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(So EDIOURO/92354 TUDO QUE VOCE PRECISA SABER SOBRE PARA NUNCA PASSAR VERGONHA O AvuToR Datando de 1953, Paul Bahn decidiu, em tempos remotos, fazer da arqueologia um meio de vida. Quando crianga, cavou buracos no jardim dos fundos de sua casa em Hull, encontrando fragmentos de ceramica. Estes se tevelaram imitag4o de ceramica chinesa, e ndo romano antigo, mas a emocdo da descoberta permaneceu intacta. Mais tarde estudou arqueologia em Cambridge, ob- teve seu Ph.D., e adotou a aparéncia regulamentar dos arquedlogos (barba e roupas deselegantes), mas a des- peito de semanas de desbravamento das selvas sul-ame- ricanas em busca de sitios perdidos, nao conseguiu ad- quirir gosto nem por tabaco nem por 4lcool. Passou a se dedicar como escritor freelance aos as- pectos que considera mais interessantes na drea, como dentes de cavalo e gravuras de genitdlias (vide: Chocan- te: Cavalos atrelados no paleolitico?; Sem sexo, por favor, somos aurignacianos). O iltimo livro de Paul Bahn, o profusamente ilus- trado Imagens da Era Glacial, é altamente conceituado em certos circulos obscuros, e 0 ptiblico também gostou. Entre seus passatempos estao as sepulturas dos famosos, especialmente em Hollywood, sobre as quais discorre ocasionalmente para pessoas que compartilham esse en- tusiasmo mérbido. Infelizmente, seu Guia-mapa Para os Timulos das Estrelas, que costumam chamar de Ca- daveres Célebres, esta disponivel apenas nos EUA. Felizmente todo esse trabalho requer uma certa quan- tidade de pesquisa e viagem, que € 0 motivo pelo qual este livro nao foi escrito num sitio arqueolégico enla- meado, mas numa praia em Figi. Os Manuais do Blefador Administracio Antiguidades Arqueologia Arte Moderna Balé Blefe (manual geral do blefador) Computadores Ecologia Editoragio Feminismo Filosofia Jazz Jornalismo Lecionar Literatura Marketing Matematica Misica ‘Ocultismo Opera Oratéria Predigio do Futuro Propaganda Sedugio Sexo Teatro Televisio Vinhos Whisky MANUAL DO BLEFADOR Tupo QUE VOCE PRECISA SABER SOBRE AROQUEOLOGIA PARA NUNCA PASSAR VERGONHA Paut Bann Tradugio e adaptagio de SyLvio GONCALVES Este livro é uma adaptagio do original inglés Bluff Your Way in Archaeology por Paul Bahn © da tradugio e da adaptacio, Ediouro S.A., 1993 ISBN 85-00-92354-7 MAC 2354 Rua Nova Jenusatsn, 345 — Rio ne JaNeino — RJ ‘Connesponnéwcta: Cara Postal. 1280 CEP 20001-9790 — Rio be Jaxemo — RJ ‘Tea. (021)260-6122 SUMARIO Introdugio, 6 O que é arqueologia?, 6 Ser um arquedlogo, 8 Tipos de arquedlogos, 14 Arqueologia de campo, 17 Encontrando sitios, 17 Escavacio, 18 Leis fundamentais, 23 Levantamentos topograficos, 24 Resgate, 25 Os especialistas, 26 Datagiio, 28 Interpretagao, 30 Maldigées, 31 Fraudes, 33 Arqueologia impressa, 37 Estratagemas, 39 Alguns nomes para conhecer, 42 Campos de especializagdo, 48 Arqueélogos famosos, 57 Glossfrio, 62 INTRODUCAO O QUE E ARQUEOLOGIA? Se Histéria é cascata, arqueologia é sucata, Essa profissao bizarra consiste em procurar, restaurar ¢ estu- dar os refugos deixados pelos seres humanos do passa- do. Os arquedlogos sio, portanto, o opasto preciso dos lixeiros, embora costumem vestir-se de forma semelhante. As pessoas antigas™ n4o tinham como suspeitar que 9 lixo do qual se livraram t4o prontamente seria um dia resgatado por esses mercadores cientificos de trastes ¢ ossos. Se tivessem suspeitado, teriam tomado melhor cuidado com suas coisas e prendido etiquetas para clas- sificar 0 objeto e o que faziam com ele. Como nao fize- = isso, os arquedlogos precisam descobrir tudo sozi- nhos. A arqueologia é como um enorme e€ perverso que- bra-cabegas inventado como instrumento de tortura pelo dem6nio, pois: a) nunca pode ser terminado b) vocé nunca sabe quantas pegas estio perdidas ¢)a maior parte delas esta perdida para sempre d) vocé ndo pode trapacear olhando a tampa da caixa. Pessoas pré-histéricas nem sempre tiveram a visio de usar materiais como pedra ou ceramica, que sobrevi- veriam através das eras, de forma que quantidades ini- magindveis de objetos apodreceram e sumiram. Isso é m4 noticia para o arquedlogo, mas uma noticia maravi- Ihosa para o blefador. Ha varias razGes para que a arqueologia seja uma 4rea ideal em que se pode tornar-se um blefador completo: * Um blefador experiente pode obter uma vantagem importante no inicio de qualquer conversa ao se opor ao uso de termos como O Ho- mem Feito Pelo Homem, Homem Primitivo, Homem de Neandertal, ¢ assim por diante, por serem tolos e ofensivamente sexistas, Isso abalard por algum tempo o equilfbrio de seu oponente. 6 1. Na maioria das vezes a evidéncia esta tao dani- ficada que a opinido de alguém é tao valida quan- to a opiniao de qualquer outro, N&éo ha como pro- var nada. Quando o assunto é o passado distante, ninguém sabe com clareza. O m4ximo que pode ser oferecido é um palpite informado. Vocé de- ve disfargd-lo sob o titulo grandioso de “dedu- go” ou “teoria”, ou (ainda mais imponente) “hip6- tese”. 2. E particularmente facil blefar numa conversa so- bre arqueologia com um n4o-arquedlogo. Isso se deve ao fato de que, embora a maior parte das pessoas manifestem interesse no passado, seus olhos tendem a embaciar depois de ouvir o assunto por alguns minutos. 3. E especialmente facil nesse ramo fazer-se passar por um expert, repleto de conhecimentos impres- sionantes e esotéricos, porque esta cheio de ter- mos obscuros e nomes e lugares exdticos. Mesmo se o grande publico tiver ouvido sobre eles, € quase certo de que saberfio pouco ou nada a seu respei- to. Serd muito util, portanto, um minimo de traba- lho de casa. E brineadeira de crianga dar a falsa impressao de estar informado, afinal, poucos ousardo desafiar seus fatos e hipéteses. Ante qualquer suspeita de que sua platéia faz parte daquele grande ndmero de pessoas que — gragas aos filmes e desenhos animados — acreditam que os primei- ros humanos viveram ao mesmo tempo que os dinossau- ros, utilize essa suspeita como uma oportunidade para um sorriso de escd4rnio ou um suspiro de pena antes de esclarecé-los sobre o intervalo de milhées de anos entre as duas formas de vida. Nunca deixe o fato de que nada realmente se sabe sobre os acontecimentos passados interpor-se em secu caminho: use-o como vantagem. Alguns arquedlogos imi- nentes construfram carreiras sobre blefes convincentes. 7 SER UM ARQUEOLOGO Sao necessérias qualidades muito especiais para devotar-se a problemas sem solugao e a remexer no lixo de gente morta: palavras como “masoquista”, “abelhu- do” e “louco de pedra” logo vém a mente. E por isso que a excentricidade é 0 rétulo da profissao. Assim como a dependéncia ao 4lcool (na verdade, arqueologia podia ser sindnimo de alcoolismo), Pode-se atribuir esse fato tanto 4 necessidade de afogar as magoas frente a incapa- cidade de chegar a solugdes como simplesmente a es- quecer o constrangimento em praticar uma profissao ri- dicula por natureza e quase sempre fiitil. A imagem popular dos arquedlogos é de uma turma de doidos ou parias cobertos de poeira e teias de aranha. O blefador, entretanto, afirmardé, com um sorriso inteli- gente, que isso nem sempre é verdade: alguns deles sio apenas distraidos ¢ ha até aqueles que se mantém limpos. Pode-se reconhecer 0 arquétipo do arquedlogo pela barba, pelo cachimbo curvo, 0 casaco ou camisa estam- pada deselegante, e pelas sanddlias ou botas de cami- nhada — e estamos falando apenas das mulheres. O ca- chimbo costuma ser afetacao, um artificio cldssico de blefe, usado para transmitir a idéia falsa de que o ar- quedlogo é um verdadeiro Sherlock Holmes. A barba empresta um ar de sabedoria e maturidade, mas ndo pas- sa de um meio para obter cinco minutos a mais na cama. Os casacos servem para ocultar as barrigas protuberan- tes (conseqiientes ao excesso de cerveja), enquanto as camisetas apenas as acentuam. As roupas e calgados dependem da temperatura, das condig6es e das finangas, ¢ muitas vezes nio sfo troca- dos por dias ou semanas a fio. Deve-se fingir acreditar que isso se deve A distancia de uma fonte de d4gua ou toalete, ¢ nio a um baixo padrao de higiene pessoal, ou 4 pura falta de interesse. A maior parte dos arquedlogos, quando inquirida sobre o motivo de devotar as vidas & drea, fara conside- ragdes poéticas sobre: * sua paixao pelo passado * seu desejo de prestar uma modesta contribuigao 4 restauragdo da histéria do desenvolvimento hu- mano. Alguns iro até mesmo afirmar que, como Schliemann, a arqueologia foi seu nico objetivo de vida desde a infancia. No acredite numa palavra: como bom blefador, deve estar apto a reconhecer egocentrismo a vinte passos, Se um grupo de arqueélogos fosse transportado ao passado numa m4quina do tempo, as chances sao de que ficariam completamente estupidificados dentro de poucas horas ¢ comegariam a gritar por um ar-condicionado, cerveja boa, ¢ sua prépria versio de como as coisas seriam no passado. Na verdade, a maior parte das pessoas é atraida pela arqueologia por uma variedade de razées mais priticas. Aqui est4o as cinco principais. 1. As vezes pode ser bastante divertido — ja foi definida como a coisa mais divertida que se pode fazer vestido. 2.A perspectiva de atividade/aventura, viagens ¢ encontro com pessoas do sexo oposto, Se vocé nao tem paciéncia de perder tempo sentado numa praia lendo um livro policial ¢ quer distincia dos pacotes de turismo, ent&o a arqueologia de campo pode ser uma boa solugio. A maioria dos direto- res de campo insiste que vocé se aliste pelo me- nos por uma quinzena. Assim nao pode fugir hor- rorizado ao descobrir que vocé é apenas um tra- balhador mal pago, preso a um grupo de pessoas igualmente cansativas, ¢ a maior parte delas le- vando seu trabalho a sério. 3. Fazer um curso universitério que costuma ser con- siderado mais facil que a maioria. Ao fim dele, alguns estudantes decidem continuar para tirar um Ph.D., tanto porque néo pensam em nada melhor 9 para fazer, como por falta de coragem de encarar © mundo real e procurar um trabalho de verdade, Muitos abandonam o curso. Daqueles que conse- guem seu Ph.D., a maioria descobre que o merca- do de trabalho em arqueologia é nulo, que desper- digaram varios anos, e que tudo o que resta a fa- zer € estudar para ser contador ou fiscal de impos- tos. Neste ponto, sua paixdo pelo passado esvanece rapidamente, tendo seu lugar ocupado pela cor- rup¢do ¢ pela meia-idade. 4. Conseguir um meio de vida (nao-recomendado, a nao ser que suas necessidades materiais sejam mi- nimas). Com disse Champollion, a arqueologia é uma linda amante, mas seu dote é pobre. 5. Fazer uma carreira. Isso nfo é facil, pois a carrei- ra de um arquedlogo ja comega em ruinas. Uma carreira arqueoldgica é considerada um suces- 8O se 0 arquedlogo se torna: * uma celebridade nacional (raro) * uma celebridade internacional (muito raro) * ou rico (extremamente raro — “riqueza” e “car- teira arqueolégica” siio quase termos contradité- rigs), Normalmente consegue-se isso através de uma des- coberta com apelo popular. Virtualmente, todo arqueé- logo profissional da atualidade afirma nao ser cagador de tesouros, mas um cientista buscando informagio, nao objetos. Portanto, em qualquer conversa a respeito de tesouros individuais, o blefador pode marcar pontos en- fatizando, com grande condescendéncia, que os arques- logos da atualidade nao cavam Para encontrar coisas, mas para descobrir coisas. Embora isso seja verdadeiro na maioria dos casos, é também justo afirmar que qualquer arquedlogo ficaria euf6rico em encontrar alguma coisa que nao apenas se revelasse importante para a érea, como também estimu- lasse a imaginagao do piblico. E como pouquissimas 10 descobertas (apresentadas seriamente) provocariam mais do que um bocejo contido no espectador de tevé ou no leitor de jornais sensacionalistas, tais descobertas preci- sam ser maquiadas com superlativos de blefador: o pri- meiro, o mais antigo, o maior, o mais bem preservado, o mais rico, o mais espetacular de sua espécie. Outro recurso eficaz constitui associar a descoberta aum tépico sempre popular, como: * sexo = violéncia * canibalismo. Nio se esqueca: como o piiblico se importa pouco com ancestrais anénimos, é crucial ligar a descoberta a uma figura lendaria ou bem conhecida, preferivelmente de sangue azul (Rei Arthur € 0 grande favorito). A des- coberta do enésimo esqueleto romano ou pote peruano nao despertard nenhum interesse, mas se vocé apresenta- la como a provavel avé de Jélio César ou como meacats radeira de Atahualpa, conseguira chegar aos noticiadrios, e talvez aos programas de entrevista. Seus colegas de- monstrario desprezo, mas ficarao verdes de inveja com a projecio e o aumento de receita que esse tipo de coisa lhe proporcionara. Como blefador, vocé deve desprezar esse tipo de busca de atengdo como “farfalhice de carreiristas ambi- ciosos e sem escriipulos”. Se vocé mesmo for acusado disso, explique que, infelizmente, esse tipo de coisa é necessdria para manter o prestigio da arqueologia frente ao publico, sendo com grande relutancia que permite que a midia distorga seu trabalho. Obviamente, nao tem nenhuma intengdo de impulsionar sua carreira. Nao sera surpresa descobrir que qualquer um que escolha a arqueologia como profissao é, ou precisa tor- nar-se, um blefador consumado. Os estudantes siio blefadores novatos, tentando apren- der os rudimentos da drea para blefar para passar nos exames € conseguir uma carreira ou, ao menos, um di- 11 ploma. Isso requer certa quantidade de estudo e redagio mas também um pouco de trabalho em sitios arqueolégi- cos para ganhar experiéncia e a estima dos professores. Os conferencistas possuem uma grande carga horé- ria de ensino, nfo se pode esperar que pensem e sejam originais ao mesmo tempo. Sao blefadores com muita pratica em convencer que sabem muita coisa nesse cam- po de interesse em particular, e que néo decoraram tudo 4s pressas na noite anterior. Ao contrério de conferen- cistas em outras reas, seu trabalho de verdade comega nas férias de verao, quando realizarao um pouco de pes- quisa, dirigirao algum trabalho de campo, ou tentaréo adiantar um pouco o livro que escrevem hd anos. Tém como objetivo principal conseguir um saldério melhor e reduzir sua carga de trabalho, tornando-se: Académicos sénior, isto é, blefadores avangados, Uma vez que tais alturas estonteantes tenham sido atingidas, é possivel sentar-se e descansar sobre os louros. Por exemplo, um arquedlogo chefe de departamento no nor- te da Inglaterra nao fez absolutamente nada desde sua tese, hd vinte anos, 0 que Ihe valeu o apelido de “trom- bose”, o codgulo que bloqueia o sistema. Outros disfar- gam, produzindo regularmente variagoes do mesmo tra- balho. Um ou dois mantém-se animados e inventivos, produzindo trabalhos interessantes, mas essas excegdes nao tém lugar num livro de blefe. Repare que nenhum arquedlogo, nessas posigdes ou ainda em outras mais avangadas, dar4 um grama de glé- tia As profissionais mais importantes na arqueologia aca- démica, as secretdrias, j4 que sio as pessoas mais sis da 4rea, fazem todo o trabalho pesado, e sem elas a maior parte dos académicos e departamentos simplesmente rui- Tiam. Arqueélogos profissionais precisam fazer voto de pobreza, embora nao (felizmente) de castidade. A maio- ria prefere substituir rendimentos por influéncia e écio. Sendo magros de bens (embora gordos de corpo), cons- tantemente precisam suplicar e esmolar para poderem: 12 a) fazer o trabalho de campo b)comparecer a conferéncias ¢)ter seus trabalhos publicados, Voeé deve saber que essas praticas nunca revelam a verdade sobre o baixo grau de importéncia ou originali- dade do projeto, mas acentuam a natureza potencial € fascinante do trabalho. E triste, mas verdadeiro, dizer que: + Anica forma de se conseguir fazer bom dinheiro com arqueologia é blefar de forma a tornar-se professor universitario. + A tinica forma de se fazer dinheiro alto € vestir jeans apertados, deixar a barba por fazer e a cami- sa entreaberta, ir 4 televisao € blefar de forma a fazer com que o piblico pense em wocé como um especialista na area. + Anica forma de se fazer grandes quantidades de dinheiro é escrevendo A Tribo da Caverna do Urso. 13 'TIPOS DE ARQUEOLOGOS Ha basicamente duas categorias: o arquedlogo de campo e o arquedlogo de poltrona. Os arquedlogos de campo sao normalmente chama- dos “arque6logos sujos”, termo que nao se aplica neces- sariamente 4s suas mentes ou aparéncias (bem, As ve- zes). Sio aqueles que realmente sacm para cavar e de- marcar para obter alguma evidéncia que possa ser investigada. Também tentam fortalecer sua nova ima- gem de “homens de agao” manejadores de chicotes, normalmente com grande fracasso. A maioria dos arquedlogos de campo sabe blefar de forma a fazer com que pensem que seu trabalho é exci- tante, cheio de emogées. Mas é bom que vocé saiba que, exatamente como o mundo do cinema ou da fotografia de moda, pode parecer glamouroso ¢ desafiador quando visto de fora, mas se vocé experimentar, logo ira desco- brir os longos periodos nos quais nada acontece. Ha compensagGes, claro: poucas siio as profissdes que permitem que vocé viaje regularmente a regides exdti- cas com uma turma de jovens lascivas, ansiosas em se divertir e obter notas altas. Esse € o mesmo motivo pelo qual as esposas — sofredoras ndo-arquedlogas — sen- tem-se compelidas a irem também. Arquedélogos de campo estio sujeitos a queimaduras de sol, picadas de insetos, bolhas nos pés e nos joelhos, € ressacas. Os arquedlogos de poltrona escolhem seu papel por uma variedade de razGes: écio, incompeténcia, falta de vontade de sujar as mfos, ou averséo a luz do sol. Sustentam a imagem tradicional dos arquedlogos como velhos tontos ou, em muitos casos, como jovens tontos. Como n4o podem, ou n&o obterfo evidéncia para si mes- mos, precisam voltar-se para outras pessoas. Nao obs- tante, conseguem atingir eminéncia real na drea através 14 da pratica de um tipo especial de blefe conhecido como “teoria arqueolégica”, o que é feito de varias formas: 1, Vocé compensa sua falta de informagio questio- nando o conhecimento de todos que o cercam: * Como estava o mamilo do sitio? * Qufo representativo era o espécime? 2. Desvia a atenciio de sua propria caréncia de idéias e solugdes atacando aqueles que tentam fazer al- gum trabalho e tentando demolir toda sua aborda- gem do assunto. Toda essa fanfarronice e admoestacdo tem pago di- videndos fantdsticos a muitas carreiras, particularmente dentro da “Nova Arqueologia”. Se vocé é suficientc- mente loquaz, rude e agressivo, geragdes de estudantes o tratario com respeito e deferéncia extraordindrios. A isso se chama “a sindrome do babuino alfa”, pois os macacos conquistam 6 comando com o mesmo tipo de blefe. Mas comportamento por si sé € insuficiente: seré realmente preciso dizer ou publicar alguma coisa, ¢ esta é uma drea de blefe intenso. Arquedlogos teéricos (ou “Qs Mortos-Vivos”, conforme sio conhecidos) produ- zem quantidades enormes de papéis e livros, repletos com: a) jargao impressionante b) palavras longas c) equagées matematicas d) diagramas complicados que envolvem montes de linhas, arcos e colunas. Poucas pessoas chegar4o a ler esse material além de outros teéricos tentando manter-se atualizados com no- vos jargdes (e procurando algo novo para atacar) ¢ aque- les estudantes suficientemente infelizes para terem os autores entre seus professores, Conseqiientemente, pouquissimas pessoas chegam a perceber que a maior parte do texto é inexpressiva, as 15 equagdes desenxabidas, ¢ os diagramas supérfluos, de forma que a indistria continua a funcionar. Este éum exemplo genuino de um trabalho teérico: “A nogio das contradig6es estruturais resulta numa mu- danga social relativa & operagao de varidveis causativas num ni- vel epistemoldgico diferente daqueles assumidos em andlises de varidveis interconectadas ¢ entidades, resultando em processos morfogénicos de retroalimentagio.” A despeito de sua sofisticagéio aparente, este tipo de blefe é notavelmente f4cil: basta aprender algumas pala- yras-chave como cognitivo, interpretativo e operaciondvel; em seguida, ligue-as com jargdes apropriados, como es- truturalista, processual ou mesmo pés-processual (nao se preocupe sobre 0 que isso significa — ninguém mais sabe ou sequer se preocupa com isso), € poderd prosse- guir alegremente até que sua platéia/leitores cochilem ou fujam aterrorizados. Caso venha a confrontar-se com um nimero assus- tador de arqueélogos tedricos (dois), tente primeiro falar positivamente sobre os méritos do trabalho de campo. Se persistirem, tente citar a maxima de Kant de que “conceitos sem percepgdes sao vazios” (isto 6, vocé nao pode dominar o todo sem dedicar-se a algumas minticias — em outras palavras, saia e va fazer algum trabalho de verdade). Uma critica vinda de um filésofo alemao deve atingi-los no coragio, ou pelo menos estonted-los por tempo suficiente para que vocé dé alguma desculpa ¢ fuja. Os arqueélogos de poltrona tendem a contrair ulce- ras, ¢gomania e ressacas permanentes. A diferenga pode ser explicada de forma muito, sim- ples: arqueélogos de campo desencavam lixo, arquedlo- gos teéricos escrevem o seu proprio, 16 ARQUEOLOGIA DE CAMPO Em algum momento de suas carreiras, a maior parte dos arqueélogos, com a excegiio dos tedricos, realmente sai ¢ tenta obter alguma informag4o nova. ENCONTRANDO S{TIOS A forma mais simples de encontrar sitios é pergun- tando a alguém que saiba onde eles estio. O blefador esperto deve estar ciente de que os sitios mais importan- tes ndo sfo encontrados por arqueélogos — na verdade, $40 achados acidentalmente por fazendeiros, trabalha- dores de construgdo ou fotégrafos aéreos; sitios subma- rinos sio descobertos por pescadores e mergulhadores; cavernas sfo achadas por criangas (no caso de Lascaux), e até mesmo por c4es (no caso de Altamira). Os ladrées profissionais de timulos (diga huaqueros no México, tombaroli na Italia) sio mais aptos a descobrirem tamu- los antigos que qualquer arquedlogo. Entretanto, € o ul- timo que investiga os sitios e quem obtém toda a publi- cidade e gléria. A rea em particular na qual escolhem para traba- Thar € supostamente selecionada de forma a responder perguntas de relevancia especifica de seu interesse de pesquisa. Na pratica, as razSes reais dependem de um ou de todos os fatores abaixo: * clima * presenga de um amante * piscinas * bares da regio. Por essas raz6es, a Franga é particularmente popu- lar. Também oferece comida soberba e uma sensivel tendéncia francesa a colocar tetos sobre as escavagoes. Outro fator importante é a situagio politica — guer- ra nfo é um cenério saudavel para trabalho arqueoldgico de campo. Esse € o motivo pelo qual a maioria dos ar- 17 quedlogos americanos deixou o Ira quando o Aiatola subiu ao poder. Infelizmente, muitos resolveram mudar- se para o (temporariamente) seguro Afeganistao. Seja qual for a drea, h4 duas formas principais de obter informagées novas: escavagao e levantamento to- pografico. EscavacAo O piblico pensa que os arquedlogos passam a maior parte de seu tempo cavando. Na verdade, nao sao todos os que cavam, e apenas uns poucos cavam todo o tempo. O blefador deve saber explicar condescendentemente que processar e analisar descobertas costuma levar mais tempo que a escavacdo em si, sendo, portanto, apenas o estdgio preliminar: os meios para um fim, nao o préprio. Qualquer escavagao que esteja ao alcance do pibli- co costuma ser visitada com freqiiéncia irritante por ci- dadaos honestos que pensam que elas existem para sua diversio. Devem ser tratados com a maior cortesia e respeito no caso de: a) tencionar contribuir financeiramente para o pro- jeto, ou b)estar ligados a alguém importante, com poderes para encerrar o trabalho. Dependendo de sua opiniao a respeito dos visitan- tes, os diretores devem atribuir aos cavadores mais char- mosos (ou mais chatos) a tarefa de conceder visitas guia- das. Os préprios diretores assumirao essa tarefa apenas para VIPs. Como os visitantes normalmente possuem alcance li- mitado de questées e comentdrios, os blefadores devem estar familiarizados com as mais comuns, de forma a prepa- rar respostas dignas de G.B. Shaw ou Oscar Wilde: * Eai, acharam algum ouro? + Continuem que vdo acabar chegando a Australia, ra-rd. 18 * Qual é a idade disso? Como vocé sabe? * Por que as pessoas viviam em buracos no chao? * Perdeu suas lentes de contato, hein? + Aquilo ali é um osso de dinossauro? * Quando vocés acabarem, que tal cavar meu jar- dim? * Hi Indiana, onde estéo o chapéu ¢ 0 chicote? * O que fazem quando chove? * Acho o Michael Wood 6timo, e vocé? Ja foi dito que n4o existe uma forma usual ou corre- ta de se cavar um sitio, mas um monte de formas erra- das. Essa 6 uma informagao valiosa para o blefador no comando de um prajeto desse tipo. Vocé pode desprezar quaisquer criticas a respeito de métodos por serem inaplicdveis 4s circunstancias particulares e Gnicas, pre- sentes no sitio. Na verdade, existem duas formas basicas de proce- der. 4 escavagio: Verticalmente (para ver as diferentes camadas), e Horizontalmente (para expor 4reas mais extensas de uma camada em particular). A maioria dos diretores mantém estratégias flexi- veis de forma a tirar vantagem de qualquer circunstancia especial que se apresente, ou para camuflar quaisquer erros que possam ser cometidos. E bom saber, portanto, que em vez de serem cuidadosamente planejadas desde o inicio, a maioria das escavagdes prossegue de forma estabanada, na base do cavar, errar ¢ tentar de novo. Entretanto, é aconselhavel obter o maximo possivel ‘de informagao a respeito do que existe embaixo da su- perficie antes de comegar a cavar. Isso ajuda a evitar 0 embarago de: a) descobrir que esté cavando no lugar errado b)n4o encontrar nada 19 c) descobrir mais do que estava preparado para des- cobrir. Portanto, toda uma variedade de equipamentos e¢ téc- nicas sofisticadas deverd ser utilizada, o que permite aos estudantes mais tecnicamente orientados produzir ma- pas vagos a respeito do que existe embaixo do solo. Esses glorificados detectores de metais incluem magne- t6metros, medidores de resisténcia especifica do solo e diversos outros modos de passar energia através do chio. Caso os recursos nao permitam isso, pode-se introduzir sondas no solo a intervalos freqiientes. Ha alguns anos, um. arquedlogo inglés acabou cavando pelo subsolo londrino por nao ter encontrado um sitio adequado. Em toda escavagao encontramos uma série de per- sonagens comuns. { O diretor de escavagéo é um tipo de general. Ele (na maior parte das vezes é um ele) planeja a estratégia ge- tal, mas deixa todo o trabalho pesado para a infantaria, tratando apenas com a papelada: suprimentos, contas, permissées, cartas de solicitagio e dai em diante. Os supervisores de sitio ou oficiais — normalmente estudantes graduados — atuam como ligagfo entre o general e a infantaria e geralmente exercem bastante influéncia. Ocasionalmente tém alguma nogiio do que esta sendo feito no sitio e por qué. Os cavadores ou infantaria — néo-graduados, con- denados locais ou cidadaos voluntérios — so bucha de canhio, normalmente cumprindo todo o trabalho cansa- tivo ¢ mantendo-se num estado de ignordncia feliz sobre © que esta sendo feito e por qué. Surpreendentemente, alguns até mesmo pagam dinheiro para serem tratados dessa forma. Sua tarefa bdsica € remover areia de um lugar para outro, ocasionalmente pencirando-a antes de amonto4-la. Os blefadores precisam saber que durante a maior parte do tempo ocorre pouquissima escavagio: a areia é revolvida com colheres de trolha e varrida para o canto, © que € muito lento mesmo. Na maior parte do mundo o 20 transporte da areia é feito com pas, baldes e carrinhos de mio. No Japao, entretanto, onde a mecanizacdo é prédi- ga, mesmo os sitios arqueolégicos menores tém sua areia removida com o auxilio de uma série de esteiras rolantes que conduzem a areia para 0 local em que sera empilhada. Outras tarefas excitantes incluem lavar as descober- tas (em sua maior parte, pedagos de pedra, osso ou va- sos), escrever pequenos niimeros nelas € desenha-las, empacoté-las, e catalog4-las. Antigamente toda essa in- formagio era coletada em cadernos de escavacao, junta- mente com mensuragGes exatas da localizagdo precisa da posigéo dos objetos no sitio. Nao importava tanto se aqueles cadernos eram precisos — noticias confortadoras para o cavador adepto do blefe — ja que ha poucas coisas que embotem mais a mente do que entender as anotagées de alguma outra pessoa, de forma que os li- vros normalmente jamais eram examinados de novo. Hoje em dia, nas escavagdes mais avangadas, essas informa- goes siio gravadas diretamente em computadores, 0 que néo apenas significa que as m4quinas processam todos os planos de sitio com muito mais facilidade ¢ rapidez que os estudantes, mas também que as informagées mais irrele- vantes e intiteis podem ser ignoradas ainda mais r4pido. O uso de computadores, claro, também confere 4 escavaciio a ilusfo de usar tecnologia de ponta — nao importa que sejam apenas to titeis e precisos quanto a informagio que lhes foi depositada em primeiro lugar, que por sua vez depende da qualidade e da vigilancia dos escavadores, assim como dos operadores de compu- tador. Matriciais de computador, mapas e diagramas fa- zem seu relatério parecer terrivelmente impressionante e profissional, ¢ possuem a vantagem extra de dificultar ao leitor o exame atento de sua evidéncia, Alguns diretores — provavelmente aqueles que ti- veram uma infancia merecidamente solitdéria — profbem que os cavadores falem no trabalho. Isso torna comple- tamente intolerdvel um trabalho que ja € chato por natu- reza. Por viverem dias de trabalho incessantemente te- diosos, nio € de admirar que a maioria dos cavadores 21 deseje secretamente fazer uma descoberta excitante, tal- vez um cadaver, ou mesmo algum tesouro valioso. En- tretanto, isso nao é desejavel, pois pode atrair multidées ao sitio ou provocar reclamagGes ¢ ameacas por parte dos moradores da localidade que nado queiram que seus ancestrais sejam perturbados, E é claro que sempre hé a possibilidade de maldicées. Cavadores precisam de joelhos fortes para suportar longas horas de trabalho ajoelhado sobre tabuas ou terra bruta: neste caso, pode ser ttil ser catélico ou japonés. Pode-se dividir os sitios em dois tipos: 1. Terreno molhado (cheio de mato timido) 2. Terreno seco (sem nenhum mato tmido). © complexo de superioridade dos arqueélogos de terreno timido deve-se ao privilégio de encontrar mate- tiais pereciveis que teriam se desintegrado em sitios de terreno seco, Em contrapartida, correm o riseo de con- trair bicho-do-pé. Os arquedlogos de terreno seco costumam se enxo- valhar muito menos, mas correm risco de contrair pneumoconiose (se o sitio for realmente seco). Trabalhar em qualquer tipo de sitio ajuda a pegar um bronzeado (menos na Inglaterra), desenvolver mis- culos e perder peso (menos na Franga). Muita gente acha que uma escavacao deve parecer uma temporada de 18 a 30 dias numa colénia de férias. Algumas até séo, mas na maioria costuma haver um sistema de patentes em operagio, com as cavadoras mais atraentes oferecendo assisténcia primeiro ao diretor, depois aos supervisores, e em Ultimo lugar aos camaradas cava- dores. Alguns diretores franceses sio famosos por atrai- tem “turmas” de americanas as suas escavacdes. Nunca admita a alguém de patente mais alta que esta é sua primeira escavagao, ou que vocé niio sabe o que esta fazendo. Além de ser tio potencialmente emba- Tagoso quanto admitir virgindade, uma confissdo dessa natureza fara com que lhe dirijam as tarefas humilhantes que as m4os mais experientes procuram evitar, como: 22 * cavar latrinas * fazer café ou ambos. Aconselha-se que seu equipamento e roupas aparen- tem bom uso, e vocé deverd assumir um ar de falsa autoconfianga ¢ negligéncia sobre todo o empreendi- mento, LeIs FUNDAMENTAIS Existem algumas leis fundamentais na escavagao arqueoldgica com as quais vocé deveria familiarizar-se: 1, A parte mais interessante do sitio estard sob sua pilha de despojos, ou pelo menos fora da area que escolheu cavar. 2. Vocé fard sua descoberta mais importante no tltimo dia, quando estar4 pressionado pelo tempo ¢ pelos fundos (isso é conhecido como a Lei de Howard Carter, que encontrou Tutanciémon imediatamente antes de ter as verbas cortadas por Lorde Carna- von). 3.Encontrar qualquer coisa valiosa dependera de aumentar sua escavaciio, e em qualquer caso nao sera o que vocé esperava. 4. Na diivida, abra uma fenda. 5. S6 falsifique registros quando for absolutamente necessirio: isso é para os blefadores mais cinicos, que confiam no conhecimento de que cada sitio € tinico, que a escavagdo o destréi, e que ninguém jamais poder4 refazer seu trabalho e provar que yocé estava errado. Coisas titeis para levar a uma escavagao: + Equipamento de camping + Roupas velhas, incluindo camisas estampadas ces a frase “Arqueélogos fazem aquilo em buracos”. * Uma colher de pedreiro pontuda (na Franga, pre- ferem chave de fenda, o que pode lhe dizer algu- 23 ma coisa a respeito dos franceses). Faga a colher parecer suficientemente velha e usada para fazé- lo passar por veterano. * Repelente de insetos * Seguro (caso uma trincheira desabe sobre vocé) * Camisinhas * Abridor de garrafas e saca-rolhas. LEVANTAMENTO TOPOGRAFICO A alternativa de escavagiio atualmente em voga é 0 levantamento topografico. Requer caminhadas sistem4- ticas por um sitio ou terreno, examind-lo meticulosa- mente & procura de tragos arqueoldgicos de todos os tipos — muros, estruturas, pedagos de pedra ou cerami- ca, etc., cuja localizacio é cuidadosamente mapeada, e seus padroes, estudados. Fas de levantamento orgulham- se muito de seu trabalho, estando conscientes de que os escavadores consideram levantamento uma relagio po- bre, e que a escavacao é 0 tinico meio de ter certeza de que ha vida abaixo da superficie, Na verdade, cada ati- vidade possui forgas diferentes: a escavacdo revela mui- to sobre uma drea pequena; o levantamento revela pouco sobre uma frea grande. O levantamento € Stimo para se blefar, porque na maioria das vezes os objetos nem mesmo sido coletados, tendo apenas sua presenga e localizagdo anotadas. Por- tanto, cada levantamento é Gnico e¢ nunca podera ser tepetido com exatidao. Em conseqiiéncia, ninguém pode checar seus dados, e a inica forma de desafiar-lhe as afirmagGes é escavando toda a 4rea na qual realizou o levantamento. Costuma-se considerar o levantamento topografico como um segundo em qualidade, praticado quando nao se possui permissio, verbas ou mao-de-obra para uma escavagao. Mas j4 se concluiu que o levantamento topo- grafico é mais répido ¢ muito menos custoso que a esca- vagao; € menos destrutivo, € praticamente nado requer 24 nenhum equipamento além de mapas, estudantes e cal- gados resistentes. Coisas tteis para levar num levantamento topografico: + Equipamento de camping * Roupas velhas, incluindo camiseta estampada com a frase “Arquedlogos fazem aquilo sistematica- mente em toda a paisagem”. = Chapéu de couro e, dependendo do clima, guar- da-chuva * Uma bissola * Pomada para picadas de insetos * Diciondrio de frases locais (werifique os verbetes “Cuidado com o touro”, “Cerca eletrificada”, “Cam- po minado”, etc. RESGATE Algumas pessoas s0 escavadores profission ey culados a grupos dirigidos por autoridades ee maior parte de seu trabalho consiste ¢m escavar rapida- mente sitios que se encontram, por diversos motivos, sob ameaga de destruigio. Essa atividade requer re nas estratégias globais: 0 material € desenterrado pelo bem dele, para preserva-lo para a posteridade. Seus legas académicos que afirmam executar ooree pesquisa sob planejamento costumam zombar = i de procedimento. Naturalmente, 0 blefador deve eleva a arqueologia de resgate as alturas quando encontrar um. pesquisador, e vice-versa. 25 Os ESPECIALISTAS Alguma coisa deve ser feita com toda a informagio reunida no campo, ¢ € nesse momento que uma grande quantidade de pessoas, muitas delas fora do proprio ramo arqueoldgico, sio chamadas para fazer seus trabalhos. ESPECIALISTAS EM FERRAMENTAS DE PEDRA Estes individuos sio responsiveis por dividir peda- gos de pedra trabalhada em categorias diferentes de acordo com sua forma ¢ estilo e tentar adivinhar para que eram usados. Nos tltimos tempos esta tarefa tem-se tornado mais facil devido a observagdo de residuos em suas pon- tas, através de microsc6pios poderosos — a detecgao de sangue humano em algumas ferramentas de pedra pré- histéricas sugere que alguns trabalhadores eram tao de- sajeitados quanto os atuais. Os blefadores devem evitar piadinhas sem graca em relagio a esses profissionais, como dizer que sua ali- mentac4o principal é sopa de pedra. Poucos especialistas sio mais tenazes que aqueles que dedicaram uma vida inteira a pedagos de pedra, mas a eles seguem de perto os: f ESPECIALISTAS EM CERAMICA ; Como diz o velho ditado inglés, é preciso ser um jarro rachado para amar um jarro rachado, mas, na ar- queologia, pedagos de cerfmica (ou “cacos”) sho quase tao numerosos e indestrutiveis quanto as ferramentas de pedra, sendo, portanto, uma tremenda sorte que algumas pessoas escolham dedicar-se a essa linha de trabalho Tentar reconstruir jarros despedagados é uma tarefa frus- trante ¢ delicada, como um quebra-cabegas tridimensio- nal, especialmente sé uma Ou varias pegas esto faltando ou nao se encaixam. Um dos requisitos essenciais para 26 essa atividade é possuir indole serena, pois € muito facil cometer erros. ZOOLOGOS Freqiientemente os arquedlogos dependem de Zz06- logos para identificar os restos de animais que exumam. A vida dos especialistas em ossos € mais facil que a de seus colegas botanicos (veja abaixo), pois os fragmentos de ossos s40 maiores, mais bem preservados e mais ime- diatamente identificéveis que os restos de plantas. Por conseguinte, um nimero cada vez maior de arquedlogos sente-se capaz de fazer esse trabalho, autodenominando- se “zooarquedlogos” ou “arquezodlogos”. O blefador, claro, preferira sempre a versao alternativa & que estiver sendo usada. Alguns se especializam ainda mais, em ossos de peixe, ou de pidssaros ou roedores, ou, ainda, em cascas de moluscos, Caracéis € um assunto particularmente facil de ser dominado. BoTANIcos Os arquedlogos dependem de botAnicos para identi- ficar quaisquer pedagos de vegetagao que possam ser desenterrados (madeira, sementes, carogos, grdos), nao importa quéo chamuscados ou saturados de umidade es- tejam. Os botanicos costumam extrair o material com uma sonda depois de retirar sedimentos do sitio através de uma m4quina de flotagéo ou de um filtro, Em segui- da, precisam examinar cuidadosamente esse material anti- go através de microscépios e fazer 0 possivel para tentar entendé-lo, As coisas ficam um pouquinho mais interessantes se a mistura vier de um est6mago. O Homem de Tollund, o cadaver preservado da Idade do Ferro do primeiro sécu- lo A.C., que foi descaberto num pintano dinamarqués com um lago em torno do pescogo, possuia uma quanti- dade de remanescentes vegetais no est6mago, indicando 27

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