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RETRATO DO AR STA ® Nao sabe | amor que ndo sabe morrer petsiste no olhar do cio abandonado que, ‘20 menor gesto, ‘abana orabo rnaespera do afago Estaino vaso de planta esquecido no sobrado sem moraclores ‘Oamor que nao sabe morrer no pretende tocar o céu. (Quer ficar aqui mesmo pedestre, incauto e reles. Nao ouve a ladainha dos mortos Nem quer a extrema-uncao. composigdes como “Reboco” (“Para quem néo tem mul, tudo tem serventa: 2 argila a bosta da vaca, /o perfume da ‘grama’),“Escoiceados” ("Levamos / bons coices,/ Meu pai ] € eu, / Os dois / nunca subimos / na vida”) “Autortetrato como boi” (*No curral da ins6nia /rumino palavras pasta- das (na ribanceira dos dias"), Um poema notivel deste vio, pele técnica de construgdo da nacrativa, &“Sexta-feira da paixdo':"A mulher que ganhot os peixes /ndo traz os olhos cabisbaixos / nem os ombros arqueados./Treze peixesfinos « prateados / deslizaram para dentro da sacola./(.) Usard a frigideira preta/ que fica no armério da pia? / Vai passar 1s peixes na farinba, /frité-los ¢ serv-los bem sequinhos" cease secngfominacom fo cendriose isra | SUISUN janis ates 0 du engenho imaginativo que completa as lacunas com | tpetllon stat aokel Yeni ac Ut lata hipétesesficionais ("Quem dividiré os petxes com elat /O | SEY cio @ AARC steeE rmatido aposentado? Os filhos@") A aparente simplickiade do i 8 CDemoreli poema oculta 0 seu carter alegérico, no sentido proprio da | etm in Catt eitten ittlon, Ab resaCotn palavra:construgio do pensamento por meio de metéforas | ise} Dtactlcatein@ajmethane See Wade ca erate Gabaa eacora madre | ME aaG ed sayy Gus palavasedas coisas, chega a um grau de ebulcio em | Open uA aes Ge ED eee ‘Mundo mudo, de 2003 ¢, sobretudo, em O homem inaca- | RSEeeIOMEh late De IO RE] USI Scala drado, de 2010, de onde extraimos ess linhas: "Num stimo, | MleaMaetee Ieee leo SWAG Sao) Ja picada da serpente / Abre-se a feria / que nunca sara! | Gleanipeltinesclolreiater el Seely Aveo) {Que nio supura / Colegio de escaras / que saem i unha/ great) shes veto WIreiticcian ANSt@e a) erenascem / novascrostas (.) Addot:/veneno./ Ninguém | GEREN Yetta oNicole leet mech quer / sua companhia” fantis Maniaide biclio, de 2009.0 autor publi. | | coutambéma plaquicte Alta noite,na.colecao. | \Vivar editaday pela Curadotia de Litera cleentio((ilvicl roles laudio Daniel h é poeta editor da revista indie curador de iteraturare Centro Cultural Sao Paulo ib 1 BEB ow Joo da Pena Como ler Wittgenstein @ influéncias, seus escritos, o legado Recorre amide a exemplos da vida cotidiana e trechos de obras de arte © autor descreve e analisa Wittgenstein, sua filosofia cna Mathers ee nescei idas por todo 0 Bra Mee FEMINISMO COMO PROVOCACAO Marcia Tieuat | FEMINISMO | AFILOSOFA TN fore} (oe) QUE REJEITA SEQUENCIA PROVOCACAO CLASSIFICAGOES DE ATOS é um problema Género nao 1 E=: possivel que aquele que se disponha a d Oo CaMpo conhecer a obra de Judith Butler a receba, da sexualidade jem um primeiro momento, como uma pro- Os livros publicados até agora pela fildsofa norte-americana, nascida em 1956, nao so faceis de ler. De um lado, a espontaneidade ironica com que ela escreve nao é comum no meio do debate académico ¢ intelectual; de outro, os contetidos de seu pensamento sao os mais desafiadores, os mais sagrados e os mais caros pa- | | ra toda uma tradigao. Verdade que o tema central da obra de Butler é 0 “género”, mas, olhando de perto, género nao é um problema do campo da “sexualidade”, é um problema politico e, mais perigosamente, um problema ontol6gico, Isso quer | dizer que 0 seu feminismo é, de todos os que surgiram até agora, 0 que levou mais 1 asério as potencialidades criticas do préprio feminismo. Butler nao tem medo do feminismo, tampouco de sua critica ou de seus efeitos tedricos e priticos. |OPERCURSO |INCERTEZAS | QUEERIFICANDO DA POLITICAS ENN (cre) X7N PERFORMATIVIDADE iN RELACIONALIDADE Dossié ‘Nas mos da pensadora, 0 feminismo é, sem dtivida, uma luta pelos diceitos das mulheres, como sempre foi, mas é também uma desmontagem do que chamamos de “mulheres”, Por fim, dos homens e, no extremo, do géne- Fo como um todo. A questéo de género nao sera apenas tum problema do ativismo, 0 que ja seria demais para 0 pensamento da dominagio masculinista, mas também, ‘e mais gravemente, um questionamento da identidade e do principio que rege sua logica ‘A riqueza da obra de Butler consiste justamente no cardter provocative que tem movido uma quantidade consideravel de estudiosos pelo mundo afora, Esse caré- teré, 20 mesmo tempo, uma maneira de traduzir aquilo {que entenderemos a partir de um dos seus conceitos mais, importantes. Trata-se da questio da “performatividade” Assim, a primeira coisa que devernos saber para entender do que judith Butler estéfalando & que as palavras provo- cam agées e atuages. Que as palavras agem. Que todas as teorias existentes causam algo em sujeitas concreto: E que a teoria da propria Butler faz 0 mesmo, mas nio esconde que 0 faz. Nesse sentido, ela sabe que esté pro- vocando, E quem ela provaca? O poder, enquanto este se confunde com a “verdade” sobre algo como identidade sexual de género. A fildsofa norte-americana, que também 6 judia e ésbica, vem, portanto, provocando uma mudanca ra- ical no cendrio dos estudos de género, e no feminismo de um modo geral. Sem deixar de ser feminista, Butler & uma teérica eritica que critica justamente certos aspec- tos do feminismo ao qual se filia. Para quem pensa que as feministas nao podem ser criticas do feminismo, essa posigéo pode parecer uma contradigao, o que, na verda- de, apenas demonstra que a questio da critica imanente do feminismo ~ aquela critica que supera seu objeto 20 mesmo tempo que guarda algo dele - ainda ndo foi bem compreendida. O ponto central da critica de Butler resi- de no fato de que o feminismo que ainda trabalha com o “binarismo” de género - com a ideia de que “homem” ¢“mulher’, “masculino” ¢ “feminino” sio a verdade da sexualidade - incorre na reproducdo daquilo mesmo que quer criticar. Neste sentido, o feminismo da fildsof apenas pode ser pensado em seu sentido expandido. Nao como uma defesa de algo como “feminino”, nem como uma simples defesa das “mulheres” cuja identidade de género ela questionara. O feminismo de Butler é a defe- sa de uma desmontagem de todo tipo de identidade de géneto que oprime as singularidades humanas que nio se encaixam, que nao sto “adequadas” ou “corretas” no cenitio da bipolaridade no qual acostumamo-nos a en- tender as relacoes entre pessoas concretas.E justamente a adequagéo que estard na mira de Butler, enquanto todo 0 esforco da filosofia tradicional, que pesa sobre a questio do sexo e do género, se deu na ditegiio de uma supressio das singularidades. Para sustentar sua eritica, Butler precisa, portanto, desmontar algumas ideias, € a principal delas serd a de ssénero, Quando, nos anos 1960, se comecot a falar em sgénero, o termo era usado para se refer ao “papel” social e cultural que se dispunha sobre o sexo, como que para explicé-lo. O sexo era ainda tomado como natural no sen- tido de ser um destino que acabaria por fundar o género © sexo era a verdade da natureza, como muitos ainda pensam no ambito do senso comum. A ideia de género veio dar conta do cardter produzido da sexualidade. O es- sencialismo com que se costumava vero sexo jé havia sido posto em questo quando Beauvoir disse, em O segundo sexo, que ninguém nasce mulher, mas se torna mulher. Foucault, igualmente importante para Judith Butler, mos- trou, em sua Histéria da sexwalidade, que até mesmo 0 sexo, tanto quanto a sexualidade, foi produzido por um tipo de discurso. Nem sexualidade, nem sexo seriam verdades essenciais, mas apenas construcdes histéricas. Tratar 0 histérico como natural sempre é estratégia do poder: O esforco da teoria de Butler, neste contexto, foi o da desnaturalizacio como uma desmistificacao do sexo € do género, que seriam, em momentos diferentes, tratados como destino. A partir de entio, eles seriam construgdes discursivas entre as quais nao haveria diferenca. A idefa fundamental da pensadora éa de que discurso habita 0 corpo € que, de certo modo, faz esse corpo, confunde-se com ele. Por isso, a diferenca entre sexo e género nao seria mais o caminho para aluta feminista, Mas o respeito aos ‘corpos cuja liberdade depende, em dltima instancia, de serem livres do discurso que os constitu, Ou de simples- ‘mente poderem existir em um mundo que os nega, e que os nega pelo discurso que nao é, de modo algum, apenas uma fala qualquer que ela chama de performatividade do género, par- tindo de aspectos da teoria da linguagem de J.L. Austin, famoso autor da teoria dos atos de fala, diz respeito a0 cardter ativo da relagio entre o sujeito e a sociedade, ‘enquanto esta iltima ¢ organizada dentro de normas € de leis que funcionam pelo discurso. & impossivel, neste sentido, ser “generificado”, ou seja, softer 05 efeitos do _género fora do discurso, Pois nao ha género sem discur- 50, € 0 discurso é, justamente, o que infunde, como um dispositivo, aquilo que é 0 género. Se antes os corpos ‘ram vitimas da eféncia da anatomia que legislava so- bre eles, agora passaram a ser vitima da generificagio como uma espécie de segunda natureza que se diz como verdade quanto a0 “género”. Por meio das analises de Butler, podemos empre- ender a reflexdo sobre o que é set homem e ser mulher, hétero ou homosexual, desde que se torne possivel questionar nao apenas as identidades “homem” e “mu- ther”, ou outras, mas também o préprio sentido do verbo “sex” quando se diz que alguém “é” isso ou aquilo. No etree me Sirs em um cenario ontoldgico, que € promoyido pelo dis: Leese Ot Ro tere car cere cara as fferente em um cendrio democtdtico, em que as pessoas ee ee ern Peer neato eer ence Tete ceria de “efeitos ontologicos”. Nesse sentido, em sua prdtica Renreeeeer iterate mete en cetcy Reni Ure ae Cac ator tea produzir um contraimaginario 20 privilegio ontologi- ee ea ues cei tute) Pret saute rca Pir ree emt C rae econ e ern eter et wetcetn ts ce cee cae Hretee eet ie Cee irae Sere to Ct Pees Mec Cet coe emer eter eerie atta eC eo Voor as SC MCE cue rane tear te er, no Ambito do feminism, na luta por direitos, mas eee Cuma Pennine eC ceutrncea prio feminismo prometia émancipar seu sujeito. Neste fentido, podemos dizer que 0 feminismo da filésofa é negativo e, ainda assim, dialético. eer DO easter cre mento tedrico-pratico de Butler se refere ao corpo sexu- lado enquanto esse corpo é tornado “abjeto”. A categoria Tieekcnce sec con er tiers Wiener eee toes Manet ras ST UaaN Cecio Meas oes (Guenter centage Vastra) Earn coe tine tran oe voce o, na contramno de Dertida, tim dos pensadores que TU eam eee ee ec fiuar usando o'conceito de “sujeito”, vendo nesta criticavel ja humanista a chance de colocar as categorias Ones rae arte coos a por muitos fildsofos contemporaneos, diz, espeito a ideia de filosofia-da consciéncia de que existe ene teen cers Cem ee er een ants Rene ere (os Uae tea hore errr emi Nee eRe erent Pater cictne ronnie ace tren dere PR ree ct eee eter reer ttre Acetone tac te Te erate) or uma ideia de natureca femi H eee ire mec eny Paterna one moe rsa ise ajudar a pensar o lugar de todos aqueles que nao se enc a a a Pius ities pportantes, vidas que deyeriam sercorrigidas ou que ndo eer tee errr erent (ore men ices antic iets Paco Conse seminarians Peer ecerree et Sa ue ae aa thas porque existem muitas pessoas fora das classificacoes, inias pordue € preciso desmontar as lassificasdes para Proce Sune income iat ‘da experiéicia silenciada ¢, assim, proibida de exist Paes Oc scrmiomau tee anilise{de algitns aspectos da obra de Judith Butler, (oe nus etre eed cr Ger recta c aru cei Ces cyt ih ances cue Becca eta occas ere aceite a tact oh ute Gir pro cuter sc eceect alters tol vueciua et STC onTin nok Our ceaeN acre ‘© em cada uma de suas partes, fica evidente oitespeita Croton enna un tmmato crr Pelrrrecsan ta eon curiae iy | [DOSSIE| ENTREVISTA \ \ I i & a g A FILOSOFA QUE REJEITA _ Em entrevista exclusiva CULT, Judith Butler fala sobre seu didlogo com as obras de Hegel, Foucault, Derrida, entre outros Canta Roomaues rma das medidas de recepgéo da obra de um autor é LU isis pers sont de seu pensamento, produz ecos erellexbes. Desde que foi langado, em 1993, nos Estados Unidos, 0 livro Problemas de género ~femismo e subversio da identi- dade, da ilésofa judith Butler, foi editado em 23 paises, entre 195 quais 0 Brasil. Desde enti, suas proposigdes sobre géne- ro.como performance, suas citicas ao ideal identitérioe sua abordagem sobre @ normatividade de género se dissernina~ ram em diferentes campos de estudo:ilosofia,antropologia, ‘eoria feministae teoria queer, da qual, particularmente, se tornou simbolo. Embora nao sea seu primeito live, foi em Problemas de género que muitas das ideias de filsofa ganhe- am projegéo, inaugurando um debate rico para o campo dos estudos de género.Ao deslocar o problema de género do campo das diferencas sexunis para 0 da heterossexualidade normative, Butler renova a pauta feministe por questions-la sem, no entanto, abandoné-la Professora na Universidade da Califrnia, onde éco-dite tora do Departamento de Teoria Critica, Jadith Butler éantan ciada na Franga como continuadora do pensamento de Michel Foucault 0 que ela recusa ~ 6 tda, por muitos autores, como pés-feminista~0 que-ela também rita como clssificagdo Nesta entrevista, ela expressa seu vigor ao tratar de questies como a critica & identidade e a afirmagao polti- ca de sua condigao de lésbica, bem como problematiza a naturalidade do desejo heterosexual ea patologizagao do transtorno de identidade de género > a i DOSSIE J ENTREVISTA] "Grande parte do meu trabalho se dedica a compreender o que frases como’‘ser uma lésbica’ possam significar. Sim, sou chamada assim, e chamo-me assim em algumas ocasiées, mas no estou certa de que a expressao me descreve no nivel do ser” CULT - Entendo sua filosofia como parte de uma gran- de linha de pensamento de critica & identidade a0 hu- rianismo. A critica a identidade é politica, é importante porque pensa os préprios termos em que as identidades sio forjadas. No entanto, a senhora também se apresenta ¢ defende determinadas identidades, como lésbica ou judia, Ha um paradoxo em criticar as identidades e, a0 mesmo si-las como estrategia politica? Judith Butler - Precisamos, inicialmente,estabelecer a distingdo entre uma critica da identidade e uma critica do humanismo. Por exemplo, podemos imaginar certos humanistas criticando a identidade precisamente porque algamas delas atrapatham nossa compreensio da hu- manidade comum. Entio os dois projetos sto diferentes Quando falamos numa critica da identidade, nfo significa que desejamos nos livrar de toda ¢ qualquer identidade Pelo contrario, uma critica da identidade intertoga as con- digdes sob as quais elas se formam, as situagSes nas quais sto afirmadas, eavaliamas a promessa politica eos limites {que tais assergdes implicam, Critica nio é abolicio, Por fim, faz grande diferenca se alguém toma "ser uma lsbica” + um judeu” como fundamento ou base de todas 2s suas outras visbes politcas, ou se, ativamente, compreen- de que as categorias slo historicamente formadas ¢ ainda ‘estio em processo Entio, minha perspectiva é a de que no é itil basear todas as demandas politicas de alguém em uma posicio de identidade, mas faz sentido levantar, como uma questio politica explicita, como as identidades foram formadas, e ainda sio construidas, e que lugar elas ddevem ter num espectto politico mais amplo Por exemplo, as aliangas tendem a ser descritas como a unio de varias identidades, mas uma razio pela qual elas sio dinamices, mesmo democriticas, é que as identidades sio transfor- madas luz dessa unido e, muitas vezes, tornam-se menos importantes quando so constituidas com certos objetivos em mente, como a privatizagio, a homofabia ou o estado de violencia -Em que medida ser lésbica foi o que Ihe motivou a re- pensar os termos da separacio sexo/gnero tais uals pro- postos por Simone de Beauvoir? Ou, em outras palavras, ppodemos colocaro seu pensamento, sobre obra da filésofa francesa, como parte de um arcabougo critico e também cexcludente 20 movimento feminista? Grande parte do meu trabalho se dedica a compreen- der o que frases como “ser uma lésbica® possam significa. Sim, sou chamada assim, e chamo-me assim em algumnas ‘ocasides, mas no estou certa de que a expressio me des- creve no nivel do ser! De fato, eu me preocupo com aqueles ‘momentos n9s quais odiscurso tem o poder de estabelecer “o que eu sou” ou “o que voct &” ~ esperamos que n0ss0s desejose vidas permanecam, de algum modo, sem serem ‘apturados por esse tipo de discurso Nao tenho uma po- sigio sobre Simone de Beauvoir, mas acho algumias de suas formulagdes extremamente sites. Entdo, penso que a sua fdeia de que alguém “se torna” uma mulher € importan- te, abrindo a possbilidade de se tornar algo diferente de ‘uma mulher, talver um homem, ou talvez algo que exija coutta forma de pratica de nomeagio Nao me importa se Simone de Beauvoir concordaria com a tltima afirmagio cou se podemos encontrar justificativas em sua obra para tal assertiva, O trabalho dela tornou o meu possivel Meu trabalho é diferente, e sou grata pelo que ela ofereceu ‘A senhora se define como feminista? Geralmente néo defino a mim mesma, mas se vocd ests perguntando se aceito ser chamada feminista, certamente {que sim. Nao me compreendo como wma pés-feminista A senhora se debate com o problema de ter a sua obra lassificada como “teoria queer”. Por qué? Nio é um problema, mas néo existia “teoria queer” enquanto eu escrevia Problemas de género Soube apenas BB os Power: Theories in Subjection, de 1997. Com efeito, a questio lo poder torna-se aqui crucial: ae passo que. reproducéo da norma seri compensada, gozando de um estatuto automiti- code reconhecimenta na esfera do socal, oquestionmiento {cla serdcastigado, seja pela discriminacio, seerega¢io, pela -xclusio ou até mesmo pela morte. A normativa de género impe um hierarquia e um sistema de reconhecimento ex- ‘ludente que vulnerabilizam, de maneiradistnta, os suites que invariavelmente partcipam deta Esse limo aspecto da perspectiva normativa, que Butler dlesenvolveu, & crucial para estabelecimento de um vinculo Me enfoque entre a performatividade e seus trabalhos poste- © iores, entre os quais se destacam Precarious Life: The Powers Sof Mourning and Violence, de 2004, Giving An Account of {Oneself de 2005, e Frames of War: When is Life Grievable?, de 2009. Do.conceito de resignificagdo ao interesse pelas nodes (de vulnerabilidade e despossessio,caractristicos das times ‘obras da autora, hi precisamente urna passagem que conside- ro altamente produtiva para se pensat nas normas de género | mudanga de foco€significativa, uma vez queas primeiras ‘onsideragdes de Butler sobre a performatividade ea ressig- nifcacdo desencadearam uma série de discuss6es calorosas 10 seio do movimento queer, ¢,& rz dos desenvolvimentos provados nas tltimas décadas, suas itimas contribuicées dem ser lidas como um alerts para o que finalmente se dew _= em fungio da normalizagio dos movimentos sexuais progres- EE ictas e da domesticasio do queer. O destocamento de foco “tia anise, desde a resistdncia ea ressignificagio até a vulne = abilidade ea despossessio, também poderiaserinterpretado no um movimento que procura responder aos distints ontextos politicos. © momento politico atua, diferente do terior caracteriza-se pelasnovas formas de regulago sexual rmas tradicionais, tornando mais complexo, deste modo, 0 vio das batas e das reivindicagbesdirecionadas® liberdade justia genérico-sexuats Partindo do enfoque de Butler arespito da resignficago, urge eno mia pergunta acerca da relagioentte a perforrati- dade das normas ea de resisténcia Como alua a petformati- dade do poder normativo, que hbilitaalgumas mudancas a0 smo ternpo em que enclausurao imbito do inteligivel, ques- ionando o politizvel dentro da esera politica atua? Segundo = nea parece, a0 mesmo tempoem que eras essgnifcages fas normas sexuais ede género ~ atualmentelegtimadas em “ dicetos humanos, 0 justiga ea liberdade tornaram-se possveis, His mudangaspressupuseram queas formasem quea sexval- fade eo género poderiam ser vividos deveriamn também se en- mndidas quase que exclusivamente sob os termos daidentidade Lio sujet, impondo algunslimites sobre o mos de aticulao “tanto dos ideas de justia e liberdade quanto das tevindica ches da dissidéncia sexual Mais especificamente, penso que fum dos riscos das politicasatuaisestéassociado ao modo no a 2 : i red Pod {qual a subversio das normas dentro da politica liberal pr: gressista, no contexto das democracias liberais, est impli ‘cada na regulagio da vida sexual através da normalizag dda diversidade e da reconfiguracio da liberdade sexual sob a esfera dos direitos individuais A mea ver, esta ontologing: restritiva do individuo repercute nos ideais progressistas ef ‘muito provavelmente, 20 passo que habilita certos avancosy ra esfera dos direitos, também impde algumas limitagoesgs, 7 nos proprios ideais de liberdade e justica Giro performative prestar alengi a trabalho mais recente de Butlersobrea nerablidade ea despossessio. Emboraessasiinasreflexde: tenham sie dirgidas a outtas configuragdes politica ma entradas na poitia de guerra ena precaredade, a medida q esses conceltos convidam a urn czro distanciamento da ide do individu liberal como base para a formalagio das cv

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