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{A ABORDAGEM CIVILIZATORIA DA PROTEGAO DAS MULHERES Femoimperialismo e protecao das mulheres do Sul global iversalista civilizatério contribuiu para in- tegrar a protegao das mulheres 4 “miss4o civilizatéria’, na Franca e nas pos-colénias francesas. Prova disso é 0 quanto os casos de agressao sexual acabam se tornando oportuni- dades para essas “feministas” atrelarem tais episédios a um storytelling racista. Assim, em 2011, Yvette Roudy, ex-ministra socialista dos Direitos das Mulheres (de 19814 1986), ao passo que caracterizava 0 estupro de Nafissatou Diallo por Domi- nique Strauss-Kahn como um assunto politico, nao podia deixar de concluir: “Nao € por acaso que o estupro coletivo éuma arma de guerra, uma forma de os jovens canalhas dos bairros se afirmarem covardemente nessa pratica”.* Naquilo que se apresentava como uma dentincia do machismo na po- litica, por que fazer esse amalgama entre um homem pode- | roso, diretor do Fmt, totalmente seguro da sua impunidade, e : os jovens de bairros populares, sendo para, mais uma vez, res f f oO feminismo un forcar a ideia de que o maior perigo vem dos jovens dos bair- ros populares? E isso logo apés uma mulher negra imigrante 1 Yvette Roudy, “Le Scandale psx est une affaire politique”. Le Monde, 28 jun, 2011. 51 pomem branco poderos por Taplda. pares, que cha sma entrevista mais recent, "HA trina ter sido estat mente defendido Po" stroussage de domes waco a S08 verte Rowdy sede” bes ingleses do 6h asin names NO SO OU, mas Ain ee aacace na ana NOS emos de day ft erase oe aie de OFigem dt nose po, vais uma vee, a comunidades racial pulagio imigrante” raseceanegzvam tarde dos ataques machistas€ mis6ginos sao atrasonos direitos das mulheres era _acordo com esse visio (totalmente legitima), tornar-se uma ceatiecnn Eaeearmane Setar ampe aren 2 Dave Duce, “Late: sun wousage de domestique'? Kahn sex- oie cena uote Soa pour ean-Frangos kaha aaa _ : sonatas etiam ctitetopazaatatha etd sue consensus, oars 8 Alea Ste de desesinteores suns a Hee Roy Ny ss ie Roudy, fed then odes ans 2 tits sanade ae vés,comme dager see rento politica ste gument a poltea exterma da Fang Durante se ion ee 209, 0 ese a epic Yetpnanuel Macton tlizoua frmula presale ‘josea abordagem™: amuse merma soso ama te cons inn dosent arse meas ase iin evista uals que com requenca aimed de cus Lene, raat de spor de seu.corpo come quseem tempo do ‘nosso mundo parar de ‘transformar as mulheres em vitimas e hes mot ar otugar qe as tambm merece, ode ees sx ranga ee acrescenta adota uma “eiplomacia femiisa me reoTuta’, e para isso seu governo se compronel § aixinar “30% da ajuda pablica ao desenvolvimento de mec drs relacionadas ao género"? Esses programas ce espe: arm ap mesmo tempo 3 “emancipacio das mulheres aff var atu contra amutilago gent” a0 combate 209 rave educagao das mulheres. Auta contra 2 mute enitl € uma das obsessBes do feminism olen pois sua perspeciva ela snaiza oatrasoe a cuclals & relasio a Theres aficanas nesse campo o4mest™?? aspecto observado por Fati N'Zi Hassane: cus na cen 5 16-208 ea 4 Emmanel Mac. 2 ees Home. a cart de ao ee mi SO sora Mure € os Homens 4 erste eae 5 Ibid 53 um verdadeiro desafio para a Africa é 0 fato de existirem dois motores demograficos, as mulheres e os homens, mas apenas um motor receber ajuda, os homens|...]. 0 outro motor est parado, porque em muitos paises africanos as mulheres nao tém direito . acesso a terra, que é um desafio fundamental - significa que elas nao tém direito de acesso ao crédito, elas nao podem desenvolver uma atividade, e em muitos paises africanos as mulheres efetiva- mente nao podem acessar © crédito, o empréstimo (exceto 0 micro- crédito) e, portanto, desenvolver o empreendedorismo.” Em julho de 2017, durante o encontro do G20, 0 mesmo Macron havia declarado: “Uma vez que os paises apresentam, ainda hoje, uma média de sete a oito filhos por mulher, vocé pode decidir investir bilhoes de euros 14, mas isso nao estabilizara nada”.® Com essas observacées, “Emmanuel Macron deu o tom: seu discurso sera feminista, ou melhor, femocolonialista”, escreve Elsa Dorlin, “pois, na defesa das escolhas das mulheres africanas acerca de seus direitos e de suas escolhas reproduti- vas, o presidente francés se coloca como 0 salvador da patria’? O femoimperialismo definitivamente adotou a nogao de género (que designa aqui exclusivamente as mulheres, consideradas como um todo) e formulas feministas (liberdade de circulagao, de dispor do proprio corpo) para levar uma politica de integra- do das mulheres africanas a um sistema bancario € econémico conjointe consacrée au programme 7 “c7 Biarritz: Conférence de presse ; rensa NO site Elysée.fr, 25 ago. 2019. ‘Afawa.” Transcricao da coletiva de imp! ae 8 E. Dorlin, “Macron, les femmes et lAfrique: 5 discours de sélection sexuelle et de triage colonial”. Le Monde, 30 nov. 2017- aver também E Vergés, “Macron et le ventre des femmes africaines, une idéologie miso- gyne et paternaliste”. L ‘Humanité, 17 jul. 2017. : 9 E. Dorlin, “Macron, les femmes et YAfrique”, OP. cit. 55 le desenvolvimento” se tornaram 0 Principal fator do au- vias d . sumo em nivel mundial. Portanto, mento do con: ; j 6 tempo de nos jnteressarmos por esse fenémeno, sobretudo porque, ao focat nas mulheres, a prosperidade econémica e a estabili- dade do mundo estariam garantidas. A Africa subsaariana, que retine mais mulheres educadas e empreendedoras do que qual- quer outro continente, naturalmente se tornou uma prioridade paraa Opic. O “mundo”, declara o fundo de investimento, nao pode negligenciar a oportunidade multibiliondria que as mu- theres do Sul global representam. Reduzir 0 gender gap (as desigualdades de género) acrescentaria 28 trilhdes de dolares ao produto global j4 em 2025, e em pouco tempo a economia feminina representaria um mercado duas vezes mais impor- tante do que a india e a China reunidas. O fato de que as mulhe- res do Sul global constituem 73% da clientela das instituigdes de microcrédito™ torna ainda mais facil entender o interesse dos bancos e dos fundos de investimento. A fim de responder a perspectiva segundo a qual, até 2028, as consumidoras se- res das des- rao responsaveis por cerca de 15 bilhdes de dolai pesas de consumo mundiais, a Opic criou uma tabela de lei- tura por género para julgar os projetos referentes as mulheres. Como compreender a relagao entre, de um lado, essas politicas neoliberais que afirmam defender e promover 0 futuro das mulheres negras e, de outro, a necroeconomia que fragiliza tal futuro? O fato de que esse presente/ futuro - um mundo onde as mulheres racializadas seriam livres, empreendedoras e auténomas, e um mundo fragmentado, violento, aang : jo co- destruidor, em outras palavras, ancorado nas See ectsctina lonialismo — coexistam revela o véu que mascara z , ee ne 41 “Les femmes et le microcrédit”, In babyloan.org. aT (EENNESNN RRR RRR CERNE - italismo neoliberal: atribuir as mulheres e 40 ho, do capital rivag6es, discriminagdes e vulherabilidade Meng eee O objetivo do “Invest in % Pro, iar the World”, uma politica de integragao das mth racializadas e do Sul global como ea agregado, come obee de investimento do mundo financeiro, é a Pacificacao, Oo nen “mulheres”, tal como é concebido pelo Ocidente -um oe, sencializado, marcado pela diferenga biolégica ~é Wilizage contra o “género” racializado homem, aqui também um grupo essencializado e marcado pela diferenga biolégica e Pela Taga, en, Tes Genealogia de um ambiente hostil Se as diferencas existem no ambito de toda sociedade no que diz respeito a gestao da Protecao, podemos afirmar que 0 Es- tado patriarcal e capitalista Teforcou essas disparidades, que fo- Tam notadamente Tacializadas, Porém, na Franca, ainda é muito dificil estudar e debater Publicamente esse impacto em funcdo da raca. Enquanto os trabalhos sobre as diferencas em fun- $40 da classe so abundantes e Produzem Tesultados sélidos, as abordagens fundadas na Taca foram negligenciadas. Nesse tes, sua literatura, Suas leis, suas Organizacs movimentos sindicais e Sociais, seus fer; R Jo economista togolés Kako Nubukpo de que « feita pelo scimento” mantém “a Africa no Modelg tua modo de ‘ao colonial”"* se aplica aos territériog con Magy de oC ee sistematicamente Esquecidog nant pesquisadoras pesquisadores dao oe de "2Cialig, cdo constitui, portanto, a mals pura caltinia. A historiadora Catherine Hall, especialista em €Scravidag lonial e em processos de branqueamento, soube desenvoive, grande narrativa da emergéncia de um “ambiente hostil”s pa, as pessoas nao brancas na In, slaterra: a escravidao desempenh, um papel central nisso. “Mesmo militantes antiescravistas enga. jados, como Granville Sharp, eram muito claros a Tespeito da dife. Tenca entre britanicos brancos e africanos: a escravidiio é que era 0 problema”, Hall escreve. A Presenga de negros/as na Ingla- terra provoca uma profunda ansiedade entre brancos/as— sendo as relacdes entre os sexos um dos principais aspectos dessa an- siedade. Em 1774, Edward Long, um dos defensores mais fervoro- Sos da escravidao, alerta seus leitores para os “perigos sexuais en- gendrados por uma tal proximidade com o N....”. “E notavel como i Coumba Kane, “Kako Nubukpo: ‘Le Modéle de croissance des pays africains est mortifére”. Le Monde Afrique, 22 set, 2019. 15 Ver “Le ‘Dé isme’, égie hégé 1 ee Une stratégie hégémonique: Tappel de 80 int, 28 NOV. 2018; e “La Pensée ‘décoloniale’ renforce a Petites differences”, Le Monde, 25 Set. 2019. 1 “Mother Country oy ae | c y". Londo . - 2020. As Publicacdes ¢3, ¥ a a en ae i ie nya Exposing the Hostile Environment, Lond a Colin Grant, Homecom mon: Guardian Faber, 2019; ing: Voices gy the Cape, 2019; Maya Goodf cies Windrush Generation. London: re fellow, Hostil i come Scapegoats. Loy se Nironment: How Immigrants Be- ndon: Verso, 2019. 17 C.Hall, ‘Mother Country op.cit, \ - er que nunca houve leis raciais na Franca & Franga. Dizer 4} issemitismo e dos racismos Contra Otay a historia do “~ rom. Desde 1776, a Mmonarquia ja i Pov negro, Se pessoas negras na Franga, Bla ten a ue se as reivindicagdes de liberdade de ese, : Qe . eect nos éditos reais de julho de nia, ae “ninguém pode ser escravo no 0 da Frangar e solo da Franca liberta 0 escravo que a oo a Naquele Mesmo ano, 1776, uma comissao real defendia a proibigdo da entrada de pessoas negras e a proibigao do casamento entre Negros/ag e brancos as, € Mesmo entre pessoas negras. Era preciso Ctiar obstaculos a reivindicagao de liberdade de negros/as trazidos ‘ara @ Franca pelos escravistas e 4 constituicao de comunidades negras. Em 7 de agosto de 1777, foi criada uma “policia dos ne. gros" que instaurou, em cada porto francés, espacos de detencag are pessoas escravizadas durante a estada de seus Proprietarios he Franca. A partir de 11 de janeiro de 1778, todos os negrose Sras recenseados/as deveriam portar um documento Ge identificacdo (ou “cartouche”) que indicasse seu nome, sua icade € 0 nom me do seu senhor, sob pena de serem mandados/as Ge volte as colénias, Se tais Negros/as nao pudessem apresentar Prisionados/as e interrogados/as. Sea Sse oe de restituir Sua identidade, o/a escravizado/a oe ae *, Mas mesmo assim seria levado/a ao depésito 7S 88 &xDulsa0, eg cee : Prevista Seu proprietario deveria pagar a multa a A Revolucg, i Oimpulso da ae S40 Francesa Poe fim a essas medidas e, sob 48 €scravizados/as iniciada em 1791 o g y todas as ne; €sse documento, seriam ay polici fo Seria liber ©1C80 dos/; 24 Ver Hurard bellance, 1 La Guadeloupe, Guyane Saint siecles. Matoury: this ko) Police a, Domingue its &M Amérique (Martinique, eten fy MBE, 2044 "€n France aux xvue et xvillé 62 - de, arruinam a economia e contestam a A ie, da liberda ficial Tiedag, autor desse documento oficia chama ae “pit privada. O que 0 de de se desfazer do poder colonial, no an tie cidio” era a vonta rotecao contra a crueldade e og abus ito do qual nee ede instituir formas préprias de me poder era garant! 7. 1802, surge a obra de Baudry Deslorig No a omens nigrophilisme [Os desvios do negro lism, are! . 7 autor escreve: Contra a nossa propria vontade, chegamos & oe Natural de que sua espécie {a do N...] depravada, é a clase mais imperteita mais sombria, mais incapaz de poms mais Viciada e mais incorrigivel da humanidade. Chegamos a Conclusio de que essa espécie nao é feita para a liberdade dos brancos, e sua conduta até o momento prova cada vez mais essa verdade.23 Em 16 de maio de 1802 (27 de floreal, ano 10), 0 Porta-voz do governo, Adet, apresenta ao Tribunato o Projeto de lei de res- tabelecimento da escraviddo, dando destaque aos interesses econdmicos: Apesar do horror que ela desperta, [a escravidao] é util na organi- 2ac4o atual das Sociedades Suropeias; nenhum povo pode renun- 23 Louis-Narcisse Paris: Chez Mi de Beauhamnais ee ong 1 oo? P- 109. 0 livro, dedicado a Josefina €®eravidio uma ecennn 88 NegroFSbica do restabelecimento da SmoTTeceareponsabihas at ee ™ENOS que ainda hoje ouvimos para ta da sehen 2 Na ecravidao, esta teria libertado i tirania. O/a Afticano/a, puiay oAetitente ™mergulhado na guerra e na natural, Setiaincapay de Goya. POF Sua « enc thimalidade” e sua preguica r Oquea liberdade significa. Baudry Desloziéres, Les Egarements du nigrophilisme. Tel, 22 may 64 vol em — e ele deixou sem comida e loucos de raiva para depois yg 1108 escravos ao som da musica militar, dos incentivos s da multidao. Os testemunhos descrevem os re- ros gt! joga-le e dos aplauso: finamentos perversos de uma sociedade que se vingava, com furor, de seu proprio medo.”” Enquanto Pauline Bonaparte e gua corte rivalizavam em elegancia com as “mulatas” em bai- Jes suntuosos, os soldados ateavam fogo, saqueavam e estupra- yam. Nos ultimos dias da colénia Saint-Domingue, o dinheiro, as intrigas, 2 ganancia, a avareza, a busca por prazer e Iuxo do- minavam a sociedade colonial branca. Dessalines descreve os soldados franceses como “tigres sedentos de sangue”. Em seu Manifesto de 1814, 0 entao rei de Saint-Domingue, Henri Chris- tophe, evoca “as forcas erigidas por toda parte, os afogamen- tos, as piras, os mais terriveis suplicios [que] foram executados seguindo ordens suas”. A vit6ria dos escravizados coloca fim aessa réplica do Antigo Regime nos trépicos. Mais de 10 mil fazendeiros [planteurs] deixam a ilha; eles passariam a alimen- tar o medo das revoltas dos escravizados, brandindo sistema- ticamente a ameaca de outro Haiti e publicando relatorios que retratam a Revolucao Haitiana como um levante barbaro e san- grento. Por que relembrar esses fatos? Porque eles fazem parte da historia das politicas estatais de protegio, de sua racializagao e de seu sexismo; porque eles explicam, em particular, as proi- bicdes raciais no sentido de formar comunidade. dedicado a esse periodo: “Last Days of Saint- elissimo capitulo nee ry, and the Gods. Berkeley: Uni- -Domingue’, in Joan Dayan, Haiti Histo versity of California Press, 1998- _ a escravagistas negavam 7 diferencas entre mulheres e ho- mens escravizado/as € as instrumentalizavam — igualmente gubmissos a exploragao eu como reprodutores, os homens podiam ocupar postos octiaced ou de comando na plantacio, enquanto as mulheres, além de serem encarregadas do cuidado, da cozinha e da reprodugao, eram objeto de exploracao sexual. Qs/as escravizados/as, que sofreram com a auséncia de diferen- ciagao sexual no trabalho, buscavam recria-la fora do mundo dominado por escravagistas.*! Historiadores/as estadunidenses e prasileiros/as mostraram, gracas aos Telatos de pessoas escra- vizadas ou estudos longitudinais, “que os/as escravizados/as davam uma grande importancia 4 familia e gastavam muita energia para manter os vinculos, apesar das separagoes durante a escravidao, e, mais tarde, para reencontrar-se apos a aboli- gao”.2? Conscientes nao apenas da auséncia de protegao no sis- tema de plantation, mas também da vontade de obstaculizar toda e qualquer estratégia de protecao comunitaria, mulheres e homens negros/as desenvolveram seus proprios sistemas de protecao, em todos os niveis. As violéncias contra as mulheres escravizadas nao sao nem. um episédio infeliz de uma historia infeliz nem o tinico exem- plo das violéncias coloniais. Negligencia-las perpetua a ilusdo de que a historia das racializagdes durante a escravidao estaria desconectada dessas violéncias de género— sobretudo se con- siderarmos que 0 abolicionismo ndo tentou acabar com elas. A doutrina abolicionista francesa deu uma justificativa mo- ral para a conquista colonial pés-escravista, alegando que se 31 Jacqueline Jones, Labor af Love, Labor of ee ss cae bene beste and zhe Family. rom Slaven er Roars Monde”. caine 32 A. Gautier, “Les Esclaves femmes “Femmes et esclavage”, 7-8 NOV. 2001, in genreenaction.net. 69 — a colonizagae republicana pudesse acontecer, essa figura jva do escravista deveria ser apagada e substituida por ado patriarca republicano, severo porém bondoso, e pela ga mae patria, benevolente. Na a da Reuniao, esse processo e assim: La séne fini kasé, zesclav touzour amaré (As da escravidao foram rompidas, mas os escravos con- tinuam acorrentados — provérbio crioulo reunionense). No que diz respeito as proibigoes de formar comunidade, nao demos nos esquecet da proibigao da infancia. Os estudos de sociologia & psicologia nos mostram como meninas e meninos de classes populares, urbanas e rurais, a0 seguir sua trajetoria, sao submetidos cotidianamente a tratamentos diferentes dos dispensados as criangas da burguesia.*° Os estudos sobre a in- fancia racializada sao mais escassos. Poucas nogoes definem essa condicao na qual o Estado nega 4s criangas 0 direito ain- fancia. Se 0 caso das criangas autdctones no Canada, nos Esta- dos Unidos e na Australia, que foram arrancadas de sua familiae confinadas em orfanatos, épouco conhecido, o da negacao racial da infancia na Franga é ainda menos. A professora de crimino- logiae de direito Nadera Shalhoub-Kevorkian, de origem pales- tina, propés a nogao de unchilding (desenfantizar) para designar e negam as criangas © direito de ser crian- as politicas estatais qu gas.3 Essa negagao revela, da parte do Estado, uma gestao dife- 35 Ver Michéle Becquemin € Michel Chauviere, “L'Enfance en danger: genése et évolution d'une politique de protection”. Enfances & Psy. v. 3 n. 60, Paris, 2013- 36 Nadera ‘Shalhoub-Kevorkian. Incarcerated Childhood and the Politics of Unchilding. Cambridge: ‘Cambridge University Press, 2019. Ver tam- 1d Violence against Women in Conflict Zones pém Id., Militarization an in the Middle East: A Palestinian Case-Study. Cambridge: Cambridge University Press, 2009: women ‘and Political Conflict: The Case of Pales- tinian Women in Jerusalem. Jerusalem: Women's Studies Center, 2006; n y de protecio da infancia em funcao da raca, da el ep! : pa eaas A8se, renciada bigdo de ter uma infancia, de snero. A proil “form, idade e do género soléncias sistémic: wa) idade Rete éreflexo das violéncias sistémicas e Taciais do By comuni , z jo faltam exemplos. Citemos as “criangas de Creuse» tale. a s reunionenses arrancadas de seus Pais @ as 2.150 ane ¢ 1982 para ser adotadas, servir de Mao - annie fazendas ou de “faz-tudo” —*7 e Zyeq Bennae sonhs one, com 17 15 anos respectivamente, eletrocutados em 27 de outubro de 2005 em Clichy-sous-Bois © Tesultado de um processo judicial que durou dez anos, finalizado em maio de 2015, foi o relaxamento da pena de dois policiais Processadog 0 de socorro”). Adel Bena, irmao de Zyed, declaroy na ocasiao: “A Franca se tornou um pesadelo, a islamofobia eo racismo nao param de crescer”.3* E acrescentou: “Nés podemos nos resignar com a morte de Zyed, pois acreditamos no destino. vustica Que persiste macula a sua meméria”.3? Dois jo- vens recém-saidos da infancia cujo assassinato nao é lamentado Por toda nga. Eles nao merecem, ao que parece, o nome de CTiancas; seu terror durante a Perseguicao por adultos policiais, » SU Pavor, seu panico ao se esconderem em uma por “om Mase sua angustia, Birch ng in Ox et inic i Pre 9 in Occupied East Jerusalem: Palestinian Women's Experience of egnancy and Deli very. Jerusalem: YWCA, 2012, 37 Ver ivan Jablonka, Enfants en exil: tra en métropole a i 9 insfert de pupilles réunionnais 953-1982), Paris: Seui} Spagnoli € Ph " pe Vitae, 7 2007. Gilles Ascaride, Corine Eations vn, 200m jo i Y "stes Tropiques de Iq Creuse. Ille-sur-Té Quatre Chesnins, sony ice Martial, Une Enfance volée. Paris: Les ‘40-Pietre Go; " ae . Re, th Késionnaisdépuryg qo A Béte que j'ai é1é: le témoig- Alter Ego, 2405, rt dans a Creuse en 1966, Cénen Editions 38 “Pour Adel Berna, frete de y mar”. 20 minutes, 25 out is 39 Ibid. ies d, ‘h 4 France es devenue un cauche- 72 Minha posicao, que da oe ao imperativo, 8 oy jalizados/as, de formar comunidade, difere bastante i racializac Donna Haraway, para quem “fazer Parentes é fy Se ponto da de necessariamente como individuos ©U como o pessoas, a como elementos de um todo, animais, Plans ney nee einanimada.*? Eu entendo © que ela Quer a zer quando escreve que “culpar ° ne ° MPerialisme, ° neoliberalismo, a modernizacao oe oe ee Pela destry;. cao em curso ...] também nao vai funcionar”,*3 mas NGO poss deixar de lado 0 fato de que nem todo mundo tem o Mesmo direito de fazer parentes. E certo que, em seu apelo pela Criagio de novas formas de parentesco, ela cita as “ ‘kinnovations (for- mas [inovadoras] de fazer Parentes) nao natais entre individuos € coletivos dos mundos queer, decoloniais e indigenas”,*4 que Sao mais interessantes do que aquelas “dos segmentos Ticos e 40 de riqueza europeus, euro-americanos, chineses ou indianos”, mas ela negligencia a historia racial das proibi- Ges de fazer Parentes. A ideologia do “populacionismo”, que se aplice as sociedades do Sul global, postula que a populacao é0 de extrac: 42 Donna Haraway « Donna Haraway, ‘Antropoceno, Capitaloceno, ‘NLes” [2011 © Ana Godoy. Climac om, 7 43 Ibid om 800 3,. 5, Campi Plantationoceno, Susana Dias, Mara Ver6nica nas, 2016, 44 Na tradugag br « Tete Parentes-inovadoregs hs Para" inp, MO de D, Haraway, optou-se por : Mnovationg” Colonial”. Agu, Mattiverno, vations Como 0 faz Fra, es, £ Por “descolonial” para “de- NGOise Verge, eta “éismo “kinnovations" em inglés, tal Comtente no Brasil, parg design ME 0 tering “decolonial”, j& de uso ue se mantém, mesmo ane arg, “aftentament do legado di , ressao i a ing : le op! Nas demais citagje, depend, a . $ desse te, Cia dos terrig iain, leita ja citada fy a ENO de i6rios colonizad H Usamos a tradugao brasi- @Sileira do 74 gar (India), em novembro de 29 4,6 emplos de atrocidades e expetime® s mulheres pobres e Marginaliza pobres do Sul global 0 acesso 0 segura que elas possam con; am, considerando-as ‘exe esterilizagao de Chatis: nas um dentre tantos ex goes perpetradas contra a Longe de “dar as mulheres pensavel a uma cont racepgac olay essas politicas as desumaniz: CSsing, mente reprodutivas’, e fixam ‘alvos’ que fazem com que atrog. dades como as de Chatisgar sejam possiveis”.®° As politicas con. tempordneas de controle da populagao permanecem enraizadas em ideias profundamente imperialistas, racistas e patriarcais, 4 experimentacao de contraceptivos e de meios de esterilizaciy extremamente perigosos para a satide em mulheres e meninas do Sul representa um mercado muito lucrativo. Na realidade, o mercado mundial de contraceptivos passou de 11,2 bilhGes de délares em 2008 para 14,5 bilhdes de délares em 2016, e os in- vestimentos nos paises do Sul aumentaram consideravelmente. ds das « indis, 49 Ibid. 50 Ibid., p.3. O IMPASSE DO FEMINISMO PUNITIVISTA “O medo deve mudar de lado” “Quantos estupradores precisaremos matar para que os homens parem de estuprar as mulheres?”, perguntava a feminista egip- cia Mona Eltahawy em uma entrevista no dia 27 de dezembro de 2019 a um canal australiano. A censura desse trecho durante a retransmissao do programa é, aos olhos de Eltahawy, a prova de que o Estado sé aceita a condenagiio do estupro se puder impor nao sé 0 vocabulario e o enquadramento a partir dos quais essa condenacao sera formulada mas, até mesmo, a so- lugdo. Uma mulher pode matar em legitima defesa e receber indulto da sociedade e do Estado se ela encarnar a figura da vitima total. E uma politica de defesa completamente outra que a filésofa Elsa Dorlin desenvolve em sua obra Autodefesa. A passagem para a violéncia, ela escreve, na perspectiva das feministas é “a consequéncia légica de um Estado que estrutur ralmente oprime as mulheres e as relega a wma posigao mino- dria”? Que razdes teriam as mulheres para confiar sua defesa é justo 0 responsavel por armar ao Estado, “[uma vez que] ele 4 Leila Ettachfini, “Mona Eltahawy Would Like You to Fuck Right Off with your Civility Politics”. Vice, 27 dez. 2019. 2 E.Dorlin. Autodefesa, op. cit., p. 102 aqueles que nos Be a aun ma cag par at 2a yy tg cee vi B Ne dey min do med pos. per séculos de opressia 4 sinatos, de tortura, de silenciamento, assim comg 4, i anternente evistasereadapradas que yg es nar de ado Em OU STRVERS, Stamos er land organizagio da auroefes- cidade ea espeitabilidade que feministas branca sguesas defendem nao oferecem a forga ea energia at bun. para combater a dominacl0 € & OPreSS%0. Ao contro, pa pen paraa manutencio das violencas, diz Eakin ostram que estio a servigo do patriarcado e da a tranca, Ao se recusarem a ser “educadas”, “amaveis” ou “espe. ‘dveis’ as feministas evidenciam a violéncia dissimulada quea respeitabilidade impde e que se resume assim: “Voc® esté aut rizada a falar, se respeitar as leis patriarcais”. Com 0 seu “Fuck you feminism”, Mona Eltahawy nos convida a olhar nos olhos do patriarcado e dizer: “Eu vou foder com vocé” (I'm going to fucking destroy you).* As mulheres do Sul global ficam entrea cruz ea espada, ela escreve. A cruz é 0 racismo e a miso; inia do Ocidente, que, embora indiferente & misoginia e a0 pati cado, declara sua vontade de salvar as mulheres que’ -vivern “em fap . ne “outro lugar” que no é nem ocidental = ae eee comunidades, que quere™ eres se calem, pois, a0 falar, elas as prejudicariam- Est 3 hid. 4 Did, png, SL Beach 1 ih ‘Mona Etahawy Would Like You to Fuck Right en ca da escotha entre dois pacar eas, ext <,em nome das ptioridad ‘moss lades dala, oie va ois machi fpr feninista8 NEES €racalizadas Cong ee MBC sparriarcadose machismosnionsc stay cats da supremacia Branca ede seu cimpie'en esol Gem uma teoriaeuma pitica que vigen soncna Sane sgociedade despatriarcalizada, pivractaeyoyenn ne rnerernquecmeto mde elo seems ore ‘Tendo testemunhado a violencia dotnaeware gene realizacio de encOnlF0s OU manifestaies em suey yb vera wiolencia das micas paca armatn >on yor jproprietérios brancos da Tha a Reun : Mie estupro ou de morte o/s militants amici rapidamente entendi que 0 espago 9 ‘coragem das classes populares de entenaracast esr as armadas para ibertar ese espago preerou em sim 2 dela de que o Estado exercia um monopsio tal sobe oe paco publico. Mas, mesmo; que tena sido estimulata a sentir uriosidade pelo mundo, aprendi a pemanecr glane ne plataforma de uma estacdo deserta ao escurever compte: apir are gait. aint de cu, eure tedope- tos; aprendi ao voltar paracas8 Tonge os lugares abertos e iluminales jas; aprendi a segurar com firmeza um a mirar no pescogo; fz aul a atengio ou, a0 contri, 222 janelas; a andar nos corredores 6 compagnes Repubisnes Sega. erp ese el ° Na Franga, todo ano, 220 mi, mulheres adultas io itimas de violéncias fisicas e/ou sexuaig porparte de seu companheiro ou ex-companheiro, ¢ 43% das mulheres franceses declararam ter sido submetidas a atos s- suais no consentidos.® As mulheres que usam véu so coti- We ee soos tical Sh ta Deseret cere 17 ty yee "Suh A Bove Sse i ee Ste ce apy Howse ar s:5-Une etn tev dociems Aged tae 200 1 coy ste oe lnc cones Fee ‘ure en Europe". Sud-Ouest, 16 mar. 2019 ; “En Espagne, des milliers ‘de personnes manifestent contre les violences faites aux femmes”. Lt vena oa — ean “355 fericides in Argentina in first half of 2019" 20 “Dusit gues Se deggie Toe Poe Meret once ite re une femme, dre 00 Tere Solaire, jul 2019. no Pia oper também N-Richatte ulture da violop. i; Lauren Basie, PP 2020; ibid, AfroRem Magazine; Kbarolr A" rand ester eae Es ie, ices betes nears so oper os de tnd08 08 OUtOS FUPOS de mulheres, aferones 80 28 ais WulDeTbzada,oquelon van tan Ge suciio muito aK ent eas Unaa cada ttvamerany ‘ive na linha da pobreza Ou abana dela een Nova Yerk ag ‘atisticas apontam que onimero de mulheres nes ue STortem durante 0 parto € dove vezes mas eevade do qa Te mulheres brancas2*Meninase merino raaizadovascon (dade entre doze ecatOrZean0s corre massa de vere tuprados/ase vitimas de agressio." No Canad, o grupos de puleres aut6ctones estimam que mais de 4 mi dente elas foram assassinadas ou desapareceram ao ongo das itimas dé- ‘cadas, sob total indiferenca por parte dapolca* Nafndia,em ‘019, conteciam quatro estuptos por hora Em 2012, @estu- procoletivo eo assassinato de uma estudanteemum Snibusem Nova Déli desencadearam um amplo movimento de protest, aianat Souttant, “Femmes noire et violence seit sh sama tion, Policy Options. 3a. 2020. 22 Maya Fino eine Sanka “Lepl pen sls Bake ‘Women and Non-inary Survivors ofc a8 00 23 Aubrey il usice or Native Aen oe Proges 7 nov 2018 ieee 24 Amandine Beg, “Aux Bats Uni es fee is ene hes parlamoralcmaterel™ SEC 25 Ail "tice for Native American WHET OPS 26 jenifer Ban, "Ferames files tones Sse TT et Canad Enlai Cana. 28207 “Aa cana des eames autorones 0 sale, late, 20 jun 238. Vertanben of Lesience quite, 2015-8 27 “us Rankstiate Wor he Guaran 2 jun. 2008 aS, S| deu com a proposta de a erno respond ao qual 0 govt Jore: a b TOVvar a de morte para os estupradores. A violéncia ¢, Peng ntra as Nuhe tem como resposta a violéncia do Estado Contra os h, res re Ome, sobretudo se eles forem dalit, one Mostra 0 assassinato, Pela policia indiana, de quatro suspeitos de estupro Coletivo de uma jovem de 27 anos.** No Parlamento Nacional, a deputada Jaya Bachchan considerava que os culpados deviam se T “linchadog em publico”, e um de seus colegas Teivindicava, alé 'm do Tegis. tro dos criminosos sexuais, a castragao dos €stupradores 2s A advogada e militante Vrinda Grover denuncia essa “violéncig arbitraria”, exercida principalmente Pela policia indiana, queé com frequéncia acusada de execugdes extrajudiciais quando se trata de cobrir investigacdes malfeitas ou de acalmar a opini: iblica: “A policia deve Prestar contas. Em vez de com uma investigaco e reunir Provas, o Estado co; sinatos para satisfazer 0 Publicoe s Os dados também mostram de violénci: EC) Prosseguir mete assas- e eximir de prestar contas” 30 los do que as que nao A essas violéncias sistémicas acres- centam-se aquelas de uma Pobreza organizadae de uma vulne- Tabilidade fabricada.» Esses ntimeros nao dizem nadaa respeito _in Inde, des manifestations de colére aprés le viol etle meurtre d'une jeune ferme”. Le Monde, 2 dez, 2019. 29 Ibid. 30 Le Mondee AFP, “Inde: quatre su; etdu meurtre d’une fem- me abattus par la Police lors d'une Feconstitution”, Le Monde, 6 dez. 2019. 31 ONU Mulheres, “Queiques faits et chiffres” op. cit, 32 Observatoire des Inégalités, « Pauvreté selon le sexe" 17: “A pobreza nio afeta homens e mun en 20 SEE: 2017: faixa etaria. Antes aad , mulheres em fungao da 8, 0 indice de (abaixo do limiar 4 cece : Pobreza das meninas “vida médio) ¢ ¢quivalente ao dos 'SPects du viol do mesmo moa dos dezoito ano, le 50% do nive| 86 ses cada vez mais longas a impossibilidade de Teinsen, So na garantirem 0 fim da eee ciate as multeres; Se, acy ° por um momento, essa oe ne et com forcg crueldade, quais sao as medidas oe arao O medo Mudar de lado? O que leva os homens a matar? Por que as mulheres nig sao mais bem protegidas? Por que, de acordo com um estudg na Fran¢a, $40 majoritariamente os homens abandonados Que matam as mulheres que os deixaram? Por que os homens Nig sio capazes de suportar 0 abandono, sendo que eles No tém nenhuma dificuldade em abandonar? A autora afro-americana de ficgao cientifica Octavia Butler propde um cenario diferente daquele de uma violéncia espe- Inada para combater as violéncias, qual seja, o das armas milg- grosas. Sob esse prisma, 0 sossego e a imaginacio sio capazes de salvar a humanidade de um mundo apocaliptico. Em sua série Parabolas, a heroina Olamina sofre da sindrome de “hipe- Tempatia” — ela sente cem vezes mais a doreo Prazer do outro. Em um Estado minado por guerras civis e governado por um fundamentalista cristéo que visa “restabelecer a grandeza da América” (Make America Great Again), Olamina usa sua sin- drome para liderar a resisténcia. “Minha heroina é uma guer- Teira” ” explica Octavia Butler em uma entrevista. Alias, precisei trabalhar duro Para concebé-la como uma lide- Tanga, pois néo é da minha natureza. cam 0 poder muito sus) fosse uma lider: ela é Gas, tendo quatro me; Eu acho as pessoas que bus- Peitas. Fiz de tudo Para que minha heroina # mais velha de uma familia de cinco crian- nmINOS Como irmaos. Ela também é filha do 33 Entrevista de Octay Via Butler a Jér6 Butler”. ActusF, 20 set ¢ Vincent, “ i "Octavia Sexe, nt, “Interview d’C 88 lizados/as, Butler descreve 0 grande esforco exigido e asf dades encontradas para preservar a dignidade, a humanig ey a comunidade em um mundo que é estruturalmente nega de tudo isso. AO reconhecer a existéncia de obstac cUlos @ des soes dolorosas com as quais mulheres oprimidas do mundo, teiro sio confrontadas no que diz respeito a sua sobreyiy, pessoal, ade sua prole e Ade suas comunidades, Butler vaj 5) alén da ideologia da punicao e do sistema carcerario. aia Acabar com o sistema penal: os impasses do feminismo carcerario O feminismo carcerario é essa ideologia que, apoiando-se nas nogoes de periculosidade e seguranga, milita para que os tr- bunais julguem mais severamente e decidam a favor de penas de prisdo mais longas ou de um aumento das medidas de seg" ranca e controle.» Para Elizabeth Bernstein, professora des ciologia e estudos sobre mulheres na faculdade Barnard, dos tados Unidos, o neoliberalismo constituiu “uma virada decis'* nos movimentos de reivindicacao feministas que antes s¢ ed nizavam em torno de lutas por justica econdmica e libertss" Nessa linhagem, o feminismo carcerdrio “busca remédi ciais por meio de i intervengées da justica penal, mais do a aenisenae de um Estado social redistributive, & e co ‘48 pessoas privilegiadas, mais do que a auton” ios 8° sme penal Ent % € Rafik Chekkat, “Abolir le systeme pens! Ricordeau”, Etat d’Exception, 16 jun- 2019- woe '#MeTo paris leToo doit éviter le féminisme carcéral” 39 Ver Lissell Quiroz tien avec Gwenola 40 Alex Press, « info, 21 nov. 2019, USISI an cas istema Cr setaliz, SOs de Violéy a Seti , sarantir a prot, a ecs a Mentos e no, ‘As Per; Condicdes ¢. conde: ‘arcers Nado, s Bois e Por a Nvoly Stessq e S30 ¢ Ont 41 Eliza Diferencas Bernstein, “The Sexual Polit 42 Amon a mitecoreten ‘olitics of the ‘New Adoliti 43 Bloise fone #MeToo doit éviterle féminisme casei! Pas féministe 1” , Charlotte Dupeux e Valentine Welter, “La Priow 44 Liga do 1". Lundimatin, 4 dea. 2017 Tité aux on das Mulheres, 1976, aPU° es”, Questions fom 1.3, 978. P vs Eves 45 N os ndme: imeros 8 e 9, dez. 1978 dope’ re que tints eric? op.cit. [Martine Le Peter Priv Mouvement, c 10.197. Prisio em Meurna ama entrevista comes ye a dificul leury, onde acontec!# una goove feo ne uldade “de encontrar outts® formas ive et iavel”: jean Beat pene “reco rrer a ji * Je er a justiga parece irreme™ ue 1 a SS eT Tn NNN NN AAA CCE CCL i cildtelleldidebie mais uma vez, que existem feminismos. Uma Cor. tantas outras busca apoio estatal e penal Parag sncia de uma sociedade mais sossegada. Nao Precisamo, energens ees analis4-la e combaté-la. Ha muitas in ee que nao seguem essa orientagao, 0 que j Justificg a de mu cia de feminismos de libertac3o anticarcerarios. pois mostra, rente dentre existén' As prisdes no nos salvarao nem do patriarcado nem da violéncia A prisdo, escreve Gwenola Ricordeau, “constitui um ponto cego dos movimentos feministas contemporaneos, a excegao, nota- damente, das condenacoes injustas que atingem determinadas mulheres vitimas de violéncia”. A historia das relagGes entre as feministas francesas, o sistema penal e a prisdo parece um pouco mais complicada. Nao ha, no momento, posi¢ao consen- sual a esse respeito nos movimentos feministas na Europa ena Franca. Na segunda metade do século xx, mulheres denuncia- Tam a justiga colonial e as condigdes de encarceramento de mi- litantes anticolonialistas. A prisdo era descrita como uma das estruturas do colonialismo e do racismo, e a justiga, como uma auxiliar do poder colonial. Na Franca, durante os anos 1970, €m Tesposta aos protestos e as greves, os governos intensificaram a Tepressao e as prisdes. O termo “securitdrio” [sécuritaire] CO- mecou a substituir o termo “seguranga” [sécurité]. A prisdo se (ne pas, bus) Punir les violences sexuelles? Luttes féministes et critiques 4¢@ répression, en Fre 07, 13 20t4 ppg nde Mai Cau debut des années 1980" Politin 46 Gwenola Ricord le: ie ris: Lux, 2019, p. 146, ‘au, Pour Elles toutes: femmes contre la prison. Pa 92 boa parte das vezes, de uma revolta de Naturezg advém, : ff . cing politica. Se hoje decidimos nao nos manter pa n. temente : Ssivog isamente por solidariedade com toda a Populagig 6 Pena . i Ago,» [No dia 15 de setembro,] cerca de trinta esposas e Maes de le tentos em greve de fome fizeram uma manifestacao [em Protest contra as condigdes de encarceramento dos presos] diante i Ministério da Justia e reivindicaram 0 “regime special”, As mu Theres nao foram recebidas em audiéncia. Elas tentaram levantar uma faixa, que foi arrancada por policiais civis, bem como carta. zes onde se lia “Abaixo as prisdes!”, “Regime politico!”, que tam- bém foram arrancados por policiais.* preci i e para que ela possa, em seu todo, beneficiar-se de Nossa Em outubro do mesmo ano, as integrantes do MLF [Movimento de libertac3o das mulheres] organizaram uma manifestacao diante da prisao feminina de La Roquette, em pleno cora- Gao de Paris, que fora construida no modelo pandptico (isto é, de modo a permitir que um unico guarda, posicionado na torre central, observe todas as prisioneiras ao mesmo tempo), onde tinham sido presas militantes nacionalistas argelinas, as- sim como as francesas que apoiavam sua luta.> 50 Ibid. 51 Ibid. 52 Vero filme de Guillaume Attencourt, La Petite Roquette (2013), 20 qual, com base em depoimentos de ex-presididrias, da diretora, de edu- cakes, Supervisoras e religiosas ligadas a prisdo, assim como em ind- ee pana, Guillaume Attencourt ressuscita aquele be cas polio ner aue 9 asemelhava a um forte, Por & passaram Ps gunda Guerra Mundial, mais de 4 mil resistentes press Guerra da Argélia, Gu i : » Guerra Fria e manifestaco -Maio de 68 = fr) Que a ferninista Nadja Ringar 2)e press comune. a Uficou presa) e presas comuns. Aprende? Como filme que, em sua mai ) € presas c P loria, as detentas eram mulheres de condiga? e oS . gm 8 de fevereiro de 1971, durante uma coleti na igrel4 Saint-Bernard, em Paris, 0 fildsofo anunciou & criagao do Grupo de Informacio (cir), que tinha por missao infotmar sobre a yi O manifesto do Gir comeca assim: iva de imprensa Michel Foucault Sobre as Prisdes eh ida cotidiana nas prisdes- Nenhum de nés pode ter certeza de escapar a Prisao. Hoje, meno: do que nunca. Sobre nossa vida do dia a dia, o ae policial estreita 0 Cerco: nas ruas € nas estradas; em torno dos es- trangeiros e dos jovens. O delito de opiniao reapareceu: as medi- das antidrogas multiplicam a arbitrariedade. Estamos sob 0 signo do “vigiar de perto”. Dizem-nos que a justica esta sobrecarregada. Nés bem o vemos. Mas, e se foi a policia que a sobrecarregou? Di- zem-nos que as prises estao superpovoadas. Mas, e se foi a po- pulacao que foi superaprisionada?” A prisao era 0 depésito onde se empilhavam os corpos desig- nados como perigosos, os pobres, os mendigos, os miseraveis; onde se encarcerava todo aquele que, com sua presenca, podia colocar em causa a narrativa desses anos de uma sociedade de alto rendimento e vitoriosa. A partir de 1971, eclodem re- voltas em diversas prisdes masculinas. Sdo severamente repri- midas. No governo, elas abrem a porta para uma politica de prisGes humanitarias. Em 1975, em Vigiar e punir, Michel Foucault mostra por que a prisdo é indispensdvel ao funcionamento do Estado € ‘ oo roteger como ela imprime na sociedade a ideia de que, Par P! - J, in Ditos € escritos IV: 57 Michel Foucault, “(Manifesto do ce)” (978 Rio de Janeiro: Estratégia, poder-saber, trad. Vera Lucia Avellat at Forense Universitaria, 2006. P- 2- 97 render ¢ punit. A nogio de perigo, ele esctey, forgar um sentient? de inseguranca que al tifica uma ideologia securitaria, a qual, por sua vez, exacetha a percep¢ao do perigo. eno marca per muito tempo s ideologia estatal € securitaria da proteecd e€a fonte de toda uma série de leis repressivas, 0 eouomente de inseguranca gendo “inversamente proporcional a inseguranga real” s* Na. quele mesmo ano, muitos grupos do MLF se mobilizaram contra atortura eo encarceramento de mulheres bascas pela ditadura franquista e denunciaram as ligagGes entre fascismo, violén- cias, tortura contra as mulheres € sistema carcerario. A prisiio das mulheres é vista como uma das armas do Estado fascista e do Estado patriarcal. Podemos ja afirmar que, nos anos 1970, na Franca como no resto mundo, a prisdo foi um dos campos de luta politica - sobretudo da perspectiva de feministas. Fa- larei mais adiante sobre a corrente abolicionista nos Estados Unidos, que propée a aboli¢ao das prisdes. Os anos 1970 viram emergir um discurso securitario e acompanharam o aparecimento, nas midias, de figuras identi- ficadas inseguranga e a delinquéncia: homens jovens, pobres, estrangeiros, imigrantes, descendentes das imigragdes pos- -coloniais e que viviam em conjuntos habitacionais. O estudo esta, é preciso P contribui para Te! 88 Laurent Mucchielli, apud Simon Barbarit, “Délinquance: des chiffres 4 la baisse mais le sentiment d’insécurité augmente”, 7 dez. 2017. Ver também L. Mucchielli e Emilie Raquet (orgs.), “Victimation et sentiment @'insécurité dans une petite ville de 'agglomération marseillaise”. Les Rapports de ! Observatoire de la Délinquance, n. 10, 2017; e, também de Serene artigo, muito esclarecedor, sobre a evolugdo de uma nor” cipline panera judiciério: “’Impossible Constitution d’une dis- logique en France: cadres constitutionnels, enjeux NOF matifs é i Palas développements de la recherche des années 1880 4 nos jours” riminologie, v.37, n.1,2004 98 «9 sobre “Mulheres € violéncia”, integrantes do io sol ait chegaram ao ponto de Propor « Upo los femininos que sairiam esmutrando on Ts alvez pela aparéncia, e dizendoap® um coloqui violéncias Espeta' macao de comand : acaso, OU escolhidos a0 stuprar’, exat rem quer estup > amente voce té com cara de quem d} SOMO og dizem as mulheres, ‘vocé td com cara de Quem gu, homens rada’”,” 0 cerne do debate é a pertinéncia do rea c — al Por mais que divirjam em diversos Ponto as mulheres que escrevem. em Femmes Travailleuses en Lutte [Mulheres trabalhadoras na luta], Les Cahiers du Fémini. sme [Os cadernos do feminismo], Le Quotidien des Femmes [O didtio das mulheres], Le Torchon Brille, Histoires d’Elles (Historia delas) ou Les Cahiers du Grif [Os cadernos do Grif] compartilham a mesma desconfianga acerca do sistema penal. Recorrer a justiga é admitir um fracasso coletivo do MLF, pois as leis Tepressivas apenas “reforcam, mantém o estupro e a violéncia” Muitas mulheres — advogadas, militantes — exprimem sua Tecusa ou desconforto a respeito da “ilusao legalista”, a instituicao judi- ciéria como “campo do adversdrio por exceléncia”,® escreve a advogada Odile Dhavernas. Em um artigo publicado em 1976, a ecofeminista e fundadora da Frente Homossexual de Acio 62 Histoire d Elles, n. 2, 197. Ver também Jean Bérard, “Dénoncer et (ne Pas) punir les violences sexuelles? Luttes féministes et critiques dela "pression en France de Mai 68 au début des années 1980”. Politix, v.3, 1. 107, 2014. i 3 “Le torchon brie, titulo do jornal francés publicado por mulheres ert entre 1971 1973, é uma expresso utilizada para designar : im fess de querela, uma atmosfera conflituosa. Sentido similar pode - es a expressio “a casa caiu”. [N.1.] Quotidien des Femmes, 25 jun. 1976, 65 Odi . a Phavernas, Droits des femmes, pouvoir des hommes. Paris: Seull tipulados nos julgamentos” Gisele k auma posigao ao quando a: jo de longa duragao, sej. . “Todas ae ee destrutivas e nocivas, ben 0 creme intel porém “ainda assim nao é aceitéy claus tio somente as penas por estupro S}am SuPrimidas @ requ: das”. Com certeza, as feministas oe ‘confrontar coma Iégica repressiva desse aparelho (judicidrio): Com seu sistema carcerario e, principalmente, com sua misoginia Virulenta”, mas o “problema da repressao nao pode ser Prioritariamente ° nosso problema: é a defesa das mulheres estupradas que inte. ressa 4 nossa luta feminista. E é um fato que, nesse Ponto, nossa luta precisa ser constantemente reformulada”.* Na Europa, esses debates no se reduzem a Franca. Na Italia, enquanto uma proposta de lei contrdria as violéncias cometidas contra as mulheres, defendida pela esquerda italiana e por femi- nistas, € discutida,” as feministas da Livraria das Mulheres de Mi- lao julgam “inaceitavel” “que um punhado de mulheres, em nome de todas, [entregue] esse sofrimento particular [as violéncias co- metidas contra as mulheres] as intervengGes e A tutela do Esta- do" A proposta de lei, que privilegia uma “solucao diligente e externa, vinda de cima”, faz das mulheres “um grupo social opri- mido e, portanto, homogéneo e objeto de tutela”, “hoje e sempre esmagadas em uma dependéncia e uma miséria paralisantes”, de anos de prisao es! limi, por sua ve2, adot 70 Cahiers du Féminisme, n. 14, 1980. 71 Choisir, n. 48, 1980, : Ee Des Femmes en mouvement, op, cit. Alei de acesso ao abo, i aprova “ "to foi aprovada em 1978; em 1996, aprovou's uma nova lei sobre 9 estupro. snursen " a Librairie des Femmes de Milan, Ne Crois pas avoir des droits. Bordeau** tions la Tempéte, 2019, p. 116, ree ent sobre a quest30 cARCTITA ENA eVOIUGg py ‘As femocratas socialistes, entre “putofobia" e ideologia securitéria junto de 197, prositutas (como elas se autodenominan 1a Franga,ndo utiliza mais “trabalhadoras do sexo") decide ‘cupar uma igreja em Lyon coma seguinte palavra de orden: “Rosss hos nio querem que a mde va para a prisio"™ Egy protestavam contra a lei que condenava as reincidentes do de- lito de racolage passif* a penas de prisio. As feministas que as apoiavam, admitiam que nem sempre compreendiam esse posicionamento~ sm resumo, elas queriam exercer sua pro- fissdo enquanto nds queriamos, ainda que ni conseguissemos dizer com todas as letras, o desaparecimento dessa mesma pro- fissio™* Em panfletos distribuidos em Lyon, feministas faziam ‘um paralelo entre trabalho sexual e assédio sexual no trabalho 0 ian aie, “Posies minis en 752008: SSierrncion dn alan’ Traal Genre Soin 2.0 2002 rca Chitine Maciel es Feit e la prostiatin (so) ees Pees Universi de Rene, 2016. racolage actif (abordagem ativa), em termos gerais, it eno uot peas en aa pcs a barr €6)° oor um to senile cade emneasio det 7 epi ete pan comin ete eon te? crime, na; abordagem indireta, com “atitudes julgadas sugestivas’ oe 08, le.) Prostituées et féministes en 1975 et 2002", 0p-citsP emt: "ONE 90 Om epg seamaido para manteroempege sete SF oy rio €apends as Tas que as Muay HEA tuirs?N6sesam0s,cOmo das pore iy ee «em uma situacio de prostiuici,obiaiye seo OH eorpo € alma a0 nosso mestee senor payne cin fuga respeiivel nesta socedadedemmy nee modo come, noséculo xi eninisascanpere en ma comparaio ente ua sacineadas gn csravizadas, feminists doséeulo x tsiamun presen, a perda de autonomia no trabalho nacascastiaent trabathadora do sex. Esaterasiocepoceie pr sng entre situagGes que s6 aparentemente si sinus see {uma constante do feminismo universal [Nos anos 1980-90, 38 femocrata Pata Ssiaeas feministas se apropriaram do tema da abi ayes para dar a0 Estado o vocabulirio de um fnisisma ce rio/punitivista e moralista, bem cominfensar ococteico de leis reprssivas em nome da protein das espa prostituigo tha se tornado sinbelo dares dase res. no Ambito do Partido Socata ue ere de Estado carceritio,esceve Lilian Matheue6ra Fane ‘sio adotadas as primeiras leis que’ redefinem a moral pibica’ ere in oi ee Mai ta nace, tape richer SANT Henares nest {teapot Sa ane Coen eas can TRprotatonen anc ean. Sen shia seat voscamente. a questo da prostiule const uy ee ei Noentre grupos com reivindicagdes e inte de aproximacio entre § ae TESSe5 sear mas co PETS COMUNE MMT O pape gee (Caer das mulheres" Aas dante Jo trabalho dp gay cereseas feminists. A pespria palavta “trabalho” €refutady ainda que os contitos Me oT64iC0S QUE ATTAVESSaM Of, ismos no que diz respeito& prostituicdo no correspondar, (diretamente| ana dstingio entre politica conservadora ey. tiea revolucionaria, de todo modo €relevante compreender 4 importincia da contribuigdo das femocratas socialistas para g discutso securitrio de classe €raca. A aboligdo da prostituigag se toma um foco prioritrio. A campanha abolicionista levada 4 frente, nos anos 1980, por “femocratas abolicionistas e abo- licionistas provenientes do campo associativo e militante”” fe que se beneficiava do apoio de ministros socialistas como Lione! Jospin e Ségoléne Royal, conseguiu criar na Assembleia Nacional um consenso entre direita e esquerda. O trabalho sexual se tornou © lugar por exceléncia das novas formas de escravidao e opressdo das mulheres, cuja salvacdo 86 poderia vir de um Estado ocidentale sua policia. O lobby abolicionista €reforgado “no centro do Partido Socialista, nas instncias do feminismo de Estado e no campo associativo™ pela ideol securitéria. Sao os mais vulnerdveis que representam 0 perigo— ‘wabalhadores/s do sexo, pessoas trans, pobres e racializadas~, as eis estio ai para exclu essas pessoas. Em nome da prote- ‘io das mulheres, ofeminismo carcerério abolicionista oferece lum vocabulério ¢ uma ideologia nos quais palavras como Pe 86 rid 87 A, jacauemart eM. whic auaareee “Droits des femmes ou femmes sams 88 tid cutosidade 6HICa SECUT Tact, rng fra oscuro. UMA VEE GVEA Poni (nei arora de STO" alg depuagong ee gem que “a cOMPTA SIVCOR eng aS OAs cia simples COMTEVENGO, Tas um dey, : anio amsuapeimeta grande camparhs gs oe tine» rao debate em torno dalei que visa refer eee » a eforcaratutaconta sistema de prostituiclo € acompanharas pescas ae ee ‘jruem’, 0 feminism do Partido Socata fran prostinuta-vitima —apresentada sb orgs de jovem, inocente, vulnerévele estan tral, Aprostitul Se tos figura da ‘uma muther ei uma gua cen io ameaga toda a sociedadeepanicularmente as mulheres. “O sistema de prosttuigo é noc is mulheres, a todas as mulheres. Ele simboliza sua subottinacioe sua ele acto potencial a0 status de mercadora sexual F,comototas, as outras discriminagbes sexistas, € um obstéclo iguliade social, econdmica e politica’ “Nos admitimos que é antes de tudo, po esa menor es trangeira, sem documento, espancada, humihada,quecorvém agir’,* declarou a deputada da ume [Uniio porum movimento popular] Marie-Louise Fort. Em 2016, deputaia socalista p+ tisiense Danitle Hoftman-Rispal ainda esbravejou:"Nos aban donamos a ideia de que essas mulheres seriam amb cups sicadas das; nfo, elas sao vitimas” * Os relatos de mulheres 89 id, 90 Ibid, ation de 91 Claudi ne Leganinie,“Nos 30 arguments ene ce a ga 92 A. Jacquemart e M. Jaksié, “‘Drots ba servant #3 nowt as acrescentaram a0 discs dV nerabilidade anita, A trae ae ne ae te OEE de ror esoen douse aerrimigranes), culo meter eTA NOCD Serre eel singe oe err eee a eon Cputnerveis como as “suas” mulheres eae trabathadores do s#x0, e558 politica oes Siimenta wm partanismo eimpoe uma concepgso texual con gervara dat nulberesbrances europeias de clase ra Merete do Sndicato Go Trabalho Sexual (Stass) denun- mga dua tenets ata Gamo abolicionismo nos seguintes termos: “Nem aboliciois toe nem regulamentaristas> sindicalistas!,e lutam “contraa ‘rminalizacio do trabalho sexual e pela aplicacio do dircito ‘comum a trabalhadore/as do sexo" +Em2002, Nicolas Sarkozy, entdo ministro do Interior, anun- aque «ale que ele esé preparando sobre seguranga interna incluiré Aisposigbes que autorizam aexpulsio de prostitutas estrangeiras acusadas de racolage(abordageml, uma ver. que o delito de ra- colage pasif (abordagem passva}, retirado do Cédigo Penal em (94 Ver Sabrina Since, “Remasculinizacin del Est che, “Remasculinizacin del Estado y precariedad feriniaads’in Vilecas, Racismo y Colonialidad Barcelona: Desde El Sere Let ese one 95 “Réglementarises, wadrido como “regulament ee ins retee ccc em que pss qu defendem a ele done da prosiuiga fr) o 96 Vern site da stras, 38 Nein site Sas“ aoldonnses, nl rgleentaistes: SY pase emote es rere multas clevadas” soem Hames apenas dept. intra participam, cota Lilian Mathie, pig, shel anual hn arcmin e aos direitos das mulheres, voltaram a acusagio de Tacismy contra aquelas ¢ aqueles que sofrem racismo eo denunciam:; sociedade pos-colonial, marcada por uma culpa mp, ° a Em no assumida, a fobia de ser acusada de racismo por “negar 9 oy,» leva a sacralizagao irracional da diferenga. N6s vivemos, porany, sob a sombra de um “pensamento correto” herdado das reflexije, de “esquerda” e do qual a propria direita é vitima. Foi assim que em nome do respeito aos costumes, nos fizeram passar vergonha quando decidimos denunciar a mutilacao genital e levar casos dessa pratica a justiga. Nesse estado de espirito assustado em que se refugia uma tolerancia em todas as frentes, os islamistas inves- .O drama é, na realidade, que esse tem pesado, sem escrupulos [. “pensamento correto” é um verdadeiro racismo, que nao se enxerg: mais, mas sobrevive e reencarna no antirracismo aparente do “di- reito a diferenca”. O bigotismo islamista, cujo equivalente cristéo nos causaria indignacio, é “bom para os/as magrebinos/as...”.” 0 que vem ocorrendo nessas tltimas décadas é uma reconfiguracio do discurso orientalista que aprisiona as mulheres em uma alter dade e que as obriga a explorar essas representagoes orientalistas segundo as quais “eu sou esta outra que precisa ser salva”."? ation ose uc une 108 “Yvette Roudy: ‘La burqa, c’est une histoire de domi sée. On gomme l'identité des femmes (...). C’est un engre™ loi”. La Croix, 6 nov. 2009. L 109 Anne Vigerie e Anne Zelensky, “Laicardes, pusaue in Monde, 29 maio 2003. ce, iL a que con® 110 Ver a esse respeito o texto de Chandra Talpade Mohanty emit? wn od uma referéncia fundamental; “Under Western BY Scholarship and Colonial Discourses", Feminist Revie 1-35 14 No jnicio dos anos 2000, na Franga, cam pre os “estupros coletivos” e também shes Mididticag 8 roibidos 4s ed tansformam 0s a “cafés @ Dalton espagos hostis 4s brancas ¢ js racia lizadag ne Populares em sio controlados por homens racia ado me Supostamente 002, de Samira Bellil em Dans Venfor i , €stemunho, a ferno dos estupros Coletivos]}, no qual denunen enletivo, 0 siléncio que seu entorno the impés on estupro dajustiga desencadeou uma exagerada publicidad e politica. Nao se trata aqui de questionar Midiatica mas de se voltar para aquilo que as mi dias, eas feministas fizeram dele, bem como de (No in- Seu testemunho, 8 comentadores . ~ observar como 0 medo social em relacao aos bairros pobres ea estigmatizacio de suas populagées foram reforcados. Parao socidlogo Laurent Mucchielli, a imprensa que “ecoa macicamente” esse estupro transforma “essa historia individual” em “simbolo de todo um pais”. As periferias se tornam espacos habitados por “crian- gas-lobo. Dos dez aos quinze anos, elas quebram, roubam, extorquem, as vezes matam. Sao chamadas de ‘novos barba- Tos’”."8 Em 2006, a agéncia de noticias aFP coloca lado ae a dentincia de estupros coletivos e um escandalo Lee nal em Outreau: “Estupros coletivos em Fontenay- i i igos em jorus 111 O site do Comité Laicité République lista ain a a hacionais entre 2016 e 2018: lnicite-republiqne oS eae femmes-.html, L. Mucchielli conta dezolto ae 1 on t © tema dos estupros coletivos {rournante ewe 20 Mucchielli, Le Scandal des “tournantes t le i La Découverte, 200 a ‘Ss “cournantes a 1 jan. 1998) “enquéte sociologique. N21, Mucchielli, Le Scandale de: 13 Titulo da revista Marianne, 57™ “Laurent Mucchielli, Le Scandale des is de Contre-enquéte sociologique”. Questi0” 15 Vo res evocam 0 espectro de Outreau”.’ 4 O “esca ” revela que, daly os morado’ dos estupros coletivos die francesa, como em OUtTAS, O EStUPTO Coletiye, inte re existiu. Apds quarenta anos, 08 estupros Colt, mm novos nem em progressao. Além disso, Tiny ncentragdo nos meios populares ou nos bain na socieda mente sem no parecem nel observa nenhuma Col ros considerados “sensiveis”." Em seu estudo sobre essa midiatizagao, Laurent Mucchielli dj destaque a confusao que se faz entre estupros coletivos e [sli assim como ao fato de que os atos dos rapazes de origem ne grebina ou de pele negra sao excessivamente midiatizados se comparados a outros acontecimentos similares na provinci nos bairros mais favorecidos ou no meio rural. Claire Cosquet mostra que os estupros coletivos sao objeto de uma narrativa moral: 0s jome- listas fingem espanto diante de uma forma radical de amoralidace Essa tiltima é apresentada como intrinsicamente relacionadas Periferias, engajando um mecanismo de extensio na medida e™ om 7 ees ou culpados niio sao apresentados como seres associais incapazes de compreender os principios morals que lean €stupro, mas, ao contrario, como seres excessivamer® sociais, simbolos da socializacdo tipica das periterias eco dos pelo pri Prisina de um determinismo estrito." ‘4 Ibid. 15 Ibid. M6 Claire Cosquer, “LaSocig ae antes comme propia eee sentre tacit ta construction ye len Notes & Documents de Pose" Aper com | -as CO dade Pute: civili lhere a“m dent ideo tali em Col: eriferia se torna a antitese da soci om os criminosos e€ impée silencio ag yi Ela se solidariza vas com represilias e protegendo os es vitimas, ameacando- ade almeja a liberdade das muthe " ies ni soumises [Nem putas n edade, Pradc s 4 £08, Com an a smie- . Con ' Na associacdo Ni em submissas}, o feminism submi: iyilizatorio na Franga adquire uma forca 5 . —s .. pu orga suplem: m 0 Ineres racializadas que apresentam caracteristicas 3 *mulher oriental”, mas com uma dimensio _ aes i is: 5 derna, nunciam 0 machismo de sua comunidade e aderem , pois, auma de! Jogia da integracao. ideo rum exemplo mais recente desse tipo de panico moral: 6, Nadia Remadna alertou que alguns cafés nos bairtos ram proibidos as mulheres.” Pascale Boistard, ex- stado dos Direitos das Mulheres de um governo “HA em nosso territério zo- ” 38 Mulheres jornalistas afé em Sevran iam escutado Para dai em 201 populares ¢! -secretaria de E: socialista, seguiu na mesma linha: nas onde as mulheres niio sao aceitas da France Télé, enviadas para investigar um ¢ identificado como hostil 4 presenga feminina, te! “Vocé ta no 93 aqui, nao té em Paris! Aqui a men- "9 Na reportagem veiculada sta explicava esse estado de as mulheres? Um problema alguém dizer: talidade é outra, € como no ble em hordrio nobre, uma voz sobrep* coisas: “Por que os homens rejeitam es en Frantee €t8 202° ux femmes e FT ace e 2, 2010, Le Plus, 9 8 en France’ edit al ies”, Libs aver 5 aux femmes 417 Nadia Remadna, “Un café inte! Oui, c’est la faute des pouvoirs publi M8 Xavier Frison, “Des cafés invert Hamon relativise..”, Marianne, 1 (le 20° siento P M9 Ibid, [“Bled” é um termo arabe dee aqua eu pau tes nos pafses francéfonos, desiga ciate math : Ao ser empregado por franceseS: Quase sempre exotizante, indica » Bewvit or imigra” pode asst ‘do um lugar’ de tradicao, de cultura, mas também de religiao”.% ° cenitig era perfeito: Nadia Remadna, no cerne da dentincia, uma mulher de origem magrebina e que ja fora de esquerda, mulheres jorna. listas, homens raciali ados, um bairro popular, uma explicacig do, cultura, religido). Mesmo que jornalistas do, aps investigagio, que aquela culturalista (tradi¢ do Bondy Blog tenham mostra informagao era falsa, foi preciso esperar um ano para que um dos responsaveis da France Télé reconhecesse que houvera um “bug”. Mas a imagem entrou no debate publico: uma tradicao, uma cultura e uma religido contrarias aos costumes franceses forjam um espaco marcado pelo género e hostil as mulheres, A diferenga colonial entre o territério da modernidade (a cidade branca) e o das pessoas racializadas (a periferia) volta a cena. A imagem de uma segregacao generificada do espaco publico, produzida exclusivamente por homens da periferia, invisibiliza outras formas de segregacio social e racial. Ao baixarem os olhos, evitarem os olhares, serem discretas, as mulheres vao perdendo, pouco a pouco, seu lugar no espaco pui- blico. E, ao banalizar e aceitar essa forma de violéncia, nds per- mitimos que violéncias ainda mais graves sejam cometidas. N30 fechemos mais os olhos. £ construindo um espaco propicio 4 igualdade dos sexos que poderemos comegar a erradicar violén- cias domésticas, sexuais, morais, fisicas e de muitos outros tipos €, assim, ajudar as vitimas a se expressarem,.™ 120 Louise Hermant, “Cafés interdits aux femmes & Sevran’s un esPO"™ sable de France Télé reconnait un bug”. Les Inrockuptibles, 9 fev. 2088 121 Ibid. 122 Ni Putes ni Soumises, in npns.eu. 18 Encarcerar, punir Recorrer 2 ee penal e, portanto, encoraj manter a ideia de que as “pri , vrajar a detencao é Jes sio necessiri 5 a arias A demi e sao um elemento central para a solucio do ocracia ciais’.”* Mas quem si 7 18 problemas so- 10 aS pessoas ma pessoas mandadas para a prisio? Pois nao é segredo que a prisdo é usada, pelo Estado, sobretud controlar as populagdes nao brancas e pobres, —— = encarcerados/as e seus proximos, atacando a satide a een tal dos/as prisioneiros/as, submetendo-os/as 4 boa vont an violéncia dos agentes carcerarios e da administracao.* “ Constata-se que, .s $30 muito menos encarceradas nos estabeleci- nsiderados prisées (elas contabilizam por arceramento geridos pela adminis- ubmetidas prioritariamente meio da medicalizagao se as mulhere: mentos oficialmente co! volta de 4% nos lugares de enc tragao penitenciaria), por estarem st as de controle social (por jatrizacao, da tomada di semplo, em abrigos co a outras form exagerada, da psiqui pelo setor “social”, por ¢ ), as mulheres nao bra! novamente sub-rep! fe responsabilidade mo 0 Palais de la m documen- incas, precarizadas, sel jal as mu- Femme, resentadas, em espect tos esto aqui lheres transgénero.”* in Democracy: Beyond Empire, PrBOr® and 2005, P- 05+ rcarcérces ECP 423 Angela Davis, Abolitio! Torture. New York: Seven Stories, 424 “En Soutien aux meufs trans it tre les prisons”. Paris-luttes.inf?s 30 jan. 3020 125 Ibid. con" our unr feminist 19 Nas prisoes da fle-de-France, s sd0 majoritariamente estrangei as mulheres ¢ FAS, presas pop motivos relacionados a repressio e A penalizagio direta oy ind). reta de imigrantes sem documentos, do trabalho sexual ou do trafico de entorpecentes. Por exemplo, leis que atacam as con- digdes de trabalho das trabalhadoras do sexo (lei de Penalizacao dos clientes de 2016; diversos decretos contra 0 estacionamento que visam, em sua aplicaco, as TDs [trabalhadoras do sexo]; me- didas “antiabordagem”; futura lei contra o ddio virtual etc.) pre- carizam-nas e permitem que sejam enquadradas em diferentes delitos (a ajuda mtitua entre Tps, notadamente, pode levar a uma condenagao por proxenetismo indireto,”* a autodefesa pode gerar acondenacio por violéncia ou ultraje e rebeliao etc.).”” Nas prisées, as “garotas rom sao tratadas como rapazes, até mesmo de modo mais severo do que eles. [...] E depois prende- rao também as mulheres que transgridem completamente alei do género: as ‘mes mAs’, que foram capazes de causar mala seus filhos”.* Em 1° janeiro de 2019, quase 30% das mulheres presas eram estrangeiras, analfabetas ou nao tinham concluido o ensino primario. Na maior parte dos casos, eram mais velhas do que seus colegas do sexo masculino e, proporcionalmente, 126 Em francés, “proxénétisme de soutien” designa a atitude de que" ajuda ou protege a prostituigdo de outrem, aproveita-se dela, mas se exercer pressio sobre a pessoa prostituida nem organizar a 4 ploragdo. Cf. Diane Lavallée, “La Prostitution: profession ou exp" tion?”. Ethique Publique, v. 5, n. 2, 2003. [N.1.] 127 “En Soutien aux meufs”, op. cit. 128 Laure Anelli, “Les Femmes épargnées par la justice?” International des Prisons - Section Frangaise, 28 jan, 2020. Observatoire 120 mais numerosas en mens).”” Entre eg, originarias da que, vivendo em gre n pri 10 Proviséri; (39% contra aay de ho- 8 detentas, « Mutitas sag ‘mulas’ outros tn ande prec: »Mulheres na ou de es da América do Sul ariedade, transportar drogas, mui AS Veze: nanceira”."° Ene cilmente esquecidas, pois, + foram constrangidas 4 Sem troca de remuneracao f. € invisiveis, ess ‘aS mulheres si0 fa- como mulheres, el, las supostamente seriam as garantidoras da ordem moral” Prossegue a socidloga As detentas sofrem, entao, de certo modo, uma dupla estigmatiza- ao: elas nao apenas infringiram a lei, mas também transgrediram as normas ligadas ao seu sexo. O sentimento de vergonha é mais forte entre as mulheres, e as pessoas que lhes sio proximas fre- quentemente lhes viram as costas.™ i édi cia a imigrantes iticas antiestrangeiros/as, o assédio da policia a imig é = ao brancas de modo geral atin- documentos e a pessoas n§o bra ger ke vem também as mulheres trans por via do “acesso imp, ssi oabal i Ambito legal, e pelas deportagdes”. Ambito legal, 0 e moradia, no gal, € is a , ee inismo decolonial antirracista ndo pode de “a ee regras que “as que “oculta 0 jogo dos poderosos com regres a ue ‘on ntes, mas que, u a i e permane! . ae enos maci¢as grate — ganham impunidade ou, a0 mee ae etento, adas, . seletiva”."3 A prisdo nao afeta apenas a el A rs, n. 106, ez. 2019- vi ans-Deho 429 Id,,“Femmes détenues: les oubliées”. Dede 130 Ibid. Pere 131 Corinne Rostaing, apud L. ce 132 L. Anelli, “Femmes détenues: “i Grswory 5 133 Jacques Lesage de La Haye, apie Paris: Eltion Petite histoire des “prisons modeles”. Pa P. 192, 5°, op. cit. res détenues”, OP: © 1s”, op.cit. Ie, L ie i Ty Amsterdam, 201 pie carcérale 121 Feta a desmanirao @AMENI. Oo, ose sesame gee psa ladies raconass oan distancia ao isolamento das prisbes, s sala de visite muna an este edt. Apis," deh mulheres" © no pode ser reformada. A prisio modelg, : torcamene gta “prime dsposio de educa normalizasdo da massa", corresponde hoje a uma maior ime bricagio entre neoconservadorismo e neoliberalismo. Angels Davis, pora-vordoaboticonismo penal expicapor que reforms nunca vo muito lnge: E aqueles/as dentre nés que se idemtificam como abolicionstas _enais, em oposicéo a quem defende o reformismo penal, res- saltam que as reformas muitas vezes criam situagGes nas quai 0 encarceramento de massa se toma ainda mais enraizado;porisso,

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