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TUNA aA eee nen ROBERTO LOBATO CORREA YANA MARIA PINTAUDI A CIDADE ‘CONTEMPORANEA SEGREGACAO. ESIC SEGREGACAO SOCIOESPACIAL E CENTRALIDADE URBANA Maria Encernagio Beliio Spsito A opso por um texto que trata da relagio entre segregagioe centralidade urbana abre muitas possbilidades de anilise.' Fago, assim, recortes,coloco foco em alguns [Pontos ¢ passo mais rapidamente por outros. Em grande parte, minhas escolhas no trazem prejuizo maior para a andlise, porque, neste mesmo livr, os liroresencon- tam outros textos em que as mesmas dimensées € outras do processo de segregicio ‘io analisadas, tanto de pontos de vista semelhantes, como a partir de visbes que sio diferentes. O par analitico que esti explictado no tiulo do capitulo, foco deste texto, levarme, a0 final, a tentar oferecer alguns pontos para mostrar como o processo de segregagio socioespacial se amplia€ se ransmuta no de fragmentagio socioespacial. este ponto de vista, nio apresento uma sintese sobre o caminho que percorti para desenvolver o tema, mas abro portas para algumas possibilidades analiticas sobre «ses dois procesos. O CONCEITO DE SEGREGAGAO: LIMITES E POSSIBILIDADES Partindo da ideia de que um termo s6 ganha o estacuco de conceito se compreen- ddido no Ambito de uma teorla, jé nos deparamos com 0 primeiro desafio em relagio ‘compreensio de conceito de segregagio. Ele tem sua origem com Park (1967(1915)) ¢ se desenvolve na“Escola de Chicago”, com as contribuig6es de Burgess (1974{1925)) € McKenzie (205{1926]). Décadas depots, fot apropriado e repensado por outras perspectivas tedricas, entre elas a reconhecida como “Escola da Sociologia Urbana Francesa"? cuja leitura critica teve grande importincia nos anos 1960 ¢ 1970,” : ie | ‘A CIDADE CONTEMPORANEA FS aspect jf denoss, claamente, que os concetos podem muda emudam de Sean <2 0 tempo. Neste caso, as alerages foram signilicativas tendo em vga Fa uoaues bastante diferentes que ditinguem estas duas cortences de pensamene, Esta uma explicacio para o uso difuso que o ermo segregasio tem, explicitande Tab sPenas sss fereneas substan, mas, muitas ves certo dscuidodosautne, de saaak ffete ao desconhecimento sobre (ou nto explictagio de) qual concepeag de segregagio utilizam, fo fosse ese jum pontosuficientemente complexo, hd uma segunda questi NE CmewBi entre ns, a parts do texto de Vasconcelos (2004), em que ee, de forma Subwtanciada, mostra a oiges do concrto eaprsenaargumentos cnttirios 3 nag aplibilidadea realidade brasileira, O debae lvanta ua dvida: os conceitos poder, secs antetidos diferentes, segundo formagSessocioespaciais!distintas econtextos diver. {08 Tabb com.hipétse de que épossvel ear das epeificidads da segepagy, Budo os componentes de cada realidade sciespacal, Desenvolvo, assim, sigh, ideias em ditsio diferente daqucla adorada por Vasconcelos (2004), ainds que nio ‘alalment, visto que me apoio num pressupostobisco:o econhecimente de dic Fass entte diferentes formagées socioespaciais, de um lado, de que os conteidey dle um conccito mudam com o tempo, do outro, nio podem acarear negagéo dos ibs que fundamentaram, na origem,aproposigéo dele. Assim, adiresio quetomo iio «Glametalmente oposta& deste autor, ji que ndo implica adogéo do conecieo eng Ialsquer citcunstincias ou segundo a visio que cada autor quiser dara ele Os conesitos, romando a perspectva que excolho, podem e devem ser aualcg dos atingindo mesmo asituagéo de uma reconcetualizato, desde que as ‘mudangas iio resultem em negagdo ou descontinuidade profunda em relagao a apreenado de aera saattmiets que o fundamentaram, no plano teérico, Em outtaspalavias, aplicar © conceito de segregacio implica, neessariamente, reconheess processos Stenfeatlvose profundos de segmentaso socoespcial, ainda que ossa haver di- Yerpéncas na explicagfo deles ou na forga dada a uma dimensdo ou eutra olitica, nica, religiosa,sociocconémica etc.) deste processo, Feitos esses preimbulos, para dar inicio ao desenvolvimento do enfoque que adoto, parte dele apoiado em outros autores, parte como minhe formulacio, autosicgregaci implica pelo menos dois pon tos de vista possiveis: os que segregam ¢ os que sio segregados, os que estéo na drea segregada c aqueles fora dela. Assim, considero a intensaarticulagio ent segregacio ‘© autossepregacio, visto que, embora sejam movimentos que tém agentes diferentes € razées diversas, gam dindmicas e representagbes sociais dos espagos, bem como Draticas espaciais que se aproximam. Aocnfocr os agentes responses pla prodsio do xpago urban, em grande parte responsiveis pelassituagées socioespaciais que geram a segregacio € a autosse- £Fega¢io, refiro-meaos proprietiios de tras, ncorporadores, cortetores de imeveis, poder ptblico etc. Os individuos ou grupos que se articulam para a implantagio de ‘espagos tesidenciais fechados tm poder ccondmico € poltico de diferentes matizes e aleances. Na esfera do poder puilico, € 0 nivel municipal que tem maior peso, ‘mesmo éepois do Estaruro da Cidade, sobrecudo porque até agora, no que concerne implartagio desses espagos, no houve a aprovacio, no Congresso Nacional, da rnavalle cam os principios que caracterizem e legalizem taisdreas reside i 6 legislaivo municipal tem aprovado leis que “regularizam” essas iniciativas efou 0 ‘xecutivo municipal tem propiciado condigées favoriveis a esses novos assentamentos urbanos, tanto na aprovacio dos projetos, como no que concerne a benfeitorias nos setores dis cidades em que se insalam." No Ambito da iniciativa privada, temos desde pequenos incorporadores, que oteiam éteas de 10 mil metros quadrados, até capitais que operam em larga escala, ‘como AlphaVille Urbanismo” e Damha Urbanizadora.” No que concerne & produ- 40 imotiliéia propriamente dita, é de se destacar que a segunda maior consteutora do munco ~ a mexicana Homex ~ esti edificando “condominios residencias” com iméveis pequenos, aproveitando-se do financiamento do Programa Minha Cast Minha Vide, em cinco cidades brasileira: Fox do Iguacu (03), Campo Grande (ss), “Maria (6), Sao José dos Campos (st) e Marabé (ta). A caracteritca comum a todas esas inicitivas de parcelamento ¢ edifeaggo terem sido implantadas em descontinuo 20 tecido urbano consolidado e estarem, pelo menos na fase de ocupaso, muito distances dos centro prnciai, bem coma de outrosequipamentos piblicos e privados. Em quilé metros, as distincias entre ese5 |70) SEGREGACAO SOCIOESPACIAL E CENTRALIDADE URBANA espagos residencias fechados eas reas centraise pericentrais das metrépoles ou cidades em que se localizam sio muito diferentes entre si, quando comparamos AlphaVille Barueri,* na drea metropolitana de Sio Paulo, com o grande conjunto residencial que esti sendo construido pela Homex, em Maria, para tomar dois exemplos. No centanto, estas diferergas néo sio apenas em km, visto que, no primeiro £5, tereito aspecto, 20 qual volt, poi 4 discingéo entre multicentralidade e poi Gextaaupane] ‘comercial ede servgos nas cidades, influenciando a perdarelativa do peso e da im- Pe tc nr etm chin oer fo trateem outros textos, do atinente salidade, Teno usado o termo[MUITE (744 SEGREGACAO SOCIOESPACIAL E CEN axé entéo. Assim, 0 aparecimento de subcentrose d Ben 3s de cixos comercaise de servigos peas tradicional; aimplancagéo de galeria comerciss,rea- rando ocentro ou fora dele; ou mes Se, cement so formas de muliplicagio dos stores Es cies concentra aciader petoa ome iplicago d a possbiliando se reconhecer seas centrais” (no plural, em fungio do ntimero delas), ainda que o centro principal ae te Said sas ep ocnjn da cidade Et tendéncia conforma a multicentralidade. O prefixo multi, de origem latina, é tomado no sentido de muitos. E is de otigem latina, éromadi Reserv a expresso oLicENTRALiDAD# para tratar de dinimicas mas recente- mente observadas, que se combinam com as sinteticamente descritas no parégrafo anterior, contendo-as, mas superando a légiea que orienta sua formagso.Sio atnen- {esa0 aparccimento de grandes superficies comercias e de servis, que edefinem, demodo p:ofundo, a estrutura espacial que vinha se estabelecendo no decorrer do tempo. Nao sio todas as dreas centrais descrtas na nota 41, mas, especialmente, hhjpermercidos modernos de grandes grupos do seéor, shopping centers, centros especializados de grande porte (de negécios, de setvigos médico-hospitalares, de _, feiras, de festas etc.) ies se distinguem dos anteriores por tts raz6es. Em primeiro lugar, porque ‘exercem atacio sobre todo 0 conjunto da cidade (0 que um subcentro ou uma ga- Jeria nfo o exercem, por exemplo), bem como, muitasveze, polaizam moradores de outrascidades que estao préximas iquela em que se instalam. Conformam, deste ‘modo, uma centralidade que no € hierarquicamente inferior & do centro principal fem termos de oferta diversidade ou grau de especalizgso dos bens ¢ servigos que ferecem, mas, sim, que compere com 0 centro principal, num esforgo de oferecer lum mix muito diversificado de bens e servicos (€ 0 caso dos shopping centers) ou muito specializato¢ sofisticado (como podemos notar com os centros empresarias ou de negécios, por exemplo). Em segundo lugar, nfo resultam da somat iciatvas de comerciantes, prestadore de servigs, pequenos empreendedores ¢ proprictis de iméves ou ferrenos qe, no decorrer do tempo, fizetam nova esolhaslcacionas ¢concibut ‘ram para a recomposigo da centralidade urbana, de modo paulatino e gradual, pois Geotida em interregnos de dezena(s) de anos. Ao contritio, so grandes superficies rrciaise de servicos plancjadss, constuidas e ocupadas, em conjunto, num val temporal relatvamente curto (alguns poucos anos pars constusio, bay a inauguragfo para comecarem a funciona odas no mesmo da), Tem, como 3, ampliarde modo profundo a centalidade que wm ponto ou ie eres Mdarlc rn eacala bem menor, ou, em grande parte dos casos, 2 escolha de érca rego baixo no mercado, para muliplici-lo, em fungio da centralidade que ele 2 partir do momento em que 0 empresndimento se Inalgura Trata-se de (751 ‘A CIDADE CONTEMPORANEA processo de produgio do espago urbano que no resulta da histria de uma a no deconer da média ou longs duragio, masque redefine como resulta deat deliberadas, planejadase intencionais, pensadas por um pequeno grupo de in nelas, Provocam mudangas profundas num interregno de tempo curto, recom, histria da estruturagio espacial de uma cidade, a parr de ao de grande impaen Po: iltimo, roco no ponto que mais intresa ao debate que fazemosneelgn Esse empreendimentos geram segmentagio¢ sletvidade socioespacis gyn casos chegandlo a ser uma das condicionantes de processos de segregacio socioe Porque eforsam ou radieaizam as lgicas de separacéo social do uso residency espago urbano. Elessio produzidos para atender certoseStatos socials confi, determinado padrio de consumo, geram priticas espacials novas}Por iso, coms resultado nao concolado(masimpossivel de ser evtad), ranto quantdeomacondn alteram 9 conteido social, econémico,poticoe cultural do centro tradicional. Geran « deslocamento de consumidores qu, antes, fiequentavam esse stor da cidade, par novos espagos mais modernos, mais bem equipados, com reas de es com prestigio ¢ distingio social, garantindo-thes certo grau de homogentidade np ‘xpasosde consumo, que é de matriz, sobrecudo, socioeconémica, no caso by Essas dindmicas combinadas entre si~a emergéncia do novo (mais no sendidods novidack) ea redefinigi do tradicional (mais no sentido da perda de papéisededinin do valor simbélico) ~ vio além da multiplicagio de dreas comerciais ¢ de que também ocorre, promovendo mulkicentralidade. Estamos diante da das dteas centrais,no sentido das diferencas de padrao de consumo, de org Poem, (onnite mais por transporte individual que coletivo) que se extabeleesi Fepresentam, por sua propria nacurera,dindmicas de segmentacio socio dos diferentes partilharem os mesmo espacos de consumo. Neste se ‘a preferéncia pela ideia de roticenTRatipA0s, tendo em vista o prefixo gteg ‘que significa muitos, mas no sentido de diversos ou diferentes entre st Em mais de um texto (Sposito, 1999, 2001) fiz referéncia 20 f ideia de compreender as mudangas nas estrucuras espaciais urbanas coma expresso “multi(poli)centralidade urbana” & tomada da anélise muito mais ampl [porque no se refere apenas &s estruturas espaciais) que Lefebvre Ll policentalidad,& oniscen tendéncia que sor que anilogos, eventualmence complementars), seja no sentido dda segregaso. (19831970}:125.6; destaques do au do aucor;tradugao A telasio que 0 autor estabelece entre policentralidade, ‘oferece slementos para a préxima sesio, (76) CENTROS, CENTRALIDADES £ SEGREGAGAO SOCIOESPACIAL Acidade monocéntrica ea que, historicamente, sucedew-lhe, a multicéntrica, to semelhantes entre si em dois planos principais, Ambas tin! articul : { : i as cm torno de um centro (chamado de histérico, tradicional ‘ou principal), ainda que a segunda con| ccimento de subeentros € de 8¢ 0 ap, otras reas comerciais e de servicos, ‘Tal surgiment i al surgimento nao implicava, como pro: ccurel mostrar, a ruptura da légica anterior de estruturagio dos espagos urbanos, menos importantes que a primeira a desempenhar papéis cent m disso, geravam ¢ geram fluxos de nor densidad, em termos do nsimero de pessoas ce capacidade de cons Um segundo plano de aca-se, na medida em que ambas resultavam e rest ‘no decorrer do niciativas que decidira izagbes que confor tempo, por maltiplas loc io dela, a centralidade. Assim, qua ccem Pa do a Macy’s em Nova York, ou 4 0 Mappin e a Sears em Sio Paulo fizeram estucos cmque havia mais ranseuntes que, potencialmente, seriam seus consumidores. les P lidade por ela exercida, onde estivesse, Refor- Gavam, com suas escolhas, outras tantas de menor ou mesma importincia que foram feitas no decorrer de um longo tempo: a esta ferrovidria, o mercado principal, a catedral, 0 teatro, a sede do poder legislativo, as lojas n ‘As vis de comunicagio (desde os rios, passando pelos rlhos de bond e chegando As grandes avenidas ¢ viadutos), bem como os sistemas de transportes, qua clas se associam, orientaram a redefinigio da morfologia das Areas centrais. Igdalmente, influenciaram sua expressio e representagio em termos de centraidace, com todos 6s seus atributos, dos mais Funcionais aos mais simbdlicos, mas isso tudo ocortew de ‘modo gradu, come j fri O que se tem com a policent ‘acionais nfo sio orientadas pela cidace que jf existe, negada, ao contririo, seja considerada, uma vez queas infraestrutuas os sistemas qu fgarantem mobilidade sio parte das condigdes para as novas opgdes de implantagio. ‘Asim, se anteriormente os fatores de localizagio eram préprios do setor comercial © gos (mais gente circulanclo, acesibilidade ala, prestigio social historicamen- te eonstruido ete,), «gora eles so muito mais atinentes ao imobilidrio (teas com pregos baixos que serio substancialmente elevados, porencial de agregagio de outros ‘valores ao prego do metro quadrado etc.), Para sintetizar, procurando simplifies que é mais complexo, posso considerar que: AS NOVAS ESCOLIAS, es REALIZADAS ower Se ti cod eae ob 00004 is elegantes, as menos etc ude 6, justamente, o contritio: as escolhas lo- embora ela nao seja totalmente {7 A CIDADE CONTEMPORANEA ELAS GRANDES INCORPORAGOES RESPONSAVEI PELA IMPLANTAGAO DAS NOVAS ‘COMERCIAIS EE SERVICOS, NAO PROCURAM A CIDADE. MAS ESPERAM E REALIZAM AGES ga, (QUE ACIDADE EOS CITADINOS AS PROCUREM- : ; Para queessa nova Logica possa se realizar nao sio suficientes, nem interesa, equenos e vitios lotes bem localizados, mas, sim, a existéncia de éreas maiores continuas que possam abrigar muitos estabelecimentos, compondo um mix gue atenda determinado perfil de consumo, associado a dada forma de mebilidade — agus a segmentagio socioespacial impe-se sobre a diversidade funcional, embora poss, conté-lae dela se apropriar. Com o objetivo de que essas condigdes se retinam numa dada érea, 0 mais frequente tem sido, no caso brasileiro, as novas escolhas locacionais levarem a cidade para ‘fora’, acompanhando a tendéncia dos novos empreendimentos imobilidrios para fins residenciais. L a 7 este modo, estamos asistindo & superagao da logica “dentro => periferia’ que durante todo o século x%, orientou o crescimento do tecido urbano & a divisao exe. némica e social do espaco da cidade, Essa superacio é sempre relativa tanto porque, ‘cidade do passado permanece c, sobre ela, as novasag6es sc estabelecem, como porque ‘8s novas agdes se combinam com ouras que reafitmam a estrutura esgacal pretéia, resultado ¢ uma redefinicéo do processo de estruturacao da cidade justficando a adosio do termo reestruturagao, porque ha reorientagio Yas escolhas locacionsis, porque ha diversificagdo delasc, sobrecudo, porque o processo em curso é muito mals compleso do que aqucle que vigorou até o terceiro quartel do sécule x5: Quais as implicagbes do processo de reestruturacao sobre o de segregacéo? Sto ailiplas as codeterminasGes entre cles A dsperséo do tecido urbano, pela combi eo. ie ras sasies para todos os padres com novas superficies comerciai, ‘nos anéis em que antes predominava a “periferia” dos mais pobres, amplia as que todos tém de percorrer nas cidades. Agora mais espraiada, mais dispersa densa, a cidade multi(poli)céntrica se evade: Darante séculos a cidade eve 0 monopdlio da infraestrutura, ‘acio © & organizacio urbana. Hoje a infraestrarura percore tt faciitando um processo de colonizasio urbana onde oedificadose. ‘mente com a estrada. Ao contririo da cidade, oteritrio urbano é uma nebulosa, una mancha extensvae diversa que tudo mistura e diversidade formal e funcional. (Domingues, 2009: 17) Este tersitério urbano a que se refere o autor oferece uma: condicio es limitada, no caso brasileiro, para os que se movimentam por meio de wa ‘vos, plo tempo maior necessiio aos deslocamentos. Esse fato €refo esto mais restritos aos itinerérios estabelecidos por outrem e nem a minimizar o afastamento espacial a que se submeteram e se sub dos estratos de menor poder de compra. Estio, um pouco mais, 178] SROREGAGAO SOGIORSPAGInU in GENTRALIDADE UnBAN, por dnibus, de trem metropolitano ede no exclusivamence, de organizacéo do sistema de transportes em suburbano. Sio muito mais, ainda que citadinos da cidade monocénwicae multicénttica, Desse ponto de vista, apartam-se ou tém muito mais dif cidade policéntrica Os que se locomovem por transporte individual, ao contritio, oportunidades de fazer escolhas, lculdades para viver e se movimentar na de onsumi ox epg de consumi 8 espags jorar onde suas condigées socioecondmicas puderem aleangar. Podem ir aos eventos culturais nas éreas centrais, tanto quanto escolher 0 shopping center que les aprowver.Selecioar osbaresda moda, do our lado da cidade, ou oprar pelos pequenos restaurantes do baitro. Levar seus filhos 3s escolas com as 4quas se identificam e, em alguns casos, que lhes convier, bem como de m fazer o mesmo para realizar um tratamento ‘estético de pele ou os exames médicos de rotina. Estes sio os citadinos da cidade multi(poli)céntrica, mesmo que também e, de seus pedacinhos, pois, no caso brasileiro, 0 “imaginirio das cidades inseguras (Magrini, 2013), de um lado, otifego cada vex mais congestionado, de outto, tém arrefecido a mobilidade dos que tém mais recursos. Quando caracterizamos a cidade segundo esses dois grupos, estamos simplificando bastante © que é extremamente complexo. Ressalto, neste parigrafo, paradoxalmente,sejam eles “prisioneiros” lum conjunto de razdes objetivas que ajudam a ‘explicar a maior mobilidade daqueles que tém mais recursos ea menor entre os que dependem do transporte coletivo, las ndo sio suficientes, porque outros elementos contam, alguns de ordem subjetiva e poderiamos ‘rer alusio a vérias stuagdes em ue citadinos “pobres” tém mais autonomia e libsrdade em seus trajetos, em suas escolhas, em suas formas de apropriagio do expago urbano, do que alguns citalinus “ricos”. E preciso, enti, relativizar a caracterizagéo apresentada, mas nio deixar de consideri-la como tendencia e prevaléncia, Todas essa dinimicas destacadas levam a possblidades (e elas se realizam) de ue os processos de segregacio se aprofundem, ampliem-se em nimero ese diversifi- quem, em qualidade e perfil segundo miltiplas combinagées que podem se efetvar. processo de segregaao & mais intenso ¢ mais complexo, a meu ver, pela relagio entre esse espago multi(poi)céntrico e as formas de circulagio urbanas. Este nso & © tinico movimento, porque se combina com mui:os outros: as condicées politicas, os interesses culturais, as possibilidades socioecondmicas, as representagées sociais ancoradas em velhas discriminagoes e as novas apoiadas em fatos pela midia, como a propria associacio entre cidad: ¢ violencia (no que cidade se trata). ‘Aampliagio do uso do transporte individual em todos os estratos sociais, como 4 evolucao crescente da venda de vefculos automotivos mostra, nos iltimos anos, & faor primordial de segregacio. © automével,” ce mesmo segtega, porque separa om vidros fumés ¢ com seus sistemas de seguranca ou de blindagem; porque passa 179) NTEMFORANEA sfique apropriagio dees; porque propicia um, sso Sigs de transporte cOlctvO néo oferecem, as, avorecendo mais velocidade ind orpos nio estejam to gg. 2 opaospablns em qciso iii Brenda pla roca sii rece Tsp en omni en a fio ocsenca fran que tao anspor automo indi ofc ida de cea par evs morris ea donot dex erdrios que efetuam, propciando a segmentagios ves ee trea ean acreceao novo ingediente a0 debaca a Ta temo acento os ingens 6 debts Des Toc nner Ei conecid o cone pela Escala d Jo espaco, como, incslmente, que seus usuarios nao t [As separagées socioespacias se aprofundam, gerando segmentagées mufto mais é incluem todas as esferas da vida u segmentagies de outras ordens que a mos (edevemas) trabalhar na diresfo da adogio muito mais adeq oe 6 que inclui a segregacio, mas vai além No decorrer deste capitulo, procure ofercer alguns elementos p ‘que a segregagio, adjetivada como socioespacial, em matrizes di das dinimicas de produsio do espago urbano, dos valores que a orient 62s espaciais que a revelam e aredefinem, bem como das representa Sobre elas elaboram. Tal diversidade estéancorada tanto nas diferenea socioespacalo que a distinguc entre cidades de paises e regioes diferent autossegregagio, ste multe Lisboa, cespaco. Assim, 7 partirds qual se erunciou 0 tat tanto da sgregaciosocioesp ‘20 uso residencial do solo. Do ponto de vista da abrangéncia, a fragmentagio s porque abarcao conjunto da cidade es6 pode ser apreendida pelo conju relagbes, as realizadas as no realizadas. Do ponto de vista da prof segregagio <> autossegregagio € mais radical, porque associa-se @ « imateriats de separagio, contendo em muitos casos o direito & int vis, que muros ¢ sistemas de seguranca tornam evidentes ¢ que cont nnaturezasefeivam, ainda que de modo mais subliminar. Tais processo: implicam redefinigio da centealidade, tanto ‘As distancias entre um ponto ¢ outro, numa cidade progressivament dificultam a acessibilidade de todos os cit é cesta uma das raz6es, mas nio a inica, de reafirmacio das distancias tuigdo da centralidade depende, sobremaneira, do ir e vir, do. [84] GAGAO SOCIOESFACIAL E CENTAALIDADE URBANA osiblidade ¢ realizagio, bem como do acontecer efetivo ou simbélico do que é Tatra, A medida ques reas de consume ee Tene para todos ¢ que o tempo de deslocamento até clas também érazio de diferenciagio, fica mais dificil se elaborar uma representagio de centrilidade (e, portanto, de cidade) que sejaa base da construsio de identidades ou de uma meméria urbana, nos termos destacados por Abreu (1998). Estamos, deste modo, diante de um duplo movimento que fundamenta a fragmentacio socioespacial, pois cle exige oentrecruramento das dimensées espacial «temporal para ser compreendido, O afastamento socioespacial dos citadinos, ge- rando ou nio segregasio, resulta em desigualdade dos direitos de acess cidade, no sentido de dela se apropriar ede participar completamente, como compartlhamento de terrtérios e experiéncias comuns. Os tempos desiguais dos citadinos, sobretudo em retmos ce mobilidade, rornam-se, deste modo, mais um plano que condiciona e oenta 0 processo de fragmentagio socioespacal NOTAS Prd ani precast fe princi capa de dr da pg Léa econdiics ‘pres pac contemporines cilads mia «consump pes Panag de Ampato 3 Pesqsa {Eso de So Pal pp) embor sexo, nee n,n ode conieaoconjnod iades ten as cle, do apna ogc €purclar um roo dela, Ade a otra dt {Sedo Gro de Exon Usanon,qucexthcram rota dente bree term novembrode 2012 Frere incorpo aguas contigs nea eo pubs ca pte dx pts eves fu pa oni areas sobre ems Tins gut ses denomiegio ja Bante geo, €» qu primo Madoé (2004: 25) dexaca gue ot {eas rectors que adam ee const na Fama so de Pare George, cm 1952 « Mae Rope, en 952 ambos pga Deno que atau como conctito desepppio eo npracniainos da enpeti ericomerdol- debs marr, odes or Madore 204) ser Namul Cael, Fn Goda Hen eee ‘Jan Lajne ‘looses pepe de Sans (197), preg cones & ormaio cient mse Porque oh cede esac Su propoa danoio de oman etorspca prem frdare fs compreenero Bra Scat Exade «pal abeo quale pe cone! a nid d ormacio ‘costs, as poo lade pe pci diemesorasies scoops Esso rears A dtemes momento ras overs apo que ean ins pram 2 cise do criti acon, iigrand-o 20 mode apa pred + Rewrai Sepmenuga aciccpcal” th do syne tno pata bra odes process, mao peor aia que eam 1 dvi deal a poplin eo wane, no endo, pra, ve cicada teen do terme sgepsi pus nojrem ura scu io For outst ‘dour cones aqua un split pa ape o rcs ai Madre (200) ra dea poise Ned Veer cid nae lv, hua adic sobre ee pon. Noma 4S devin Tp Dobe pa gd Debate Spent aly 204) ua flexi gu pl compendia ¢ hers onion dvr mera dum mesmo proc, Net exon aim, set de stone anos per lpr por mink oss rpso deca roi conc. 7 Tata es mais sobre as origens do conceit de segegacio, ver Vasconcelos (2004), além dos captuls de Cora ¢ ov ete main io. aera er aiscom ta afemaie eacapnde desu io quan concede ri Meena erence ee enti cmentone sanacm dso que se roti da que edo, | Nolen feel redonqucociom.emdiweraiese tesa qitenbo doses ex com xa ‘dni [85]

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