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A queda do império da navalha e da rasteira (a Reptiblica e os capoeiras) * Existe uma vasta literatura em torne dos eventos que inauguraram o regime republican no Brasil, Essas obras, tradicionalmente, bus- cam dar conta das causas da Reptblica e da Teconstituiciio operada no sistema politico, A recente voga da hist6ria social, ou das mentalidades, reverteu parcialmente essa ten- déneia, buscando recuperar a repercussio do fato politico sobre a vida e os costumes dos habitantes. © impacto da transformagaéo € ainda mais crucial no caso especffico dos moradores do Rio de Janeiro, centro nervoso da atividade politica nacional. Na capital do pais, a posi¢io individual diante dos eventos politicos podia ter importantes conseqiiéncias para 0 cotidiano © as relagdes sociais dos envolvidos, E 9 dile- ma clfssico de Custédio, personagem de Esai © Jacé envolvido na dificil escolha do nome 4 ser inscrito na placa de sua confeitaria, o qual poderia, segundo as reviravoltas da situa $40 politica, criar-Ihe graves problemas. Os temores de Custédio eram as diividas de mui- tos, Estudos Afro-Asidticos, (20):239-256, junho de 1991 Marcos Luiz Bretas** * Recebide para publicagdo em novernibro de 1990, *+* Pesquisador da Fundagéo Casa de Rui Barbosa, Os primeiros passos da Reptiblica sfo da~ dos em meio & incerteza sobre a estabilidade do novo regime, Apadrinhada pelo Exército, a nova forma de governo nao encontra consti- tufdas bases sociais s6lidas em que se apoiar, de alguma forma, todos estavam bestializados diante das mudangas. E o momento de cons- tmuir as identidades as diferengas, de definir quem sao 0s republicanos ¢ seus inimigos, 8 monarguistas, Em Gltima instiincia, € 0 mo- mento de definir por que e em que essa tal Re- Ptblica difere de algo anterior chamado “Im- pério”. A imprensa, apés 15 de novembro, de- dica largo espago as incertezas das conspira- g6es © do adesismo, Os republicanos originais ge sentem ameacados pela reagdo de fora e de dentro do novo regime, E necessério afirmar 08 valores novos do idedrio republicano e de- marcar a diferenca com a situagiio decaida, E nesse conflito que os capoeiras se tornam vi- timas. Problema urbano que a ordem imperial néio pode ou niio soube resolver, os capociras enfrentario com a Rep(iblica vigorosa cam- panha de exterminio. 239 IMPERIO DA NAVALHA E DA RASTEIRA ‘A repressio & capoeiragem no infcio da Repiblica nao € assunto desconhecido para os historiadores do perfodo, mas foi quase sem- pre tratada como curiosidade ou ilustracio, Sdo, na frase de Gilberto Freyre, os “simples menindes turbulentos: mulatos que navalha- vam ventres de portugueses por puro sadismo de adolescentes pobres contra adultos ricos”, substituidos por formas criminosas mais mo- demas, “criminosos finos; brancos; pacholas; anéis nos dedos; botées de ouro nos punhos’ Em meio aos afazeres da consolidacio da nova ordem, ainda havia tempo para prender e de- portar capociras, Esses quase pés-de-pdgina da historiografia, entretanto, servem para pre- servar alguns pequenos mitos em torno da fi- gura do valente capoeira — pilar da resisténcia cultural do negro - e do heréi branco - 0 chefe de polfcia que contrariou os paderosos ¢ resolveu um dos problemas da cidade. Quan- do © tema periférico se transforma no objeto da atengo, um problema se revela: quem sfio esses heréis? Mesmo sem um exaustivo le- vaniamento das fontes porventura existentes, € possivel comentar alguns problemas na ima- gem construfda de capociras ¢ seus represso- res, OS CAPOEIRAS Em torno de uma questo como “quem sfio 0s capoeiras”, nenhuma resposta satisfatéria pode ser construfda, Existe uma diversidade espacial ¢ temporal que permite a convivéncia de muitas realidades envoltas sob 0 mesmo conceito, Mesmo quando restringimos nossa interrogaciio ao personagem carioca do século XIX, a resposta ainda néio pode ser exata. © capoeira figura comum na crinica do Rio de Janeiro no século passado, Numa ver- sdo da imprensa, ““o capoeira era o terror, 0 painico, o espectro impalpavel da populagéo” € era preciso elimind-lo para que © burgués pu- 240 desse dormir tranqiiilo, “sem ver em sonhos reluzir a terrfvel navalha”* Na definigéo nfo menos literdria do Cédigo Penal de 1890, eram individuos que se entregavam a “exercicios de agilidade ¢ destreza corporal”, em que predo- minavam cabegadas, rabos-de-arraia e a mal- fadada navalha. As origens do termo e da forma de luta se perdem no perfodo colonial, mas 0 que se pode ter como certo € que desde o inicio do século XIX jé hd na cidade o capoeira enquanto per- sonagem, Registros policiais ¢ prisionais indi- cam a presenga desse elemento de perigo nas ruas do Rio, associando a ameaga a cor — quando ndo diretamente 4 condi¢ao de escravo —e A presenga da navalha? Durante todo 0 perfodo imperial o capoeira vai percorrer a imprensa ¢ os registros poli- ciais como uma das grandes ameacas A segu- Tanga nas ruas, atacando ¢ navalhando estran- geiros incautos ou escravos bem comportados. ‘As maltas — bandos de capoeiras — tomam parte nos grandes eventos da vida urbana: desfilam sempre & frente das bandas de miisica © procissées, exibindo sua destreza ¢ provo- cando tumultos, e so também, pouco a pouco, incorporadas 8 atividade politica, produzindo seguranga ou inseguranga, dependendo de quem seja o dono do comicio ¢ da eleigao. Exército das ruas disponfvel para liberais € conservadores, os capoeiras se incorporam ainda ~ através das priticas do favor — nas fi- leiras das forgas regulares, agentes de policia eximios navalhistas, celebrando a identidade entre ordem e desordem, Raul Pompéia resu- me assim essa mistura: O Chefe de Polfcia & wma vitima assim das agbes e reagées da coeréncia fatal. Entrou na repartigéio Deus sabe porque © para qué, Faltava a guarda urbana das sgloriosas tradigées: 0 bas-fonds policial nha uma lacuna, O sr. Coelho lembrou-se dos capoeiras (...) rapazes Além ‘see senda por ele, néo serigm. co” Estudios Airo-Asidtioas 0° 20+ tra ele: aplainava-se wm obstticulo (..) As navalhas! Ea navalha comegou a ser uma coisa im- prescindtvel, na Rua do Lavradio. Hoje em dia, @ navalha reina, Aquilo que, em princt- pio, era wn simples recurso Secreto, para completar 0 quadro dos mantenedores da seguranca piiblica, € agora o elemento vital caracterfstico de wna administragdo. Os permanentes vido usar, ao peito, em vez do cldssico apito, uma navalha pendente. A navalha € a obsessao do sr. Bastos. Ele quer ver reldmpagos de aco no ar; apaixo- nou-se pelos gumes afiados. Declarou-se defensor perpémo das nobres classes dos navalhistas e dos barbeiros, Comprou até, para seu uso, uma espléndida folha Rod- gers de cabo de marfim, sua companheira inseparével, Com esia navalha, ele raspa a cabeca dos negros. Os seus agentes subalternos raspam as barrigas, o chefe raspa as cabecas.* Apesar da participacdo intensa dos capoei- ras na vida social do Rio de Janeiro imperial, Pouco registro deixaram sobre suas atividades quando nfo estavam metidos em confusées. Um perfil desses elementos pode ser tentado através dos dados coletades nos registros da Casa de Detengdo, Foram localizados 105 ca- Pociras presos entre 21 de julho € 19 de se~ tembro de 1885 e 110 capoeiras presos no pe- Tiodo que vai de 15 de novembro de 1889 a 13 de janeiro de 1890, O mimero de prisdes de capoeiras em dois meses quase igual, mas a situagdo muda um pouco se tomarmos 0 uni- verso das prises realizadas no periodo, As Pris6es de capoeiras em 1885 séo aproxima- damente 10% do total, nftmero que cresce para Quase 15% em 1889. Aparentemente o inicio da Repiblica reduz o ritmo das prisdes co- imuns, mas a folga nJo foi estendida aos ca- Poeiras. Isso sem falar no grands ntimero de Prisées sem motivo apresentado em 1889, que Estudos Atro-sidticas n? 20, 1981 MARCOS LUIZ BRETAS poderia ser parte da campanha contra os ca- poeiras mas que nao péde ser contado, Chama atengfo a grande presenga de ‘brancos (Quadro I) entre os caposiras , mais especificamente, de europeus (Quadro II), En- quanto os dados apresentados por Thomas Holloway® para meados do século indicam a presenga maciga de negros, as dados de 1885 apresentam mais de 20% de capoeiras brancos, mnimero que chega a quase um tergo em 1890, A presenga branca, pouco ressaltada na pri- meira metade do século, aparece também na correspondéncia diplomitica francesa nos anos citenta do século passado, registrando que a “maior parte [dos capociras] € de mulatos; suas associagSes contam com um certo nimero de brancos e, as vezes, estrangeiros (italianos, gregos, portugueses, mas néo espanhdis)". ‘Também no romance Os capoeiras, de Plicido de Abreu — publicado nessa época -, siio cita- dos capoeiras de origem estrangeira, chamados Francés, Aleméozinho ou José Portugués.” A forte presenga portuguesa no meio da capoeiragem chama a atencfo para a forte se- melhanga com a boemia popular de Lisboa do século XIX: os fadistas. Um cronista portu- gués da virada do século chega a afirmar que 0s capoeiras s40 os fadistas do Rio de Janeiro. Unidos na tradigéo de brigas e conflitos, fa- distas © capociras compartilham a arena de predilegdo, a navalha. A descricao lisboeta bem serviria no Rio de Janeiro: O fadista (...) & wm produto heteromorfo de todos os vicios, atinge a perfeigéo ideal do igndbil. Tem sempre um raciocinio imperio- so, um argumento pouco fridvel, uma dialé tica agressiva € resoluta que ndo presta flanco ao assalte das objec5es — a navatha (...) Ele fala de cadeira no tocante & esgri- ma da navalha, que maneja com virtuosida- de, pinchando baitheiro, pulando com gi- ndsticas felinas de tigre, fazendo escovi- nhas, riscando a preceito.? 2ay IMPERIO DA NAVALHA E DA RASTEIRA QUADRO | Capoeiras presos por cor con 1885 1890 w % we % Brancos 23 21,9% 36 92,7% Pretos 38 36,2% 33 90,05 Outros: 44 41,9% 4 37.3% Total 108 100% 110 100% QUADRO tt Capoeiras presos por local de nascimento Locars 1085 1890 J * we % Rio de Janeiro 48 45,7 a7 23 Estado do Alo " 10,5 10 91 Nordeste 9 a6 16 14,5 Sudeste 8 76 8 72 Sul 1 1,0 4 36 Norte 2 19 - - Europa 2 21,9 7 15,4 Paraguai ca - 1 0,9 Agores @ Cabo Verde = - 2 1,8 No-identificados 3 2,8 5 45 Total 105 100,0% 110 99,3 E se aqui encontramos os europeus, em Portugal esto o Epiffcio Mulato e o Manuel Saragoca, “que jf esteve em Africa”. Portu- gal, Africa ¢ Brasil tergando armas e culturas. Os fades do Bairro Alto no causariam es- panto nas rodas de capociras.* O registro das profissées (Quadro III) exi- diffeeis para quem nfo trabalhava, sujeito as prisées por vagabundagem. Por isso era pre- ciso ressaltar a insergSo no mercado de traba- tho, ainda que vagamente, afirmando-se tré- balhador, Duvidosas também seriam as PTO- fissdes declaradas, ainda que adequadas 20 universo profissional da probreza, compost de artesdos, vendedores ambulantes a fos transportes ¢ servigos urt z par deles sem hordrio e trabalhando 088 ruas — império da capoeira —, como os muitoS Estudos Alto Acidlicos n® 20, 198% QUADRO I Profiss6es dos presos por capoeiragem ee es PROFISSAO 1885 1890 Trabalhador Vendedor de tathas Cozinheiro Empalhador Cigarreira Pedreiro Copeira ‘Carregador Servente Cocheiro Caixeiro 3B Ferreiro ‘Vendedor de bilhetes Assistente de cozinna ‘Vendedor de balas Pintor Bombeiro hidréulico Lustrador Funieira Caldelreire Empregado pdblico ‘Carpinteiro Fundidor ‘Condutor de bondes Catraleiro Foguista Entegador de foinas Cavoqueira Aparethador de gas Pescador Cambista Camoceiro Maquinista Distribuidor de folhas ‘Ajudante de torneiro Malhador Som profissio Nada consta Engraxador fig G7 fitina mi Gl mt magonco sane e EU EERE WEES eEKAWS Rae! Sil SST GS SU 8 SUES BRST ART UF 0 4 Cod Poe hee ieee Estudos Alro-Asidticos n? 20, 1901 ia. MARCOS LUIZ BRETAS. vendedores de folhas presos em 1885, ou os cocheiros de 1890. Definir a profissio no significava uma melhor condigéio de vida diante do apenas “trabalhador", Hé excegées, como Abel Ribeiro Franco, trabalhador, bran- co, 21 anos, um dos poucos presos que se mantém & propria custa, recusando a duyidosa hospedagem da Casa de Detenciio, Um olhar mais aproximado nos capociras presos em 1890 permite vé-los em sua diversi- dade nao-quantificdvel, compondo o retrato da marginalidade carioca no final do século XIX. Embora o grosso dos detidos esteja na faixa dos 18 aos 23 anos (Quadro IV), a varia- go real vai dos 17 anos aos 58 anas.!? Que hist6rias ndo nos poderiam ser contadas pelo velho cambista Jovino Braga, do alto de seus 58 anos ¢ cabelos grisalhos, acusado de ca- pocira apesar da idade ¢ da cegueira na vista direita. Aparentemente se tratava de uma de- tengéo equivocada, pois Jovino escapou do destino comum da capoeiragem = a Ilha de Fernando de Noronha — e foi solto. Mesma sorte nfo teve o cocheiro Indcio Francisco de Sousa, um preto de metro e oitenta enviado para o Arsenal, apesar de seus 48 anos ¢ de ser uum dos poucos casados entre os detidos. Os jornais noticiam as detencdes, permitin- do conferir algumas celebridades em meio aos QUADROIV Distribuic¢éo dos capoeiras por idade IDADE 1885 1890 Menos de 18 28 1 18a23 45 61 2ha29 10 25 20438 9 9 adi 8 10 Mais de 41 4 4 Total 105 110 IMPERIO DA NAVALHA E DA RASTEIRA mimeros frios. A edigéo do jornal Novidades de 20 de dezembro de 1890 informa se en- contrar no xadrez da 3! Estacdo Policial o “famoso capoeira Jofio Batista da Cruz". No dia 23, 0 mesmo Cruz dé entrada na Casa de Detengdo: € o némero 4.509, pardo baiano de 40 anos, de profissdo carregador, residente na Rua da Constituigaéo ¢ apresentando sinais da escréfula no pescoge. Ainda no dia 23, tor- na-se noticia 0 vendedor de balas José de Sd Gamboa, vulgo Perna de Pau, que, “apesar de ter apenas uma perna, segundo testemunhas, ofercceu resisténcia a 3 ou 4 pracas”. Na de- tengo o portugués condutor de bondes — ¢ perceba-se como as profissGes mudam —, de 19 anos, José de S4 Gamboa, que tem a perna esquerda de pau, ganha o niimero 4.532. Mais um que nao escapou de seguir para o Arsenal. A imagem dos capoeiras € a reprodugo das muitas faces da pobreza. Desfilam cegos, per- netas, escrofulosos, todos reunidos sob o manto igualitério e discriminador de capoeiras. Figuras talvez imponentes ou assustadoras como o negro Emigdio José Maria, do alto de seus um metro e 81 centfmetros, com uma be- lida na vista esquerda, ou seu companheiro co- cheire, 0 portugués José Moreira dos Santos, de um metro ¢ 87 centimetros, partilhando, la- do a lado, da m4 sorte do pardinho Antonio José Soares, um mineiro de 37 anos ¢ metro ¢ meio, ou o entregador de folhas Alfredo José Rodrigues de Lima, de 17 anos. Multidéo de inlimeras faces e quase uma s6 luta — a da so- ‘brevivéncia, Quase todos jovens, porque en- velhecer era negécio nfo muito garantido, Ca- da passado devia conter uma histéria, en- quanto o futuro seria quase sempre em branco. Ao retomar o assunto sobre quem sio os capoeiras, nio seria esse grupo que os cronis- tas da belle épogue gostariam de recordar. Muito préximos e muito assustadores, nio eram apropriadas para provocar saudades. Era preciso criar um outro capoeira, um capoeira de antigamente, para ser um her6i de nosso tempo. 24a A versio ilustrada da capoeira comega a surgir ainda em pleno perfodo repressive. A edigdo de 14 de dezembro de 1889 da Revista Itustrada j4 informava que Melo Moraes Filho iria “langar um alongado artigo, no qual de- fender a ‘flor da gente’, por ser nacional, por ser antiga entre nés, nfo podendo, pois, ser eliminada ex-abrupto™. © artigo de Melo Mo- raes a que se refere a Revisia Ilustrada, “Ca- poeiragem ¢ capoeiras célebres”, nos fornece a base da interpretaciio moderna da capoeira © seria publicado no livro Festas e tradigdes populares do Brasil.'* De acordo com Melo Moraes, a capoeira era 0 esporte nacional por exceléncia, Infeliz~ mente, a contribuigao brasileira cultura fisica havia sido “entusiasticamente levada a exces- sos pelo pove baixo, que a afogou nas desor- dens, em correrias reprovadas, em homicidios horrorosos”."2 Era preciso diferenciar as “maltas do passado” — de antes de 1870 —dos vagabundos e ratoneiros, gatunos ¢ assassinos, que vinham se passando por capoeiras, O que um dia foram “luzidas companhias de bata- Indes da guarda nacional, de que tinham or- gulho os briosos comandantes”, passou a ser “apenas visto pelo que tem de mau e barbaro”. Na capoeira vista por Melo Moraes, 0 des- taque ia para os grandes ases do passado — notadamente © Manduca da Praia —e para 08 jogadores que nao vinham do povo baixo. Ele distribufa indiscriminadamente os diplomas de valente ¢ encontrava “capoeiras de fama” em todo lugar: “no Senado, na Camara dos De- putados, no Exército, na Marinha, no funcio- nalismo ptiblico, na cena dramdtica ¢ mesmo no claustro”, Na sua galeria de grandes Ca- poeiras esto professores de francés do Colé- gio Pedro II e frades do Carmo, dando rastei ras em meio a procissdes. Seus continuaderes aumentariam a lista, incorporando as maltas de capoeiras grandes nomes como o do bardo de Rio Branco ¢ 0 do chefe de policia Sampme Ferraz. Estudos Atro-Asidtioas n® 20, 188% -_ Parece ser uma tradicdo atribuir a persona- gens célebres a prética da capoeiragem na ju~ ventude. De fato, alguns filhos de familias da elite se aproximaram da capoeiragem sem, 10 entanto, pelo menos os nomes conhecidas, al- cangarem repercussao posterior. E a caso do. filho do bardo de Penedo, classificado pela di- plomacia francesa como “um mau sujeito, um. dos chefes ocultes dos capoeiras no Rio, € presidente de fato de todas os tumultos”.'? O mais célebre, porém, é José Elisio dos Reis, © Juca Reis, filho do proprietério do jornal O Paiz ¢ freqiientador habitual da crénica poli- cial, mandado para Fernando de Noronha por ‘Sampaio Ferraz, ‘A recuperagdo da capoeira vai ser consa- grada pelos maiores cronistas da belle époque, chegando ao auge na pena de Coelho Neto. Em margo de 1906 a revista Kosmos publica um artigo que ressalta a superioridade da ca- poeira sobre as outras Iutas populares nacio- mais: “a savata francesa, © jite-jitsu japonés, © box inglés, 0 pau portugués”, A capocira seria a grande arte de defesa do fraco contra o forte, elaborada pelo mestico brasileiro: Criou-se 0 esptrito inventivo do mestico, porque a capoeira ndo & portuguesa nem & negra, & mulata, é cafusa e é mameluca, isto é—€ cruzada, & mestiga, tendo-the 0 mesti~ 0 anexado, por princtpios atdvicos ¢ com adaptagéo inteligente, a navatha do fadista da mouraria lisboeia, alguns movimentes sambados e simiescos do africano, e, so- bretudo, a agilidade, a levipedez felina e Pasmosa do indio nos saltos répidos, leves € imprevistos para um lado e outro, para vante e, surpreendentemente, como wm ti- srino real, para trés, dando sempre a frente ao inimigo."* Mas a capoeira das maltas de antigamente ¢ra uma arte que j4 no mais existia, substituf- da por “masorqueiros navalhistas, faquistas” indignos da tradigdo da luta. Escrevendo nos anos 20, Cociho Neto — que preconizava o en- Estudos Airo-Asidticos n? 20, 1981 MARCOS LUIZ BRETAS sino dessa “excelente gingstica” em eolégios, quartéis © navios — jé podia sentir saudade do tempo em que berdicos capociras escreviam nas ruas do Rio paginas de um romance de ca- valaria: O capoeira digne ndo usava navalha, tim- brava em mostrar as mdos limpas quando sata d’um TURUMBAMBA, Generoso, se irambolhava o adversdrio, esperava que ele se levantasse para continuar a luta porque: “No batia em homem deitado” ; outros di- iam, com mais desprezo: “em defunto”. Nos terrtveis recontros de guaiamus e na- gs, se os chefes decidiam que wna questdo fosse resolvida em combate singular, en- quanto os dois representantes das cores vermelho ¢ branco se batiam, as duas mal- tas conservavam-se a distancia e, fosse qual fosse o resultado de duelo, de ambos os la- dos rompiam aclamagées ao tritenfador.'5 Tudo isso, segundo Coelho Neto, desfez-se com © advento da navalha, A arma covarde transformou o conceito dos capoeiras, com os valentes dando lugar a “assassinos cujo prazer sanguindrio consistia em experimentar. sardi- nhas em barrigas do préximo, deventrando- as”. A honra do esporte nacional ficava res- guardada apenas nas faganhas do Cyriaco ~ jf no inicio do século XX -, “fazendo afocinhar com toda a stia ciéncia 0 jactancioso japonés campedo do jiu-jitsw”, ¢ nas vit6rias do Man- duca diante do brigio portugués Sant’ Anna e Vasconcelos, que, segundo Melo Moraes, sal- tou “nos ares ao primeira canele do nosso ca- poeira”."® Mas a honra portuguesa também estava salva, afinal; conta seu cronista Tinop que Manduca e Sant’Anna pendenciaram num botequim fluminense e que o compatriota do: cronista “reguingou-Ihe com valentia". Depois Manduca foi “propositadamente a Lisboa para tosar Sant’ Anna e Vasconcelos, que o desfei- teara no Rio, (...) Sant'Anna redargitiu-lhe jo- gando-Ihe um soco que o fez baquear redondo no chéo do Marrare do Chiado”.'? Da mesma 245, IMPERIO DA NAVALHA E DA RASTEIRA forma, talvez encontrdssemos a crénica japo- nesa das faganhas do Conde Koma, 0 campeio de jit jitsee no Brasil. Entre os derrotados de 1889 e sua imagem slaborada pelos cronistas, medeia a diferenca que fez da luta um esporte. Reposta a ques~ ‘to, foi possivel fazer sobreviver a capocira aprisionada nas malhas do folelore. Se houve um tempo em que og capoeiras eram crimino- sos, fai um doloroso intervalo que se acabou. A hist6ria dessa luta ainda resta para contar, 0 HOMEM O combate & capoeiragem deflagrado nos momentos iniciais da Repiblica foi obra de um homem e um regime. Para compreender a luta que se travou e como se travou é preciso olhar néo 56 para os capoeiras — que sobreviveram as ciclicas repressées da policia imperial -, mas também para as. motivagdes que levaram Sam- paio Ferraz a deslanchar 0 ataque. Citado por Gilberto Freyre entre os tipos ‘cugénicos que fizeram a Repiiblica no Brasil, Jodo Batista Sampaio Ferraz ascendeu a fama com os louros de suas vitérias contra os ca- Poeiras, no tio eugénicos, Oriundo da ver- tente propagandistica do movimento republi- ano, Sampaio foi um dos campanheiros his- trices de Silva Jardim em suas viagens & conferéncias, Participou de diversos confron- tos entre republicanos ¢ monarquistas na ex~ curséo a Minas Gerais ¢ esteve no histérico combate da Travessa da Barreira, entre repu- blicanos ¢ a Guarda Nogra, em dezembro de 1888. Vinculado a uma concepeao de repdbli- ca proveniente da tradigao revolucionéria francesa, 0 grupo de Silva Jardim e Sampaio Ferraz. compartilha a idéia da mobilizagio po- pular como base de um governo forte e vir~ tuoso.'? Afastados das conspiragées ¢ da es- fera deciséria no advento da Repiiblica, esse grupo deixou suas marcas através de Sampaio 246 Ferraz, construindo seu pequeno terror nas ruas da cidade. Proveniente de tradicional familia paulista, firmemente assentada na dominagio politica da regifio de Itu, Joao Batista Sampaio Ferraz inicia sua trajetéria beneficiado pelos privilé- gios de sua condicéo. Refletindo a capacidade de incorporacéo da politica imperial, o repu- blicanismo de Sampaio Ferraz = ¢ de seu pai — nfo € obstdculo para sua nomeagio para a promotoria piblica na Corte, onde iniciou sua carreira aos 24 anos, em 1880. Seu casamento, também, se daria no seio da nobreza brasileira, desposando Elisa Vidal Leite Ribeiro, filha do bardo de [tamarandiba. ‘A capavidade de conciliagéo do jovem Sampaio vai se esgotando no agravamento da companha republicana. © conflito da Travessa da Barreira em 30 de dezembro de 1888 pro- voca seu pedido de exoneracéio da promoto- ria, liberando-o para a propaganda, Investe entio no jornalismo, fundando 0 Correia do Pove, Stgio de propaganda republicana, E o militante com grande experiéncia em tribunais do crime que vai ser convocado para coman- dar a policia do governo provisério. Era preciso ter um homem confidvel, repu- blicano, capaz de assegurar em pouco tempo o controle do aparelho policial, para empregd-lo- em defesa da nova ordem. A seguranga da Re- publica é a tarefa 4 qual Sampaio Ferraz vai se entregar com sua devogio inquestiondvel. Além dos capoeiras, vai ter de enfrentar 0 descontentamento na propria rea policial e 0s incontdveis boatos de reagio monarquista. Essas eonspirages contra a Reptblica encon- tram na chefia de policia uma resisténcia deci- dida, em que o argumento de morrer pela Re- pdblica é freqiientemente levantado, Deixemas aanedota a Eloy Pontes: Sampaio Ferraz € deputado por ocasido da golpe de estado do marechat Deodoro da Fonseca, dissolvendo 0 Congressa. Escolhe posto entre os conspiradores, que levam @ Estudos Atro~Asiatioos n? 20, 1981 _aae MARCOS LUIZ BRETAS marechal Floriano Peixoto ao poder, por forga do contragolpe. Verboso, violento, retérico, vai @ casa do marechal Floriano Peixoto, Este 0 recebe com a algidez natu- ral, respondendo-lhe: — Cuidede com 0 Deodoro, & wm oficial valenie. — Entéo, marechal - redargue Sampaio Ferraz -, irei para a rua, dando 0 grite de revolta. Matem-me e, sobre meu caddver, os senhores podem, depois, fazer a revolucdo. O marechal Floriano Peixoto, frio, calmo, quase confidencial, retruca-the: - Nao, Vamos ver se fazemos isso sem ca- déver...18 Essa ferocidade jacobina disposta a dar a vida pela Reptiblica é capaz de agredir quando necessfrio, Muiitos anos mais tarde, recordan- do os dias revoluciondrios, Sampaio mostraria sua visio da importincia da forga no proceso de consolidagao republicana. Diante da mani- festagiio de insatisfagio por regimentos do Exército em Séo Crist6vao, nfo hesita em Propor a prisio dos lideres monarquistas. Quando dois ministros discordam, “por enten- derem que as provas colhidas nao eram fortes suficientemente para determinar prisdes ime- diatas”, pondera “que bastaria o efeito moral do seqiiestro de personagens sabidamente exa- cerbadas pela paixdo politica (...), podendo fa- zer-se posteriormente um inquérito que es- clarecesse por completo a questo”? E sai para prender Silveira Martins. Em seu livro Os bestializados, José Murilo de Carvalho comenta a dificuldade de definir 0 modelo republicano dos grupos jacobinos. A retérica de campanha € muito mais impo lante que a apresentacSo de um projeto polit oO consisiente nos discursos de Silva Jardim. Com Sampaio Ferraz podemos encontrar um dos poucos exemplos do exercicio de poder na sua versio jacobina. A idéia de uma Repéblica Tepresentando as aspiragdes do povo, a vonta- de geral, se revela, quando operacionalizada, Estudos Atro-Asiaticas n® 20, 1991 — uma explosio de retérica e repressio. O com- ponente retérico € mais que um recurso de tomada de poder, € parte essencial de sua conservagdo, na medida em que a Repdblica é a mobilizagdo. Afirmagées de ardor republica- no so um componente fundamental para conservar a efervescéncia capaz de garantir e ampliar as conquistas expressas na nova forma de governo. Com o apoio de povo é possivel erradicar os vestigios da obsolescéncia monar- quica, € possfvel empregar a forga. O exercicio da chefia de policia por Sam- paio Ferraz 0 coloca come representante no governo da idéia de repéblica mais ligada a tradigfo revoluciondria francesa. Seu com- portamento ¢ de um pequeno ditador republi- cano, garantido por sua indiscutfvel virtude e — talvez, por conseqiincia — pelo apoio popular. Levado ao centro dos acontecimentos, nosso Robespierre de segundo escalfo néo vai se defrontar com os agentes sediciosos de uma obstinada nobreza, inexistente em to recente “antigo regime”, mas contra a falta de virtude que ameacava a nagdo. A descrigdo que Sam- paio faz do final do Império é a imagem res- peitosa do imperador “bem intencionado” ¢ seu ministro, 0 visconde de Ouro Preto, “ho- mem de valor e cultura”2! Ameacaa Reptibli- ca a cxigir pronta agdo, aparentemente s6 Sil- veira Martins. Dispensado da tarefa de destruir a monar- quia, 0 jacobinismo péde se dedicar a elabora- cdo da Repiblica. No ambiente de degradacao social herdado do Império ¢ da escraviddo, era preciso reconstituir a nocdo de povo em torno daqueles que possufssem a virtude, Na ausén- cia da guilhotina, o degredo e a priso; na au- séneia da nobreza, as prostitutas, capoeiras, jogadores e curandeiros, todos aqueles nio- virtuosos que a Repiiblica excluiria do povo. Sampaio efetuou com muita clareza o corte entre as instituigdes ¢ as garantias constitucio- nais destinadas a reger a existéncia do povo virtuoso e a arbitrariedade permitida ¢ legitima 2a7 IMPERIO DA MAVALHA EDA RASTEIRA — pois concedida por esse mesma povo — com que vai agir contra os desclassificados. Essa duplicidade de recursos leva Sampaio, quando reconduzido a chefia de polfcia em 1898, a se confrontar com a instituigdo do ha- beas-corpus. Instrumento jurfdico de origem anglo-saxénica, vigente no Brasil desde a Constituigdo de 1824, revela-se: inadequado para conviver com a l6gica jacobina de justiga. Diante da quantidade de habeas-corpus con- cedidos pélos tribunais a individuos presos sem motivo definido, Sampaio esclarece que a lei existe para proteger 0 bom cidadio da autori- dade arbitréria, ¢ nao, como estava ecorrendo, os maus cidaddos da boa autoridade, no caso ele A trajetéria de Sampaio na adminis- tracéio pblica vai ser a mesma, no governo provis6ria e no governo, de seu primo Campos Sales. Incompatibiliza-se com os politicos, perde espago na administragio e ao mesmo tempo cresce em popularidade — por duas ve- zes deixou a chefia de policia para ocupar um lugar na Camara dos Deputados. ‘Nao exerce cargos enquanto parte de uma politica, mas como representante da Reptibli- ca, do povo, Essa concep¢io missionéria € que provocou conflito com os outros politicos e atraiu a ironia dos adversrios. Olavo Bilac, velho adversitio dos jacobinos, verseja sobre o apego de Sampaio ao cargo: Sai a cobra do buraco, Sai a toupeira da cova... Sai, no céu, a lua nova, Saem os filhos, aos pais; Sai da madeira 0 cavaco, Sai a peixe do mar fundo, Sai tudo, rudo no mundo! S6 1, Sampaio, nao sais...2° Safa sim, mas safa deputado. Depois é que vinha © esquecimento. © heréi popular do momento se fazia 0 deputado mais votado e perdia sua condigdo ativa que lhe sustentava 0 prestigio. A consolidagao do sistema politico sob Campos Sales coincide com 0 afastamento 248 do veterano militante. S6 20 anos depois, jf as vésperas de sua morte, a imprensa— através de A Noite — abria espago para suas recordagées do inicio da RepGblica, como um personagem empoeirado, descoberto em algum bai de guardados, para 0 qual logo havia de voltar. Na historiografia do perfodo, o lugar de Sampaio Ferraz & extremamente limitado, Jembrado como “o homem que acabou com os capoeiras”, Patrimonio dos apaixonados pela eugenia ¢ pela estirpe paulista que podem elo- giar “um nxdsculo tipo de cabo de tropa - her- deiro das virtudes ancestrais imanentes nos ‘Camargos -, belo e romantico, com cabeleira rebelde ¢ uma discreta barba a somar autori- dade ao seu olhar firme e voluntarioso” 4 Heréi romanesco, reverenciado por seus atos ¢ cardter, Sampaio é despido de suas dias ¢ seu projeto politico. Torna-se um sim- bolo na luta pela purificagao do padrao de vida no espago urbana, capaz dederrotara conhecida “coorte de malandrins, ratociros, moleques, capociros contumazes, meninos bonites me- tidos a desordeiros, enfim (...), essa fauna ur- bana agressiva ¢ stra que faz a desgraga das grandes metrépoles mal policiadas”.25 ALUTA Pelas ruas ando Sempre tropegando Sem prender e mesmo Sem multar ninguém (Copla de Policia. Gavroche, 1898.) A policiee muito ative ‘Nem um momento dormindo Mostra sempre que esté viva De toda parte surgindo (Baptista, o trocista, 28-2-1890,* © infeio da Reptblica foi um perfodo ex- tremamente favordvel & instituigso policial. Se em quase todo momento sua imagem é depre~ Estudos Afro~Asidticos n? 20, 1991 ae siada no teatro e nas quadras publicadas em jornal, € af entio que & possfvel encontrar CO- mentérios positivos, A direcio de Sampaio Ferraz conseguiu imprimir uma imagem de atividade policial que em poucas ocasiées se repetiu, Passades os primeiros instantes de incerte- a gerados pelo 15 de novembro, a cidade logo retornou a seu ritmo ordindrio. Nesse mo- mento, a policia € uma das presengas mais vi- ‘siveis do Estado, capaz de denotar se mudou alguma coisa ou no, E, aparentemente, a idéia era mostrar uma Repiiblica muito diferente do velho Império. As primeiras vitimas da paz re- publicana sfio os capociras: em 22 de novem- bro sdo registradas as primeiras prisdes — dos capoeiras Joaquim da Trindade e Aristides Martins da Silva, detidos na Rua do Santo Cristo. © procedimento ainda € 0 tradicional, seguindo as normas legais, em que os presos recebem a nota de culpa, sendo oficialmente presos. Joaquim e Aristides sio soltos no dia 28, mas fatou sorte a este, que voltaria a ser preso dez dias depeis. Os primeiros capoeiras presos nao ficam muito tempo, a néo ser quando tém alguma condenagio, Adolfo José Pereira, vulgo Cani- nha Doce, “chefe de malta que agrediu no dia 10 [de novembro] ao soldado do Corpo de Po- Iicia Emilio Roiz do Amaral”, € obrigado a as- sinar termo de bem viver. Jodo José da Silva, © Jodo Veado, foi condenado a cumprir pena na Corregiio. No inicio de dezembro, 0s jornais comegam a noticiar que o chefe do Corpo de Policia de- terminou o fim da capoeiragem. Comegava de: fato a guerra. Até entio safam pequenas notf- cias ou reclamagées nos “A Pedido”, j4 fre= qiientes desde o Império. A diferenga da pu- blicagiio a pedido que sai na Gazera de Nort- clas de 30 de novembro € que agora ela ¢ en- deregada ao “Cidadio Sr. Dr. Chefe de Polf- cia". Dizem os passageiros de bondes de Sao. Cristévao: Estudos Atro-Asidticos nf 20, 1991 MARCOS LUIZ BRETAS “em nome (...) do decor que todo eidadéo deve-se a si mesma nds vos imploramos, ilustres cidaddos, que livreis da praga dos baleiros. Estes homens, todos eméritos ca- poeiras, ao servico da empresa especulado- ra, fazem dos bondes seu balcdo, veram as senhoras, atropelam os cavalheiros, assal- tando os bondes sem consideragdo algu- ma (...j"27 No dia seguinte a Gazeta de Notfcias in- forma sobre a prisio de alguns capoeiras, destacando-se uma com o titulo “Deu sorte”; Alexandre Afonso, preto e famigerado chefe de malta de capoeiras, deu sorte na rua da Saudade, anteontem as 10 1/2 horas da manha, De navatha em punho, 0 terrtvel capoeira ameacava ferir a quem dele se aproximasse, Duas pragas da policia que procuravam efetuar @ prisio do destemido desordeiro foram por este agredidos, bem como 0 co- mandante da 7# estagdo policial, de quem jurou Afonso vingar-se logo que fosse solto Afonso que tem muitas entradas na casa de detengdo foi a muito custo preso e levade para 0 xadrez da 7 estagao policial2® Em outra notfcia séo informadas as prisdes de Oscar Frutuoso de Azevedo, Marcelino de Oliveira, Francisco Joao Vieira da Cunha ¢ Margal Benedito dos Santos. Na Casa de De- ‘tengdo dio entrada como capociras Marcelino © Mareal, que logo depois sio saltos, ¢ Ale- xandre Alfredo — que deve ser o famigerado Alexandre Afonso -, transferido para a Cor- reco a fim de cumprir pena. No dia 10 de dezembro, o exterminio da caposiragem € oficializado. O Didrio de Nort cias informa que o ministro da Justiga ¢ 0 chefe do Corpo de Pelfcia acertaram em con- feréncia medidas contra os capociras. Na Ci- dade do Rio, o cronista “Omnibus” aplaude a determinago do ministro: 249 IMPERIO DA NAVALHA E DA RASTEIRA Bravo! A capoeira é a praga pior que 0 im- pério nos legou. Quando a policia se resol- via a reprimir e castigar o exercicio da ca- poeiragem, as medidas tomadas limitavam- se a assinatura de termo de bem viver e a dois ou trés dias de pristio. Da priséo saia © capoeira com a vida garantida: alistava- se na policia secreta2? Era preciso romper com a tradi¢o de im- punidade e cumplicidade. Os dias seguintes seriam de atividade febril. Enumeremos as informagdes da Gazeta de Noticias: @ dia 12 — varios capoeiras presos no 12 Distrito de Sacramento, — 14 capoeiras presos no 2° Dis- trito de Sacramento, — 3 capoeiras presos no 2? Distrito do Engenho Novo; ®@ dia 13 — 25 chefes de malta e capoeiras presos, — 7 capoeiras presos na Gl6ria; © dia 14 — 22 capoeiras presos; ® dia 15 — 20 capoeiras presos; © dia 18 — 20 capociras presos. Em uma semana de servigo os némeros apresentados chegavam a 111 presos. Q cro- nista do Didrio de Noticias péde aplaudir: Antigamente esses malvados serviam ao soldo da polfcia, mas hoje, cremos, servirtio em Fernando de Noronha, onde o trabalho 08 tornaré arrependidas do mal que fize- ram, ensinando-thes talvez 0 caminho que devem seguir quando de Ié satrem. Continue 0 ilustre chefe de polfcia em sua honrosa misséo, sendo nela escrupuloso, para que ndo faca vitima alguém inacente e esforcande-se para que no fique solte ne- nium capoeira de navatha, E pena que esta medida no se estenda aos capoeiras politicas...° A repercussiio das medidas contra os ca~ poeiras transparece nos “A Pedidos" dos jor- 250 nais. Cada um tem seu capoeira predileto, do qual quer se ver livre. No dia 12 de dezembro, um “Pai de Familia Que Chora por Seu Filho Vendido Por Este Bandido” pede para que néo seja esquecido “‘o célebre Diogo, chefe de malta j4 muito conhecido, mesmo pela policia, aonde ultimamente era agente secreto”, acu- sando-o de: ter combatido os republicanos, de arma na mo, na Travessa da Barreira e nos festejos de 14 de julho, quando gritava “mata © Lopes Trovdo". No dia 14 € a populago que confia em Sampaio para livré-los do “célebre bandido Moraes”. No dia 15, os ofendidos pe- dem “destino conveniente” para F, Br..., co nhecido como vagabundo e capoeira incorrigf- vel e que “‘h4 muitos anos (...) persegue uma pobre mulher casada, me de dois filhos me- Mores, obrigando-a a dar-lhe, por meio de violéncias, dinheiro (...) © esta pobre mulher (a) jf esté com o rosto cortado a navalha- da (...)".5t ‘O ritmo intenso das prisées, que continuam durante o més de janeiro, permite os aplausos até do irénico Baptista, o trocista: E policia das primeiras, E levadinha do diabo; Deu cabo dos capoeiras, Vai dos gatunos dar cabo Jé da navatha afiada A ninguém o medo aperta; Vai poder a burguesada Ressonar com a porta aberta A ir assim poderemos Andar mui sossegadinhos Nesta terra viveremos Como Deus com seus anjinhos Ai! Assim continuando A policia hemos de ver As suas portas fechando Por ndio ter mais que fazer.3* Em meio 4 extraordindria repercussao que tiveram as medidas repressivas, poucas vozes Estudos Afro-Asidticas n® 20, 1991 MARCOS LUIZ BRETAS. MARCOS LUZ BETAS se erguem para criticar os métodas adotados. Se antes a Iei era benevolente para com 0s ¢a- poeiras, agora nao havia mais leis. Era 0 arbi- trio da policia a dnica instincia processual, bastando ser reconhecido como capoeira para merecer a punico. Segundo Alberto de Car- valho, um dos mais conhecidos advogados criminais da época ¢ um dos tinicos criticos da agio de Sampaio, este formara um tribunal composto de trés agentes de policia, que iden- tificavam se 0 detido “era ou fora em tempo capoeira”, Ao terminar a gestfio Sampaio, @ casa de Detengao, prise central da ca- pital, regorgitava de presos, aos quais no decurso de um ano ele esquecera ou deixa- ra de dar destino, Outros haviam morrido encarcerados, levando para a eternidade 0 terrivel protesto de thes haver ele negado juzes e recusade justica, O prestdio de Fernando de Noronha havia reclamade contra 0 excesso de populacao que the havia remetido, superior ao orga- mento de que dispunha, e aos viveres exis- tentes na fattdica itha, O presidio, monstro saciado de Idgrimas ¢ de dores, recusava receber as novas vitimas, constantemente para ele remetidas por essa tagica ¢ inol- viddvel polfcia 33 As outras criticas nfio dizem respeito a0 atentado contra as liberdades individuais, ine- tente ao processo de deportagfo. Preferem apontar os abusos no exereicio de um poder que, utilizado corretamente, seria aceitdvel. Esse tipo de noticia aparece na imprensa isen- tando de culpa o chefe da pelicia, Sdo os maus agentes que se aproveitam das ordens que re- cebem para prender, “a torto ¢ a direito, todo ‘© individuo que Ihes cai no desagrado”** O tema € aproveitado também pelo monarquista Eduardo Prado, dedicado a denunciar na Eu- Topa os abusos do governo republicano ¢ que fala da existéncia de 162 deportados em Fer- nando de Noronha: ‘Estudos Airo-Asidticos n® 20, 1981 A ditadura, que ndo conhece lei e despreza a imprensa emudecida subitamente, tem de- portado um grande niimero de individuos, Jista ou injustamente qualificados capoei- ras. E posstvel que muitos desafeigoados das aworidades, a pretexto de serem ca- poeiras, tenham ido parar @ itha de Fer- nando de Noronha, sem que thes reste meio algum de rectamar.3 A defesa da polftica governamental é feita por Raul Pompéia, afirmando a necessidade de expedientes novos para lidar com um mal co- mo a capociragem. Logicamente o processo cinirgico vai atingir também tecido inocente, mas se deve levar em considerago que, “‘para 4 contingéncia humana, o ato que contém dois tergos de exceléncia é étimo™.%* Os custos do erro, tio caros & tradigo liberal de justica, desapareciam na 6tica jacobina sob as vanta- gens dos acertos. Garantir 0 exercfcio do po- der arbitrério pelos cidadios “justos" passa a ser a forma de otimizagéo da justiga. Nao existe abuso no poder dos bons sobre os maus. Diante da fiiria justiceira do jacobino no poder, estranho seria que apenas os capociras fossem as vitimas, As medidas tomadas siio estendidas — com menor repercussiio — contra gatunos, casas de tavolagem, casas de tolerdin- cia ¢ praticantes de amores clandestinos, car- tomantes © mesmo, segundo Raul Pompéia, para “determinar um nivel para a moralidade pdblica em matéria de habitagao”.27 Se a prisio de capoeiras ¢ defensdvel por serem eles violentas ameagas ao burgués — como se dizia -, outras agées sho menos con- sensuais, Ao tentar regulamentar a habitaio popular, a polfcia tem de enfrentar a advertén- cia de Raul Pompéia de que “o que a policia vai amoldar nas m4os onipotentes (...) néio € 0 metal duro do crime, € a substancia sensivel da desgraca”. Perseguir cartomantes e amantes clandestinos também atingia personagens causadoras de pouco dano e que encontravam, 251 IMPERIO DA NAVALHA E DA RASTEIRA inclusive, defensores. Mas dificil mesmo de- veria sera aplicago da medida que maltava todos aqueles que urinassem fora dos “Mija- douros”. 28 Ao mesmo tempo que as medidas se expan- diam para fazer valer a virtude, os jornais su- geriam também outros objetos de repressio. Dessa vez as sugestdes sfo as mais variadas, de especificas, atingindo ciftens ¢ especula- dores — chamados capoeiras da bolsa —, até as mais completas, como as de Antonio A. Ro- drigues de Morais: Aconsethdvamos o digno e misericordioso governo provisério a deportagéo de todos 03 monarquistas, e de todos os gatunos de altos coturnos, gravatas lavadas, luvas de pelica, fregitentadores asstduos das imun- das tascas, casas de tavolagem, homens pe- rigosas ¢ tio temiveis como os célebres ca- poeiras, que no tempo da monarquia tanto nos envergonhavam ¢ tio sobressaltados nos traziam homens perigosos, repetimos, conhecidos pelos nomes de guardas-chaves, guardas-roupas, guardas-jéias, guardas- trapos, um rosario infinito e intermindvel de criados do Pago, aduladares do imperador, aduladores e bajuladores de profissiio, A esses homens perigosos que devem ser des- de jd recolhidos & casa de detencdo, aguar- dando o dia de embarque, o dia de partir para o centro da adusta, abrasadora e car- bonijera Africa Central, deve-se ajuntar wma outra classe tio perigosa como aquela, inimigos fidagais da Luz e da Verdade, amantes do Obscurantismo, o mais contris- tador e vergonhaso: os homens que vivem e morrem nas trevas enclausurados em celas, carga pesada a sociedade, que vé-se obri- gada a alimentar esse grande niimero de Jfamintos, mendigas e vadios, homens iniueis € improdutivos, corruptores da mocidade brasileira — os frades, padres, e toda casta 252 de religiosos que infestam a Repitblica dos Estados Unidos do Brasil (..) 3° © tipo de punigdo aplicada aqueles que cafam nas mos de Sampaio Ferraz é variado, A tradicdo ressalta Fernando de Noronha co- mo o destino dos capoeiras. Outro destino para os exilados parece ter sido 0 Mato Grosso — motivo do protesto do cidaddo Rodrigues de Morais, que sugere a Africa Central. O dificil € saber quantos detidos escaparam & deporta- ao, seja para a ilha de Fernando de Norenha, seja para o antigo estado de Mato Grosso. Al- guns provavelmente ficaram esquecidos na Casa de Detengéo - como denuncia Alberto de Carvalho — ¢ outros assentaram praca no Exército. O tnico caso que pude verificar € 0 de Raul Brum. Nascido na [ha do Pico em 1871, Raul vai conhecer as dependéncias da Detengdo, pela primeira vez, aos 13 anos, em 1884, como desordeiro. Volta a ser preso por ofensas fisi- cas em dezembro de 1887, sendo condenado em abril a seis meses de prisiio, cumpridos na Casa de Correg&o entre dezembro de 1888 € maio de 1889, Livre, cai na rede de Sampaio Ferraz, preso como capoeira em 19 de dezem- bro de 1889, Seu destino € a Fortaleza de Santa Cruz, onde asseniou praga em margo de 1890. A Revolta da Armada o far4 alferes comissionado em novembro de 1893 e efetivo um ano depois, Pudemos saber tudo isso por- que a policia volta a prendé-lo como jogador em junho de 1898.4 Contra o alferes Raul ¢ também o alferes Basflio, do 72 Batalhdo de Infantaria, j4 corria, em 1898, um inquérito por desordens no res- taurante Stadt Miinchen. Junto com ¢les al- guns paisanos, entre os quais, armado de re- vélver, o famoso José Elysio dos Reis, o Juca Reis. Sua priséo constitui o episédio mais co- nhecido da repressio & capoeiragem, tendo si- do discutida em reunides dos ministros do go- Esnictos Afro~Asidticos n® 20, 1891 — verno provisério ¢ suscitada a intervengdo do Proprio marechal Deodoro. Juca Reis era um desordeiro conbecido, Pproveniente de famflia importante. Seu pai, o conde de Matosinhos, era dono do jornal O Paiz, veiculo da campanha republicana no Rio de Janciro e dirigido por Quintino Bocaitiva, Tendo falecido o conde, Juca é chamado da Europa por seu irmio, que assume o jornal, para acertar questdes de heranga, Mal chegou A cidade © € detido por Sampaio Ferraz, na Rua do Ouvidor. Gestées so feitas junto ao governo por Bocaitiva — agora ministro das Relagées Exteriores -, que ameaca se demitir, © pela familia, mas sem resultado, Sampaio permanece inflexfvel © Juca Reis segue para Fernando de Noronha. ‘O caso de fato ilustrativo. A vocagao re- publicana € igualitéria, negando-se a aceitar os privilégios dos bem-nascidos. Mas a igualdade néo se faz na distribuicéo da justica e sim prendendo ¢ deportanda, sem processo algum, um cidadéo (7) recém-chegado a cidade, As prises em massa de dezembro a janciro jé ha- viam passade — estvamos no més de abril -, mas a deportacdo de Juca Reis representava a permanente vigilancia da autoridade. Fora da virtude ninguém poderia jamais se sentir se- guro. CONCLUSAD ‘Quando 0 novo Cédigo Penal criminalizou capoeiragem, em outubro de 1890, essa no mais existia. As maltas de nagoas e guaiamus cram figuras do passado, que poucos gosta- iam de lembrar. Sampaio Ferraz havia sido eleito o deputado constituinte mais votado da capital federal, gragas ao periodo de menos de Estudos Atro-Asidticos n® 20, 1991 MARCOS LUIZ BRETAS um ano como chefe de polfcia, sem descontar duas longas viagens a So Paulo © ao Prata, A Revista Iustrada lhe pedia “que trocasse os seus futuros triunfos parlamentares, pela glé- tia de ter sido e continuar a ser o melhor e 0 mais respeitado Chefe de Polfcia da nossa ca- pital™!1 Os capoeiras, como figuras tipicas da cida- de, haviam desaparecido. O artigo do Cédigo que puniu a capoeiragem pouco seria empre- gado e, em geral, impropriamente. Por outro lado, o argumento da capoeira servia para des qualificar as vitimas. Quando Antonio José Soares é processado por agressfo com guarda- chuva, defende-se afirmando que o menor agredido 0 havia provocado “com brincadciras e exercicies de capociragem”.4? Muitos dos antigos capoeiras devem ter escapado da per- seguigo ou retornaram A cidade, mas as ve- Ihas maltas nfo voltaram a se organizar. O termo capoeira consolidou um cardter depre- ciativo e passou a ser substitufdo por outros, talvez o malandro, A vitéria de Sampaio Fer- raz havia sido sobretudo semfntica eo Rio do século XX conviveria com diversificada fauna urbana, mas nio era mais lugar para capoeiras. Ainda cm 1889, glosando a moda de cartas psicografadas, surge na imprensa a despedida de um velho conhecido: Por isso prefiro estar cé Neste inferno eternamente A estar nesta terra quente Onde canta a sabid O Sampaio anda a dar cabo De todos os capociras E niio é de brincadeira © Sampaio... é mesmo 0 diabo Quem isto tudo escreveu Para que nos jornais saia E otal Manduca da Praia Capoeira (jd morreu)? IMPERIO DA NAVALHIA E DA RASTEIRA NOTAS 1. Freyre, Gilberto. Ordem e progress. Rio de Janeiro, José Olympio, 1959, p, 475, 2, Nowidades, 11-12-89, 3. Veja-se as intimeras manifestagées da administracio policial levantadas por Holloway, Thomas Hl. A heal- thy terror: police repression of caposiras in nineteenth century Rio de Janciro. Hispanic American Historical Re+ view, 69:4, 1989, Uma versio resumida desse artigo foi publicada em Estudos Ajro-Asidricos, 16;129- 140, margo de 1989, 4, Pompéia, Raul. A navalha do st. Coelho. Obras completas, vol. 5. Rio de Janeiro, Ed, Civilizagio Brasilei- ra-OLAC, 1982, p. 129-131, Originalmente publicada na Gazera da Tarde em 22 de dezembro de 1885. 5. Holloway, Thomas H. Op. cit., p. 654-61. 6. Despacho de 10-12-1887, de Amelot a Florence. Ministre des Affaires Btrangers, Correspondence Politi- que, Brésil. 7. Abreu, Plécido de, Os capoeiras, Rio de Janeiro, da Escola de Serafim José Alves, s.d. Coelho Neto, citado na note 15, refere-se 2 Plécide de Abreu como “‘o mais valente™ dos capoeiras, morte a trai¢fo na Revalta da Armada. 8. Tinop (José Pinto Ribeiro de Carvalho}, Nisrdria do fado, Lisboa, Empresa da Hist6ria de Portugal, 1903, p. 3. 9. Pais, José Machado. A prostituipdio ¢ a Lisboa boéimia do século XIX aos infeios do século XX, Lisboa, Edito- rial Querco, 1985, p. 45-ss, 10. Desaparece em 1890 o grande niimero de menores presos em 1885, quando so recolhidos a Casa de Deten- 40 capoeiras de 11 anos, 11. Morais Filho, Melo. Festas.e tradi;Ses populares dé Brasil, Rio de Janeiro, Fauchon ¢Cia,, s.d,, p. 401-413. 1% Idem, p. 409. 13. Despacho de-9-1-1889, de Amelot a Goblet. Ministre des Affaires Etrangers. 14, L.C. A capoeira, Kosmos, (III):3, marca de 1906, 15. Coetho Neto. © nosse jogo, Bazar, Porto, Livraria Chardron, 1928, p. 137, 16, Morais Filho, Melo. Op. cit. p, 413, 17. Tinop, Op. cit, p. 36-7. 18, Carvalho, José Murilo de. Os bestializadas, $80 Paulo, Cia, das Letras, 1987, p. 46-88. 19, Pontes, Eloy, A vida exuberante de Olave Bitac. Rio de Janeiro, José Olfmpio, 1944, val. Ul, p. 436, 20. Sampaio Ferraz. No infcio do regime. O primeiro grande embate da Repdiblica, Como se dew a prisio deal- ‘as figuras da monarquia, A Noite, 10-3-1919. Sampaio Ferraz. Na agonia do Império, Algumas impresses sobre a figura de D, Pedro II, A Noite, 22. Sobre 0 conflite a respeito do habeas-corpus, ver Bretas, Marcos Luiz, A guerra das ruas: povo e polfcia na cidade do Rio de Janeiro. Iuperj, 1988. Tese de mestrado, 254 Estudos Afro-Asidticos n° 20, 1881 ee

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