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Alcides Marini Filho

mostra de artigos
(organizador)

E-book
TOMO 3

Vol. II

CIÊNCIAS JURÍDICAS
na Amazônia Sul-Ocidental

EAC
Editor
Copyright © by autores, 2024.
All rigths reserved.

Todos os direitos desta edição pertencem aos autores. Nenhuma parte desse
livro poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a autorização
prévia do organizador pelo e-mail <alcidesmf1975@hotmail.com>. A viola-
ção dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo
art. 184 do Código Penal. As informações contidas em cada capítulo são de
inteira responsabilidade dos autores, bem como o alinhamento dos textos às
normas da ABNT e da ortografia gramatical da língua portuguesa.

CAPISTA E DIAGRAMADOR
Eduardo de Araújo Carneiro
eac.editor@gmail.com

CONSELHO EDITORIAL DA OBRA


Dr. Eduardo de Araújo Carneiro
Dr. Elyson Ferreira de Souza
Me. Adriano dos Santos Lurconvite
Esp. Simmel Sheldon de Almeida Lopes
Esp. Arthur Braga de Souza
Esp. Ícaro Maia Chaim

E-BOOK

M339c MARINI FILHO, Alcides (Org.).


Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental: mostra de
artigos / Alcides Marini Filho (organizador). – 1. ed. –
Rio Branco: EAC Editor, Edição dos autores, 2024.
179 p.; il. 14,8x21 cm. Tomo III; Vol. 2. (E-Book)
ISBN: 978-65-01-00668-0
1. Ciências Jurídicas; 2. Direito; 3. Amazônia; I. Título.
CDD 340.07
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 05

1. A LEGALIDADE DAS EXIGÊNCIAS DA PROVA 07


DA UNIÃO ESTÁVEL NO PROCESSO ADMINISTRA-
TIVO PREVIDENCIÁRIO, FEITAS PELO INSS: INSTI-
TUTO NACIONAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
Maria Zaneis Pereira Batista
Alcides Marini Filho

2. A HERANÇA DIGITAL NO DIREITO BRASILEIRO 45


E A TRANSMISSÃO DOS ACERVOS DIGITAIS
Alessandra Pedrosa do Nascimento
Alcides Marini Filho

3. A PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLES- 79


CENTE SEGUNDO A LEI 14.344/2022 - LEI HENRY
BOREL
Edilane de Souza Almeida
Alcides Marini Filho

4. INDENIZAÇÃO EM CASOS DE INFIDELIDADE 117


CONJUGAL
Francineide Ferreira da Silva
Alcides Marini Filho

5. ALIENAÇÃO PARENTAL: A POSSIBILIDADE JURÍ- 146


DICA DA GUARDA COMPARTILHADA NOS CASOS DE
ALIENAÇÃO PARENTAL

Relifa Gabriela Alves Cardoso


Alcides Marini Filho
“A justiça tem numa das mãos a balança em
que pesa o direito, e na outra a espada de que
se serve para o defender. A espada sem a
balança é a força brutal, a balança sem a
espada é a impotência do direito.”
Rudolf von Ihering
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

APRESENTAÇÃO

A
presente obra reúne 05 (cinco) artigos de con-
cludentes do curso do direito do Centro Univer-
sitário Uninorte, sob a organização do profes-
sor especialista Alcides Marini Filho, os quais foram escritos
em coautoria com o organizador e abordam relevantes temas
jurídicos, a saber.
Os artigos científicos aqui apresentados desempenham
um papel fundamental na expansão do conhecimento jurídico.
Eles fornecem uma plataforma para a análise ampla de ques-
tões legais, a discussão de jurisprudência recente e a contri-
buição para o desenvolvimento de teorias jurídicas.
Além disso, esses artigos auxiliam na disseminação de
informações valiosas para a comunidade jurídica, advogados,
estudantes e profissionais do direito. Eles também desempe-
nham um papel importante na formação de políticas e na to-
mada de decisões judiciais informadas.
Os textos científicos apresentados nesta obra exploram
tópicos variados, desde questões de direitos humanos e cons-
titucionais até a análise de casos legais específicos. A pes-
quisa cuidadosa e a análise crítica são o cerne para a produ-

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ção de artigos jurídicos aqui tratados que, por sua vez, contri-
buem para o avanço e a compreensão aprofundada das com-
plexidades legais em nossa sociedade.
Trata-se de uma obra coletiva e plural, que debate te-
mas interessantes à sociedade e, sem esgotar os assuntos,
promove reflexões a respeito de situações vivenciadas diaria-
mente em nosso corpo social. Daí se extrai a sua relevância.

Prof. Esp. Williane Tibúrcio Facundes


Docente do curso de direito do Centro Universitário Uninorte. Gradu-
ada em Direito pela U:Verse. Graduada em Letras vernáculas pela
UFAC. Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Varzean-
grandense. Direito Digital pela Faculdade Metropolitana.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

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A LEGALIDADE DAS EXIGÊNCIAS DA PROVA DA UNIÃO
ESTÁVEL NO PROCESSO ADMINISTRATIVO PREVIDEN-
CIÁRIO, FEITAS PELO INSS – INSTITUTO NACIONAL
DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

THE LEGALITY OF THE REQUIREMENTS FOR PROOF OF


COMMON-LAW MARRIAGE IN THE ADMINISTRATIVE SO-
CIAL SECURITY PROCESS, MADE BY THE INSS – NA-
TIONAL INSTITUTE OF SOCIAL SECURITY

Maria Zaneis Pereira Batista1


Alcides Marini Filho2

BATISTA, Maria Zaneis Pereira. A Legalidade das Exigên-


cias da Prova da União Estável no Processo Administra-
tivo Previdenciário, Feitas pelo INSS – Instituto Nacional
da Previdência Social. Trabalho de Conclusão de Curso de
graduação em Direito – Centro Universitário UNINORTE, Rio
Branco. 2024.

1
Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
2
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduado em Direito pela Uni-
versidade Católica Dom Bosco. Pós-Graduado em Direito Processual Civil
pelo Instituto Elpídio Donizete.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

A união estável é uma forma de constituição familiar reconhe-


cida pela legislação brasileira, sendo relevante no âmbito pre-
videnciário para a concessão de benefícios. No entanto, a exi-
gência de provas desse estado civil pelo Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS) no processo administrativo previdenciá-
rio suscita discussões quanto à sua legalidade e eficácia. Este
estudo tem como objetivo analisar a legalidade das exigências
da prova da união estável no processo administrativo previ-
denciário realizado pelo INSS, considerando sua adequação
aos princípios legais e constitucionais. A pesquisa será con-
duzida por uma abordagem jurídico-dogmática, com análise
bibliográfica e documental das normas legais, jurisprudência e
doutrina pertinente ao tema. Serão identificados os fundamen-
tos legais que embasam as exigências da prova da união es-
tável pelo INSS e examinadas suas conformidades com os
princípios constitucionais. Os resultados preliminares indicam
que as exigências da prova da união estável nesse processo
administrativo carecem de uma fundamentação legal clara e
consistente, muitas vezes resultando em obstáculos desne-
cessários para o acesso aos benefícios previdenciários. Di-
ante da análise realizada, conclui-se que as exigências da
prova da união estável frequentemente extrapolam os limites
legais estabelecidos, dificultando o acesso dos cidadãos aos
direitos previdenciários. Portanto, torna-se claro uma revisão
das normativas internas do INSS, com o intuito de adequá-las
aos princípios constitucionais e às orientações jurisprudenci-
ais consolidadas, promovendo assim uma maior efetividade
na concessão dos benefícios previdenciários.

Palavras-chaves: união estável; direitos previdenciários;


INSS; acessibilidade.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

The common-law marriage is a form of family formation recog-


nized by Brazilian legislation, being relevant in the social secu-
rity sphere for granting benefits. However, the requirement for
proof of this marital status by the National Social Security Insti-
tute (INSS) in the social security administrative process raises
discussions regarding its legality and effectiveness. This study
aims to analyze the legality of the requirements for proof the
commom-law in the social security administrative process car-
ried out by the INSS, considering its adequacy to legal and
constitutional principles. The research will be conducted using
a legal-dogmatic approach, with bibliographic and documen-
tary analysis of legal norms, jurisprudence and doctrine rele-
vant to the topic. The legal foundations that support the re-
quirements for proof of commom-law by the INSS will be iden-
tified and their compliance with constitutional principles will be
examined. Preliminary results indicate that the requirements
for proof of stable union in this administrative process lack a
clear and consistent legal basis, often resulting in unnecessary
obstacles to accessing social security benefits. In view of the
analysis carried out, it is concluded that the requirements to
prove a commom-law marriage often go beyond established
legal limits, making it difficult for citizens to access social secu-
rity rights. Therefore, it becomes clear that the INSS internal
regulations should be reviewed, with the objective of adapting
them to constitutional principles and consolidated jurispruden-
tial guidelines, thus promoting greater effectiveness in the
granting of social security benefits.

Keywords: common-law marriage; social security rights;


INSS; accessibility.

INTRODUÇÃO

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Este artigo se fez necessário abordar o tema conceitual


de como se deu o avanço da família na união estável no direito
brasileiro é de suma importância explanar sobre esse conceito
pois através do início desse conceito possamos analisar as
principais mudanças e os valores aplicados na constituição da
família no Brasil, e como esse vínculo ocorre com a evolução
dos costumes na sociedade.
No capitulo seguintes a explanação ocorre estritamente
no âmbito jurídico com as alterações dos efeitos, e construção
da convivência e deveres recíprocos, legislação e o direitos
dos companheiros que compõe o instituto da união estável.
No terceiro capitulo tem como objetivo é provar a união
estável, admitidas em direitos, com exceção do provimento
63/CNJ, esse artigo irá analisar o provimento, esses requisitos
serão trabalhados pontualmente, na prova da união estável na
formalidade pratica cotidiana do próprio direito.
No capitulo quatro a pensão por morte é um dos bene-
fícios protetivos concedidos pela previdência social que asse-
gura aos dependentes o amparo assistencial, mantendo as-
sim, a dignidade da família resguardada. O objetivo da pes-
quisa está em analisar a exigência de prova materiais para
comprovação da união estável no requerimento de pensão por
morte.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A demonstração da violação a paridade de tratamento


entre homens e mulheres que formalizam a união estável,
ainda que formalmente, assim como a transgressão ao princí-
pio da igualdade e aos artigos 226 da constituição federal que
expressamente assegura a proteção da família constituída
pela união estável, apontando o divergente grau de dificuldade
em obter seu pedido com êxito em relação aos que possuem
a união regularizada.

1.1 UNIÃO ESTÁVEL NO DIREITO BRASILEIRO

No Brasil, a legislação veio melhorando o conceito de


união estável que, apesar de ser apresentada como uma rea-
lidade social, deixou a ter seus efeitos reconhecidos pelo di-
reito brasileiro. Embora o claro desprezo do legislador, os vín-
culos afetivos fora do casamento sempre existiram no naquela
época.
Isto porque nosso ordenamento jurídico, desde seus pri-
meiros diplomas legais, vê no casamento a única forma pos-
sível de constituição da família, mostrando-se sempre inflexí-
vel quanto ao reconhecimento de efeitos favorável proveniente

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

das relações estáveis, embora as compostas sem impedimen-


tos matrimoniais, deu brecha a muitos conflitos e injustiças
para as pessoas convenientes da união.
Todo regimento jurídico que se produzia era designado
ao matrimônio, vivenciando qualquer outro formato de agrupa-
mento familiar afastando de proteção, por tanto no casamento
o núcleo de conhecimento de família legítima. Desde modo, a
companheira e companheiro que estavam uma relação está-
vel e duradoura, sem o vínculo do matrimônio, não faziam jus
aos direitos que eram atribuídas às pessoas casadas, inclu-
sive, os direitos sucessórios. As uniões constituídas sem ma-
trimônio eram reconhecidas como cor de nome de concubi-
nato.
Segundo Fernanda Moreira dos Santos, o Código Civil
de 1916 reconhecia apenas as famílias que se formassem a
partir do vínculo do casamento como aptas a produzir efeitos
jurídicos. Desta forma, todos os além desses modelos de
união familiar foram desconsideradas ou excluídas/alijadas da
legislação inerente. Dentre as uniões especifica, sequer
mesmo as relações nomeadas de concubinatos puros, ou
seja, as relações não formalizadas executadas por um homem
e uma mulher que não tinham impedimentos para o casa-
mento, ficavam validadas pelo nosso sistema jurídico.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Destarte, o Código Civil supramencionado, visando pro-


teger a família constituída pelos sagrados laços do matrimô-
nio, omitiu-se em regular as relações extramatrimoniais.
Acontece que quando o rompimento destas uniões, as
exigências batiam na porta do Judiciário e as soluções identi-
ficadas conduziam exclusive os direitos patrimoniais da convi-
vência, querendo evitar injustiças.
Ocorreu que justiça, portanto, passou a aceitar a exis-
tência da sociedade de fato; porém, para ocorrer a divisão dos
bens adquiridos na constância da união de fato, era necessá-
ria que comprovasse a contribuição financeira efetiva de todo
consorte com sentido par a constituição do patrimônio. Tal so-
lução foi sumulada pelo Supremo Tribunal Federal, em 1964.
Conforme Maria Berenice Dias (2011):

Com a evolução os costumes, as uniões extra-


matrimoniais acabaram merecendo a aceitação
da sociedade, levando a Constituição a dar nova
dimensão à concepção de família e introduzir um
termo generalizante: entidade familiar. Alargou o
conceito de família, passando a proteger relacio-
namentos outros além dos constituídos pelo ca-
samento. Emprestou juridicidade aos enlaces ex-
tramatrimoniais até então marginalizados pela
lei. Assim, o concubinato foi colocado sob re-
gime de absoluta legalidade. As uniões de fato
entre homem e uma mulher foram reconhecidas
como entidade familiar, com nome de união es-
tável.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Desse modo, a partir da segunda metade do século XX,


confirmou-se uma evolução de preceito doutrinário, jurispru-
dencial e legislativa, aqueles que vivam uma união estável
passando a ser conferidos direitos. O limite da evolução se
cedeu com publicação da Constituição Federal de 1988, que
levantou o concubinato puro, agora chamado por união está-
vel, ao estágio de entidade familiar, dada como a família des-
cendente do casamento. Desde então conseguirão ser atribu-
ídos aos companheiros os direitos sucessórios, mediante a le-
gislação infraconstitucional.
Notar-se que a união estável, inserida na Constituição de
1988, é a conclusão de demorada e tormentosa trajeto de dis-
criminação e desfeito legal, com as existências de circunstân-
cias inseridas sob o julgamento afrontoso de concubinato,
marcado como vínculos imorais e ilícitas, que desafiar a sa-
cralidade concedida ao casamento.

1.1.2 EVOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL NO DIREITO BRA-


SILEIRO

No Brasil, depois a independência, manteve a ser apli-


cada, em primeiro momento na época, por através de Lei im-
perial de 20 de outubro de 1823, a legislação portuguesa (Or-
denações Filipinas), que, embasada no direito canônico, tão

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

somente aceitava o casamento celebrado com formalidades


religiosas.
Desse modo, a partir da quela data, foram considerados
válidos meramente os casamentos celebrados de anuência
com aludido regulamentação, circunstância que foi legitimar
pela Constituição Republicana de 24 de fevereiro de 1891, que
estipulou, em seu artigo 72, §4º, que “A administração pública
só identifica o casamento civil, se a celebração for gratuita”.
(Brasil, 1891). O Código Civil de 1916 estabeleceu que o ca-
samento civil será única forma regulamento legítima.
Dessa forma, a regulamentação da constituição deixou
bem claro o favoritíssimo da família legal formada pela a legi-
tima, e a pelo casamento que é formada pela a família de fato,
constituída pela união estável. O Decreto-lei nº 7.036, de 10
de novembro de 1944, que regulou o acidente de trabalho, es-
tabeleceu, no parágrafo único de seu artigo 21:

(...) Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo,


não haverá distinção entre os filhos de qualquer
condição, bem como terá os mesmos benefícios
do cônjuge legítimo, caso este não exista ou não
tenha direito ao benefício, a companheira man-
tida pela vítima, uma vez que haja sido declarada
como beneficiária em vida do acidentado, na car-
teira profissional, no registro de empregados, ou
por qualquer outro ato solene de manifestação
de vontade. (Brasil, 1944).

15
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Ao longo do tempo, determinadas decisões judiciais


consolidam-se o entendimento de que o concubinato, por si
mesmo, não dar causa à sociedade de fato mencionada, refe-
rida na Súmula nº 380 do STF, é necessário a comprovação
da efetiva colaboração dos concubinos para a ilustração do
patrimônio comum.
Diante desse posicionamento, fragmento da doutrina e
jurisprudência reconheceu o ponto de vista de que a união es-
tável entre concubinos apresentam características diversa da
união estável convencional, regulamentada pelo artigo 1363
do código civil. Esse avanço considera que a união estável en-
tre busca configura uma entidade familiar de fato, bem dife-
rente da união estável comum, que se embasa sobretudo con-
figuração fundamental do direito.
Assim, a simples permanência da concubina no lar, nas
lides domésticas e no cuidado com os filhos do casal, já seria
suficiente para o reconhecimento do esforço comum (contri-
buição indireta), com a consequência partilha igualitária dos
bens adquiridos na constância da união.
Dessa maneira, foi estabelecido o entendimento de
que é acessível fato dos concubinos morar em domicílios dife-
rentes não obstruíam o reconhecimento da união, uma vez te-
nha outros requisitos caracterizadores do mencionado insti-
tuto, como seja afetividade e a intenção de constituir família.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Se, entretanto, o direito à partilha do patrimônio comum


dos companheiros foi paulatinamente sendo admitido pela
doutrina e a jurisprudência, com base na chamada sociedade
de fato, nos termos da Súmula nº 380 do Supremo Tribunal
Federal, em virtude do sustento dos cônjuges reiteradamente
controverso.
Tal situação somente foi sanada com o advento da
Constituição Federal promulgada em 05 de outubro de 1988,
que expressamente reconheceu a união estável como enti-
dade familiar. Como preceitua Basílio de Oliveira (1995):

Antes da CF/88, exauria-se o direito da compa-


nheira no simples direito à meação dos bens da
sociedade de fato (Súmula 380). A seu turno, a
jurisprudência vinha decidindo sistematicamente
pela inexistência de obrigação legal de alimentos
em favor da companheira: simples concubinato
não confere à mulher o direito de pleitear alimen-
tos do amásio; a obrigação alimentar é condicio-
nada por lei às relações de parentesco ou à exis-
tência de vínculo conjugal.

1.2 DIREITOS DOS COMPANHEIROS EM UNIÃO ESTÁVEL

A união estável, por seu turno, configura-se na convi-


vência pública, continua e duradoura, não requerendo ato es-
pecifico que se preste para determinar o seu termo inicial.
Exige dos companheiros a intenção de constituir família, não

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

estarem impedidos de casar, na forma do artigo 1.521 do Có-


digo Civil, excetuando-se a hipótese de ser casado.
No conjunto de deveres e direitos dos companheiros fi-
guram os deveres recíprocos de lealdade, respeito, assistên-
cia, guarda, sustento e educação dos filhos se o direito de re-
querer a conversão da relação em casamento. O regime de
bens legal é, a exemplo do que ocorre com os cônjuges, o da
separação judicial, contando também os companheiros com a
faculdade de poderem, por meio de convenção escrito, deter-
minados pela comunhão universal, separação, benefício final
nos aquestos. A ruptura da união estável se opera por decisão
unilateral, mesmo imotivada, por dissolução consensual ou
pela morte (artigo 7° da Lei 9.279/96).
A conversão da relação em casamento, como estimula
a lei, é também uma forma de extinção da união estável, le-
vando-se em conta que da utilização da prerrogativa originar-
se-á nova modalidade de familiar, submetida, em diversos en-
tendimentos, em distintos normativos.
No campo do direito sucessório o cônjuge figura como
terceira categoria da ordem de vocação hereditária, é herdeiro
necessário (artigo 1.845 do Código Civil), concorre com des-
cendentes e ascendentes do morto, intercorre a cumulação do

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

patrimônio deixado pelo de companheiro, seja como for o re-


gime de bens, tem direito real de habitação sobre o bem de
lugar de origem da família.

1.2.1 EFEITOS DA UNIÃO ESTÁVEL

A doutrina e a jurisprudência, pouco a pouco, foram pro-


curando acalmar o forte preconceito que, no passado, a soci-
edade dedicava as uniões fora do matrimônio. Por meio de
inúmeras decisões pretorianas, buscou-se dar solução as si-
tuações de fato que, unindo pessoas em vida comum, recla-
mavam disciplinamento jurídico.
Como primeiro passo, as relações concubinárias foram
tratadas no âmbito do direito obrigacional, protegendo o es-
forço despendido no curso da união por um companheiro em
favor do outro, quer no aditamento patrimonial por tanto em
forma de exemplo na sua satisfação pessoal, condições que
não conseguiria passar abatido, ou seja, sem gerar efeitos pa-
trimoniais, sob pena de se ratificar aumento sem causa.
O Supremo Tribunal Federal sintetizou sua posição his-
tórica sobre a matéria com o enunciado da Súmula n° 380:
“Comprovada a existência da sociedade de fato entre os con-
cubinos, é cabível o respectivo a dissolvências judicial, com a
divisão da herança adquirido pelo interesse”. Por outro lado,

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

nas hipóteses em que não restava comprovado o concurso co-


mum necessário a repartição dos bens, era assegurada uma
indenização judicial a título de serviços prestados.
O conceito de família foi garantido pelo aumento da ci-
vilização e em épocas extrema tinha originalidade diferentes
da realidade atual existente; com o passar do tempo a essên-
cia da família teve suas particularidades adequada de acordo
com a evolução da sociedade no casamento.
Neste contexto, indica que no corpo da Constituição Fe-
deral é importante atentar-se ao Art. 226 e seus oito parágra-
fos, estar previstas as a modificação da legislação familiar.
Nesta situação, se pregasse só apenas na religião que
o casamento só seria válido se tivesse cometidos por acom-
panhamento de eclesiástica e por isto seria indissolúvel, o re-
gimento moderno em vigor, com sua autonomia, passou a re-
conhecer legalmente a união entre companheiros e no caso
de separação, aos mesmos conferiu direitos similares aos as-
segurados no caso de encerramento de um casamento civil.
A finalidade deste texto é apresentar um ponto de vista
do Direito de Família feita por intermédio de união estável, mas
neste momento é necessário projetar um paralelo entre os ti-
pos de união com o do casamento civil, pronunciado na CF/88
prescrita também no Código Civil vigente.
Alguns destes tipos de união pode haver a separação,

20
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

nesta ocasião surgem questões como sucessão, pensão e


partilha de bens, salienta que a única forma de se extinguir um
casamento é pelo divórcio, conforme dispõe o Art. 1571 do
Código Civil, combinado com seu Art. 1580 (Brasil, 2020):

Art. 1.580. Decorrido um ano do trânsito em


julgado da sentença que houver decretado a
separação judicial, ou da decisão conces-
siva da medida cautelar de separação de
corpos, qualquer das partes poderá requerer
sua conversão em divórcio.

No casamento com apontamento no registro civil há a


dissolução da sociedade conjugal através de separação de
fato ou de direito e/ou por divórcio. Logo acima foi citado o §
5º do Art. 296 da CF/88, todavia, este é o artigo atualizado pela
EC 66/2010, por tanto era definido “§ 6º que casamento civil
pode ser dissolvido pelo divórcio, logo após prévia separação
judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou
comprovada separação de fato por mais de dois anos” (Brasil,
2020).
O divórcio extrajudicial foi estabelecido pela Lei
11441/2007, que adicionou o Art. 1124-A no Código de Pro-
cesso Civil (CPC) (Lei 5869/1973), que determina que a sepa-
ração consensual e o divórcio podem ser realizados direta-
mente em qualquer cartório de registro público, desde que o
casal não tenha filho(s) menor(es) e/ou incapaz(es) e nesta

21
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

escritura podem inclusive ser tratados assuntos de pensão ali-


mentícia, partilha de bens e utilização de nome de casado
(Brasil, 2020), enquanto que o divórcio litigioso, com base na
Lei 6515/1977, ocorre quando a diluição não seja amigável ou
seja necessário o concurso jurídico para regular uma partilha
justa e demais assuntos conexos.
Por outro lado, em uma união estável não há registro
público, a separação, por si só encerra o relacionamento, po-
rém, ainda podem surgir questões relacionadas à divisão dos
bens e a pensão alimentícia. Para lidar com esse tipo de pro-
blema, costumam ser aplicadas as leis nº 8971/1994 e
9278/1996 conjugadas com o Código Civil. Essas leis abor-
dam especificamente a questão da partilha de bens e da pen-
são alimentícia, proporcionando diretrizes para a resolução
desses assuntos. (Brasil, 2020).
Por regra é previsto na Lei 8971/1994 que ao consorte
em separação, se provar não possuir condições econômicas
para ser manter e antes de contrair outra união, pode valer-se
da Lei da Pensão Judicial (Lei 5478/1968) e a sucessão é pre-
vista de forma mais incisiva no Art. 1790 do Código Civil (Bra-
sil, 2020), a saber:

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro par-


ticipará da sucessão do outro, quanto aos bens
adquiridos onerosamente na vigência da união
estável, nas condições seguintes:

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

I - Se concorrer com filhos comuns, terá direito a


uma quota equivalente à que por lei for atribuída
ao filho;
II - Se concorrer com descendentes só do autor
da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber
a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessí-
veis, terá direito a um terço da herança;
IV - Não havendo parentes sucessíveis, terá di-
reito à totalidade da herança.

Com base no análises legais apresentadas até o mo-


mento, é importante destacar que, embora o casamento formal
e a união estável sejam distintas do ponto de vista jurídico,
certas questões relacionadas ao patrimônio podem leva a dis-
putas judiciais em ambos os casos.
No entanto, os trechos legais examinados neste con-
texto têm demonstrado que mesmo sendo uma forma de união
socialmente menos valorizada, a união estável possui amparo
legal que regula as questões decorrentes da separação. Essas
considerações servirão de base para as reflexões apresenta-
das na conclusão a seguir.

1.3 PROVA DA UNIÃO ESTÁVEL

Que a união estável pode ser provada por todas as for-


mas admitidas em direito, certamente não paira dúvida. Seja
a prova documental, testemunhal, pericial, enfim, desde que

23
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

lícita a prova apresentada, será admitida como hábil a de-


monstrar a realidade da união.
A união estável urge no seguinte ponto: Pedro e Mel,
há uma semana ou há um mês – estabeleceram um convívio
familiar, com afeto, com a determinação inequívoca de criar
uma família. Ante de tudo dessa experiência esse casal com-
parece em cartório para registrar com uma declaração de que
estão vivendo em união estável.
Pedro e Mel estão de verdade em união estável? Outra
hipótese: João e Maria convivem de forma pública, contínua,
duradoura e intuito familiar. Um deles, ou ambos, querendo
mostra o seu estado civil familiar, sofre a exigência de prova
documental.
A importância dá união estável ser considerada enti-
dade familiar (família) são os direitos: uso do sobrenome, pen-
são alimentícia, partilha de bens, pensão por morte, herança,
quem não é família, como a amante, não tem esses direitos,
pois é mera sociedade de fato, a relação entre duas pessoas
que se caracteriza como uma convivência pública, contínua e
duradoura e que tem o objetivo de constituição familiar.
A legislação não determina prazo mínimo de duração
da convivência o reconhecimento da união estável. Além disso
não há ausência de que o casal resida no mesmo lar para que

24
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

o vínculo seja configurado. Outros elementos podem ser apon-


tados para a sua caracterização como, por exemplo, a exis-
tência de filhos.

1.3.1 O REGISTRO COMO PROVA

O registro público da declaração de convívio não


prova, a existência da união estável, sendo capaz, no máximo,
ser empregado na observação do quadro fático consequente
da união livre. Esta observação se dá em juízo, onde o referido
registro agiria não como concludentes da união de direito, des-
virtude da prova do quadro fático, que, casualmente, poderá
ser considerado de natureza jurídica (união estável).
Na hipótese dos recém unidos, esse documento, com
maior razão, não espelha, absolutamente, a presença de
união estável.
Manifesta apenas que há uma sociedade de fato,
dessa forma há o rompimento, antes de virar a caracterizar
união estável, a prova documental terá sentido restrita à parti-
lha patrimonial e às obrigações, pois essas provas da união de
fato por determinado tempo.
Para essas pessoas que comprova o fato de seu con-
vívio, já têm suficiente para alegar união estável. Porém, o
mais ruim, é que essas ferramentas são consideradas efici-
ente para a comprovar a entidade familiar naquelas condições

25
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

em que a individuo pleiteia os direitos proveniente desse es-


tado civil familiar.
Dentre outros os pressupostos da vivencia da união es-
tável, está a passagem do tempo: “é reconhecida como enti-
dade familiar a união estável entre o homem e a mulher, con-
figurada na convivência pública, contínua e duradoura e esta-
belecida com o objetivo de constituição de família”, diz o citado
Art. 1.723.
Observa-se que o transcurso do tempo é fundamental
na consolidação jurídica da entidade familiar informal. Sem a
passagem do tempo ela não existe. Essa premissa pode ser
colhida no próprio nome do instituto: “é reconhecida como en-
tidade familiar a união estável.
O registro público da união, por isso, pode consolidar
a prova da vivencia da união estável, somente a provar de uma
união de fato, ou seja, nada provar, se nos primeiros dias de
convívio registram e logo dele desistem, sem nenhuma aqui-
sição de direito ou obrigação nesse tempo insignificante.
No termo registral teria a serventia de inaugurar a união
de direito, se fosse outra a situação jurídica brasileira, apa-
renta admitir o contrato de união estável, onde há o pacto civil
de solidariedade (Pacs) (Lobo, 2008). Na sistemática fran-
cesa, o contrato consumado equivale à própria existência e
validade da união civil informal, pois se trata de ato jurídico.

26
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Aqui não, onde ato-fato jurídico converte, com a passar do


tempo, em relação jurídica. Basta ver que ontologicamente
são contrárias as suas naturezas.
O código civil não estabeleceu os meios de prova da
união estável, então ficou livre, como regra geral, a união es-
tável pode ser comprovada, via de regra, por qualquer meio de
prova documental que exemplifica: escritura pública de união
estável do cartório, declaração de imposto de renda com o
companheiro como dependente, conta conjunta em banco, de-
pendente em plano de saúde, contrato de aluguel ou financia-
mento da casa própria, registro em livro da empresa, Registro
pasta funcional do funcionário público, boletim de ocorrência
policial, comprovantes de endereço em nome dos companhei-
ros.

1.3.2 PROVIMENTO Nº 83 DO CONSELHO NACIONAL


DE JUSTIÇA

Há mais de três décadas que o direito de família brasi-


leiro trabalha com Estas categorias, com grande clareza e se-
gurança jurídica, de modo que parece adequada a nova exi-
gência e a terminologia utilizada. Uma compreensão das no-
vas exigências e das suas locuções à luz do que já vem sendo

27
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

praticado na nossa realidade jurídica facilitará a compreensão


do provimento 83 e o próprio trabalho dos registradores.

O registrador atestará a existência da afetividade de


forma objetiva por todos os meios em direito permitidos, inclu-
sive pelo intermédio de documentos e outros elementos con-
cretos que a possam demonstrar, como visto, houve um de-
bate anterior sobre como o registrador poderia constata a pre-
sença de um vínculo socioafetivo, visto que o Provimento 63
nada falava a respeito.

Deste modo, o registrador exigir ao requerente que


apresente provas do vínculo socioafetivo, na verdade sua ati-
vidade será apenas coletar e averiguar a idoneidade de tais
provas, este entendimento está de acordo com o que sustento
na minha obra sobre o tema, princípio da afetividade no Direito
de família leitura jurídica da afetividade pode ser formalizada
com uma lente objetiva, a partir da persecução de fatos obje-
tivo que permitam sua investigação no plano fático: uma afeti-
vidade jurídica objetiva.

Esta é a forma como o direito de família brasileiro vem


trabalhando com os vínculos afetivos há muitos anos, sendo
esta nova exigência totalmente coerente com a nossa tradição
jurídica isto significa que as relações socioafetivas que pos-

28
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

suam provas da sua existência são as que podem ser regis-


tradas diretamente nas serventias extrajudiciais.

Estas provas poderão ser apresentadas por todos os


meios admitidos em direito, sendo o Provimento 83 detalhista
neste aspecto: 2º o requerente demonstrará a afetividade por
todos os meios em Direito reconhecidos, bem como por docu-
mentos.

Via de regra, os meios de prova são livres, com exceção


o parágrafo o 17 do provimento 63 do CNJ, destaca que, não
aceita qualquer prova da união estável, quando a compa-
nheira vai sozinha registrar o filho, sem pai da criança, neste
caso para ela registrar o nome do pai é exigido, os documen-
tos específicos, como por exemplo uma sentença judicial re-
conhecendo a união estável, essa exceção é uma liberdade
dos meios de provas, onde o código civil mencionar, não exige
meio especifico.

Note-se que há permissão para que qualquer meio de


prova venha a demonstrar a presença da relação socioafetiva,
e o texto avança para exemplificar alguns deles, destacando
elementos comuns nessas relações filiais. Não raro os víncu-
los socioafetivos estáveis e revelando socialmente resultam
em fatos concretos que formam algum tipo de vestígio docu-
mental, sendo conforme a regulação ora posta.

29
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Importa reconhecer que a nova normativa foi sensível


à pluralidade de situações fáticas e até mesmo à diversidade
da realidade brasileira, percebendo que muitos casos podem
não apresentar elementos como os citados acima. Apesar isso
não os afastará de plano do registro extrajudicial, pois o provi-
mento 83 prevê que: a ausência dos documentos não impos-
sibilita o registro, desde que justificada a impossibilidade, en-
tretanto, o registrador precisará atestar como constatou o vín-
culo socioafetivo.

Isto é, mesmo na ausência de documentos há possibi-


lidade do registrador civil averiguar a presença da relação so-
cioafetiva por outros meios, bastando que declare como verifi-
cou a presença dos requisitos necessários para o ato. Esta
abertura e flexibilidade parece razoável e condizente com a
diversidade de ocasiões que pode se apresentar.

No caso, se não houver documentos suficientes para


se comprovar a união estável, resta ao companheiro viúvo en-
trar com a ação de reconhecimento de união estável pós Mor-
tem, o viúvo entre em face dos herdeiros do falecido, e não
contra o espólio. No caso da pensão por morte se for compro-
vada a união estável, mas não em tempo anterior a dois anos
do falecimento, a pensão só terá duração de 4 meses.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.4 AS EXIGÊNCIAS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO


PREVIDENCIÁRIO PARA SE COMPROVAR A UNIÃO
ESTÁVEL PARA CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS COMO A
PENSÃO POR MORTE

1.4.1 A EXIGÊNCIA DE INÍCIO DE PROVA MATERIAL

A medida provisória sob o n° 871 convertida na Lei n.


13.846/2019, alavanca uma série de mudanças significativas
para a previdência social, visando, de acordo com o governo
federal, sanar e reprimir fraudes ocasionados ao Instituto Na-
cional de Seguridade Social - INSS e reduzir os custos da Pre-
vidência Social.
Além de todas as mudanças trazidas para o requeri-
mento de pensão por morte, foi criado o programa de análise
de benefício com indícios de irregularidade ou com potencial
risco de gastos indevidos do INSS denominado programa es-
pecial do INSS e também um programa de revisão. Ademais,
autoriza e incentiva o pagamento de bônus para os servidores
da autarquia federal para cada processo que é analisado fora
do horário de trabalho.
Com a reforma, também, passou a ser exigido o cadas-
tramento para o trabalhador que é feito pelo governo, não
sendo mais exigido a certificação efetuada pelos sindicatos.

31
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Grandes alterações foram proporcionadas, ainda, ao benefício


de auxílio-reclusão, sendo determinado, a partir da reforma,
que o benefício seja concedido apenas aos dependentes do
segurado que esteja recluso em regime fechado e não mais
aos presos em regime semiaberto, assim como ampliou o nú-
mero de contribuições feitas pelo segurado exigidas para a
concessão do benefício.
Todavia, para a presente monografia, o enfoque se
dará no artigo 16 da Lei 8.213/91 e o acréscimo do parágrafo
5°, ofertado pela Lei 13.846/2019, que a seguir será esmiu-
çado.

1.4.2 A MODIFICAÇÃO DO ART. 16 PELA LEI 13.846/2019

Enfatiza-se que para fins previdenciários, o compa-


nheiro convivente em união estável apenas necessita compro-
var a existência da relação, uma vez que a dependência é pre-
sumida, assim como para o cônjuge, filho não emancipado
menor de 21 anos ou inválido ou que tenha deficiência intelec-
tual ou menos, assim como dita o art. 16, I da Lei 8.213/91:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de


Previdência Social, na condição de dependentes
do segurado:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o

32
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

filho não emancipado, de qualquer condição, me-


nor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que
tenha deficiência intelectual ou mental ou defici-
ência grave (Brasil, 1991, on-line).

Sendo assim, vai de contrário à lei a exigência de com-


provação da qualidade de dependente do segurado falecido.
Observa-se que a comprovação da união estável para fins pre-
videnciários sempre foi amplamente discutida, tanto no âmbito
administrativo, quanto no judicial. O Decreto nº 3.048/1999
exige a apresentação de pelo menos três documentos que
comprovam a união estável presentes no seu rol. sendo eles:

Art. 22. A inscrição do dependente do segurado


será promovida quando do requerimento do be-
nefício a que tiver direito, mediante a apresenta-
ção dos seguintes documentos: (Redação dada
pelo Decreto nº 4.079, de 2002).
§ 3º Para comprovação do vínculo e da depen-
dência econômica, conforme o caso, devem ser
apresentados no mínimo três dos seguintes do-
cumentos: (Redação dada pelo Decreto nº 3.668,
de 2000).
I - Certidão de nascimento de filho havido em co-
mum;
II - Certidão de casamento religioso;
III - declaração do imposto de renda do segu-
rado, em que conste o interessado como seu de-
pendente;
IV - Disposições testamentárias;
V - Anotação constante na Carteira Profissional
e/ou na Carteira de Trabalho e Previdência So-
cial, feita pelo órgão competente; (Revogado
pelo Decreto nº 5.699, de 2006)
VI - Declaração especial feita perante tabelião;
VII - prova de mesmo domicílio;

33
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

VIII - prova de encargos domésticos evidentes e


existência de sociedade ou comunhão nos atos
da vida civil;
IX - Procuração ou fiança reciproca-
mente outorgada;
XI - Registro em associação de qualquer natu-
reza, onde conste o interessado como depen-
dente do segurado;
XII - anotação constante de ficha ou livro de re-
gistro de empregados;
XIII - apólice de seguro da qual conste o segu-
rado como instituidor do seguro e a pessoa inte-
ressada como sua beneficiária;
XIV - ficha de tratamento em instituição de assis-
tência médica, da qual conste o segurado como
responsável;
XV – Escritura de compra e venda de imóvel pelo
segurado em nome de dependente;
XVI - declaração de não emancipação do depen-
dente menor de vinte e um anos; - quaisquer ou-
tros que possam levar à convicção do fato a com-
provar (Brasil, 1999, on-line).

Adiante, a instrução normativa 77/2015 acrescenta que


os documentos podem ser do mesmo tipo ou diferentes, desde
que demonstrem a existência do vínculo (Brasil, 2015). Já na
esfera judicial, foi unificado o entendimento quanto a flexibili-
zação da comprovação do vínculo e da dependência econô-
mica, como visto na súmula 63 da TNU: “a comprovação da
união estável para efeito de concessão de pensão por morte
prescinde de início de prova material” (TNU, 2012, on-line).
Nesse sentido estava sendo consolidada a jurisprudên-
cia do STJ, manifestada no REsp nº 783.697/GO:

34
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Se a lei não impõe a necessidade de prova ma-


terial para a comprovação
tanto da convivência econômica em união está-
vel como da dependência econômica para fins
previdenciários, não há por que vedar à compa-
nheira a possibilidade de provar sua condição
mediante testemunhas, exclusivamente (STJ -
REsp: 783697 GO 2005/0158025-7, Relator: Mi-
nistro Nilson Naves, Data de Julgamento:
20/06/2006, T6 - Sexta Turma, Data de Publica-
ção: DJ 09/10/2006 p. 372RSTJ vol. 208 p.
16856).

Entretanto, em meio a discordância quanto às provas


de convivência e união estável na esfera administrativa e judi-
ciária, em janeiro de 2019, foi assinada pelo Presidente da Re-
pública a Medida Provisória n° 871 convertida na lei
13.846/2019 que acrescentou o parágrafo quinto no conteúdo
do art. 13 da lei de benefícios.
Em seu conteúdo, passou a ser exigido, para a conces-
são de pensão por morte ao companheiro, a comprovação da
entidade familiar e dependência econômica, início de prova
material da convivência e dependência de período não supe-
rior a vinte e quatro meses anteriores ao óbito do segurado,
passando a não admitir prova exclusivamente testemunhal,
exceto nos casos de força maior ou caso fortuito.
Destaca-se que, apesar da mudança para o compa-
nheiro trazida pela Lei, não houve nenhuma alteração na lei
de benefícios quanto ao inciso I do art. 16 que traz em sua

35
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

redação que a dependência econômica dos presentes depen-


dentes é presumida.
Em relação à comprovação do direito, com a edição da
presente medida, passará a ser exigido início de prova docu-
mental contemporânea de união estável e dependência eco-
nômica, com o objetivo de reduzir fraudes nos pedidos de pen-
sões por morte, mediante o reconhecimento da união estável
ou da dependência econômica com base em prova testemu-
nhal ou ações simuladas, normalmente após o óbito do segu-
rado. Nesta mesma linha, propõe-se seja vedada a inscrição
pós óbito de contribuintes individuais e facultativos, isto é, re-
troativa, para garantia de benefícios para seus dependentes
(Brasil, 2019).
Por conseguinte, é notório que há fraude na mudança
efetivada pela Lei 13.846/19, afetando diametralmente os
companheiros que possuem os mesmos direitos dos demais
componentes do cônjuge, do filho não emancipado menor de
21 anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou
mental ou deficiência grave, presentes no inciso I do art. 16,
juntamente com o companheiro ou companheira.
Sendo assim, o dispositivo fere a boa-fé. Nesse sentido,
o então Senador Rogério Carvalho do Partido dos Trabalha-
dores do Sergipe disse:

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Nessa medida provisória criminaliza os pobres,


transforma os pobres em bandidos, transforma
aqueles que necessitam do Benefício de Presta-
ção Continuada em criminosos em potencial. Di-
ficulta a vida daqueles que precisam receber be-
nefícios que são necessários para sobreviver,
para manterem um mínimo de dignidade para to-
carem as suas vidas já muito duras e difíceis (Se-
nado, 2019).
A boa-fé de nenhuma forma pode ser afastada
da\as relações previdenciárias, tanto que está
presente, tanto que está presente no art. 659 da
Instrução Normativa nº 77 de 2015 do INSS:
Art. 659. Nos processos administrativos previ-
denciários serão observados, entre outros, os se-
guintes preceitos:
I - Presunção de boa-fé dos atos praticados pelos
interessados” (INSS, 2015).

Portanto, a Autarquia não possui faculdade quanto ao


cumprimento da Instrução normativa e por isso, o texto intro-
duzido pela Lei 13.846/19 viola o que rege o Instituto, trans-
gredindo a boa-fé dos atos praticados pelos interessados, no
caso, dos companheiros.
Entende-se que medidas devem ser tomadas para se
evitar fraudes no INSS, todavia, exigir prova material para a
concessão da pensão por morte aos companheiros transgri-
dam, diametralmente, como visto, a boa-fé e também põe em
risco a parte fragilizada da relação, quem depende do benefí-
cio para seu sustento, haja vista que, muitas das vezes, a pro-

37
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dução de prova material não é realidade para os mais caren-


tes, como plano de saúde, escrituras públicas, dentre outros
que não abrangem a população mais carente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o estudo realizado ao longo do desenvol-


vimento do presente estudo, ficou demonstrado que a união
estável no direito brasileiro é status da entidade familiar, po-
dendo os conviventes converter essa união em casamento a
qualquer tempo. Para eficiência da aplicação do instituto jurí-
dico se faz necessário a natureza jurídica e os fundamentos e
critérios suficientes e disponível a identificação dos seu con-
ceito, para compreender o conjunto de questões que tange a
união estável no Brasil.
O direito do companheiro (a) na união estável vai até
onde lhe garante o artigo 1.829 do CC/2, até onde lhe asse-
gura o registro cartorário, mais também depende dos avanços
nas leis e nas jurisprudências e no avanço da forma de pensar
as relações afetivas. O contrato para regular o regime de bens
tem finalidade exclusivamente patrimonial não podendo dispor
sobre direitos pessoais dos companheiros ou destes em rela-
ção aos filhos.
No que lege das provas estão todas as admitidas em

38
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

direito, mas descartou-se a possibilidade de prova união está-


vel sob invocação da posse do estado de casados, pois en-
tende-se que referida posse têm aqueles que se apresentam
publicamente como marido e mulher e têm, cumulativamente,
a intenção de assim parecer aos olhos da sociedade.
A exigência da prova de companheiros, de seu estado
civil familiar, embora nem mesmo haja previsão legal expressa
acerca desse estado, entende-se que é legítima, dada a impe-
riosa necessidade de se garantir a segurança jurídica. Ocorre
que hoje somente em juízo será possível produzir essa prova,
quando cotidianamente, por despreparo da sociedade, um
simples registro público, de uma declaração de pretensa união
estável, é admitido como forma de prova dessa condição jurí-
dica.
Como demonstrado, a inconstitucionalidade existente
no acréscimo do parágrafo 5 ao art.16 da lei 8213/91, gerou a
obrigação de comprovação formal de união estável no reque-
rimento de pensão por morte. Tal acréscimo na legislação
ofende diametralmente a constituição federal e ao código de
processo civil, tendo em vista que em nenhum momento nos
dispositivos legais foi demonstrada a necessidade dessa com-
provação para caracterização de união estável, sendo neces-
sário, apenas a convivência pública, contínua e duradoura e
estabeleça com objetivo de constituição de família.

39
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

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15.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.

VENOSA, S. S., Direito civil: Direito das sucessões – Vo-


lume 7. 4ª Edição. São Paulo: Atlas, 2004. 108- 109, 126 p.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2
A HERANÇA DIGITAL NO DIREITO BRASILEIRO E
A TRANSMISSÃO DOS ACERVOS DIGITAIS

THE DIGITAL HERITAGE IN BRAZILIAN LAW AND


THE TRANSMISSION OF DIGITAL ASSETS

Alessandra Pedrosa do Nascimento3


Alcides Marini Filho4

NASCIMENTO, Alessandra Pedrosa do; FILHO, Alcides Ma-


rine. A herança digital no direito brasileiro e a transmissão
dos acervos digitais.. Trabalho de Conclusão de Curso de
graduação em Direito – Centro Universitário UNINORTE, Rio
Branco. 2024.

3
Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
4
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduado em Direito pela Uni-
versidade Católica Dom Bosco. Pós-Graduado em Direito Civil pelo Insti-
tuto Elpídio Donizete.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

O presente estudo versa sobre a necessidade de progressão


da legislação brasileira acerca da herança digital. Destarte,
procedeu-se o estudo considerando o cenário atual da socie-
dade, bem como a Constituição Federal de 1988, o Código
Civil e os projetos em tramitação acerca deste tema. Por meio
do embasamento teórico e pesquisas realizadas, analisou-se
o que se classifica como herança digital, a demanda da socie-
dade tendo em vista a crescente aquisição de patrimônio digi-
tal nos últimos anos, bem como, os principais equívocos no
ordenamento jurídico atual. Dessa forma, constatou-se a es-
sencialidade da reforma na legislação, além da criação de leis
específicas que assegurem a transmissão do acervo digital
resguardando à intimidade do falecido e garantindo o direito
dos herdeiros, observando ainda a transmissão desses bens
digitais, especificamente nas situações em que inexiste prévia
manifestação expressa de vontade do de cujus, de modo a
garantir a segurança jurídica necessária.

Palavras-chave: herança digital; patrimônio; segurança jurí-


dica; legislação.

ABSTRACT

This study deals with the need for the Brazilian legislation’s
progression when it comes to digital inheritance. Initially, this
research was led considering the current scenario of society,
as well as the Federal Constitution of 1988, the Civil Code and
the ongoing projects in process regarding this topic. Through
theoretical basis and the study carried out, it was analyzed
what’s classified as digital heritage, society's demand in view
of the growing acquisition of this digital heritage in recent

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

years, as well as the main failures in the current legal system.


This way, it was verified the necessity for na amendment in the
contemporary legislation, in addition to the demand of specific
laws that ensure the transmission of the digital estate, protect-
ing the privacy of the deceased and guaranteeing the rights of
the heirs, also observing the transmission of these digital as-
sets, specifically in situations in which there’s no prior expres-
sion of the deceased’s will, in order to guarantee the necessary
legal security.

Palavras-chave: digital heritage; patrimony; legal security; le-


gislation.

INTRODUÇÃO

Com o surgimento da tecnologia, a sociedade alcançou


novas demandas jurídicas. O avanço tecnológico trouxe facili-
dades, mas adveio acompanhada de muitos questionamentos.
É sabido que o direito brasileiro não acompanhou a rápida ex-
pansão da tecnologia, sendo inevitável uma discussão acerca
do debate de que nenhuma lei civil brasileira regulamenta a
herança digital.
Desse modo, tem se destacado na doutrina a discussão
no que tange a transmissão dos bens digitais adquiridos ao
longo da vida do falecido, com um grande questionamento em
relação à sua destinação. O patrimônio digital, constituído de

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

músicas, redes sociais, e-mails e fotos passa a ser denomi-


nado Herança Digital.
A principal indagação se dá no tocante à transmissão
desses bens que não são dotados de valor econômico, espe-
cificamente nas situações em que inexiste prévia manifesta-
ção expressa de vontade do de cujus.
O presente estudo busca mostrar à essencialidade de
reformas e criações de leis específicas voltadas a aquisição
da herança advinda dos acervos digitais, bem como, a segu-
rança à intimidade do falecido, tendo em vista que o que com-
põe o acervo é considerado estritamente pessoal.
Nesse viés, objetiva-se investigar a transmissibilidade
dos acervos digitais, analisando o ordenamento jurídico pátrio
e apontando quais seus principais equívocos, a fim de obter a
melhor solução para que novos dispositivos legais preceituem
expressamente sobre a temática, haja vista que é indispensá-
vel garantir os direitos de privacidade, intimidade e honra do
de cujus.
Por fim, será demonstrada a conclusão baseada em
todo o estudo realizado a respeito do assunto proposto, des-
tacando principalmente importância da segurança jurídica
nesse meio digital.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO DE SUCESSÃO

Os primórdios viviam como nômades, não possuíam re-


sidência fixa, já que se mudara constantemente. No entanto,
a partir de um determinado momento, os humanos deixaram
de ser nômades, período este denominado como neolítico.
O período neolítico é caracterizado como o período de
maior transformação na vida humana, pois, com o sedenta-
rismo do homem, surgiu a formação das primeiras civilizações.
Deste modo, ao fixarem-se em um único lugar, houve um au-
mento populacional, desencadeando, a formação das primei-
ras cidades, tornando-se posteriormente uma sociedade.
Desde então, o homem passou a construir seu patrimônio.
Nessa linha, surge a transmissão, a hereditariedade,
isto é, a necessidade de deixar aos cuidados de outrem um
patrimônio que antes pertencia aos seus antecessores. Assim
é que surgiu o princípio da hereditariedade; esta não é a con-
sequência de simples convenção oficializada entre homens;
provém de suas crenças e religião, do que há de mais pode-
roso sobre as almas. (Coulanges, 2011).
Certamente, a forma que ocorre a transmissão de bens
atualmente, é bem diferente do que ocorria em séculos passa-
dos. Naquela época, já havia uma pretensão de deixar os bens
do falecido às pessoas mais próximas, no entanto, convêm

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

lembrar que, pertenciam aos homens os bens deixados. Basi-


camente, seguia a mesma linha da religião doméstica heredi-
tária, muito se fala da grande influência da religião quando tra-
tamos da hereditariedade, visto que, assim como o filho era o
que dava continuidade ao culto, de modo igual, herdava o di-
reito de aquisição.

2.2 HERANÇA

A Constituição Federal de 1988 erigiu o direito de he-


rança como um direito fundamental da pessoa humana, este
previsto no elenco de direitos e garantias fundamentais do ar-
tigo 5º, inciso XXX. Desta forma, constituindo-se o direito de
ser herdeiro. Ante o exposto, Maria Berenice Dias (2021, p.
51) conceitua a herança como:

Assim, Herança é o conjunto de direitos e


obrigações que se transmite, em razão da
morte, a uma pessoa ou a um conjunto de
pessoas, que sobreviveram ao falecido. É o
patrimônio composto de ativo e passivo dei-
xado pelo falecido por ocasião de seu óbito
por seus herdeiros.

Predito, a herança é o patrimônio deixado pelo falecido,


patrimônio unitário e indivisível, a herança constitui-se como

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

uma universalidade de direito (universitas juris). Conforme


previsão dos arts. 91 e 1.791 do Código Civil:

Art. 91. Constitui universalidade de direito o


complexo de relações jurídicas, de uma pes-
soa, dotadas de valor econômico.
Art. 1.791. A herança defere-se como um
todo unitário, ainda que vários sejam os her-
deiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos
coerdeiros, quanto à propriedade e posse da
herança, será indivisível, e regular-se-á pe-
las normas relativas ao condomínio.

O objeto da sucessão é a herança, pois, com a abertura


daquela, ocorre à mutação subjetiva do patrimônio do de cu-
jus, que se transmite, desde logo, aos seus herdeiros. Os su-
cessores, portanto, nos termos dos artigos art. 1.792 e 1.997
do CCB, se sub-rogam nas relações jurídicas do falecido, tanto
no ativo como no passivo até os limites da herança. (Diniz,
2023, p. 18.)

2.3 SUCESSÃO

É sabido que a herança se trata do conjunto de direitos


e obrigações transmitidos em razão da morte do titular, dife-
rentemente da sucessão, que por sua vez, deriva-se do termo
suceder, ou seja, ser sucessor de outrem, vir depois. Logo, o

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

direito das sucessões decorre da morte de alguém, isto é, da


causa mortis.
A partir do momento da abertura da sucessão, os bens
pertencentes ao autor da herança são transmitidos aos seus
herdeiros, ocorrendo assim, a substituição de titularidade.
Na definição de Oliveira e Amorim (2018, p. 37): “Su-
cessão é o ato ou o efeito de suceder. Tem o sentido de subs-
tituição de pessoas ou coisas, transmissão de direitos, encar-
gos ou bens, numa relação jurídica de continuidade”.
Assim conceitua Gama (2003, p. 23), em sentido amplo,
vocábulo sucessão “significa o ato pelo qual alguém assume
o lugar de outra pessoa, passando a ocupar a posição jurídica
que anteriormente era daquele que deixou de integrar a rela-
ção jurídica”.

2.3.1 TIPOS DE SUCESSÃO NO DIREITO BRASILEIRO

O ato sucessório é o ato pelo qual uma pessoa, substi-


tui outrem post mortem nos direitos e obrigações. Nota-se a
partir da transmissão dos bens do de cujus, a continuidade da
relação jurídica. Segundo Stollenwerk (2017, p. 44):

O Direito Sucessório é o ramo do Direito Ci-


vil, permeado por valores e princípios cons-
titucionais, que tem por objetivo primordial

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

estudar e regulamentar a destinação do pa-


trimônio da pessoa física ou natural em de-
corrência de sua morte, momento em que se
indaga qual o patrimônio transferível e quem
serão as pessoas que o recolherão.

Indubitavelmente, para que uma pessoa assuma a po-


sição de sucessora, ela tem que ter legitimidade. Por isso,
pode-se afirmar que a legitimidade e a condição de herdeira
estão diretamente interligadas, já que a condição de herdeira
é exercida por alguém apito a receber a herança, tendo em
vista, que preenche os requisitos estabelecidos pelo ordena-
mento jurídico.
Em regra, somente as pessoas nascidas ou já concebi-
das possuem legitimidade para suceder segundo predispõe o
artigo 1.798 do CC/02, “legitimam-se a suceder as pessoas
nascidas ou já concebidas no momento da abertura da suces-
são”. Observa-se que o presente dispositivo preserva o direito
de herdar não somente da pessoa nascida mais também do
nascituro (ser concebido, mas ainda não nascido).
O direito sucessório brasileiro possui duas modalidades
de sucessão: legítima e testamentária. A sucessão legítima
somente ocorre quando o de cujus não deixa testamento,
quando julgado nulo ou havendo caducidade do testamento.
Assim, figuram como herdeiros legítimos os descendentes, as-

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

cendentes, cônjuge ou companheiro sobrevivente e os colate-


rais até o quarto grau. No entanto, é assegurado pelo Código
Civil Brasileiro, primeiramente, o direito de herdar dos herdei-
ros necessários, ou seja, excluem-se em um primeiro mo-
mento os colaterais.
Conforme observado no artigo 1.829 do Código Civil,
inicia-se a vocação hereditária com os herdeiros legítimos, é
nessa sequência que os sucessores serão chamados para
herdar. A vocação ocorre por sucessão legítima ou por meio
do testamento.
Vocação hereditária, nada mais é, que a ordem na qual
os herdeiros iram receber a herança, ordem em que são con-
vocados conforme a lei predispõe. Primeiramente, é impor-
tante diferenciar os herdeiros legítimos dos herdeiros testa-
mentários. Os herdeiros legítimos são todos aqueles que se
encontram arrolados no art. 1.829 do Código Civil, já os her-
deiros testamentários são aqueles que constam no testamento
de alguém, na qual recebem uma quantidade de bens. Ainda,
vale enfatizar que, quando se deixa um bem específico no tes-
tamento, esta pessoa é considerada legatária e não herdeira.
Pela ordem que predispõe o art. 1.829 do Código Civil
Brasileiro, a sucessão hereditária segue a seguinte ordem su-
cessória: Primeiramente, o direito de herdar cabe aos descen-
dentes em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

o cônjuge sobrevivente for casado no regime de separação


universal dos bens, comunhão total, ou se em caso de comu-
nhão parcial o falecido não tiver deixado bens particulares.
É de suma importância, esclarecermos o porquê que
esses regimes não são contemplados na hora da sucessão, e
a resposta parte da prerrogativa de que o cônjuge casado em
comunhão universal, já é automaticamente proprietário de me-
tade dos bens do falecido, portanto, não se justifica que ele
herde da outra metade, em concorrência com os descenden-
tes. Além disso, aquele que é casado em separação total, não
concorre na herança porque ele tem seus bens particulares,
assim como, o falecido também tinha.
No caso de comunhão parcial, o cônjuge só não será
herdeiro, se o falecido não tiver deixado bens particulares, isso
porque na comunhão parcial, ele também é dono de metade
dos bens, mas, a partir da data do casamento. Portanto, se o
falecido tiver bens anteriores ao casamento, esses somente a
ele pertencem.
Por outro lado, não havendo descendentes (filhos, ne-
tos, bisnetos), o direito de herdar caberá aos ascendentes
(pais, avos, bisavós) lembrando que também em concorrência
com o cônjuge sobrevivente se houver.
Ademais, não havendo ascendentes, a herança caberá

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

em sua totalidade ao cônjuge, e não havendo cônjuge, herda-


ram os chamados herdeiros colaterais (irmãos, sobrinhos e
tios). Conforme citado acima, esses compreendem os herdei-
ros legítimos elencados no código civil, salientando que
quando tratamos somente de herdeiros necessários, excluem-
se os colaterais.
É importante frisar que nem todo herdeiro legitimo é um
herdeiro necessário. Os herdeiros necessários são os descen-
dentes, os ascendentes e o cônjuge. Havendo uma dessas
três classes, a lei exige que 50% por cento dos bens do fale-
cido sejam reservados para eles, os herdeiros necessários de
pleno direito. Em suma, o testador só pode dispor de metade
da herança quando da existência dos herdeiros supracitados
acima. A legislação atribui o nome de reserva legitima, a esta
quota “indisponível” da herança, essa reserva obrigatória tem
por objetivo resguardar os direitos dos parentes próximos ao
falecido.
No momento da elaboração de um testamento todos os
requisitos estabelecidos por lei, devem ser observados, indu-
bitavelmente, só será considerado válido o testamento que
atender a todos esses pressupostos. O código civil assegura
que toda pessoa capaz pode dispor da totalidade dos seus
bens, ou parte deles, exceto a parte legítima pertencente aos

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

herdeiros necessários. O testamento, por sua vez, é o docu-


mento por meio do qual o autor deixará por escrito a sua última
vontade, daí decorre a sucessão testamentária.
O testamento só poderá ser feito pelo próprio testador,
ou por pessoa designada por ele, desde que autorizado por
escrito. Existem 03 (três) formas ordinárias de testamento: a)
o público, este escrito por um tabelião ou substituto legal, de-
vendo está assinado por 02 (duas) testemunhas; b) o cerrado,
escrito pelo próprio testador ou conforme mencionado acima,
por pessoa autorizada, além do mais, deverá preencher todos
os requisitos estabelecidos em lei, conter a assinatura do tes-
tador e ainda ser aprovado por um tabelião ou seu substituto
legal; c) o particular, podendo ser digitado ou manuscrito, lem-
brando que o manuscrito deve ser feito na presença de 03
(três) testemunhas e assinado por elas, é primordial que não
tenha rasuras e que seja lido antes da assinatura do termo.
É de fundamental importância, esclarecermos que a le-
gislação brasileira reconhece os direitos dos companheiros,
dos conviventes em união estável, e dos conviventes em união
homoafetiva. Deste modo, por decisão do Supremo Tribunal
Federal, os companheiros em união estável, são equiparados
aos cônjuges para fins de sucessão. De acordo com o enten-
dimento do Tribunal não existe justificativa para o tratamento
diferenciado quando se trata de companheiro ou cônjuge. É

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

conveniente mencionar que, segundo pesquisas recentes,


mais precisamente baseando-se em dados da Associação dos
Notários e Registradores do Brasil – ANOREG/BR nos últimos
anos houve um aumento significativo no número de casais que
optaram por formalizar a união estável no Brasil. Certamente,
esse número é muito maior do que imaginamos, haja vista
que, as pessoas convivem em união estável por longos anos,
no entanto, demoram formalizar.
Muito se falou nos herdeiros, mas e na ausência deles?
E quando o autor não deixa testamento? Muito se discute
acerca da herança sem herdeiros. Nesses casos, quando não
há herdeiros identificados, quando não existe testamento,
acontecerá o instituto chamado de herança jacente, que é de-
finida por Tartuce e Simão (2013, p. 85) da seguinte forma: “A
herança jacente é um estado provisório de indefinição e uma
fase que antecede a vacância, e com esta não se confunde”.
A herança jacente por sua vez é aquela que não tem
herdeiro instituído, a herança não tem destinação em testa-
mento, ou os herdeiros simplesmente não demostram qual-
quer interesse no patrimônio deixado. Portanto, quando isso
acontece, o juiz nomeia um curador, esta pessoa ficará res-
ponsável pelos bens, e por um determinado período, mais pre-
cisamente nos moldes do art. 741 do Código de Processo Ci-

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

vil, espera-se que apareçam herdeiros sucessíveis para recla-


mara aquela herança, caso algum herdeiro se manifeste, a he-
rança deixará de ser jacente, e será entregue ao sucessor de-
vidamente habilitado, mas, transcorrido esse prazo dado pelo
judiciário e não aparecendo herdeiro algum, será declarada a
vacância, conforme estabelecido no art. 1.819 do Código Civil.
Depois de declarada a vacância da herança, por força
do art. 1.844 do Código Civil, os bens deixados pelo falecido
passam para propriedade do Município ou Distrito Federal, se
localizados nessas circunscrições, ou á União, quando situado
em território nacional.

2.4 ARQUIVOS DIGITAIS

A evolução tecnológica trouxe facilidades e possibilida-


des, isso porque dentro de poucos segundos com apenas um
“click”, um documento pode ser enviado. O uso de eletrônicos
(celulares, tablets, computadores) facilitou o trabalho humano,
trazendo celeridade e praticidade. Atualmente, uma pessoa
pode levar poucas horas para realizar atividades que antes
demorariam dias, facilmente pode armazenar documentos ex-
tensos e encontrá-los em poucos segundos quando necessá-
rios. A partir disso, podemos perceber que significativamente
houve uma redução no uso de papéis, trazendo um assunto

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de grande relevância a ser tratado. Onde foram parar os acer-


vos físicos?
Ocorre que, com a praticidade de armazenamento e a
possibilidade de carregar qualquer documento consigo para
onde for, fez com que pouco a pouco, as pessoas substituís-
sem a sua pasta de “papel”, por uma pasta digital. Deste
modo, os acervos que antes eram físicos passam a ser digi-
tais.
Partindo dessa ideia, conceituamos o acervo digital
como arquivos físicos transformados digitalmente. Para me-
lhor esclarecermos, os arquivos digitais, são basicamente, a
compilação de imagens e documentos digitalizados. A pratici-
dade da transformação de um documento físico em digital nos
possibilita um maior gerenciamento, organização e segurança,
dos nossos documentos.
Por meios das chamadas plataformas de armazena-
mento, rapidamente, podemos organizar os documentos por
data, nome, número, da maneira que for mais viável para cada
um. De acordo com pesquisas rápidas em sites de buscas na
internet, podemos visualizar que as plataformas mais utiliza-
das são: a) Amazon Cloud Drive; b) Box Drive; c) Dropbox; d)
Google Drive; e) iCloud; d) One Drive.
É possível também que o armazenamento seja feito no
próprio computador, no HD interno, de forma simples e rápida,

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

basta digitalizar o documento, renomear, criar uma pasta caso


queira ou simplesmente salvá-lo diretamente na área de tra-
balho. No momento de salvar o arquivo o usuário pode esco-
lher o formato na qual este arquivo será salvo, estes formatos
serão exemplificados mais adiante. Algumas plataformas são
gratuitas, pagas e outras delimitam a quantidade de mega-
bytes que podem ser armazenados, ultrapassados estes, são
cobrados valores mensais ou até anuais para que os arquivos
permaneçam guardados.

2.4.1 CARACTERÍSTICAS

O arquivamento digital tem como características princi-


pais a preservação, disponibilidade, flexibilidade e praticidade.
De forma breve, podemos relatar que o arquivo digital pode
ser preservado por tempo indeterminado, ao contrário do
acervo físico que pode ser deteriorado com o passar dos anos,
além disso, podemos ter acesso 24 horas a este documento e
de qualquer lugar do mundo.
A flexibilização é outra característica que soma as van-
tagens desse arquivamento via digital, pois é possível arma-
zená-los em diversos formatos como: Portable Document For-
mat – PDF, Join Photographic Experts Groups – JPEG, Word

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

entre outros e por fim, a praticidade quando se trata de locali-


zar, recuperar e armazenar os documentos.
Outro ponto importante, a ser destacado, é com relação
às amplas vantagens que a era digital trouxe consigo, dentre
elas e de primordial importância, a segurança, posto que, o
arquivamento digital possibilita um controle por parte do usuá-
rio. Á vista disso, o usuário pode estabelecer um controle de
acesso aos seus dados, pode verificar os últimos acessos, as
modificações que foram realizadas nos arquivos que estão ar-
mazenados no ambiente virtual e também como meio seguro,
realizar os chamados backups de segurança para que ne-
nhuma informação seja perdida.

2.4.1.1 Formatos de Arquivos

Os dispositivos digitais só entendem códigos binários


de 0 e 1, não sendo capazes então de entender, por exemplo,
as imagens. Portanto, essa imagem deve ser convertida em
código digital para ser armazenada em um arquivo digital. En-
tão conceitua-se como formato, o modo pelo qual uma infor-
mação é codificada para que posteriormente seja armaze-
nada. Há de se ressaltar que, existem diversos formatos de
arquivos, e cada formato é projetado para um propósito espe-
cífico.

62
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

As fotografias podem ter uma enorme quantidade de


dados, tornando os arquivos em tamanhos muitos grandes,
além disso, muitos formatos compactaram os dados em um
único arquivo, no entanto, enquanto alguns compactaram to-
dos os dados, o que é conhecido como compactação sem per-
das, alguns formatos serão chamados de formatos de com-
pactação com perdas, o que significa que grandes quantida-
des de informações de pixels são realmente deixadas de fora
do arquivo para reduzir ainda mais o seu tamanho. Há também
de atentar-se quanto à compatibilidade, visto que, nem todos
os dispositivos são capazes de ler determinados formatos de
arquivos.
O formato mais comum utilizado para o armazena-
mento das imagens digitais são o JPEG ou JPG, desenvolvi-
dos pela Joint Photographic Experts Group, estes são supor-
tados por praticamente todos os dispositivos digitais e funci-
ona muito bem para fotografias. Tratando-se do formato de ar-
quivo de áudio mais comum temos o MP3. A compatibilidade
entre plataformas de arquivos MP3 é a razão por trás de sua
imensa popularidade, embora o MP3 seja um tipo de formato
compactado com perdas, ele não faz com que um arquivo
perca dados cruciais.
O PDF (Portable Document Format) é um formato de
arquivo desenvolvido pela Adobe Systems, que possibilita ser

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

visualizado exatamente como o original, assim, sendo preser-


vada todas as informações inseridas pelo usuário que o criou.
O PFD é considerado seguro e bastante utilizado principal-
mente porque não pode ser alterado sem que haja um pro-
grama de edição específico. Nesse grupo, também se encaixa
o DOC e sua extensão DOCX, desenvolvido pela Microsoft,
utilizados para a criação de textos, podendo ser editado por
outros usuários.

2.5 BENS DIGITAIS

A conectividade sobrevém uma nova realidade. Atual-


mente, costumamos guardar todas as fotos e vídeos em famí-
lia nos eletrônicos, tudo aquilo que consideramos importante
reunimos em uma pasta digital.
Segundo uma pesquisa realizada pela Revista Veja, o
Brasil está entre as nações mais digitalizadas do mundo e em
virtude desse cenário observa-se que a sociedade construiu
um patrimônio virtual, isso porque como mencionado anterior-
mente, o volume de documentos importantes armazenados
vem crescendo em razão de toda essa conectividade, deste
modo, há de se falar principalmente no patrimônio construído

64
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

pelas celebridades, afinal muitas das vezes por trás de um ar-


quivo digital existe um patrimônio avaliado em milhões de re-
ais.
Diante de toda a correria do dia a dia, é perceptível que
o indivíduo busca cada vez mais otimizar o seu tempo. No
caso dos músicos, escritores, cineastas e artistas, em meio a
tantos compromissos, a facilidade de guardar uma música iné-
dita, um livro ainda não publicado, um roteiro escrito, em pla-
taformas ou nas chamadas “nuvens” é muito mais prático.
Em torno desse mundo digital, dessa busca incessante
pela facilidade, há de se debater um ponto importante a res-
peito da segurança jurídica relacionada aos bens que estão
armazenados digitalmente. Nota-se que novas demandas ju-
rídicas foram desencadeadas na tentativa de encontrar res-
paldo em um ramo totalmente novo no Direito, melhor dizendo,
objetiva-se regulamentar as novas relações que surgiram a
partir da internet.
A ideia de equiparar os bens digitais e os patrimoniais
é defendida por muitos autores, pois, veem que pode sim, ser
atribuída a mesma relevância jurídica por integrarem o patri-
mônio do “de cujus”.
De acordo com o pensamento de Judith Martins (2008,
p. 645): “Não podemos confinar a ideia de coisa àquilo que se

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

pode, materialmente, tocar com a mão, pois o mundo real


abrange, sem sombra de dúvidas, o que é virtual”.
O autor Zampier (2021, p. 76) conceitua os bens digitais:

Seria possível agora rascunhar um conceito


do que se está a denominar de bens digitais.
Estes seriam aqueles bens incorpóreos, os
quais são progressivamente inseridos na In-
ternet por um usuário, consistindo em infor-
mações de caráter pessoal que trazem al-
guma utilidade àquele, tenha ou não conte-
údo econômico.

Gabriel Honorato e Livia Teixeira (2020, p. 380-381)


evidenciam em seu artigo o conceito de bens digitais partindo
do entendimento doutrinário:

De tais vetores, a doutrina costuma dividir o


patrimônio digital da seguinte forma: (i) bens
digitais patrimoniais, aqueles conteúdos que
gozam de valor econômico, como milhas aé-
reas, bibliotecas musicais virtuais, acessó-
rios de videogames e outros; (ii) bens digitais
personalíssimos, que compreendem aquela
parte do acervo dotado de valor existencial,
seja do titular, seja de terceiros com os quais
se envolveu, a exemplo de correios eletrôni-
cos, redes sociais como o WhatsApp e o Fa-
cebook, e outros; (iii) por fim, os bens digitais
híbridos, cujo núcleo seja abrangido tanto
por conteúdo personalíssimo como patrimo-
nial, como contas do YouTube de pessoas
públicas que são monetizadas pela elevada
quantidade de acessos.

66
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Para Juliana Almeida (2019), os arquivos digitais pos-


suem diversas variações:

São bens informacionais intangíveis associ-


ados com o online ou mundo digital, inclu-
indo perfis em redes sociais, e-mail, dados
virtuais de jogos, textos digitalizados, ima-
gens, músicas ou sons, senhas de contas
associadas a bens digitais e serviços, nome
de domínio, etc. Podem ou não ter conteúdo
econômico. Alguns estão conexos à própria
personalidade do dono dos bens digitais e
outros vinculados a questões estritamente
econômicas. Esses bens digitais podem ser
armazenados em dispositivos, facilitando o
seu acesso quando da morte do proprietário,
ou podem ser regidos por contrato quando
envolver determinado provedor de serviço.

O patrimônio do de cujus pode ser dividido em duas


modalidades. A primeira refere-se aos bens corpóreos que são
aqueles que possuem existência física e valor econômico, a
segunda refere-se aos bens incorpóreos, abstratos, não po-
dem ser tocados, podendo ou não possuir valoração econô-
mica.
Assim sendo, os bens digitais passíveis de valoração
econômica serão transmitidos aos herdeiros por compor o pa-
trimônio do falecido, por outro lado, os bens que não são con-
siderados passíveis de valoração, consequentemente depen-
derão de uma manifestação de vontade do autor da herança,

67
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

haja vista que, tratam de dados privativos, relacionados à re-


putação e a honra do falecido.
Em meio a essa discussão, podemos frisar especifica-
mente o caso da cantora Marília Mendonça, falecida no ano
de 2021 que teve sua carreira interrompida em decorrência de
um trágico acidente aéreo. A mesma possuía um álbum gra-
vado chamado Decretos Reais que só foi lançado meses após
a sua morte.
Além disso, o inventário do Espólio de Marília Men-
donça contempla diversas músicas autorais, um perfil no Ins-
tagram com mais de 40 milhões de seguidores que inclusive
foi desativado recentemente pela própria plataforma deixando
os seguidores apreensivos, já que o perfil tornou-se uma es-
pécie de memorial e mesmo com o falecimento da cantora
ainda possui diversos trabalhos que estão sendo lançados aos
poucos, desta forma, ainda funciona como uma fonte de renda
que consequentemente pertence ao herdeiro.
Resta esclarecer que ela deixou um herdeiro, seu filho
menor Léo Mendonça. Frisamos que, existe uma disputa judi-
cial acerca desse patrimônio deixado pela cantora, que prova-
velmente ainda se prolongará por um tempo até que todo esse
vasto acervo digital seja contabilizado, além disso, por ques-
tões de segurança e por não haver ainda uma legislação es-
pecífica no país que trate sobre esse assunto.

68
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2.6 LEGISLAÇÃO

A legislação brasileira precisa ser reformulada imedia-


tamente, em razão da crescente evolução da sociedade. O có-
digo precisa acompanhar as novas demandas que surgem ao
longo desse desenvolvimento. À medida que ocorre uma evo-
lução é preciso que o meio jurídico evolua também. A herança
digital já é realidade, principalmente no Brasil que é conside-
rado uns dos países mais conectados do mundo. Logo, Luiz
Gonzaga Silva Adolfo e Júlia Schroeder Bald Klein (2021, p.
183-199) pontuam que:

Computadores, tablets e smartphones já fa-


zem parte do dia a dia de milhares de brasi-
leiros. As pessoas podem não ter bens físi-
cos, móveis e imóveis, mas a probabilidade
de conservarem um patrimônio digital, na
contemporaneidade, é considerável.

Nesse seguimento, Petroncini (2018, p.11) propõe: “A


vida se finda e a sucessão ocorrerá, pois, ainda que a vida
corpórea tenha cessado, o patrimônio persiste e outras pes-
soas precisam assumir a titularidade e dar continuidade aos
negócios”.
A grande repercussão acerca deste tema nos faz refletir
quanto à privacidade, honra do falecido e toda a herança que

69
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tem por trás de um patrimônio deixado ali em uma plataforma.


Qual a destinação desses bens?
Os bens existências são passados diretamente aos
herdeiros necessários ou testamentários após o falecimento
do autor da herança, conforme determina o princípio de sai-
sine previsto no art. 1.784 do Código Civil mais e os bens abs-
tratos?
A grande questão no que concerne aos bens incorpó-
reos está relacionada à segurança à honra do falecido, por-
tanto, a dificuldade da reformulação do ordenamento jurídico
encontra-se concentrada exatamente em transmitir aos her-
deiros o que lhes é de direito de forma que resguarde os direi-
tos da personalidade do falecido.

2.7 O DIREITO À PRIVACIDADE NA SUCESSÃO DOS


BENS DIGITAIS

A personalidade jurídica extingue-se com a morte, as-


sim, o falecido não é mais um sujeito de direitos e obrigações.
No entanto, isso não ocorre quanto à privacidade, intimidade
e honra dele.
É interessante compreender que é de suma importân-
cia à reformulação do ordenamento jurídico brasileiro para que
se tenha uma legislação específica a tratar da herança digital,

70
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

visto que, a partir do momento que os herdeiros passam a ter


acesso ao acervo digital do falecido, a privacidade deste é vi-
olada, e talvez isso não fosse um desejo do “de cujus”. A
anuência antecipada, preestabelecida no testamento, poderia
ser uma das soluções para tal. A concepção de Bruno Zampier
(2021, p. 76) parte da ideia que:

A necessidade de confidencialidade da infor-


mação pode fazer com o indivíduo possa
querer excluir qualquer tipo de circulação
desta, como, por exemplo, informações so-
bre a saúde, hábitos sexuais, crenças,
mesmo no ambiente digital. Ao se acessar a
conta de e-mail ou de uma rede social,
mesmo após a morte, o conhecimento des-
ses detalhes reservados do sujeito leva a
uma inevitável vulneração de sua esfera pri-
vada, alcançando eventualmente a de ter-
ceiros, como dito. Evitar a circulação dessas
informações pode fazer com que se previ-
nam situações de discriminação aos pró-
prios parentes do falecido ou, ainda, de ar-
ranhão à reputação construída pelo sujeito
em vida.

O cantor britânico Ed Sheeran revelou recentemente


em entrevista para a revista Rolling Stone que deixará um ál-
bum póstumo em seu testamento, o cantor planeja deixar um
álbum para lançamento somente após a sua morte. Afirmou
que pretende adicionar as músicas ao longo de sua vida e foi
claro ao falar que somente serão lançadas após sua morte.

71
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Embora o britânico não tenha revelado mais detalhes sobre o


assunto, o interessante é comentarmos sobre essa prévia au-
torização que o mesmo estabelece em vida, afinal ele expõe
uma de suas vontades após a morte, o que facilitará a desti-
nação dos valores recebidos com este álbum, e o mais impor-
tante é que não será violada a privacidade já que ele deixará
isso posto em testamento conforme sua vontade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reputação do indivíduo é algo que permanece mesmo


após a morte. Com a evolução crescente das informações
guardadas em um ambiente virtual, a reputação principal-
mente das pessoas públicas, permanecerá para sempre, dado
que a repercussão é muito maior comparada a uma pessoa
anônima.
Existem alguns projetos em tramitação no Congresso
Nacional como o PL nº 8.562/2017, que pretende assegurar o
direito dos familiares em administrar o acervo digital do fale-
cido, o projeto nº 3.050/2020, que propõe a alteração do art.
1.788 da Lei nº 10.406/2022 e o nº 703/2022, na qual acres-
centa o art. 1.857-A a Lei nº 10.406/2022.

Art. 1857-A. Toda pessoa capaz pode dis-


por, por qualquer outro meio no qual fique

72
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

expressa a manifestação de vontade, sobre


o tratamento de dados pessoais após a sua
morte”.
§ 1° os herdeiros têm o direito de:
I – acessar os dados do falecido;
II - identificando informações válidas, rele-
vantes e úteis para o inventário e a partilha
do patrimônio;
III – obtenção de todos os dados íntimos re-
lativos a família;
IV – eliminação e retificação de dados equi-
vocados, falsos ou impróprios.
§ 2°As disposições do presente artigo apli-
cam-se, no que couber, aos declarados in-
capazes.

Como o assunto ora abordado ainda é recente pos-


suindo apenas alguns projetos de Leis e decisões que diante
da ausência de previsão legal, tenta solucionar o problema por
meio dos instrumentos já existentes no ordenamento, reitera-
mos a essencialidade de uma legislação específica, de modo
que, assegure as novas relações advindas, que garanta o
acesso dos sucessores a sua respectiva herança e que res-
guarde a intimidade do falecido.
Dentro desse meio, identificamos uma série de dificul-
dades como o acesso de terceiros aos acervos digitais devido
a condições impostas pelos donos de plataformas, além de di-
versas contradições quanto ao acesso aos dados e as restri-
ções que deveriam ser impostas.

73
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Sendo assim, é fato que o direito de ambas as partes deve ser


respeitado, assegurando desde então, tanto a privacidade do
falecido quanto o direito dos herdeiros em adquirir a sua res-
pectiva parte da herança.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

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78
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

3
A PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE
SEGUNDO A LEI 14.344/2022 - LEI HENRY BOREL

PROTECTION OF CHILDREN AND ADOLESCENTS AC-


CORDING TO THE LAW 14.344/2022 -
HENRY BOREL LAW

Edilane de Souza Almeida5


Alcides Marini Filho6

ALMEIDA, Edilane de Souza; FILHO, Alcides Marini. A Prote-


ção à Criança e ao Adolescente Segundo a Lei 14.344/22 -
Lei Henry Borel. Trabalho de Conclusão de Curso de gradu-
ação em Direito – Centro Universitário UNINORTE, Rio
Branco. 2024.

5
Discente do 9º período do Curso de Direito pelo Centro Universitário Uni-
norte.
6
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduado em Direito pela Uni-
versidade Católica Dom Bosco Campo. Pós-Graduado em Direito Civil pelo
Instituto Elpídio Donizete.

79
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

O presente projeto de pesquisa tem por objetivo avaliar os im-


pactos e consequências da Lei Henry Borel (Lei 14.344/22),
em razão à prevenção e combate à violência doméstica contra
crianças e adolescentes. Diante do exposto, realizou-se o es-
tudo a respeito das mudanças e contribuições trazidas pela Lei
bem como seus avanços, entendendo a sua eficácia e seus
mecanismos dentro do sistema jurídico. Com esse objetivo,
produziu-se uma análise acerca dos reflexos da Lei através do
método descritivo e abordagem qualitativa, elaborado através
de pesquisa bibliográfica e documental, análise de caso con-
creto, fundamentados através das leis, doutrinas, publicações
jurídicas, artigos científicos, julgados e jurisprudências. O sur-
gimento da Lei trouxe mudanças significativas para o sistema
jurídico do país, dentre elas o fortalecimento de outras leis, al-
terando-as de forma a afastar possíveis prejuízos à criança e
ao adolescentes, sejam eles físicos, psicológicos, sexuais ou
patrimonial. Desse modo, a Lei Henry Borel (Lei 14.344/22) é
promissora no enfrentamento da violência doméstica, sempre
priorizando a garantia integral dos direitos e dignidade humana
das crianças e dos adolescentes.

Palavras-Chave: Lei Henry Borel; violência doméstica; violên-


cia contra a criança e adolescente.

ABSTRACT

This research project aims to evaluate the impacts and conse-


quences of the Henry Borel Law (Law 14,344/22), in terms of
preventing and combating domestic violence against children
and adolescents. In view of the above, a study was carried out
regarding the changes and contributions brought by the Law
as well as its advances, understanding its effectiveness and its

80
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mechanisms within the legal system. With this objective, an


analysis was produced regarding the reflections of the Law
through the descriptive method and qualitative approach, elab-
orated by bibliographic and documentary research, estab-
lished through laws, doctrines, legal publications, scientific ar-
ticles, trials and jurisprudence. The creation of this Law brought
significant changes to the country's legal system, including the
strengthening of other laws, altering them in order to eliminate
possible harm to children and adolescents, whether physical,
psychological, sexual or patrimonial. In this way, the Henry
Borel Law (Law 14,344/22) is promising in combating domestic
violence, always prioritizing the full guarantee of the rights and
human dignity for both children and adolescents.

Keywords: Henry Borel Law; domestic violence; violence


against children and adolescents.

INTRODUÇÃO

A violência intrafamiliar dentre os mais diversos casos,


é um dos principais problemas a ser enfrentado no país e difícil
de solucionar, visto que na maioria das vezes ocorre de forma
anônima no ambiente doméstico, quase sempre por aqueles
que tem o dever de acolher e proteger as crianças.
A Proteção Integral é definido com base em três princí-
pios relevantes: a consideração de crianças e adolescentes
como detentores de direitos, com prioridade absoluta de suas
necessidades durante o seu processo de desenvolvimento.

81
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Sob esse prisma, está o dever conjunto do governo, do Estado


e da sociedade no propósito de oferecer assistência bem
como a proteção dos direitos fundamentais do qual toda a cri-
anças e adolescentes possui.
O caso Henry Borel originou uma grande repercussão
e comoção no país, do qual resultou em repúdio, e é sempre
mencionado quando diante de novos casos de violência infan-
til. Este episódio ficou marcado, após a criança dar entrada na
emergência de um hospital como acidente doméstico, porém
diante de todas as análises e indícios restou comprovado que
se tratava de um crime, supostamente praticado pelo padrasto
e com omissão por parte de sua genitora que por sua vez tinha
total responsabilidade de proteger e zelar pela criança como
previsto pela Constituição Federal.
Nasce assim a Lei Henry Borel, do qual nos apresenta
disposições que proporcionam o desenvolvimento equilibrado
e saudável das crianças, garantindo o direito à convivência em
um ambiente familiar, conforme estabelecido na Constituição.
No entanto, é importante frisar que o sistema de justiça
ainda é vagaroso, por esta razão contribui com a revitimização
de muitas crianças e adolescentes. Embora os direitos refe-
rentes à infância e juventude estejam previstos em lei, a de-
fesa desses direitos é uma batalha incessante de movimentos
sociais, de profissionais qualificados e de toda população.

82
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A proteção da criança não é limitada apenas a família


não está como em tempos passados, onde a autoridade es-
tava nas mãos dos próprios pais. Atualmente, essa proteção é
vista como uma questão de direito público, do qual o Estado e
a sociedade dividem a responsabilidade com objetivo proteger
a criança e preservar seus direitos de maneira integral.
O presente projeto de pesquisa tem como objetivo ob-
servar os impactos da nova Lei 14.344/22, conhecida como
Lei Henry Borel, no que tange à prevenção e combate à vio-
lência doméstica contra crianças e adolescentes. Este traba-
lho é de grande relevância, visto que cada vez mais estamos
diante do crescimento de casos de violência em face dos mais
vulneráveis, restando cada vez mais evidente nos casos mais
graves acabam culminando em tragédias, como ocorrem anu-
almente no Brasil.
Dessa forma, o enfoque é explanar a temática, visto
que, a violência infantil viola os Direitos Humanos, assim, na
esfera do direito, é relevante a pleitear acerca da Lei Henry
Borel, abordando sua importância não só no que se refere aos
direitos, mas principalmente as consequências trazidas pela
violência.
Por fim, esse trabalho tem como finalidade esclarecer o
conteúdo da Lei Henry Borel à sociedade de modo geral, iden-
tificando se a mesma traz inovações quanto à importância de

83
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sua execução no que se refere a prevenção e interrupção de


ações de violência dentro das famílias.

3.1 DO PODER FAMILIAR: DIREITOS DA CRIANÇA E


DEVERES DOS GENITORES - PRINCÍPIO DO MELHOR
INTERESSE DA CRIANÇA

O poder familiar, que antes era considerado um poder,


hoje passa a ser entendido como um dever legalmente im-
posto a pessoa, devido a circunstâncias específicas das quais
não se pode deixar de cumprir. O poder familiar conferido aos
pais é um comprometimento que a sociedade organizada atri-
bui a eles, em razão de sua condição de pais, para atender o
melhor interesse dos filhos. A realização desse dever não é
opcional, mas sim fundamental, em prol dos filhos (Lôbo,
2006).
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988,
a família adquiriu novas funções, como às de natureza patri-
monial bem como estimular a realização pessoal de seus
membros contribuindo para o seu desenvolvimento dentro do
ambiente doméstico.
Ademais, a família fica responsável pela função de as-
sistência moral e psicológica, devendo oferecer apoio aos

84
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

seus integrantes perante os desafios comuns do dia a dia, pre-


ferencialmente no que diz respeito ao desenvolvimento dos fi-
lhos, uma responsabilidade que não pode ser exercida por ou-
tros setores sociais. Isso mostra a evolução do entendimento
sobre o papel da família na sociedade contemporânea, indo
além das questões financeiras e econômicas. (Oliveira, 2007).
Diante disso, cabe ressaltar que o princípio do melhor
interesse da criança e do adolescente, é uma obrigação legal
que coloca os interesses destes como prioridade tanto na cri-
ação das leis quanto em sua aplicação dos direitos já estabe-
lecidos. (Tartuce, 2015).
Segundo Madaleno (2007, p. 120) os filhos têm tanto o
direito de conviver com seus pais quanto de receber afeto de-
les, uma vez que cada um dos pais desempenha um papel
específico no desenvolvimento da estrutura psicológica das
crianças. É por esse motivo que atualmente existe jurisprudên-
cias baseado a esse direito, resultando na condenação de ge-
nitores ao pagamento de indenização devido ao dano moral
causado pelo abandono afetivo.

A omissão injustificada de qualquer dos pais


no provimento das necessidades físicas e
emocionais dos filhos sob o poder parental
ou o seu proceder malicioso, relegando des-
cendentes ou abandonando e ao desprezo,
tem propiciado o sentimento jurisprudencial
e doutrinário de proteção e de reparo ao

85
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dano psíquico causado pela privação do


afeto na formação da personalidade da pes-
soa (Madaleno, 2007, p.113).

Em uma análise mais genérica, a proteção busca pre-


servar os futuros cidadãos durante sua fase de desenvolvi-
mento, levando em consideração que a incapacidade civil dos
menores é uma fase transitória que evolui para à capacidade
civil dos adultos. Embora em ambas as etapas seja constituí-
das de direitos e deveres inerentes a eles, é fundamental en-
tender que a criança não é apenas visto como sujeitos passi-
vos da incapacidade civil, mas como cidadãos ativos do futuro
reconhecendo que a criança e o adolescente representam o
futuro e por esta razão devem ser tratados com absoluta pre-
ferência. (Fulem, Dezem e Martins, 2013, p. 32)
Na prática, esse princípio é demonstrado de algumas
formas, como receber atendimento prioritário e digno para as
crianças em todas as situações. Sua condição de indivíduos
em desenvolvimento deve ser conhecida em qualquer circuns-
tância, bem como sua intimidade e suas condições pessoais
devem ser preservada, quando tratar de processos judiciais
envolvendo-os, logo mantidos em segredo de justiça. (Bra-
sil,2017)
Toda criança deve ser protegida contra discriminação,

86
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

violência e opressão. Elas possuem o direito de serem ouvi-


das, bem como de se expressar, assim como os adultos, além
do direito de permanecer em silêncio. Carecem de receber in-
formações fundamentais durante sua fase de crescimento, o
que inclui o direito à informação sexual no intuito de identificar
situações de abuso. (Brasil,2017)
As crianças têm acesso a assistência jurídica e psicos-
social especializada, com direito à reparação de seus direitos
quando são violados e qualidade na educação do qual é um
direito fundamental, garantido pelo Poder Público, com aces-
sibilidade assegurada. (Brasil,2017)
Elas devem ter a oportunidade de conviver em família e
na sociedade, até mesmo as crianças que não se encontram
sob cuidados familiares devem sentir-se acolhidas em locais
especializados e por profissionais responsáveis por eles. De-
vem ter acesso e ser incentivadas à leitura, ao esporte e ao
lazer. Seus desejos devem ser levados em consideração
quanto a sua decisão em relação a sua guarda, entre muitas
outras práticas desse princípio. (Brasil, 2017)
Dentro de um conflito familiar, os filhos são parte mais
importante, uma vez que seus interesses deve prevalecer so-
bre qualquer condição. A evolução do princípio do melhor in-
teresse da criança e do adolescente trouxe algumas mudan-
ças para o sistema jurídico, como por exemplo no artigo 277,

87
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

§6º da Constituição Federal, do qual determinou a igualdade


absoluta entre todos os filhos, não podendo haver mais a dis-
tinção entre filhos legítimos e ilegítimos resultando em um
grande progresso, visto que as antigas legislações faziam
essa distinção, e posteriormente havendo conflitos nos direitos
de sucessão. (Gonçalves, 2021, p. 112)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) deter-
mina que o poder familiar será exercido pelos pais, "na forma
do que dispuser a legislação civil". De outra banda, o novo Có-
digo Civil estabelece que este poder será dos pais durante o
casamento ou a união estável, porém o legislador não deixa
explícito quanto as demais entidades familiares que são tute-
ladas pela Constituição, restando evidente a necessidade de
uma análise mais detalhada do sistema jurídico, uma vez que
a norma deve ser entendida de forma mais ampla e incluindo
as demais entidades familiares, onde houver quem exerça o
múnus, de fato ou de direito, na ausência de tutela regular.
(Lôbo,2006)
O princípio do melhor interesse da criança, dispõe a
utilização da guarda compartilhada, aos pais que estão efeti-
vamente separados. Essa conduta faz com que o filho possa
estar na presença constante de ambos os pais, desta forma
colaborando com o desenvolvimento e bem-estar da criança.

88
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

No mais, o "direito à companhia" é relativo e não pode contra-


riar a vontade do filho que poderá decidir pela companhia de
qualquer dos genitores que não possuir a guarda, porém o di-
reito de um genitor não exclui o direito do outro, visto que a
guarda compartilhada visa conservar as relações familiares
entre pais e filhos, atribuindo a ambos os mesmos direitos e
deveres. (Lôbo,2006)
O ordenamento jurídico determina deveres específicos
aos pais, tais como: obrigações ao sustento, à guarda e à edu-
cação dos filhos, bem como garantias dos direitos humanos
fundamentais dispostos na Constituição Federal como: o di-
reito à vida, ao lazer, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à
convivência familiar e comunitária, bem como a proteção con-
tra violência, discriminação, exploração, opressão e abusos.
(Gonçalves, 2021). Maria Helena Diniz, em sua doutrina dis-
corre que:

A guarda é um dever de assistência educa-


cional, material e moral a ser cumprido no
interesse e em proveito do filho menor, ga-
rantindo-lhe a sobrevivência física e o de-
senvolvimento psíquico. A guarda é um con-
junto de relações jurídicas existentes entre o
genitor e o filho menor, decorrentes do fato
de estar este sob o poder e companhia da-
quele e da responsabilidade daquele relati-
vamente a este, quanto à sua criação, edu-
cação e vigilância. A guarda é um poder-de-
ver exercido no interesse do filho menor de

89
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

obter boa formação moral, social e psicoló-


gica, saúde mental e preservação de sua es-
trutura emocional. Ao guardião se defere o
poder familiar em toda sua extensão (guarda
singular, unilateral ou uniparental), cabendo-
lhe decidir sobre educação e formação reli-
giosa do menor, competindo ao outro genitor
apenas o direito de visita e o de fiscalizar a
criação do filho, não tendo qualquer poder
decisório. (2022, p.112)

O que o novo Código Civil manteve, em grande parte


as mesmas hipóteses de suspensão e extinção do poder fami-
liar, com a adição de normas que fazem referência a outras de
natureza semelhante. A suspensão do poder familiar impede
o exercício temporário desse poder, geralmente em situações
em que o pai ou a mãe não está em condições de exercê-lo
de maneira adequada, garantindo o bem-estar da criança
(Lôbo,2006)
São três as hipóteses de suspensão do poder familiar
dos pais, a saber (art. 1.637): a) descumprimento dos "deveres
a eles (pais) inerentes"; b) ruína dos bens dos filhos; c) conde-
nação em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de
prisão. As duas primeiras hipóteses caracterizam situações de
abuso do poder familiar, nas quais os pais não estão cum-
prindo adequadamente seus deveres para com os filhos, colo-
cando em risco o bem-estar destes. A terceira hipótese diz

90
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

respeito à condenação dos pais por crimes graves que resul-


tam em uma pena de prisão superior a dois anos. Em tais ca-
sos, o poder familiar pode ser suspenso visando a proteção
dos interesses da criança. (Lôbo,2006)
No mais, também há situações que resultam na extin-
ção do poder familiar, encerrando as obrigações e responsa-
bilidades legais dos pais em relação ao filho em questão,
como: morte dos pais ou do filho, adoção do filho por terceiros,
emancipação do filho, perda em razão de decisão judicial, mai-
oridade do filho. (Lôbo,2006)

3.2 DO DEVER DO ESTADO NA PROTEÇÃO DA CRIANÇA


E O ADOLESCENTE

Quando o assunto é o Estado no dever de proteger cri-


anças e adolescentes, é inevitável promulgar leis que não con-
ferissem responsabilidades a entidades constitucionalmente
competentes para tanto (Marçon e Aquotti, 2015).
De acordo com o art. 23 da Constituição Federal são
concomitantemente competentes a União, os Estados, os Mu-
nicípios e o Distrito Federal, bem como apresenta vários inci-
sos que inclui interesses aos menores, no entanto não dispõe
qualquer prescrição designando competências para presta-
ções de serviços que objetivem, exclusivamente, à defesa dos

91
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

direitos ou a tutela dos mais vulneráveis. (Marçon e Aquotti,


2015).
A responsabilidade legal do Estado pela criança e ao
adolescente está no dever de cumprimento e fiscalização dos
encargos a ele atribuídos através de sua legislação, uma vez
que, realizadas, asseguram a efetividade dos direitos funda-
mentais da criança e do adolescente. (Marçon e Aquotti,
2015).
Segundo Heywood (2004), até o século XIX, o Estado
não tinha qualquer envolvimento na regulamentação das rela-
ções familiares, mas especificamente no que se refere à con-
duta entre pais e filhos, ainda que estivesse diante de casos
de pais abusivos.
Com a insatisfação e problemas cada vez maiores vol-
tados a questões relacionadas à saúde, delinquência, morali-
dade, pobreza e níveis de educação infantil, que se passou a
considerar uma intervenção mais ativa por parte do Estado
nas condutas familiares. A partir de então a sociedade passou
a concordar que famílias deviam ser assistidas para o bem-
estar das crianças. (Heywood, 2004)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabe-
lece os chamados Conselhos de Direitos, estes por sua vez
funcionam como mecanismos fundamentais para a discussão,

92
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

elaboração e decisões voltados a atender os interesses in-


fanto-juvenil. Esses conselhos são estabelecidos em todas os
três setores de governo, com a finalidade de garantir que a
sociedade participe das políticas relacionadas a essa classe
social. (Cantini,2008)
Teixeira (2010, p. 5) expõe que:

Instrumento de cidadania, os conselhos pro-


porcionam a ação integrada entre Estado e
Sociedade Civil na formulação e execução
das políticas públicas dirigidas para ao aten-
dimento dos direitos sociais das crianças e
dos adolescentes. Constitui uma instância
valiosa de participação popular na esfera
das decisões do Estado. Todo cidadão tem
o direito de procurar o Conselho de direito
para buscar informações, esclarecimentos e
orientação técnica [...].

O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Ado-


lescente (CONANDA) criado no ano de 1991 pela Lei nº 8.242
e posteriormente aprovada pelo Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (ECA) reconhecido como órgão colegiado, do qual
exerce importante função de formular diretrizes e políticas na-
cionais para essa área. (Texeira,2010)
É através do CONANDA que representantes do go-
verno e da sociedade participam de forma democrática na cri-
ação de políticas públicas e na tomada de decisões sobre o
destino dos recursos que serão utilizados, bem como fiscalizar

93
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

as ações realizadas pelo poder público e estar responsável


pela gestão do Fundo Nacional da Criança e do Adolescente.
(Monfredini, 2013; Teixeira, 2010; Cantini,2008)
Ademais, o CONANDA é responsável na definição das
normas a serem seguidas pelos governos de estados e muni-
cípios, bem como atua na supervisão do preparo e execução
do orçamento federal. (Monfredini, 2013; Teixeira, 2010; Can-
tini,2008)
Conforme ressaltado por Neto (2005, p.12), devido a
importante função do CONANDA estabeleceu-se a criação de
um Sistema de Garantia de Direitos (SGD) especializado
como forma de determinar novas diretrizes e fortalecer do sis-
tema em todo território nacional.
Para Rezende (2014), o período entre a promulgação
do ECA e a Resolução 113 permitiu que o CONANDA e de-
mais conselhos fossem determinados, estruturados, formali-
zados e ganhassem a força política indispensável, período ne-
cessário para o que o SGDCA se tornasse eficaz na proteção
e promoção dos direitos das crianças e dos adolescentes.
Monfredini (2013, p. 59-60) destaca que ao designar as
competências do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança
e do Adolescente (SGDCA) em seu artigo 2º, o dispositivo im-
põe que todos os agentes sejam responsáveis, no intuito de
compartilhar esse conjunto de competências. Ações das quais

94
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

são de grande relevância para garantir que a criança e o ado-


lescente sejam aprovados como sujeitos de direitos e para as-
segurar a efetiva proteção integral destes.
O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do
Adolescente (SGDCA) dispõe de uma gestão descentralizada
e participativa, ou seja, a União tem o dever de estabelecer
um órgão específico e autônomo responsável por coordenar a
política de atendimento dos direitos humanos de crianças e
adolescentes. (Monfredini, 2013, p. 64)
Segundo Moura (2005), especialistas das Nações Uni-
das reconhece que o governo brasileiro empenha-se em trans-
formar a vida das crianças no país, principalmente quando es-
tas são alvos da desigualdade em razão de fatores étnicos,
gênero, classe social. Dessa forma o Estado tem a função de
implementar políticas públicas com a finalidade de reduzir as
violações dos direitos culturais, econômicos da criança.
No mais, o estado ainda encontra dificuldade na efeti-
vação dos direitos da criança e do adolescente em razão de
fatores políticos na ausência de implementação de políticas
públicas, fatores cultural quando a criança e o adolescente
ainda não são vistos pela sociedade como sujeitos de direitos
e por fim fatores jurídicos quando os direitos da criança e do
adolescente é desconhecido. (Fontoura,2011, p. 39)
Nesse prisma, vale ressaltar que o Conselho Tutelar é

95
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tido como "porta de entrada" para distinguir as necessidades


relacionadas aos infantes, identificando quando necessário si-
tuações de violação e encaminhando-as para as autoridades
competentes, papel este que quando desempenhado de forma
eficaz diante das numerosas situações em o que o direito dos
mais vulneráveis são violados, aumentam as chances de ser
solucionado. (Sales, 2010)

3.3 A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA NA PROTEÇÃO A CRI-


ANÇA E ADOLESCENTE - ANTIGO CÓDIGO DE MENORES
O ECA

Nas mais antigas culturas, as crianças em sua menori-


dade não eram aceitas como detentoras de direitos, estas por
sua vez eram submissas à autoridade paterna. (Tavares,
2001)
Foi durante o século XIX, que a criança passou a ser o
foco principal dentro do âmbito familiar, a quem deveria ser
oferecido afeto e educação, sendo tratadas com mais atenção
e cuidado. (Barros, 2005)
No ano de 1919, ficou estabelecido o Comitê de Prote-
ção da Infância, importante pelo início da efetivação de obri-
gações coletivas no âmbito internacional em relação às crian-
ças. A partir de então, a primeira Declaração dos Direitos da

96
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Criança foi decretada, o que levou os Estados membros a criar


suas próprias leis e regulamentações em defesa dos direitos
das crianças e dos adolescentes. (Tomás, 2009)
A Constituição de 1824 não fazia qualquer menção à
proteção ou garantia das crianças e dos adolescentes, mesmo
havendo espaço para abordar temas relevantes de direito so-
cial sua prioridade era tratar da centralização administrativa.
Por outro lado a doutrina penal destinada aos menores come-
çou a ser desenvolvida no ano de 1830 e continuou a existir
no Código Penal de 1890. (Jesus, 2006)
Nesse cenário, importa ressaltar que os direitos infanto-
juvenil não possuíam nenhum amparo constitucional. No en-
tanto a introdução do Código de Menores trouxe para a época
a c compreensão da responsabilidade, culpabilidade e discer-
nimento de crianças e adolescentes. O termo "menor" passou
a ser empregado para se referir não apenas àqueles que es-
tavam em situações de necessidade moral ou material, mas
também àqueles que praticou alguma infração. (Vero-
nese,1997)
De acordo com Liberati (2002), a responsabilidade so-
bre as crianças ainda estava nas mãos do Estado, que se uti-
lizava de punições objetivando a prevenção da criminalidade
que muitas das vezes era resultado de tratamentos inapropri-
ados oferecidos a elas por ser indivíduos de menor condição.

97
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A Constituição de 1934, elencou importantes questões


relacionadas à proteção do trabalho de crianças e adolescen-
tes, pois determinou limitações quanto ao trabalho noturno
para menores com idade inferior a 16 anos, bem como proibiu
o trabalho em locais insalubres para menores de 18 anos. Ou-
trossim, a Constituição de 1934 também trouxe decisões de
apoio à maternidade e à infância, reforçando a importância de
proteger os direitos e a saúde das crianças e das mães. (Libe-
rati, 2002)
No período conhecido como Estado Novo, foi promul-
gado a Constituição de 1937, o Estado assumiu o compro-
misso de salvaguardar os direitos da criança. Como exposto
por Maurício Jesus, a respeito do artigo 127 da Constituição
de 1937:

A infância e a juventude devem ser objeto de


cuidados e garantias especiais por parte do
Estado que tomará todas as medidas desti-
nadas a assegurar-lhes condições físicas e
morais de vida sã e de harmonioso desen-
volvimento das suas faculdades. O aban-
dono moral e intelectual ou físico da infância
e da juventude importará falta grave dos res-
ponsáveis por sua guarda e educação, e cria
ao Estado o dever de provê-las do conforto
e dos cuidados indispensáveis à preserva-
ção física e moral. Aos pais miseráveis as-
siste o direito de invocar o auxílio e proteção
do Estado para a subsistência e educação
da sua prole. (Jesus, 2006)

98
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O Código Penal de 1940, ainda permanece em vigor.


Nele ficou estabelecido a responsabilização penal a partir da
maior idade (18 anos), o que significa que aqueles menores
de 18 anos não são responsabilizados perante a lei penal.
(Santos,2013)
No ano de 1941, surgiu o Serviço de Assistência ao Me-
nor (SAM), através do Decreto-lei 3.733/41. Tratava-se de
uma espécie de prisão designada aos menores, o que gerou
uma grande reflexão na época pela forma punitiva. (San-
tos,2013)
De acordo com Jesus (2006, p. 52) o artigo 2º do De-
creto, para o Serviço de Assistência ao Menor (SAM) tem
como principal objetivo: Analisar as causas subjacentes ao
abandono e à delinquência infantil; Proporcionar abrigo e cui-
dados adequados para crianças e adolescentes sob a jurisdi-
ção do juizado, em instituições apropriadas; Realizar investi-
gações sociais e realizar avaliações médicas, psicológicas e
pedagógicas; Promover a publicação regular dos resultados
de pesquisas, estudos e estatísticas relacionados a essas
questões; sistematizar e direcionar os serviços voltados para
a assistência a menores em situação de vulnerabilidade e jo-
vens infratores.
Essas funções evidenciam a prática utilizada na época

99
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

para tratar dos menores em situação de risco e jovens delin-


quentes, ressaltando a assistência social e o estudo dos reais
motivos que resultaram no abandono e delinquência infantil.
(Jesus, 2006)
O Código de Menores reformulado em 1979, foi de
grande importância e progresso quando comparado as antigas
legislações, visto que determinou que o estado poderia intervir
em relação menores em situação irregular. (Santos,2013)
Segundo Veronese (1997, p. 10) o Código de Menores
de 1927:

[...] conseguiu corporificar leis e decretos


que, desde 1902, propunham-se a aprovar
um mecanismo legal que desse especial re-
levo à questão do menor de idade. Alterou e
substituiu concepções obsoletas como as de
discernimento, culpabilidade, responsabili-
dade, disciplinando, ainda, que a assistência
à infância deveria passar da esfera punitiva
para a educacional.

Desse modo, o Código de Menores de 1979, Lei nº


6.679/79, esteve vigente com finalidade de proporcionar tanto
proteção quanto assistência à criança e ao adolescente, não
se limitando apenas aos vulneráveis desamparados mas tam-
bém, delinquentes e os que se encontravam em situação irre-
gular. (Azambuja,2006)

100
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A luta pela igualdade se tornou mais intenso com a pro-


mulgação da Constituição de 1988, não apenas atribuindo o
dever de proteger e garantir o direito das crianças ao Estado,
mas também concedeu esse direito à família e à sociedade.
(Oliveira,2017)
Assim definido no artigo 227 da Constituição de 1988:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e


do Estado assegurar à criança, ao adoles-
cente e ao jovem, com absoluta prioridade,
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além
de colocá-los a salvo de toda forma de negli-
gência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) surgiu


com a promulgação da Lei 8.069/90 em 13 de julho de 1990,
do qual foi originado para refutar a grande revolta do país em
prol das crianças, que a partir de então passam a ser reconhe-
cidos oficialmente como "sujeitos de direitos" com "prioridade
absoluta". (Alberton, 2005)
O ECA, se tornou um grande progresso para a socie-
dade brasileira, visto que disponibiliza um sistema mais amplo
quanto a proteção infanto-juvenil, garantindo-lhes direitos pro-
cessuais específicos. (Santos,2017)

101
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Segundo Santos (2017), o ECA trouxe algumas altera-


ções no que diz respeito ao acolhimento das crianças e dos
adolescentes. O termo "menor" foi abolido, estabelecendo um
novo conceito e distinção do qual é considerado "criança" pes-
soas até 12 anos de idade incompletos e "adolescente" para
pessoas com idade entre 12 anos completos até 18 anos in-
completos. Além disso, não mais se utilizando a definição de
"infração penal" mas sim "ato infracional". (Santos,2017)
Veronese (1997, p. 12) explica que:

O Estatuto da Criança e do Adolescente veio


pôr fim a estas situações e tantas outras que
implicavam numa ameaça aos direitos da
criança e dos adolescentes, suscitando, no
seu conjunto de medidas, uma nova postura
a ser tomada tanto pela família, pela escola,
pelas entidades de atendimento, pela socie-
dade e pelo Estado, objetivando resguardar
os direitos das crianças e adolescentes, ze-
lando para que não sejam sequer ameaça-
dos.

Por fim, é importante destacar que o ECA também es-


tabeleceu normas de proteção aos infantes que foram rejeita-
dos e que carecem de uma família. Isso ocorre através de ins-
titutos da tutela, guarda e adoção tidos como possibilidades de
assegurar uma vida digna dessas crianças. No mais, o ECA
preceitua regras para a execução das medidas socioeducati-

102
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

vas para os jovens que cometem infrações, escolhendo sem-


pre a melhor medida socioeducativa e priorizando a ressocia-
lização, e em casos de privação de liberdade deve ser apli-
cada somente em situações em que se justifique (San-
tos,2017).

3.4 A LEI Nº 14.344/22 - LEI HENRY BOREL

O fatídico dia 8 de março de 2021 ficou marcado na his-


tória do Brasil pela morte violenta do menino Henry Borel Me-
deiros. A criança de apenas 4 anos de idade foi levada para
emergência pediátrica do Hospital Barra D'or, por sua mãe,
Monique Medeiros da Costa e Silva e de seu padrasto Jairo
Souza Santos Júnior. Os médicos ao examinar a criança, ve-
rificaram que o mesmo já se encontrava em óbito e apresen-
tava múltiplas lesões em seu corpo. (Serra, 2021, cap. 1).
De acordo com informações disponíveis, ainda no hos-
pital o padrasto do garoto, Jairinho e sua genitora Monique de-
ram suas versões sobre o ocorrido, afirmando que o menino
estava dormindo e o encontraram no chão, sem sinais vitais e
com mãos e pés frios. A equipe médica diante da confirmação
do óbito, levantou suspeitas uma vez que versão apresentada
pelos adultos e as evidências físicas encontradas no corpo da
criança não coincidiam e este fato fora fundamental para dar

103
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

início às investigações. (Serra, 2021, cap.1).


Após os laudos periciais finais do caso de Henry Borel
serem concluídos, restou comprovado o que de fato aconteceu
com a criança. Se confirmou através dos laudos lesões pre-
sentes no corpo de Henry não poderiam ter sido ocasionadas
por um acidente doméstico, visto que a criança já chegou
morto ao hospital, bem como todas as lesões foram minucio-
samente detalhadas pelo perito, chegando a conclusão que
não poderiam ter sido causadas por uma única ação, pelo con-
trário, as lesões sugeriam a presença de diversas ações con-
tundentes e diferentes graus de energia envolvidos. (Serra,
2021, cap. 27).
Os responsáveis pelo menino foram indiciados pelo de-
legado Henrique Damasceno os qualificando-os em duas cir-
cunstâncias: emprego de tortura e a incapacidade de defesa
da criança, sendo o padrasto, Jairinho indiciado duas vezes
por tortura, e a mãe, Monique, uma vez por omissão aos atos
de violência cometidos contra Henry. (Serra, 2021).
O fato de a criança ter sido morta violentamente dentro
do seu próprio lar, causou repúdio e comoção em todo país,
evidenciando não só estatísticas brutais da violência
doméstica praticada contra crianças e adolescentes, mas
também todo um sistema falho de proteção da infância e ju-

104
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ventude, protagonizado pela família, pelo Estado e pela soci-


edade de um modo geral o que resultou no Projeto de Lei
1360/21, do qual foi elaborado por deputadas Alê Silva (Repu-
blicanos-MG), Carla Zambelli (PL-SP) e Jaqueline Cassol (PP-
RO), com relatoria da deputada Carmen Zanotto (Cidadania-
SC) e posteriormente sancionada pelo Presidente Jair Bolso-
naro e publicada no Diário Oficial da União em 25 de maio de
2022. Essa legislação por sua vez introduz diversos mecanis-
mos destinados à prevenção e combate à violência doméstica
e familiar contra crianças e adolescentes. (Mota; Oli-
veira,2023)

3.4.1 AVANÇOS E MUDANÇAS TRAZIDOS PELA LEI

A lei 14.344/22 (Lei Henry Borel), trouxe mudanças sig-


nificativas no combate à violência doméstica contra crianças e
adolescentes no Brasil, pois apresenta uma estrutura ade-
quada e específica para atender este problema. Isso inclui a
busca em fornecer meios mais competentes de proteção e as-
sistência, garantir os direitos humanos e a integridade física
das crianças e adolescentes, mecanismos de prevenção, as-
sistência às vítimas e implementação de políticas públicas e
estabelecimento de punições mais rigorosas para os agresso-
res. (Sferra; Redivo, 2023)

105
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A lei determina que o homicídio de crianças seja consi-


derado um crime hediondo, classificando-o como altamente
grave e consequentemente em sanções penais. Assim, tem
medidas mais severas, como ser inafiançável, impossibilidade
anistia, graça ou indulto ao condenado, de acordo com o dou-
trinador Antônio Lopes Monteiro (2015, p.17), ‘‘Quando a con-
duta delituosa estiver revestida de excepcional gravidade,
quando o agente revela total desprezo pela vítima, insensível
ao sofrimento físico ou moral.’’
A nova lei também faz altera o Código Penal brasileiro
(Decreto-Lei n.º 2.848 de 1940) em relação ao homicídio de
crianças, de modo que o homicídio de menores de 14 anos de
idade é classificado com uma pena de reclusão de 12 a 30
anos e poderá ser aumentada de um terço à metade se a ví-
tima for uma pessoa com deficiência ou apresentar alguma
doença que a torne mais vulnerável. Ademais, sendo o autor
do crime parente de primeiro grau, cônjuge, empregador da
vítima, tio, padrasto, madrasta, tutor ou que tenha qualquer
outra autoridade sobre a vítima, este incidirá no aumento de
pena podendo chegar até a dois terços. (Brasil,2022)
Essas mudanças na legislação reforça o comprometi-
mento do sistema legal na prevenção da violência doméstica,
buscando proteger os mais vulneráveis e garantir que cresçam

106
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

em ambientes saudáveis e seguros, sem serem alvos de abu-


sos ou homicídios. (Brasil,2022)
De acordo com a legislação as novas regras que inci-
dem no aumento de pena, reforça o combate à violência e
busca a proteção no que diz respeito ao crime de homicídio de
crianças e adolescentes com idade inferior a 14 anos portado-
res de enfermidades consideradas como hipervulneráveis,
bem como nos casos de parentesco ou convivência do autor
do crime e a vítima. (Souza,2022)
Conforme o artigo 13, a autoridade policial tem o dever
de encaminhar a vítima imediatamente ao Sistema Único de
Saúde (SUS) e ao Instituto Médico-Legal (IML) do qual deverá
passar por avaliação médica para fins de comprovações da
violência sofrida e indícios do crime. No mais, a autoridade po-
licial também tem a responsabilidade de conduzir a vítima, os
familiares e até mesmo testemunhas ao Conselho Tutelar, es-
tando no dever de garantir a proteção à vítima, oferecendo
quando necessário transporte a ela. (Brasil,2022)
Ademais, é oferecido ao juiz um prazo de 24 horas para
tomar decisões e impor outras medidas de proteção como: tor-
nar ciente o Ministério Público para que se necessário tome
providências, encaminhamento do responsável pela criança

107
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ou adolescente ao órgão de assistência judiciária, se for con-


siderado necessário e ordenar a apreensão imediata da arma
de fogo em posse do autor. (Brasil,2022)
A nova legislação também inclui que o agressor pode
ter à prisão preventiva decretada durante o inquérito policial
ou da instrução criminal, no entanto poderá ser revogada pelo
juiz quando necessário. (Brasil,2022)
As medidas de proteção contra o agressor imposta pela
legislação tem como referência as adotadas pela lei Maria da
Penha, como: o impedimento de convivência do agressor com
a vítima afastando-o do lar não permitindo se aproximar da ví-
tima e seus familiares, o agressor será obrigado a participar
de programas de recuperação e reeducação, bem como a sus-
pensão da posse ou a restrição do porte de arma. Em caso
de descumprimento o agressor estará sujeito a uma pena de
detenção de três meses a dois anos, e nos casos de prisão
em flagrante de desobediência à proibição de aproximação da
vítima, a concessão de fiança responsabilidade exclusiva do
juiz. (Brasil, 2022).
A lei estabelece em seu artigo 21 as medidas adotadas
para a proteção, do qual acolhe a vítima e sua família através
de atendimento atendimentos realizados pelos órgãos de as-

108
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sistência social, como também estuda a possibilidade de se-


rem recebidos por um programa de acolhimento institucional
ou até mesmo por uma família substituta. (Brasil,2022)
É importante ressaltar que lei também dispõe de garan-
tias como a vítima ser matriculada em escola próxima inde-
pendente da disponibilidade de vagas, bem como poderá
ainda o Ministério Público determinar serviços públicos de sa-
úde, educação, segurança e assistência social juntamente
com força policial para averiguar estabelecimentos públicos e
privados que atende o público infantil vítimas de violência do-
méstica e familiar. (Brasil, 2022).
É importante frisar que Lei Henry Borel, estabelece que
as medidas protetivas de urgência em desfavor do agressor
terão de ser registradas em um banco de dados regulamen-
tado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) denominado de
Banco Nacional de Medidas Protetivas de Urgência (BNMPU),
garantindo o acesso aos demais integrantes do sistema, obje-
tivando atender crianças e adolescentes vítimas da violência
para reparar seus direitos, assim como rastrear os casos de
violência e suas características dentro do país. (Brasil, 2022)
Segundo Cunha (2022), promotor de Justiça do Minis-
tério Público do Estado do Rio de Janeiro, a Lei Henry Borel
prioriza recursos orçamentários destinados à União, estados
e municípios, garantindo delegacias especializadas, bem

109
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

como a criação de centros de atendimento integral e multidis-


ciplinar para crianças e adolescentes, serviços de saúde e
centros de educação e reabilitação para agressores.
Como analisado, a Lei 14.344/2022 estabelece mudan-
ças relevantes quando comparadas as leis anteriores, e dis-
põe de procedimentos e normas a serem cumpridas pelas au-
toridades competentes quando frente a situações de violência
contra crianças. (Cunha, 2022)
A Lei Henry Borel apresenta dúvidas, a uma pelo o fato
de o legislador não esclarecer em suas disposições acerca da
violência moral. A duas por permitir que o Conselho Tutelar
represente o afastamento do agressor do domicílio da vítima,
dessa forma a lei introduz uma capacidade postulatória que
pode ser considerada falha, trazendo dúvidas sobre a ação do
Conselho Tutelar podendo resultar na alta demanda de pedi-
dos intempestivos de afastamento no Poder Judiciário. (Ara-
újo e Costa, 2022).
No entanto, por se tratar de uma nova legislação ainda
apresenta incertezas, gerando críticas quando a sua aplicação
e a eficácia de suas normas. No entanto a efetividade da lei só
será provada no decorrer do tempo se adequando e ganhando
experiência no enfrentamento da violência contra crianças e
adolescentes. (Cunha, 2022)

110
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao logo dos anos, os Direitos da Criança e do Adoles-


cente era algo imprevisível, visto que o progresso jurídico des-
ses direitos só foi possível após uma incansável busca por mu-
danças e de uma aceitação que conquistasse a doutrina de
proteção integral dentro da sociedade.
O direitos das Criança e do Adolescente teve seu apo-
geu com Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), colocando fim as normas anteriores
se tornando essencial na evolução do contexto legislativo.
Mesmo diante de toda evolução legislativa de proteção
no cenário nacional quanto no internacional, e apoio constitu-
cional a esses direitos, se deparamos com um crescente nú-
mero de casos em que crianças e adolescentes são vítimas no
seio familiar, e na maioria das vezes não são identificadas.
O presente trabalho, fez uma análise a Lei Federal nº
14.344/2022, nomeada “Lei Henry Borel” direcionada para a
violência intrafamiliar contra a criança e o adolescente, ressal-
tando sua efetividade bem como suas falhas, mesmo que seja
vasto o sistema normativo sobre o assunto.
A nova lei se mostrou pertinente por ser atual, de modo
a permitir uma participação maior do Estado na proteção dos
infantes no Brasil, estabelecendo novos meios de controle da

111
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

violência intrafamiliar resultando em melhor soluções. No en-


tanto, é necessário mais estudos para se certificar se os me-
canismos adotados pela lei Henry Borel tem total eficiência
dentro das famílias, uma vez que a legislação ainda é obscura
quanto as suas normas.
Portanto, é certo que toda criança e adolescente são
sujeitos de direitos, compete à família, sociedade e Estado agir
em comunhão em prol da aplicação das leis, para que o menor
se desenvolva protegido em seus direitos e respeito a sua vul-
nerabilidade, e consequentemente refletir positivamente em
todo país.
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116
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4
INDENIZAÇÃO EM CASOS DE
INFIDELIDADE CONJUGAL

COMPENSATION IN CASES
OF MARITAL INFIDELITY

Francineide Ferreira da Silva7


Alcides Marini Filho8

DA SILVA, Francineide Ferreira; FILHO, Alcides Marini. Inde-


nização em Casos de Infidelidade Conjugal. Trabalho de
Conclusão de Curso de Graduação em Direito – Centro Uni-
versitário UNINORTE, Rio Branco. 2024.

7
Discente do curso de Direito 9º período pelo Centro Universitário do
Norte- UNINORTE
8
Graduado na Universidade Católica Dom Bosco em Campo Grande/MS.
Pós-graduado em direito Civil pelo Instituto Elpídio Donizete/MG

117
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

A infidelidade conjugal embora constitua violação dos deveres


do casamento, não tem uma lei específica para as consequên-
cias decorrentes desses incidentes conjugais. Mas há uma
possibilidade de haver reparação compensatória pela infideli-
dade, nos casos de ofensa à honra objetiva da vítima. A per-
gunta de pesquisa este estudo é: a infidelidade conjugal ca-
racteriza a violação à responsabilidade civil, passível de con-
denação de danos morais? Se tratando do direito da família a
responsabilização civil não se satisfaz apenas com dolo, culpa
ou nexo de causalidade, além de todos esses aspectos é ne-
cessário que a cônjuge lesado demonstre a vontade e a ne-
cessidade de defender a sua esfera intima. Quando se trata
de indenização por danos morais não busca apenas o ressar-
cimento financeiro, mas sim em reparar os danos morais
como: angústia e a dor sentida, além do objetivo principal que
é frear para que o infrator não faça novas vítimas. Através das
pesquisas feitas foi possível analisar que o dano moral só se
torna indenizatório em casos de infidelidade conjugal quando
gera a vítima sofrimento excessivo, humilhação, ou constran-
gimento que ofenda de forma significativa a imagem da pes-
soa lesada.

Palavras-chaves: casamento; infidelidade conjugal; danos


morais.

ABSTRACT

Although marital infidelity constitutes a violation of the duties of


marriage, there is no specific law for the consequences arising
from these marital incidents. But there is a possibility of com-
pensatory reparation for infidelity, in cases of offense to the
objective honor of the victim. The research question of this

118
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

study is: does marital infidelity characterize a violation of civil


liability, subject to conviction of moral damages? When it
comes to family law, civil liability is not just satisfied with intent,
guilt or causal link, in addition to all these aspects it is neces-
sary for the injured spouse to demonstrate the will and need to
defend their intimate sphere. When it comes to compensation
for moral damages, it does not only seek financial compensa-
tion, but rather repairs moral damages such as: anguish and
pain felt, in addition to the main objective of stopping the of-
fender from causing new victims. Through the research carried
out, it was possible to analyze that moral damage only be-
comes compensatory in cases of marital infidelity when it
causes the victim excessive suffering, humiliation, or embar-
rassment that significantly offends the image of the injured per-
son.
Keywords: marriage; marital infidelity; moral damages.

INTRODUÇÃO

Este artigo discute sobre a verificação da possibilidade


de indenização por danos morais, pelo descumprimento do de-
ver de fidelidade na vida conjugal. A temática analisada reside
primeiramente na sustentação em que que a traição viola di-
reitos e deveres, tanto do ordenamento jurídico quanto da so-
ciedade, em segundo momento conhecer os direitos que auxi-
liam a vítima da infidelidade.

A pergunta de pesquisa este estudo é: a infidelidade


conjugal caracteriza a violação à responsabilidade civil, passí-

119
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

vel de condenação de danos morais? Com intuito em respon-


der a esse questionamento, foi realizado vastas pesquisas bi-
bliográficas a respeito do tema em questão, abordando aspec-
tos históricos, doutrinários e legais.

A infidelidade conjugal embora constitua violação dos


deveres do casamento, não tem uma lei específica para as
consequências decorrentes desses incidentes conjugais. Mas
há uma possibilidade de haver reparação compensatória pela
infidelidade, nos casos de ofensa à honra objetiva da vítima,
nesses casos é dever do Estado garantir que os envolvidos
sejam assistidos.

Em suma o presente trabalho contribui com a discursão


sobre a infidelidade matrimonial e sobre a possibilidade de in-
denização por danos morais, de forma bibliográfica, analisado
a partir do artigo 186 do Código Civil. Assim, para que seja
caracterizado o dano moral e necessário a comprovação de
existência do dano, do nexo de causalidade entre o fato e o
dano e da culpa do agente.

Vale frisar que o cúmplice do convivente infiel, não há


como imputar o dever de indenizar, já que ele não possui vín-
culo obrigacional com o convivente supostamente traído.
Ainda que a união estável imponha o dever de lealdade a vio-
lação pura e simples de um dever jurídico familiar não é sufi-
ciente para caracterizar o direito de indenização.

120
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A partir dessa análise espera-se fornecer subsídios


para uma melhor compreensão das possibilidades de danos
morais nesses casos, e fornecer as informações necessárias
para as pessoas que não tem o devido conhecimento e como
proceder nesse tipo de situação.

4.1 ELEMENTOS HISTÓRICOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

4.1.1 A FAMÍLIA SOB A ÓTICA DO DIREITO ROMANO

Perante séculos a família Romana foi organizada de


forma patriarcal, essa definição que dizer que um grupo de
pessoas eram subordinadas a um chefe de família, tal grupo
era denominado como Gens, em grande parte, a predominân-
cia masculina se fazia presente em vez da feminina, ou seja,
a predominância do condicto Maris sobre o condicto feminae,
essa predominância é intimamente ligada a origem dos Gens.

De maneira ampla a regência e direção do Gens se des-


tinava ao homem que era o responsável pela segurança, ma-
nutenção, e desenvolvimento familiar, e esse chefe era deno-
minado Pater, e para que a segurança da base familiar fosse
eficaz tinha de ser conferido ao Pater total autoridade sobre os

121
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Gens, inclusive de ter subordinado os respectivos bens mate-


riais (Paes,1971).

Logo, o paterfamilias foi um modelo familiar nuclear ro-


mano por muito tempo. Segundo o Bonfante defende que a
família Romana surgiu para obter uma satisfação diretamente
política como forma de os Gens acatar as normas internas
para serem protegidos externamente, sugere-se que desse
modo tenha aparecido os seguintes costumes de obter res-
peito social pela figura paterna excluindo a materna, além do
pertencimento de uma única religião permitida, a família era
definida como uma unidade religiosa, ou seja, tinha a religião
própria (Paes, 1971).

O pater famílias administrava a justiça dentro dos limi-


tes familiares, era titulado como uma pessoa Sui Juris, capaz
plena de governar, pleno gozo de seus próprios direitos. O que
pode perceber quanto a figura feminina na família uma visão
totalmente inexistente, sem autoridade perante o papel do ho-
mem, a maioria das mulheres tinham suas funções determina-
das para zelar da casa, do marido, e manter a procriação dos
filhos, porém a educação referencia-se ao homem, pois as mu-
lheres não eram consideras dignas para tais atributos (Oli-
veira, 2010).

122
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4.1.2 MATRIMÔNIO NA ROMA ANTIGA

Família Romana tem seu conceito derivado da palavra


Famel que significa escravo, que subsequente designou toda
a formação familiar, inclusive escravos tinham como base uma
forte unidade jurídica, também sendo representado pelos Pa-
ter. O matrimônio na Roma Antiga tem definições bastantes
amplas, encontram-se duas definições mais abrangentes: a
primeira é instituída de Justiniano (Núpcias, ou matrimônio que
é a união do homem e da mulher baseada na comunhão indi-
visível de vida), e a outra encontrada no Digesto (união do ho-
mem e da mulher no consórcio de toda a vida, comunicação
entre direito divino e humano).
No que se refere a definição de Justiniano tem também
outros esclarecimentos quanto ao casamento romano que se
unem quanto preceitos: homens púberes com mulheres nú-
beis, que sejam pais de famílias, ou filhos de famílias, e se
forem filhos de famílias necessitam dos consentimentos dos
pais (Oliveira, 2010).
Os Romanos também faziam diferenciação do matrimô-
nio realizados pelos cidadãos civis para os estrangeiros Pere-
grini e, também das uniões realizadas de forma simples pelos
escravos, vale ressaltar que existiam as concubinas, que

123
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

acontecia quando o homem tinha relações extraconjugal está-


vel com outra mulher, a união acontecia de forma livre (Oli-
veira, 2022).
Para haver a união do matrimônio conhecido como
Justa Núpcias, se fazia necessários os seguintes pontos: con-
sentimento do esposo ou do Pater, para as mulheres com
idade de 12 anos exigiam-se a nobilidade, e para os rapazes
de 14 anos a puberdade (Oliveira, 2022).
No que tange aos elementos constitutivos do matrimô-
nio Romano não era definido como uma relação jurídica, mas
sim como um fator social, que se baseiam no campo da ética,
o casamento definido como convivência do homem e da mu-
lher, valendo-se sempre da autoridade do marido sobre a es-
posa.
Como a convivência era a base do campo familiar, va-
lendo-se sempre do sentido ético e social. Essa convivência
era intitulada de duas formas: affectio maritalis (é a intenção
de construir uma família) em amplo sentido é tido como ca-
ráter perpétuo, com durabilidade. Já Moreira Alves (1993) res-
salta em seu estudo outra visão a respeito do matrimonio Ro-
mano que onde vincula o casamento sim como um ato jurídico,
onde é gerado um Vinculum Juris. O casamento em Roma du-
rava até que o momento em que algum dos conjugues dese-
jam-se romper (Paes, 1971).

124
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4.2 ELEMENTOS E CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO


CASAMENTO

4.2.1 NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO

A natureza jurídica do casamento ainda atualmente é


algo bastante discutido no direito brasileiro, e o primeiro ques-
tionamento é referente se o casamento é instituído através do
direito público ou privado. Embora ainda haja inúmeras verten-
tes sobre o assunto, em tese algumas doutrinas são aceitas
como a: individualista, corrente institucional e a corrente eclé-
tica ou mista.
Madaleno (2013) defende a natureza jurídica do casa-
mento como contratual, em que é necessário o consentimento
dos nubentes, sendo extinto quando não houver concordância
entre as partes. Outra definição é enfatizada no caráter insti-
tucional onde é limitado a autonomia privada, em que o casa-
mento foi feito à base de
ordens públicas com direitos e deveres impostos ao ca-
sal. Já a autora Dias (2013) difere de Madaleno quando se
refere que há três correntes de doutrina, sendo a primeira in-
dividualista, onde o casamento é visto como um contrato que
serve para atender as duas partes com mesmos fins jurídicos.

125
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Já a segunda é a institucional que são normas impera-


tivas feitas para os nubentes, e a terceira é a eclética que de-
fine o casamento como dois subtipos contrato no que se refere
a sua formação e institucional em relação ao seu conteúdo.
Lobo (2011) traz um foco maior no que tange a doutrina
eclética, pois segundo a mesmo é a mais completa, pois en-
globa duas ideias em uma só doutrina, primeiro é visto o ca-
samento como um contrato porque é pela vontade de ambas
as partes, e institucional devido as normas serem estabeleci-
das pelo poder público não podendo o casal mudá-la quando
achar necessário.
O pensamento de Rizzardo (2011) é marcado pela sua
objetividade no que se refere a doutrina, ressaltando o casa-
mento como institucional, pois segundo o mesmo é uma or-
dem constituída pelo estado, além de não entender o matrimô-
nio como natureza contratual, pois é atribuído uma série obri-
gações indo muito além de um simples contrato, sendo deline-
ado como um estado de vida.
Segundo Gonçalves (2012) destaca o casamento como
um ato complexo que é a base da autonomia privativa, resta-
belecidos sobre as regras do estado. Lobo também manifesta
sua posição quanto a natureza jurídica do casamento é tido
como um ato de caráter negociável, solene, público e com-
plexo, essa definição é porque para ocorrer o casamento deve

126
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ser da vontade expressa de ambas as partes e com consenti-


mento claro.

4.2.2 DEVERES DOS CÔNJUGES

Perante o código civil descrito no artigo 1672, retrata


que os cônjuges estão atrelados aos deveres de respeito, fi-
delidade, bons tratos, assistência, coabitação. Mesmo que
não seja definido de forma clara no código civil, a jurisprudên-
cia vem trazendo um olhar mais ampliado no que diz ao res-
peito entre os cônjuges, onde deve os mesmos se tratarem
com urbanidade, repudiando algumas atitudes de calúnia, in-
sultar com palavras que criticam.
A coabitação é um ponto interessante a ser falado, pois
ressalta que o casal deva morar juntos, ou seja, residir na
mesma casa, exceto em casos de necessidades especiais
como trabalho ou saúde.
O dever da fidelidade é enfatizado pela obrigação de
não manter relações conjugais com outras pessoas. Mesmo o
adultério em tempos atuais não ser considerado mais como
crime, ainda sim é uma conduta malvista perante a sociedade,
e ainda há conduta que impede perante lei de possibilitar a
fazer testamento em prol da pessoa com quem se cometeu
adultério (Diário da república, 2022).

127
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O artigo 1674 do código civil trata que é dever dos con-


jugues assumir em total responsabilidades sobre a vida fami-
liar que fundaram, em outras palavras não pode somente um
dos conjugues ser sobrecarregar com questões pertinentes a
vida familiar (Diário da república, 2022).
No que diz respeito aos deveres dos conjugais previsto
no novo código civilista do artigo 1566 são referentes a: fideli-
dade em ambas as partes, ter uma vida em comum, além da
assistência compartilhada na criação dos filhos. O artigo 1567
do código civil ressalta que a comunhão conjugal deve ser
exercida de forma integral entre marido e mulher sempre pen-
sando no interesse dos dois, juntamente com os seus devidos
proles (Planalto, 2007).

4.2.3 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NO CASAMENTO

O princípio da dignidade da pessoa humana tem sua


essência mais próxima em Kant meados de 1986, que se-
gundo o pensamento do filosofo o homem deve estar entre o
centro da finalidade de todas as ideias. Esse princípio pode
ser entendido de acordo com a constituição federal como a
garantia das necessidades vitais de cada indivíduo. O casa-
mento em meados de tempos antigos era visto com uma das

128
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

únicas finalidades a serem alcançadas, a família era reconhe-


cida como gerador social.
O casamento não era visto como um caminho para feli-
cidade, era mais no sentido de ver quais pessoas serviam para
o casamento, em torno disso o princípio da dignidade humana
no casamento veio inverter essa condição. Através desse prin-
cípio o casamento tomou um novo rumo tendo a busca pela
felicidade como um percursor para a dignidade da pessoa hu-
mana, e assim o matrimonio tornou-se uma realização pes-
soal.
De acordo com Gomes, Paiva (2003) acreditam que o
casamento moderno é o passo para o crescimento individual,
é um dos passos mais importante que o ser humano pode dar,
e através dessa ação há possível criação de espaço entre os
cônjuges (Coelho; Benício, 2014).

4.3 RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DESCUMPRI-


MENTO DO DEVER DE FIDELIDADE

4.3.1 PERFIL CONSTITUCIONAL DA FAMÍLIA

É dentro da família que as condições inerentes a eco-


nomia, educacional, moral, que se constroem as primeiras ex-

129
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

periências sobre o que é certo ou errado. Diante das necessi-


dades habituais pertinentes a família como fonte de manuten-
ção e desenvolvimento da sociedade, coube ao estado desen-
volver outorgas a proteção e todos os desenvolvimentos dis-
poníveis para a consumação efetiva no que dispõe a condi-
ções de vida humana (Sousa; Waquin,2015).
Desde a constituição federal de 1988 o legislador des-
tacou a ampliação sobre o conceito de família destacando a
necessidade de igualdade a todos os membros. Os princípios
do direito da família trouxeram o pluralismo familiar onde
houve uma mudança significativa no ordenamento jurídico.
O perfil constitucional da família engloba valores e prin-
cípios mais abrangentes norteados pelo artigo 1° da CF: dig-
nidade da pessoa humana e a isonomia que garante a igual-
dade entre homens e mulheres. Na declaração universal dos
direitos do homem precisamente em 1948 em seu artigo 16
fala sobre: homens e mulheres maiores de idade, sem qual-
quer restrição de raça, nacionalidade, ou religião tem por di-
reito construir uma família, e os cônjuges têm os mesmos di-
reitos tanto na fundação da família como na dissolução dela.
No inciso II retrata que a família é pertencente a sociedade,
porém é dever do estado a proteger (Sousa; Waquin,2015).
No texto constitucional fica exposto de forma clara a
preocupação em manter o direito de ser garantida a igualdade,

130
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

no artigo 5º trata que todos são iguais perante a lei, além de


garantir a não distinção entre raça, sexo e cor. O estudo de
Calderón (2008) ressalta sobre a constitucional quando diz
que:

A Constituição de 1988 impulsionou a doutrina


brasileira a participar desses debates, permitindo
a construção de um direito de família a partir dos
princípios e das disposições constitucionais, lido
na unidade axiológica do sistema. A ‘família
constitucional’ difundida desde então, refletiu es-
ses postulados, restando mais próxima das rela-
ções concretas vivenciadas na sociedade.

4.3.2 APLICABILIDADE DOS PRESSUPOSTOS DA RES-


PONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DE FAMÍLIA

Mesmo que em vias judiciais seja algo extinto, na sepa-


ração judicial antes tinha como preceito a culpa de um dos
cônjuges e a inocência do outro perpetuar para ocorrer disso-
lução do casamento. O código civil do ano de 2015 analisa a
separação não em torno de quem foi a culpa, mas sim reparar
os danos extrapatrimoniais do qual foi lesado, como em casos
de adultério em época do matrimônio estava mantido, nesses
casos passa haver a indenização reparatória in pecunia esse
termo de responsabilização civil acontece em casos de danos
íntimos e sociais (Mendes, 2021).

131
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

No ordenamento jurídico brasileiro a responsabilidade


civil adota a teria clássica, ou subjetiva, essa teoria verifica a
análise de quem cometeu o ato ilícito, mas também existe o
outro modelo de responsabilidade civil que adota a teoria ob-
jetiva, que dispensa a análise da culpa de quem cometeu o
dano, ou seja, não há a necessidade de averiguar de quem é
a culpa, só ressarcindo o dano para quem foi lesado (Mendes,
2021).
Embora, a teoria da responsabilidade civil seja algo
bem definido, mas nas relações de família não é nem assim,
pois não é um tema considerado muito pacífico. Os tribunais
geralmente remetem a compreensão não pacificada, sempre
colocando irrefutável prova de dano íntimo severo, mas ao
mesmo tempo evitando a reparação ao agente transgressor.
O Supremo tribunal federal já deixou bem claro que
esse tema não é algo bem definido, pois já julgou casos sobre
temas polêmicos, uma vez que já indeferiu danos morais em
função de abandono afetivo, e também em casos que deferiu
sanções de adultério, em que ocasionou a cassação do direito
de alimento daquele que traiu (Mendes, 2021).
Perante o artigo 186 do código civil retrata que: o indi-
víduo cuja ação ou omissão voluntária, por negligência, ou im-
prudência violar o direito de outrem e causar dano, mesmo que
sua finalidade seja moral, ainda assim comete ato ilícito, tal

132
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

artigo se refere sobre a ilicitude do agente praticante (Santos,


2022).
Além de averiguar a ilicitude, deve ser verificar o nexo
de causalidade para o pressuposto de responsabilidade civil,
esse nexo de causalidade trata sobre a intenção e o produto
de um ato (Santos, 2022).
Costa (2021) também tem esse mesmo pensamento
quando retrata em sua pesquisa que: para haver a responsa-
bilidade civil deve ser avaliado os três elementos básicos in-
dispensáveis: o ato ilícito, dano e o nexo de causalidade. O
ato ilícito e conduta praticada pelo sujeito de direito através de
ação seja ela voluntaria, por negligência ou imprudência cujo
viola o direito de outrem, ou também quando é exercido de
forma exacerbada invalidando o direito de outrem.
O dano é a lesão a um bem jurídico tutelado, e o nexo
de causalidade é o vínculo fático que liga o efeito a causa, ou
seja, para haver a responsabilidade civil em casos de infideli-
dade deverá ser comprovado que existe o ato ilícito, nexo de
causalidade. O dano psicológico que se diz ter sofrido, diante
disso, inexiste a necessidade de comprovação no que tange
ao abalo psicológico e a dignidade Humana, pois o fato por si
só presume a lesão. Conforme Cedon e Soares (2009)

A conduta do lesante é o ato ilícito e o dano,


o resultado obtido pela sua conduta. Porém,

133
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

para analisar responsabilidade civil, deve se


verificar se foi à conduta do lesante que in-
correu no resultado obtido, não havendo
este vínculo, não há a responsabilidade.

4.3.3 A CULPA NA SEPARAÇÃO E NO DIVÓRCIO

Quando acontece a falha no casamento, a separação e


o divórcio surgem como forma de soluções extremas, porém
essas duas situações são para garantir A dignidade da pessoa
humana. Em outras palavras, a separação e o divórcio são de-
finidos como livramento para os males de um casamento não
resolvido, de certa forma a culpa só tem sua concepção dentro
de um matrimônio contratualistas, então quem descumpre
com valores do matrimônio responde pela dissolução do casa-
mento, tanto pelas perdas como as consequências (Neto,
2020).
A culpa até os dias atuais ainda possui importância e
consequência para o agente que ocasionou. O código civil é
bem claro quando trata do artigo 1694 no seu inciso II quando
diz que os alimentos são considerados indispensáveis para os
que geraram a culpa. Esse artigo abre um leque para os casa-
mentos que estão em divórcio litigioso, mesmo que o divórcio
seja um direito incondicionado, ou seja, em outras palavras
quer dizer que não necessita de motivação, e quando um dos
cônjuges provar que a culpa foi do outro, isso lhe dará direito

134
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a busca por alimentos civis. Quando o cônjuge acusado se de-


fender e comprovar que não houve sua culpa poderá ser re-
duzido de modo significativo o valor da pensão alimentícia,
pois ficará disponível um valor certo para a sobrevivência
(Neto, 2020).
O código civil também trata que o cônjuge considerado
culpado não poderá mais utilizar sobre nome de ex-cônjuge,
só terá exceção para aqueles que provarem que a não utiliza-
ção resultará em prejuízo (Neto, 2020).
Vale ressaltar que a lei 12.424/2011 em seu artigo
1.240 que trata também sobre o efeito da culpa que fala sobre
o efeito do lar, aquele que exercer por dois 2 anos ininterrupto
e sem oposição, em que o ex-cônjuge abandou o lar de até
250 metros quadrados é garantido o domínio integral, porém
não pode ser dono de outro imóvel (Brasil, 2011).
A culpa no que diz respeito à guarda dos filhos não gera
consequências, nesse caso será avaliado a melhor aquele tem
a melhor necessidade para criar o filho (a) (Neto, 2020).

4.3.4 DANO MORAL

O Dano tem sua caraterística no diz respeito em ofen-


der um bem de uma pessoa humana, seja, portanto, um dano

135
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

material, moral, e o fato se dá em consideração que o ser hu-


mano é um bem jurídico tutelado (Nobre, 2015). Gonçalves
(2013) também ressalta em seu estudo quando define que
dano é um prejuízo a um bem jurídico, seja ele patrimonial ou
moral.
Dano moral tem sua definição considerada pela maioria
dos doutrinadores como ação que lesiona exclusivamente os
sentimentos da vítima, tem sua caracteriza subjetiva, e por ter
essa característica muitas vezes acaba gerando alguns confli-
tos como o de conseguir mensurar a extensão que esses da-
nos causam (Nobre, 2015). Nesse sentido Nader (2016) des-
taca que o dano moral é visto com uma lesão de direito não
pecuniário, onde não tem seu foco intimamente ligado ao di-
nheiro, mas sim nos interesses não patrimoniais, busca avaliar
o íntimo da vítima.
Desse modo, dano moral é aquele que atinge a vítima
no seu mais profundo sentido, causando dor, sofrimento, em
muitos casos o sentido natural da pessoa é alterado, além de
possíveis humilhações que possa sofrer, como desonra a ima-
gem, onde todo o equilíbrio psicológico é alterado, sendo porta
de entrada para alguns tipos de doenças como: depressão,
ansiedade, síndrome do pânico, entre outros (Nobre, 2015).

136
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4.3.5 DANOS EXTRAPATRIMONIAIS NA DISSOLUÇÃO DO


CASAMENTO

No que se refere a violação dos deveres do casamento


a respeito de: adultério, abandono de lar, condenação criminal
que servem para motivo de pedido de separação, essas con-
dutas por si só não comprometem ação indenizatória, porém
acredita-se que tais atitudes comprometem a conduta honrosa
que implicam em uma má reputação para o cônjuge, que ca-
bem danos morais, mas para haver a acusação de danos mo-
rais é preciso ter comprovação por elementos de culpa, dano
e nexo de causalidade (Dias, 2016).
Se tratando do direito da família a responsabilização ci-
vil não se satisfaz apenas com dolo, culpa ou nexo de causa-
lidade, além de todos esses aspectos é necessário que a côn-
juge lesado demonstre a vontade e a necessidade de defender
a sua esfera intima (Dias, 2016).
Quando se trata de indenização por danos morais não
busca apenas o ressarcimento financeiro, mas sim em reparar
os danos morais como: angústia e a dor sentida, além do ob-
jetivo principal que é frear para que o infrator não faça novas
vítimas (Dias, 2016).
Quando se causa dano moral a outrem no sentido de
infidelidade conjugal, o dano deve ser provado e de fato gerar

137
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

causas que abalem o indivíduo lesado psicologicamente, ou


colocar o mesmo exposto a situações constrangedoras, assim
estipulando a indenização. Para Gonçalves (2003)

Indenizar, significa reparar o dano causado


a vítima, integralmente. Se possível, restau-
rando o status quo ante isto é, devolvendo-a
ao estado em que se encontrava antes da
ocorrência do ato ilícito. Todavia, como na
maioria dos casos se torna impossível tal de-
siderato, busca-se uma compensação em
forma de pagamento de uma indenização
monetária.

4.3.6 O DANO MORAL DECORRENTE DO DESCUMPRI-


MENTO DO DEVER DE FIDELIDADE CONJUGAL

A infidelidade é uma das batalhas mais árdua na disso-


lução de um casamento, pois é gerador de dor, angústia, para
a pessoa traída, por isso o dever de fidelidade é elencado no
código civil, e quando descumprido pode ocasionar indeniza-
ção (Brandão et al, 2017).
Para que ocorra o dano indenizatório, é necessário que
tenha havido comprovadamente alterações psíquicas ou mo-
rais, porém vale enfatiza que situações diárias de uma rotina
de casamento com aborrecimentos, discussões não se enqua-
dram em situações como a descrita acima. Para haver a in-
denização é preciso que ocorra dano que implique de maneira

138
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

profunda no comportamento psicológico do indivíduo cau-


sando mal-estar e prejudicando até sua interação social. Por-
tanto, de acordo com o projeto de lei nº 5716/16 o cônjuge que
pratica evidente descumprimento do dever de fidelidade res-
ponde pelo dano moral provocado (Gouveia, 2016).
O posicionamento dos tribunais quanto a reparação do
dano decorrente da quebra do dever de fidelidade. O tribunal
do Distrito Federal entendeu que: o simples descumprimento
do dever jurídico de fidelidade conjugal não configura neces-
sidade de indenização.
Ou seja, necessita haver a violação moral do cônjuge
traído sendo o mesmo exposto a humilhação, ou vexatória,
além também de acontecer a exposição de imagens em rede
social com imagens do cônjuge, ou acompanhamento de
amantes em público, além de confessar que não se preveniu
sexualmente discorrer de dano indenizatório (Brandão. et al,
2017).
Diante disso, o pedido de indenização é embasado em
situações vexatórias e quando comprovados os pressupostos
de responsabilidade civil tem que ser reparado o dano, e
quando descumprir acarretará ilícito civil (Brandão. et al,
2017). Como o seguinte caso abaixo em que foi julgado pelo
tribunal de justiça do distrito federal sobre a exposição de um

139
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

cônjuge traído a situação humilhante que ofenda a honra e a


imagem:

A exposição de cônjuge traído a situação


humilhante que ofenda a sua honra, ima-
gem ou integridade física ou psíquica en-
seja indenização por dano moral: A Turma
confirmou a sentença de Primeiro Grau que
condenou o réu ao pagamento da indeniza-
ção de R$ 5.000,00 a ex-cônjuge por danos
morais decorrentes de relacionamento ex-
traconjugal. Inicialmente, os Desembarga-
dores salientaram que o simples descumpri-
mento do dever jurídico da fidelidade conju-
gal não implica, por si só, indenização por
dano moral; para tanto, é necessário que o
cônjuge traído tenha sido exposto a situação
humilhante com ofensa a sua honra, ima-
gem ou integridade física ou psíquica. In
casu, os Julgadores entenderam que os fa-
tos geradores do abalo psíquico à apelada
ultrapassaram as vicissitudes da vida conju-
gal, uma vez que o réu divulgou, em rede so-
cial, imagem na qual aparece em público,
acompanhado da amante, e admitiu, em gra-
vação, não ter se prevenido sexualmente
nesse relacionamento extraconjugal. Por-
tanto, por ter assumido o risco de transmitir
alguma doença à esposa, a Turma concluiu
pela efetiva configuração da ofensa aos di-
reitos de personalidade da autora. Acórdão
n. 1084472, 0160310152255APC, Relator
Des. FÁBIO EDUARDO MARQUES, 7ª
Turma Cível, data de julgamento: 21/3/2018,
publicado no DJe: 26/3/2018.

140
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O casamento é tido como um acordo de vontade esta-


belecida que ocorre livremente entre os cônjuges, onde os
mesmos adquirem direitos e deveres matrimoniais estabeleci-
dos. O foco desse artigo foi para verificar a indenização por
danos morais em casos de infidelidade conjugal.
Através das pesquisas feitas foi possível analisar que o
dano moral só se torna indenizatório em casos de infidelidade
conjugal quando gera a vítima sofrimento excessivo, humilha-
ção, ou constrangimento que ofenda de forma significativa a
imagem da pessoa lesada. Vale ressaltar que a indenização
não ocorre em casos como mero desgosto de ser ter um ca-
samento acabado, ou por mágoa como em términos conside-
rados comuns.
Por isso faz-se presente o direito de indenização pelo
ato, considerado em hipóteses concretas, uma vez que, con-
forme demonstrado na pesquisa, apesar da ausência de pre-
visão legal expressa quanto a esta hipótese especialmente
destacada, existe preceitos tanto de ordem constitucional e in-
fraconstitucional que asseguram o direito ao ressarcimento
por danos provenientes de conduta antijurídica praticada por
outrem.

141
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Sugere-se, que novos estudos sejam feitos sobre o pre-


sente tema, pois mesmo sendo um tema comum e abran-
gente, ainda se encontra demanda de artigos mais atualizados
sobre o presente assunto.

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trado em direito, Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo

144
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5
ALIENAÇÃO PARENTAL: A POSSIBILIDADE JURÍDICA
DA GUARDA COMPARTILHADA NOS CASOS DE
ALIENAÇÃO PARENTAL

PARENTAL ALIENATION: THE LEGAL POSSIBILITY


OF GUARDIA SHARED OUR CASES OF
PARENTAL ALIENATION

Relifa Gabriela Alves Cardoso9


Alcides Marini Filho 10

CARDOSO, Relifa Gabriela Alves. FILHO, Alcides Marine. Ali-


enação Parental: A Possibilidade Jurídica da Guarda
Compartilhada nos Casos de Alienação Parental. 2023.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) –
Centro Universitário UNINORTE. Rio Branco – ACRE, 2023.

9
Discente do 8° Período do Curso de Bacharel em Direito do Centro
Universitário Uninorte.
10
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduado em Direito pela
Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande; Pós Graduado em
Direito Civil pelo Instituto Elpídio Donizete.

145
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

O presente artigo tem por escopo o estudo da Alienação Pa-


rental, dentro do Direito de Família, instituto presente no orde-
namento jurídico brasileiro desde 2010. É uma violação aos
direitos das crianças ou adolescentes praticada por um dos
genitores compartilhando sentimentos negativos, objetivando
afastar do convívio para com o outro genitor ferindo o princípio
da igualdade. Em 2014 a guarda compartilhada passou a vi-
gorar com intuito de inibir a prática da alienação parental. A
pesquisa é baseada em quatro capítulos, a saber: “A família
constitucional e os direitos relativos à infância e adolescência”;
“Modalidades de guarda”; “A alienação parental” e “A guarda
compartilhada como meio de prevenção à alienação parental”.
A metodologia de pesquisa utilizada foi a bibliográfica e docu-
mental, foram consultados livros, artigos publicados, docu-
mentos eletrônicos pertinentes ao tema, assim como a legis-
lação vigente que dispõe sobre a matéria em estudo. Após o
estudo deste artigo percebe-se que a família sofreu constan-
tes transformações ao longo dos tempos, mostrando vários ti-
pos de entidades familiares. Essas mudanças impuseram ao
sistema jurídico um olhar sobre a pluralidade de relações e
novas constituições familiares. Constatou-se que a alienação
parental é uma forma de abuso no poder familiar em que um
dos pais utiliza o próprio filho como instrumento de vingança
por conta de uma separação permeada por sentimentos de
raiva e mágoa. A guarda compartilhada é um caminho cons-
trutivo, adaptativo e reforça a ideia de que a criança deve ser
inserida de forma benéfica na nova relação familiar, para que
não seja afetada pela modificação na relação dos pais. Essa
modalidade de guarda é um reforço na igualdade nos direitos
e deveres de continuidade ao desenvolvimento do sujeito de
direito, mostrando a importância do convívio compartilhado no
exercício da parentalidade, priorizando a família.
Palavras-chave: alienação parental; família; guarda compar-
tilhada.

146
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

The scope of this article is the study of Parental Alienation,


within Family Law, an institute present in the Brazilian legal
system since 2010. It is a violation of the rights of children or
adolescents practiced by one of the parents sharing negative
feelings, aiming to remove them from coexistence with the
other parent violating the principle of equality. In 2014, shared
custody came into force to inhibit the practice of Parental Al-
ienation. The research is based on four chapters, namely: “The
constitutional family and the rights relating to Childhood and
Adolescence”; “Custody Modalities”; “Parental Alienation” and
“Shared Custody as a Means of Preventing Parental Aliena-
tion”. The research methodology used was bibliographic and
documentary, books, published articles, and electronic docu-
ments relevant to the topic were consulted, as well as the cur-
rent legislation that provides for the subject under study. After
studying this article, it is clear that a family has undergone con-
stant transformations over time, presenting various types of
family entities. These changes imposed on the legal system a
look at the plurality of relationships and new family constitu-
tions. It was found that parental alienation is a form of abuse of
family power in which one of the parents uses their child as an
instrument of revenge due to a separation permeated by feel-
ings of anger and hurt. Shared custody is a constructive, adap-
tive path and reinforces the idea that a child must be benefi-
cially inserted into a new family relationship so that it is not af-
fected by the change in the parent's relationship. This type of
custody reinforces equality in the rights and duties of continu-
ing the development of the subject of law, showing the im-
portance of shared coexistence in the exercise of parenthood,
and prioritizing the family.

Keywords: parental alienation; family; shared custody.

147
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

A alienação parental conhecida por muitos, se caracte-


riza pela intenção de um genitor em manchar a imagem do
outro, perante o filho, por diversos motivos. De forma resu-
mida, alienação parental é a difamação contra um dos pais,
objetivando o afastamento da prole sem que haja motivos sig-
nificativos e verdadeiros para afastar a criança do convívio
com genitor alienado.
Além disso, a alienação parental pode causar diversos
problemas psicológicos à criança ou ao adolescente, vítimas
que inconscientemente são manipulados pelo alienador, são
feridas emocionais que podem acarretar uma série de distúr-
bios, prejudicando todo o desenvolvimento pessoal.
Por outro lado, a guarda compartilhada pode ser um ins-
trumento para coibir a alienação parental, pois a espontanei-
dade do convívio de ambos os genitores, sem agendamento
mecânico, pode demonstrar para a criança, o interesse na
convivência. Com o amadurecimento da criança, ela mesmo
poderá utilizar o revezamento para dosar o tempo com os pais.
Nem sempre será possível, apenas com a utilização da
guarda compartilhada, evitar o problema da campanha difa-
matória de um genitor. Mesmo assim, o fato de existir a dispo-
nibilidade ativa para a criança, pode minorar os prejuízos.
Nos capítulos do artigo, foram abordados assuntos
como a transformação da família ao longo dos anos, no antigo

148
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Código Civil, existia um modelo único e rígido de família, o que


mudou com a promulgação da Constituição Federal de 1988.
Foram descritos ainda os princípios da convivência familiar e
do melhor interesse da criança e do adolescente, a definição
das modalidades de guarda unilateral, alternada e comparti-
lhada.
No capítulo designado para alienação parental, foi ex-
posto a sua definição e as responsabilidades de acordo com a
Lei nº 12.318/2010, assim como foram expostos casos de ali-
enação parental. O último capítulo demonstrou de que forma
a guarda compartilhada pode prevenir os casos de alienação
parental.
A metodologia de pesquisa utilizada foi a bibliográfica e
documental, foram consultados livros, artigos publicados, do-
cumentos eletrônicos pertinentes ao tema, assim como a le-
gislação vigente que dispõe sobre a matéria em estudo.

5.1 A FAMÍLIA CONSTITUCIONAL E OS DIREITOS


RELATIVOS À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

É perceptível que a família vem passando por profun-


das transformações, seja no que respeita à sua constituição,
ou à sua dissolução. A família é a referência existencial do ser
humano, sendo caracterizada pela união de pessoas vincula-
das por laços afetivos.

149
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O Código Civil de 1916, ao legislar sobre a família, tra-


zia uma carga discriminatória, limitado ao casamento, impe-
dindo sua dissolução e fazendo distinção entre seus membros.
O texto tentava preservar a família constituída pelo casa-
mento, excluindo direitos no tocante a vínculos extramatrimo-
niais e aos filhos considerados ilegítimos. Uma alteração ex-
pressiva no âmbito jurídico foi a Lei Nº 4.121/62, conhecida
como estatuto da mulher casada, que regulou a situação jurí-
dica da mulher casada, a principal transformação foi revogar a
incapacidade relativa da mulher casada.
A promulgação da Constituição Federal de 1988 trouxe
um impacto sobre as concepções definidas para família. O ar-
tigo 1º, III, da referida constituição consagra o princípio da dig-
nidade da pessoa humana, que é o ponto de partida para a
transformação do conceito de família. Houve diversas trans-
formações jurídicas como igualdade entre homens e mulhe-
res, o divórcio como regra para dissolução do casamento civil,
trouxe uma equiparação dos direitos e garantias à família for-
mada através do casamento, assim como à família constituída
através da união estável e às monoparentais.
O advento da Carta Magna de 1988 levou a aprovação
do Código Civil de 2002, passando a dar ênfase a paternidade
responsável, onde o vínculo afetivo se sobrepõem a verdade
biológica. Vejamos o que dispõe o Art. 226 da CF/88:

150
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Art. 226. A família, base da sociedade, tem es-


pecial proteção do Estado. [...] §3º Para efeito da
proteção do Estado, é reconhecida a união es-
tável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento.
§4º Entende-se, também, como entidade fami-
liar a comunidade formada por qualquer dos
pais e seus descendentes.
§5º Os direitos e deveres referentes à sociedade
conjugal são exercidos igualmente pelo ho-
mem e pela mulher. (grifos acrescidos). (Brasil,
2023).

Essas mudanças demonstram e ressaltam a função so-


cial da família no direito brasileiro, a partir da igualdade abso-
luta, a manutenção da educação disciplinando a guarda, as
corresponsabilidades de ambos os genitores atribuindo o po-
der judicial em interferir no melhor interesse determinando a
guarda, seja ela unilateral ou compartilhada, assim como sus-
pendendo ou destituindo os pais do poder familiar uma vez
que estes faltarem aos direitos e deveres com sua prole, como
também reconhecimento do direito as alimentos para que con-
tribuem na proporção de seus recursos.

5.1.1 PRINCÍPIO DA CONVIVÊNCIA FAMILIAR

A convivência familiar pode ser definida como a relação


afetiva duradoura pelas pessoas que integram o grupo fami-
liar, compreendendo como referência de ambiente comum a
todos o espaço físico denominado como casa, lar ou moradia.

151
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

É, em tese, o lugar onde as pessoas se sentem acolhidas e


protegidas, especialmente crianças e adolescentes. (Lôbo,
2017).
O direito à convivência familiar é tutelado por princípio e
por regras jurídicas, respeitando à criança e o adolescente,
esse princípio é o sustento da família socioafetiva e principal-
mente no caso de pais separados, em que é legítimo o direito
da criança a manter relações pessoais e contato direto com
ambos os genitores.
Dessa forma, viola esse princípio constitucional a decisão
judicial que, sem motivação, limite o direito de visita do pai não
guardião do filho. A Lei Nº 12.398/2011, deu nova redação ao
art. 1.589 do Código Civil. Ou seja, o direito à convivência fa-
miliar não se limita aos pais, abrange também o direito de vi-
sita aos avós e até mesmo tios e outros parentes que integrem
um grande ambiente familiar solidário.
A não interferência na comunhão de vida instituída pela
família está estabelecida no art. 1.513 do Código Civil. O art.
1.589, do mesmo dispositivo, assegura o direito à convivência,
onde estabelece que o pai ou a mãe, que não detenha a
guarda dos filhos, poderá visita-los e tê-los em sua companhia,
conforme o que foi estabelecido com o outro cônjuge ou fixado
pelo juiz.

152
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A prática da alienação parental fere o direito fundamen-


tal da criança ou do adolescente de conviver de forma saudá-
vel com a família, é o que estabelece o art. 3º da Lei Nº
12.318/10, in verbis:

Art. 3º A prática de ato de alienação parental fere


direito fundamental da criança ou do adolescente
de convivência familiar saudável, prejudica a re-
alização de afeto nas relações com genitor e com
o grupo familiar, constitui abuso moral contra a
criança ou o adolescente e descumprimento dos
deveres inerentes à autoridade parental ou de-
correntes de tutela ou guarda. (Brasil, 2023).

O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe ainda


que não é admitido que os filhos sejam separados de seus
pais por simples motivo de ordem econômica, vejamos:

Art. 23. A falta ou a carência de recursos materi-


ais não constitui motivo suficiente para a perda
ou a suspensão do pátrio poder familiar.
§1º Não existindo outro motivo que por si só au-
torize a decretação da medida, a criança ou o
adolescente será mantido em sua família de ori-
gem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída
em serviços e programas oficiais de proteção,
apoio e promoção. (Redação dada pela Lei nº
13.257, de 2016);
§2º A condenação criminal do pai ou da mãe não
implicará a destituição do poder familiar, exceto
na hipótese de condenação por crime doloso su-
jeito à pena de reclusão contra outrem igual-
mente titular do mesmo poder familiar ou contra
filho, filha ou outro descendente. (Redação dada
pela Lei nº 13.715, de 2018). (Brasil, 2023).

153
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

É perceptível que a família é a principal responsável pe-


las transferências de valores à criança e ao adolescente, de
modo que estes precisam de um suporte necessário para uma
futura inserção social na sociedade. No entanto, o direito à
convivência familiar não é absoluto, em determinadas situa-
ções o exercício a este direito poderá acarretar em prejuízos,
dessa forma poderá ser limitado ou até suspenso. Nesses ca-
sos, os problemas devem ser solucionados observando o que
estabelece o princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente, que será exposto a seguir.

5.1.2 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA


E DO ADOLESCENTE

A proteção integral da criança foi estabelecida pela De-


claração dos Direitos da Criança de 1959, baseada em princí-
pios como o direito a igualdade, proteção para o seu desen-
volvimento pleno, moradia, assistência, alimentação, educa-
ção, lazer, direito a ser protegido contra o abandono e explo-
ração no trabalho, direito ao amor, entre outros.
A Convenção Internacional dos Direitos da Criança foi
ratificada no Brasil por meio do Decreto nº 99.710/90, após a
promulgação do ECA, o melhor interesse da criança e do ado-
lescente está estabelecido em seu artigo 3.1, onde estabelece

154
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

que todas as ações relativas às crianças devem considerar,


primordialmente, o interesse maior da criança (Brasil, 2023).
Este princípio também pode ser encontrado no artigo 6º
do Estatuto da Criança e do Adolescente onde determina que
todo entendimento de lei, deverá levar em consideração os
fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum,
os direitos e deveres individuais e coletivos e a condição pe-
culiar de cada criança e do adolescente em desenvolvimento
(Brasil, 2023).
Na Constituição Federal, o princípio do melhor inte-
resse da criança e do adolescente tem respaldo no art. 227,
que foi reformulado pela Emenda Constitucional 65. De 13 de
julho de 2010. O dispositivo determina que os interesses e di-
reitos das crianças e dos adolescentes devem ser tratados
como prioridade pelo Estado, sociedade e pela família, de-
vendo proporcionar o desenvolvimento e a plena dignidade da
filiação, colocando-os a salvo de toda forma de negligencia,
violência e opressão.
Aderindo ao preceito constitucional, o Estatuto da Cri-
ança e do Adolescente delimitou normas protetivas à criança
e ao adolescente, expostas em seus arts. 3º e 4º:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos


os direitos fundamentais inerentes à pessoa hu-
mana, sem prejuízo da proteção integral de que
trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou

155
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

por outros meios, todas as oportunidades e faci-


lidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em con-
dições de liberdade e de dignidade.
[...]
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da so-
ciedade em geral e do poder público assegurar,
com absoluta prioridade, a efetivação dos direi-
tos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionaliza-
ção, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liber-
dade e à convivência familiar e comunitária. (Bra-
sil, 2023).

Dessa forma, o princípio do melhor interesse da criança


e do adolescente é o guia para investigação de paternidade e
da filiação socioafetiva. A criança deve ser a protagonista da
história (Lôbo, 2017). Não existe uma supremacia de um di-
reito sobre o outro, em caso de colisão deverá ser feito um
balanceamento entre os interesses no caso concreto, mas o
princípio do melhor interesse da criança e do adolescente é de
prioridade e não de exclusão entre os direitos da criança, de-
vendo servir como regra para interpretação na resolução dos
conflitos.

5.2 MODALIDADES DE GUARDA

É importante destacar que no ordenamento jurídico bra-


sileiro a guarda tem um conceito dualista. Dessa forma, há um

156
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

regramento quando a guarda é relacionada aos pais decor-


rente da dissolução do casamento ou união estável, e outra
disposição quando se trata de colocação da criança ou ado-
lescente em família substituta.

2.1 GUARDA UNILATERAL

De acordo com o que prevê o art. 1.583, §1°, do Código


Civil, a guarda unilateral é atribuída a um só dos genitores ou
alguém que o substitua, ou seja, enquanto um dos genitores
tem a guarda, o outro tem a regulamentação de visitas. A ex-
clusividade da guarda deferida a um dos genitores decorre do
consenso entre ambos ou quando um deles declarar ao juiz
que não tem interesse na guarda compartilhada, conforme es-
tabelece o art. 1.584, I, do Código Civil.
Para definição de qual genitor oferece as melhores con-
dições para exercer a guarda unilateral são observados alguns
fatores como afeto nas relações como o genitor e com grupo
familiar; saúde e segurança; e educação, sendo o tempo de
convívio dividido de forma equilibrada como o pai e a mãe, de
acordo com o art. 1.583, §2º, do Código Civil. Esses critérios
não seguem uma ordem preferencial ou hierárquico de modo
que todos devem ser igualmente atendidos, o juiz vai conside-
rar a solução mais favorável para atingir o melhor interesse da

157
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

criança, observando aspectos como dignidade, respeito, lazer,


esporte, alimentação, entre outros.
Para evitar o que chamamos de “abandono” moral, o
§5º do art. 1.583 do Código Civil, estabelece um dever de cui-
dado material, afeto e atenção por parte do genitor que não
detenha a guarda. Sendo assim, não é porque a guarda é uni-
lateral que as decisões sobre a vida dos filhos devem ser ex-
clusivas do detentor da guarda, ou seja, a decisão sobre a es-
cola em que o menor estuda, tratamento médico, esportes, en-
tre outros, é uma decisão de ambos os pais porque decorre do
próprio poder familiar. (Toppor, 2023).
A modalidade de guarda unilateral tem como inconve-
niente privar a criança da convivência diária e contínua com
um dos genitores. A guarda dos filhos somente será unilateral
quando o casal não tiver interesse no compartilhamento da
convivência ou quando assim indicar o melhor interesse da cri-
ança.
Essa modalidade de guarda causa na maior parte do
tempo a ausência do genitor não guardião, tornando propício
o instrumento da alienação da parental. O pai ou a mãe que
praticam atos de alienação geralmente organizam, no dia e
horário coincidentes com os das visitas, atividades que os fi-
lhos gostam e criam justificativas para impedir que a criança
ou adolescente mantenha contato com o genitor alienado.

158
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5.2.2 GUARDA ALTERNADA

Essa modalidade de guarda consiste na atribuição pe-


riódica da guarda a cada pai. Por exemplo, neste semestre o
filho fica com a mãe, e o pai tem o direito de visita em horários
e dias previamente definidos; no próximo semestre, inverte-se.
A guarda alternada é uma modalidade unilateral e monoparen-
tal, é uma modalidade que não está disciplinada na legislação
brasileira.
Nesse caso, a criança ou adolescente tem uma plurali-
dade de domicílios e durante períodos determinados, ocorre a
transferência total da responsabilidade do menor. Essa moda-
lidade de guarda não é recomendada, uma vez que pode infe-
rir na perda de referencial de família, em virtude das constan-
tes mudanças no cotidiano do menor. A constante troca de ca-
sas pode ser prejudicial ao equilíbrio do filho porque possuem
dificuldade de adaptação.
Seguindo esse pensamento, outro motivo desse mo-
delo de guarda não agradar a todos é que alguns consideram
que ele fere o princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente devido às diversas mudanças, separações e rea-
proximações acarretando numa instabilidade emocional dos
mesmos. O que difere a guarda alternada da guarda compar-
tilhada é que a alternância de residências é um requisito na

159
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

guarda alternada, enquanto na modalidade compartilhada os


filhos possuem uma residência fixa.
A inclusão do filho menor no arranjo familiar de cada um
dos pais é feita através da convivência igualitária com cada
um deles. Tendo como principal objetivo o melhor interesse da
criança e do adolescente, a guarda alterna busca impedir a
alienação parental e intensifica a relação triangular entre pai –
filho – mãe, ou seja, por conviver com ambos os genitores, a
criança não sofrerá com a questão de lealdade em face de um
dos pais.

5.2.3 GUARDA COMPARTILHADA

A guarda compartilhada foi instituída pela Lei Nº


13.058/2014, tornando-a obrigatória e sua substrução só po-
derá acontecer quando um dos genitores declarar ao juiz que
não deseja a guarda do menor. O intuito dessa modalidade é
a divisão equilibrada do tempo de convívio com os pais, defi-
nição é estabelecida pelo Código Civil, in verbis:

Art. 1.583. A guarda será unilateral ou comparti-


lhada.
§1º Compreende-se por guarda unilateral a atri-
buída a um só dos genitores ou a alguém que o
substitua (art. 1.584, § 5º) e, por guarda compar-
tilhada a responsabilização conjunta e o exercí-
cio de direitos e deveres do pai e da mãe que não

160
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder


familiar dos filhos comuns. (Brasil, 2023).

Essa modalidade de guarda tem por objetivo a igual-


dade na decisão em relação ao filho em todas as situações
existenciais e patrimoniais. Os pais devem manter as mesmas
divisões de tarefas que detinham quando conviviam, acompa-
nhando de forma conjunta a formação e desenvolvimento dos
filhos.
Os pais devem tomar decisões de forma harmoniosa,
se empenhando nos cuidados básicos e complementares, po-
dendo delegar poderes, aceitar sugestões e quando necessá-
rio, ratificar medidas indicadas pelo ex-cônjuge ou sugerir ou-
tras melhores sem fomentar crises. A guarda compartilhada
deve ser compreendida como uma responsabilidade dos paias
para promover um desenvolvimento mental saudável de seus
filhos comuns, inclusive podendo ser redobrada em detrimento
da separação dos pais.
Seguindo esse entendimento, uma decisão proferida
em uma Apelação Cível, pelo Tribunal de Justiça de Santa Ca-
tarina, em 2009, exigiu a harmonia entre os pais para aplicar
a guarda compartilhada, vejamos:

CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE GUARDA C/C ALI-


MENTOS. MENOR ADAPTADO AO CONVÍVIO
COM O PAI E AVÓS PATERNOS. FALTA DE
PROVA DA CONDUTA DESABONADORA DO

161
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

GENITOR. PEDIDO DE GUARDA COMPARTI-


LHADA. DESCABIMENTO. HARMONIA ENTRE
OS PAIS NÃO EVIDENCIADA. ALTERNÂNCIA
PREJUDICIAL À CRIANÇA. SENTENÇA MAN-
TIDA.
"Nas questões de guarda, os interesses do me-
nor se sobrepõem à vontade de seus genitores"
(Desembargador Mazoni Ferreira). A guarda
compartilhada é medida exigente de harmo-
nia entre os pais e de boa disposição de com-
partilhá-la como medida eficaz e necessária à
formação do filho. À míngua de tais pressupos-
tos, não há dúvida de que a constante alternân-
cia de ambiente familiar gerará, para a criança,
indesejável instabilidade emocional. (Grifo acres-
cido).

Constata-se, portanto, que a guarda compartilhada é a


regra geral e será aplicada pelo juiz se os genitores não tive-
rem decidido de outra forma. Há hipóteses excepcionais em
que não se aplica a referida modalidade, como quando um dos
pais renúncia ou se recusa a ter a guarda do menor, ou quando
não está apto a exercê-la, de acordo com o § 2º do art. 1.584
do Código Civil.
O objetivo principal da guarda compartilhada é diminuir
os efeitos da saída de um dos pais da vida diária dos filhos. A
grande parte das práticas de alienação parental decorre da im-
posição da guarda unilateral, em que a criança ou adolescente
fica apenas com um dos genitores, a guarda compartilhada
seria o principal inibidor desse problema, pois não haveria uma
“disputa” entre os pais com relação aos filhos, sendo esse o

162
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

assunto dos próximos capítulos.

5.3 ALIENAÇÃO PARENTAL

5.3.1 ALIENAÇÃO PARENTAL E SUAS RESPONSABILIDA-


DES – LEI N 12.318/2010

A alienação parental pode ser definida como problemas


que atingem a integridade dos filhos menores em virtude do
comportamento do pais após o divórcio ou por outras diver-
gências familiares. É uma consequência da interferência de
um dos genitores ao menor com o a intenção de caluniar o
outro.
Essa expressão foi usada inicialmente nos tribunais
norte-americanos, quando se verificava que um dos pais con-
duzia o filho a não ter vínculos afetivos com o outro. Isso acon-
tece com frequência na vida dos casais que se separam, pois
um dos ex-cônjuges, com mágoa do termino da união, tenta
afastar o filho menor do outro, denegrindo a imagem deste e
retirando o direito de visitas. (Gonçalves, 2018).
Apenas recentemente a prática da alienação parental
passou a receber maior atenção no ordenamento jurídico bra-
sileiro, é o que observa Maria Berenice Dias (2015):

163
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

[...] Apesar de ser prática recorrente – pois sem-


pre existiu a tentativa de um dos pais de desqua-
lificar o outro para os filhos –só recentemente é
que começou a despertar atenção. Antes os pa-
péis parentais eram bem divididos: o pai era o
provedor e a mãe a cuidadora. Assim, quando da
separação os filhos ficavam sob a guarda ma-
terna e ao pai cabia o encargo de pagar alimen-
tos e visita-los quinzenalmente, se tanto. Com a
da emancipação feminina, passando as mulhe-
res a exercer atividades fora do lar, os homens
descobriram as delícias da paternidade e come-
çaram a ser muito mais participativos no cotidi-
ano dos filhos.

No Brasil, a alienação parental passou a ser regulamen-


tada pela Lei Nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. O art. 2º da
referida lei conceitua a alienação da seguinte forma:

Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a


interferência na formação psicológica da criança
ou do adolescente promovida ou induzida por um
dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a
criança ou adolescente sob a sua autoridade,
guarda ou vigilância para que repudie genitor ou
que cause prejuízo ao estabelecimento ou à ma-
nutenção de vínculos com este. (Brasil, 2023).

De acordo os incisos do artigo mencionado acima, o le-


gislador restringiu como sujeito passivo, nomeado como alie-
nado, somente o genitor. No entanto, outros membros do
grupo familiar poderem ser identificado como tais, como tios,
irmãos, avós ou até padrasto. O sujeito ativo, chamado de ali-
enador, um dos genitores, avós, tutores ou qualquer pessoa

164
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

que tenha o menor sob sua custódia. A vítima da alienação


parental é sempre o menor, é quem sofre as maiores conse-
quências desta prática.
Os atos que compõe a alienação parental são, por
exemplo, a imposição de obstáculos para criança conviver
com o genitor alienado, a instigação para o infante escolher
um dos pais, não mencionar o nome do genitor alienado na
presença do menor, restringir o contato com família do genitor
alienado, induzir a criança a não o chamar de pai e mãe, entre
outros.
Segundo o art. 4º da Lei Nº 12.318/2010, quando for
verificado o ato de alienação, o magistrado deverá determinar
medidas provisórias necessárias para a preservação da inte-
gridade psicológica do menor, de forma que passe a possibili-
tar a sua convivência com o genitor alienado ou a reaproxima-
ção entre ambos. Caso ache necessário, o juiz determinará a
realização de perícia psicológica ou biopsicossocial, A escolha
do profissional para perícia será imprescindível e pode ser re-
alizada por equipe multidisciplinar, sendo composta por psicó-
logos, psiquiatras, assistentes sociais, entre outros, de acordo
com os termos do art. 5 da mesma lei mencionada. (Brasil,
2023).
A regra processual inserta no art. 6º da Lei nº

165
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

12.318/2010 acentua as sanções que o juiz poderá impor ca-


sos de alienação parental. Essas medidas são de prevenção
e proteção à integridade do menor. O caput do artigo mencio-
nado dispõe acerca da aplicabilidade das medidas que podem
ser de forma independente ou cumulativa, ou seja, o juiz tem
a possibilidade de aplicar um ou mais meios de punição.
Os incisos e os parágrafos, do supracitado artigo, dis-
põem sobre as medidas em sim, que são: advertência ao alie-
nador; ampliação da convivência familiar com o alienado; apli-
cação de multa; acompanhamento psicológico e/ou biopsicos-
social; alteração da guarda para o outro genitor ou para guarda
compartilhada entre outras. (Brasil, 2023).
É importante mencionar os apontamentos de Figuei-
redo e Alexandidis (2014) no que se refere às medidas elen-
cadas no art. 6º da Lei de Alienação Parental:

Oportuno lembrar que todas as medidas postas


à disposição do juiz são para atender o melhor
interesse do menor, afastando os malefícios da
alienação parental, sendo que, passado o mal,
ou seja, não mais evidenciada a ocorrência da
alienação parental, poderá o magistrado levantar
a restrição imposta, diante da dinâmica própria
da vida.

A lei nº 12.318/2010 possibilita apuração da responsa-


bilidade civil ou criminal em consequência dos danos físicos
ou psicológicos causados à criança ou a genitor. Desde que

166
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

seja comprava a efetiva ocorrência de crises emocionais e psi-


cológicas à criança em decorrência da alienação parental por
parte de um dos cônjuges, admite-se que o outro ajuíze ação
de danos morais e matérias, com base no art. 6, caput, da lei
supracitada.
Por fim, cabe lembrar que o sistema judiciário, através
do Direito de Família, é um fator fundamental para exercer o
papel de protetor e preventos, procedendo de forma a garantir
a saúde de bem estar dos filhos. Em razão disso, analisar-se-
á no próximo tópico os casos de alienação parental no orde-
namento jurídico brasileiro.

5.3.2 CASOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL

O termo alienação parental chegou ao Brasil por meio


dos pesquisadores, antes da promulgação da Lei nº
12.318/2010, por meio das jurisprudências foi possível verifi-
car a propagação da prática, a qual poderia ocorrer em dife-
rentes organizações familiares. Buscando uma melhor com-
preensão sobre o tema e uma necessidade de ampliar o en-
tendimento dos operadores de direito e a punibilidade dos ali-
enadores se fez necessário a criação da Lei de Alienação Pa-
rental (Lei n° 12.318/2010).
Em casos práticos após a criação da referida lei, temos:

167
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO PARENTAL. A


conduta da genitora, mesmo que tenha tido uma
justificativa inicial causada pela preocupação em
proteger a filha, extrapolou, em muito, o que esse
dever lhe impunha. A circunstância de se tratar
de pessoa esclarecida, advogada que é, serve
de maior agravante para suas atitudes. Ao elen-
car, exemplificativamente, o rol de atitudes ca-
racterizadoras da alienação parental o art. 2º da
Lei 12.318, menciona um total de 7 (sete) condu-
tas. Dessas, a prova dos autos demonstra que a
apelada incorreu em, no mínimo, 4 (quatro) de-
las, a saber: (...) III – dificultar contato de criança
ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exer-
cício do direito regulamentado de convivência fa-
miliar; V – omitir deliberadamente a genitor infor-
mações pessoais relevantes sobre a criança ou
adolescente, inclusive escolares, médicas e alte-
rações de endereço; VI - apresentar falsa denún-
cia contra genitor, contra familiares deste ou con-
tra avós, para obstar ou dificultar a convivência
deles com a criança ou adolescente; (...) DERAM
PARCIAL PROVIMENTO PARA DECLARAR A
ALIENAÇÃO PARENTAL E ESTIPULAR MULTA
POR EVENTUAIS INFRAÇÕES FUTURAS AO
ACORDO DE VISITAÇÃO. UNÂNIME. (Apela-
ção Cível Nº 70067174540, Oitava Câmara Cí-
vel, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Fe-
lipe Brasil Santos, Julgado em 28/07/2016). (TJ-
RS - AC: 70067174540 RS, Relator: Luiz Felipe
Brasil Santos, Data de Julgamento: 28/07/2016,
Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário
da Justiça do dia 08/08/2016).

No caso supracitado, o desembargador relata que


mesmo a genitora não tendo o intuito de agir com a intenção
de denegrir a imagem paterna e ne mesmo querendo extinguir
o relacionamento entre pai e filha, praticou três ações que ca-
racterizavam alienação parental como falsa acusação de

168
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

abuso sexual, ocultação de endereço e descumprimento do


acordo de visitas judicialmente homologado.
Consequentemente, casos mais graves pedem medi-
das mais extremas, com a reversão do domicilio do menor em
favor do genitor alienado, com a perda da guarda por parte do
alienador, essa foi a decisão da 2º Câmara Cível do Tribunal
de Justiça de Goiás:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


BUSCA E APREENSÃO DE MENOR. IMPEDI-
MENTO DE CONVÍVIO. DESCUMPRIMENTO
DOS TERMOS DA GUARDA COMPARTI-
LHADA. ALIENAÇÃO PARENTAL CONFIGU-
RADA. REVERSÃO DO DOMICÍLIO JUSTIFI-
CADA. Furtando-se a agravante, de modo injus-
tificado, ao cumprimento dos termos do acordo
de guarda compartilhada, impedido o convívio
entre pai e filho, em manifesto prejuízo ao desen-
volvimento saudável da criança, resta configu-
rada, conforme o disposto no artigo 2º da Lei
nº 12.318/2010, a prática de atos típicos de ali-
enação parental que justificam a reversão do
domicílio do menor em favor do genitor/agra-
vado e, por consequência, a confirmação da
ordem de busca e apreensão. [grifos acresci-
dos]. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHE-
CIDO E DESPROVIDO. (TJ-GO - AI:
07462143320198090000, Relator: Des(a). LEO-
BINO VALENTE CHAVES, Data de Julgamento:
31/03/2020, 2ª Câmara Cível, Data de Publica-
ção: DJ de 31/03/2020).

No estado do Acre, a influencer digital Ludmilla Caval-


cante, tenta recuperar a guarda da filha A., de 3 anos desde

169
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2020. A criança está com o pai no interior de São Paulo, a


influencer alega ter sofrido alienação parental durante todo o
período em que a criança está com o pai. De acordo com a
entrevista concedida ao Jornal Opinião (2021), a mãe alega
que passou quatro meses sem notícias da filha porque todos
da família materna haviam bloqueado a mesma em todas re-
des sociais. A justiça então concedeu o direito de falar com a
filha cinco vezes por semana, mas mesmo assim a família do
genitor continua dificultando a comunicação.
Em outubro de 2021, Ludmilla divulgou através das
suas redes sociais, que tinha conseguido ganhar a guarda uni-
lateral da filha após decisão do Tribunal de Justiça de São
Paulo, mas o pai da criança recorreu e obteve decisão favorá-
vel para ter a permanência da guarda. O caso corre na justiça
de Bastos, interior de São Paulo, e está em segredo de justiça.

5.4 A GUARDA COMPARTILHADA COMO MEIO DE


PREVENÇÃO À ALIENAÇÃO PARENTAL

O instituto da guarda compartilhada deve ser conside-


rada como preventiva e orientada aos pais em litigio para evi-
tar a alienação parental. A guarda compartilhada traz uma
nova concepção para a vida dos filhos com pais separados, é
importante lembrar que a separação é da família conjugal e

170
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

não da família parental, os pais não podem e não devem ser


separados dos pais quando o casal se separa.
A Lei nº 11.698/2008, alterou os artigos 1.583 e 1.584
do Código Civil, sendo assim a guarda compartilhada passou
a ter previsão expressa no ordenamento jurídico brasileiro.
Mesmo com a ausência de previsão legal, a guarda comparti-
lhada já era aplicada pelos magistrados com base no principio
da igualdade entre os genitores, previsto no art. 226, §5º, da
CRFB/88 e o princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente. (Toppor, 2023).
Conforme mencionado em capitulo anterior, a guarda
compartilhada é regra geral e será aplicada pelo juiz sempre
que os genitores não tiverem decidido de uma outra forma. A
hipóteses excepcionais em que não se aplica essa modalidade
é quando um dos pais renúncia ou recusa ter a guarda do me-
nor, ou quando não está apto a exercê-la, conforme previsão
do §2º do art. 1.584 do Código Civil. A fixação da guarda com-
partilhada é definida por Deirdre de A. Neiva (2023):

A guarda compartilhada almeja assegurar o inte-


resse do menor, com o fim de protegê-lo, e per-
mitir o seu desenvolvimento e a sua estabilidade
emocional, tornando-o apto à formação equili-
brada de sua personalidade, busca-se diversifi-
car as influências que atuam amiúde na criança,
ampliando o seu espectro de desenvolvimento fí-
sico e moral, a qualidade de suas relações afeti-
vas e a sua inserção no grupo social. Busca-se,

171
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

com efeito, a completa e a eficiente formação so-


ciopsicológica, ambiental, afetiva, espiritual e
educacional do menor cuja guarda se comparti-
lha.

Essa modalidade de guarda tem como objeto a conti-


nuidade da rotina familiar e evita que a criança deixe de con-
viver com um dos genitores. As famílias se desfazem e se re-
estruturam criando uma nova entidade familiar, os pais não
podem de forma injustificada privar os filhos do convívio com
irmãos e ascendentes. Essa convivência deve ser mantida in-
dependente da vontade de qualquer dos genitores.
Importante mencionar que o juiz deve estudar cada
caso de forma minuciosa e analisar se a aplicação da guarda
compartilhada ocorrerá efetivamente no dia a dia dos pais e
da criança, sobretudo quando o casal não tem condições mí-
nimas de convivência diária ao ponto de acarretar prejuízos na
formação do menor.
Grande parte dos casos de alienação parental decorre
da imposição de guarda unilateral, a mudança para guarda
compartilhada irá prevenir essa prática fazendo prevalecer a
convivência com ambos os genitores, dividindo responsabili-
dades, mesmo que não solucione as questões conflituosas do
ex casal, vai assegurar a integridade do menor.

Ementa: GUARDA COMPARTILHADA. POSSI-


BILIDADE. REFERENCIAL DE RESIDÊNCIA

172
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

NA CASA PATERNA. REGULAMENTADA A


CONVIVÊNCIA COM A MÃE. 1. A chamada
guarda compartilhada não consiste em transfor-
mar o filho em objeto, que fica à disposição de
cada genitor por um determinado período, mas
uma forma harmônica ajustada pelos genitores,
que permita à criança desfrutar tanto da compa-
nhia paterna como da materna, num regime de
convivência amplo e flexível, mas sem que ela
perca os seus referenciais de moradia, justifi-
cando-se tal modalidade quando é equilibrado e
harmônico o relacionamento entre os genitores.
2. Considerando o estudo social elaborado e as
provas produzidas, é cabível o estabelecimento
da guarda compartilhada, tendo como referencial
de moradia a casa do genitor, a fim de manter a
rotina diária da criança, que já está adaptada ao
arranjo familiar paterno, e a convivência da filha
com a genitora na forma estabelecida na sen-
tença. Recurso desprovido. (Apelação Cível, Nº
70082655861, Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vas-
concellos Chaves, Julgado em: 18-05-2020).

Ao observar a ementa acima entende-se que o pai


busca regulamentar a convivência entre filho e mãe, colo-
cando a criança em uma situação como objeto de disputa, o
recurso foi desprovido pois a guarda compartilhada busca jus-
tamente a flexibilização de convivência com ambos os pais, o
fim do relacionamento não altera o grau de afeto, mesmo que
a moradia do pais seja mais viável para manter a rotina do
menor, na visão do julgador, nada impede a participação da
figura materna.

173
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Os ensinamentos de Leila Brito e Emmanuela Gonsal-


ves (2009), destacam que:

Na guarda compartilhada, entretanto, o que vai


se reafirmar é a responsabilidade tanto do pai
quanto da mãe da criança perante os filhos após
a separação, além, é claro, de se procurar que o
filho mantenha uma convivência constante com
ambos. Ao se determinar a guarda comparti-
lhada, indica-se aos pais a importância que o Es-
tado atribui à convivência familiar da criança.
Com esse entendimento, pode-se ultrapassar a
dúvida sobre os arranjos concretos de guarda
para se valorizar o aspecto simbólico da guarda
compartilhada, que permite deixar de lado a in-
terpretação de que haveria um pai principal e um
secundário, um para todos os dias e outro para
finais de semana.

Dessa forma, ao impossibilitar o convívio exclusivo com


somente um dos pais e diminuir o empoderamento por parte
do eventual alienador, a alienação parental ficará mais dis-
tante de instalar-se no núcleo familiar, pois o cotidiano da cri-
ança com ambos os pais gera recordações precisas de bons
momentos. A guarda compartilhada não significa, portanto, di-
vidir o tempo do filho em duas metades, significa dividir direitos
e deveres igualmente sobre os genitores. Decidir juntos, de-
bater, ceder, aceitar. Amar e cuidar do jeito que podem, sem
obstáculos de qualquer tipo.
Ao determinar o compartilhamento da guarda, a deci-

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

são do magistrado vai ao encontro dos princípios constitucio-


nais norteadores do Direito de Família, ao permitir a manuten-
ção do convívio entre os genitores e seus filhos, de modo que
traz a efetivação dos princípios da igualdade, convivência fa-
miliar, melhor interesse da criança e do adolescente, solidari-
edade familiar, liberdade e afetividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o estudo deste artigo percebe-se que a família so-


freu constantes transformações ao longo dos tempos, mos-
trando vários tipos de entidades familiares. Essas mudanças
impuseram ao sistema jurídico um olhar sobre a pluralidade de
relações e novas constituições familiares. Os filhos passaram
a não ser mais um problema frente a dissolução da sociedade
conjugal, ou de um relacionamento, ou de uma união estável.
Nos casos de divórcio que chegam dentro da seara do
direito civil no que diz respeito a família envolvendo filhos, os
genitores tendem a tratar os menores como objeto de manipu-
lação e disputa. O divórcio em si não traz traumas, podendo o
conflito ser visto como uma oportunidade construtiva na rela-
ção. Vai ensejar mudanças de ordem familiar, convívio com os
genitores, mudança de escola, mas toda a mudança poderá
ser adaptada e elaborada.

175
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O que causa prejuízo ao menor é quando os pais tra-


zem os filhos para as questões de conflito dentro do relacio-
namento, desmoralizando o outro, programando a não convi-
vência com um dos genitores e compartilhando sentimentos
negativos que podem dar causa a alienação parental.
O presente estudo buscou apresentar a guarda com-
partilhada como meio de prevenção à alienação parental.
Constatou-se que a alienação parental é uma forma de abuso
no poder familiar em que um dos pais utiliza o próprio filho
como instrumento de vingança por conta de uma separação
permeada por sentimentos de raiva e mágoa.
A guarda compartilhada é um caminho construtivo,
adaptativo e reforça a ideia de que a criança deve ser inserida
de forma benéfica na nova relação familiar, para que não seja
afetada pela modificação na relação dos pais. Essa modali-
dade de guarda é um reforço na igualdade nos direitos e de-
veres de continuidade ao desenvolvimento do sujeito de di-
reito, mostrando a importância do convívio compartilhado no
exercício da parentalidade, priorizando a família.

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179
E-book
TOMO 3

Vol. II

Este livro reúne cinco artigos, na


área de Ciências Jurídicas,
redigidos por concludentes do
Curso de Direito da UNINORTE –
Ac, sob a supervisão do Prof.
Alcides Marili Filho
EAC
Editor .
ISBN 978-65-01-00668-0
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