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Um jornal pau-pra-toda-obra

2 abril 2003 teatro em debate

Volksfarra
com dinheiro público
Woizeck no Brasil
Em três novas versões
Novo colunista
Tersites de O coletivo na dramaturgia
Souza desce o Autores debatem o
sarrafo teatro como disputa
de pensamento
Chico de Assis
O que não fazer
ao escrever
para teatro
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Nossos endereços

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STE NÚMERO ƒ   –ƒ
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ÁGORA – CDT CENTRO PARA
DESENVOLVIMENTO TEATRAL
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PARLAPATÕES
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TEATRO MATERIALISTA ƒƒ† ƒ ƒ­ƒ  € ”
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TEATRO DA VERTIGEM
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Nos últimos anos se difundiu, entre os Ž  ‡ ’
FERNANDO BONASSI –    ˜€ ˆ 
grupos de teatro de São Paulo, um     ˆ   ˆ  
       €  
modo de escrita teatral baseado na       € ‚„ 
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colaboração próxima entre o     €   € 
       
dramaturgo e a equipe de encenação.     LUÍS ALBERTO DE ABREU – 
­€  €    ˆ  
Neste processo, o texto não precede ‚     €    š„Š
os ensaios, mas surge (ou é ƒ‚„  ƒ   ›
„    ‡€        
reinventado) a partir do trabalho dos    †   ‡  €ˆ
ˆ   ‰  ˆ   €ˆ 
atores e da pesquisa de palco. €        Ž 
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Aparentado com os métodos de  ‰ ‚„ ‹       ˆ„ 
‚„ €  €   
criação coletiva dos anos 70, mas  ˆ€       VALMIR DOS SANTOS –  €


           €   ˆ 


diverso quanto a objetivos estéticos e       “
VALMIR SANTOS – Œ‡  ABREU – ­ 
quanto ao trato literário da palavra,    ˆ     ‚  
ˆ Žˆ€Š    €    Š 
esse modo de escrita tem sido chamado ‘       œ€„ 
 ˆ   ˆ € ˆ     
de “processo colaborativo” ou      ’‰€  ž   
 €  €Š €    ˆ   
“dramaturgia em processo” por alguns ƒ     ˆŠ    ˆ„
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de seus praticantes. Cinco dramaturgos FERNANDO BONASSI – ’    
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ligados aos grupos que editam O     ‚„ˆ  HUGO POSSOLO – ‹€ 
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SARRAFO se reuniram para um debate  •  €       
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sobre a escrita teatral coletivizada:   ˆ  „   ‚„  „
     „   ‡  ˆ‡    
Fernando Bonassi, Hugo Possolo, Luís    Ž –         
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Alberto de Abreu, Reinaldo Maia e SÉRGIO DE CARVALHO –         
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Sérgio de Carvalho. O encontro foi ‰ˆ ˆ    ‚„  
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registrado e organizado por Aline €       Š ˆ  €  ˆ
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Meyer, e contou com a participação da  „ ˆ    „    ‚„ 
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atriz Míriam Rinaldi e com a mediação ˆ Š     BONASSI –    ‡
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do jornalista Valmir Santos.      €    €
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REINALDO MAIA – ˆ      €              
       €     š BONASSI – “ ­ €
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POSSOLO –      CARVALHO – ”                    
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MAIA – ‚    BONASSI – ’  ˆ        Šˆ          
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ABREU –            Ž             
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              Š €           ’    Valmir Santos (mediador)
    ◆

 ­      Coluna Anti-Social


  
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Primeira advertência – Sobre o


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aprendizado da técnica
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 ¢    
        
   
        CRÔNICA CURITIBANA   ƒ 
    
A FORMA DO DEDO       
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     CRÔNICA PAULISTA
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      UTILIDADE PÚBLICA
       
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Segunda advertência – Sobre ƒ       
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onde e como aprender     Œ   ƒŸ
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SALA DAS DELICADEZAS      
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     ˆ  Ainda em tempo
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          Quinta Advertência – Cuidado      ­     
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        ‰  com a moral vigente    •    ƒ
    CAMPANHA
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Terceira advertência – Lendo a               € €„ ƒ €
RECIPROCIDADE       
dramaturgia dos tempos      “  ­  ƒ
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Quarta advertência – Sobre o       ˆ        ƒ
      DECLARAÇÃO
que escrever   •      ƒ  ƒ 
      DINHEIRO
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   € SABEDORIA JESUÍTICA
      Sétima advertência – O segredo  ­  œ ’  ƒ  
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       do sucesso     
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Companhia Folias d’Ar te

    


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UTRO DIA  
     
     
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Teatro da Ver tigem

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...E APROVEITANDO  


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Parlapatões

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O VÔMITO    


       
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Fraternal Companhia de Ar te e Malas-Ar tes

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Companhia do Latão

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DIÁRIO DE UM VELHO ATOR   “”   €                     €   ƒ    
DESEMPREGADO   ­             ‚            ƒ €
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VERSÕES DE
Três novas versões de Woyzeck, de Georg Büchner (1813-1837) serão publicadas no
Brasil nos próximos meses. Sobre esta peça do Romantismo Alemão, Anatol Rosenfeld
escreveu: "Surge, talvez pela primeira vez, o herói negativo, que não apenas hesita
WOIZECK
para a encenação de Cibele Forjaz, com dramaturgia de Fernando Bonassi. A tradução
de Tércio Redondo surgiu num trabalho de doutoramento em Literatura Alemã na USP.
Sairá em livro pela editora Hedra, em edição bilingüe, com lançamento em maio no
(como Hamlet), mas que em vez de agir é coagido; o indivíduo desamparado, desenga- Memorial da América Latina. Já a peça Zé, de Fernando Marques é uma adaptação livre
nado pela história ou pelo mundo." A tradução de Christine Roherig será publicada pela em versos, feita a partir da tradução de João Marschner. Foi lida em final de março pelo
editora Cosac&Naify ainda no primeiro semestre de 2003. Foi ela que serviu de base grupo Folias D'Arte, e será publicada em maio pela editora Perspectiva.

TRADUÇÃO DE CHRISTINE RÖHRIG TRADUÇÃO DE TÉRCIO REDONDO ZÉ – ADAPTAÇÃO EM VERSO DE FERNANDO MARQUES
3. PRAÇA. BARRACAS. LUZES. III – BARRACAS. LUZES. POVO Cena 5 - A feira. Tendas. Luzes. Povo

HOMEM VELHO com criança que dança. HOMEM VELHO (com uma criança dançando, canta): (O Velho canta e a Criança dança - Meus senhores, meus senhores!
Canta: ao som do acordeom. A música é Reparai na criatura
No mundo tudo é passageiro. o Tema do Fim) como Deus do céu a fez:
Nesse mundo nada é seguro Toda a gente tem de morrer; é coisa muito pequena,
Todos morrem um dia Disso não se pode esquecer! Velho (cantando) é praticamente nada.
É esse o nosso futuro! - No mundo não há consistência Meus senhores, meus senhores,
WOYZECK. Eta, gente! Pobre homem, o velhinho! Po- Todos vamos morrer agora vede a cultura:
WOYZECK: Heia! Upa! Pobre homem, velho bre criança, o menininho! Ei, Marie, e se eu te carre- Sabemos muito bem anda sobre os próprios pés,
homem! Pobre criança! Criancinha! Upa Ma- gasse? A gente deve... para poder comer. Mundo lou- Vamos morrer usa calças e jaqueta
ria, quer que te carregue? Pra poder comer, co! Mundo belo! Sabemos bem e traz até uma espada!
um homem tem... Mundo idiota! Mundo belo! O macaco é militar;
APRESENTADOR numa barraca: Meus se- SALTIMBANCO (numa barraca). Meus senhores, mi- No fundo não há consciência ainda não é grande coisa,
nhores e minhas senhoras, aqui irão se apre- nhas senhoras, aqui se vêem o cavalo astronômico e o Logo vamos passar mais baixo degrau da espécie.
sentar o cavalo astronômico e o pequeno ca- pequenino canalho , mui estimados de todos os poten- Fazemos muito bem Macaco, faça uma vênia!
nalhinho, prediletos de todas as academias tados da Europa e membros de todas as academias Vamos passar Isso, agora mande um beijo.
da Europa e membros de todas as socieda- de ciência. Tudo adivinham: a longevidade, quantos fi- Fazemos bem (O macaco toca trombeta)
des intelectuais; prevêem tudo das pessoas: lhos, as doenças; atiram com a pistola, equilibram-se Vede, ele sabe tocar!
idade, quantos filhos, tipo de doenças... Com com uma só perna. Tudo educação! Eles têm uma ra- Zé Sim, ele aos poucos melhora.
um tiro, fica numa perna só! Tudo educação, zão animal, ou melhor, uma animalidade racional; não - Ei, olhe! Pobre homem, pobre ve- Aqui, nesta mesma praça,
tem uma lógica animal, ou melhor, uma ani- são imbecis como muitas pessoas, excetuando-se, é lho. vereis cavalos do Quênia
malidade bem lógica! Não se trata dum indi- claro, o distinto público aqui presente. Entrai. Principia- Pobre criança, lhe serve de espe- e passarinhos do Tejo,
víduo quadrúpede como muita gente é, des- se a representação, o começo do começo terá imedia- lho. favoritos das cabeças
contando o honorável público. Entrem! Será tamente o seu início. Meus senhores, meus senhores! Preocupações e festas! coroadas da Europa.
a representação, o acontecimento dos acon- Vede a criatura, como Deus a fez: sem nada, nada Revelam tudo aos mortais:
tecimentos e logo terá início. Meus senhores! mesmo. Vede agora o que faz o engenho humano: a Maria idade, filhos, doenças.
Meus senhores! Vejam a criatura como Deus criatura anda ereta, usa calças e casaca, e porta uma - Se os loucos Vinde, que vai começar!
a fez: nada, coisa alguma. Agora vejam a arte: espada! Vede o progresso da civilização. Tudo progri- têm razão, nós é que somos malu-
de pé sobre duas patas, veste casaco e cal- de. - Ei, cavalo! Ei, macaco! Ei, canalho! O macaco já é cos! Zé
ça e tem espada! um soldado - o que não quer dizer muita coisa - o de- Que belas figuras, nem acredito. - Você gosta da conversa?
Vejam os progressos da civilização. Tudo pro- grau mais baixo do gênero humano! Comecemos a re- Ah, mundo engraçado, mundo bo-
gride, um cavalo, um macaco, um canalhi- presentação! Que se comece pelo começo. nito! Maria
nho. O macaco já é soldado, ainda não é mui- WOYZECK. O que você acha? - Por mim... Usam belas roupas.
ta coisa, degrau mais baixo dos seres huma- MARIE. Vamos? Deve ser bem divertido. As franjas (Os dois seguem até onde está o As dele são federais
nos! Comece a apresentação! O princípio do dele, e a mulher, ela usa calças! Charlatão de Feira) e as calças dela, imensas!
princípio. Charlatão (diante de uma tenda, Parece espetacular.
Hoje, incorporado ao cânone literário, Woyzeck ainda com sua mulher vestindo calças e
WOYZECK: Quer ver? provoca espanto e inquietação. Escrito em 1836, por um
um macaco fantasiado) (Os dois entram na tenda)
MARIE: Por mim. Deve ser bonito.Uma gente jovem de 23 anos, o texto seria ignorado por seus con-
temporâneos, para ser cultuado, no final do século, pelos
esquisita... mulheres de calça...
naturalistas. Sua novidade residia na combinação de ele- O texto de base foi a tradução da peça de Georg Büchner, feita por João
mentos inteiramente novos que revolucionavam a forma Marschner e publicada pela Ediouro (Woyzeck e Leonce e Lena. Rio de Janeiro:
Os originais de Woyzeck compostos de cin- dramática. Ediouro, s/d).
co folhas manuscritas, encontrados em forma de Ao contrário do drama clássico, baseado em simetrias Três das quatro canções já haviam sido utilizadas na montagem de Woyzeck
fragmentos, foram publicados pela primeira vez e equivalências no diálogo, e na manutenção das unida- dirigida por Tullio Guimarães, em Brasília, em 1996 (montagem da qual participei
trinta e oito anos após a morte de Büchner, em des de tempo, lugar e ação, Woyzeck compõe-se de uma como compositor e cantor), tendo sido reaproveitadas aqui.
1875, com o título equivocado de “Wozzeck”. sucessão de cenas curtas, alheias a uma clara seqüência Para a revisão do texto, vali-me de Georg Büchner e a Modernidade, livro de
Se por um lado trabalhar com fragmentos temporal, com personagens que integram um mundo frag- Irene Aron (São Paulo: Annablume, 1993). Além de estudar em detalhe A Morte de
pode gerar equívocos, polêmicas e inúmeras mentário, destituído de uma ordem superior que lhe confira Danton e Woyzeck, a autora traduz vários trechos das peças diretamente do ale-
versões “derradeira e definitivas” por outro, gera sentido e organização. No lugar do duelo verbal, protagoni- mão, o que me possibilitou cotejar suas soluções para Woyzeck com as de João
possibilidades incontáveis e permite uma apro- zado por personagens de elevada estatura social, ele traz Marschner. Há dúvidas quanto à exata ordem das cenas, segundo a disposição
ximação ao atual, ao hoje, ao agora. ao primeiro plano a figura do proletário, que fala o dialeto que Büchner teria dado a elas - o autor deixou quatro manuscritos inacabados do
São tantos os caminhos, que podemos pen- das classes populares. Além disso, a afeição que Büchner texto, de acordo com Fernando Peixoto, autor de Georg Büchner - A Dramaturgia
sar até que o material encontrado pode não ter nutria pelo povo, sua familiaridade com seus usos e costu- do Terror (São Paulo: Brasiliense, 1983). Segui a ordem adotada por Marschner,
sido um material inacabado do qual Büchner mes, renderam a Woyzeck a incorporação de diversas can- que difere bastante da apresentada por Irene Aron com base nas obras comple-
ainda pretendia fazer um todo. Pode ser que ele ções e estórias, que comentam a ação, antecipando o tea- tas de Büchner, editadas por Werner R. Lehmann (Hamburgo: Christian Wegner
tenha escrito intencionalmente diversas seqüên- tro épico de Bertolt Brecht. Verlag, vol. I, 1967, vol. II, 1971). Existem várias edições da peça (a primeira delas
cias de uma mesma história que ao se desenro- Nos anos que se seguiram à sua publicação, Woyze- é de 1879), o que também pode explicar as diferentes versões. Depois de termi-
larem se tornam independentes. Como disse o ck seria descoberto por Gerhart Hauptmann e Frank We- nada a primeira redação do trabalho, tive acesso a uma segunda tradução inte-
dramaturgo alemão Heiner Müller: “Uma drama- dekind, tornando-se desde então peça-chave para a lite- gral de Woyzeck, feita por Mário da Silva, em cópia xerográfica cedida pelo ensa-
turgia que não se pretende objetiva, mas sim ratura e o teatro modernos. Arthur Schnitzler e Hugo von ísta e professor Eudinyr Fraga. De novo, há diferenças na ordem das cenas e em
calcada na extrema subjetividade e no inaca- Hofmannsthal, passando por Rilke e Brecht, até Thornton detalhes do texto com relação ao trabalho de Marschner. A peça foi rebatizada
bado, que não pretende contar uma história de Wilder e Heiner Müller, todos pagam tributo ao fragmento como Lua de Sangue, tendo sido encenada por Ziembinski em 1948, no Rio de
maneira linear mas incluir na narrativa o fator que antecipou a obra dos naturalistas e da modernidade Janeiro (quando se dá a estréia do texto no Brasil, com Maria Della Costa no
modificador do pensamento, em que o interes- no século XX. A ópera Wozzeck, de Alban Berg, o filme de papel de Maria e o próprio diretor no papel de Woyzeck). Mais recentemente,
se subjetivo surge com ela e se transforma em Werner Herzog, com Klaus Kinski, no papel principal, e pude ler a tradução de Christine Röhrig, inédita em livro. Para a última redação,
parte integrante da história. Uma dramaturgia montagens criativas para o palco, como a de Friedrich Dür- consultei as três traduções integrais do texto. Reitero, afinal, não se tratar aqui de
em que as contradições não são descritivas mas renmatt, atestam as inúmeras possibilidades de leitura e tradução em verso, mas de adaptação em verso, feita com alguma liberdade a
ativas, motoras e pulsantes”. de desenvolvimento da peça inacabada de Büchner, que partir da peça publicada pela Ediouro.
se tornou o drama mais encenado do repertório teatral ale-
mão em todo o mundo.

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