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28/05/2021 ‘Antropélogos brasileros divulgam Manifesto sobre demarca¢do de lerasindigenas- Insitute Humanitas Unisinos - IHU sv) tstiture »)))) Havas UNISINGS ADITAL Antropologos brasileiros divulgam Manifesto sobre demarcagao de terras indigenas < Por: Cesar Sanson |28 Mai 2013 AA "Nada, nem mesmo a ideologia empresarial, pode ser sobreposta 4 Constituic¢ao Federal do pafs ou justificar sua brutal violacdo. Seu fim primordial é garantir fundamentalmente o bem-estar de sua popula como um todo, o que inclui todos os segmentos diferenciados do pais e as geracdes vindouras. Mais do que noticias alarmantes e discursos que visam o bem privado, cobramos todos os setores envolvidos, incluindo os meios de comunicagao brasileiros, que tornem acessiveis & populacdo, antes de mais nada, as luzes da Constituigao Federal do nosso pafs", afirma Manifesto coletivo divulgado por antropélogos brasileiros, publicado pela Agéncia Repérter Brasil, 27-05-2013. Eis o manifesto. De maneira flagrantemente parcial, a midia brasileira tem criminalizado a regularizaco fundiaria de terras habitadas por populagdes indigenas no pats. Para resumir os alarmantes argumentos, a ideia mais comum veiculada é a de que esses processos sio artificios fraudulentos, que transformariam “terras produtivas” e de “gente que trabalha”, em “reservas indigenas”. Para bom entendedor, meia palavra basta, como é de dominio popular. > O que se anuncia é que terras “produtivas” sero tornadas “improdutivas” e, paralelamente a i 10, “gente que trabalha” ser como que “substitufda” por “gente que nao trabalha”, isto 6, “indios” — como se os indios nao trabalhassem ou produzissem. Esta metamorfose perversa € atribufda, em muitos casos, a um suposto concerto criminoso de forgas nacionais e internacionais que atuariam _wvw.ihu.unisnos.b1f520505-antropologosrasieros-civulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas a3 28/05/2021 ‘Antropélogos brasileros divulgam Manifesto sobre demarca¢do de lerasindigenas - Insitute Humanitas Unisinos - IHU em proveito proprio, tendo pouca ou nenhuma relacao com os legitumos ocupantes das terras. Nao é de hoje que este tipo de conjungéio suspeita de ideias aparece na opiniiio piblica ou mesmo em documentos ¢ outras manifestagdes formais relacionados a tramites legais ou matérias igualmente cruciais a existéncia das populacdes indigenas. Estas mesmas ideias vém se repetindo cronicamente no tempo até os nossos dias, ao longo das muitas ondas desenvolvimentistas de colonizagao que marcam a historia do nosso pais desde os tempos da coroa portuguesa. E sim. E sempre preciso trazer a luz o fato de que este arcabougo ideolégico cauciona, insidiosamente, ages ¢ disposigées tanto do Estado brasileiro quanto de agentes privados na diregao do exterminio, submissio e esbulho daqueles povos. Lamentavelmente, estamos muito longe de poder acalentar a esperanga de langar este fatidico idedrio, repleto de tragicos fatos que clamam por erradicacao, As trevas da meméria nacional. Em tempos de rApida repercussio dos discursos através de mfdias eletrénicas, hd mesmo a impressio de que este idedrio estaria se multiplicando em incontveis desdobramentos e manifestagdes. De conversas informais em redes sociais a artigos de jornais, & em documentos como Relatérios de Impacto Ambiental de grandes es juridicas aos empreendimentos econémicos ou em célebres contest 0 fundi Trata-se, no entanto, bem mais de uma imensa cortina de fumaga processos de regular ia que ele aparece de forma mais perniciosa. comunicacional providencialmente interposta entre a populacio e seus os direitos mais fundamentais, distorcendo e obscurecendo o funcionamento dos principais instrumentos constitucionais de resguardo desses direitos. Como agravante central desta colegio de equivocos e distorgées, esté a gravissima acusago ética de que os antropélogos estariam supostamente fraudando o estudo antropolégico de identificagao e delimitagao, conforme ele 6 juridicamente definido e regulamentado. £ legitimo que o leitor se pergunte sobre o que é exatamente isso. Nao hd qualquer registro na imprensa que, afinal, lance verdadeira luz sobre o que é e como se faz, enfim, a regularizacéo de uma ‘Terra Indigena no Brasil. O que é, por que e como acontece, quem realmente faz, tudo isso permanece nas trevas e ignorado pelo grande piblico ou mesmo por especialistas de outras Areas. Tudo converge em uma situaciio que tem como resultado 0 total desconhecimento deste instrumento técnico-juridico e sua funcéio primordial neste tipo de regularizac&o, representando um terreno fértil _wvw.ihu.unisnos.b1f520505-antropologos -brasieros-civulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas 213 28/05/2021 Autro6ioostrasietcedigam Manieta sobre demareag de eras indgen Inti Huraias Uritno - HU para as especulagdes mais estapaftirdias. Respostas adequadas a tais perguntas permanecem ausentes de manchetes rapidas, noticias ou editoriais dedicados a tratar - e quase sempre deslegitimar - o assunto. No entanto, estas respostas estariam bem mais proximas a todos se a Constituig&o Federal, como expressio ¢ instrumento primordial de democracia e cidadania, nao viesse sendo completamente ignorada, senio sistematicamente desfigurada, por meios de comunicagao e outras frentes que atingem o grande ptblico. Se alguns o fazem quase involuntariamente, por mero desinteresse ou desinformagio, ha os que o fazem deliberadamente, interessados que est’io em dar continuidade aos crimes efetivos raramente apurados, & exploragio e desigualdade, contra os quais a carta magna se propée a ser valioso instrumento de representagio coletiv: Constituigéio Federal: A demarcagio de toda e qualquer terra indigena, como também todas as suas fases e ages, é devidamente fundamentada e regida pela Federal, pela Lei n°. 6001 de 1973, o chamado “Estatuto do indio”, ¢ pelo Decreto 1775 de 1996. Ela 6 um longo e sério processo que envolve ctapas Constitui diferenciadas, uma equipe multidisciplinar de profissionais ¢ insténcias diversas. Os antropélogos so aqueles legalmente responsaveis por compilar e analisar os detalhados estudos de um grupo interdisciplinar e que inclui também funcionarios de orgaos federais, estaduais e até municipais. O grande equivoco: A gente Ié ou ouve com freqiiéncia que os antropélogos sio contratados para dizer se uma terra é indigena ou nao 6, ou mesmo se um grupo de pessoas ¢ ou nao indigena. Isto demonstra que, mais uma vez, ha muitas “trevas” e completo desconhecimento nao apenas sobre a natureza desse estudo como do processo de regularizacao fundidria como um todo. & importante esclarecer que o trabalho do antropélogo na demarcagao de uma terra indigena nao 6, de forma alguma, pericial ou resultaré em umlaudo, como normalmente se tem veiculado e mesmo como constam de alguns processos juridicos. H4 uma obscurecedora e talvez proposital confusio nos discursos veiculados pelos meios de comunicagio entre os conceitos de laudo e de relatério de identificagiio e delimitagao. Fala-se muito sobre a necessidade juridico-legal do Estado em definir e fixar sujeitos de direito e a incompatibilidade disto com o atributo dinamico, fugidio, mas também prioritariamente endégeno da identidade étnica, Entretanto, 6 importante notar que, mesmo deste ponto de vista, as proprias disposigdes constitucionais sao por si mesmas profundamente antropoldgicas, no sentido em _wvw.ihu.unisnos.b1f520505-antropologosbrasieros-civulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas 3in3 28/05/2021 ‘Antropélogos brasileros divulgam Manifesto sobre demarcagdo de lerrasindigenas - Insitute Humaritas Unisin que estabelecem que ninguém, além do proprio grupo, é capaz de responder a estas questdes postas pelo Estado. E ele o faz dentro determinado espaco, indissocidvel a singularidade de sua existéncia enquanto grupo, como dita a Constituicdo Federal, em seu artigo 231, caput e Paragrafo 1°, nos termos de um territ6rio cultural,conforme j foi definido pela procuradora Deborah Duprat. A medida diferencial da territorialidade e identidade de um grupo indigena esta, portanto, embutida no préprio texto constitucional. ‘Mas os processos de regularizagdo fundidria nao tratam fundamentalmente disso, ao contrério do que se poderia supor a partir das informagées acessiveis ao piblico. Absolutamente. Quando estes processos acontecem, isto é expresso direta dos direitos daquele povo sobre o espaco que ocupa ou, em muitos casos, do espaco do qual ele foi sistematicamente impedido de ocupar de forma plena, tendo sido na maior parte das vezes pilhado e usurpado. Quando se chega a este estado avangado de reivindicagao formal daquilo que de direito jé 0 pertence, 0 processo de regularizagio fundidria ¢ formalmente inaugurado através de uma portaria da Fundac&o Nacional do indio, publicada no Diério Oficial da Unio. Neste sentido, e nos termos do Artigo 1° do Decreto 1775 de 1996, 0 érgao administrativamente responsavel pela formalizagio da iniciativa e orientagio da regularizacdo, rigorosamente submetidas aos termos constitucionais, é a FUNAL 0 érgio, mais do que responsavel pela assisténcia ao indio , neste caso, um representante do Estado brasileiro e de suas diretrizes fundamentais, zelando pela adequada aplicac&o da Constituigéo, em todas as etapas da regulariz Da Portaria publicada, e conforme as disposigées constitucionais, constam a natureza do estudo, o nome e a instituigio de cada componente do grupo interdisciplinar, o munie{pio, a etnia e as Terras Indigenas que serio estudadas em tal ou qual periodo. Este grupo produzira diferentes estudos integrados e coordenados por um antropdlogo, a partir daquela publicacao, denominado de antropélogo- coordenador, conforme também determina a Constituigdo Federal. f facultativa a presenca de outros antropélogos, que sero caracterizados como “colaboradores”, de modo que no ha qualquer exigéncia constitucional neste sentido, embora seja pratica complementar da FUNAI em muitos casos. Deste estudo resultara, conforme as prerrogativas constitucionais, o Relatorio Circunstanciado de Identificagao e Delimitagao de uma determinada Terra Indigena, Este é um trabalho extenso e complexo (i... circunstanciado). _wvw.ihu.unisinos.b1f520505-antropologos-brasieros-civulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-ndigenas ang. 28/05/2021 [Antropélogos brasileros divulgam Manifesto sobre demarcagdo de lerasindigenas elaborado pelo antropélogo-coordenador a partir dos subsfdios produzidos pelo Grupo Técnico em conjunto e com a participagao do grupo indigena em questo, conforme as prerrogativas constitucionais. Também sio fundamentais os estudos de campo realizados por ele, como aqueles de gabinete, o que inclui uma conscienciosa revisio critica de fontes hist6ricas e documentais, tanto quanto de informagGes antropolégicas apuradas diretamente ou em trabalhos disponiveis sobre o grupo em questo. Uma vez tecnicamente aprovado, o Relatério tera seu resumo publicado no Didrio Oficial da Unido e também dos estados envolvidos. Conforme as disposicdes legais no Deereto 1775/96, as partes que por ventura se vejam afetadas poderdo apresentar sua contestacdo ao redo indigenista. O documento original sera também colocado & disposigdo daqueles que pretenderem contesté-lo. Considerando que o ocupante que possua titulos ou qualquer outra forma de comprovagio documental de sua ocupagio poder4, prontamente, apresent4-los ao 6rgao federal, Ihes so disponibilizados para fazé-lo, desde o inicio do procedimento demarcatério até noventa dias apés a publicagio do citado resumo no Diario Oficial da Unido. Isto, em teoria, comprovard que tais ocupacées foram feitas de boa-fé.E, uma vez constatada a boa-fé das ocupagées, as determinacGes constitucionais serao aplicadas, tais quais a indenizagio por suas benfeitorias e, para os pequenos agricultores, a prioridade no reassentamento em outros locais, se este for seu desejo. A Luz da Constituic¢do: Nada ha de criminoso ou secreto neste proceso. Ele transcorre no mesmo espaco de circunspeccao e cautela requerido por tramites cientificos, ainda mais quando se lida com matérias delicadas, como fraudes com vistas a expropriagées territoriais, semi-escravidao, esbulho de recursos ¢ gentes, Em muitos casos, a rigorosa pesquisa documental demonstra o vicio de grande parte de titulos definitivos incidentes sobre Terras Indigenas, quando analisados em sua genealogia priméria. Mas isto é ndo mais do que um agravante, porque a orientacao primeira de todo trabalho de delimitagao é a correta aplicago da Constituicao Federal e, como dissemos, dos direitos imprescritiveis dos indios as terras que diferencialmente ocupam, segundo a compreensio do texto constitucional. Ou seja, tratam-se nao apenas de “lotes” de terra, mas de espacos complexos, compostos por atributos materiais e imateriais; compreendendo as terras habitadas em cardter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindiveis & preservacao dos recursos ambientais necessdrios a seu bem-estar ¢ as necessarias a sua reprodugaio fisica e cultural, segundo seus usos, costumes ¢ tradigdes, de acordo _wvw.ihu.unisnos.b1f520505-antropologosbrasieros-civulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas 5113 28/05/2021 ‘Antropélogos brasileros divulgam Manifesto sobre demarca¢do de lerasindigenas- Insitute Humanitas Unisinos - IHU com o Paragrafo 1° do Artigo 231 da Constituigao Federal. Sobretudo, um Relatério Circunstanciado demonstra, através de documentos e estudos cientificos, os nexos fundamentais entre um povo indigena e a terra que ocupa, entre suas estratégias tradicionais de subsisténcia e, mais que isso, de “existéncia”, e o ambiente que o circunda, entre sua hist6ria e a concepgao de espaco que adota. Um espaco que é, neste sentido, insubstitufvel por outro qualquer, ainda que, por ventura, de igual metragem. Tal € a ordem singular entre um povo indigena e seu “territério”, conforme a definico constitucional. ‘Nao ha fraude ou invengao nesse proceso sério e detalhadamente disciplinado pela Constituigdo Federal. E tampouco haveria espaco para isso, se consideramos a multiplicidade de profissionais das mais variadas areas e instituigdes envolvidos. Trata-se, portanto, de um instrumento valoroso de cidadania, expressao juridica de direitos e conquistas sociais que tanto tardaram a acontecer no nosso pais. Um pais que, lembramos, é também de “indios”, conforme sua natureza pluriétnica, devidamente reconhecida pela Constituigao cidada de 1988. Vulnerabilidade: As populacdes indigenas representam 0,4 % da populac&o do pais, segundo os dados apurados pelo IBGE, em 2010. Cerca de 60% da populagdo indigena est localizada dentro dos dominios da Amaz6nia Legal. Estas populagées apresentam uma rica multiplicidade étnico-linguistica e cultural, consistindo em cerca de 220 povos, falantes de cerca de 180 linguas diferentes. Sao linguas, cosmologias e modos de vida, compondo diferencialmente um patriménio humano milenar de imensa complexidade e riqueza, normalmente desconhecido do piblico em geral. Lamentavelmente, o conjunto formado por esta rica diversidade humana constitui o segmento mais vulnerdvel da populagao brasileira. Os grupos indigenas sustentam indices de desigualdade de desfavoravel magnitude quando comparados aos segmentos mais desfavorecidos da populagao. Neste Ambito, sao surpreendentes os altos indices nacionais de mortalidade de criangas indigenas, especialmente se consideramos que esta situagéio se mantém em regides como a Sudeste e Sul do pais, paradoxalmente, aquelas que formalmente apresentam o maior indice de desenvolvimento socioeconémico. £ na garantia de um territério para seu usufruto exclusivo, livre de praticas contumazes de expropriagdo ¢ aliciamento, que est uma das chaves mais importantes para uma possivel reversao dessa situagio. _wvw.ihu.unisnos.b1f520505-antropologosbrasieros-civulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas ans, 28/05/2021 [Antropélogos brasileros divulgam Manifesto sobre demarcagdo de lerasindigenas stituta Humanitas Unisinos - IHU Da Perversa Metamorfose: Nao é possivel, por forga retorica de uma légica entortada, querer transformar esbulho, turbacio e, sobretudo, expropriagao pregressa ou atual em uma espécie de tradicionalidade aplicada as avessas em relac&o ao uso que Ihe empresta a Constituigao, como o pretendem os seculares métodos de grilagem vigentes nesse pais, com ou sem conivéncia de agentes governamentais. E eis que neste ponto se desvenda a verdadeira metamorfose perversa que assola as “terras produtivas” da “gente que trabalha’, ponto de partida de nossas reflexées: os interesses privados de um pequeno grupo de latifundidrios rurais e supostos beneficios econdmicos, que nao revertem diretamente ao bem-estar da populagio brasileira, ganham, subrepticiamente, ares de permanéncia, imprescindibilidade e imemorialidade. E este ¢ tratado como 0 tinico caminho possivel e indiscutivel para a nagao. A Constituigdo Federal garantiu aos habitantes originarios desta terra, tardiamente chamada Brasil, seus direitos também origindrios. Isto por razes de ordem histérica e antropolégica, mas também em nome do devido resguardo da cidadania de todos os seus habitantes. O reparo de um genocidio continuado e reconhecido, como também a garantia de uma nado plural. Por isso nfo ha o menor cabimento na suposta ideia de que o Estado ndo deve mais demarcar as terras indigenas, caleada de forma totalmente arbitréria e ditatorial sobre se ter chegado ao “fim” desse processo pura e simplesmente, sem que seus erros (inumerdveis) do passado tenham de ser corrigidos. & importante também trazer a luz para o piblico em geral, que ndo ha necessidade de demarcacdo formal para que o direito originario dos povos indigenas sobre seu territ6rio seja efetivamente respeitado, conforme as es do Art. 25 da lei 6.001 de 1973, conhecida como o “Estatuto do indio”. As atribuigdes de um Relatério Circunstanciado de Identifica disposi Delimitagiio sdo, justamente,reconhecer e delimitar, e nao propriamente estabelecer os direitos as suas terras. Estas sao, nas palavras da lei, inalienaveis, indisponiveise imprescritiveis, conforme o Pardgrafo 4° do Art. 231 da atual Constituigdo Federal. Ou seja, nado podem ser transferidas para outrem, usufruidas por ninguém além do proprio grupo e nem passiveis de serem extintas, por qualquer decisao, Decreto ou Portaria. Por esta mesma razao, qualquer ocupagdo ou empreendimento que tenha lugar nestes mesmos espagos 6, por determinagao constitucional, nulo e extinto, de pleno direito, conforme os pardgrafos 4° e 6°, do artigo 231 da nossa atual Constituicéo. O mesmo se aplica a atos deexploragdo de recursos de solo, rios e lagos, que tém efeito juridico nulo e sobre os quais os indios tém direito de usufruto exclusivo. _wvw.ihuunisnos.b1f520505-antropologosbrasieros-civulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas 713 28/05/2021 ‘Antropélogos brasileros divulgam Manifesto sobre demarcacdo de lerasindigenas- Insitute Humanitas Unisinos - IHU Portanto, nem “indios” e nem uma “terra” ou um “espaco” indigenas, sao inaugurados a partir de um processo formal de regularizago. Ao contrario, sua existéncia antecede a este processo, que dela decorre. Quando, finalmente, uma Portaria no Dirio Oficial da Unido determina a constituig&o de um Grupo Técnico que produziré um determinado Relatério Circunstanciado de Identificagao e Delimitaggio e que trata de aspectos miiltiplos e interdisciplinares da relagao entre um povo ¢ 0 que ele entende como seu espago, isto acontece porque a demanda de regularizago é j4, de fato e direito, legitima. Neste sentido, os processos de regularizacao fundidria indigena tém sofrido uma desfiguragao muito semelhante Aquela que vem reconhecidamente acontecendo aos processos de licenciamento ambiental no pais. Assim, ages e decisdes de politicas piblicas que primam pela cidadania e reconhecimento de direitos sociais duramente conquistados ao longo do tempo, aqueles que vigem sobre a “vida” e sobre as “pessoas”, vo sendo, ao mesmo tempo, soterrados por uma idéia empresarial da nac&o, que toma o desenvolvimento econémico de forma unilateral e completamente apartada do desenvolvimento humano. Abafando a existéncia ou a razio daquelas “vozes” de direito, sio normalmente evocados ganhos e perdas econémicos, de “produtividade” e outros indicadores que, como sabemos, podem estar em completo desacordo com a realidade da vida das pessoas nas cidades e no campo. E, no entanto, a pratica nos tem mostrado que, mesmo quando reconhecidos os incontestaveis efeitos negativos de determinados empreendimentos, como por exemplo, os hidrelétricos, eles tém sido, sempre, executados. Diante de outras possiveis matrizes energéticas (ou de reaproveitamentos de sistemas preexistentes), e mesmo nfo cumpridas suas condiges juridicas de estabelecimento e funcionamento, como a consulta piiblica as populagdes atingidas, previstas tanto na legislagdo vigente quanto em pactos internacionais assinados pelo Estado brasileiro, a énfase recai sobre as vantagens formalmente econdmicas de tal ou qual projeto, antes do que sobre seu impacto, muitas vezes devastador, na vida das pessoas. ‘Trevas ou Luzes? Nada, nem mesmo a ideologia empresarial, pode ser sobreposta a Constituigao Federal do pais ou justificar sua brutal violacdo. Seu fim primordial é garantir fundamentalmente o bem-estar de sua populagéo como um todo, o que inclui todos os segmentos diferenciados do pais e as geracdes vindouras. Mais do que noticias alarmantes e discursos que visam 0 bem privado, cobramos todos os setores envolvidos, incluindo os meios de _wvw.ihu.unisnos.b1f520505-antropologos-brasieros-civulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas ans, 28/05/2021 Antopsoges rasaosdvigam Manteo sobre demarcagto delaras inlgena nelle Humanitas Unisinos- IMU comunicagiio brasileiros, que tornem acessiveis a populagao, antes de mais nada, as luzes da Constituigaio Federal do nosso pats. De que tratam e para quem servem os tais caminhos unilaterais de “progresso” e “desenvolvimento” de uma nagao, se eles nao sfio acompanhados, passo a passo, por seu desenvolvimento humano e do respeito & sua Constituicga0? Neste reduto, o que ha so apenas trevas. Adriana Romano Athila, antrop6loga, Santa Catarina Adriana Strappazzon, antropéloga, Santa Catarina Ana Beatriz de Miranda Vasconcelos e Almeida, enfermeira, Mato Grosso ‘Ana Claudia Cruz da Silva, antropéloga, Rio de Janeiro ‘Ana Maria R. Gomes, antropéloga, Minas Gerais ‘Ana Maria Ramalho Ortigio Farias, médica, Rio de Janeiro ‘Ana Paula Lima Rodgers, antropéloga, Rio de Janeiro André Demarchi, antropélogo, Tocantins Andreia Fanzeres, jornalista, Mato Grosso Angela Sacchi, antropéloga, Distrito Federal Antonio Carlos Mendonca Viana, estudante de antropologia, Rio de Janeiro Antonio Carlos de Souza Lima, antropélogo, Rio de Janeiro Antonio Hilario Aguilera Urquiza, antropélogo, Mato Grosso do Sul Barbara Maisonnave Arisi, antropéloga, Parana Barbara Villa Verde Revelles Pereira, jornalista, Parana Beatriz Carretta Corréa da Silva, linguista, Distrito Federal Betty Mindlin, antropéloga, Sao Paulo Bruno Emilio Fadel Daschieri, antropélogo, Rio de Janeiro Bruno Simionato Castro, engenheiro florestal, Mato Grosso CAndido Eugénio Domingues de Souza, Historiador, Bahia Carlos Eduardo Rebello de Mendonea, socidlogo, Rio de Janeiro Carmen Junqueira, antropéloga, Sao Paulo Carmen Rial, antropéloga, Santa Catarina Carolina Souza Pedreira, antropéloga, Distrito Federal io Brancaleone, socidlogo, Rio Grande do Sul Cecilia Malvezzi, médica, Sio Paulo. Celia Leticia Gouvéa Collet, antropéloga, Acre Cinthia Creatini da Rocha, antropéloga, Santa Catarina Clarissa Rocha de Melo, antropéloga, Santa Catarina Daniel Bitter, antropélogo, Rio de Janeiro Daniel Garihatti nradntar da daenmantérine Fenanha _wvw.hu.unisnos.b1f520505-antropologosbrasieros-cvulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas ans. 28/05/2021 ‘Antropélogos brasileros divulgam Manifesto sobre demarcagdo de lerasindigenas - Insitute Humanitas Unisinos - IHU Waiich GaLiWULU, PIUGULUE UC HULUIIEHLaL US, LOpauiia, Daniel de Oliveira Santos, farmacéutico, Mato Grosso David Rodgers, antropélogo, Rio de Janeiro Denise Cavalcante Gomes, arquedloga, Rio de Janeiro Diego Giuseppe Pelizzari, indigenista, Parana Diego Madi Dias, antropélogo, Rio de Janeiro Diogo de Oliveira, antropélogo, Santa Catarina Edison Rodrigues de Souza, antropélogo, Bahia Edviges Ioris, antropéloga, Santa Catarina Eduardo Pires Rosse, antropélogo, Franca Eliana de Barros Monteiro, antropéloga, Pernambuco Eliana E. Diehl, Farmacéutica (Satide Indigena), Santa Catarina Emanuel Oliveira Braga, antropélogo, Paraiba Emilia Juliana Ferreira, antropéloga, Distrito Federal Esther Jean Langdon, antropéloga, Santa Catarina Eunice Dias de Paula, pedagoga e linguista, Mato Grosso Fabiane Vinente dos Santos, antropéloga, Amazonas Fabio Christian de Carvalho, administrador, Mato Grosso Fanny Longa Romero, antropéloga, Rio Grande do Sul Felipe Agostini Cerqueira, antropélogo, Rio de Janeiro Felipe Bruno Martins Fernandes, antropélogo, Santa Catarina Fernanda Ratto, psicdloga, Rio de Janeiro Flavio Wiik, antropélogo, Parana Flora Monteiro Lucas, antropéloga, Rio de Janeiro Georgia da Silva, antropéloga, Distrito Federal Gilberto Azanha, antropélogo, Distrito Federal Giovana Acacia Tempesta, antropdloga, Distrito Federal Hein van der Voort, Linguista, Para Helena Tenderini, antropéloga, Pernambuco Hélio Barbin Junior, médico e antropélogo, Santa Catarina Heloisa Barbati, estudante de Antropologia, Italia Henry Luydy Abraham Fernandes, antropélogo, Bahia. Henyo Trindade Barretto Filho, antropélogo, Distrito Federal Jacira Bulhées, antropéloga, Mato Grosso. Jackson Fernando Régo Matos, Engenheiro Florestal, Para Jeremy Paul Jean Loup Deturche, antropélogo, Santa Catarina Joao Batista de Almeida Costa, antropélogo, Minas Gerais José Andrade, antropélogo, Para Joao Daniel Dorneles Ramos, socidlogo, Rio Grande do Sul _www.huunisnos.b1/520505-antropologos-brasieros-clvulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas 1013 28/05/2021 Antop6iogs brasiosdiulga Manifesto sobre demarcarso ds teas indigenas Inte Humans Unsinos- IMU José Ronaldo Mendonga Fassheber, antropélogo, Parana Juracilda Veiga, antropéloga, Sao Paulo Jurema Machado de Andrade Souza, antropéloga, Bahia Juliana de Almeida, antropéloga, Amazonas Katia Maria Ratto, médica, Rio de Janeiro Larissa Menendez, antropéloga, Mato Grosso Laura Graziela F. F. Gomes, antropéloga, Rio de Janeiro Lea Tomas, antropéloga, Distrito Federal Léia de Jesus Silva, linguista, Goids Leonardo Pires Rosse, etnomusicélogo, Minas Gerais Leonardo Santos Leitio, socidlogo, Santa Catarina Lisiane Koller Lecznieski, antropéloga, Santa Catarina Lucia Helena Rangel, antropéloga, Sio Paulo Lucia Hussak van Velthem, antropéloga, Distrito Federal Luciana Gongalves de Carvalho, antropéloga, Para Lucila de Jesus Mello Gongalves, psicanalista, Sao Paulo Maria Audirene Cordeiro, linguista, Amazonas Maria Christina Barra, antropéloga, Minas Gerais Mariana Corréa dos Santos, cientista social, Rio de Janeiro Mariana Cristina Galante Nogueira, servidora piblica federal, Sao Paulo Maria Dorothea Post Darella, antropéloga, Santa Catarina Maria Laicia Haygert, antropéloga, Santa Catarina Maria Rosario Carvalho, antropéloga, Bahia Marina Monteiro, antropéloga, Santa Catarina Marina Pereira Novo, antropéloga, Sao Paulo Marcia Leila de Castro Pereira, antropéloga, Distrito Federal Marcos Alexandre dos Santos Albuquerque, antropélogo, Rio de Janeiro Marcos de Almeida Matos, antropélogo, Acre Marcus Vinicius Carvalho Garcia, antropélogo, Distrito Federal Maria Fernanda Salvadori Pereira, antropéloga, Santa Catarina Marlene Lticia Siebert Sapelli, Educadora, Parana. Marta Caravantes, jornalista, Espanha Martinho Tota Filho Rocha de Aratijo, antropélogo, Rio de Janeiro Matteo Raschietti, filésofo, So Paulo Mauricio Soares Leite, nutricionista (saitde indigena), Santa Catarina Mauro Silveira de Castro, farmacéutico, Rio Grande do Sul Miguel Aparicio, antropélogo, Amazonas Mirella Alves de Brito, antropéloga, Santa Catarina Nadia Heusi Silveira, antropéloga, Santa Catarina _wvw.ihu.unisnos.b1f520505-antropologos brasieros-civulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas a3 28/05/2021 Antop6iogos brassiossiulgar Manifesto sobre demarcarso ds teas indigenas Inve Humans Unisinos- IMU Odair Giraldin, antropélogo, Tocantins Paulo Humberto Porto Borges, Educador, Parana Peter M.I.B. Beysen, antropélogo, Rio de Janeiro. Philippe Hanna, antropélogo, Holanda Raquel Mombelli, antropéloga, Santa Catarina Renan Reis de Souza, antropélogo, Rio de Janeiro Ricardo Ventura Santos, antropélogo, Rio de Janeiro Rinaldo Sérgio Vieira Arruda, antropélogo, So Paulo Robson Rodrigues, arqueélogo, Sao Paulo Rodrigo Marcelino, bidlogo, Mato Grosso Rodrigo Toniol, antropélogo, Rio Grande do Sul Roberto Salviani, antropélogo, Rio de Janeiro Robin M. Wright, antropélogo, Sio Paulo. Rosdngela Pereira de Tugny, etnomusiedloga, Minas Gerais Senilde Alcantara Guanaes, antropéloga, Parand Sergio Baptista da Silva, antropélogo, Rio Grande do Sul Silvana Jesus do Nascimento, antropéloga, Mato Grosso do Sul Silvana Sobreira de Matos Patriota, antropéloga, Pernambuco Sonia Weidner Maluf, antropéloga, Santa Catarina Soren Hvalkof, antropélogo, Dinamarca Suzana Castanheiro Uliano, antropéloga, Santa Catarina Tatiana Dassi, antropéloga, Santa Catarina Thiago Mota Cardoso, antropélogo, Santa Catarina Tiago Moreira dos Santos, antropélogo, So Paulo Waleska Aureliano, antropéloga, Rio de Janeiro Wellington de Jesus Bomfim, antropélogo, Sergipe Vanessa Alvarenga Caldeira, antropéloga, Sao Paulo Vaneska Taciana Vitti, antropéloga, Sao Paulo Victor Amaral Costa, antropélogo, Sao Paulo Férum da Amaz6nia Oriental — FAOR Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos/ Sao Paulo Comité Metropolitano Xingu Vivo Leia também: Conjuntura da Semana. Gigantesco retrocesso. Governo cede a ruralistas e “pée fim” 4 demarca _wvw.ihu.unisnos.b1/520505-antropologosbrasieros-civulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas sans. 28/05/2021 Aniropélogos brasileros divulgam Manifesto sobre demarcago de lerrasindigenas - Instituto Humanitas Unisinos ~ IHU Comunicar erro DEIXE SEU COMENTARIO <> _wvw.hu.unisnos.b1f520505-antropologos-brasileiros-cvulgam-manifesto-sobre-demarcacao-de-terras-indigenas 1313

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