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Claude Quétel Historia da Segunda Guerra Mundial textoeerafia INTRODUGAO DE UMA GUERRA A OUTRA Na historia da humanidade, cada nova guerra é fre- quentemente explicada por aquela que imediatamente a precedeu. E particularmente 0 caso da Segunda Guerra Mundial, herdeira direta—e, de resto, num lapso de tempo relativamente curto (21 anos) — do primeiro conflito mun- dial. Apés um armisticio prematuro do ponto de vista estritamente militar (a Alemanha conserva um territério inviolado), mas, por todos esperado no termo de quatro anos de uma carnificina terrivel, o Tratado de Versalhes nada resolve. Imposto aos vencidos e ignorando a nova Russia bolchevique, este tratado desenha um novo mapa da Europa ao arrepio do bom senso, isolando nomeadamente a Prussia da Alemanha de forma a criar um corredor de acesso ao mar para a recentemente recriada Polonia. Na mesma altura em que o presidente dos Estados Unidos, Wilson, declarava, num dos seus «catorze pontos» enunciados em janeiro de 1918, o direito dos povos a autodetermina¢ao, a Austria via liminarmente recusado o direito de se integrar na Alemanha (Anschluss). A propria assinatura do Tratado de Versalhes foi organizada de maneira humilhante para a Alemanha. Por momentos, este pais ainda reconsiderou a possibilidade de reiniciar as hostilidades. 9 sgGUNDA GUERRA MUNDIAL pisTORIA DAS — de Hitler, @ Alemanha da Republica gg Muito antes ente denunciar 0 Diktat de Versalhes Weimar val si mente «a punhalada nas costasy, Os e invocar Oat Sate de que a Franga quer Mata-los alemaes esto ae e, pior ainda, negar-lhes a identidade a fome, paces a Alemanha deva ser teoricamente nacional a the é exigida qualquer garantia territorigy desarmae 2. o marechal Foch, & necessario «conseryar Oe R Sem isso, adverte ele profeticamente solidamente o Reno». KIsSO : : «nao é uma paz, éum armisticio de vinte anos!» O chefe do governo francés e artesdo da vitoria, Georges Clemenceau, a quem Foch acusa de ter «perdido a paz», nao est4 longe de partilhar esta opiniaio, mas tem de levar em conta os aliados da Fran¢a — a Gra-Bretanha e os Estados Unidos (sem falar da Italia, j4 fora do jogo e, por isso, destinada a todas as aventuras). No entanto, a partir de 1919 e na década seguinte, estas duas poténcias vao desconfiar constantemente nao da Alemanha, mas da Franga, agora considerada intransigente e belicista, Assim, a questo do Pagamento das indemnizagdes de guerra pela Alemanha (exigidas pela Franca, mas que o Estado alemao nunca Pagard) vai literalmente envenenar as relac6es internacio- nais. A Ocupagéio do Ruhr pela Franga de 1923 a 1925, que resulta da ma vontade da Alemanha em cumprir as suas Obrigagdes, acaba Por isolar diplomaticamente a Franga. De uma guerra ganha por varios, saiu uma paz feita one A Gra-Bretanha, que tem diante de si o fosso Pea 0s Estados Unidos, que tém diante de si o cies ve " Uvessionam-se € melindram-se com a pre0- Suran¢a da Franga face a uma Alemanha da 10 INTRODUGAO ~ DE UMA GUERRA A OUTRA qual estd separada apenas por uma fronteira muito aberta e vulneravel. Além disso, estas duas poténcias oferecem a Franca, justamente preocupada com o futuro, a garan- tia da sua alianga (vista por Foch como «moeda falsa»). Ora, a 19 de novembro de 1919 e, depois, a 19 de margo de 1920, o Senado americano recusa ratificar 0 Tratado de Versalhes, suprimindo ao mesmo tempo a garantia militar dos Estados Unidos a Franga. A Gra-Bretanha fica ipso facto desobrigada dos seus compromissos. A Franga encontra-se s6 face 4 Alemanha. A ratificago do Tratado em Franca pela Camara dos Deputados, a 12 de outubro de 1919, sd se realiza apds um debate violento de cinco semanas, que revelou as duas correntes antagonistas que dividem o pais: por um lado, uma direita que considera o Tratado demasiado suave e, por outro, uma esquerda que 0 considera demasiado duro. Além disso, instala-se duradouramente em Franga uma corrente de opinido muito pacifista, apoiada pelos ex-combatentes traumatizados pelo horror da Grande Guerra. A palavra de ordem «Nunca mais!» traduz a rejeig&o visceral de qual- quer nova guerra. Os pacifistas de todos os paises apelam a arbitragem internacional da SDN (Sociedade das NacGes), criada por iniciativa de Wilson e instalada em Genebra. No entanto, esta instituigdo, que comega por representar todas as esperangas dos paises marcados pela Grande Guerra, depressa se revelaré impotente e ineficaz. O seu Conselho (0 6rgiio executivo) sé pode tomar decisdes por unanimi- dade. Nao tem forcas armadas e sé pode decretar sangdes econémicas. A Alemanha e a Russia bolchevique (URSS a partir de 1922) estado inicialmente excluidas da organiza¢ao. 11 TORIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL HISTOR ‘ contexto que vai evoluir a Aleman E neste rimeira preocupagao, além de nag Weimar, cuja a de guerra, é a de se rearmar cl, as ah 16 de abril de 1922, assina com a Polabeviue 0 Teatado, Oe Baballo. Heth Goi nafyay estabelecem relagdes diplomaticas € econdémicas e Tenun. ciam a qualquer indemnizacao de guerra. Uma clausula secreta prevé 0 treino na Russia de um «Reichswehr negro». Assim, 0 nazismo nao rebenta na Alemanha como um trovéo num céu azul. Lider de um dog NumMerosog grupusculos de extrema direita que agitam a Alemanha apds a guerra e que se confrontam especialmente com a extrema esquerda, Adolf Hitler publica em 1925 Mein Kampf («A Minha Luta»), doutrina Pseudocientificg do racismo, segundo a qual os homens sao fundamentalmente diferentes, bem como as tagas. A raca superior é a dos Arianos, dos quais a Alemanha é 0 pais de eleicao, que deve desembaragar-se dos seus fatores de corrupgao, a comegar pelos judeus («O Judeu é a irrisio do homem [...] E um ser estranho 4 ordem natural, um ser fora da natureza [...] Grande luta ha entre eles e nés! O que esta ©m causa € muito simplesmente o destino do mundo»). A Alemanha tem também de se libertar da humilhagao do Tratado de Versalhes, condigao prévia para a edifi- cacao de uma Grande Alemanha, cujo « espaco vital» (Lebensraum) sera Conquistado a leste. Mas, antes disso, Sera preciso acabar com a Franga, «o eterno problema da Alemanha», Além da «judiaria internacional», 0S dois «inimigos m ortais da vida da Alemanha» sao 0 Marxismo e a Franga. ha de Pagar ‘andes. Rassig 12 | INTRODUCAO ~ DE UMA GUERRA A OUTRA Embora 0 Mein Kampf seja inicialmente pouco lido, a Alemanha conta j4 em 1925, no ano do seu aparecimento, com 14 nazis no Reichstag. A crise econémica mundial de 1929 eo terrivel desemprego que se abate entao sobre a Alemanha vao favorecer fortemente 0 avango do partido nazi (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei). Apoiando-se num auténtico exército privado (os SA), que combina 0 terror e a propaganda, e beneficiando dos talentos oratorios de Hitler, torna-se, em setembro de 1930, o primeiro partido da Alemanha, a cuja causa aderem os meios populares. A sua cruzada contra 0 comunismo tranquiliza, alias, os meios empresariais. Hitler torna-se chanceler a 30 de janeiro de 1933. O reordenamento da Alemanha realiza-se entdo a uma velo- cidade extraordindria: interdig&o do partido comunista em fevereiro de 1933, abertura dos primeiros campos de concentra¢4o, inicialmente reservados aos adversdrios politicos, plenos poderes a Hitler por quatro anos (mar¢o de 1933), supressao dos sindicatos e proibi¢ao da greve. A 12 de agosto de 1934, apds a morte do marechal Hindenburg, presidente da Republica, Hitler torna-se o senhor absoluto de um III Reich do qual se proclama o guia, o Fiihrer. A escalada pode comegar. A primeira preocupac¢io de Hitler é abandonar a SDN, que acolhera solenemente a Alemanha no seu seio em 1926. Com efeito, Hitler pretende rearmar 0 seu pais as claras e sem entraves para acabar com o Diktat de Versalhes. Em marco de 1935, testabelece 0 servico militar obrigatério e cria a Wehr- macht. A este anincio surpreendente, as democracias protestam sem grande convic¢ao, enquanto a SDN, fiel 13 ~ ~ ia uma condenagao de pring. asi eo, Hitler toma 0 pulso des he. partir SeeceaF pela Franga, que, vitima dog seus mC senonios da politica politiqueira (44 governos de 19) 0s 1940), se obstina a ignorar o Perigo que aameaca, ss a a7 de mar¢o de 1936, quando Hitler da Mais y is m, voltar a militarizar a Renania (esmilitarizada lo nh tado de Versalhes), a Franca poderia ainda ter interyj Tas militarmente, pois a relagao de forgas Continuaya sie a seu favor. Além do pacifismo da Franga, que se thie um verdadeiro rearmamento face a uma Alemanha ca, vez mais belicista, 0 exército francés acantona-se tia estratégia estritamente defensiva cuja melhor ilustragag é a edificagdo, na fronteira nordeste, da linha fortificada Maginot, terminada em 1936. Na Europa dos anos 1930, © futuro parece Pertencer aos regimes ditatoriais. E assim que Hitler Se aproxima da Italia fascista de Mussolini (eixo Roma-Berlim criado em outubro de 1936), da Espanha de Franco, a quem ajuda militarmente a partir de 1936 na sua insurreigao contra um governo de Frente Popular democraticamente eleito. A Anschluss (anexagao) da Austria ¢ realizada em margo de 1936. No ano seguinte, tomando como pretexto a defesa de uma minoria alema na regio dos Sudetas na Checoslovaquia, Hitler inicia o desmantelamento deste pals. Consequéncia da mascarada da conferéncia de Munique (setembro de 1938), a Franca ea Inglaterra abandonam @ Checoslovaquia a sua Sorte, julgando assim salvar a i Churchill, Por ora deputado da oposigao e adversario fet da politica de apaziguamento (appeasement) conduzida pe — | ‘ORIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL . HISTORIA 14 INTRODUCAO - DE UMA GUERRA A OUTRA primeiro-ministro Chamberlain, declara: «Eles tiveram a op¢ao entre a desonra e a guerra. Escolheram a desonra e terao a guerra.» Em finais de 1936, depois de Hitler ter aumentado 0 servigo militar na Alemanha de um para dois anos, 0 Wehr- macht tem uma forga de 1210000 homens, sem contar com as forgas paramilitares e com 0 recrutamento de todos os rapazes no seio das Juventudes Hitlerianas (Hitlerjugend). As fabricas de armamento do Reich funcionam em pleno (50 % do orgamento nacional em 1939), atribuindo um lugar privilegiado 4 nova Luftwaffe, cujos modelos (por exemplo o caca Messerschmitt Bf 109) refletem a concegdo estratégica ofensiva. Em fevereiro de 1938, o Fiihrer criou o seu préprio Estado-Maior, o Oberkommando der Wehrmacht (OKW), assumindo 0 comando supremo dos exércitos e exigindo de cada soldado um juramento pessoal de fidelidade 4 sua pessoa. Hitler quer a guerra, a sua guerra. Em 1939, tera 50 anos de idade, j4 um pouco velho para essa época. Que perda seria para a Alemanha, confia ele aos mais proximos, se desaparecesse prematuramente! Por outro lado, depois de a Wehrmacht ter entrado em Praga a 15 de marco de 1939 e de as democracias terem finalmente perdido as ilusdes, acelerando, mas demasiado tarde, os seus programas de armamento, Hitler calcula que o equilibrio de forgas, agora a seu favor, acabard por se inverter. A unica questao que se coloca doravante é a de saber se atacara em primeiro lugar aleste ou a oeste. A etapa seguinte das suas reivindicagoes €a Polonia, cuja seguranga é garantida pela Gra-Bretanha © pela Franga e que Hitler decidiu secretamente atacar a | 15 TORIA 5 INDI DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL HISTORIA DAS . clamando apenas, para continuar a engan, de setembro, re acidade de Dantzig, de maiorig alemg as SE tia oriental. Para isso, tem de se asseg,, um at des de Estaline, que esté em Conversagse, ae com a Franga e x Gri-Bretanha, mas num clima de desconfianga mutua. Nenhum dos dois Campos se quer arriscar em proveito do outro. A 24 de agosto de 1939, o anuincio do pacto «contranatura» BTMANO-soviétio, cai como uma bomba no mundo inteiro, Ao tratado de nao-agressdo mutua tornado publico, acrescenta-se uma cldusula secreta que partilha as «zonas de influénciay entre as duas ditaduras: a Finlandia, a Estonia, a Letonia € a parte oriental da Polonia Para a URSS; a Lituania e maior parte da Polonia Para o III Reich. Doravante com liberdade de acdo, a Wehrmacht ataca a Polonia, como Previsto, a 1 de setembro, as 4h45m da manha. Mussolini, pouco interessado em e€nvolver-se na guerra — apesar, de em maio de 1939, ter transformado o eixo Roma-Berlim num «pacto de Aco» —, PropGe entio uma espécie de novo Munique. Os franco-britanicos s6 abandona entao 4 Sua proposta. A 3 de setembro, a Gra- -Bretanha €, algumas horas depois, a Franca apresentam 40 ministro dog Negécios Estrangeiros do III Reich o seu ultimato. Este é Tejeitado. E a guerra, 16 PRIMEIRA PARTE O AVANCO 1. A GUERRA RELAMPAGO DO III REICH A forca do Reich S6 no papel é que os franco-britanicos se comparam, em numero de divisdes e até em nimero de avides e de tanques, ao III Reich, ou usufruem de uma vantagem econdémica assente na sua poténcia maritima e nos seus impérios coloniais. Herdeiras da Grande Guerra nas suas concegoes estratégicas, a Franca e a Gra-Bretanha colocam-se na perspetiva de uma guerra longa e essencial- mente defensiva. Hitler, consciente de uma inferioridade a longo, e até a médio prazo da Alemanha em matéria de aprovisionamentos, aposta, pelo contrario, numa guerra curta inteiramente virada para a ofensiva. A Alemanha éum pais fortemente povoado (80 milhdes de habitantes para 42 milhdes de franceses), mas igualmente jovem. No inicio da guerra, sete em cada dez soldados alemaes tém entre 20 e 30 anos (trés em cada dez em Franga). A sua industria de armamento funciona em pleno, enquanto que a Franga e a Gra-Bretanha esto longe de ter recuperado 0 seu atraso. A producdo alema é coerente com o espirito de ofensiva: avides e tanques. Quanto 4 Kriegsmarine, da qual 0 Tratado de Versalhes conseguiu apesar de tudo 19 a JERRA MU _jisroRIA BA SEGUNDA SUEEEA MOND ee a de superficie, vé-se dotada de uma Oder ota de submarinos para lutar contra o bloqueig qa. costs, frota Ao contrario da Franga, os blindados apoig, dog las alemds. io taticamente concebidos como uma ari ela ee um apoio de infantaria. Esta «cunha bling ™ gj oe . ponto fraco da frente continu, a ini on rompé-la, permitindo assim a exploragao pelo 0869 e infantaria. Esta doutrina ofensiva deve ser executad qd o signo da mobilidade e da rapidez, Ea Blitzkrieg “ Sob relampago), longe das trincheiras e da guerra ded ‘Suerra de 1914-1918. Sgaste jimitar a frot expedicionario britanico (BEF — British Expeditionary Force), nao se Movera enquanto o grosso do seu exército, todos os seus tanques e os seus avides, estiver na Polénia, do outro lado do Reich. As cartadas da guerra comegam @ suceder-se as da diplomacia. 20 GUERRA RELAMPAGO DO IIL REICH A campanha da Polénia Ainda que decidida a bater-se, a Poldnia, persuadida de ue a Alemanha nao a atacaria, s6 se mobilizou no ultimo Dispde apenas de 30 divisdes, com mais 12 em curso de mobilizagao. Dispde apenas de uma brigada motorizada, para I! de cavalaria. A sua aviacao € quan- titativa e qualitativamente irrisoria. A sua fronteira com o Reich é das mais vulnerdveis. O seu comando é arcaico e limitou-se a dispor as suas forgas numa fraca cortina de mais de 5600 quilémetros de fronteira. De facto, a Polonia espera que, nos termos dos tratados de alianga que a unem a Gra-Bretanha e a Franga, estas duas poténcias ataquem rapidamente a oeste, dividindo assim as forgas alemas. Na mesma altura, 0 alto comando francés faz 0 calculo inverso. Contando com uma guerra longa, recusa-se a correr 0 risco de um confronto direto e mantém o seu exército atras da linha Maginot. Para dar a impressdo de que a Franga cumpre os seus compromissos, 0 general Gamelin, generalissimo das forgas francesas, langa uma aparente ofensiva no Sarre, que n&o inquieta de modo algum o exército alemao. q momento. Por conseguinte, é com todas as suas forcas que o IIT Reich ataca a Poldnia, testando com sucesso a tatica da Blitzkrieg, que provoca surpresa e confusdo no campo adversario. As 53 divisdes da Wehrmacht, sob o comando do general von Brauchitsch, avangam 250 quilémetros numa semana. Omnipresente, a Luftwaffe destr6i as vias de comunicagao e bombardeia as cidades, desorganizando 21 HISTORIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL totalmente a defesa polaca. Al7 de setembro, é a vez do Exército Vermelho entrar na Poldnia. Em toda a parte a resisténcia é eliminada, exceto em Vars6via, onde tenta ainda lutar. Sitiada, esmagada sob as bombas e os obuses, esfomeada e sem Agua potavel, a capital polaca é obrigada a render-se no dia 28, enquanto que algumas forcas dispersag prosseguem em vao os combates. Recusando negociar com 0 inimigo, o governo polaco foge para a Roménia, antes de se exilar em Paris e, depois, em Londres. A Polonia deixa de existir. 20 anos depois do seu renascimento, é partilhada entre a URSS e o III Reich. Em 28 dias de combates, foram mortos 200000 soldados polacos. Para além destas perdas, assistiu-se ao nascimento de uma nova guerra, em conformidade coma ideologia nazi. Nos combates, ja nao se trata apenas de vencer 0 exército inimigo, mas de o destruir e aniquilar. As cidades ¢ 0s civis so vitimas de bombardeamentos terriveis. Logo apés os combates, coloca-se em pratica uma politica de exterminio, Na esteira da Wehrmacht e em cooperacao com esta, os Einsatzgruppen (literalmente «grupos de intervengao») detém e abatem no local, num massacre planeado, todos os elementos considerados hostis ou simplesmente prejudi- Ciais ao novo regime: judeus (sao trés milhdes na Polénia), comunistas, franco-macdes, elites, clero, nobreza, sem esquecer todos aqueles que sao acusados ou simplesmente Suspeitos de resisténcia. Por seu lado, a URSS, interessada em eliminar 0 patriotismo polaco, vai deportar um milhao de pessoas e mandar assassinar, em marco de 1940, em Katyn, 4500 oficiais polacos. 22, N 1. AGUERRA RELAMPAGO DO III REICH A «guerra estranha» Entretanto, o exército francés permanece com as armas ensarilhadas, 4 espera de que Hitler queira atacd-lo. A Franca € a Gra-Bretanha esperam assim ganhar o tempo necessario para se rearmarem. Esta situa¢ao vai durar oito meses, durante os quais os soldados franceses, entrados na guerra sem entusiasmo (ao contrario de 1914, nao se trata de defender a patria invadida), vo acabar por se desmo- ralizarem. Os franceses vao chamar a este longo periodo de inagio a «guerra estranha» (drdle de guerre). Para os britanicos, é a «guerra fingida» (Phoney War) e, para os alemiies, a «guerra sentada» (der Sitzkrieg). Na verdade, enquanto que o exército francés se bate contra «o general Tédio», a «guerra estranha» nao esta totalmente isenta de conflitos. A 10 de setembro, o Canada entra em guerra contra a Alemanha na sequéncia dos outros Estados da Commonwealth. A guerra no mar come¢a imediatamente, bem como o bloqueio da Alemanha. Por seu lado, a URSS, no quadro do pacto germano-soviético, resolve nao se ficar pela Polonia e continuar a recuperar os territérios perdidos apés a Grande Guerra. A 30 de novembro de 1939, invade a Finlandia, cujo exército, solidamente comandado e bem treinado, resiste ao longo do inverno de 1939-1940, infligindo pesadas perdas ao Exército Vermelho (Hitler vai tirar daqui conclusées pre- cipitadas sobre as capacidades de combate da Finlandia). Indignados, os franceses e os britanicos assumem a causa da pequena e corajosa Finlandia, mas a Suécia e a Noruega, 23 HISTORIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL paises neutros, recusam-lhes qualquer passagem pelos sey, territérios. A 12 de mar¢o de 1940, a Finlandia é forcada aassinar 0 Tratado de Moscovo, cedendo nomeadamente o istmo de Carélia, que assegura uma melhor Seguranga a Leninegrado. Na primavera de 1940, os franco-britanicos, demasiadg votados a inacfo, tentam uma estratégia periférica, pri- vando a Alemanha das suas importagdes de minério de ferro proveniente da Suécia (que transita pela Noruega, no Inverno, quando 0 Baltico esta gelado). Um corpo expedi- ciondrio desembarca em varios portos da Noruega, mas a operagao, realizada sem dinamismo e de forma confusa, depressa se torna calamitosa. Hitler retoma imediatamente a iniciativa e, em abril, ocupa a Dinamarca e a Noruega. A conquista do porto de Narvik, no més seguinte, é um sucesso isolado, uma vez que a ofensiva alem a oeste, que acaba de ter inicio, obriga 0 corpo expedicionario a reembarcar precipitadamente. A campanha de Franca A 10 de maio de 1940, as.4h45m, Hitler ataca a oeste. Porque esperou tanto tempo? Na verdade, queria fazé- -lo imediatamente apés a Polénia, mas foi impedido por uma série de fatores. Em primeiro lugar, os seus generais mostraram-se muito reticentes, uma vez que a meteorologia nao aconselhava o ataque, prevendo um mau tempo que comprometeria a ago da Luftwaffe. A discussao do plano 24 1. A GUERRA RELAMPAGO DO III REICH de ataque foi igualmente dificil. De acordo com uma ideia do general von Rundstedt, chefe do grupo de exércitos A, e do seu chefe do estado-maior, o general von Manstein, afetos ao Fiihrer apesar da oposi¢ao do alto comando, foi decidido que 0 avango principal teria lugar j4 no no centro do dispositivo de trés grupos de exércitos (B, A, C, do Norte ao Sul), mas mais a sul, através do macico das Ardenas, em direcio a Meuse, entre Dinant na Bélgica e Sedan em Franga. Perfeitamente informado do dispositivo francés (0 que nao € 0 caso inverso), 0 alto comando alemo sabia que era no setor de Sedan que o seu homdlogo francés colocara menos tropas, pois este estava convencido de que as Ardenas eram intransponiveis. E ai onde se detém a linha Maginot, cuja construcao nao foi continuada até ao mar, na logica de uma alianca com a Bélgica. Mas, face aos recuos sucessivos da Franca durante o periodo de entre as duas guerras, a Bélgica proclamou-se neutra, esperando assim escapar a um ataque ao seu territ6rio. Ora, a 10 de maio, a Bélgica e os Paises Baixos sao os primeiros a sofrerem a ofensiva alema, constituida por 135 divisdes, dez das quais blindadas. Em virtude de um plano aberrante, foi decidido que, apds 0 ataque alemio, o 1° grupo de exércitos francés (general Billotte) entraria na Bélgica para reforgar a defesa deste pais, correndo o risco temido por todo o alto comando francés: o de um confronto direto. Isto serve evidentemente o plano amarelo (Fall Gelb) alemao, que prevé, apés ter aberto uma brecha no Meuse, langar um vasto ataque em diregao a baia do Somme, na retaguarda do exército que penetrara na Bélgica. 25 IA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL _HISTOR! St papel, 0 dispositivo francés ilude com g4 divisdes, das quais trés blindadas tardiamente Criadas, ¢ 2400 tanques contra 2600 tanques alemies. De facto, og tanques franceses estao espalhados pelas divisdes, longe da concentragao e do espirito ofensivo alemies, que, em poucos dias, entram no Meuse com uma ponta de lanca de cinco PZD (Panzerdivision). Quanto a aviagao, mesmo adicionando as forgas francesas e britanicas (que agem separadamente), a vantagem da Luftwaffe é esmagadora: 3500 aparelhos na primeira linha contra menos de 1800 no lado franco-briténico — a RAF investe apenas parte das suas esquadrilhas no continente. Igualmente no Assim, a derrota da Franca segue a velocidade da Blitz- krieg. Depois de terem entrado em Sedan (13-15 de maio) e beneficiando do efeito de surpresa planeado, os panzers e, depois, as divisées de infantaria da Wehrmacht precipitam- -se pela brecha aberta e iniciam 0 seu avango em dire¢So ao mar. A 20 de maio, a 2.2 PZD esta em Montreuil-sur-Mer. Este avango nao se deu sem combates. O exército francés e o contingente britanico batem-se corajosamente, apesar de um alto comando incompetente e totalmente ultrapassado pelos acontecimentos. Igualmente desamparado, o governo francés substitui em plena batalha o general Gamelin pelo general Weygand (19 de maio). O exército belga capitulaa 28 de maio, enquanto que os franco-britanicos, totalmente em desordem, batem em retirada para Dunquerque. Aqui, até 4 de junho, o «milagre de Dunquerque» (Hitler deu ordem aos panzers para interromperem o avango, para que a Luftwaffe de Goering tivesse também a sua parte 26 1. A GUERRA RELAMPAGO DO III REICH na vitoria) permite 0 reembarque de 250000 soldados britanicos e de 120000 soldados franceses. Acampanha de Franca dura hé menos de um més quando Weygand (apoiado por Pétain, chamado ao governo) fala de armisticio. Um simulacro de frente restabelece-se no Somme e no Aisne (5-11 de junho), que é também rompido. Eo momento escolhido por Mussolini para declarar guerra 4 Franga (10 de junho), sem que, de resto, as suas divisées consigam manter as posi¢Ses ocupadas pelo exército dos Alpes. E entio o desastre, agravado por um éxodo macigo da populagao, que atira para as estradas milhées de fran- ceses e belgas. Em panico, dividido entre partidarios e adversérios do armisticio, o governo abandona Paris e estabelece-se em Tours, e depois em Bordéus. Em 14 de junho, os alemaes entram em Paris e, no dia 18, esto no Loire. E nesta data que, de Londres, o general de Gaulle, apoiado por Winston Churchill, primeiro-ministro britanico desde 10 de maio e ferozmente decidido a resistir 4 agressio nazi, langa um apelo na BBC a convidar os franceses a continuarem a luta («porque a Franga nao esta sozinha!»). Apés a demissao, em 16 de junho, de Paul Reynaud, presidente do Conselho, e a nomeagao pelo presidente da Republica, Albert Lebrun, do marechal Pétain para a chefia do governo, este, ativamente apoiado por Weygand, pede imediatamente o armisticio. O acordo realiza-se em 22 de junho (¢ em 24 coma Italia) no vagao do armisticio de 1918, em Rethondes, como Hitler exigira para melhor significar a vinganga da Alemanha. Trata-se, com efeito, 27 3UERRA MUNDIAL — pustORta DA . ogo disfargada, com condicdes desonrg. i de que trés quintos do territdrig 8 a Frange o de Pétain ilude-se ao Pensar gue oO overn' : jos. tt onomia. Ao abandonar 0 seu aliado brita. no ; ois de se ter recusado a Prosseguir 0 combate a Ada francés, a0 ser 0 Unico pais a nao optar rah exilio do seu governo (como ° dos Paises Baixos, da Bélgica, da Noruega, da Polénia), aceitando Negociar com Hitler, a Franga desprestigia-se aos olhos do mundo, a comegar pelas suas colénias. Nem sequer 0 atgumento da preocupa¢ao em poupar vidas humanas deixou de se virar contra os partidarios do armisticio: 92000 soldados franceses sem contar os civis, 12000 civis & militares belgas, 3500 britanicos ¢ 3000 holandeses foram mMortos para se chegar a este resultado. etd A batalha de Inglaterra A Gra-Bretanha encontra-se s6 contra os exércitos do IL Reich, que parecem invenciveis. O armisticio assinado com 0 governo de Pétain permite-lhes dominarem as costas francesas para prepararem um desembarque em Inglaterra. Ninguém ou quase ninguém duvida ent3o da sorte que espera os britanicos. O mesmo se pensa na Gra-Bretanha, onde parte da opiniao publica e da classe politica encara a possibilidade de uma paz branca com Hitler, como este prop6e. No entanto, nado contam com o espirito indoma- vel do novo Prime Minister, Winston Churchill. Durante toda a campanha de Franga, Churchill tentou erguer ° 28 1. A GUERRA RELAMPAGO DO III REICH moral do governo francés, reafirmando incessantemente asua vontade de continuar a luta, mesmo no caso de um armisticio francés. A 13 de maio, no seu muito célebre discurso de investidura perante a Camara dos Comuns, o primeiro-ministro inglés apelou as armas: «A unica coisa que tenho para oferecer é sangue, dor, lagrimas e suor [...] Perguntam-me qual é a nossa politica. Eu respondo: fazer a guerra em terra, no mar e nos ares. [...] A guerra contra uma monstruosa tirania nunca superada no cata- logo sombrio e lamentavel dos crimes da humanidade.» Churchill vai galvanizar todo um povo e comega contra Hitler um verdadeiro duelo psicolégico, de que acabara por sair vencedor. Para provar a sua determinacao, nao hesita em mandar a marinha inglesa, a 3 de julho de 1940, em Mers-el-Kébir, disparar contra navios franceses agora as ordens do novo governo de Vichy, jé submisso ao ITI Reich. Para lograr um desembarque, Hitler tem, em primeiro lugar, de garantir o dominio do céu, pois nao é no mar que pode esperar triunfar. Ora, apesar das suas perdas durante a campanha de Franca, a RAF nio esta vencida. Além disso, o Fiihrer acredita (e vai acreditar durante muito tempo) nas proclamagées do seu fiel Goering, segundo as quais a Luftwaffe é invencivel e tem capacidade para resolver todos os problemas. Num primeiro tempo, a Luftwaffe ataca os portos do Sul da Inglaterra, esperando assim obrigar os cagas da RAF a sairem para a destruir. Esta primeira fase € um fracasso, apesar de a RAF se bater a razaio de um contra trés. De 24 de agosto a 6 de setembro, a Luftwaffe muda de tatica, passando a atacar os aerédromos, com 29 ‘ORIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. as HISTORIA DA SECES e iores as da RAF. Esta tatica egtg a perdas seme at plots britanicos em 1000 perdidos passo do su ) quando Hitler opta por outra estratégia em dois ais bombas britanicas terem caido POr ery . Depois de al a ide, a7 de setembro, dar inicio 4 destruigag em a das grandes cidades, com Londres 4 Cabeca, a assim colocar a Populagao de joelhos, Durante este perfodo a que os britfinicos chamam Blitz e em que dao provas de uma coragem civica exemplar, a Situacag militar inverte-se lentamente em beneficio da RAE, que compensa a sua inferioridade numérica com a extraordj- naria determinacao dos seus pilotos, a qualidade dos seus aparelhos (como 0 Spitfire) e a densa rede de tadares que tragam as rotas das vagas de bombardeiros. No Outono, enquanto que a RAF perdeu 945 avides e 450 pilotos (€os sobreviventes saltam sobre 0 seu territério), a Luftwaffe perdeu 2265. Hitler teima e passa aos bombardeamentos noturnos, mas compreende que o desembarque Projetado em Inglaterra (operacao Seeldwe) ja nao é Possivel. Contudo, a situagaio da Gra-Bretanha nao deixa de ser precdria, E verdade que Churchill comegou a convencer 0 presidente dos Estados Unidos, F. D. Roosevelt, se nao a intervir no conflito, pelo menos a ajuda-lo materialmente. A 29 de dezembro de 1940, num discurso radiofénico, Roosevelt, apesar da tendéncia isolacionista que domina ainda no seu pais, declara que a Gra-Bretanha, que protege 0 Novo Mundo da agressao nazi, necessita dos Estados Unidos, que serao «o grande arsenal da democracia». Em margo de 1941, a Lei de Empréstimo e Arrendamento (Lend 30 1, A GUERRA RELAMPAGO DO III REICH Lease Act) concretiza este compromisso. Mas, entretanto, a Gra-Bretanha continua sozinha. Consegue manter-se a custo de uma mobilizacdo sem precedentes de toda a sua economia e de toda a sua populacfo. Em abril de 1941, a Gra-Bretanha é 0 tnico Estado em guerra a decretar a mobilizagéo das mulheres como auxiliares dos exércitos ou trabalhadoras nas fabricas de guerra. No entanto, a Gra-Bretanha continua a ser uma ilha dependente das suas comunicagées maritimas. A sua sorte joga-se tam- bém no mar. A batalha do Atlantico OIII Reich possui uma frota de superficie insuficiente para ameagar a Royal Navy. A 17 de dezembro de 1939, o couragado Admiral Graf Spee, cuja miss&o no Atlantico Sul é atacar o maior numero possivel de cargueiros com destino 4 Gra-Bretanha, foi posto a pique depois de ser emboscado por trés cruzadores britdnicos diante do Rio de La Plata. Do mesmo modo, 0 couragado Bismarck, orgulho da Kriegsmarine, é afundado em 27 de maio de 1941. Recolhendo os seus navios de linha para 0 abrigo da costa norueguesa, é com a frota de submarinos (U-Boote) que a Kriegsmarine, comandada pelo almirante Raeder, conta asfixiar economicamente a Gra-Bretanha, rom- pendo as suas comunicacées maritimas. Colocados sob 0 comando do almirante Dénitz, os U-Boote, a partir das bases poderosamente fortificadas das costas francesas, atacam de noite e a superficie os cargueiros que cruzam 31 sRiA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL HSE ae firs Sh ee ae eee a . toneladas de navios mercantes oattnico. 45 So 4696000 em 1941, 8245999 o af aot é grave. Decide-se organizar Comboiog 1942. ots por escoltas equipadas com ASDIC etegao a) ecom radares. Com este objetivo, o Almirantado beitbnico langa um programa ambicioso de constr de 100 contratorpedeiros e 400 navios de €scolta, mas, por seu lado, a Kriegsmarine acelera 0 seu Programa de submarinos. Nada menos que 1000 U-Boote sero cons- truidos de 1939 a 1944. ‘Ucao A batalha do Mediterraneo A Gra-Bretanha esté em ma Posi¢ao, pois tem também de combater no Mediterraneo, numa alturaem que a frota francesa foi neutralizada pelo armisticio de 22 de junho de 1940 e que a frota italiana fascista pretende impor-se na regiao. Numa guerra que se estende geograficamente, Gibraltar, a ilha de Malta, Alexandria e as zonas para além do canal de Suez so objetivos estratégicos que a Royal Navy tem de defender. Uma esquadra vigia Gibraltar e outra defende Alexandria, enquanto que a ilha de Malta, de que Churchill quer fazer «um porta-avides insub- mersivel», é fortificada, A Navy aniquila a marinha de Suerra italiana em dois tempos: a 11 de novembro de 1940 NO porto de Tarento, a partir do porta-avides Illustrious (0s seus bombardeiros Swordfish sao ainda biplanos), e, depois, a 28 de mar¢o de 1941, diante do cabo Matapan, a sudoeste de Creta. 32 1. A GUERRA RELAMPAGO DO III REICH A situago dos britanicos no Mediterraneo nem por isso é menos preocupante. Mussolini, 0 Duce da Italia fascista— no querendo, apés a assinatura do armisticio em Franga, permanecer durante mais tempo fora do conflito e que ja invadira a pequena Albania na primavera de 1939 —, pretende estender 0 seu dominio a Grécia, cujo regime é, porém, favoravel as poténcias do Eixo. A 4 de outubro de 1940, o Duce encontra-se com o Fithrer no desfiladeiro do Brenner. Hitler nao o informa das suas intengdes em relacdo 4 Roménia, que vai invadir trés dias depois para se apoderar dos seus po¢os de petrdleo. Amor com amor se paga, e, em 28 de outubro, o Duce atravessa a fronteira grego-albanesa sem informar o Fiihrer e com grande firria deste, que nao deseja ver a Italia aventurar-se nos Balcas. A invasio italiana torna-se rapidamente um fiasco e sao os gregos que entram na Albania, Mussolini € obrigado a apelar a Hitler. Para chegar a Grécia, o Reich comega por obter 0 direito de passar pela Jugoslavia, cujo governo lhe é favoravel, mas uma revolta popular hostil obriga-o a conquistar 0 pais, 0 que acontece em 18 de abril de 1941, apés doze dias de cam- panha. A 27 de maio, os exércitos nazis entram em Atenas. Em 20 de maio, trés regimentos de paraquedistas alemaes saltam sobre Creta, onde os britanicos haviam construido aerédromos (operac4o Marita). A frota de Alexandria, que interven no dia 22, é duramente posta a prova pela Luftwaffe. Os alemaes estabelecem-se finalmente na ilha, a custo de elevadas perdas em homens e em avides. Hitler decide nao langar mais grandes operagdes aerotransportadas. 33 /ORIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL HIST ‘Assim, os britdnicos a diretamente © Reich 0 Mediterraneo. O mesmo acontecerd brevemente na ae onde Mussolini também Se aventurou em Setembro de 1940, antes de entrar no Egito e de ser esmagado Por um contra-ataque britanico (general Wavell), Perseguidg na Cirenaica, Mussolini volta a Pedir auxilio g Hitler, que decide entdo enviar, em fevereiro de 1941, um Contingente sob as ordens do general Rommel: 0 Afrikakorps, 4 Suerra estende-se doravante para fora da Europa. Na Primavera de 1941, os panzers de Rommel, €ncontrando no deserto um terreno ideal para a Blitzkrieg, repelem as forcas bri. tanicas e ameacam Alexandria e 0 canal de Suez, Nesta Luftwaffe cortara 0 acesso ao estreito da Sicilia. Tem de efetuar o longuissimo desvio pela Cidade do Cabo e pelo canal de Suez para abastecerem as Suas tropas na Libia, Operacao «Barbarossa» Para quem leu 0 Mein Kampf, era claro que Hitler, apés a Checoslovaquia, a Polonia, a Roménia, a Bulgaria (a Hungria, por seu lado, ligou a sua sorte ao III Reich), iria prosseguir a Conquista do «espaco vital» para leste, 0 Drang nach Osten. Para leste, significa agora a URSS, onde Hitler poder também conduzir a grande cruzada antibolchevique. Desde a assinatura do pacto germano- ~Soviético, de agosto de 1939, que a Alemanha nazi e a URSS tentavam chegar a um novo acordo sobre a partilha 34 1A GUERRA RELAMPAGO DO III REICH de novas «zonas de influéncia», mas Hitler recusou a Estaline a Bulgaria e o controlo dos estreitos do mar Negro. Em finais de 1940, Hitler decidiu atacar a URSS no dia 1 de maio do ano seguinte. No entanto, a conquista da Jugoslavia e da Grécia atrasa durante sete semanas a invasao. Este atraso vai pesar fortemente no desenrolar das operagoes. Hitler conta de novo com a guerra relampago, mas as distancias a percorrer j4 nada tém a ver com as da Europa Ocidental. O ditador, que se engana gravemente acerca do valor combativo do Exército Vermelho, espera poder vencé-lo em algumas semanas, como acontecera em Franga. Em contradi¢éo com a tatica de concentragao da Blitzkrieg, Hitler divide as suas forcas em trés grupos de exércitos com objetivos diferentes: —o exército Norte (von Leeb), com 23 DI (divisado infantaria), trés DM (divisao motorizada) e trés PZD (Panzerdivision), deve conquistar Leninegrado passando pelos paises bilticos; — 0 exército de Centro (von Bock), com 34 DI, seis DM e nove PZD, deve conquistar Moscovo; —o exército de Sul (von Rundstedt), com 48 DI (das quais 15 romenas), quatro DM e cinco PZD, deve conquistar a Ucrania e Kiev. Um agrupamento misto germano-finlandés deve ata- car a norte. 3500 avides iro apoiar a ofensiva de mais de trés milhdes de soldados. Este é o plano Barbarossa, 35 a1 DIAL, ADA SEGUNDA GUERRA MUN HISTOR : —— m22 de junho. Face a esta gigantesca fi nalmente 812 Exército Vermelho sofre de um grave mobilizaga0- ait na sequéncia das purgas estalinistas, défice ate i 50 divisoes. A maioria dos seus tanques mas dispoe ¢& 5 1500 deles, os 134, séo recentes e vao 4 as ” zone esta obsoler saitid s temiveis, pouco frageis e adaptados on ivel : - revelar- 0 s russas. No entanto, Estaline, recusando até ds imensidoe: cn ; 30 da Weh: . invasio da Wehrmacht, ao ultimo minuto acreditar numa quando tal concentragéo militar nado poderia passar des- percebida, nao reage. A operacao Barbarossa parece inicialmente irresisti- vel, Do Baltico ao mar Negro, os trés grupos de exércitos avangam 400 quilémetros em duas semanas. Em setembro, Kiev é conquistada e Leninegrado cercada. A 2 de outubro, o exército de von Block aproxima-se de Moscovo. Em toda a parte, o Exército Vermelho bate em retirada, deixando trés milhdes de prisioneiros. A guerra a leste adquire rapidamente as carateristicas iniciadas na Polonia de ima guerra total. A 30 de marco de 1941, Hitler escreveu aos seus generais: «A campanha que temos pela frente é mais do que um simples combate armado [...] A nossa guerra contra a Russia exclui as formas cavalheirescas. Terao de se libertar dos vossos escripulos caducos.» E assim que os Eisatzggruppen entram de novo em a¢ao logo que uma cidade ou uma regifio é conquistada por uma Wehrmachht cada vez mais nazificada. Centenas de milhar de judeus e comunistas sao friamente executados. Os prisioneiros de guerra so condenados ao exterminio pelo esgotamento e pela fome. 36 1. A GUERRA RELAMPAGO DO III REICH Estaline, que se entronizara chefe supremo dos exér- citos, vai revelar-se uma alma indomavel e 0 organizador implacavel da luta contra a invasdo nazi: «O nosso pais entrou numa luta de vida ou de morte. Ao lado do Exército Vermelho, todo 0 povo russo se ergue [...] os destacamentos de resistentes atacardo os postos, cortaro as linhas tele- fonicas, queimarao as florestas e os depésitos. ..» Comega assim a «grande guerra patridtica» do povo soviético. Com a aproximagao do inverno, os trés grupos de exércitos interrompem a sua marcha. Leninegrado resiste. Apos trés meses de combates diante de Moscovo, a ofensiva atola-se. Apés a poeira e a lama, é 0 frio— um frio intenso, a que os soldados da Wehrmacht nfo estao habituados, nem, de resto, o seu material. O «general inverno» vem em socorro dos russos, como acontecera contra Napoledo em 1812. Os problemas logisticos, que foram ignorados, comegam a aparecer. Apesar da rapidez do avango alemao, 0s soviéticos conseguiram a proeza de desmontar as suas fabricas de armamento para as tornarem a montar mais a leste, nos Urais ou na Sibéria. A 6 de dezembro de 1941, com uma temperatura de 25 graus negativos, o general Jukov, chefe do estado-maior, langa, para estupefacdo dos alemaes, uma contraofensiva constituida por 88 divisdes, entre as quais unidades siberianas perfeitamente equipa- das contra o frio. Falta pouco para o exército alemao se desmoronar. 37

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