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Daniel Cruz Cordeiro Alessandra Dieht PONTOS-CHAVE INALANTES E OUTRAS DROGAS DE ABUSO ¥/_0us0 de inalantes ocoree predomi de dilerentes clases socials, vantemente entre criangas om situago de rue e jovens YH, popper ectamina tam sido drogas gadas com fequinci «quested atividade sexual ¥ Reateina pode eausar dependénca incliindo importante sntomatologia de sndrome de atin. YO sbuso de lantes pode ser sn 1dor da exist&neie de um transtorno da alimentagio, Neste capitulo, os autores se propdem a reunir dois grupos de substdincias bastante heterogénease distntas: 0s inalantes e as chamadas outras drogas de abuso. A razéo para essa escolha reside em dois fatos. O primei ro é que, apesar de existir uma grande necessidade de extensio de pesquisas relacionadas ao tratamento do uso, do abuso ¢ da dependéncia de inalantes, a litera tura cientifca no contempla estudos examinando os efeitos de potenciais medicagées eficazes no tratamento dessa condigio.1 Nao se observam, também, estratégias bem-sucedidas de modelos de tratamento psicossociais dirigidos para esse piblico em espeetfico, o que tornaria um capitulo sobre a tematica bastante enxuto.!# (0 segundo fato & que existe uma série de substin- cias ou compostos que fazem parte do cendrio de muitos adolescentes e adultos jovens do mundo contempor neo, mas que néo foram includas em outros capitulos, uer por néo possuirem uma classificagio precisa como substincia psicoativa, quer pela “novidade” ou pelo ineditismo no mundo das drogas de abuso, carecendo ainda da ampliacao de evidéncias cientificas, o que tam bbém tomaria outro capitulo demasiadamente curto. Percebe-se que a tendéncia atual entre algumas “tribos” é a recuperagao de antigas substncias esqueci- das ou em desuso, que tém invadido o cendrio moderno com uma “nova roupagem” e ganhado novos adeptos, os quais vem recebendo crescente interesse e preocupa: ‘gio tanto por parte de profissionais, pais e educadores quanto da midia em geral. As drogas que antes perten- ‘iam aos traficantes se tornaram as chamadas “drogas modemnas’, comercializadas livremente, ora em far- ‘icias, secshops e supermercados, ora em pequenas fabricas caseiras e clandestinas.> © crescimento dessas substincias € tao répido quanto alarmante. A literatura cientifica a respeito de efeitos agudos, crdnicos e epicemiol6gicos, abordagens farmacoldgicas e psicossocais dessas substincias nao parece conseguir acompanhar tal demanda.> INALANTES se termo refere-se a uma ampla variedade de substincias com diferencas em suas estruturas quimicas, as quais possuem a capacidade de evaporar com faci lidade e produzirrapidamente sensacées agradéveis ¢ excitatdrias,tais como euforiae desinibicio, e, om iso, ‘dar impresséo de melhorar o desempenho sexual.'* ‘Além disso, por ndo serem em sua maioria con- sideradas substincias ilegnis, acabam sendo de fécil acesso, so de baixo custo e de fécil armazenamento pelo usuério (p. ex., acetona ou lata de cola no pro- duzem conflitos domésticos quando encontradas dentro de casa, simplesmente por nio serem percebidas como potenciais drogas de abuso). Todos esses fatores in- fluenciam o maior consumo entre os jovens, por niio necesstarem de maior sofisticagio para sua aquisiglo.° Joseph Priestley, quimico inglés, identificou 0 cdo 4a 8 mg/dia) e quetiapina (Seroque!®, 300 a 900 :mg/dia) estaria relacionada & possiblidade de redu- fo do uso de inalantes pelo bloqueio do circuito de recompensa dopaminérgico mesocortical estimulado pelos inalantes.' + Anticonvulsivantes: medicamentos como valproato (Depakene®, 750 a 1800 mg/dia), opiramato (Topa- max®, 200 a 600 mg/dia), gabapentina (Neurontin®, 900 a 1800 mg/dlia),vigabatrina (Sabril®, 2 g/dia) e tiagabina (Gabitril®, 12 a 24 mg/dia) estariam indi- cados para tratar a sindrome de abstinéncia, porque antagonizam os efeitos reforgadores dos inalantes pela inibigao da liberago de dopamina mesocorticolimbica ppor meio da facilitagdo da atividade GABA." + Acamprosato (Campral®, 999 a 1.988 mg/dia): a indicagdo esté relacionada & capacidade de prevenir a neurotoxicidade associada 20 uso dos inalantes.1 + Antagonistas 5-H: em razdo de os receptores SHT3A poderem estar envolvidos nos efeitos reforcadores dos inalantes, é posstvel que essa medicacao antagonize esse complexo receptor. Dois s20 0s medicamentos com esse perfil: ondansetrona (Zofran®, 4 mg/dia) ¢ mirtazapina (Remeron®, 30 a 45 mg/dia).! Apesar de os inalantes serem a quarta classe de drogas de abuso entre os brasileiros, os mimeros, en- tretanto, nao parecem estar associados a estratégias terapéuticas ou modelos dle tratamento psicossociais de Ambito nacional dirigidos para esse piblico. Portanto, ainda existe uma grande lacuna nessa érea, que necessi- ta ser preenchida com politicas especificas."” Cloreto de metileno (B 25) © cloreto de metileno é da familia dos hidrocar- bonetos halogenados. # um liquido limpido, com odor caracteristico, que produz vapor initante, muito utilizae do como agente de processo ¢ solvente para produc de vernizes especiaise lacas. £ solvente e propulsor em aerosol ¢ usado na indiistria plistica. O produto pode levar a mort, se inalado em grandes quantidades, e a ‘exposigdo prolongada ou repetida pode causarirritagio da pele, até mesmo queimaduras. © contato repetido Pode ocasionar ressecamento ou descamacio da pele © contato com os olhos gerairritagio moderada e leve lesio da eémea? OUTRAS DROGAS Cetamina © hidroclodridrato de cetamina é um antagonis- ta do receptor N-metil-D-aspartato (NMDA), que, em doses altas, pode se ligar a dois tipos de receptores Depencléncia quimica 233) opioids (1, 0). A droga foi desenvolvida na década de 1960 com finalidades anestésieas; contudo, os primeiros relatos do uso da substincia no periodo pés-anestésico foi de aparecimento de efeitos colaterais graves, como alucinagdes e sonhos vividos, o que acabou limitando seu uso clinico, sendo hoje mais utilizada como anesté sico veterindrio."* Existem, no entanto, algumas pesquisas que tém avaliado 0 uso dessa droga para outras finalidades terapéuticas,tais como na depressio refratéria, no tra- tamento coadjuvante da dor grave e em dependentes de heroina, sem grandes promessas de efetividade."2? © uso recteativo da cetamina vem sendo documen- tado desde 0 inicio dos anos 1970, Sua popularidade aumentou principaimente entre os adolescentes (16 a 24 anos), sobretudo envolvidos em eventos de grandes festas de misica eletrdnica, nas quais € mais eonhecida pelas girias K ou Special K.!823 Porém, da década de 1970 até os dias atuais, observa-se que o uso da droga tem crescido vertigino- samente, preocupando autoridades e pesquisadores de vvdrias partes do mundo. A prevaléncia anual de uso de cetamina, em 2008, entre estudantes de oitava, décima fe décima segunda séries de escolas norte-americanas foram, nessa ordem, 1,2, 1,0 e 1,5%.4 Na Itdlia, em amostras de conveniéncia de n = 2.015 jovens, 0 uso de ‘cetamina esteve presente em 7% da amostra.®> Nos Estados Unidos, no Canadé, no Japfio ¢ no Reino Unido, a cetamina é considerada uma droga nar cética."* No Brasil, ainda néo existem dados oficiais sobre os padrées de consumo da substncia, mas 0 me- icamento é de fécil aquisiglo, sendo vendido em casas dde material agropecusrio com os nomes comerciais de Dopalen® ou Cetamim® mediante apresentacao de re- ceita preserita por veterindrio. A droga ¢ obtida na forma de p6 e administrada por via aspirada. Outras formas ineluem a forma liquida solivel, uilizada via injetavel, ou oral, na forma de ta- bletes.?° 0 uso da cetamina predomina entre usuarios de iiltiplas substineias, motivados sobretudo pelo desejo de experimentar novas sensagées prazerosas, de relaxa ‘mento, de busca de sensagées hedonisticas, de “sar fora do corpo”, pela busea de efeitos oniricos e psicodélicos, risos imotivados, aumento da intensidade da perda do controle ou de sentirse high. A “viagem” com a cetami- na é descrita como curta, mas extremamente intensa Apesar de estar relacionada ao aumento da excitacio sexual ¢ & diminuigio de inibi¢fo, hé relatos de retardo jaculatério apés 0 uso. Pode também ser utilizada com a finalidade de relaxar os misculos do anus, diminuin- do a dor durante a penetracio anal. A diminuigao da inibigGo, associada a sexo desprotegido, aumenta os ts cos de exposigio a infeegdes sexualmente transmissiveis STS) e hepatites.* Entre os efeitos agudos da cetamina, observam-se indugdo de distorgao de tempo e espaco, altcinagbes ¢ cole 234 dieh\, Cordeiro, Laranjal efeitos dissociativos leves. Em doses acima de 150 mg, pode induzir dissociagdes mais graves, com experi- Encias de sensagées de distanciamento da realidade e ‘outras pereepedes alteradas, similares ao que ocorre ha esquizofrenia, com risco de producdo de sintomato- logia psieética, A droga também tem sido associada a episédios de suicidio, principalmente se em combina. «io com alcool. Além disso, os usuirios estio sob riscos de traumas, acidentes e até mesmo morte advinda da dissociagio e dos feitos anestésicos induzidos por ela. Entre os efeitos menos desejéveis na intoxicacio aguda esto as néuseas ¢ os vomitos."" Um estudo chinés que avaliou 233 apresentagées de uso e abuso de cetamina registradas em servigos de emergéncia de Hong Kong, entre 2005 a 2008, obser vou que os sintomas mais comuns foram alteracao do nivel de consciéncia (45%), dor abdominal (21%), sin tomas do trato urindrio (12%), rontura (1296), pressio arterial alta (409%), taquicardia (39%), sensibilidade abdominal (18%) e presenga de pé branco nas narinas, (2796) Uma pesquisa que avaliou 150 usuérios de ce- tamina, com diferentes padrées de consumo, mostrou que os danos cognitivos, em especial de meméria, tém mais associados a abusadores crénicos da substan- cia, enquanto sintomas depressivos aparecem tanto nos usudtios frequentes quanto naqueles que j estavam abstinentes ha mais de 3 meses." Entre os anos & sat de fisica, foram descritas principalmente alteragBes do trato gastrintestinal alto, como dor epigéstrica, gastrite gastroduodenite.?* ‘Accetamina é uma droga que causa dependéncia, sendo observados efeitos de tolerdncia, abstinéncia, per- sisténcia do uso apesar dos prejuizos causados e relatos de craving.!*2% GHB © GHB (écido y-hidroxibutirato) é um sedative anestésico que, na década de 1980, foi muito abusado por fisiculturistas com 0 objetivo de aumentar massa muscular. Na década de 1990, ganhou novos adeptos, sobretudo entre o piiblico jover frequentadar de boates com miisica eletrénica e 6 publico gay, como mais uma entre tantas outras club drugs por suas caracteristicas afrodisiacas e de aumento da libido222° De acordo com o European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction (EMCDDA), 0 consumo de GHB nio é tio difundido quanto o de outras drogasile- gais. No entanto, dependendo do estudo e do grupo-alvo pesquisado, a prevaléncia de uso ao longo da vida tem variado de 3 a 19%.) Na origem, o GHB foi desenvol- vvido para uso hospitalar. Porém, devido a sua razio de seguranca ser relativamente baixa e a margem de dose terapéutica muito estreita, seu uso foi desaprovado pela Food and Drug Administration (FDA) em 190." © GHB ¢ um lquido inodoro, levemente salgado, podendo ser disponibilizado em cApsulas, em pé ou em garrafas pequenas. Sua apresentacio mais comum é na’ forma de sal, sendo diluido em gua. Seus efeitos come. «am, em média, 20 minutos ap6s a ingestao oral. Por essas caracteristicas, a droga tem sido também chamada de ees tasy liquido, e, como parte das rape drugs, 6 considerada\ uma droga do estupro que, por ser facilmente colocada| em bebidas, é utilizada para atos riminosos.2® ‘A midia tem colocado essa droga em foco nos il mos anos, ligando-aaassaltos sexuais, mas pesquisadores| tém chamado atengdo para além da questio do estupro, por ser uma droga com potencial de causar dependéncia’ e sintomas de abstinéncia, os quais so extremamente: perigosos e ainda pouco ‘conhecidos da maioria dos clinicos. Entte os sintomas da retirada abrupta esto deseritos quadros fulminantes de delirium. 2 © GHB é um derivado endégeno do neuro- transmissor GABA, podendo atravessar a barreira hematencefilica; tem meia-vida curta (20 a.40 minutos) «€ metabolismo rapido. Seus efeitos duram menos de 4 horas, com méxima concentraco plasmitica em torno de 25 a 45 minutos.*! Em baixas doses (0,5 a 1,5 g), causa desinibicao, sociablidade e sensacio de embria- ‘guez. Em doses maiores (1,5 a 2,5 g), os efeitos mais comuns sfo: sedagao, tonturas, pouea coordenagao mo- tora, néuseas, vomitos, euforiae rebaixamento do nivel de consciéncia, com confusio mental e fala incoerente, posiendo ocorrer incontinéncia fecal e amnésia." A éro- ‘ga mais utilizada em casos de violencia sexual ainda & © dleool (cerca de 40 a 60%) e, em combinacio com o GHB, pode ser fatal por levar a grave depressio respira- t6ria e coma, Somente o tratamento de suporte pode ser oferecido, por nao haver antidoto.*931* © tratamento da intoxicagio por GHB baseia-se prineipalmente no acompanhamento e nos euidados in- ‘ensives para estabizagio das fung6es vitais. Dependendo do quadro clinico, se houver prejuizo dos reflexos neu- rolégicos, da frequéncia respiratéria e do controle dos gases sanguineos, tanto a intubagdo traqueal quanto a ventilagio meciinica devem ser avaliadas, estando a equipe da emergéncia preparada para essa possivel situagio. Deve-se dar atengio especial 4 tendéncia de vvomitos, mesmo em pacientes com grave rebaixamento do nfvel de consciéncia e, portanto, para orisco aumen- tado de aspiragao. A arritmia cardiaca sintomtica deve ser inicialmente tratada com atropina. Se o paciente no responder, a indicagio para terapia de marca-passo provisbrio pode estar indicada. Em pacientes com crises convulsivas, o tratamento com benzodiazepinicos é re comendado. Administrar carvio ativado nesse momento de intoxicagao ndo é mais benéfico, devido a reabsorcao rapida e metabolizacao, mas isso pode ser discutido no contexto de uma indieagio mista. Tanto o flumazenil quanto a naloxona so igualmente ineficazes como anti doto para esse tipo de intoxicagio.®* Cloridrato de benzidamina 0 cloridrato de benzidamina (Benflogin®) € um antiinflamatério no esteroidal indicado sobretudo para tratamento de afecgGes da orofaringe ¢ periodon- fais, no pds-cirirgico ortopédico ou como coadjuvante para tratar dores musculares e reuméticas, sendo que fi dose maxima diria recomendada é de 200 mg/dia. jestdo de doses acima de 500 mg pode levar a0 surgimento de alucinagées visuals." Tal efeito € que tem motivado muitos adolescentes, principalmente de classe média, a procurar a substincia como uma espéci de “esquenta’ antes de sair para a “balada”. A met cagio costuma ser utilizada com bebidas alcodlicas ou refrigerantes. Portanto, os atrativos esto em seu efeito psicoativo.*"° (0 uso recreacional do cloridrato de benzidamina também jé foi descrto entre eriancas e adolescentes em situagdo de rua no Brasil por Opaleye e colaboradores;* que analisaram 93 instituigdes assistenciais para crian- ase adolescentes nas 27 capitais do Brasil, Participaram 2.807 criangas e adolescentes em situagao de rua, com fdades entre 10 ¢ 18 anos. Os resultados mostraram que cerca de 2,7% deles jd fizeram uso recreativo do rmedicamento. ‘Na superdosagem, hd o aumento da produgio e da liberagio de dopamina cerebral, acelerando a atividade no sistema limbico. As experiéncias vivenciadas sofrem deformagées, causando alteracio da percepcio da re- alidade ¢ consequentemente alucinagdes visuais. Entre 08 efeitos alucindgenos descritos, os principais sto raios e luzes coloridas e a percepcio de ver tudo em “céme- 1a lenta”, Quando ocorre a deplegao da dopamina, os sintomas advindos sao de eansaco, sonoléneia,iritacao, tonturas, epigastralgia e falta de apetite.°** ‘TABELA 21.1 Dopendéncia quimica 235 No period de 2002 a 2005, foram registrados 105 casos de intoxieagdes por cloridrato de benzidamina, em 3 dos 7 centros de toxicologia que responderam consulta restrita realizada por Mota e colaboradores,>* como mostra a Tabola 21.1. E provavel que haja sub-re- sistro desses casos. © abuso e o uso exdnico da substancia podem cau- sar gastrite dlcera, sangramento intestinal, diminuigéo da funcio renal e convulsées.” A revisio de Mota e cola- boradores* no encontrou estudos de natureza analitica {que apresentem resultados sobre a prevaléneia do con- sumo abusivo do cloridrato de benzidamina no Brasil eno mundo. Entretanto, os autores identificaram uma abordagem qualitativa na literatura cientifica, na inte net, na imprensa e por meio do relato de farmacéuticos ‘que evidencia o uso no terapéutico do medicamento, sobretudo entre jovens.** Infelizmente, nio existe um controle adequado para venda desse medicamento, pois muitas farmécias no exigem receita médica. Trata-se de uma droga lici- ta, de fécil obtengo em farmécias e drogarias, o prego 6 relativamente menor comparado as drogasillcitas, 0 que faciita 0 consumo indevido."® Cha de fita © chamado “cha de fit”, ou “cha da morte”, no parece ser uma invencio modema, pois hd relatos info mais de que jé tinha sido uma “ideta criativa” de hippies na década de 1960. Contudo, tem tido seu ressurgimen- to como outra novidade do momento no mundo das drogas que tem atraido a atengao da midia e de jovens. [Nesse caso, os produtos usados so materia co- ‘uns, facilmente encontrados em qualquer domicilio, A Namero de casos de intoxicagée por cloridrato de benzidamina registrados or Centros de Toxicologia do pais no period de 2002 a 2005 eee! + Esatistca no eontldads;*rafronte a 3m Mota a colaboradoves referent a meses; ***reerete até la 9 de 236 Diehl, Cordero, Laranjota & cols. literatura cientifica sobre 0 tema é ainda escassa, porém encontram-se virias salas de bate-papo e foruns virtu- ais em que os adolescentes trocam receitas de drogas {6 experimentadas, falam sobre suas experiéncias com clas ¢ anunciam quais as préximas da lista a serem vivenciadas, Entre as descrigdes de preparo, esta mencionado © uso de metais pesados extraidos de pilhas, baterias velhas de celulares, baterias comuns, fitas-cassete ou de video, que sio fervidas, e muitas vezes cozidas em panelas de pressio, até que liberem uma alta quant dade de dcidos e metais pesados. Essa dgua ¢ entio misturada com refrigerantes ¢ estimulantes & base de guarand, para melhorar seu sabor, e ingerida. O resul- tado é uma droga que contém componentes altamente t6xicos. © chumbo (Pb) é t6xico para humanos, No caso de intoxicagao por chumbo, pode causar a principio falta de apetite, gosto metélico na boca, desconforto muscular, mal-estar, cefaleia e célicas abdominais® A intoxicagao por manganés é responsével por anorexia, fraqueza, apatia, insOnia e outras alteragbes do sono, cexcitabilidade mental, comportamento alterado, dores, musculares, quadro neurolégico (tremores_simulan- do doenga de Parkinson) e transtornos psicolégicos: a “loucura mangénica”, caracterizada por comportamento violento associado a perfodos de mania e depressio.’ 0 ‘merctirio (Hg) também é t6xico para humanos e animais. A exposicio cronica a essa substincia causa sintomas gastrintestinais (dor abdominal, gosto metalico na boca, salivagao excessiva, nduseas, célicas intestinais, gengi- vite), sintomas neurolégicos (prejuizo da meméria, cefaleia, formigamentos, ins6nia, tremores, sonoléncia, alteragio da grafia, edibras, gritos noturnas, alteragio do equilibrio, tontura, vertigem e dificuldade escolar), alteragdes emocionais (nervosismo, irrtabilidade, tr teza, diminuigio da atencio, depressio, agressividade, inseguranga e medo) e irritagdo nos olhos, fraqueza ‘muscular, espasmos musculares, visio borrada, zum- bido, irritagdo nasal e redugo da acuidade visual ¢ auditivas Cépsula do vento ‘A “cépsula do vento”, também conhecida por “cdp. sula do medo”, ganhou esses nomes por ter aparéncia| transparente e ser composta por apenas uma pequena (quantidade de um pé branco contendo cerca de 1 a 1,5 mg da substdncia, A droga tem invadido 0 mundo dos Jovens de classe média, sobretudo em festas eletrOnicas. Na verdade, trata-se de uma anfetamina, identificada como DOB (2,5-dimetoxi-4-bromoanfetamina). Das drogas sintéticas, a cépsuln do vento parece ser uma ddas mais perigosas, por ser extremamente potente. A faixa entre a quantidade de uso (0,75 a 1,75 mg) ¢ 0 nivel téxico (3,5 mg) é muito estreita. A meia-vida pode ser superior a 12 horas e provoca efeitos alucinatérios intensos.? Cafeina Accafeina é a substincia psicoativa mais utilizada no mundo, estando presente no café, nos refrigeran: tes, nos chocolates e nos chs. Pertence a classe dos estimulantes do sistema nervoso central (SNC), com propriedade de aumentar a atividade tanto no SNC ‘quanto no sistema nervoso auton6mico (SNA).* Nos tiltimos anos, a utilizagéo das chamadas bidas energéticas (contendo cafeina e taurina, outra substincia estimulante) vem tendo grande aceitacéo, principalmente entre 0 ptblico jovem. E, apesar de 0 rétulo dessas bebidas advertir a0 consumidor que elas nao devem ser utilizadas com alcool, tal pratica € obser: vada com frequéncia, em especial com ufsque e vodka, ‘no intuito de aumentar os efeitos excitatdrios do Alcool diminuir seus efeitos depressores do sistema nervo- so central. Ferreira e Mello relataram um interessante dado, segundo 0 qual o consumo de bebidas destiladas cresceu entre pessoas que antes no bebiam, devido & melhora do sabor destas quando misturadas as bebidas cenergéticas.® Apesar de 0 uso dos energéticos ser libe- rado no Brasil, paises como Dinamarca e Canada ainda no aprovaram alguns deles, por sua alta concentracao de cafeina, Actedita-se que acidentes e mortes possam ocorrer pelo fato de essas bebidas promoverem diminui- co da sensagao de intoxicagao alcoslica.!! ‘A cafeina atua no sistema nervoso central bloque- ando os receptores de adenosina, diminuindo, assim, a agao sedativa desta, Ela também age ativando virios ‘outros neurotransmissores, em especial a dopamina. O| resultado dessa ago ¢ a reductio da sensaciio de fadiga, ‘cansago e sonoléncia."' Possui ainda aco vasodilata- dora e diurética. Tal agdo é amplamente utilizada pela indiistria farmacéutica na formulacao de medicamentos, de forma mais especifica para 0 combate de enxaqueca ecefaleia.!! Entre os efeitos mais observados no consumo agu- do da cafeina estao: leve elevaciio do humor, redugio da sonoléncia, tensio e inquietude.* A intoxicagao produz ansiedade, insénia, nervosismo, tremores, agitacéo psi- ‘comotora, taquicardia e alteragées gastrintestinais, Em doses mais altas, pode gerar batimentos cardfacos irre- gulares (extrassistoles) e morte. Em muitos casos, essas intoxicages podem ser confundidas com transtornos de ansiedade ou do humor" Bebidas energéticas também podem causar quadros de intoxicagao, 08 quais vém sendo constante- mente relatados nos Estados Unidos nos iiltimos anos. n- 0 sintomas descritos com mais frequéncia so hiper- tensio, vomitos, taquicardia, nervosismo, agitacio, tremores, tonturas, dor tordciea e dorméncia bilateral. Parece haver uma associacao entre essas bebidas € casos de convulsio, quadros de mania aguda e acidente vas cular cerebral entre os consumidores. Mortes por esse consumo jé foram descritas na Suécia, na Austrilia ena tlanda.”” (0 uso cronico em doses baixas niio parece estar relacionado a danos/prejuizos. No entanto, doses mais altas, ingeridas cronicamente, podem provocar dis- tirbios gastrintestinais, alteragao do padro de sono, ‘aumentos e itregularidade dos batimentos cardiacos, ‘entre outtos efeitos.* ‘A sindrome de abstinéncia de cafeina vem sendo descrita na literatura hé mais de um século, Surge apés 12 a 24 horas da cessacao do consumo. A cefaleia é 0 sintoma mais descrito e, em cerca de 50 % dos casos, é referida como de grave intensidade, Os sintomas pre- sentes incluem humor disférico, aumento da sensagiio de fadiga, dificuldade de concentracdo, diminuigéo do CONSIDERAGOES FINAIS As substdncias descritas neste capitulo apresentam caracteristicas singulares em suas composigdes quimicas e efeitos, porém muitas compartilham a facilidade de acesso e a possibilidade de abuso mesmo de forma néo intencional. Provavelmente, por serem consideradas drogas banais diante de tantas outras com maior impac- to sobre a sociedade, acabem no recebendo a atencio devida, 0 que é féeil de perceber pela escassez de estu- dos envolvendo programas de tratamento e prevengio. REFERENCIAS 00. n. 12, 13. 14 1s, Hemandez-AvilaC, ierucl-Lagha A. Inhalants, In: Kranler FR, Giaulo DA Clinial manus of addetion psychopharma cology. Washington: Ameriean Poychistrie; 2005. p. 269-214. ‘Medina-Mora ME, Real. Epidemiology ofihalane use. 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