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Democracia, cidadania e direitos humanos © dentificar a relagio entre democracia, cidadaniae direitos humanos nas sociedades contempordneas. Analisarde que maneiraas mudangas na concepcio de cidadania sa0_ fundamentals, para lutapela institucionalizagio dos, direitos humanos, + compreenderqueos drekos decldadania sao conquistas A historeamente 2parldpago polica \ €inaspensivel paraa amplagio desserts — Ruas de Curitiba tomadas por manifestantes em protesto contra os _gastos desmedidos para a realizagdo da Copa das Confederagbes e da Copa do Mundo (PR, 2013) Bez @ Primeiras palavras Em junho de 2013, manifestagdes populares em todo o Brasil reuniram milhées de pessoas nas ruas de muitas cidades. No Rio de Janeiro, cerca de 100 mil pessoas se jun- taram, aprincipio, para protestar contra o aumento das passagens dos énibus municipais; depois, outras reivindicagbes foram acrescentadas, principalmente no campo da salide € daeducagio. Assim, a populagdo entendeu que era o momento de manifestarindignagio. diante da negligéncia do Estado na gestio dos interesses puiblicos. A indignago popular cresceu com a percepgio de que, em varias capitais, tinha havido abuso na ago policial, que reprimira os cidad3os com gas lacrimogéneo, Nas sociedades contempordneas, a palavra democracia é comumente utilizada para designar uma estrutura de organizago da sociedade na qual a populacSo participa de diversas maneiras das esferas de poder social. Neste capitulo, estudaremos as diferencas conceituaise ideoldgicasrelacionadas & democracia, suas diversas configuracdes histricas (democracia direta, representativa e participativa) e os principais pensadores das teorias democréticas modernas e contemporaneas, Na concepsao usual de democracia, hé urn vinculo estreito entre estae os conceitos de Cidadania e direitos hurmanos, Mas nem sempre foi assim: estudaremos a ardua trajetéria de lutas e conquistas pelos direitos de cidadania (civis, politicos e sociais) e 0 que significa ser Cidado hoje. Refletiremos também sobre o surgimento do conceito de direitos humanose sobre como a luta pela afirmac3o desses direitos se estabelece, pois a simples declaracSo. de um direito nao faz com que ele seja implementado na pratica, o que ¢ exemplificado pelas lutas de diversos grupos sociais No Brasil, a construgSo de uma sociedade democratica foi marcada por percalcos no passado e ainda o &no presente. Se no passado vivernos momentos em que a participacao. popular foi suprimida por diferentes governos autoritérios, no presente essa participacao. continua limitada pela repressao estatal e pelanegasao dos direitos basicos de cidadania € dos direitos humanos, principalmente aos jovens pobres da cidade e do campo. Discutir democracia, cidadania e direitos hunanos é compreender como nosso coti- diano esté relacionado 8 nossa participaco efetiva na construgao da sociedade. ‘Ao contestarem o aumento das tarifas de Gnibus, milhdes de pessoas protestaram em todo o pais. A luta inicial pela reduco das tarifas e pelo passe livre levou a outras demandas sociais, como o fim da violencia policial, a democratizacao das decisées de gastos publicos e a universalizacdo dos direitos de cidadania. F Cronotogia Promuigagao da Consalidacae das Anevolucio Lol do Trabalho Francesa propica (cu. que Declaragsode a Dedlragio Promulgagso requlamentou as Dedarasso Diets (ai os Diretos do daprimeia relagbes individuals Universal of Rights) na Homemedo Consttuigsodo ecolethasde os Drees Inlatera Giaadio. Bras trabathono Bra, Hurmanas. Revolugso Gloriosa na Inglaterra tinfo do beraismo 172 Promulgagao da Promulgagso ‘Abolks0.d0 Chaco da CConstuiqdodos Estados | daConstituigio screvidiono Organizacio Unidesda Américe:ot francesa, Brasil das Nacées ‘ez primetios artigos Unidas ONL, ‘stabelacem os deltas bisiens doce, CO conceito de democracia como “poder do povo" surgiu na Grécia antiga, aproxima- damente no século Va.C. O termo demokratia é composto dos vocabulos demos, "povo”, ekratos, “poder”. A democracia &, assim, um regime politico que pressupdea existénciade lum governo direto ou indireto da populac3o mediante eleicdes regulares para os cargos administrativos do pais, do estado ou do municipio. Noentanto, 0 exato significado de “poder do povo" depende do periodo histéricoeda sociedade que se tem como referéncia, assim como de diferencas conceituais eideoldgicas. Por exemplo, ao longo da histéria, o atributo de cidadao jé foi exclusive de proprietarios de terras, de homens brancos, de homens letrados, de homens e mulheres adultos etc. Eminossos dias, exister diferentes concepgdes de dermocracia presentes na sociedade. Ha 1s que defendem a ideia de democracia como algo que diz respeito apenas a esfera politica (votar eservotado, por exemplo). Outrasa aplicam também aareas da vida econdmica (como participarna definigéo do orcamento piblico de certalocalidade), social (decidirsobre leis que tratem da vida privada, comio questées ligadas & sexualidade ou & reprodugdo, como ocorre em relacio ao aborto), cultural (opinar sobre que aparatos de cultura, como teatros e cine- mas, e de lazer, por exemplo, parquese pracas, serao instalados, em que quantidade e onde). Centenas de indigenas cocupam 0 Congresso Nacional para protestar contra a aprovacao da Proposta de Emenda & Constituigao (PEC) 215, que da ao Congresso "Nacional poderes para demarcarterrasindigenas. Brasilia (DF, 2013), WU ipvicative L__ © Helping Hand HELPING HAND Fornece orientagdo 20s imigrantes sobre enti- dades de seu interesse, comonomes, enderecos € contatos de agencias intemacionais,assisténcia juriica, centros de apoio, Comunidades esociedades, tempos rigiosos, xgaos govomamentais, consula dos © embaadas governa- rmentais et, faciitando 0 cexercicio da cidadania por cesses individuos, Ha ou- {10s apliativos com nome semelhante, Encontre-o no endereco ‘Acesso em: abr 2016, Convencio Internacional Langado o sobrea Promulgade a 3° Programa Elimnagio de Consttuigso Atan?9455 | Nacional Todas Formas | brasileira define os de Dieitos deDisciminacio | atualmente em crimesde Humans Rack vigor tortura (NDA. Convenciopara | Convengiosotxe | Convencio onvencio Mobileagdes socials aconteceram por ‘doo pas Conecsscomo Jenodes quem escreveu sobre isso \ Benjamin Constant Henri-Benjamin Constant de Rebeque (1767-1830) foi um pen- sador, escritor e politico suico. Vivenciou a Revolucao Francesa, © govemo de Napoletio Bonaparte e a restauragio da monarquia. Entre 1814 e 1830, foi membro da Assembleia Nacional Francesa. Alexis de Tocqueville Alexis Henri Charles Clérel, 0 visconde de Tocqueville, foi um pensador politico, historiador e escritor francés que viveu tre 1805 e 1859. Apés estudar Direito, ingressou na magis- tratura em 1827. Em 1831, foi enviado pelo governo francés para os Estados Unidos, onde conheceu a economia ¢ o sis- ‘tema politico daquele pais, escrevendo o livro que se torna~ ria classico: Da democracia na América (publicado em 1832). 2 3 2 Alexis de Tocqueville defendia a democracia representativa do ‘modo como era praticada nos Estados Unidos. Quem escreveu sobre isso \ Wise 1L__ John Stuart Mill John Stuart Mil foi um filbsofo e economista inglés {que viveu entre 1806 e 1873. O principal objetivo de sua filosfia consistiu em renovar a égica, consider da perfeita e acabada desde Aristteles. Em 1865, fi cleito para a Camara dos Comuns, onde utou ardoro- samente pelo sufrgio feminino e pelo reconhecimen- to da igualdade das mulheres na vida piblica Liberal Laisa easteee ke cere eile terre erate Comoquiser desde que suasacées _cledade de seu tempo, de modo que o bem individual io preudiquemoutespessoas. _coincdisse com o bem coletivo, mas sem choques Em sintese, todo 0 processo de democratizacao, como se deu nos Estados liberais de- mocraticos, consiste numa transformacao mais quantitativa do que qualitativa do regime representativo. Ou seja, o avango da democracia nessesregimes ocorre em duas direcdes: no alargamento gradual do direito do voto ena multiplicacso dos 6rg8os representatives. Paraa doutrina socialista, o sufrégio universal & apenas 0 ponto inicial do processo de democratizacao do Estado, enquanto para o liberalismo é 0 ponto de chegada. Alguns dos principais teéricos do socialismo, como Antonio Gramsci e Rosa Luxemburgo, afirmam que Cc aprofundamento do processo de democratizacao na perspectiva das doutrinas socialistas ocorre de dois modos: por meio da critica a democracia representativa (e da retomada de alguns temas da democracia direta) e pela ampliago da participagao popular e do controle do poder por meio dos chamados “conselhos operdrios”, Em outras palavras, a diferenca crucial entre a democracia dos conselhos e a demo- cracia parlamentar & que a primeira reconhece ter havido ur deslocamento dos centros de poder dos orgios tradicionais do Estado para a grande empresa, na sociedade capita- lista, Por isso, o controle que o cidadao pode exercer por meio dos canais tradicionais da democracia politica no ¢ suficiente para impedir os abusos de poder. Logo, o controle deve acontecer nos préprios lugares da producio, seu protagonista é o trabalhador real, nao 0 cidadao abstrato da democracia formal. Quem escreveu sobre isso \ Rosa Luxemburgo Filésofa e economista polonesa, Rosa Luxemburgo viveu en- tre 1871 € 1919. Estudou na Universidade de Ciéncias Aplicadas, em Zurique, na Suica, Em 1898, obteve 0 doutorado com a tese intitulada "“O desenvolvimento industrial da Polénia”. No mesmo ano, mudou-se para Berlim e comecou a militar, 1no Partido Social-Democrata da Alemanha. Em 1974, com Karl Liebknecht, fundou a Liga Espartaquista. Em 1918, foi uma das fundadoras do Partido Comunista Alemao, PUA es arr terre ml Proprios lugares da producao e seu agente ¢ 0 trabalhador. © www.mndhorg br ‘Acesso em: ev. 2016. Site do Movimento Na ional dos Direitos Hu: ‘manos, fundado em 1982 ce composto de diferentes centidades de promogao & luta pelos direitos huma- os no Bras Espartaquista Movimento revolucionario de esquerda, organizado ra Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Faz alusao a Espartaco, lider da maiorrebeli8o escrava da Roma antiga. Pretendia incitar a revoluc3o sodalistana Alemanha por meio da distribuigao de panfletos. 181@ site armazemmemoria. com br ‘Acesso em: fev. 2016, ‘© movimento Armazém da Meméria se dedica & Cconstrugdo de um acervo dde materais digitais que esgatam a memoria his ‘orca do Brasil, com ent {que em direitos humanos. E uma importante fonte de pesquisa para alunose professores, ‘Soberania popular Ea doutrina pela qual o Estado esta sujeito a vontade das pessoas, que soa fonte de todo © poder politico. Esse principio est cconsagrado na Constituigio de 11988, no paragrafo “nico do artigo 1 “Todo poder emana do povo, que 0 cexerce por meio ddos representantes eleitos ou diretamente [.]" a 182 Mais recentemente, na metade do século XX, surgiu a corrente pluralista. Os plu- ralistas, em particular Robert Dahl, cientista politico estadunidense, nao procuravam estabelecer uma definigao abstrata e tedrica acerca da democracia, mas, por meio da observaco de experigncias de sistemas politicos, estipularam alguns requisitos minimos: funcionarios eleitos, eleicdes livres justas e frequentes, liberdade de expressio, fontes de informagao diversificadas, autonomia para associag6es e cidadania inclusiva Com base nesses critérios séo caracterizadas quatro estruturas de governo: hegemo- nias fechadas, que sao regimes em que nao ha disputa de poder e a participacao politica 6 limitada; hegemonias inclusivas, regimes em que nao ha disputa de poder, mas ocorre Participacao politica; oligarquias competitivas, regimes nos quais ha disputas de poder, mas com limitada partidipacdo politica; e poliarquias, regimes em que hd disputas de poder e participacao politica ampliada Joseph Schumpeter (1883-1950), economista austriaco, criticou as teorias clissicas de democracia, especialmente na relagdo estabelecida entre democracia e soberania popular. Para o autor, a definicao cléssica de democracia supe duas ficgdes incapazes de resistir a uma andlise realista: a exist€ncia do bem comum e a universalidade da racionalidade dos individuos. Para Schumpeter, a unidade da vontade geral, que cons- tituiria 0 bem comum, e a racionalidade dos individuos seriam mitos, porque, para ele, esses elementos se tornaram irracionais por nao conseguirem definir coerentemente suas preferéncias diante da influéncia da propaganda e de outros métodos de persuasao. Dessa forrna, Schumpeter rompe com a ideia de democracia como soberania po- pular para propé-la como método, um tipo de arranjo institucional (de governos) para alcancar decisées politicas. Assim, sugere a superacZo do impedimento provocado pela itracionalidade das massas, reduzindo sua participac3o na politica ao ato da produgio. de governos (ato de votar). As atribuigdes politico-administrativas ficariam a cargo das elites eleitas. Essa é uma postura polémica, na medida em que propde uma reducao da participacao popular. Contrério a essa visdo, 0 cientista politico canadense C. B. Macpherson (1911-1987) sustenta que a liberdade e o desenvolvimento individual sé podem ser alcangados ple- namente com a participacSo direta e continua dos cidadios na regulagdo da sociedade edo Estado. Macpherson defende uma transformacao estruturada em um sistema que combine partidos competitivos e organizacBes de democracia direta, que criam uma base real para.a existéncia da democracia participativa. Mas, para que esse modelo pudesse se de- senyolver, seria necessario que os partidos politicos se democratizassem, com principios e procedimentos de democracia direta, complementada e controlada por organizacées zeridas por pessoas comuns, em seus locais de trabalho e nas comunidades locais. Quem escreveu sobre isso \ Robert Dahl Robert Alan Dahl (1915-2014) nasceu em | metodolégica tinha por objetivo descrever lowa, nos Estados Unidos. Cientista poll- a realidade na qual os principios democra- tico e professor emérito da Universidade _ticos sio aplicados, Assim, ele nao preten- de Yale, foi um importante tedrico da de- dia postular como a democracia devera ser, mocracia contempordnea, Sua concep¢ao | mas descrever como ela serealiza na prtica, Para Robert Dahl, defini como a democracia se concretiza no daa dia mais importante do que afirmar como ela deve ser. i 4 Ainda na doutrina liberal, mas opondo-se ao pluralismo, existem os alitistas, que utilizam o termo “elite” como referéncia a grupos sociais superiores de varios tipos. O termo seria empregado no pensamento social e politico somente no final do século XIX. Essas teorias sociolégicas, propostas pelos pensadores Vilfredo Pareto (1848-1923), socidlogo e economista francés Gaetano Mosca (1858-1941), cientista politico italiano, @ Robert Michels (1876-1936), sociélogo alemao radicado na Italia, defendem que em toda sociedade existe apenas uma minoria, que, por diversos motivos, vem a se tornar detentora do poder. Pareto afirmava que existe uma “circulago das elites", ou seja, uma minoria de pessoas que se alternam no poder. Mosca justifica 0 poder das elites governantes pelo fato de serem uma minoria arti- culada e organizada, enquanto os governados seriam uma classe numnerosa, mas dividida e desorganizada. Ao estudar as formacdes partidarias, Michels destacou como a propria estrutura das organizacées favorecia 0 surgimento das elites e sua longa permanéncia no poder. Nas palavras de Michels, essa estabilidade das elites no poder € a “lei de ferro das oligarquias" Como vimos neste tépico, ao longo dos tltimos séculos foram construidas di- versas interpretagdes e teorias acerca clos objetivos e contetidos da democracia, Na pratica, a democracia pode ser um modelo de governo que amplia as capacidades de desenvolvimento social, politico e econémico, com base em principios de igualdade e cidadania, ou se tornar uma simples “regra" para formar governos que nao priorizem necessariamente o atendimento das demandas sociais. Nos proximos tépicos, veremos como a construcao de uma sociedade democratica é resultado das lutas dos grupos excluldos pelos seus direitos. ‘Quem escreveu sobre isso \ C.B. Macpherson cientista politico canadense Crawford Brough Macpherson, conhecido como C. 8, Macpherson, viveuentre 1911 ¢ 1987. £Em_1935, tomou-se professor da Universidade de Toronto, Entre outros livros publicou, em 1962, A teoria politica do individualism possessivo, no qual examinou a funcéo desse tipode individualismo: ele impediriao livre deservolvimen- todas verdadeirashabilidades dos individuos, como 0 poder de racionalidade, de julgariento moral e de contemplacéo. CB Macpherson afirma que a liberdade e 0 .Acesso em fe. 2016 | Uma série de tratados internacionais de direitos humanos e outros instrumentos ado- tados desde 1945 expandiram 0 corpo do direito intemacional sobre os direitos hurnanos. Eles incluem a Convencao para a Prevencao e a Repressao do Crime de Genocidio (1948), a Convengo internacional sobre a Eliminago de Todas as Formas de Discriminac3o Racial (1965), a Convengao sobre a Eliminagao de Todas as Formas de Discriminacao contra as Mulheres (1979), a Convengao sobre os Direitos da Crianga (1989), a Convengao sobre os Direitos das Pessoas com Deficiéncia (2006), entre outras. 3s direitos humanos so valores que visam ao respeito miituo em detrimento dos privilégios restritos a determinados grupos, porisso no devem ser pensados como bene- ficios particulares ou privlégios de grupos elitizados. Como sabemos, a simples declaracso de um direito no faz necessariamente que ele seja implementado na pratica, mas abre lespago para sua reivindicagao. Uma das caracteristicas basicas dos direitos humanos & 0 fato de estabelecerem que a injustica e a desigualdade sao intoleraveis, A prtica de esportes €0 lazer so direitos essanciaisparaa ‘ormagio adequada da juventude, Entretanto, falhas na atuago do Estado nem sempre permitem que os jovens tenham acesso aesses direitos. Naimagem, criancasjogar futebol ‘beira-marna Praia Redonda em capul (cE, 2014) E preciso perceber que os individuos nao so apenas beneficidrios no processo histérico de afirmacao dos direitos humanos, mas também autores responsaveis pela construcao e pela reivindicagSo da expansio e da garantia desses direitos. Todas as conquistas relacio- rnadas aos direitos humanos sio resultado de processos historicos, das mobilizacbes e de demandas da populagio. ‘Assim, as lutas por igualdade e liberdade ampliaram os direitos politicos e abriram espagos de reivindicagao para a criagao dos direitos sociais, dos direitos das chamadas “minorias" - mulheres, idosos, negros, homossexuais, jovens, criancas, indigenas — do direito a seguranca planetaria, simbolizado pelas lutas ecoldgicas e contra as armas nucleares. Ja as lutas populares por participaco politica ampliaram os direitos civis: direito de opor-sea tirania, 8 censura, a tortura; direito de fiscalizar 0 Estado por meio de associagées, sindicatos ou partidos politicos; direito a informacao sobre as decisoes governamentais. A divisdo entre direitos civis, politicos e sociais nao deve nos levar a perder de vista uma caracteristica intrinseca aos direitos humanos: sua indivisibilidade. Isso equivale a dizer que os direitos no podem ser exercidos de maneira parcial. Todas as pessoas devem gozar do conjunto total de direitos e de cada um na sua totalidade. De acordo coma Declaracao e Programa de Aco de Viena, de 1993, todos os direitos humanos sa0 universais, indivisiveis, interdependentes e inter-relacionados. Portanto, devem ser tra- tados de modo global, justo e equitativo. Embora as caracteristicas especificas de local, contexto e cultura precisem ser levadas em consideracdo, é dever do Estado promover € proteger todos os direitos humanos de maneira integral, independentemente de qual seja seu sistema politico, econémico e cultural. Democracia, cidadania e direitos humanos no Brasil O sistema politico brasileiro preenche, formalmente, os requisitos minimos de uma poliarquia, ou seja, um sistema democratico em que o poder ¢ atribuido com base em eleigoes livres e em que hé ampla participacdo politica e concorréncia pelos cargos ele- tivos. Esse sistema implica disputa pelo poder, tolerdncia 8 diversidade de opinides posicao politica No entanto, o que se percebe na sociedade é que essa estrutura formal nao garante a democratizacao dos recursos social mente produzidos, como bens, direitos e servicos basicos proporcionados pelo Estado. Assim, destaca-se que a questo democratica vai além do estabelecimento das regras formais que caracterizam esse tipo de regime. E necessario retomar o contetido social da democracia e ampliar 0s direitos de cidadania para reduzir adistancia entre as esferas formal e eal; afinal, a cidadania plena ¢ condic3o indispensdvel para a concretizacdo dos direitos humanos. Quem escreveu sobre isso \ José Murilo de Carvalho José Murito de Carvalho, cientista politico e historiador bra- sileiro nascido em 1939, produziu trabalhos relevantes na tentativa de compreender a construcao politica e social bra- ileira, como Cidadania no Brasil: 0 longo caminho e Os bes- tializados. Além de atuar como professor em diversas uni- versidades do mundo, é membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Ciéncias. ¢ 3 3 i De acordo com José Mutilo de Carvalho, a construgio do ideal de cidadania no Brasil foi estabelecida de cima para baixo, Brasil, 2014 Direcdo: Pedro Asbes, DuragSo: 87 min, (© documentéri trata de um periodo de historia brasileira em que o regi ime ditatoralinstaurado fem 1964 jé demanstrava expotamento, Ambientads em 1982, aobra mostra como. misica, o futebol ea politica se revelaram ‘uma mistura genial na luta contra a opressao e ‘a censura epela volta da democracia, 167 No Brasil, a distincla entre a demacracia formal ea real é sinificativa. Nesse contexto, milhées de cidadios tém seus, direitos de cidadaria destespeitados. Na imagem, artesanato indigena numa calcada fem Santa Maria (RS, 2010) Livro © EISENBERG, J; POGREBINSCHI, T. Ondeesté a democracia? Belo Horizonte: Edita da UFMG, 2002. Escrito por centistas po: Uticos,o livre apresenta clementos centrais para a compreensio da de. rmocracia e da estrutura politica brasileca, 188 Aestruturacio dos direitos de cidadaniano Brasil esteve constantemente vinculada aos interesses das elites socioeconémicas e politicas; poucas vezes foi resultado de um projeto com ampla participacao po- pular e voltado paraa inclusdo social. Com base nessa constatagdo, 0 historiador mineiro José Murilo de Carvalho desenvolveu a teoria de que vivemos uma “estadania’, pois muitos de nossos direitos seriam resultantes de uma “concessio” relativa do Estado, feita de cima para baixo a uma populagdo muitas veres desinteressada da "coisa publica”. Dessa forma, 0s direitos costumam ser vistos como concessdes ou beneficios oferecidos pelos grupos dominantes ao restante da populac3o. ‘Ainda de acordo com o autor, a construgo da cidadania no Brasil inverteu a ordem cronolégica apontada por T. H. Marshall, uma vez que primeiro foram estabelecidos os direitos sociais e ampliados os direitos politicos, durante o periodo ditatorial do Estado Novo, para depois serem implementados os direitos civis, o que gerou a formacaodeuma piramide invertida dos direitos. J ocientista politico carioca Wanderley Guilherme dos Santos utiliza o conceito “cida- dania regulada para identificar a concessao dos direitos por parte do Estado como maneira cdemediar possiveis confitos entre classes. Nesse caso, o Estado controlaria os grupos sociais por meio de praticas regulatorias, que variam entre o aumento da participagao (propor¢ao de individuos que possuem acesso aos direitos) e a reducao da liberalizacio (capacidade das instituicbes socials de garantir a consolidago dos direitos). Aqui, o governo Vargas deve ser mencionado, uma vez que Santos cita, como politicas desse periodo, a criagao, das leis trabalhistas eo controle dos sindicatos. Como consequéncia, a classe trabalhadora conquistou direitos, mas perdeu poder de contestagéo. No entanto, identificam-se na histéria do Brasil alguns momentos em que as mobili- zages politicas ganharam destaque, em geral tendo como referéncia a luta por direitos sociais e liberdade. Com base em um conjunto de praticas repressivas, a ditadura militar, iniciada em 1964, impés um retrocesso & construcao da democraciae dos direitos humanos no pais. E foi entdo que movimentos populares e sindicais do campo e da cidade passaram a exigir distribuicao justa dos bens produzidos pelo trabalho e maior participacao social nas decises sobre os rumos adotados pelo pais. ‘Alem disso, foi pela resistencia a ditadura e durante a redemocratizago formal do Brasil que diversos grupos se fortaleceram para as lutas subsequentes em prol dos direitos humanos. Em meio ao processo de redemocratizagio, foi promulgada a Constituicso Federal de 1988, que contou com destacada participacdo social em sua elaborago e incorporou diversas reivindicagées populares, sobretudo no campo das liberdades civis e politicas, ‘AConstituicdo brasileira estabelece alguns mecanismos de participa¢ao politica, como co plebiscito,o referendo ea iniciativa popular (artigo 14), para garantir, ao menos no émbito formal, a democracia participativa. Outro exemplo ¢ 0 orcamento participative, modelo fem que cidados, por meio de uma complexa ferramenta de gesto publica, participam da elaboragao e da fiscalizacao do orgamento, principal instrumento de distribuigdo dos recursos publicos. Outro momento de mobiliza¢ao politica de nossa historia recente foram as Jomadas de Junho, que aconteceram em 2013, nas quails parte da populacao salu 8s ruas para lutar pela efetivagao de alguns direitos, como transporte piblico de qualidade e gratuito, e para questionar 0 funcionamento da democracia ‘Quem escreveu sobre isso \ = Wanderley Guilherme dos Santos Wanderley Guilherme dos Santos, cientista politico brasil nascido em 1935, notabilizou-se por refletir sobre as relacoes de poder presentes no Brasil ena América Latina. Em sua obra axes da desordem, empregou o conceito “cidadania regula- dda" para representar a constru¢ao dos direitos em nosso pais. © cientista politico Wanderley Guilherme dos Santos utiliza 0 conceito de "cdadania regulada" paraidentificar a concessio os direitos por parte do Estado brasileiro A socidloga fluminense Maria Victoria Benevides chama de democracia semidireta as formulagdes institucionaisfirmadas pela Constituigdo de 1988. O objetivo do modelo partici- pativo de democracia proposto pela Constitigao nao é"'substituir’ osistema representativo, mas possibilitar a conscientizaco social, essencial para a efetivago da cidadania, que so 6 possivel com uma participagao politica permanente, plena e ativa de todos os cidados. Contudo, a Constituigdo ainda apresenta muitas limitagées, em especial no que se refere as dimensbes social e econémica. Nessas dimensées residem os principais obstaculos construcao e & concretizago dos direitos humanos e da cidadania na vida social brasileira Na verdade, ha grande diferenca entre a cidadania formal e a cidadania real no Bra- sil. A cidadania formal é a que estd presente nas leis, imprescindivel para a liberdade e para as garantias individuais; sem ela, estariamos & mercé da vontade de qualquer grupo dominante. Ou seja, ela garante a igualdade de todos perante a lei. J4 a cidadania real, aquela do cia a dia, mostra justamente o contrario, isto é, que nao existe igualdade entre os seres humanos e que prevalece a desigualdade em todas as dimensGes da sociedade. Apesar da luta de diferentes setores da sociedade, principalmente aqueles ligados as minorias sociais, no dia a dia percebemos que a maioria da populacao tem seus direitos desrespeitados. Portanto, apesar de existirem formalmente, a democracia, acidadania eos direitos ainda sio bastante restritos, Respondendo a pergunta inicial do capitulo, pademos. dizer que 0 Brasil é uma democracia em construgio, em todos os sentidos. © rumo e 0 alcance que ela teré vio depender da participacao da populagao brasileira, er especial da juventude, nas lutas pela implantagao dos direitos humanos para todos os cidadsos. Wire L___ © Estamira ESTAMIRA Brasil, 2006. DitecSo: Marcos Prado, Duraggo: 115 min. (© documentario conta a historia de Estamira, senhora de 63 anos aco metida por disturbios rentals, que mora etra- balha ha maisde 20 anos no aterro sanitario de Jardim Gramacho, no io de Janeiro. Tendo como temasaloucura amisria ce adesigualdade social, 0 filme permite refletirso- bre o cardter excludente de nossa sociedade e da situacao de precariedade e alijamento de direitos fem que vive ura parcela a populace ‘Aviolagao dos direitos de cidadania é uma pritica disseminada na ‘A mobilizagio popular ¢ essencial para a conquista sociedade brasileira ea universalizacao desses direitos ainda é um de direitos. Na foto, manifestantes ocupam a parte ddesafio, Somente com partiipagso politica efetiva da sociedade externa do Congresso Nacional durante as jornadas essa ealidade pode ser modificada. Na foto, criancas lavam roupa rnalagoa do Parque Estadual Padre Jodo Cancio, em Serrta (PE, 2010). de Junho (DF, 2073). 189 @ PTET EE Is 1. Cidadania formal e cidadania real no Brasil. Para quem sao os direitos em nosso pais? Desde o final da ditadura militar, em 1985, vivemosno Brasil um estado democratico de direito. isso implica dizer que o respeito as liberdades civis, aos direitos humanos € as garantias fundamentais deve ser constante no cotidiano da sociedade. Sera? Em seu livro Cidadania no Brasil: 0 longo caminho (Editora Civilizacao Brasileira, 2001, p.214), ohistoriador José Murilo de Carvalho cita uma série de fatos ocorridos nas Lltimas décadas para demonstrar que entre a cidadania formal (a que estanasleis) ea cidadania real (a que vivernos no diaa dia) ha uma grande diferenca, Diz ele: “Em 1892, a policia militar paulista invadiu a Casa de Detengao do Carandiru para interromper um conflito e matou 111 presos. Em 1992, policiais mascarados massacraram 21 pessoas em Vigério Geral, no Rio de Janeiro. Em 1996, em pleno centro do Rio de Janeiro, em. frente & igreja da Candeldria, sete menores que dormiam na rua foram fuzilados por policiais militares. No mesmo ano, em Eldorado dos Carajés, policiaismilitares do Para atiraram contra trabalhadores sem-terra, matando 19 deles. Exceto pelo massacre da Candeléria, os culpados dos outros crimes nao foram até hoje condenados. No caso de Eldorado dos Carajas, 0 primeiro julgamento absolveu os policiais. [..]". Em todos os casos, uma semelhanca. Os mortos eram cidadaos pobres, marginali- zados e representantes de grupos sociais que constantemente tém seus direitos vio- lados. Também em todos os casos os agentes da violacdo dos direitos representavam. © proprio Estado, que deveria ser 0 primeiro a garantir 0s direitos de todos, © socidlogo Igndcio Cano afirma que o Brasil convive com altos niveis de impuni- dade, violéncia e abuso contra os direitos humanos. A construcao de uma sociedade democratica passa pela inversao dessa tendéncia, que propende a gerar nos cidadaos uma constante sensacao de que sua integridade pode ser atingida, Osdois autores constatam aquilo que os moradores das favelas, das periferias e das areas rurais ja sabem ha tempos. Os direitos no Brasil sao seletivos. Educagao, sate, seguranca publica, moradia e outros direitos humanos esto disponiveis apenas para uma parcela da populacao, e quem mais destespeita esses direitos € 0 proprio Estado. Carvalho afirma que no Brasil a cidadania ¢ hierarquizada, Ha uma minoria que nao somente tem acesso a todos os direitos previstos na cidadania formal como em determinados casos se coloca, por conta do poder financeiro, de modo que a lei nao a atinja. De outro lado, ha os cidadaos de "segunda classe”, para quem a cidadania sé & alcancada por meio de muitas lutas. Como consequéncia, temos uma sociedade na qual a cidadania plena é um sonho distante para a maioria das pessoas. Sao os jovens as principais vitimas da negacao dos direitos. © Mapa da violencia 2013 ~ mortes matadas por armas de fogo, estudo coordenado pelo sociélogo Julio Waiselfisz, aponta que quase metade das mortes de jovens no Brasil tem como cau sa 0 homicidio. Se pesquisarmos exclusivamente entre os jovens negros, esse indice atinge niveis alarmantes. Entre as mulheres, a violacao dos direitos é uma realidade reocupante, por conta de essa transgressao ser ainda maior. Os indices de assassinatos de mulheres jovens (16 a 24 anos) sao superiores & soma de homicidios em todas as demais faixas etérias. A correspondéncia entre a cidadania formal e a cidadania real so sera estabelecida or meio de uma constante luta para a implementagao dos direitos tanto por meio de agdes da sociedade civil quanto de politicas publicas. O que fazer? Esconder-se atrés das paredes ou dos muros de nossas casas? Ou participar ativamente na luta, a fim de que os direitos sejam uma realidade para todos os cidadaos? 190 pein pl ht Lad 8B tind a. Direitoe sociedade Em maio de 1996, 0 governo brasileiro lancou a primeira versao do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-1), que tratava apenas de direitos Civis e politicos. O PNDH.-I foi editado em maio de 2002, incorporando ao primeiro direitos econémi- os, sociais, culturais e ambientais. O PNDH-Il, de dezembro de 2009, tratou de direitos universais, como satide, educacdo, desenvolvimento social, agri- cultura, meio ambiente, seguranca publica, acesso a justice a informagao, entre outros, © Relatério de Desenvolvimento Humano de 2014 mostra o Brasil na 791 posi¢o no ranking dos 187 paises pesquisados. O indice de Desenvolvi- mento Humano (IDH) mede a qualidade de vida dos habitantes de um pals; no Brasil, é de 0,744, Ele € composto de trés subindices: longevidade (expectativa de vida), renda e educacao, Embora em nosso pais as pessoas vivam em média73,9 anos ea taxa de matriculas escolares atinja 97% das criancas entre 7 € 14 anos, nimeros relativamente bons, a concentracdo de renda e de riqueza compromete o IDHe é a principal responsdvel pela colocacao do pais no referido ranking. Esse fator situa 0 Brasil como 09° pais mais desigual de uma lista de 187 nacées. Isso pode ser verificado nos niimeros: enquanto os 10% mais pobres da populagdo detém 1% da renda, 05 10% mais ricos se apropriam de 50%. Quando se trata da riqueza - que engloba, além da renda, © patriménio -, verifica-se que 10% da populacao detém 75,6% de toda a riqueza nacional, sobrando Ve Ena comunidade em que vocé vive, como os direitos humanos sao efetivados? Ha violacoes de direitos? De quais grupos? Realize a seguinte atividade para medir o grau de efetivagio dos direitos humanos no lugar onde vocé mora. Para a elaboragio da atividade, proceda da seguinte manefra: 1 Formem grupos, cada um composto de um quarto dos alunos da turma 2. Cada grupo escolheré dois direitos previstos na Constituicao Federal. 3. Consultando jornais impressos e a intemet, facam um levantamento, no municipio ou no Programa Nacional de Direitos Humanos 24,6% para os outros 90%, mais de 165 milhdes de brasileiros. Com base nesses niimeros, podemos ter uma ideia de como a cidadania real & vivenciada pela ‘maioria da populacao do pats. ‘Tendo como elemento norteador a Declaracao Universal dos Direitos Humanos, a Constituigao Bra- sileira prevé a garantia dos trés tipos de direitos de cidadania. O objetivo ¢ fazer que, de fato, a cidadania € 05 direitos humanos sejam estendidos a todos. Entretanto, pesquisas realizadas por diversos érgdos pelo Programa Nacional dos Direitos Humanos tém indicado que a realidade ainda est bem distante do ideal promulgado na Carta Magna DIREITOS HUMANOS bbairro em que residem, de violagoes dos direitos que escolheram. 4, Caso exista uma Secretaria municipal e/ou estadual de direitos humanos, uma comis- sao de direitos humanos na Camara dos Vereadores ou na Assembleia Legislativa, ou movimentos sociais ou ONGs de defesa dos direitos humanos na regido pesquisada, entrevistem seus integrantes a fim de obter material informativo e saber quais provi- déncias esto sendo tomadas para que essas violacées cessem. S. Exponham o material elaborado. me Atividades fii A construcéo de um ambiente democratico nas sociedades contempordneas se refere a existén- cia e & consolidacao de diferentes modelos de direitos. Por mais que o conceito de democracia tenha surgido em um contexto hist6rico e social diferente do dos tempos atuais, seu desenvolvi- mento acompanhou as transformacdes ocorridas no mundo. Ainda que as diversas perspectivas de anélise sobre esse conceito sejam notérias, néo devemos nos equivocar condicionando a existén- cia do ideal democrético apenas ao fato de uma sociedade ter a possibilidade de eleger seus re- presentantes. Tomando como ponto de partida a leitura desse trecho e dos debates do capitulo, realize as ativida- des a seguir. 1. Com base no entendimento do conceito de de- mocracia, faca uma comparacao entre o contex- to de seu surgimento e o seu sentido atual 2, Identifique e caracterize os direitos presentes na tipologia proposta por T. H. Marshall. Nao deixe de citar exemplos ilustrativos sobre cada um desses modelos, 3. £ possivel confirmar a existéncia de democra- cia e de cidadania plena no Brasil? Justifique sua resposta com argumentos e exemplos concretos. (coke) 0 jovem brasileiro e a politica depois de junho de 2013 (Omés de junho de 2013 no Brasil ficou fortemente marcado por uma série de manifestacoes de rua que reuniram milhares de pessoas, originalmen te motivadas pela insatisfacao com 0 aumento do preco das passagens de 6nibus em diferentes cidades do pats. ‘Tais manifestagdes se repetiram por varios dias e foram ganhando cada vez mais adeptos, obser- vando-se também uma progressiva diversificagio das causas expressas em cartazes confeccionados artesanalmente por manifestantes, em sua maio- ria jovens. A maior parte das reivindicacées fazia referéncia &s deficiéncias nos servicos piblicos de maneira geral, com destaque para educacao, sati- de, moradia e mobilidade urbana, mas muitas de- las também apresentavam criticas diretas ao go- $192 verno da presidente Dima Rousseff ou 4 atuacao do Estado. Desde entao, 0 fenémeno das Jornadas de Junho tem sido analisado de diferentes pontos de vista por muitos pesquisadores, jornalistas e ativistas. Uma das questées amplamente exploradas diz respeito s novas e as antigas maneiras de envol- vimento dos jovens brasileiros com as questdes politicas de sua cidade e de seu pais e as novas possibilidades colocadas pelo avanco das tecnolo- gias de informagao e comunicagao. Uma pesquisa que recebeu o titulo Sonho Brasi- leiro da Politica, feita pela Box1824, empresa que realiza pesquisas relacionadas ao comportamento jovem, elaborou uma classificagao quanto as for- mas de envolvimento de jovens com idade entre 18 32 anos com a politica, no que diz respeito aos, niveis de interesse, aco e mobilizacdo dessa faixa etéria. Considerando apenas aspectos como par- ticipacéio nas manifestacdes de junho, adesio a alguma causa ou bandeira de luta, autodeclaragao como “engajados” e atuagio em projetos voltados para a transformacao social, os pesquisadores utilizaram as seguintes categorias: alheios (39%); @ deriva (17%); eriticos (28%); e agentes e hackers da politica (16%). Depois de visitar 0 endereco eletrénico (acesso em: 28 fev. 2016), onde esto publicados os resultados dessa pesquisa, faca com os colegas um debate em sala de aula, de modo que avaliem aspectos, da investigacao acima apresentada. Para isso, & aconselhavel que discutam as seguintes ques toe a) Relate de que modo vocé vivenciou os episé dios que a imprensa acabou chamando de Jor- nadas de Junho ou como tomou conhecimento deles. Que significado esse movimento teve para vocé? Converse com os colegas e pergunte a eles como vivenciaram essas manifestacdes. b) O que vocé pensa sobre as categorias utilizadas pela pesquisa? f possivel identificar essas ten- déncias de comportamento entre seus conheci- dos da mesma faixa etaria? ¢) Que outras categorias poderiam ser utilizadas para classificar o envolvimento do jovem com a politica? 4) De modo geral, vocé considera que 0 envolvi- mento do jovem com a politica sofreu alguma mudanga depois das manifestagdes de junho de 2013? Em caso positive, pense em quais éreas essa mudanca se faz notar na atualidade. Error questios (nem, 2013) E verdade que nas democracias o povo pa- rece fazer'0 que quer: mas aliberdade poiitica no consistenisso, Deve-se ter sempre presente fem mente 0 que é independéncia e 0 que é li- berdade. A liberdade é o direito de fazer tudo ‘que as eis permitem; se um cidadio pudesse fazer tudo 0 gue elas proibem, nao teria mais liberdade, porque of outros também teriam tal poder MONTESUIEU. Do esphito dass So Paulo: Editor Nova Cultural, 1997 fadaptado ‘A caracteristica de democracia ressaltada por Mon- tesquieu diz respeito: a) ao status de cidadania que o indi ao tomar as decisdes por si mesmo. b) ao condicionamento da liberdade dos conformidade das leis. a possibilidade de o cidadao participar no poder e, nesse caso, livre da submissao as leis. 4) ao livre-arbitrio do cidadao em relacdo aquilo que € proibido, desde que ciente das consequén- cias. iduo adquire lados & €) ao direito de 0 cidadao exercer sua vontade de acordo com seus valores pessoais. ‘Questia 2 (Enem, 2013) Para que no haja abuso, é preciso onganizar as coisas de maneira que 0 poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou 0 mesmo corpo dos principais, ow dos nobres, ou do povo, exercesse esses trés poderes: o de fazer leis, o de executar as reso- lugdes piblicas e 0 de julgar os crimes ou as divengéncias dos individuos. Assim, criam-se 05 poderes Legislativo, Executivo e Judiciario, atuando de forma independente para a efeti- vacdo da liberdade, sendo que esta nao existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente. MONTESQUIEU, 8. Do espinto dase Sao Paul: Abri{Cultual, 1979. A divisdo e a independéncia entre os poderes sio condigées necessérias para que possa haver liber- dade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob ‘um modelo politico em que haja a) exercicio de tutela sobre as atividades juridicas e politicas b) consagractio do poder politico pela autoridade religiosa, «) concentracdo do poder nas maos de elites técni- co-cientificas, 4) estabelecimento de limites aos atores publicos e as instituigdes do governo. ¢) reunio das funcdes de legislar, julgar e executar nas maos de um governante eleito, eee ‘questéo1 “Acessar, Digitar, Interagirll! Esse é 0 novo grito proclamado pelas vozes do silencio, pelos navegantes democraticos, pelos marginalizados tecnolégicos, pelos infonautas do desejo.” A frase acima foi proclamada pelos integrantes do movimento dos sem-tela em 1996, portanto, ha mais de 20 anos. Nesse manifesto, além das dentincias contra a manipulagio das informacées, reivindicava-se a democratizacao da internet e do acesso & rede como um direito. Nesta atividade, propomos a vocés que escolham uma turma e pesquisem quantos estudantes tem. acesso a internet, em quais condigdes esse acesso ocorre, como eles lidam com as informagées obtidas no ciberespago e como as compreendem e as incor- poram. Ao final, realizem um debate para avaliar se 08 objetivos do movimento dos sem-tela foi atingido. ‘Questéo2 Com base nas questies levantadas no debate sobre ‘as manifestacdes de junho de 2013 e os modos como jovens se relacionam com a politica, retinam-se em ‘grupos ¢ elaborem um questionério para ser aplica- do em uma amostra de pelo menos 30 pessoas com idades entre 16 e 23 anos, Os questiondrios devem ser elaborados com a ajuda do professor e podem ser divididos entre os integrantes da turma a fim de que sejam aplicados e, em seguida, novamente reu- nidos para anélise conjunta dos resultados obtidos. 0 objetivo da pesquisa é indicar, sem pretender ge- neralizar, tendéncias observaveis no comportamen- to da juventude atual quanto a sua relacdo com a politica, maneiras de aio, filiacao a ideologias par- tidérias, entre outras questdes. 193 @

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