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, a 7 Bongrim Epucacko COMO TRABALHAR A MISTICA DO MST COM AS CRIANGAS APRESENIRGIO Dasie seu surgimento o MST tem buscado criar e cultivar uma Mistica da luta pela Reforma Agréria. Hino, bandeira, palavras de ordem, cangées, gestos, so al - guns exemplos disso. Bn nossas Escolas, também estamos sentindo a necessidade de desenvolver os valores, os principios e os sentimentos que sustentam a luta do MST. S6 assim es- taremos contribuindo para dar continuidade e qualidade cada vez maior ao nosso Mo vimento, através das novas geraces. Foi pensando nisso, que na PRIMEIRA OFICINA DE CAPACITAG#O DO COLETIVO NA~ CIONAL DO SETOR DE EDUCACKO, realizada em noverbro de 1992, em Presidente Prudente' SGo Paulo, organizou-se um grupo de trabalho para iniciar a produgio de mteriais ' com sugestSes de como trabalhar a Mistica do MST com as criangas. © texto que apresentamos a seguir traz um conjunto de sugestées de como tre- balhar a Mistica, especialmente nas escolas de 1° grau dos nossos Assentamentos € Acampamentos - ‘So apenas algunas dicas. Cabe aos professores criar junto com as criangas ' novas formas de cultivar e reinventar nossos simbolos, nossa arte e nossa historia. Gostarfamos tanbém de alertar os professores sobre a nova ediclo do CALENDA- RIO HTSTORICO DOS TRABALHADORES, que esté a disposig&o nas Secretarias Estaduais. ‘Trata-se de um rico material de pesquisa para a comemoragéo de datas que reforcgam 2 mfstica da nossa luta, No final desse boletim anexamos um texto para reflexfo dos nossos companhei ros da Educacio. 6 a transcrico de uma palestra feita em maio de 1992 em Porto Ale gre Rio Grande do Sul pela pedagoga e professora Madalena Freire que é filha do mes tre Paulo Freire. Esta palestra est4 também em video para quem se interessar. Sugerimos que este texto, bem como esse boletim seja lido e discutido especi, mente pelas Equipes de Educacéio Regionais e pelos Coletivos Estaduais do Setor de E ducagio e de Formagéo. cCOUPAR RESISTIR PRODUZIR Também na Educagao. Setor de Educagao 1993: Cem Anos do Movimento de Canudos I-Q oUE £ MfsTICA Mistica 6 0 que anima a agao. Animar significa: dar vida, pér alma e energia naquilo que se faz. Sea gente quizer comparar nossa vida com uma carroga, dé pra di - zer que a mistica 6 a graxa que se pde nas rodas para que a carroga an- de mais facilmente, sem soltar tantos 'gemidos’. A mistica nasce do coragéo. & a dimensdo do sentir, do querer, do amor e do ddio, do sonho eda rebeldia, de alegria e da esperanga. Mas ndo se pode limitar a isso. Precisa ser atravessada pela Razdo. Ou seja, a mistica é também uma crenga num projeto de sociedade e num ideal de vida. Se concretiza em valores, comportamentos, atitudes; num jeito de ser e de viver. A mistica deve estar presente em nossa vida de forma permanente. Mas existem alguns momentos em que ela se expressa com mais forga. © nosso desafio é fazer da ESCOLA, um espago em que se cultive mo mentos e que se crie com as criangas novas formas de expressar a misti- ca da luta de que fazem parte. As formas de expressar a mistica devem conseguir envolver: * A TERNURA, que é 0 acolhimento das pessoas, através da arte, da poe - sia e da beleza. * 0 ENTUSIASMO, que é 0 desafiar e convencer as pessoas para a acdo.Ver do saber sobre - porque se luta. * A PAIXKO, que é © ato de compromisso com a luta e agéo coletiva. © MST vem construindo na sua histéria, um jeito préprio de culti- var a mistica. © uso de ferramentas, a criag&o de cantos, simbolos, palavras de ordem e gestos. Estas séo algumas formas de expressar o que sentimos e& acreditamos. Através da mistica vamos mantendo viva a nossa histéria, nossa es peranga e nossa convicgao na vitéria da luta, pela Reforma Agréria e pe la transformagéo da sociedade. II - ALGUMAS SUGESTOES DE COMO EXERCITARA M{STICA EM NOSSAS ESCOLAS 01 - Hino da Educagéo do MS’ NOVA FORMA DE APRENDIZADO A misica no meio rural é um jeito prético, bonito e eficaz de divulgar idéias. Foi pensando nisso e na necessidade de divulgar a proposta da E ducag&o do MST, que decidimos criar o HINO DA EDUCACAD. © companheiro, poeta e cator, Zé Pinto, de Rondénia, inspirado' no Caderno de Formagao n? 18: " 0 Que Queremos Com as Escolas de Aesentamento ", compds a letra e a misica de a " NOVA FORMA DE APRENDIZADO ". ~ 02 - Esta cango comegou a circular no inicio do ano de 1992. A letra foi especialmente feliz. Conseguiu sintetizar os princi - pios e os valores centrais da proposta pela quai o movimento vem lutan- do. Por isso logo transformou-se no nosso hino da Educagao, que ja esta sendo cantado por muitas criangas, professores, assentados e acampados do pais inteiro. NOVA FORMA DE r Ninguém educa ninguém Ninguém se educa sozinho AS pessoas se educam entre si Descobrindo este nove caminho III Professor tem que ser militante Ensinar dentro da realidade A importancia da Reforma Agréria A alianca do campo e cidade v Combatendo o individualismo Se educando contra os opressores Aprendendo viver coletivo Construindo assim novos valores VII Conhecer a caneta e a enxada Afinando estudo e trabalho Aprendendc teoria e pratica Nova forma de aprendizado APRENDIZADO| II Como pensa o MST E o Setor pensa a educagao Muito além do a, e, i, 0, u, Ou um canudo de papel na mao wv Discutindo as tarefas da Escola Ensinando como o plano quer Ir gerando sujeitos da historia Novo Homem e Nova Mulher vr Discutindo 0 cooperativismo © avango da organizagao # na vida do assentamento Que a crianga aprende a liigéo vIIt Avangar nossa pedagogia Construir é bem mais que querer Educando para a sociedade Que implantaremos ao amanhecer. SUGESTOES DE COMO TRABALHAR O HINO DA EDUCACKO EM NOSSAS ESCOLAS Propér que as criangas preparem uma encenagdo sobre o Hino da Educagao. Solicitar 4s criangas que desenhem o que diz o Hino. Pode ser feito em grupos ou individualmente, onde cada grupo ou cada cri anga desenhe uma estrofe. Fixar na parede da escola ou sede da comunidade. Preparar com as criangas um jogral com a letra do Hino, onde cada crianga declame uma parte ou uma estrofe. Pode ser apresentado numa assenbléia da comunidade, ou numa comemoragao feita na co- munidade. A partir das idéias do Hino, convidar as criangas e fazer um texto. Desafiar as criangas a criar novos versos ou mesmo novas misi - cas partindo do Hino. Solicitar as criangas a fazer uma montagem do Hino com recortes de jornais, revistas, fotos, etc ... Pode ser feito por grupos ou individualmente. Feito isso, cada qual seré convidado a contar o significado da montagem. Tanto na Escola como pra comunidade. Discutir com as criangas quais sao as idéias centrais do hino. Montar cartazes com as idéias centrais em forma de frases e dis tribuir para cada crianga um cartaz a ser levado para suas ca - sas. Solicitar As criangas que tragam os comentdrios feitos pela fa~ milia a respeito da idéia do cartaz. Organizar um debate com a comunidade e as criancas sobre o hino Desafiar as criangas a encontrar um simbolo que expresse o sig- nificadode:cada estrofe. Ao cantar o hino cada crianga apresen- ta o seu simbolo, depositando-o em lugar de destaque. Observacdo: Na luta pela terra, Reforma Agréria, os poetas e cantores ligados ao Movimento, fizeram muitas misicas, que s&o can tadas nos assentamentos, acampamentos e pelo pais afora.. Com certeza as criancas de nossa escola também conhecem uma porgdo destas misicas. Sugerimos que o mesmo trabalho feito com o hino da Educa- gio seja feito com outras misicas da luta. Escolher juntoam as criangas as misicas a serem trabalhadas,e a forma de como trabalhar. 02 - BANDEIRA E HINO NACIONAL: SiMBOLOS OFICIAIS DO MST © ms?, surgiu das ocupagdes de terra, a partir do ano de 1979. Bm 1984, realizamos © primeiro Encontro Nacional,on- de foram decididos os objetivos gerais, as reivindicagdes e o simbolo do Movimento. © homem e a mulher de facdo na m&éo dentro do mapa. do Brasil. OBJETIVOS GERAIS DO MST 1. Que a terra esteja nas mios de quem nela trabalhaz 2. Lutar por uma sociedade sem explorados e exploradores; 3. Ser um Movimento de massa autOnomo dentro do Movimento Sindical;para conquistar a Reforma Agrdria; 4. Organizar os trabalhadores rurais na base; 5. Estimular a participagao dos trabalhadores rurais no sin- dicato e no Partido Politico; 6. Dedicar-se & formagdo de liderangas e construir uma dire- gao politica dos trabalhadoresz . Articular-se com os trabalhadores da cidade e da América Latina; JOSSAS_REIVINDICACOES 1 - Legalizagio das terras ocupadas pelos trabalhadores: ~ Estavelecimento da d4rea mdxima para propriedades rurais - Desapropriagao de todos os latiftindios; Desapropriagdo das terras das multinacionais; anon - Demarcagiio de todas as dreas indigenas, com o reassenta~ mento dos posseiros pobres em areas da regiao; 6 - Apuragdo e punigdo de todos os crimes contra os trabalha dores rurais; 7 = Fim dos incentives e subsidios do governo ao prodlcool,Ji ca e outros projetos que beneficiam os fazendeixos; 8 - Mudanga da politica agricola do governo dando prioridade ' ao pequeno produtor; 9 - Exting&o imediata do GETAT e do GEBAM; 10- Fim da politica de colonizagao. Em janeiro de 1995, realizamos o 1% Congresso Nacional. Por una nimidade os 1500 delegados concluiram que a ocupagio de terra ca solugao para fazer a Reforma Agréria no Brasil. é a dni Foi este Congresso que tornou o MST conhecide Nacional e Inter- nacionalmente. A partir desse Congresso, muitos Sem Terra e simpati - zantes da Reforma Agréria, passaram a procurar o MST. Foi quando senti mos a necessidade de criar a nossa Bandeira. Em 1986 e 1987 foram discutidas vérias propostas e escolhida a atu al Bandeira. Uma forma de mostrar para o conjunto da sociedade a imagem do MST. Nossa Bandeira passou a tremular em mastros fincados em muitos la- tiftindios, em manifestagdes, em pragas, em caminhadas e romarias. qTambém nas escolas de assentamentos, em barracos ou casas dos SEM TERRA, nas sedes de sindicatos e Movimentos ‘Populares, nos cursos e em muitas casas dos simpatizantes da Reforma Agréria, a Bandeira passou a ser marca obrigatéria do compromisso de luta pela Reforma Agraria. A Bandeira 6 a expressdo visual da nossa luta. Todavia faltava no MST outro simbolo que expressasse o contetido das nossas idéias. Assim, com 0 objetivo de dar ainda mais significado @ nossa Bandeira e & pré- pria luta, o MST, langou o desafio da criagio do Hino Nacional do MST. vdrias letras e diferentes melodias foram propostas pelos poetas e cantores da Reforma Agrdria, durante o ano de 1987 e 1968. Ao final de 1988,a Coordenag’o Nacional do MST, aprovou o atual hi no, cuja letra é de Ademar Bogo e a misica do Maestro Willy Correa de 0- liveira. i HINO PO MOVIMENTO SEM TERRA Vem tecamos a nossa liberdade bragos fortes que rasgam o chao ‘sob a sombra de nossa valentia desfraldemos a nossa rebeldia e plantemos nesta terra como irméos! Vem, lutems punho erguido nossa forca nos leva a edificar nossa péteia live e forte construida pelo poder popular Brago erguido ditemos nossa histéria sufocando cam forga os opressores hasteemos a bandeira colorida despertemos esta patria adormecida © amanha pertence a nds trabslhadores! Nossa forga resgatada pela chama da esperanga no triunfo que vird forjaremos desta luta con certeza patria livre operdria e camponesa nossa estrela enfim triunfard! 2.1 A BANDEIRA DO MST A Bandeira surgiu como uma necessidade de termos um simbolo que i dentificasse a luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e a luta Ga Reforma Agraria a nivel Nacional. 2.2 - 06 - © SIGNIFICADO DA BANDEIRA © MAPA DO BRASIL - representa que o MST é uma organizagado a ni - vel Nacional. Faz luta pela Reforma Agrdéria em todo o pais. © HOMEM £ A MULHER- representanque a luta pela terra, precisa ser feita pelo homem, pela mulher e por toda a fa milia. FACKO - representa as ferramentas de trabalho, de luta e de resis téncia. COR BRANCA - representa a paz pela qual lutamos. Paz que sé pode ser fruto da justiga social. COR VERMELHA - representa o sangue que corre em nossas veias e a disposicdo de lutar pela Reforma Agrdria e a trang formag’o da sociedade. COR PRETA - representa a nossa homenagem aos que tombaram antes de nés, lutando por uma nova sociedade. COR VERDE - representa os grandes latifiindios que temos que ocupar e fazer produzir e a esperanga de que nossa luta seja vitoriosa a cada novo latiftindio conquistado. SUGESTOES DE COMO TRABALHAR A BANDETRA COM _AS CRIANCAS Conversar com as criangas sobre a Bandeira. © que representam as co res, os desenhos ... 0 porqué de cada elemento da Bandeira. Produzir um texto sobre a Banfleira.Pode ser individual ou coletivo. Desenhar a bandeira com os alunos. Cada crianga pode levar pra casa a sua Bandeira. Diferenciar a bandeira do MST das outras Bandeiras. Respatar a sua historia ¢ 0 seu significado para os trabalhadores rurais. Despertar nas criangas o amor, o respeito e a admi ragdo pelo nosso simbolo maior. Junto com as criangas definir um local de destaque pra colocar o mastro da Bandeira do MST. Desafiar as criangas para gue elas mes - mas consigam o mastro e o fio para hastear a Bandeira. Em momentos fortes da Escola ou do Assentamento, preparar um jura — mento a ser feito por- todos os presentes, em volta da Bandeira co- mo forma de compromisso com a luta. Bxemplo: No inicio do ano letivo,na aprovag&o do planejamento, numa assembléia da Escola, etc. Em caso das Escolas que n&o possuem a bandeira do MST, encarregar uma equipe para conseguir uma Bandeira. Manter sempre em sala de aula a Bandeira do MST. Garantix uma equi- pe responsdvel pela Bandeira. 2.3 2.4 OF, nos cursos nas manifestagdes TRABALHAR COM 0 POEMA DO HINO A _BANDEIR: HINO A BANDEIRA DOS SEM TERRA Pedro Tierra Com as maos de plantar e colher com as mesmas maos de romper as cercas do mundo Te Tecemos Desafiando os ventos Sobre nossas cabecas Te Levantamos Bandeira da terra, Bandeira da luta, Bandeira da vida, Bandeira da liberdade! Sinal de terra Conquistada! Sinal de luta e de esperanga sinal de vida multiplicada! Sinal de liberdade! a_que juramos: nao nascera sobre tuas sombras Um mundo de opressores. E quando 4 terra retornar Aos filhos da terra repousaré sobre os ombros dos meninos livres que nos sucederao! INO NACIONAL DO Ms‘t ‘Quando e onde cantar: Nas comemoragdes do Assentamentb, nas assembléias, nos encontros Nas Escolas pode ser cantado: no inicio do ano letivo, das aulas, Escola, nos encontros de professores e outros. 2.5 COMO _CANTAR © HINO: Sempre que possivel, cantar o hino hasteando a Bandeira. Em ocasides no inicio uma vez por semana, nas datas civicas, nas assembléias da ~ 08 - em que n§o é possivel o hasteamentU da Bandeira em mastro pode-se co ~ locar a mesma em lugar de destaque, ou ainda convidar 2 pessoas que se gurem-na diante dos demais. Convidar um aluno, um visitante, um pai, uma mée, uma lideranga pa ra hastear a Bandeira enquanto se canta o hino. Em sinal de respeito & nossa Bandeira, é importante cantar o hino Ge pé e em posigdéo de trabalhador: bragos ao longo do corpo e punhos fechados. Enquanto se canta o estribilho: “ VEM LUTEMOS, PUNHO ERGUIDO...", f importante erguer o brago es - querdo na altura do ombro e com punho fechado, fazendo compasso da pré pria marcha musical do hino. Esse gesto expressa a nossa indignag3o con tra a dominagdo e a exploragdo feita sobre os trabalhadores. E também a disposicdo de lutar e escrever a nossa histéria com as nossas ferra- mentas. Ao final do hino, a Bandeira deve estar no topo do mastro. Dessa forma a Bandeira fica em destaglle, numa demostragao de que a luta pela Reforma Agréria esté no coragdo dos SEM TERRA e n&o vai parar enquanto os 12 milhédes deSem Terra nlo tiverem conquistado um pedago de terra para trabalhar. Encerrado o hino, os aplausos servem para demostrar: 0 nosso res - peito & Bandeira, nosso compromisso com as idéias do hino e nossa dis~ posigdo de levar adiante a luta dos trabalhadores. 2.6 SUGESTOES DE COMO TRABALHAR O HIN a- Organizar um debate com as criangas sobre o significado do hino e da Bandeira. =~ 09 - As criangas e a professora ou o professor podem decidir se é im- portante convidar alguns pais ou liderangas, para que contribuam no de bate. b+ Utilizar as atividades sugeridas para trabalhar o Hino da Edu cagdo. 03 - PALAVRAS DE ORDEM Palavra de Ordem é uma forma resumida de expressar o que senti - mos, em que acreditamos e onde queremos chegar. Na histéria do MST, foram criadas diversas palavras de ordem. Al gumas surgem e em seguida perdem a atualidade. Outras permanecem atuais por muito tempo. E tem aquelas que se mantém historicamente. De 1979 até 1984, perfodo de nascimentdé do MST, as principais pa lavras de ordem foram “Terra nao se ganha, se. conquistal “Ocupagéo é a unica solugao' Terra para quem nela trabalha". Nos anos da Constituinte de 1986 a 1988, surgiu a Palavra de Or- dem: Reforiia Agrdria na lei ou na marra' A Constituigo Federal promulgada em 25 de outubro em 1988, sig- nificou um retrocesso na Lei da Reforma Agréria. Isso nos fez criar no vas palavras de ordem. Surgiram ent&o as palaveas de ordem: ‘Ocupar, resistir e produzir". “Reforma Agraria, essa luta é nossa". Cada nova situagéo trax consigo novos desafios e também a necessi- dade de propostas alternativas para solucionar os problemas. £ por isso que até hoje algumas palavras de ordem permanecem a - tuais. Pois o objetivo da palavra de ordem ainda néo foi alcangado. SUGESTOES DE COMO TRABALHAR AS PALAVRAS DE ORDEM As palavras de ordem servem para manter o Gnimo na luta dos tra- balhadores. Devem ser usadas ou gritadas em atos piblicos, manifeste - gdes populares, encontros, romarias, comemoragdes e outras. As palavras de ordem nao podem ser falSas. Elas precisam ser a expresso do sentimento do povo. Para isso, devem estar adequadas & si tuagdo e ao momento. Por exemplo: A comunidade (assentados, professores e criangas) a campam na prefeitura pra exigir a contrugdo de uma escola e aquisicao de material escolar "Ocupar, resistir e produzir, também na educagao". “Reforma Agtéria, essa luta é nossa" = 10- “Escola e material escolar para.a vida melhorar". a- Realizar uma pesquisa no assentamento com o obje tivo de levantar todas as palavras de ordem que as pessoas conhecem. . Cada crianga apresenta as palavras de ordem pesquisadas. . Debater sobre o significado de cada palavra de ordem. Saber quando surgiu, por qué?, para qué? Buscar apoio na comunidade, em caso de advidas. Montar um painel com as palavras de ordem e figuras, fotos € desenhos,Méxpressem o significado das mesmas. Fixar na parede da esco~ la. . Cada aluno escolhe uma das palavras de ordem e escreve um tex- to sobre a mesma. Bm seguida fazer a leitura em voz alta para os colegas. Em caso de ser muitos alunos, sortear alguns. . Blaborar coletivamente texto utilizando todas as palavras de ordeme expor na sede da comunidade, se for possivel. be Recuperar a histdria do assentamento, através de desenhos, re pentes, dramatizagio, trovas, misicas, poesias, palavras de ordem. A - presentar para a comunidade no aniversério da conquista da terra. c- Desafiar as criancas para que criem novas palavras de ordem. 04 - JORNAL SEM TERRA 12_de agosto: Aniversério do "Jornal Sem Terra” © Jornal Sem Terra (JST) foi editado pela primeira vez em agosto de 1981. -au- Surgiu com © objetivo de comunicar & opinigo piblica e todos os interessados os acontecimentos do acampamento da Encruzilhada Natalino, no Rio Grande do Sul. Foi o impuiso inicial. As primeiras edigdes sairam em forma de boletim. Aos poucos foi crescendo, junto com a luta pela Reforma Agra- ria. Companhia fiel da histéria do Movimento Sem Terra. Por ocasiao do 102 aniversdério, em agosto de 1991, o Jornal Sem Terra, recebeu uma homenagem especial, em forma de um poema, que apre- sentamos a seguir. AO NOSSO JORNAL ~~ Ademar Bogo Nao és grande, no importa se o futuro te intimida Importa tua identidade. que nada! Es novo ainda! qu nao circulas de graca Vamos... 0 sonho fazer. Tmporta que atinjas a massa £ assim mesmo. Longa a estrada no campo © na cidade. mas que seria da jangada Ja tens dez anos, bom tempo! sem agua pra se mover ? De todo este movimento E © que_ seria de nés tu tens tudo registrado. se tu nfo fosses a voz Nao podia ser o contréric, que anuncia o_amanhecer! | taza" até sem ser chamado! Nossas saudagdes sinceras | | ao lembrar de tua infancia toda luta pela terra, | pequenc, sem elegancia te homenageia aos clamores. | que recordacdes tu traz. A terra € irma. 0 amanha | Mas esta 6 tua meméria! pertence a nds trabalhadores. | Certeza. Sé tem historia quem com luta a histéria faz! 4.1 SUGESTORS DE COMO TRABALHAR O JORNAL SEM TERRA a- Fazer uma pesquisa junto aos assentados para sabert . Quantos assinam 0 JST? . Quem costuma ler o JST? . 0 gue mais gosta A nossa escola a b+ Fazer 0 mapa do assentamento ou da agrovila, marcando com) & sigla "JS" as fam{1ias que 1éem o jornal e com um "X" as fam{lias que nao 1éem. c- Organizar um debate na escola, com a aprticipagao de alguns assentados, sobre a importancia e o papel do "JST". Porque alguns léem e outros néo d- Dividir o jornal em vérios assuntos, distribuindo a leitura por grupos. Apés leitura, cada grupo apresenta a sintese do debate realizado. e- Cada aluno escolher um assunto do jornal, fazer leitura e pro @uzir um texto, a partir da leitura feita ligando com a realidade. £- Desafiar as criangas para que elaborem uma matéria sobre o seu assentamento, ¢ enviar ao Jornal Sem Terra. © enderego esta no JST. g- Convidar uma lideranca do assentamento, para debater com as 6 © Editorial do JST, pagina 2. Ali estd a posigao do Movimento sobre a conjuntura atual. ho Aproveitar os textos do JST, para pesquisas sobre a realidade do MST nos Estados, introdug’e a contetidos novos como: portugués (Ex. acentuag&o) geografia (buscar no mapa cada estado que se estd se estu- dando) e outres. i- Discutir com as criangas e com a comunidade a melhor maneira de garantir a vinda do JST para o Assentamento. Garantir também que a Es cola tenha uma assinatura. j- Organizar o arquivo do JST na escola. Desafiar aos alunos pa ra que busquememaior niimero de edigdes anteriores do jornal. k- Desafiar as criancas a lerem o JST em casa, com a familia.Tro car opinides na escola sobre como se faz esta leitura e quais os comen térios que cada familia faz. III - CONVETE A CRIATIVIDADE Neste texto foram mostradas algunas sugestSes sobre com trabalhar a mistica do MST com as nossas criangas © em nossas escclas. Mas © que queremws deixar bem claro é qud isso nfo & tudo. Fxistem outras formas ge trabalho. Fo gue é mais importante: existem outras dimensdes da MfSTICA que no podem deixar de ser vivenciadas com as criangas € com o conjunto do Assentamento. ‘Uma destas dimensdes 6 a MfSTICA DO ESTUDO. As criancas precisam se apaixonar pelo estudo € pela produgdo de CONHECIMENIO. E precisam entender porque é to importante aprender cada vez mais sobre todas as coi- sas. -13- Tanto as mais préximas comeas mais distantes. A escola deve encontrar formas criativas de desenvolver nas criangas e na pro - pria comunidade, a atitude do querer e do valorizar o cientifico sobre as coisas. Sa ‘ber © porqué de tudo o que ocorre, saber como transformar a realidade. Outra dimensao igualmente importante é a MfSTICA DO TRABALHO. £ o trabalho que cria as riquezas de que precisamos para satisfazer nossas neces sidades. Somertle através do trabalho conseguimos melhorar as condigées de vida dos nossos assentamentos. E tanbém conseguimos manter o sentido da organizagio de nossos acampanentos- Se ndo desenvolvermos em nossas criangas o amor pelo trabalho, nao temos garantia nenhune da continuidade de nossa luta. E gostar do trabalho é uma coisa que se apren- de. E se aprende participando diretamente dos desafios da produgéo. Nossas criangas precisam sentir 0 gosto do desafio de fazerem algo que traz resul tados concretos para elas e para o conjunto do Assentiamento ou Acampamento. Podem co- megar com o trabalho na propria escola mas também precisam ter outras experiéncias de trabalho produtivo, desde pequenas. Como a-escola vai desenvolver a mistica desse trabalho, a mistica do estudo,a mis tica da cooperagiio: este é © nosso convite e nosso desafio 4 criatividade de cada pro fessor. Compromisso ¢ ousadia. Fidelidade e rebeldia. Isso € 0 que nos faz EDUCADORES Haat Reinventando a escola EDUCADOR HOJE Eduador, seja ele professor, coordenador, orientador, ensina. 0 que resta saber € em que concepgao de educagaéo que ele esta. Nesta,ele ensina a pensar. E enquanto pensa, ensinando, ele apropria-se do seu pensamento pedagogico e teorico. Pensar € 0 eixo da aprendizagem. Aprender a pensar, também®um aprendizado de construir opgdes. Opgoes, pois equivale abandonar o antigo referencial, a antiga hipotese, quebrar as esteriotipias, cristalizadas, e perder a seguranga do que antes parecia estabelecido, inquestionavel, na busca da construgao do novo, do que ainda nao se sabe. Novo que vem sempre revestido pelo medo - feito eu aqui nesta mesa, agora - perigoso, persecutorio, desconhecido. Para pensar/aprender tem-se que admitir que, em certos momentos se esta perdido. Vé-se numa avalanche de duvidas, perguntas, hipoteses. Pensar envolve construir hipéteses inadequadas, erradas e ter que refazer ou inventar outro pereurso para buscar a certa, a adequada. CADS CRIADOR Para pensar e aprender témse que perguntar. E para perguntar € necessario exercitar os espagos de liberdade e abertura para o prazer e o sofrimento, inerentes a todo processo de construgao do conhecimento. A pergunta 6 um dos sintomas do saber. SO pergunta quem sebe alguma coisa (e sempre se sabe alguma coisa), e quer aprender. SO pergunta quem tem a humildade para admitir que nao sabe. Ninguém pergunta no vazio. Pergunta porque constata que do que sabe, algo nfo sabe. E so a pergunta desvelaré o caminho possivel a se seguir. O que nao se sabe, quem sabe € o outro: grupo. Outro que de um outro lugar aponta, retrata e alimenta o que nos falta. Toda pergunta se dirige ao outro, ao grupo. A pergunta revela o nivel da hipétese em que se encontra o pensamento e a construgdo do novo conhecimento. Revela tambem a intensidade da chama do desejo, do fogo, da curiosidade, de vida. Para perguntar, pesquisar, conhecer é€ necessario aprender a conviver com a curiosidade, por deparar-se com o inusitavel, a capacidade de assombrar-se, © enfrentar-se com 0 caos eriador, que as vezes parece mais com um terremoto, a ansiedade e 0 medo, no encontro ou no choque cam novo. Medo que @ um dos ingredientes da construgao do conhecimento. Sujeito constréi conhecimento alimentado pelo proprio medo. Medo que alimenta essa busca. Mas me- do quando é deseducado, mal-educado; para, breca essa busca. Torna-se fantasmal £ necessario pegar o medo para comegar a construir a coragem. Portanto, temos que educar a imaginagZio, © sonho, na aventura de criar, desejar, ancorados na realidade. Educador ensina a pensar. Nas somente pensar nao basta! Educador ensina a pensar e a agir segundo o que se pensa, enquanto se faz. O sujeito é uma totalidade de acg&o e pensamento, afetividade e cognicao, pratica e teoria. Por tudo isso, pensar néo é facil, nem inofensivo. En miitas situagdes subverte a ordem, tira o sono, quebra © estabelecido. Da e provoca muito, muito medo. Medo da desorganizagéo das idéias, do emaranhamento do velho com 0 novo. Novo que provoca, aparentemente, desordenadamente, uma forma cadtica. Medo do caos eriador. ESPAGO DE REFLEXAO Mas ndo existe processo de autonomia, ndo existe processo de libertagao, sem criagio € apropriaglo do pensanento, dos desejos e dos sonhos de vida. & atraves da reflexdo, no desenvolvimento de suas hipdteses - porque reflexao no nasce pronta, é um processo de construgao - que o educador se apropria do seu pensamento, no contato com © pensamento do outro, iguais ou tedricos. Para pensar, conhecer um objeto é necessa- rio recrid-lo, reinventaé-lo, refleti-io. 0 espago de "reflexao", aqui entre aspas a reflexdo, da crianga, acontece no desenho e na construgdo de suas hipdteses da escrita. Essa, é ai que se da sua ligdo, é ai que se da sua tarefa do pensar. Tarefa que formaliza dA forma, comunica o que pensa, para assim refletir, aprofundar, construir o que ainda nao conhece e necessita aprender. © espago de reflexio, aqui reflex3o mesmo, teoria e estudo da pratica, do professor se da no seu diério, do registro de sua pratica cotidiana. Registro da pratica cotidiana, juntamente con a avaliagao, planejamento, observagdo de sua acao junto @ seus educandos: criangas, adolescentes ou adultos. Essa é¢ a sua ligo, a sua tarefa. Tarefa que formaliza, da forma, comnica o que praticou; para assim pensar, refletir, aprofundar o que sabe e 0 que ainda nao conhece, 0 que necessita aprender, © que necessita estudar. : O espago de reflexdo, teoria e estudo da pratica, do coordenador ou do orientador ou do nome que vocés quiserem, supervisor, sei 14 0 que diabo mais; se da no diario, no seu registro de sua pratica cotidiana, na avaliagao, no planejamento e na observagio de sua pratica junto a seus educandos, quem s40 os seus alunos, (..-) os professores. Essa é a sua licdo, tarefa que formaliza, 44 forma, commica o que praticou; para assim pensar, refletir, aprofundar o que sabe e © que ainda nao conhece, © que necessita aprender, estudar. © processo de reflexao, construgao do pensamento ,apropriagao do pensamento envolve a todos: crianga, professor, orientador. Cada um no seu espago diferenciaio, pensa, escreve, estuda e faz teoria. © educador estuda a realidade, os outros, a si mesmo, a sua pratica. © educador estuda a teoria dos outros, construindo, produzindo a sua. 0 ato de estudar faz parte do cotidiano do educador; porque a pesquisa move a construgao do conhecimento, do ensinar, do educer. E o estudar fica bem marcado. Nao é so estudar a pilha dos livros. Estudar realidade, o outro e a si mesmo. Instrumental que diseiplina sua pratica, de pesquisa, de estudo é a observac3o, a reflexao, a avaliagZo e 0 planejamento. Observacio é o Limpo inicio de seu estudo. Através do registro de suas observagdes ¢ do planejamento, da avaliagao, ele estrutura sua reflexéo, seu pensanento. A reflexio tece o processo de apropriacio de sua pratica e teoria. Somente tendo a sua teoria nas maos, 0 educador questiona, recria a teoria dos outros. Nesta concepg4o, 0 ato de estudar é fonte constante de conflito, confront com a teoria do outro e a prépria, £ um constante reverse, buscar-se, através do - 16 - entendimento do outro. Por isso mesmo, ndo € uma agéo passiva. Pelo contrario, mutes vezes pode acontecer verdadeiros duelos com o que se esta estudando: discordancias, nao entendimentos, desentendimentos. Por tudo isso, 0 ato de estudar provoca dor, mal estar, desprazer e mito prazer. Pois tudo isso faz parte do movimento de fundanenta- gGo tedrica que alicerca a recriagdo da teoria e da pratica. Neste sentido, o estudo sempre possibilita transformagGes e mudangas. Numa outra concepgZo, 0 estudioso pratica o canibalismo tedrico. Preocupado em devorar a pilha de livros, produz somente o verniz da reprodugao. Seu estudo néo gera transforma- 30, porque desapropriado do que pensa e faz, vira um copiador exemplar. Nessa concep¢ao nés fomos formadas, viu? Nessa nos entendemos tudo. Desapropriado do que pensa e do que faz, vira um copiador exemplar da teoria dos outros. Um mascarado de Piaget, de Vigotskii, de Emilia Ferreiro, Um matraqueador de blé, bla, bla oco; roubado do seu pensamento, de sua reflexdo sobre ‘a pratica, do seu coragao pedagégico. © ato de refletir é Libertador, porque instrumentaliza o educador no qie ele tem de mais vital: seu pensar. Educador algun é sujeito de sua pratica, se nao tem a sua reflex4o, 0 seu pensanento nas maos. Como que eu vou refletir numa estrutu- Para p'ra pensar! Para p'ra ra que me desapropria, que me rouba, nhé, nhé, nhé, poder recriar! Para e vé os limites, enfrenta. Lamuria nao constréi nada! Lamiria cristaliza a paralisia! Porque nao existe agdo reflexiva que nao nos leve sempre a cons- tatagdes, descobertas, reparos, aprofundamentos; pertanto, que nao nos leve a transformar algo em nos, na realidade. Nesta concepgdo, onde o ato de refletir, a apropriagio do pensanento & express4o original de cada sujeito, esta implicito que nao existe um modelo de reflexao Nao existe uma forma de reflexao. Existe uma metodologia que ampara para a construgao da forma, sua, de reflexdo. Nao forma. Cada educador tem sua marca, seu jeito. O impor tante é que cada um assuma este seu jeito, esta sua marca; o momento da hipotese em que se encontra dentro de seu processo do pensar. RECRIAR O CONHECIMENTO Extenho me dado conta com trés hipoteses de construgao. ‘Um primeiro movimento: A reflexao, ela reproduz; este educador meramente reproduz 0 pensamento do outro, alienado do seu pensamento. Vou dar um panorama geral, umas pinceladas so, viu? Nao vou aprofundar nao. Depois eu especifico mais outras coisas. Um segundo movimento: Ele reapresenta o pensamento do outro e constroi a apropriagao do seu pensamento. Este "reapresenta é bem Piaget, no sentido de re-apresen- tar, recriar, trazer o seu pensamento, Un terceiro movimento: Un movimento de recriagao do pensamento do outro © apropriagao da autoria, sé aqui, 86 aqui, da autoria do seu pensarento. Nesse primeiro movimento, eu tenho percebido que € um movimento de choque, de desentoxicag&o, de ruptura, de questionamento e de muito sofrimento; porque @ 0 rompimento da visdo autoritaria que cada um viveu em relacdo a linguagem escrita. A constatagao €: Eu escrevo sem pensar, eu nao consigo escrever e refletir. Como se pensamento e linguagem escrita caminhassem dissociados. Conquista-se nesse movimento, tm redinensionanento da linguagem oral e escrita; resgatando-se o proprio pensanento e processo de alfabetizacio. Neste primetro movimento, a reflexao é uma cépia de textos, concretamente. £ uma copia de textos de outros, wdo pensanentos. E una copia mecanica. © desafio do educador, nesse primeiro movimento é o resgate da reflexdo no oral ainda. Ndo esté nem na escrita. Onde depois de um trabalho de um ano inteiro, pode chegar um educador e dizer assim: A minha grande conguista neste ano todinho, em relacéo A reflex3o, 6 que percebi que eu sei falar, ou seja, eu percebo que eu penso, € por isso comunico 0 que eu penso, falando. Nesse primeiro movimento, o educador tem encaminhanentos fortes. Fortes, no sentido de incisives, de intervencSo, nessa ferida autoritaria; de encaminhanentoy porque tem que calgar o chao € de devolugaio sobre o que vé, deste proceso, deste prineiro movinento. Neste primeiro movimento, este educador - eu tenho feito alguna relagdo - ele ¢ muito mais um educador borbeiro, borbeiro no sentido de apagar o fogo das urgéncias da pratica, apagar o fogo das emergéncias da pratica, apagar o fogo porque foi pego de surpresa diante de, foi engolido pela realidade, ele nao tem uma disciplina intelectual, ele nao trabalha com organizagao dos limites, ele é engolido pelo limite da realidade, a0 inves de ser dono, no sentido de limitar a realidade para poder crié-la. No segundo movimento, ele reapresenta © pensanento do outro ¢ comega a construir, a se apropriar, concretamente, do seu pensamento. £ inicio de commicagao, por escrito, do proprio pensanento. Esses movimentos nao esto assim, nao, um dois trés, Nao, eh! Nada disso! Se interligam, interagem. Bnerge neste segundo movimento a necessidade explicita de fundamentaglo tedrica, porque percebe as faltas de que gua pratica se constitui. Inicio de luta pela construgao da disciplina intelectual para o estudo. Inicio de comegar a ver os tedricos, nao com aquele Deus, que eu nada sei diante dele. mas como alguém que comega a pegar no que é seu, pratica e teoria, & comega a levantar diivida, nao entendimentos com este tedrico. Aqui comega a nao mais, a quebra, nao mais aquela atitude, comportamento, de opediéneia, subserviéncia 4 teoria, ao tedrico; aquele mascarado 1a que era, mas a tirar a mascara. A gente foi educado p'ra imaginar ou coneeber, e nos somos fruto disso, de que o estudo © a construg’o do conhecimento, ele é doado, ele vem pronto. Nesta concepgao infelizmente nfo! Vogé controi, recria o conhecimento do outro, para poder se apropriar do que conhece. E p'ra isso, ferranenta fundanental e basica: a construgao da disciplina intelectual. No terceiro movimento, recria o pensamento do outro. Comega a lidar com mais fluéncia com esta disciplina intelectual. Assume e epropria-se do seu pensemento de sua teoria. Aqui nao ha mais mascara. Aqui ha a cara limpa, assumida, desse sujeito, autor de pensanento. E a nivel da teoria, do texto, da reflexdo, domina articuladanente, com coeréneia, fundamentando sua pratica, a sua teoria. REINVENTANDO A ESCOLA Tudo isso é p'ra chegar no ponto do nosso tema. P'ra isso a escola a ser reinventada necessita de criar, inventar, espagos de escuta, acompanhanento para exposicao do professor, de sua reflexdo, de seu pensanento sobre a sua pratica; iluninado pela teoria, que ilumina, que inspira, 0 educador que o acompanha. Esse espago de escuta da reflexdo, escuta, no sentido do acompanhanento © da instrumentalizagao, nfo é espaco da auséncia do educador. Nao é aquele espago espontaneista que diz: Os professores estdo reunidos para trocarem. Nao ha troca sem mediagao de um educador, porque construgao do conhecimento nao é facil. Espago instrumen- talizador, com a presenga do educador, uma autoridade que faz a mediagéo, socializa, possibilita, coordena, organiza a troca dos saberes entre os educadores, e portanto, alicerga a construga0 do novo conhecimento. Educador que no é um igual, no sentido de educando. Edueador diferenciado direitos iguais, diferenciados. Educador que sabe mais, mas que por isso nao é o que sabe tudo, porque é ele quem encaminha, ilumina, direciona, conduz o leme. Barco sem leme deriva e pode afundar. Espago que alicerya o processo da disciplina intelectual. Disciplina intelectual que organiza o espago extemo e interno, no sentido de que nao da p'ra se reunir em qualquer lugar sobre qualquer coisa. Organiza o tempo, as atividades. Organiza, elucida, acalma, os sentimentos que sao ingredientes do processo de conhecer: frustaio, mal estar, raiva, dor e prazer. Espago que alicerga o processo da construgo da disciplina intelectual, porque o estudo da pratica pedagogica e tedrica, necessita ser coordenade. Espago que alicerga a construgao do rigor cientifico, para fazer viver © ato apaixonado de ensinar, aprender, educar, nosso desejos, nossos sonhos de vida. (Palestra de MADALENA FREIRE aos professores municipais de Porto Alegre (RS sem Maio de 1932.)

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