¢ a mae, e é ali. que é pre- ciso enfrenté-lo, Do contrério, vocé continuard cortando os galhos e as fo- Ihas da drvore, ea raiz continuaré intacta. Se chegou a um acordo com o seu Pai ¢ a sua mae, vocé amadureceu. Nao existe mais ego. Vocé compreende que era indefeso, que dependia dos outros, que nao era o centro do mun- do. Na realidade, vocé era completamente dependente; nao teria sobrevi vido de outro modo. Se vocé entende isso. 0 ego pouco a pouco se desvanece; , quando nao est4 mais em conflito com a vida, vocé se torna solto ¢ natural, vocé relaxa, Fica leve como o ar. Q mundo nao parece mais cheio de inimigos, ele é uma familia, uma unidade organica. O mundo nao 26 A ESSENCIA DO AMOR esté mais contra voeé, vocé pode flutuar com ele. Ao descobrir que o ego é uma bohagem, ao descobrir que 0 ego no tem base existencial, ao desco- brir que o ego € s6 um sonho pueril, uma ideia equivocada nascida da ig- norincia, a pessoa simplesmente deixa de ter ego, Existem pessoas que me procuram para perguntar, “Como eu me apai- xono? Existe um jeito?” Como se apaixonar? Elas quetem saber um jeito, um método, uma certa técnica, Blas néo entendem o que estio perguntando. Apaixonar-se significa que agora nao h4 mais jeito, nio ha uma técnica, nao ha um mérodo. E por isso que se fala em “cair de amores” — vocé nao esté mais controlando nada, vocé simplesmente cai. F por isso que as pessoas de muito raciocinio ico olho, a tinica visio — mas elas dizem que o amor é cego, O amor éo tir dirdo que 0 amor é cego, ¢ s¢ voce estiver apaixonado dito que vocé ficou louco. O amor parece loucura pata a pessoa movida pela ccabeca, porque a mente é uma grande manipuladora. Qualquer situagao ei que se perde 0 controle parece perigosa para a mente. Mas existe o mundo do coracéo humano, existe o mundo do ser hu- mano e da consciéncia, onde nenhuma técnica é posstvel. ‘Todas as tecno- logias séo possiveis com a matétia; com a consciéncia nenhuma tecnologia ¢ possivel e, na verdade, ncnhum controle é possivel. O proprio esforco pa- a controlar ou para fazer com que as coisas acontecam € egoista.

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