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‘gem, despolitizando a grande massa da populagio, mais freqiientemente professado pelas escolas oficiais e buro- craticas. Um se perde na contemplacio dos ideais de ‘uma sociedade “humana, “acima” da Iuta de. classes; outro elimina todo ideal,” substituindo-o pela ciéncia € pela téenica. B dentro desse quadro que vejo a leitura desta obra, publieada jé hé alguns anos em espanhol, como um sub- Sidio valioso para a compreensio da reaiidade educacio- nal latino-americana, dentro de uma “sociedade fechada", ‘4 compreensio do papel do trabalhador social, do pro- fissional engajado, compromissado com um projeto de tuma sociedade diferente, isto é, uma “sociedade aberta”. Depois de Paulo Freire ninguém mais pode ignorar ‘que a educagio 6 sempre um ato politico. “Aqueles que ‘tentam argumentar em contrério, afirmando que 0 edu- cador nio pode “fazer pol carta politica, a politica da despot rio, se a educagio, notadamente a brasil rorou a politica, a politica nunca ignorou a educacko. ‘Nfo estamos politizando a educaca6. Ela sempre foi po- Iitiea. Ela sempre esteve a servigo das classes dominan- tes. Este é um principio de que parte Paulo Freire, prin- cipio subjacente a cada pagina do que aqui escreveu, Hoje, volta dele representa um momento. impor- tante na histria da educagfo no Brasil. Com cle surge 1 possibilidade de reanimar 0 debate em torno dos pro- bemas educacionais brasileiro, debate este sufocado no perfodo de obscurantismo imposto pela oligarquia gover- hhamental no menos obscurantista e tecnocritica, Com fa volta de Paulo Freire, continuador de Fernando de Aze- yedo, Lourengo Filho, Anisio Teixeira, a educagao bra sileira ganha um novo alento, adquire maior lucidez, faz- “nos lembrar que © Brasil tem uma histéria educacional ‘importante. ‘Campinas, 7 de agosto de 1979. 14. O Compromisso do Profissional com a Sociedade ‘A questo do compromisso do profissional com a sociedade nos coloca alguns pontos que devem ser ana- lisados, - Algumas reflexes das quais nao podemos fugir, necessérias para o esclarecimento do tema. Em primeiro lugar, a expresso “o compromisso do profissional com a sociedade” nos apresenta o conceito Go compromisso definide pelo complemento “do profis- Sonal", ao qual segue o termo “com a sociedade”. So- mente @ presenga do complemento na frase indica que nnio se trata do compromisso de qualquer um, mas do profisional. A expresso final, por sua vez, define © polo para 0 qual o compromisso se orienta e no qual © ato comprometido 6 sparentemente terminaria, pois tha verdade nao termina, como trataremos de ver! mais adiante. ‘As palavras que constituem a frase a ser analisada rio estio ali simplesmente jogadas, postas arbitrariamen- te. Diriamos que se encontram, inclusive, “comprome- tidas” entre si e implicam, na estrutura de suas relagies, ‘uma determinada posicio, a de quem as expressou. © compromisso seria uma palavra oca, uma abstra ‘gio, se do envolvesse a decisio licida e profunda de ‘quem 0 assume, Se nio se desse no plano do conereto. Se prosseguimos na anilise da frase proposta, senti- mos a necessidade de uma penetracdo cada vez’ maior no conceito do compromisso, com a qual podemos apreen- 15 der aquilo que faz com que um ato se constitua em compromisso. Mas, no momento em que esta necessidade nos ¢ imposta, cada vez mais claramente, como uma exi pravia 4 andlise do compromisso definido — 0 do pro- Fissional com a sociedade —, uma reflexio anterior se faz necesséria. Ea que se concentra em tomo da per- gunta: quem pode comprometer-se? Contudo, como pode parecer, esta pergunta no se formula no sentido da identifieagio de quem, entre al- guns sujeitos hipotéticos — A, B ou C —, & 0 protago- fista de um ato de compromisso, numa situacio dada E uma pergunta que se antecipa a qualquer situagio de Compromisso, Indaga sobre a ontologia do ser sujeito So compromisso. A resposta a esta indagacio nos faz fentender 0 ato comprometido, que comeca a desvelar-se iante da nossa curiosidade, De fato, 20 nos aproximarmos da natureza do ser ‘que é capaz’de se comprometer, estaremos nos aproxi- mando da esséncia do ato comprometido. 'A primeira condifo para que um set posta assumir tm ato omprometido esd em ser capez de Agr e refer "2 preciso que seja captz de, estando no mundo, saberte nee,” Saber que, se 4 forma pela qual eté 26 endo condiciona a sun conscincia deste esta, € capaz Tur Givida de ter conscncia desta conseincia cond San se ice ¢ capa nent Senet ara a propia forma de estar sendo, que cond Glona sua conseenca de ela. : Se a possbilidade de reflefo sobre si sobre seu estar no mundo, assocada indissoluvelmente & sia ago Site unde no existe ao ser, seu estar no mundo se SOE umm nfo. poder tranapor os Limits. que The fo ‘eames pelo proprio, mundo, dO que resulta. que exe tpPtho capa de compromisso. Bum ser imerso no nda arr, eal sm te le as Bunce! "Sus imersio. na reatidade, da-qual no a ee et Canty Ce foea2le, for dele um ser "fora" do tempo ou “sob” 0 (Guo eo aiads, num tempo que nfo € seu, O tempo fame face ola” um perpeto presente um eterno Hoe. 16 ‘Achist6rico, um ser como este no pode comprometer-se; Gn Togar de relacionar-se com 0 mundo, o ser imerso ne fe somente est em contato com ele, Seus contatos. mio Chogam a transformar o mundo, pois deles nfo resultam rodutos significatives, capazes de (inclusive, voltando-se Sobre ele) mared-los. ‘Somente um set que ¢ capaz de sair de seu com texto, de “distanciar-se” dele para ficar com ele; capa Ge admiréclo para, objetivando-o, transformé-lo ¢, trans- fornando-o, saber-se transformado pela sua propria cria- Gao: um sef que é e esti sendo no tempo que é 0 se, Sie'sor histrico, somente este & capaz, por tudo isto, de ‘comprometer-se. ‘Além disso, somente este ser é jé em si um com- péomisso. Este ser & 0 homem. ‘Mas, se este ser & 0 homem que, além de poder comprometer-se, jé € um compromisso, o que € © com- promisso? ‘Uma vez mais teremos de voltar a0 proprio homem, fem busca de uma resposta. Porém, nfo a um homem Shetrato, mas 20 homem concreto, que existe, numa s+ twagio concreta. ‘Afirmamos anteriormente que a primeira condigo para que um ser pudesse exercer um ato comprometido vara sua capacidade de alvar ¢ tefletir. 1 exatamente Etta capacidade de atuar, operar, de transformer a reali- inde de acordo com finalidades propostas pelo homem, & Gal ests associada sua capacidade de refleti, que 0 faz sum ser da préxis. Se acto ¢ reflexio, como constituintes inseparéveis dda praxis, sto a mancira humana de existr, isto nfo sig- ‘flea, contudo, que no estio condicionadas, como se Tosser absolutas, pela realidade em que esté o homem. ‘Assim, como nio hi homem sem mundo, nem mun do sem homem, no pode haver reflexio ¢ a¢ao fora da SSiegio homem—realidade. Esta relagio homem—rea- Eade, homem-—mundo, a0 contrério do contato animal fom_o mundo, como 4 afirmamos, implica a transfor- Sagéo do mundo, cujo produto, por sua vez, condiciona Tubes, agao e reflexio. E, portanto, através de sua W experiéncia nestas relagbes que o liomem desenvolve sua agio-reflexdo, como também pode té-as atrofiadas. Con- forme se estabelecam estas relagdes, o homem pode ov rnio ter condigdes objetivas para pleno exereicio da maneira humana de existi. Contudo, 0 fundamental é que esta realidade, proi- bitiva ow nfo’ do pensar e do atuar autenticos, € eriagio dos homens. Dai ela no pode, por ser historica tal como os homens que a eriam, transformar-se por si $6. s homens que a criam so 03 mesmos que podem pros. seguir transformando-a Pode-se pensar, diante desta afirmagio, que esta- ‘mos numa espécie de beco sem saida, Por que sea realidade, criada pelos homens, dificultathes “objetiva- mente sei atuar e seu pensar autGaticos, como podem, ‘eto, transformé-la para que possam pensar e atuar Ver. dadeiramente? Se a realidade condiciona seu pensar ¢ ‘atuar nio-auténticos, como podem pensar corretamente © pensar co atuar incorretos? B que, no jogo interativo do atuar-pensar 0 mundo, se, num momento da experign- ‘ia hist6rica dos homens, os obstéculos 20 seu aulentico atuar e pensar nio sio visualizados, em outros, estes obsti- culos passam a ser pereebidos para, Finalmente, os ho ‘mens ganharem com eles sua razio. Os homens alean- {gam a razio dos obsticulos na medida em que sua agio G impedida. E atuando ou nio podendo atuar que se Ihes aclaram os obsticulos & acdo, a qual nfo se dicotomiza da reflexio. E como o proprio da existéncia humana € a atuagio-reflexao, quando se impede um homem com pprometido de aluar, os homens se sentem frustrados ¢ por ‘sso procuram superar a situagio de frustragio," Impeidos de atuar, de refletir, os homens encon- tram-se profundamenteferidos em si mesmos, com eres do compromisso. Compromisso com 0 mundo, que deve Ser humanizado. para humanisagio. dos homens, ‘tes asabilidade com estes, cont a historia. Este compro- fino com a humanzasio do bomen, que ipo fesa Tesponsabildade historia, nfo pode realizar-se stawés do Nese sentido, ver E. Fromm, sobretado O corario do ‘homer, excelente livfo, po qual ele discte slaamette 8 tras ‘wagio do nfo-atar suas conseguéncas: 18 ppalavrério, nem de nenhuma outra forma de fuga do mun- do, da realidade concreta, onde se encontram os homens oneretos. © compromisso, préprio da existéncia hua nna, 86 existe no engajamento com a realidade, de cujas “aguas” os homens verdadeiramente comprometides ficam ““molhados”, ensopados. Someate assim o compromisso € verdadeiro. Ao experiencié-lo, num ato que necessa. riamente é corajoso, decidido e consciente, o8 homens jé indo se dizem neutros, A neutralidade frente 20 mundo, frente a0 hist6rico, frente aos valores, reflete apenas o redo que se tem de revelar o compromisso, Este medo quase sempre resulta de um “compromisso” contr os homens, contra sua humanizacfo, por parte dos que se ddizem neutros. Esto. “comprometidos” consigo. mes. ‘mos, com seus interesses ou com os interesses dos grupos 08 ‘uais pertencem. E como este nao & um compro: ‘misso verdadeiro, assumem a neutralidade impossivel. © verdadeiro compromisso é a solidariedade, © no 8 solidariedade com os que negam o compromisso soli rio, mas com aqueles que, na situagio conereta, se en ccontram convertidos em “coisas”. Comprometer-se com a desumanizagio & assumicla 6, inexoravelmente, desumanizar-se também. Esta é a razo pela qual o verdadeiro compromisto, que € sempre solidério, no pode reduzir-se jamais estos de falsa generosidade, nem tampouco serum ato Unilateral, no qual quem se compromete ¢ 0 sujeito ativo do trabalho comprometido aquele com quem se com. romete a incidéncia de seu compromisso, Isto seria Aanular a esséncia do compromisso, que, sendo encontto inamico de homens solidirios, a0 alcancar aqueles com ‘os quais alguém se compromete, volta destes para ele, abragando a todos num dnico gesto amoroso. ois bem, se nos interessa analisar © compromisso do profissional com a sociedade, teremos que reconhecet ‘que le, antes de ser profissional, 6 homem, Deve set ‘comprometida por si mesmo. ‘Como homem, que no pode estar fora de um con- texto histrico-social em cujas inter-relagdes consttdi seu eu, & um ser autenticamente comprometide, falsamente 40 “comprometido” ou impedido de se comprometer verda- sdeiramente? 'No caso do profissional, é necessério juntar ao com- romisso genérico, sem divida concreto, que Ihe 6 pro- prio como homem, o seu compromisso de profissional. Se de seu compromisso como homem, como jé ‘os, ndo pode fugir, fora deste compromisso verdadero com o mundo e com os homens, que é solidariedade com eles para a incessante procura da huimanizagio, seu com- romisso como profissional, além de tudo isto, é uma di. ida que assumiu ao fazer-te profissional ‘Seu compromisso como profissional, sem_divida, pode dicotomizar-se de seu compromisso original de ho. mem. © compromisso, como um quefazer radical © 10. talizado, repele as racionalizagbes. No posso nas 2 feiras assumir compromisso como homem, para nas 3. feiras assumi-lo como profissional. Uma vez. que “pro fissional” ¢ atributo de homem, ndo posso, quando exergo tum quefazer atributivo, negar o sentido profundo do que- fazer substantivo e original. Quanto mais me capacito como profissional, quanto mais sistematizo minhas expe- rigneias, quanto mais me utilize do patrimdnio cultural, ue & patriménio de todos e ao qual todos devem servir, ‘aumenta minha responsabilidade com os homens. Nao posso, por isso mesmo, burocratizar meu compro: isso de profisional, servindo, numa inversio dolosa de valores, mais aos meios que ao fim do homem. Nao oso me deixar seduzir pelas tentagées miticas, entre elas a da minha escravidlo as técnicas, que, sendo elabo- radas pelos homens, sfo suas escravas e'nio. suas. se- horas, Nilo devo julgar-me, como profissional, “habitante” dde um mundo estranho; mundo de téenicos ¢ especialistas 2. “Impedido de comprometerse verdadciramente” sig h para née,‘ sitwo na qual as grandes maior enconath ‘= anads por ‘nora ata de-odens Ex’ gs Imalorias tm a Impressio de. que se. Sompromicem, Guaiton se verdade, sfo induztdat em seu" “compromiior 20 salvadores dos demais, donos da verdade, proprietétics do saber, que devem ser doados aos “ignorantes e inca. Pazes”. ‘Habitantes de um gueto, de onde stio messia. nicamente para salvar os “perdidos”, que estio fora. Se rocedo assim, nao me comprometo’verdadeiramente co- mo profissional nem como homem. Simplesmente me alieno, Todavia, existe algo que deve ser destacado, - Na ‘medida em que o compromisso néo pode ser um ato pase sivo, mas praxis — acio ¢ reflexio sobre a realidade’—~, insereo nela, cle implica indubitavelmente um conheck. mento da realidade. Se 0 compromisso 36 é valido quan do esti carregado de humanismo, este, por sta vez, s6 6 conseqiiente quando esté fundado cientificamente. En- volta, portanto, no compromisso do profissional, seja ele quem for, esta’ a exigncia de seu constante aperfeicon. ‘mento, de superacdio do especialismo, que no é 0 mes- ‘mo que especialidade. © profissional deve ir ampliando seus conhecimentos em torno do homem, de sua forma dde estar sendo no mundo, substituindo por uma viséo eri. ‘ica a visio ingénua da realidade, deformada pelos espe- cialismos_estreitos. Nio 6 possivel um compromisso verdadeito com a realidade, © com os homens coneretos que nela ¢ com cla estGo, se desta realidade © destes homens se tem ‘uma consciéncia ingénua. Nao 6 possvel uum compro- isso auténtico se, aquele que se julga comprometide, a realidade se apresenta como algo dado, estatico ¢ imu tvel. Se este olha e percebe a realidade enclausurada fem departamentos estangues. Se no a vé e no a capta ‘como uma totalidade, cujas partes se encontram em per ‘manente interacio. Daf sua acio néo poder incidit so. bre as partes isoladas, pensando que assim transforma a realidade, mas sobre 'a totalidade, & transformando & fotalidade que se transformam as partes e nao 0 contré rio. No primeiro caso, sua agio, que estaria. bascada ‘numa visio ingénua, meramente “focalista” da realidade, rio poderia consttuir um compromisso. Um profissional, por exemplo, para quem a Refor- ma Agriria € apenas um instrumento juridico que nor ‘maliza uma sociedade em transformagao, sem conseguir apreendé-Ia em sua complexidade, em sua globalidade, 21 ‘iio pode em termos coneretos comprometer-se com ela, ainda que ideologicamente a acct ‘A questio é que a Reforma Agréria, como um pro- cesso global, nfo & algo que, ndo existindo antriormen- te, passa a éxistir completa ¢ ecabadamente, com a ins- tauragio de uma estrutura nova... A Reforma Agréria, por ser um processo,€ algo dintmico. Di-se no dominio hhumano, As relagdes homem—realidade, que se_verii- cavam na estrutura anterior, necessariamente deixaram sua marca profunda na forma de estar sendo do cam- ponés, Mudada a vetha estrutura, através da Reforma, 5 inevtével 6 que, cedo ou tarde,'a estrutra instaurada ondicione novas formas de pensar e de atuar, resultan- fer das novas relagdes homem—realidade, isto néo sig- nifea que essa mudanga se dé instantaneamente. © compromisso, portanto, de um profissional da Re- forma Agriria que a veja s0b esta visio cicada, nfo pode ser Verdadeiro, nfo pode ser o compromisso do pro- Fissional, em cuja defo de carder téenico se esquece do hhomem ou se 0 minimiza, pensando, ingemuamente, que existe o dilema humanisme—teenologia. E, respondendo a0 desafo do falso dilema* opta pea ténica, consideran- do que a perspectiva humanista é uma forma de reardar 45 solugBes mais urgenes. O erro desta concepso 6 130 nefasto como o erro da sua contréria — a falsa concep- #0 do humanismo — que ve na tecnologia a razi0 dos mnales do homem modemno. "Eo erzo basico de ambas, {que nio podem oferecer @ seus adeptos nenuma forma feal de compromisso, esti em que, perdendo elas a. di mensio da totalidade, no percebem 0 dbvio: que. ht Ianismo € tecnologia nfo se excluem. io. peresbem ‘que o primeiro implica a segunda e vice-versa. Se met compromisso é realmente com 0 homem concreto, com 2 causa de sua humanizagdo, de sua libetaga0, ado’ posso por isso mesmo prescindir da ciénci, nem da tecnologia, 3. 0 itor nfo entende por humanismo, neste como, em nts estos ets a Eas ete fomaeao casi, so. fries, a erudigio” acm tampouco tm idea astro. de. bom omen. "O'humanismo é-um compromiso radical com 0 bo- mem concreta. "Compromisio que se orienta no Setido de tans formasao. de qualquer situasio"objedva na qual 0 homem con cteto ese sendo impedido de ser mals 22 com as quais me vou instrumentando para melhor Tutar por esta causa. Pot isso também no posso reduzir 0 homem a um simples objeto da técnica, a um autOmato manipulével. ‘Quase sempre, téenicos de boa vontade, embora ‘génuos, deixam-se'Jevar pela tentaclo tecnicista, (mit ficagio da técnica) e, em nome do que chamam “neces- sidade de nio perder tempo", tentam, verticalmente, subs- tituir os procedimentos empiricos do povo (camponeses, por exemplo) por sua técnica, Partem do pressuposta verdadeiro “de que €, nil 96 necessario, mas urgente, aumentar @ produgio agricola”. ‘Uma das “exigncias para consegui-lo esta’ na mudanga teenolsgica que deve’ verificar-se”. Outro pressuposto vilido. No entanto, a0 desconhecer que tanto sua téeni ‘como os procedimentos empiricos dos camponeses. so manifestagdes culturais e, deste ponto de vista, ambas vé- lidas, cada qual em sua medida, e que, por isso, nio po- ddem’ser mecanicamente substituidos, enganam-se e j4 nfo. podem comprometer-s. ‘Terminam, entio, por eair nesta itdnica contradi- gio: “para no perder tempo” o que fazem € perdé-to. Deformados pela scriticidade, nilo slo capazes de ver ‘o homem na sua totalidade, no seu quefazer-acdo-reflexao, ‘que sempre se dé no mundo e sobre ele. _Peio contrétio, serd mais fécil, para conseguir seus objetivos, ver 0 ho- mem como uma “lata” vazia que vio enchendo com seus "depésitos” téenicos, Mas ao desenvolver desta forma sua agio, que tem sua incidéncia neste “homem lata”, po- demos melancolicamente perguntar: “onde esté seu com- promisso verdadero com o homem, com sua humaniza- gio?” Todavia em nossos paises hé sem dévida uma som- bbra que ameaca permanentemente 0 compromisso verda- deiro, Ameaga que se concretiza na autenticidade do ‘compromisso. Estamos nos referindo % alienacio (ou alheamento) cultural que sofrem nossas sociedades.* “4. De alsum tempo para cf, 25 sociedadesIntinoamerica- ‘as comepam a pétse h prove, historcamente. Algumas mals 23 Com o centro de deciso econdmica ¢ cultural, em grande parte fora delas (portano, sociedades de economia, petterica, dependent exportadora de matériasprimas © Importadoras no somente de produtos.manufaturados, mas também de idéas, de téenieas, de models), $80 20° dedades “seres para ult” ‘Assim, o primeio grande obsticulo que se apresenta nestas sociedades 20 compromisso auléalico encontra-se fa falta de autenticidage de seu proprio ser dual. Estas Secedades so © do sfo elas propria a medida em que, em grande parte, para solucionar seus problemas, importam teenicas © tecnologia, sem 2 devida “reduglo socoligca” destas a suas condigSes ob- jetivas (ndo neceseariamente idénticas as das soviedades etropoltanss, onde se deservolvem estas tecnologasim- Portadas), nao podem proporcionar as condigoes para compromisso auténtice. ‘No hé téenicas neutras que possam ser transplan- tadas de um contesto a outro. "AT alienagio. do. profis- sional nao Ihe permite perecber esta obviedade. ‘Seu compromisso se desfaz.na medida em que o ins- trumento para sua agio € um instrumento.estranho, 3s ico, A sua cultura? 0 alienado, sea profssonal ou no, pouco importa, no distingue 0 ano do calendtio do ano historic," NiO Perebe que exe uma nlovcntemporaeiade do coe: ‘ee outras. Comesim & tentar uma volta sobre si mesmas, 0 ‘due ‘as leva. ase aulodjelivarem, e, assim, descobrrem-e Mcnadas. "Se esa. deseoberia aio signifies ainda $ Sealenagso Nt adiiilo. seria assumir uma (posture iealista "6, cow ‘ado, motivadera para que 2 sociedade inicio « procara de sas ions que. vo estudar'em eursos de formacio oy apettelcoa. ‘enlo cm centog esrangutos de ouiro nivel eondmio © tec ‘ologico) um curso previ profundo sobre se pais, sobre sa Fealldade Hstrica, econdmica, socal ¢ ciltral, sobre ae cond fer conta do tar ie” Molo dor fren insane. Feanos, 20 vollaem a seis paises, sentemse como citrangeios frstrados. ou reforcam 9 nimero” don transplants de experiem” fas de outro espaco e de outro tempo historic. S80 mat com” bromissoeinautenicos. 24 ‘Todas estas manifestacOes da alienaco e outras mais, ceuja andlise detalhada no nos cabe aqui fazer, explicam ‘inibiedo da eriatividade no periodo da alienagio. Esta, geralmente, produz. uma timidez, uma inseguranga, um edo de correr o risco da aventura de criar, sem 0 qual nndo ha eriagio. No lugar deste risco que deve ser cor- rido (a existéncia humana é riseo) e que também carac- teriza a coragem do compromisso, a alienacdo estimula ‘© formalismo, que funciona como uma espécie de cinto de seguranca. - Dai o homem alienado, inseguro e frustrado, ficar mais na forma que no contetido; ver as coisas mais na superficie que em seu interior. Seu “pensamento” no tem forca instrumental porque _ nasee de seu contexto para voltar a ele. Constitul-se na nostalgia de mundos alheios e distantes. Seu “pensamen- to”, finalmente, no tem forca, nem para o seu mundo, pporgue dele ndo nasceu, nem para o outro, o mundo ima~ gindrio da sua nostalgia. esta forma, como comprometer-se? Entretanto, no momento em que a sociedade se volta sobre si_mesma e se inscreve na dificil busca de sua autenticidade, comera a dar evidentes sinais de preocupa- ‘glo pelo seu. projeto histrico. Quanto mais eresce esta preocupacdo, mais desfavo- riyel se toma o clima para 0 compromisso, Estamos convencidos de que 0 momento histérico da América Latina exige de seus profissionais uma séria reflexio sobre sua realidade, que se transforma rapida- ‘mente, e da qual resulte sua insercio nela, Insercio esta ‘que, sendo critica, & compromisso verdadeiro. Compro- misco com os destinos do pais. Compromisso com seu povo, Com o homem conereto. Compromisso com 0 ser mais deste homem. Se, numa soviedade preponderantemente alienada, © profissional, pela natureza mesina da sociedade estrutu- rada hierarquicamente, € um privilegiado, numa sociedade ue se est abrindo o profisional é um comprometido ou deve sé-o, Fugir da coneretizagio deste compromisso é no s6 negar-se a si mesmo como negar 0 projeto nacional. 25

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