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oop HONCRARENTALam nium ADOCAO HOMOPARENTAL: um direito e uma escolha Marcos Antonio Alves de Lima! Maria Rosalia de Azevedo Correia’ Mayara Tairini Vergasta Mutti* Mirela Louise Bispo Sales* RESUMO Esse estudo teve por objetivo verificar 0 entendimento de homossexuais acerca da adogéo por casais do mesmo sexo. Trata-se de uma pesquisa exploratéria realizada por alunos do curso de Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa e esté baseada nos dados apresentados na disciplina de Psicologia Social. Participaram nove homossexuais, sendo cinco solteiros e dois casais, dos quais um deles jé teve a experiéncia de adotar. Foi utilizado um roteiro de entrevista composto por quatorze questies abertas Revelaram que as expectativas dos entrevistados sao positivas em relacio & adogao de criancas ¢ construgdo de familia. O casal que jé adotou, inclusive, relata que esid feliz com a experiéncia. Sendo a aceitagdo da homoparentalidade familiar uma questdo nova para a sociedade, verificou-se que ter um filho e cuidar dele é uma expectativa dos ‘homossexuais e faz parte de uma luta para ter seus direitos sociais reconhecidos. PALAVRAS-CHAVE: Adocao. Homoparentalidade. Familia. Psicologia Social. 'Graduando de Psicologia pela Faculdade Ruy Barbosa | DeVry Brasil - E-mail: mareos-tki@hotmail.com, *Psicdloga, Mestra e Doutora em Educag0, Professora do curso de graduagao e coordenadora dos cursos de Pos-Graduagio em Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa | DeVry Brasil - E-mail: meorreia@frb.edu-b. °Graduanda de Psicologia pela Faculdade Ruy Barbosa | DeVry Brasil - E-mail: m.airine@lnotmal.com. ‘Graduanda de Psicologia pela Faculdade Ruy Barbosa | DeVry Brasil - E-mail: mirela_louise@ hotmail.com. Clete, V.15,N. 90, Frans, anu, 2018 ABSTRACT This study aimed to verify the understanding about the gay adoption by same-sex couples. This is an exploratory research conducted by students of Ruy Barbosa Psycholog’s Faculty is based on the data presented in the discipline of Social Psychology. Nine homosexuals participated, five singles and two couples, one of whom had the experience of adopting. An interview script consisting of fourteen open-ended questions was used. Revealed that expectations of respondents are positive about the adoption of children and family building. The couple who have adopted, including reports that are happy with the experience. Since the acceptance of family homoparenthood a new question for society, it was found that having a child and care for itis an expectation of homosexuals and is part of a struggle to have their social rights recognized. KEY WORDS: Adoption. Homoparenthood. Family. Social Psychology. oop HONCRARENTALam nium INTRODUCAO A luta pelo respeito aos Direitos Humanos tem realizado grandes conquistas. O objetivo da Declaragao Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia Geral das Nagdes Unidas em 10 de dezembro de 1948, é que toda pessoa humana seja atendida e respeitada como tal. Na Constituigdo Federal Brasileira de 1988 foram consagrados os prinefpios da dignidade humana, dentre eles, 0 da liberdade ¢ da igualdade in artigo 5°, caput 1. E, 0 artigo 3° inciso IV diz que o objetivo fundamental da Repiblica & “promover o bem de todos sem preconceito de origem, raga, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminagao.” Apesar de serem abrangentes, esses direitos, por si $6, 44 garantem o bem de todos. Diante das transformagdes na sociedade contempordnea, surgiram novos arranjos sociais, dentre eles, as novas configuragdes familiares constituidas a partir de varias formas de relagdes amorosas entre as pessoas, incluindo a orientagao sexual. Nesse contexto, a sociedade se divide em diversas visdes e posicionamentos, embasados em valores construidos socialmente e, mesmo com 0 preconceito ¢ as resisténcias em aceitar as diferengas, alguns conceitos, como os de familia e parentalidade, esto sendo postos em xeque. ‘A possibilidade de se tratar temas que outrora eram tabus, a maior aceitagto da diferenca, © a luta por direitos humanos tornaram possiveis discusses como a adogio de crianga por casais homossexuais. Sobre a adogdo por pessoas de mesmo sexo, a declaragao dos Direitos Humanos é clara: CCumpresalientar que nio sera reconhecida a adogdo por ambos os parceitos,jé aque ni se reconhece a unido estivel entre eles, A adogto € feita em nome de tum dos requerentes, que seri considerado solteiro. (CDH, 2005, p.13) No Brasil, a legalizagio da unio civil por pessoas do mesmo sexo foi reconhecida em 2011. E 0 casamento civil, por esta modalidade de unio afetiva, foi reconhecida pelo colegiado do Suprimo Tribunal Federal (STF) em 2012, por compreender que nao deve haver exclusio, pois orientagdo sexual nfo faz aumentar ou diminuir a dignidade da pessoa humana, Nessa perspectiva, o STF tem garantido 0 direito dos homossexuais. Considerando que 0 texto do CDH supracitado fora publicado em 2005, jé nao ha o que impega a adogao € a possibilidade de ter filhos em unido homoparental, que, sendo legalmente reconhecida, é considerada familia e tem o dispositive constitucional em sua defesa, Porém, o grande empecilho para que este direito seja contemplado, gira em tomo do texto da propria Constituigao Federal de 1988, no § 3°, art. 226, que afirma: “para efeito da protegdo do Estado, é reconhecida a unido estivel entre homem e mulher como entidade familiar.” Embora seja esta a interpretagio dada por uma grande maioria dos ‘magistrados, a jurisprudéncia tem sido favorivel, em alguns casos, aos adotantes. Parece que persistem os que analisam a adogdo por pessoas do mesmo sexo sob uma perspectiva conservadora, Clete, V.15,N. 90, Frans, anu, 2018 Segundo Strauss (1956), apud Roudinesco (2003), a vida familiar apresenta-se em praticamente todas as sociedades humanas, mesmo naquelas cujos habitos sexuais € educativos so muito distantes do nosso. A familia pressupde lagos ¢ seu conceito esti estreitamente vinculado passagem de natureza & cultura, A ideia de familia nem sempre foi a mesma. A divisto de papéis nessa instituigo tem se transformado ao longo dos tempos. A mae ¢ o pai tiveram papeis diferentes no curso da histéria e estes sto frutos de construgdes sociais. A fungio parental inicialmente esteve ligada A visio biologicista de reprodugio. (BANDINTER, 1986) Essa ideia perdura até hoje ¢ serve de argumento para as pessoas que vio de cencontto a legalizacdo da adogdo por casais homoafetivos. Entretanto, os modelos de maternidade e paternidade so produtos sociais e, assim como toda a sociedade, so dinamicos. A familia era centralizada no poder patriarcal e passou por muitas transformagées até entao. A partir do periodo Neolitico’ a paternidade passou a ser simbolizada e ter sentido para além da reprodugao. Deixa de ser mera procriacdo para tornar-se sinénimo de protegio e subsisténcia. A sociedade, apesar de matrilinear®, subjugava a mulher aos poderes do irmao matemo mais velho (SETTON, 2004 apud PIZZOLATTO, 2009). Ainda nese periodo ha um declinio do poder feminino (BANDINTER, 1986). Durante as guetras ha uma ascensio do homem ao poder, € os conquistadores tinham direito & apropriagao das mulheres. Nas sociedades mattilineares havia a ideia de paternidade social, o que se esvai dando lugar a paternidade biol6gica. A onipoténcia do pai substitui a mae ele detém o poder proctiador. Os mitos da criagdo do mundo contribuiram para isso. O pai detém o poder em relagdo a crianga e a mulher (BANDINTER, 1986, 105). Nesse contexto & afirmada a origem do pattiarcado ocidental. Valores so construidos a partir de teorizagdes que afirmam ¢ fineam um paradigma, 0 qual deve ser seguido, € que for divergente soa como estranho até como patologia social, fazendo com que o patriarcado se estabelecesse e se tornasse modelo familiar. Trindade (1998) esclarece que Rotundo identifica trés modelos de paternidade, o primeiro, a paternidade patriarcal exercida entre os séculos XVII a XIX, se configurava como um sistema social e econdmico agricola. A familia era considerada unidade priméria, 0 pai tinha © poder total sobre os filhos baseado no controle que exercia sobre a propriedade. Apesar de ter predominado até o inicio do século XIX, esse modelo entra em declinio na metade do século XVIII com a mudanga de valores e novas condigdes de vida da sociedade, “perioda pré-histérico que se inicia por volta de 8.000 A.C, caracterizado pelo surgimento da peda polida ce uso de instrumentos. Disponivel em: htp/profimarcopadus.netperinco. pa). Forma segundo a qual a autoridade tem como referéncia, vinculos familiares que passam pelas mulheres. (ROUDINESCO, 2003) oop HONCRARENTALam nium Surge 0 que se considera paternidade moderna, junto com o surgimento da sociedade industrial. Ha a criagdo de uma nova unidade econdmica, a fabrica, que possibilita 0 aparecimento da classe média. © aumento demogrifico diminuiu a posse de terras e, assim, os pais perderam o controle sobre o futuro dos seus filhos. Dessa forma, flexibilizou-se uma autoridade rigida, Ha uma distincia fisica entre pai ¢ filho, surgindo a ideia de que a mulher é mais tema e espiritual que o homem no trato com 0s filhos. Como consequéncia, atribuiu-se & mulher uma responsabilidade quase absoluta sobre o desenvolvimento do filho, mantendo 0 pai na funeio de provedor. Rotundo apud Trindade (1998), ainda se refere & patemidade andrégina ’como terceiro ‘modelo de paternidade, que emerge na década de 70 do século XX. ‘A insergo da mulher no mercado de trabalho, a grande quantidade de divéreios, 0 ‘movimento feminista, dentre outros, foram forgas que impulsionaram mudancas no estilo de vida e que influenciaram nas transformagdes dos papéis sociais exercidos em famil Ha um estilo de paternidade baseado na igualdade de responsabilidades em relagdo aos filhos e fithas, ¢ uma valorizagao das expressdes emocionais do pai, num movimento de reconhecer ¢ incluir a afetividade nas relagdes pai-filhos, antes valorizadas apenas como atributo da maternidade. ‘As transformagdes sociais, ao longo da histéria, foram causa, consequéncia ou aconteceram simultaneamente 4 ruptura de paradigmas e tabus. O divércio, por exemplo, no inicio da sua luta para ser reconhecido era motivo de constrangimento ¢ de temor. As ‘mulheres divorciadas temiam ser rechacadas pela sociedade. © preconceito em relagio a isso foi dissolvido com o tempo. O estranhamento do que ¢ novo, singular, € sempre um pereurso da sociedade para a sua aceitagao. ‘A homossexualidade, por sua vez, nio & novidade na Histéria da humanidade ocidental direito dos homossexuais também foi diverso a0 longo da Histéria. De acordo com Pereira Finior ef al. (2010), na antiguidade clissica a pritica homossexual era comum, especialmente em Atenas. Ainda assim, havia criticas a essa pritica. Em Roma, antes do advento do cristianismo, a homossexualidade era comum € 0 preconceito se dava em relagio ao homem apresentar trejeitos. Ou seja, as pessoas podiam manter relagdes sexuais diversas, mas precisavam assumir socialmente os papéis sociais que Ihes eram designados. Durante o periodo teocéntrico medieval prevalece a ideia de que o sexo tem por finalidade iinica a procriagdo, e que a abstinéncia é 0 melhor caminho para o homem chegar a Deus Santo Agostinho afirma que: Pecados contra a natureza so abomindveis, como ocorreu em Sodoma, ¢ estio passiveis de punigdo. (RICHARDS, 1993). Fica explicito na citagao do filésofo religioso que além de abomindvel e antinatural, a homossexualidade era atribuida a sodomia, prética condenada pela Igreja. Até hoje perduram essas associagdes, Estilo em que a patemidade é exercida de forma igualitiria, nas responsabilidades ¢ na expresso do afeto, (Rotundo apud Trindade, 1998) Clete, V.15,N. 90, Frans, anu, 2018 € mesmo havendo ruptura de tabus, a ideia de anormal ainda esté impregnada na sociedade sobre a relagdo afetivo e sexual entre pessoas do mesmo sexo. Grande parte da intolerdncia esta embasada ainda no pensamento do pecado e da anormalidade. Os homossexuais softeram perseguigao também na época da Santa Inquisi¢ao ¢ no Brasil colonial ndo foi diferente. O casamento era importante para a manutengdo do Estado, tinha por finalidade a procriagdo © povoamento da colénia. Akém disso, a mulher era adestrada ao lar. Como afirma MOTT (1986), a sodomia entre mulheres era comum nese periodo, porém era condenada, Entretanto, as investigagdes eram mais fortes em relagdo & homossexualidade masculina cuja causa era atribuida a pequena quantidade de ‘mulheres na colonia. Assim, foram enviadas mais mulheres ao Brasil com a finalidade de erradicar a pritica que era comum tanto entre os senhores quanto entre os eseravos africanos. Durante a Renascenca, a prética homossexual toma-se menos mal vista. No século das Iuzes hé um retomo aos bons costumes, e a ideia de que a homossexualidade é um mau uso do corpo, uma violagdo dele. (MEER, 1989 apud MOITA, 2001) Durante o século XVII, sob influéncia do pensamento de Montesquieu, Voltaire, dentre outros fildsofos, a pratica homosexual é separada do direito penal, tornando-se apenas funcao da Igreja dar conta do comportamento considerado pecado. Dessa forma, a perseguigdo perde forga jé que 0s homossexuais ndo cometem crime contra o Estado, apenas crime de ordem religiosa Nos séculos XIX e XX com o advento da ciéncia, a homossexualidade & explicada através do biologicismo. A medicina justifica como doenga. Aparecem teorias que explicam as possiveis causas da homossexualidade e discute-se a sua cura, Esse mito ainda persiste no século XI. Hé mengdes de se tratar a homossexualidade como uma doenga, como algo antinatural, contriria & continuidade da espécie humana, visto que impossibilita a procriagdo, Diante de tantos posicionamentos, a Psicologia se coloca de uma forma coerente, mostrando que o diferente nio ¢ patoldgico, buscando romper com os lacos preconceituosos que ainda persistem na sociedade. A partir de suas diversas perspectivas tedricas, que dio conta do desenvolvimento da crianga, entende que a orientagdo sexual dos pais nao determina a dos filhos. E as fungdes de pai e mae vao além da figura cconereta de um homem ¢ uma mulher. Loulé possivel afirmarmos que todos nés somos adotados: & a partir de um processo de “adogo simbliea” que os seres humanos sio “batizadas” como “pai”, “mic” e “filho(a)” e, a0 se reconhecerem assim (mesmo quando siravessados por “confltes familiares"), eles se tomam, no dia-a-dia de suas existéncias, efetivamente “pai”, “me” e “filhos”. (LAIA, 2008. p. 31), Trata-se aqui da simbolizagao das figuras do pai e da mie. Ser pai e mae é um proceso construido e em casos de adogio, escolhido e plangjado, ditecionado pela vontade de ter um filho, de cuidar e de dar oportunidade a essa crianga de crescer em um lar, ter oop HONCRARENTALam nium educagiio de qualidade © poder constituir vinculos duradouros, além de toda a possibilidade de afeto, atengdo e carinho que uma crianga precisa para se desenvolver. presente estudo sobre “Adogdo Homoparental: um direito e uma escolha” surgiu a partir da atividade didética de realizar uma pesquisa exploratéria na disciplina “Psicologia Social, matrizes” do 4* semestre do curso de Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa, sobre uma temitica relevante no escopo de temas da Psicologia Social. A leitura do texto “Adogo de criangas por casais homoafetivos: um estudo comparativo entre universitirios de Direito e de Psicologia”, impulsionou a elaboragio desta pesquisa direcionada as pessoas que vivenciam essa realidade. Esta, teve como objetivo conhecer 6 posicionamentos ¢ as expectativas de homossexuais em relagdo a possibilidade de vir a adotar uma crianga e exercitar a matemidade © a paternidade em uma relagdo homoafetiva. E, além disso, escutou um casal homoatetivo que jé vive a experiéneia de adogao. 2 METODOS Trata-se de uma pesquisa exploratéria de cunho qualitativo que permite uma aproximagao com o tema € pde 0 pesquisador em contato com um problema ainda inexplorado por ele. Permite uma relagdo mais flexivel entre pesquisador e entrevistado lida com questdes mais subjetivas. (DIAS, 2000). Participaram nove sujeitos, que se declararam homossexuais sendo sete do sexo masculino e dois do sexo feminino, ¢ dentte cles, cinco eram solteiros e quatro formavam dois casais. A escolha dos sujeitos foi feita aleatoriamente mediante consulta, levando-se em conta a disponibilidade em participar ¢ sua orientagdo sexual. Um dos pesquisadores esteve na instituigo Grupo Gay da Bahia, onde conseguiu uma das entrevistas e pode conhecer mais sobre 0 universo homossexual Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionério com quatorze perguntas, que posteriormente, na andlise dos resultados, foram reagrupadas em trés categorias de analise, a saber: ter filhos, criar filhos e experiéncia com os filhos. Os questionrios foram respondidos na presenga do pesquisador, e suas respostas foram analisadas confrontando-as com a literatura consultada sobre o tema. 3 RESULTADOS E DISCUSSAO 3.1 TER FILHOS, Com relagdo a expectativa de ter filhos, a maioria dos entrevistados posiciona-se favoravelmente, referindo-se a esse fato como a realizagio de um sonho, uma bengaio divina, como a possibilidade de se envolver completamente numa relagio de amor, como pode-se perceber no relato: Clete, V.15,N. 90, Frans, anu, 2018 ‘erm iho para mim & a eliza de um sono. & algo dvino ue no tem explcago. poder cmpartihar momentos perteis,& poder tans amor ‘erdadio, carnho,afeto, steno. Eeriar experiencia e pratcar 0 mesmo com a maior forga de vontade, Enfim, ter um filho pra mim ¢ poder agradecer ‘Deus todos os dias, por ese signified innit Embora haja 0 desejo de ter um fitho pela maioria dos sujeitos da pesqui ainda nio & concedido aos casais homoafetivos de forma geral. A despeito da legislagio da Adogao ter sido atualizada em 2009, na qual é citado no parigrafo 2 do artigo 42: “§ 2° Para adogio conjunta, é indispensivel que os adotantes sejam casados civilmente ou ‘mantenham unido estivel, comprovada a estabilidade da familia.” (BRASIL, 2009), € haja sido publicada ementa a este respeito, a jurisprudéncia reconhece este direito como fundamentado nos direitos da pessoa humana, e como de grande beneficio para as criangas adotadas. A nao observancia deste direito por algumas jurisprudéncias embasam-se no artigo da Constituigao Federal que reconhece a unio heterossexual como familia, Porém nao ha artigo afirmando que a unido homoatetiva seja inconstitucional. O que dé margem a diversas interpretagdes e exercicios do poder juridico. Entre os entrevistados, ha aqueles que nao demonstraram interesse em adogo, um por no gostar de criangas € 0 outro por achar que ter filhos € uma questio de escolha individual, independente da orientagio sexual. “Existem casais que ndo querem assim como os heterossexuais.” Nao ha lei especifiea para os casos de adogio homoparental, entretanto ndo ha porque negar esse direito, visto que é uma parte do direito a igualdade, disposto na Constituigdo. A auséneia de lei especifica sobre o tema nao implica {--Juséncia de ireito, ois exstem mecanismos para sup as lacunas legis, aplicand-se aos casos conereos a analoga, os costumes eos pinlpios gras 4 direito, em consonancia com os presctosconsttcionais (rt. 4 da LICC) (NAZARE, 2008p. 42), s entrevistados que demonstraram interesse em ter filhos, relatam a necessidade de uma preparagdo, como ¢ 0 caso do depoimento a seguir: FFinanceiro, para poder dar uma vida digna para ele sem deixar faltar nada, Mas importante é a estrutura psicolégica, pois os pais so responsiveis pela Vida do filho, educagao e afeto e sem uma estrutura fotalecida, sem base, nada disso acontece. relato do entrevistado expde a preocupagio em disponibilizar ao filho tudo o que uma crianga necessita para se desenvolver e viver bem. Todos os entrevistados mostraram-se cientes das responsabilidades que uma pessoa deve ter quando se trata de ter um filho. Como podemos verificar no depoimento a seguir, hd um cuidado com o desenvolvimento da crianga e a consciéncia da importincia da familia para a formago do individuo: “Requer muita atengio ao crescimento, todo o cuidado. E um processo que sé a familia pode classificar o gra de importancia.” oop HONCRARENTALam nium ‘A maioria dos entrevistados concorda que as questdes psicolégicas, financeiras ¢ de infiaestrutura so necessérias quando uma familia se prepara para ter um filho. A preparagaio psicoligica entra em discussao quando se reporta as perspectivas médicas a respeito de normalidade ¢ da propria ideia do senso comum de que 0 normal deve obedecer aos padres vigentes No entanto, condigdes psicoldgicas nao tém relago com a homossexualidade, pois essa forma de viver a sexualidade nao caracteriza patologia, encontra-se a homossexualidade em pessoas que no exibem nenhum desvio grave de norma, do mesmo modo, encontramo-la em pessoas eficientes ¢ que inclusive se destacam por um desenvolvimento intelectual ¢ uma cultura ética particularmente elevados. (FREUD. 1977). preconceito e a discriminacdo contra homossexuais ainda se fazem perceber mesmo que sob um falso discurso de aceitagao ¢ flexibilidade e a falta de tolerancia em relagao aos homossexuais é cultural e socialmente construida, Segundo Foucault (1988), 0 modo de vida homossexual é muito mais perturbador do que © ato sexual em si, visto que nao se pode basear em um modo de vida institucionalizado, sendo, portant, a diferenga © suas consequéncias sociais pontuais na promogao do preconceito e intolerincia a0 novo, ao diverso. Foucault (1988) afirma ainda que a aceitagao ea luta pelos direitos homossexuais niio se referem apenas a tolerdncia por uma nova forma de telagao sexual e, sim, a criagao de uma nova cultura € novos modos de vida, o que é inquietante para a sociedade jé hhierarquizada ¢ patriarcal. O referido filésofo ainda afirma que se trata do reconhecimento das novas configuragdes e dos beneficios inerentes aos ja padronizados ‘modos de vida, que seriam parentesco e casamento. Sobre o preconceito, os resultados mostram o desapontamento dos entrevistados © sua perspectiva sobre o assunto, Um deles, inclusive, afirma: Preconceito $6 existe para aquelas pessoas mal de espirto, Nao vejo preconceito em relago a casais homoafetivos adotar ume erianga, O mesmo {em a capacidade de dar carinho, amor, aten¢o, como qualquer outro casal de hetero. Até mesmo com uma melhor esiruura Em sua obra O Segundo Sexo: fatos e mitos, Simone de Beauvoir (1970) discute 0 mito biolbgico, dentre outros, como causas de esteredtipos e preconceito em relago & mulher. Aqui se pode fazer analogia & condigio homossexual. Os mitos biolégico, médico, religioso, por muito tempo, sustentaram o preconceito ¢ a ideia de que aquilo que é “desviante” dos padries vigentes é antinatural, e obrigatoriamente imoral. Ha uma falsa ideia de que apenas a relagdo homossexual ¢ problematica e pode acarretar danos & vida psiquica de uma crianea que esteja sob responsabilidade deste casal. Ha dificuldades de relacionamento em todas as formas de orientago sexual e em todos os setores sociais. A autora afirma na segunda parte do seu livro que a homossexualidade ndo é em si uma Clete, V.15,N. 90, Frans, anu, 2018 perversiio, © como toda conduta humana pode acarretar tanto dissabores como experigncias fecundas, Adotar um filho é um exemplo de como uma relagao homoafetiva pode beneficiar outrem. Finalmente, uma sociedade no é uma espécie: nela a espécie realiza-se como ‘existéncia; transcende-se para 0 mundo e para 0 futuro; seus eostumes nto se ddeduzem da biologia; os individuos nunca sio abandonados & sua natureza; obedecem a essa seyunda natureza que & 0 costume e na qual se refletem os descjos e os temores que traduzem sua atitude ontolégica, Nao é enquanto corpo, & enquanto corpos submetides tabus, a leis que © sujito toma ‘conscigneia de si mesmo e se realiza: & em nome de eertos valores que ele se valoriza. (BEAUVOIR, 1970, p.$6) 3.2 CRIAR FILHOS Na categoria criar filhos, algumas perguntas abordavam a questo de como orientar as criangas em relagio ao preconceito. Os entrevistados consideraram esta uma questio muito deticada ¢ relataram que a sinceridade e 0 respeito as diferencas & imprescindivel para enfrentar 0 preconceito. ‘Um depoente afirma que: muito delicads essa parte, mas vou ser bastante sincero e aberto com mew fitho, quando ele ating certa idade vou falar sobre os pais dele e vou orienti- loa ser heterossexual, sendo que vai ficar no seu critério sua orientagio. Enquanto outro assegura que: Primeito orientaria o valor do respeito,seja negro, pobre, heterossexual, gay, trans, o que for. E ensinaria a jamais abaixar a cabesa. O que importa é o bem que se faz as pessoas, e isso ndo é qualidade de nenhuma orientaga0, mas sim de ser humano digno e honest ‘Todos os entrevistados concordam com a importincia da educagdo ensinando os filhos a aceitar a diferenga e encarar todas as situagdes com dignidade. A ctianga, segundo Duarte ¢ Gulassa in Mahoney et af. (2009), inicia sua vida em total dependéncia do meio social que a rodeia, Inicialmente necesita dos seus cuidadores para que possam interpretar e significar 0 mundo. Dessa forma, a crianga percebe o mundo € ica a partir de valores sociais e culturais impostos ou apresentados a ela. Os ‘mediadores sero os pais. Em uma relago dialética, 0 eu e o outro internalizados serio parceiros constitutivos da vida psiquica. Essa dualidade interna apresenta-se de forma complementar ¢ antagdnica, como dois termos que nao poderiam existir um sem o outro (.) esse estranho essencial que € 0 outro (MAHONEY; ALMEIDA, 2000, p. 20). Dessa forma, o outro é fundamental mediador entre a erianga e mundo, sendo também quem significa 0 extemo para que a crianca intemalize. oop HONCRARENTALam nium Considerando que criar e educar um filho envolve papeis designados para cada membro do grupo familiar, foi perguntado aos sujeitos como os papeis seriam divididos por cada uum dos conjugues no caso de uma adogio. As respostas foram diversas. Os sujeitos afirmam majoritariamente que os papeis devem ser divididos de forma igualitéria, democritica onde deve haver um auxilio miituo com uma finalidade comum, a educagao da crianga ¢ o seu desenvolvimento. Dessa forma, a crianga também teria sua fungdo nesta familia. Um dos sujeitos, inclusive, se posiciona claramente a esse respeito: “E preciso que cada um faga sua parte, Iria ser dividido de forma igual. Cada um ia cumprir nna sua hora certa.” papel desempenhado por cada sujeito dependeria da sua funcdo dentro daquela familia Familia essa que se coloca de forma dindmica e democratica, uma familia livre de hhierarquias. Grande parte das pessoas que niio aceitam a criagio de filhos por homossexuais argumenta que a sexualidade dos pais pode influenciar as criangas. Os entrevistados discordam dessa posico © argumentam que, assim como casais heterossexuais. ndo influenciam a orientacdo sexual dos filhos, os homoafetivos também nao determinardo a orientacdo sexual dos seus filhos. Os depoimentos a seguir demonstram que os entrevistados ndo acreditam na determinagao da sexualidade por apenas um fator, por causa da sexualidade dos pais, por exemplo: “Se pensar assim fosse verdade, 0 casal hetero também influenciaria na orientagdo sexual de seu filho. Sendo assim, nao existiria gay! Orientagdo sexual nao é uma opgao.” A vivéncia do preconceito pela condigio homosexual também tem um peso nessa questi: Muitos easais optam por nio ter filho, justamente por conta do preconceito. Nao quero que meu fitho passe pelo que passei. Acho que além de ser idual & natural. Como explicar fills gays de casal heterossexual efilho hetero de casal gay? Como afirma Chaves (2008) apud Uziel et al. (2007), 0 entendimento de que a homossexualidade por si s6 possa ser danosa, colocando-a na categoria de risco para a ctianga, nao encontra respaldo no referencial tedrico pesquisado e ficou evidenciado que © conceito de dano depende do que é culturalmente construido como tal. 3.3 EXPERIENCIA COM FILHOS, ‘Um dos casais entrevistados ja vivencia a experiéncia de ter uma filha, muito embora apenas uma das conjugues haja adotado. Segundo elas, sua filha faz parte de um sonho de constituir uma familia legal e estivel. Antes da adogdo todas as. responsabilidades foram ponderadas, assim como acontece com casais heterossexuais que sabem das responsabilidades que um filho demanda dos pais. Clete, V.15,N. 90, Frans, anu, 2018 ‘A decisdo acontoceu em convergéncia de sonhos ¢ planos de ter uma familia © ter um filho, Nés conversamos bastante sobre todas as possibilidades, responsabilidades, como todo casal até mesmo hetero faria ao planejar ter um fio. Para elas, a experiéncia tem atendido a suas expectativas como demonstram em suas repostas. “A experigncia é maravilhosa! damos afeto, educamos e respeitamos 0 seu desenvolvimento, Nossa filha enche de alegria a nossa casa!” Quanto a divisio de papeis na educagdo da filha as depoentes afirmam que isso foi acontecendo no préprio convivio, na divisdo de tarefas, no exercicio da autoridade, como pode-se verificar no depoimento: “Ela accita ¢ nao especula sobre isso. Ela chama uma de nds de mae e a outra de tia. Ela chamou assim preferimos nao mudar a sua visao sobre nossos papéis.’ Isso demonstra que hé respeito 4 singularidade da crianga na relagio familiar, sem imposigdes, preconceito e posigdes estereotipadas: Para nés duas como um casal é a realizagdo de um sono de ser mie, de poder educar, dar afeto. Ter um filho & estar ciente das nossas responsabilidades para com a nossa filha e respeitar sua singulardade. As transformagdes na configuracdo familiar so um fato © dentro, da propria familia heterossexual jé nao hd a mesma forma de divisio de papéis. E necessério que a sociedade compreenda e aceite as mudangas para que o direito de todos seja respeitado. Como afirma Roudinesco (2003), nossa sociedade deve aceitar a familia homoparental como tal, e nao tentar enquadré-la dentro de uma normalidade imposta, Ela deve conceder-Ihes os mesmos direitos. Muitas sdo os casos de familias heterossextais em que 1 fungao patema e matema nao sdo vivenciadas de uma forma linear. Muitos sao os pais que exercem fungdo mais maternal e mies que assumem papel de provedoras. Nem por isso so rechagadas estas familias ou enxergadas como anormais. CONCLUSAO carter laico do Estado pressupde a perda de controle da religido sobre as leis. Embora 6 direito a crenga seja constitucional, ele deve estar presente até onde os direitos basicos no sejam violados, dentre eles 0 direito & igualdade e & liberdade. O reconhecimento da unido civil igualitiria gerou discussdes e por ser constitucional foi estabelecido. Da ‘mesma forma a legalizago da adog3o homoparental deve ser considerada a partir do seu ireito constitucional, tanto no que tange aos homossexuais que tém direito & formagio de familia desde 2011, quanto a erianga que, por ser adotada, tem direito & educacio protecao, Nesse contexto, a Psicologia se dispoe a participar da ruptura da discriminagao © do preconceito, mostrando que a homossexualidade nao constitu patologia e nao influencia na formagdo e desenvolvimento da crianga, oop HONCRARENTALam nium Buscou-se com esse trabalho, a partir do levantamento bibliografico sobre familia como instituigdo cultural, da homossexualidade como condigao do sujeito e das retaliagdes que sofreu ao longo da histéria, até & contemporaneidade, na qual o Estado é democratico & laico, compreender os rumos que a instituicdo familiar tomou ao longo do tempo demonstrar que a normatividade da familia tradicional precisa ser revista, para que as ‘novas configuragdes se fagam existir de maneira igualitéria, ‘A partir da andlise dos depoimentos de pessoas que vivenciam a homossexualidade e, verificando suas expectativas e percepgdes, sobre a adogio homoparental, pode-se concluir que esta é uma escotha do casal, independente do vinculo sexual ¢ afetivo, ¢ tem por finalidade a formagdo de uma familia A accitagio da diversidade neste mundo contemporineo, plural, ¢ ainda uma construgio € deve ser debatida para que os direitos de todos os cidadios sejam respeitados e que possam viver plenamente sua liberdade. E preciso que se pense e se faga uma sociedade ‘mais justa, igualitaria e livre de preconceitos. ‘A aplicagao do Direito ¢ a vida em sociedade buscam acompanhar a evolugdo social de forma equinime, justa, visando contemplar os direitos da pessoa humana. A adogio é um direito tanto do adotante quanto do adotado. E, é uma escolha no sentido de que, casais independente de orientagdo sexual sentem-se prontos para serem pais e/ou maes, decidem ter filhos e constituir familia. Como tal, devem ser respeitados € reconhecidos pelo Direito e pela sociedade, conquistando, apés anos de opressao € discriminagao, espago € visibilidade. REFERENCIAS ARAUJO, L et al. Adogio de criangas por casais homoafetivos: um estudo comparativo entre universitirios de direito e de psicologia. Psi € Sociedade, n.19, v.2, p. 95 ~ 102, 2007. BADINTER, E. Um 6 0 Outro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: 1986. BEAUVOIR, S. O segundo sexo: fatos e mitos. 4.ed. So Paulo: Difusio Europeia do Livro, 1970. BEAUVOIR, S. 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