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CTU : Gi CCTs Peoi ue f HT SM Ue te ey N\A que 0 avanco acelerado da tecnologia oca. SGM GS ie uior eT ee Te Deu ces eee ecencurtamentedas dlsténcias detempa espaco, Como podemos avallar a instabili- dade que esses processos causam em todo Gum 5 eu) SEER Ce Ren Cunt Urey (4. Classico aos Cracterzepelasintensas mudancas da rear S etn pence ora Dr eee Le eae COR en eet toe Ce eo oes ty B Oe eciitecun Intersaberes “Sioeuiteiors cm br ‘omelbo ederial © Dr, vo Jose Both (presidente) Det Elena Godoy De Nelon Lai Dias De, Net dos Santos De. UIfGicgorBaranow eer bee » Lindsay Azambja eltorasiente + riadne Nanes Wenger apa + Lana Machado Amaro 1 Ribico Amaro aaa de cope » Wl prejogrco * Raphael Bernadeli depth de projets ries + Sig Gabi Spannenberg slagremagso * LAB Prodigal seonegrafia + Regina Claudia Cae Preses Dado imernacionss de Catalogo Paint (1) (Ciara Bee de Lire, SE. Best) “Tees Jnl, Ag WM. Sopot do pesament iio coals conterpecneilAugune WM. Tees Joi, Care: Tnesabeen So. Biogas. ISBN 7845s 1 Geopolitics Tle {ndies pa atlog semi: Geopoles sre rept CEP HO 170 Ca Rl 207, Fel odpie Netanya doe pote ok semper ale en eases eet Conceitos e fundamentos da geopolitica Contetidos do capitulo + Ramos da geografia ¢ o pensar o Estado, + Surgimento da geografia p + Relagao entre espago e pod + Fundamentos da geopolit a. iceitos, Escolas Possibilista e Determi- nista, * Geopolitica: entre ciéncia e ideologia. Apés 0 estudo deste capitulo, vocé seré capaz de: 1. compreender o surgimento da geografia politica e sua vin- culagio com a reflexio sobre Estado ¢ territério; 2, entender e utilizar analiticamente os conceitos que se arti- culam a questio do espago e poder: tertitério, fronteira ¢ limites; 3. postular uma posigo propria sobre o debate entre geogeafia cia da dltima politica e geopolitica acerca do status de ci com base no legado da Escola Deverminista. 24 Neste capitulo analisaremos conceitos e fundamentos da geopo- licica, A relagéo entre espago ¢ poder seré explorada com base na exposicéo do desenvolvimento da disciplina de Geografia até 0 aparecimento da ciéncia geopolitica. Para tal, apresentaremos o sur- gimento da ciéncia geogréfica até o desenvolvimento da geogtafia politica, enfatizando os principais autores responsaveis pela cons- trugéo desse campo de conhecimento. Dessa forma, vocé te contato inicial com conceitos centrais da disciplina de Geopolitica, la da geogtafia politica. Em seguida, apresenta- podendo diferenci remos os fundamentos da geopolitica por meio do amadurecimento da Escola Determinista alem: ur Relagdo entre espago e poder Para entender geopolitica, precisamos ter um ponto de partida. A principio, devemos perguntar: de onde essa forma de conheci- io? Ao que podemos responder: da ciéncia geogréfica. Uma visio inicial ¢ dada pelo geopolitico Colin Flint (2006) quando ‘expe dois significados complementares sobre 0 que & geografia. Primeiramente, ele afirma que é um estudo daquilo que torna os lugates tinicos, tendo como objeto também as conexées ¢ interagées centre eles, Uma segunda visio consiste em afirmar que a geografia se preocupa com a organizagao espacial das atividades humanas. Como reforco da afirmagio de que a geopolitica ¢ tributiria da geografia, podemos esclarecer que, apesar de atualmente ser con- siderada uma disciplina académica resultante da interagio entre geografia, historia e ciéncia politica, a Geopolitica tem na geografia humana, mais especificamente, seu nascedouro, Para Flint (2006), a ‘geopolitica é uma parte da geografia humana, O estabelecimento de uma ciéncia geografica acarretaria a necessidade de langat luz sobre as relagdes entre sociedades, 0 espago ¢ 0 poder em suas miltiplas mento v express6es, politica e militar, por exemplo, com atengio especial aos fendmenos psicossociais (culturais). ‘Mesias da Costa (2008) entende que a geografia deveria ser compreendida como parte das ciéncias sociais, sendo, contudo, distinta da antropologia, da sociologia e da ciéncia politica, pois dispoe de sensibilidade prépria para estudar os fendmenos concer: nentes 2 rela Ora, conceitos como espago, limites, territéria e fronteira setiam de fundamental importancia para 0 nascimento e a expansao dos Estados-nagao, assim como para sua compreensio, Conforme Flint (2006), os gedgrafos analisam 0 mundo sob as perspectivas espacial © geogrifica. Entretanto, apesar da forga ¢ relevancia da vertente fisica da geografia, dedica-se especial atengio & dimenséo humana, espaco-territério. imersa ¢ envolta no ambiente natural. De certa forma, 0 processo de transformacio dos saberes geogrificos em uma ciéncia da geogra- fia ajuda a entender sua divisao entre as vertentes fisica ¢ humana (a geografia politica é um ramo desta). O esquema a seguir, pensado por Castro (1999), ilustra com clareza no apenas a sequéncia do desenvolvimento da geografia, mas também suas divisées. Figura 1.1 - Da geografia a geopolitica co ini fecopgogte Geoesvotgis Munido de um panorama sobre a geografia e suas vertentes, vocé poder aprofundar sua compreensio sobre essa ciéncia. Uma forma til para entender o histérico da Geografia é acompanhar 0 5 desenvolvimento da disciplina por meio da evolugao de seus debates edo trabalho de alguns autores. De Alexander von Humboldt (1769-1855), que na obra Kosmos (1855) expée um detalhado estudo sobre a geografia do mundo conhecido, até Karl Ritter (1779-1859), com seus importantes tra- balhos, deram-se, sob uma perspectiva mais sistemética, as pri- meiras descobertas sobre as conexées, correlagdes e causalidades entre fatores fisicos ¢ fendmenos humanos. Segundo Castro (1999), essas contribuigées langaram as bases do que viria a sera moderna geografia humana, cuja forga explicativa estaria na preocupagio com a interagio entre os fendmenos fisicos ¢ humanos. Como consequéncia, se 0 comportamento do Homo Sapiens Sapiens & influenciado pelo ambiente ¢ pelo meio fisico, a geografia humana P: quem detern humana ~ passou a fazer parte do debate geogrifico!. ‘Como alerta Castro (r999), para Paul Vidal de la Blache (1845- 1918), a geografia é a ciéncia dos lugares, e néio dos homens. Mas © que seriam esses lugares? Desde 0 século XIX, 0 conceito de Jugaré fundamental paraa geografia. Cicando Agnew, importante geopolitico critico, Flint (2006) chama atengao para o ato de tal conceito relacionar-se a trés aspectos cruciais: localizagao (Funcao ‘des, formais ou nao, que a figurar como cigncia social. Entretanto, a indagagio sobre ‘a ou condiciona quem — se a natureza ou a vontade do lugar no mundo), local (as insti onganizam desde a politica até a identidade ligadas ao local) e senso de lugar (sentido de pertencimento referente a uma coletividade e, nna geografia, a um lugar especifico). Sendo assim, na geografia, os lugares so fruto das interagées humanas, da significagéo que as coletividades do 20 ambiente fisico. Portanto, lugar nio é apenas um dado fisico na natureza; ele & dotado de significado e passivel de contetido politico, Com base nessa leitura, podemos perguntar: { Retomaremos exe debate na segio 2. A vontade humana necessariamente prepondera sobre as tendéncias de determinacao do meio? Menos convicto da forca do componente humano contra peso do meio, o gedgrafo francés Jean Brunhes (1869-1930) apre- senta uma das primeiras leicuras da realidade como um dualismo homem-natureza. O mesmo autor que criou a expressio geografia humana afirma que “o homem nao se pode subtrair, em absoluto, as condig6es naturais, politicas ¢ culturais do espaco vital” (Brunches, citado por Castro, 1999, p.19). Desde o nascimento da geografia, 0 embate entre a vontade humana e 0 peso deterministico do meio ¢ da geografia se colo- cava como cerne das controvérsias do campo. Enquanto as ideias de La Blache influeciavam a Escola Possibilista ¢ a geopolitica critica, surgiram, também no século XIX, concepgées favordveis A geodeterminagio ou A determinagao do ambiente natural ¢ da geogtafia sobre a politica eas relagées humanas. Embora exista uma inclinagao da literatura classica a favor da geodererminagio, a ques- tao do peso da determinagao do ambiente fisico sobre humano nao foi de pronto resolvida na cigncia geogrifica. Para uma boa compreensio dessa evolugio nesse campo do saber, néo podemos nos esquecer da escola germanica de geografia, em particular da antropogeografia? de Friedrich Ratzel (1844-1904). O pensamento geografico germanico desenvolveu-se conco- mitantemente & tumultuada histéria da unificagio alemé. De um conjunto de principados, reinos ¢ ducados, a Alemanha emergit unida sob a lideranga prussiana. 2 xpresio que di culo a uma ds principals obras cde Rate 7 Mapa 1.1 - Império Alemao (1871) [owes esaia asics ry = Froeea so imps tamio to tm _ FR osm Font: haptao de BBC, 20 ‘A conquista da nova condigio de Estado nacional alemao ocor- reu em paralelo ao processo de unio de distintas unidades politicas sgermanicas sob uma tinica bandeira (Deutsch, 1957). Esse processo de amalgamagio — ou seja, de uniéo ~ em que a expansio territo: rial de um Estado incorporou outros Estados, resultando no nas- cimento de uma unidade politica nova, influenciou fortemente a geografia ¢ a geopolitica do novo pais, A recém-criada Alemanha, agora regida por uma autoridade suprema, o Kaiser, sob a conduta politica de Otto von Bismarck, passava a pleitear o seu “lugar a0 sol” no cendrio de nagées, entrando com forga na luta imperialista pela partilha colonial (Castro, 19995 Flint, 2006). Se Humboldt e Ritter percebiam a relevancia da articulagéo entre a geografia ¢ o comportamento humano, foi Ratzel quem sistematizou a predomindncia do elemento politico da geografia humana, Para ele, a natureza é de extrema relevancia para o saber geogrifico, mas foi além, ao incorporar o Estado em sua anilise. Como demonstra Castro (1999), Ratzel superou a geografia humana convencional, buscando apoio em ciéncias auxiliares para a com- preensio do Estado e de seu impacto no saber geogrifico. Segundo Castro (1999, p. 20), “a Geografia Politica passaria a se ocupar das relagdes entre grupos organizados no espaco ou territério. Em razio disso, como nenhum Estado pode existir sem territério, nenhum. tettitério pode se transformar num Estado de ato scm a presenca do povo”. Como Castro (1999) ¢ Mattos (2002) afirmam, para Ratzel deve- ria ser incorporada aos saberes geogrificos nfo apenas a dimenséo humana, mas também a interago desta com 0 ambiente e com 0 tettitério. As priticas sociais, como a politica e suas lutas por recur sos valorizados, seriam inseridas na geografia. Essa fusio ocorreu por meio de conceitos como Estado, territorio e povo, aos quais nos deteremos um pouco na sequéncia. Na perspectiva da geografia politica, a ideia de territério ganhou forca apés a assinatura do Tratado de Westphalia (1648), que encer- rou a Guerra dos Trinta Anos. Na época, territério constitu‘a uma porcao de terra reclamada por um Estado ou outra entidade politica (Dahlman, 2009). Uma de suas fungées centrais era demarcar © espago do poder soberano, estabelecendo, dessa forma, fron- teiras e limites. A soberania esté ligada ao surgimento de uma autoridade suprema (soberano), reconhecida dentro e fora de seus dominios territoriais. Assim sendo, territério ¢ fronteiras sio pri- cerna — em que a autori- mordiais para distinguir a soberani: dade politica maxima ¢ reconhecida como detentora do dircito de governar a populagéo dentro de seu territério — da soberania externa — ou soberania internacional legal, que assegura o direito 29 de uma autoridade soberana governar seu territério ¢ scu povo sem interferéncia externa, especialmente por parte de outros Estados (Dahlman, 20096), Como vimos, a dimensio humana da geografia evoluiu ao tra- zer para si conceitos politicos. Um amplo repertério de ideias conceitos utilizados pela geopolitica so inicialmente apresentados por Ratzel. Ideias como limites ¢ fronteiras seriam incorporadas & geopolitica clissica, de Mahan a Barnett. Os elementos essenciais para tracar a diferenga entre 0 espaco doméstico ¢ o internacional io os limites eas fronteiras. Os primeiros delimitam formalmente a extensio territorial do Estado, indicando até onde sua soberania ie com os limites, pois, apesar jor entre duas ou mais entidades politicas, as fronteiras confundem-s alcangas de serem o marco di apontam para um horizonte de expansio. Por essa razo, Mountz (2009) ressalta as dimensées de rigider ¢ fluidez do conceito de _fronteira. Mas, afinal, como esses conceitos foram desenvolvidos inicialmente na geografia politica? A relagao entre espaco ¢ cultura, particularmente importante para o determinismo geogréfico, tornara-se uma das principais chaves explicativas da geografia. Segundo Costa (2008, p. 18), “Em qualquer tempo e lugar, os grupos sociais desde os estdgios primiti- vos até as modernas sociedades capitalistas industriais, por exemplo, estabelecem determinados modos de relagao com seu espaco; em 0 a seu modo”. outras palavras, valorizam- Para Ratzel, esse enunciado nao seria diferente, O espaco con- siste na varidvel central para a sobrevivencia do Estado-nagéo, 0 Estado-organismo. Para melhor entendermos a concepgio de Estado orgénico de Ratzel, devemos deter-nos, a principio, nos conceitos de Estado, nagito e Estado-nagio. Nagées so entendidas como grupos de pessoas ligadas por fato res como cultura, identidade, religio ou territério compartilhado (Gilmartin, 2008). Um Estado-nagao resulta da convergéncia de um povo imbufdo de identidade nacional para um territ6rio organizado politicamente por um Estado proprio, o qual constitui a entidade legal e politica que exerce poder soberano dentro de seu territs- rio, Para Gilmartin (2009), nem todo Estado é um Estado-na Devemos lembrar-nos, aqui, de Estados com mais de uma nagéo (@ Bolivia como Estado plurinacional, por exemplo) ¢ de nagoes sem Estado (como os palestinos ou curdos). Contudo, na época de Ratzel, o Estado-nagi ideal a ser perseguido pelos povos. A convergencia entre Estado, nagio e cultura — principal elo da nacional cra 0 modelo de construgio politica de tipo lade — permitia pensar no construto de Estado-organismo vivo. Como ente vivente, o Estado apresenta limitagoes, como aquelas referentes ao seu espaco inicial, que o desafiam com a necessidade de expansio. E no espago que se constitui o territério, em que habita 0 povo ¢ se exerce autoridade. E também em um espago delimitado por fronteiras que estao localizados recursos social- mente valorizados para o Estado, bem como aqueles necessdrios & reproducio bioldgica ¢ cultural do grupo (Costa, 2008). Em sua anilise sobre a histéria da geografia, Costa (2008, p. 18) afirma que “toda sociedade que delimita um espago de vivéncia ¢ produ- 40 € se organiza para dominé-to, transforma-o em seu territério, Ao demarcé-lo, ela produz. uma projegio territorializada de suas pré- prias rclagées de poder”, Impulsionado pelas necessidades derivadas do aprimoramento de sua cultura e da ampliacao das demandas Por insumos, o Estado projeta para outros territérios seus intentos de poder, limites estes resultantes das relagées de forca internas ¢ externas a0 Estado em expansio. ar 2 O Estado como uma forma de comu! jade politica Asvezes, podemos incorrer em reducionismo a0 mencionarmos apenas o Estado como forma de organizacio politica. Ao investigarmos o periodo que compreende o final do século XTX ea primeira metade do século XX, encontramos uma época na qual povoava o globo uma mixfade de formas de organizacio politica, entre elas a estaral. Cidades-Estado, culo impérios, protetorados ¢ colénias dariam espago, ao longo do XX, ao Estado como forma de comunidade politica predominante (Bull, 2002) Armas, germes e aco Uma importante obra em que os fatores geograficos, ambientais e biol6- gicos sfo unidos para explicar o desenvolvimento des povos é Armas, ger- ‘mes e aco: os destinas das socedades humanas, de Jared Diamond (2009). Apesar de nao ser uma produgio geopolitica, ilustra com clareza como fatores dessa ciéncia podem subsidiar a criagao de explicagées sobre a smacto-hist humana. O livro demonstra como ideias das geogra- fas humana e politica subsistem em explicagbes atuais sobre processos ‘complexos, como 0 sucesso ¢o fracasso no desenvolvimento dos povos. Conforme Castro (1999), a politica era governada pela geografia Ratzel foi fundamental para o estabelecimento da geografia como ciéncia académica, contribuindo também para lancar as bases te6- ricas que fundamentaram a geopolitica (Flint, 2006). Como prova dessa articulago, Andrade (1993, p. 6) afirma que Ratzel “admitia que os Estados centrais, mais dindmicos, tendiam a se expandir em diregao 20 mar, domando ou anexando vizinhos mais fracos, enquanto os Estados maritimos tendiam a desenvolver suas esqua- dras ¢ a criar colénias”, Adiante, vocé notaré que Ratzel antevé 0 choque estrutural abragado por Halford Mackinder sobre mariti- midade versus continentalidade, A conexéo umbilical entre a geopolitica e a geografia politica pode ser explicada pela classica preocupagio dos gedgrafos com © tettit6rio, as fronteiras € o espago. Esses aspectos da realidade fisica constitufam as principais unidades de andlise para a ciéncia geogréfica, quando esta se dedicava aos fendmenos da politica ¢ do poder. Historicamente, a preocupacdo humana com a geografia estava relacionada com as vantagens estratégicas que 0 conheci: mento do meio ¢ da fisiografia davam As comunidades politicas. Desde Herddoto, considerado o “pai da Histéria”, o dominio sobre co ambiente fisico no qual o homem cagava, coletava frutos, exercia atividades agricolas e guerreava era visto como fundamento impor- tante para o sucesso da vida humana. Até 0 momento, vimos que a geografia se desenvolve em varias vertentes, entre elas a prépria geopolitica. Cabe agora indagarmos: final, o que diferencia fundamentalmente ambas as ciéncias? Mello (1999, p. 12), quando se refere a Zbigniew Brzezinski’, afirma que a geopolitica “refere-se & combinagio de fatores geografi- ado ou regio, cos politicos que determinam a condi¢ao de um Es enfatizando o impacto da geografia sobre a politica”, Conforme Mattos (2002), uma primeira diferenciagao entre geopolitica e geo- grafia politica consiste na forma como se analisa a interagdo entre politica e geografia. Segundo o referido autor, a geografia politica analisa seus objetos como uma fotografia, como algo estético - ou seja, a opgio sinerénica de andlise caracterizava a visto da realidade como uma foto, sobre a qual a geografia politica teceria andlises e avaliag6es (Mattos, 2002). Distintamente, a geopolitica analisaria seu objeto como um filme. Como resultado dessa outra forma de apreender a realidade, para Mattos (2002, p. 18), a geopolitica “Eo produto da interagéo dindmica dos «rés fatores: Politica, Geografia ¢ Histéria, conduzindo a uma prospectiva dos acontecimentos do Estado”, Por outro lado, para o gedgrafo da Universidade de Sio Paulo (USP) Messias da Costa (2008), a geografia politica consiste 3 Cinna polio egooststysta nacido ma Polina eadicado noe Estados Unis que ato ‘eivaments em adiiaistaghesedeais eae déeadas de 1966) B 4 numa ciéncia bésica ou fundamental, a0 passo que a geopolitica é aplicada ou pritica. Para esse autor, a geografia politica é afeita & itorial dos Estados. pautadas por Costa (2008) nao dizem respeito ape- politica te As difere nas 4 fungéo do conhecimento, mas também a seu status cientifico. Para o referido autor, “o desenvolvimento da Geografia Politica, enquanto um corpo de teorias fundamentais ¢ de certo modo universais, sempre se deu a partir de uma pritica académica que procurava manter certo distanciamento critico, uma dada autono- ia telativa frente aos objetivos imediatistas ¢ pragméticos” (Costa, 2008, p. 21). Com isso, Costa (2008) afirma que a geografia politica se desen- cor cientifico, tipico da atividade acadé- ica, tendo, assim, status ientifico. Por outro lado, sob a geopolitica volve sob os auspicios do repousa um manto de desconfianea, o qual a relaciona diretamente 2 sua utilizagao na primeira metade do século XX e nas politicas de expansio, guerra ¢ colonialismo. De acordo com essa perspectiva critica, a geopolitica consiste em um saber engajado, comprome- tido com 0 poder. Mello (1999), inclusive, considera notaveis geo- politicos e geoestrategistas, como Halford Mackinder, tido como “conselheito do principe” — expressio utilizada por Raymond Aron em analogia ao papel desempenhado por Nicolau Maquiavel na producéo do manual de poder (a obra O principe) para os Médicis lo XVI Para Costa (2008), caracteristicas como essa desfa- vorecem o status cientifico da geopolitica, Segundo Andrade (1993), a geopolitica postula um saber que, apesar de pratico, é cientifico. Contudo, como faria posteriormente a geopolitica critica, 0 autor nfo se omite de criticar aquilo que chamou de “doutrinacéo geopo- no litica” e seus efeitos associados, como a colonizagio ¢ a exploragéo entre os povos (Andrade, 1993). Se a geopolitica consiste historicamente em uma ciéncia do poder e para 0 poder, como demonstra Lacoste (1976), cla tam- bém serve para constesté-lo, Nesse empreendimento, geopolitica estratégia se fundem ao encarar a dominacio, a expansio territorial € 05 movimentos de autodetermiangao dos povos como parte de t6ria, sendo a guerra um de seus instrumentos politicos cen- trais, Por isso, desde a heroica defesa espartana contra os persas nas ‘Termépilas até a instrugdo do pensamento estratégico da guerrilha comunista chinesa em 1949, 0 saber geogrifico foi um importante sua hi aliado para aqueles que buscavam preservar ou conquistar 0 poder. Entretanto, ¢ valido indagar: Como a geopolitica surgiut como cigncia independente? Como a geografia politica cedeu 20s ali- cerces tedricos ¢ aos fundamentos iniciais da geopolitica? Como © determinismo aleméo se tornou a principal base da geopolitica classica? Desenvolveremos as respostas a essas indagacées a seguir. 12 Fundamentos da geopolitica Segundo Castro (1999) e Mattos (2002), estudiosos como Vidal de Ia Blache, Isaiah Bowman e Lucien Febvre podem ser considerados representantes da Escola Possibilista. Identificado dirctamente com a obra de La Blache (1845-1918), em oposigio ao determinismo geo- grafico, 0 possibilismo ancora seu raciocinio no prineipio de que a liberdade impacta na forma ¢ no alcance em que 0 meio geogrifico limita € possibilita a a¢ao dos individuos, O elemento humano racional manifesta-se, sobretudo, por meio da politica. Assim, a relagio entre homem e geografia é mediada, antes de tudo, pelo fator politico. Como pilares dessa escola geogrifica, 0 pressuposto do progresso e a crenga na ciéncia ena técnica sio fatores que fazem 36 a balanga entre a razio ¢ a geografia pender a favor do homem. Se o fator racional, instrumental e humano néo for imperativo, haverd a possibilidade de relagdes de reciprocidade entre a sociedade ¢ 0 , mas nunca de determinagao. ‘Apesar da relevincia das contribuigées trazidas pela Escola Possibilista, foi no determinismo germanico que a Geopolitica como disciplina realmente se desenvolveu. Embora existisse a ideia de que a politica mediadora nas relagées entre 0 homem e sett meio, o determinismo geogrifico! afirmava a preponderincia do me fator fisico, inclusive na explicagao do processo civilizatério sobre © qual se debruga a geografia politica (Mattos, 2002). A escola _geogrdfica alemé, como também ficou conhecido o determinismo germénico, “era fortemente caracterizada pela influéncia do natu- ralismo (em particular pelas ideias de Darwin), que resultou num contetido determinista em suas interpretagdes dos fendmenos sociais, entre eles os politicos” (Costa, 2008, p. 22). Como ocortia no mundo natural, 0 estudo do complexo homem-geografia ocorreria sob o prisma biolégico. Nessa pers- pectiva, o Estado consistia em um “organismo vivo” dotado de necessidades biol6gicas, como a voracidade por recursos € 0 esti- mulo a expansio. Vemos nesse pensamento 0 cere do argumento em favor da expansao dos Estados, demonstrado aqui e também durante todo 0 Capitulo 2. Embora favoresa o elemento geogrifico sobre a vontade humana, o determinismo geogrdfico alemao condiciona a compreensio da politica a constrangimentos e possibilitades perenes da natureza. Por mais contraintuitiva que parega, essa escola aproxima cada ver mais a geografia da politica, em particular as manifestagées da polit territorial com fins de sobrevivéncia e acumulasio de poder do a de poder, como a expansio, a guerra e a conquista organismo estatal. "1 Umma cca rcevante ocbida por a cacol const cm sua alegadastedénciasmecanicsas€ acral, resents oa obra de Kel, Mackinder, ene outro sores (Cost, 2008) , Nesse campo, poucos autores sio téo representatives de uma escola como Ratzel. A obra desse pesquisador fez eco da geografia politica & geopolitica, de Mackinder a Haushofer. Sua contribuigio é crucial para entender 0 vocabulirio politico e estratégico utili- zado por estadistas, bem como as guerras da primeira metade do século XX. A articulagao organica entre o Estado e sua geografia, a relevancia do espago vital (Lebensraum) e a crenca na tendéncia natural & expansio territorial dos Estados impactaria fortemente 0 desenvolvimento das teorias geopoliticas do poder terrestte. Para Ratzel, assim como para Kjellén ¢ outros geopoliticos, © Estado era um ente naturalmente politico, mas também orginico. Enrendido como uma entidade viva, um organismo dinamico, era constituido por um corpo politico e institucional (expressio formal do Estado), pelo tersitério (espago) ¢ pelo povo. Devemos ressal- tar que, como um organismo vivo, o Estado exibe uma tendéncia natural A expansio, Em sua saga existencial, o Estado, como corpo vivo, nem sempre reuniria as condigées necessérias essenciais & sua manutengio ¢ sobrevivéncia, Recursos escassos ¢ presses popu- lacionais poderiam ser desafios relevantes, mas seriam acrescidos 2 tarefa de conquistar o espago vital. Tomando como base empi- rica a experiéncia histérica da construgao e expansio territorial dos do Estado nao é uma pulsio imanente e natural, mas repousa no fundamento da consecugao do espago vital (Costa, 2008). Mattos (2002, p. 27) discorre sobre esse assunto: Estados Unidos da América, Ratzel percebe que a expansio Em sua teoria do espago vital (Iebensraum),sintetizou o crescimento ‘organico do Estado, afirmando que nao haveriam de substituir os territrios politicamente organizados, os quais nfo se “oferecem 20 crescimento razées naturais ou econémicas”, Assim, dentro da con- cepgio de Ratzel, sé “um territério extenso, esparsamente povoado, um grande Estado do fururo” 37 38 Ratzel langou as sete leis do expansionismo, apresentadas a seguir segundo Castro (1999, p. 28): 1. O espago dos Estados deve crescer com a sua cultura 2. O crescimento do Estado-nagao segue a outras manifestagées de crescimento do povo, devendo, necessariamente, preceder 0 ere mento do proprio Estado. 3. O crescimento do Estado manifesta-se pela adigéo de outros Estados dentro do processo de amalgamacio. 4. fronteira € 0 6rgio periférico do Estado. 5. Em seu crescimento, o Estado luta pela absorgio de segdes poli- ticamente importantes. nto territorial vem de outra 6. O primeiro impeto para o cresci civilizagao superior. 7. A tendéncia geral para a anexacio territorial ¢ amalgamacio tuansmite © movimento de Estado para Estado ¢ aumenta a sua intensidade, Esses sete pontos nos do uma visio clara sobre as motivagées, as catsas € 0s mecanismos por trés do comportamento expan- sionista do Estado. Nos marcos de uma compreenséo de mundo ismo darwinista, o progresso da razéo da culeura humanas ocorre concomitantemente & luta entre povos, calcada em um evolu Estados ¢ culturas por recursos escassos. Em meio a isso esté a consolidagio do Estado, do territério e da seguranga, Semelhante 2 um corpo vivo, o Estado tem a pulsio de expandir originada no crescimento de fatores endégenos, em particular a cultura de seu povo, Atingido o limite do crescimento natural, 0 corpo estatal urge em expandit-se, incorporando outros Estados ¢ territérios por meio do processo de amalgamagao®, Tal comportamento leva 5 No contesto do ps-Segunda Guctra Mundial ¢ da reconstrugo da Europa, Kel W, Dewsch ‘ecupera a ei de omalqemugio como proceso consteatin da construsio edn eapansio de Estado, Bsa dla ead desemvevida no conccto de comunidades de geranps amaalgomates (Deutsch, 3959 y a tensdes nas zonas de expansio imediata, 0 érgio periférico do Estado: a fronteira. Sobre esse tema, reproduzimos as palavras de Costa (2008, p. 1 Dentro dessa evolucao, o advento das fronteiras externas e internas, por exemplo, néo estaria na raiz-do processo de constituigio dos Estados, mas justamente 0 contratio, isto é a constituigao dessa forma maior de institucional izagio do poder politico & que tem determinado a fixagio cada vex mais rigida dos limites entre as sociedades-nagoes. A partir dai, os confitos inceressados 20 espaso pol estégio em que se podia falar de um grupo social e seu espago, stados 10 tornam-se cada vex mais “internacionais", ou seja, de um, ppassa-se a outro, no qual se deve falar de sociedades-nag6cs: € seus territérios respectivos. Assim, no plano do espaco mundial, um imenso espago geopolitico se estrutura, sob formas mais ou menos rigidas. Em uma luta por sobrevivéncia ¢ seguranga, ocasionada pelo tensionamento decorrente da conquista do espago vital, os Estados nnascem, expandem-se e morrem. Considerando a jé mencionada hist6tia de expansio territorial dos Estados Unidos, Ratzel toma emprestados da histéria os exemplos da formagio de impérios classi- cos, como 0 Império Macedénico de Felipe II, ea constituicéo dos Estados miodernos, como a Alemanha unificada. Segundo Castro (1999), 0 gedgrafo alemio presenciou esse proceso de unificagéo — cexemplo da expansio, da amalgamagio ¢ do surgimento de um novo Estado — da Prissia 4 Alemanha. 39) 40. Influéncias no desenvolvimento da geopolitica atema i Segundo Castro (1999), é licito afirmar que os ensinamentos da Escola Determinista influenciariam fortemente 0 desenvolvimenco da geopo- litica ale, especialmente aquela pensada sob os auspicios do Instituco Geopolitico de Munique, liderado pelo General Karl Haushofer. Haushole foi claramente influenciado por Kjellén e Rartel, como 0s conceitos de Bxtado como organismo e Estado como manifistagio biol6- cca ou forma de vida denuunciam. Mas é no conceito de espago vital que vemos com maior clateza a forsa do dererminismo geogréfico alemto em uma das principais teorias do poder tecestre. Apesar de concor- rentes no campo da politica prética, Haushofer sofreu cambém forte influéncia de Halford Mackinder (Castro, 19 Apesar de existirem estudos classificados como obras geopolt- ticas desde a segunda metade do século XIXS, 0 termo geopolitica foi apresentado pela primeira vez pelo sueco Rudolf Kjellén, em 1899 (Flint, 2006). De Kjellén a Haushofer, a geopolitica, cada vez mais reconhecida como uma ciéncia do Estado, contatia com expres- siva contribuicéo de autores germinicos em seu desenvolvimento. As ideias de Ratzel fizeram eco na Europa de seu tempo. Pioneiro no uso do conceito de geopolitica, Kjellén incorporaria parte do arcabougo tedrico do determinismo geogrifico alemio, adicionando a este 0 componente politico como fator mitigador dos constrangimentos naturais (biolégicos) e da prépria geografia dos Estados. Kjellén, semelhance a Ratzel, acreditava que o Estado poderia ser entendido ¢ estudado como um organismo vivo. Para Kjellén, “o territério € 0 corpo do Estado; a capital ¢ os centros administrativos compéem o coragio € os pulmées; 0s rios eestradas, {6 A obra The Influoneof Seapower In History, do Alltane Allied Tayer Maban, fi publicada em 180 €€reconecda como ti mao no suigmeato da eeoda do poder maritimo. © clissco da _eopolcy The Geographical Piet of Hoy de alford Macknget fl publcado em 1904. suas Veias ¢ artérias; as areas produtoras de matérias-primas e pro- dos alimenticios sao os seus membros” (Castro, 1999, p. 32). Em tico-geogréfico-cultural, a fronteira mantém seu carater definidor € estratégico. Definidor porque o sentido de fronteira sé se revela quando uma coletividade se identifica e controla determinado ntonia com Ratzel, na conformacéo deste “corpo” polf- territério, demarcando seus limites como resultantes do antago- nismo de vontades manifestado por relagées de forga ¢ violéncias es apontam para a zona de estratégico porque esses mesmos lim irradiagao ou de expansio do Estado. De forma clara, Castro (1999, p. 50) nos ajuda a montar esse quebra-cabeca, fundamental & compreenséo da conexio entre a geografia politica e a formagao do Estado (tardio): “A nogéo de fronteira propriamente dita surge quando um povo, habitando determinado tertitério, adquire a consciéncia I — a nosio de patria”, Essa mesma consciéncia dé sentido ao idedrio de nagao, central para a identi ional e burocritico e de seu povo, o Estado-nacio. Assim o era ficagio organica do corpo politico institu- para Ratzel, que, em sua teoria orginica do Estado, afirmava que, como as culturas estavam contidas dentro de paises ou Estados, esperava-se que suas fronteiras se movessem e ocortesse expansi Dessa forma, quanto mais desenvolvida a cultura — corporificada no Estado -, maior probabilidade de expandir-se para territérios de outros paises, possivelmente dotados de culturas menos adiantadas (Flint, 2006). Para melhor ilustrar como essas ideias permearam 0 pensamento geopolitico alemao, expomos o seguinte entendimento: ‘A catarse para essas idcias era 0 Lebensraum de Ratzel, ou espago ital: significava que culturas “superiores”[..] mereciam mais territé- rio dado, que usariam 2 terra melhor. Na pritica, as ideias de Ratzel ¢ Kjellén estavam voltadasaaumentar 0 tamanho do Estado alemao a0 leste eeriar um Estado grande, que a cultura “avangada” alemé a garantia, em suas mentes, As expensas dos eslavos, que eram vistos como culturalmente inferiores. (Flint, 2006, p. 20, radusio nossa)?” ‘Tomando como exemplo a teoria nacionalista de concepgio do Estado de Kjellén, vemos com clareza 0 amadurecimento do ponto central de doutrinas polfticas do século XX, que colocam © Estado como o epicentro da politica nacional e internacional. Contaminados pelo espirito de seu tempo, Ratzel, Kjellén e outros ‘etiam no Estado um demiurgo possibilitador da vontade nacional. A Giltima década do século XIX ¢ a primeira do XX assisti- riam & emergéncia da geopolitica ndo apenas como pritica, mas também como ciéncia académica dotada de identidade ¢ objeto. Seu “produto final”, uma disciplina académica viva e em evolugéo constante, tem se mostrado aberto e passivel de criticas e suspeigdes acerca de seu status cientifico ¢ sua objetividade. Durante os debates metatedricos sobre a validade dessa ciéncia como tal, defensores da geopolitica clissica ou da sua versio critica sustentam vis6es que justificam essa forma de saber e a sua relevancia, inclusive para as relagdes internacionais. Autores como Leonel Itaussu de Almeida Mello (1999), ‘Therezinha de Castto (1999) e Meira Mattos (2002) entendem que, embora a geopolitica seja uma cigncia, cla é sensivel ao poder es suas demandas. Como a exposigio das teorias do poder geopolitico permitird elucidar, a geopolitica produz interpretagées ¢ explicagées sisteméticas sobre as realidades nacionais ¢ internacionais. Apesar deo intento ou a motivacéo dos escritos ser orientado(a) pela polt- tica, 0 método — fazer cientifico — da geopolitica atende aos rigores da cigncia moderna e objetiva. 7 No oxgiaal: "The catchphrase for tee ea as Rate’ Leber, or Unig space meaning that Speriantwthe ee oft bebe, exlenrerdred mare erry en they wold a the aad int beter tay. In prc the dens of Rata and Kellen ere aed at cea the eof the Cerna ate tartar ove lane ste tat the ‘adeanced Geran ealtare wartnte, i tira tthe ‘penn ofthe Sev who woe deemed ealtraly fein

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