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ART & LARAINE BENNETT Q TEMPERAMENTO QUE DEUS LHE DEU A CHAVE DE OURO PARA CONHECER A SI MESMO, SE RELACIONAR BEM COM 0 PROXIMO E SE APROXIMAR MAIS DE DEUS 5 ECCLESIAE SUMARIO Agradecimentos ..... Prefacio Introdugdo CAPITULO 1 CAPITULO II CAPITULO III CAPITULO IV CAPITULO V CAPITULO VI CAPITULO VII CAPITULO VIIL CAPITULO IX CAPITULO X AGRADECIMENTOS ~ Com profunda gratidio, agradecemos ao Padre James Swanson, t. c., quem primeiro nos mostrou a relevancia dos temperamentos para 0 nosso crescimento espiritual e psicolégico; ao Padre Richard Gill, L. C., nosso amado (e¢ sangiiineo) diretor espirirual, quem primeiro nos sugeriu que escrevéssemos um livro; ¢ ao Padre John Hopkins, L. c., que nos recorda que nao devemos nunca utilizar os temperamentos como um 4libi para nos esquivarmos das realidades dos nossos peca- dos atuais e da nossa necessidade de conversa. Nés também agradecemos ao nosso (excepcional melancélico- -sangtifneo) editor, Todd Aglialoro, por sua fé neste projeto, por sua atencao aos detalhes, ¢ por nao permitir que a sangiiinea Laraine ¢ 0 fleumatico Art chegassem a um acordo logo na primeira versao. Nés agradecemos a todos os nossos amigos que dividiram conosco as hist6rias de seus temperamentos e, de modo especial, aos nossos pais, William e Teje Etchemendy e Art e Mildred Bennett. Por ultimo, mas nao menos importante, somos gratos a Deus por ter nos presen- teado com nossos maravilhosos filhos — Lianna, Ray, Sam e Lucy — que participaram, com entusiasmo, de diversas discussdes acerca dos temperamentos e contribuiram com o nosso livro através de suas proprias historias. PREFACIO = Vocé provavelmente ja ouviu falar da histéria do caipira que des- cobriu que toda vez que levava seu cavalo para 0 novo celeiro que construira, via o animal bater a cabega no suporte de entrada. Certo dia, decidiu que iria resolver a situagdo ao esculpir seis milimetros da madeira do suporte em formato oval, logo acima de onde a cabeca do cavalo passava. A medida que estava indo colocar a mio na massa com a serra, um amigo surgiu e lhe perguntou o que diabos estava fazendo, cortando fora um pedago de sua estrutura. O bom homem The explicou o dilema do cavalo. “Mas”, insistiu o amigo, “por que vocé nao desenterra seis milimetros de terra da entrada do celeiro?”. Sem hesitar, 0 caipira responde: “O problema nao sao as pernas, mas a cabega”. Algumas vezes nés simplesmente nao percebemos 0 dbvio —e isso ainda mais verdadeiro quando se trata do relacionamento com nés mesmos! Mudangas de humor, reagdes emocionais, altos e baixos, reagdes automaticas, e comportamentos rotineiros aparentemente in- corrigiveis sao causa de incontaveis ataques cardiacos ¢ frustragdes com nés mesmos € com os outros. Queremos saber a origem de tudo isso ¢ 0 que podemos fazer a respeito. Nés procuramos respostas na prateleira de auto-ajuda, no consultério de um terapeuta, ou, talvez, na farmacia. Freqiientemente, no entanto, fracassamos ao tentar des- vendar as raizes das nossas dificuldades. Inconscientemente, as vezes nos percebemos lidando com sintomas, sem jamais descobrir a ori- gem do problema. Como nosso amigo caipira, desperdigamos energia u © ART & LARAINE BENNETT € nosso precioso tempo (e dinheiro!) em semi-solugées ¢ estratagemas. pessoais bizarros para retificar comportamentos negativos enquanto somos incapazes de perceber que as verdadeiras solugdes jazem em outro lugar, Isso acontece porque freqiientemente aquilo que € ébvio permanece obscuro até que alguém nos desperte para tal realidade. Portanto, se vocé esta buscando verdadeiras respostas para des- cobrir aquilo que te faz vibrar, escolheu o livro certo. E se vocé for um cristéo comprometido, tirat4 ainda mais proveito, pois os autores estéo empenhados em fornecer-Ihe naé apenas a chave para 0 au- toconhecimento, mas também uma ferramenta extraordinaria para alcangar a santidade pessoal — a solugao derradcira para o problema do ego! Laraine ¢ Art Bennett nos fizeram um tremendo favor escrevendo este livro. Mergulhando em sua vasta experiéncia com a pratica do aconselhamento c, freqiientemente ilustrando a teoria com revelagdes pessoais, sinceras (e bem-humoradas)}, os autores possibilitaram com que o aprendizado sobre os temperamentos — e sobre como crescer em santidade através do temperamento que Deus nos dew — fosse facil e divertido, Eu, por um acaso, acabei aprendendo alguma coisa sobre os tem- Pperamentos pois eu mesmo tenho um; sou um caso classico de colé- rico-sangiiineo. Sou também um padre catdlico, confessor e diretor espiritual. Lido muito com o coragdo humano (uma béngdo e um privilégio extraordindrios!). Tenho visto de novo e de nove o quao incomparavelmente valorosa pode ser a compreensio do tempera- mento de uma pessoa para se viver uma vida genuinamente plena (e santa). Com que freqiiéncia, para meus filhos espirituais, o ponto de partida para um verdadeiro progresso na vida espiritual foi finalmen- te conquistar uma compreensdo do seu préprio temperamento! O temperamento que Deus lhe deu é para adultos — especialmente para aqueles que esto em busca da santidade. Quem deveria lé-lo? Maes e pais, solteiros, religiosos consagrados, noivos, recém-casados, casados ¢ com netos, conselheiros de todos os tipos (especialmente con- selheiros de casamento ¢ aqueles que aconselham noivos), padres (prin- cipalmente diretores espirituais ¢ confessores), bem como psicdlogos ¢ terapeutas. Todos irao desfrutar muito de um livro que tem a obrigagio de ser um padrao de referéncia no estudo dos temperamentos. 2 (© TEMPERAMENTO QUE DEUS LHE DEU @ £ uma leitura rapida de ser feita. Uma bomba de sabedoria ¢ sen- so comum articulados a uma prosa amigavel que entretém o leitor. Portanto, é um excelente investimento do seu tempo. Com o minimo de esforco, vocé ird assimilar uma porgao de informagées. £ como se cada pagina contivesse um grande avango na compreensao de si mes- mo e dos outros — ¢ todos nés sabemos o quanto isso € gratificante. O temperamento que Deus the dew habilita vocé a aparar as ares- tas da sua personalidade para que possa se comunicar melhor com seu cdnjuge ¢ filhos, e para se tornar um facilitador e criador de har- monia diante de sua familia ¢ amigos. Também ird lhe capacitar como nunca para cooperar com a graga de Deus no seu projeto de vida de transformagao em Cristo. Tenho certeza de que vocé ird amar este livro! Que Nosso Senhor utilize cada pagina para ajuda-lo a compreen- der que o seu temperamento é um dom que Ele lhe deu por um bom motivo — para que com e através do seu temperamento vocé possa se tornar um santo! Que Deus lhe abengoe. Pe. Thomas Berg, L. C., M. A. Ph. D. Sacramento, California Domingo de Ramos, 20 de margo de 2005 B INTRODUCGAO ~ “Temperamentos... Isso nao é, tipo, astrologia catélica?”. Perguntas assim aparecem freqiientemente quando qualquer um de nés aborda os quatro temperamentos classicos em uma conversa. No entanto, a concepgdo dos temperamentos nao € psicologia pop nem truque de auto-ajuda; na realidade, ela tem uma longa e vene- ravel tradicao dentro da espiritualidade catélica e da teologia moral. Muitos escritores espirituais formidaveis — tais como Sao Francisco de Sales, o Rev.mo Adolphe Tanquerey, ¢ 0 tedlogo contemporaneo Jordan Aumann, 0. p. — discutem 0 conceito de temperamento e como este afeta a vida espiritual. O conceito dos quatro temperamentos — colérico, melancélico, sangiiineo e fleumdtico — foi originalmente sugerido 350 anos antes do nascimento de Cristo para explicar as diferengas de personalida- de de acordo com os “humores”, ou fluidos corporais. E ainda hoje, depois de mais de dois mil anos de interferéncia médica ¢ avango da psicologia, o conceito de temperamento por si s6 — e, em particular, a classica divisao em quatro — ainda serve de referéncia para psic6- logos, educadores ¢ escritores espitituais contemporaneos. Por que estamos escrevendo sobre os temperamentos ¢ por que vocé deveria ler 0 nosso livro? Ao longo de muitos anos como conse- Iheiro profissional ¢ palestrante sobre assuntos de familia, Art come- gou a perceber que havia campo para o estudo dos temperamentos na psicologia e na espiritualidade moderna. No entanto, ainda que nds tenhamos descoberto que o mercado de livros crist@os estava 13 © ART & LARAINE BENNETT bem abastecido com livros praticos e acessiveis sobre os temperamen- tos para individuos e familias, para catélicos 0 tinico livro dedicado aos tempcramentos cra um curto panfleto escrito pelo Padre Conrad Hock em 1934 ¢ reeditado pelos padres palotinos. Ele ofereceu ape- nas tentadores insights que deixaram aquele gostinho de quero mais de um estudo minucioso, contempordneo — e pratico — sobre os temperamentos, especialmente para catélicos, um estudo que mos- trasse como os temperamentos afetam a nossa vida individual, nossas familias, nossos casamentos e, até mesmo, nossa vida espiritual. Nos- so livro tem a intengdo de suprir essa necessidade. © homem é uma misteriosa unido de corpo € espirito, A tinica cria- deza. No Jardim do Eden, o homem era o senhor do mundo, imortal, presenteado com sabedoria preternatural e vida sobrenatural pelo proprio Deus. Suas faculdades superiores governavam perfeitamente suas paixGes € emogées; isto é, seu espirito conduzia seu corpo. A uni- dade ¢ harmonia originais — no interior de nés mesmos, bem como com os outros e com Deus — foram rompidas pelo pecado. Depois da Queda, o homem permanece dividido contra si mesmo, alienado de seu companheiro e & deriva de Deus, incapaz de superar o ataque das trevas, do caos e do mal. S40 Paulo, mais tarde, lamentaria a perda dessa harmonia original: Porque eu nao fago o bem que quero, mas fago o mal que nao quero (Rm 7, 19). Conseqiientemente, sentimos ambos, “um nobre chamado e uma profunda miséria”! que podem se reconciliar somente através de Cristo... assim como o pecado reinou dando a morte, assim reine a graca pela justiga (Rm 5,21); Deus agiu com Cristo de modo que Aquele que nao tinha conhecido pecado, Deus o fez pecado por nos (2Cor 5,21) para que fossemos salvos. O homem € um mistério para.os outros ¢ para simesmo, Somente em Cristo podemos descobrir nosso eu verdadeiro ¢ nosso nobre cha- mado: uma comunhao intima com Deus. Somente em Cristo nossas vidas serdo_renovadas ¢ transformadas, bem como toda a Criacdo. Pelo que este mundo criado espera ansiosamente a manifestagao dos filhos de Deus (Rm 8, 19); a graga nunca destroi a natureza, mas a aperfeigoa. Este livro descreve os temperamentos — parte de nossa mature- za humana — ¢ como estes podem influenciar nossa personalidade, Gaudium et Spes, $13. 16 © TEMPERAMENTO QUE DEUS LHE DEU @ nossas motivagdes, nossas vidas. E importante compreender como o nosso temperamento individual nos afeta e como lidar melhor com seus pontos fortes ¢ fracos particulares para nos formarmos tanto hu- mana quanto espiritualmente. Mas é igualmente importante lembrar que os temperamentos nunca contam a histéria inteira. Compreender os temperamentos nao significa que agora temos carta branea para bater em nossos filhos ¢ esposos. Nosso temperamento nunca deve ser utilizado como desculpa para o mau comportamento. Z Autoconhecimento é uma virtude que Santa Teresa d’Avila disse que nunca deveria ser negligenciada: “Autoconhecimento é tao portante que, mesmo vocé tendo sido criado para 0 céu, nao gostaria que vocé relaxasse no cultivo de sua percepgio de si mesmo”.? O au- toconhecimento genuino resultaré em humildade — nunca em com- placéncia. Ao compreender melhor a nds mesmos ¢ as nossas pessoas queridas, seremos capazes de melhorar a nés mesmos e de crescer em nossa vida espiritual, de ajudar nossos filhos e esposos a também se tornarem individuos bem-sucedidos ¢ piedosos. nde- virtude e no amor, Nos iremos adquirir mais compaixao pelos outros ¢ ficaremos prontos para encorajar ¢ fortalecer as pessoas que ama- mos — para iniciar aquela transformagao do coragao que, através da graca de Deus, ird construir uma civilizagao de vida e amor aqui na ‘Terra e, enfim, uma intima amizade com Ele. 2 Santa Teresa d’Avila, © castelo interior, trad. Allison Peers. Nova York: Doubleday, 1989, p. 38, CAPITULO | O QUE E TEMPERAMENTO? =~ “E a personalidade nativa, ¢ 56 isso, 0 que capacita um homem para estar diante de presidentes ou generais, ou em qualquer contexto distinto, com desenvoltura —e no a cultura, ou qualquer conhecimento ou intelecto que seja”. Walt Whitman “A graga se constréi sobre a natureza”. Santo Tomas de Aquino “Conhece a ti mesmo, ¢ a tuas falhas, ¢ assim viverds”. Santo Agostinho te lo por onde passam? Por que algumas pessoas estao sempre alegres e otimistas, com seus copos “meio cheios” enquanto outras parecem estar envoltas em uma nuvem negra, com seus copos sempre “meio vazios”? Para alguns, nenhum pensamento que passa pela cabega dei- xa de ser expressado, enquanto outros medem cada palavra a ser dita. E por que sera que algumas pessoas enxergam qualquer manifestagao de opiniao como uma declaragdo de guerra, enquanto outras Pparecem ser capazes de ignorar os maiores insultos sem se afetarem? a @ ART & LARAINE BENNET De pavio curto ou equilibrado? “Aproveitar as oportunidades que surgem” ou “esperar para decidir”? Relaxado ou propenso a perder 0 controle? A resposta comega com 0 nosso temiperamento. “um trauma de infancia ou de memérias reprimidas. Em uma palavra, = ido iui eae O que o temperamento ndo é respeito A totalidade dos padrées de comportamento de um indivi- duo, seus pensamentos e emogées. Neste livro, estamos considerando temperamento somente aquilo que corresponde a um dos aspectos da personalidade total de um individue — 0 aspecto relacionado a comportamento e€ rea¢do. Dentro da tradigo catélica, temperamento é definido como 0 pa- drao de inclinages ¢ reagdes que procedem da constituicio fisiolégi- ca de um individuo.? Nossa personalidade pode ser moldada inicial- mente por um temperamento basico, mas ¢ clara ¢ significativamente afetada pelo ambiente, pela educagao ¢ pelas livres escolhas. Para 0 propésito deste livro, iremos nos referir aos outros aspectos da per- sonalidade — produtos do ambiente, da criagao, da educagio, das reagGes habituais ¢ do livre-arbitrio — como carter. 3 Jordan Aumann, o. r., Spiritual Theology (Teologia espiricual|. Allen, Texas: Clissicos Cristiios, 1980, p. 140; Adolphe Tanquerey, The Spiritual Life |A vida espiritual|. Tour- nai: Desclée and Company, 1930; reeditado por TAN Books, p. 8 no Apéndice. n (0 TEMPERAMENTO QUE DEUS LHE DEU @ A matéria-prima é 0 temperamento, mas a criagao final requer a edu- cago, o talento e a inspiracao do artista. O temperamento pode mudar? a eee eer . Ao longo do tempo nés podemos até aprender a agir de maneitas que si0 opostas ao nosso temperamento; fazer o contrario daquilo que “sairia naturalmente”, Se eu, por exemplo, tendo a ser naturalmente calado e inclinado a Conhecer a si mesmo, e aos outros E importante lembrar que, ainda que 0 temperamento seja uma peca- -chave na mancira como somos feitos e como tendemos a nos compor- tar, ndo € o mais crucial de todos os fatores que influenciam a nossa per- sonalidade, nossas agGes, e, até mesmo, nosso destino eterno. Em tltima instncia, a nossa vida ser moldada pela maneira como exercitamos 23 @ ART & LARAINE BENNETT aquele dom fundamental de Deus: nosso livre-arbitrio. Um individuo nao pode jamais ser reduzido 4 soma de seu temperamento ou u de seu ambiente. s autoconhecimentos Por que olbas tw para o argueiro que estd no alho de teu irmao, e nao notas a trave no teu olho? (Mt 7, 3). Quando co- _mecamos a enxergar a nds mesmos como realmente somos, podemos Compreender os temperamentos também nos ajuda a aceitar,com- preender e verdadeiramente valorizar os outros. Pais podem aprender prance” Cone poacn pens expr ihr a um pelo outro e como evitar falhas de comunicacao que as vezes surgem diretamente da disparidade entre temperamentos, Professores irdo adquirir empatia por seus alunos, € patroes irao aprender o que pode motivar seus funcionarios. ma Vi temperamento, ¢ podemos aprender novas maneiras de progredir em nossa vida espiritual ¢ crescer em santidade. Em suma, os quatro temperamentos nos fornecem uma chave para das; e pode nos abrir um caminho para melhorar todos os nossos re- lacionamentos, identificando aquelas tendéncias naturais que podem nos beneficiar ou enganar. Origem dos temperamentos A tradigio que nos forneceu os quatro temperamentos “classicos” remonta a muitos mil anos atras. Hipécrates (c. 460-377 a.C.), o“pai das ciéncias médicas”, talvez te- nha sido o primeiro a desenvolver uma teoria da personalidade. Ele ale- gava que os corpos humanos contém quatro tipos de fluidos, e que cada individuo poderia ser enquadrado em um dos quatro temperamentos, 24 OTEMPERAMENTO QUE DEUSLHE DEU © com base em um desequilibrio daqueles fluidos no seu corpo — dai as denominagoes nao tao atrativas: * Colérico: bilis amarela do figado. © Sangiifneo: sangue do coragao. © Melancélico: bile negra dos rins. * Fleumdtico: fleama dos pulmées. Por volta de de 190 d.C., o fisico romano Galeno, seguindo Hipé- crates, sugeriu que o equilibrio dos nossos fluidos corporais (os “hu- mores”) de fato afeta os nossos temperamentos, mas de forma positi- va, em vez de ser resultado de um desequilibrio negativo. Além disso, © temperamento “sangilineo” era ansioso ¢ otimista; 0 “melancélico” era doloroso; o “colérico” apaixonado, ¢ o “fleumatico” calmo. Na Repiiblica, Platio escreveu sobre quatro tipos de caracteres € suas contribuigdes para a ordem social, O psicdloge clinico David Keirsey relaciona os caracteres de Platao aos quatro tipos de tempera- mento originais: 0 iconic era o “artistico”, ou sangiiineo; 0 pistic era o “guardiao” ou “cuidador”, o melancolico; 0 noetic era um “idealista” ¢ era colérico; e a caracteristica dianoetic era “racional”, um “investi- gador légico”, ou fleumatico.* No século xvi, um fisico ¢ alquimista suigo chamado Paracelsus comparou os quatro tipos de temperamentos aos quatro elementos: fogo, ar, agua e terra. Ele adicionou o conceito de “quinto elemento” ou “quintesséncia”, que constituia a conexio misteriosa ¢ 0 equilibrio entre 0s quatro clementos, ida que 0 conceito dos quatro elementos tenha circulado des- de os gregos antigos, a palavra temperamento primeiramente veio a uso no século xvit. A palavra latina femperamentum, ou “mistura”, foi usada para indicar o equilibrio necessdrio para se atingir sauide e bem-estar. Em e de maneiras distintas e, portanto, podiam ser claramente categorizadas. ‘Ainda que tenba sido temporariamente esquecido ao longo da iltima parte do século x1x, na primeira parte do século xx havia quase cinco mil relatérios sobre o sujeito. David Keirsey, Please understand me Il (Por favor me compreenda Il}. Prometheus Nemesis Book Company, 1978; p.25. @ ART & LARAINE BENNETT dor de tipos de Personalidade Myers-Briggs, ou MBTI, € considerado um dos inventdrios de personalidade disponiveis mais amplamente utilizados ¢ teve uma 6tima repercussdo popular. Contudo, David Keirsey, no seu Classificador de Temperamentos Keirsey, determinou (depois de uma extensa pesquisa sobre ambos, a a — surpresa! — quatro temperamentos bdsicos.* Keirsey admite que dois mil anos de consisténcia em termos da dis- tingao dos temperamentos nao é um acidente. Essas distingdes “refle- tem um padrao fundamental na base mesma da natureza humana”.* 2 soas ao redor de todo o mundo estao redescobrindo o valor e a sabe- doria contida nessa ferramenta tio antiga para a compreensao de si mesmo e dos outros. Fazendo os temperamentos trabalharem para vocé Com a pratica clinica e ao longo de muitos anos gerenciando progra- mas € pessoas, descobrimos que conhecer as diferengas dos tempe- ramentos realmente ajuda a melhorar a comunicagao entre esposos, filhos ¢ colegas; de fato nos ajuda a compreender nossas préprias forgas e fraquezas individuais. Colocar o temperamento para trabalhar comega com 0 autoconhe- cimento. Se eu sei, por exemplo, que tenho pavio curto, tentarei evi- tar situagdes de provocacao que inevitavelmente me deixam nervoso, 3 Keirsey, Please Understand Me 1, p. 26. 6 Ibid. Diferentemente de Keirsey, no entanto, n6s diferenciamos os temperamentos de acordo com intraversio/extroversio e preferéncias de pensamento/sentimento (onde pem- samento ¢ sentimento sao entendidos em termos da distingio entre pessoas que tomam decises baseando-se em légica/idéias ou em relacianamentos/pessoas). 26 (0 TEMPERAMENTO QUE DEUS LHE DEU @ € posso aprender a praticar técnicas para acalmar. Posso, ao mesmo tempo, tentar ser mais compreensivo com aquele colega de trabalho lerdo que me deixa maluco. Enquanto pai ou mie, posso compreender melhor as diferengas nos temperamentos dos meus filhos. apropriados; € simplesmente parte de seu temperamento. dendo o seu temperamento, sou capaz de perceber que jogi-la no _meio de um monte de criangas barulhentas nao serd a melhor maneira_ - ensind-lo como desenvolver habilidades de conversagao. Opri Nés devemos aceitd-los ¢ estar conscientes deles, io entanto, nao buscamos compreender o nosso temperamento apenas para ter uma desculpa que venha a calhar para o nosso préprio mau compor- tamento. Em vez disso, queremos compreender melhor os outros, me Ihorar nossos relacionamentos, expandir nossa capacidade de amar, e nos tornar mais eficazes na busca por nossos objetivos. Pessoas de certos temperamentos, por exemplo, acham as entre- vistas de trabalho especialmente desafiadoras. Elas sdo tentadas a minimizar seus talentos e habilidades — n&o devido 4 auténtica hu- mildade, mas simplesmente devido a uma tendéncia natural de ser cauteloso, introvertido ou timido, Conhecer a si mesmo nestas deter- minadas situagdes pode ajuda-lo a lutar contra essas tendéncias na- turais, em vez de simplesmente se deixar levar por aquilo que é mais cémodo para voce. Qs pais irao descobrir que algumas criangas, devido ao seu tempe- ramento, possuem uma tendéncia natural de subestimar os detalhes — nao porque tenham déficit de ateng4o ou estejam se comportando mal. Os pais podem ajudar essas criangas a adquirirem consciéncia desta tendéncia e a desenvolverem estratégias para superd-la. caardeiadealantonjuaectonmnstt arise eatin, “Por que ela sempre quer sair bem quando estou na expectativa de uma noite trangiiila em casa? Por que ele fica tao nervoso quando a casa esta bagungada? Nao é minha culpa que as criangas brincam a © ART & LARAINE BENNETT com seus brinquedos!”. As pessoas de certos temperamentos sao le- vadas a distragao por falta de ordem. Outras se desem em volta das pessoas e participando de atividades animadas. E ainda “ha outras que necessitam de muita paz ¢ silencio. Se nés aprendemos a prezar certos aspectos do temperamento do nosso cénjuge, garantimas que ndo estamos provocando-o desneces- sariamente, “apertando seus botées”, © aprendemos a nos compro- meter: “Vamos sair uma noite essa semana, mas nao logo depois de um dia dificil no trabalho. Eu vou combinar com as criangas de lim- par a casa antes de o pai chegar em casa, para que ele possa realmente telaxar depois do trabalho ¢ aproveitar o seu jantar”. Outro uso comum dos temperaments é aprender a descobrir o que realmente motiva os outros. | | Eu pre- ciso aprender a motiva-los de uma maneira diferente para dar-lhes uma injegao de animo. Os temperamentos revelam nossas tendéncias maturais; mas nao selam o nosso destino. A consciéncia das nossas tendéncias permite que tomemos decisées acerca da melhor reagdo possivel em qualquer situag4o apresentada, em vee de sempre navegar no piloto automa- tico, Precisamos aprender como ter a reagao apropriada para cada situagdo particular, e ndo apenas ter reag6es instintivas baseadas em nossas preferéncias naturais. Entender os temperamentos também nos ajuda na nossa vida espi- ritual. Uma pessoa de certo temperamento pode tender especialmente a ordem e a justiga, mas talvez precise se exercitar para alegremen- te incentivar outras pessoas. Alguém de outro temperamento talvez sinta 0 apostolado como algo facil e natural, mas talvez tenha que batalhar para conseguir tempo para uma reflexao silenciosa e uma profunda vida de oragdo. Outros ainda irdo descobrir que sua incli- nagdo natural é a de evitar a abnegagdo e 0 contflito, e que, portanto, talvez precisem de nm bom diretor espiritual ou de um grupe de ora- cao para ajudd-los a progredir ¢ a nao se acomodar com uma “vida. facil” ou se tornar um sedentario espiritual. 28 © TEMPERAMENTO QUE DFUS LHE DEU @ Platao citou Sécrates ao dizer que uma vida nao examinada nao vale a pena ser vivida. Compreender o temperamento que Deus nos deu é uma pega-chave nesse processo de exame de consciéncia. Pre- cisamos compreender a nés mesmos antes de compreendermos os outros e o mundo que habitamos. Se eu conhego a mim mesmo — realmente sei quem sou ao ter consciéncia de meus pontos fortes, fra- cos, tendéncias, desejos ¢ objetivos — entao jd dei o primeiro passo necess4rio para que me torne mais produtivo, satisfeito em meus rela- cionamentos, e verdadeiramente feliz. Como disse Santo Tomas de Ac natureza”. uma natureza ferida, todavia uma natureza que pode ser compreendida e, com a ajuda de Deus, desenvolvida. De fato, quanto melhor for a nossa compreensao de nds mesmos, melhor sera nossa capacida- de de controlar ¢ direcionar nossos humores e emogoes indomaveis — aumentando, assim, nossa liberdade pessoal. O desenvolvimento harménico e integral dos variados aspectos do nosso ser — natural e sobrenatural — ira nos ajudar a levar vidas mais felizes e produtivas € a nos tornarmos mais eficazes em nossa vocagio crista, e ira nos impulsionar mais serenamente rumo ao nosso objetivo final: 0 céu. 2» CAPITULO II RESUMO DOS QUATRO TEMPERAMENTOS a Um rapido autoteste” 1, Uma sirene comega a girar atras de vocé e vocé percebe que um carro da policia 0 esta enquadrando. Vocé pensa: Q Nao existe a menor possibilidade de o seu radar estar correto. Eu quase nao ultrapassci o limite de velocidade. Os carros a minha frente estavam correndo. Ah, nao! Eu ja ouvi falar de pessoas que foram presas por conta disso! Q Sera que eu estava dirigindo rapido? De qualquer forma, qual 0 limite de velocidade nessa rua? Q Eu estou com a minha carteira? Onde eu coloquei aquele docu- mento do carro? 2. Vocé esta em um retiro silencioso de final de semana. Seu telefo- ne toca. © que vocé faz? D Atende o telefonema porque pode ser importante. Esta confian- te de que nao ira afetar negativamente as coisas. 7 Na pagina 209 vocé ird encontrar 0 nosso préprio Indicador de Temperamentos, um autoteste abrangente que ird ajudé-lo a identificar seu temperamento predominante. ” & LARAINE BENNETT 4] Nao atende ¢ pensa: “Sera que nao percebem que eu estou em um retiro de siléncio? Por que esto me incomodando? Eles sao to desatenciosos!”. Q Atende na primeira chamada e comega a bater um papo. Afinal de contas, vocé ja ficou em siléncio o dia todo. 4 Vocé nao quer desapontar a pessoa do outro lado da linha, entao atende a ligagdo, mas sussurra, de modo que ninguém o escute. 3. O seu chefe pede que entre na sala dele. Vocé pensa: 1 Ele finalmente reconheceu minhas contribuigées superiores. Vou ganhar um aumento! QO que houve de errado dessa vez? Aposto que aquele novo ge- rente da divisao foi flagrado nao trabalhando de novo. Q Ele provavelmente gostou da minha idéia para o tema da festa de Natal. O Espero que ele nao queira que eu trabalhe até tarde hoje... Bom, acho que eu vou ter que ficar.., (Suspiro). E tudo sobre padrées de reacao Em cada um dos itens acima, a primeira reacao é tipica do tempera- mento colérico, a segunda do melancélico, a terceira do sangiiineo, ea quarta do fleumatico. Este curto e divertido jogo de perguntas e respostas ilustra a caracteristica fundamental do conceito de tempe- ramento: pessoas de diferentes temperamentos tendem a reagir a um estimulo idéntico de maneiras muito diferentes. Ademais, a maneira como cada pessoa reage tende a ser consistente ao longo de sua vida. Essa consisténcia ou coeréncia de reacao se deve ao seu temperamento. Temperamento é mais facilmente compreendido em termos de pa- drées de reagaéo — a maneira como diferentes individuos reagem ao mesmo estimulo, seja interno ou externo. Essa reagao inclui tanto a velocidade e duragao da rea¢ao, quanto a intensidade da reacao. Uma pessoa pode reagir devagar ou rapidamente a um estimulo. A 2 reagao pode durar um longo periodo de tempo ou ser rapidamente esquecida. A reagao pode ser leve, exagerada, ou algo no meio disso. E 0 padrao de reagao de cada individuo sera claramente identificavel € praticamente imutavel ao longo de sua vida. Por exemplo, quando alguém corta vocé na estrada, vocé fica ins- tantaneamente irritado, murmurando xingamentos sob sua respiragao e agitando o punho em diregao a ele? Ou lhe ocorre trés ruas depois que vocé talvez tivesse morrido... e af vocé fica realmente chateado? Quando vocé nao conseguiu aquela promocao, ficou matutando so- bre isso sozinho e se torturando por anos? Ou deu de ombros ¢ disse “que eu tenha mais sorte da proxima vez"? Se vocé lé um artigo inte- ressante, imediatamente envia vinte e-mails para seus amigos sobre o incrivel insight que teve? Quando alguém pergunta sua opinide, voce precisa ponderar a questo por um longo tempo, até que tenha com- pletado uma pesquisa suficiente antes de opinar sobre o assunto? Ou voce imediatamente comega a falar — e espera descobrir sua opiniao 4 medida que fala? Demora muito tempo para que descubra quem sao seus amigos ou instantaneamente cria vinculos com muitas pessoas? O quao rapidamente reage quando é elogiado ou repreendido, ofendido ou insultado, ou sente simpatia ou aversio a algo ou al- guém? Reage rapido a ofensas percebidas? Fala ou retalia imedia- tamente? Ou vocé parece ser incapaz de encontrar as palavras ou tomar uma atitude, mesmo que esteja muito angustiado com a ofen- sa? Talvez vocé raramente seja afetado por ofensas, dificilmente fique nervoso, e raramente dé espago a qualquer tipo de ma vontade; seus amigos dizem que vocé é “facil de lidar®. Em todos esses panoramas, seu temperamento ird parear com a maneira como vocé tende a reagir, com © quao rapidamente tende a reagir, € 0 qudo intensamente tende a reagir. Quatro questées podem ajudd-lo a discernir o seu temperamento a partir de seus modos de reagao usuais. Extrovertido ou introvertido? Uma das distingdes primdrias acerca dos temperamentos é essa entre extroversao ¢ introversdo. Falando de modo geral, um extrovertido € 3 @ ART & LARAINE BENNETT alguém que tende a focar e estar confortavel com o ambiente externo (pessoas e eventos), enquanto que um introvertido tende a focar e estar mais confortavel com seu mundo interior (pensamentos e emo- Ges). Neste livro, extroversao indica uma ampla gama de caracteris- ticas que incluem (mas nao se limitam a) um certo grau de vivacidade sustentada, de sociabilidade, entusiasmo e interagdo com o mundo externo. Introversdo se refere a uma tendéncia de estar internamente focado, ser reservado, reflexivo, menos caloroso, menos confortavel socialmente, ¢ menos ativo. Note que utilizamos extroversao no sentido psicolégico (em opo- sigdo ao senso comum e popular da palavra extroversdo) para nos referirmos a essa constelagao de caracteristicas. Especialmente, nao significa simplesmente ser “saidinho” ao invés de “timido”. Muitos introvertides ndo sao timidos, ainda que prefiram passar uma noite silenciosa em casa. Os dois temperamentos com as reagées mais rapidas, colérico e sangiiineo, so ambos primariamente extrovertidos. S40 dados fun- damentalmente as ages, e expressam suas reagées a experiéncias € pensamentos externamente. Estao intensamente cientes € continua- mente reagindo ao que est4 acontecendo fora de si mesmos. Extrovertidos tendem a falar mais do que a escutar, a usar gestos expressivos a express6es faciais, e a exagerar ou repetir seus argumen- tos. Freqiientemente, um extrovertido comegar a falar antes mesmo de saber o que pensa acerca do assunto — na esperanga de que, a0 verbalizar, seus pensamentos se tornardo claros para ele bem como para 0s outros. Por outro lada, um introvertido —normalmente de temperamento melancélico ou fleumatico — quando apresentado a uma idéia ou ex- periéncia, necessita de tempo para processar a informacao. Enquanto um extrovertido processa novas informagées falando sobre elas, um introvertido precisara de tempo para refletir, internalizar ¢ assimilar a nova informacgao. Nossa filha introvertida tentou planejar com antecedéncia seus comentdrios para um curso universitario no qual um tergo da grade seria baseada em participagao em sala de aula. Ela odiou fazer o que considerava observagdes aleatérias sem a devida reflexdo — como os extrovertidos tendem a fazer. Nés tivemos de convencé-la de que, pelo bem da matéria, teria que tentar dizer algumas coisas de cabeca. u © TEMPERAMENTO QUE DEUS LHE DEU @ Introvertidos tendem a ser mais internamente focados, mais au- toconscientes; podem, as vezes, parecer distantes ou reservados. In- trovertido nao é 0 mesmo que “timido” no senso comum. Um in- trovertido pode ser considerado timido quando crianga, mas pode superar esse rétulo através da maturago social. Como adulto, ralvez seja capaz de animar uma festa — mas iré achar emocionalmente esgotante e provavelmente preferiria passar uma noite silenciosa em casa. Contuda, existem introvertides em todos os tipos de profissdes altamente sociais: oradores publicos, vendedores e comediantes. A caracterfstica para distinguir, portanto, e determinar se vocé é introvertido ou extrovertido nao é se vocé é considerado timido, mas se tende a reagir interna e passivamente aos estimulos, ou (como fa- zem os extrovertidos) externa € ativamente. Vocé se expressa com facilidade (extrovertido) ou com alguma dificuldade (introvertido)? Tem uma intensa vida interior (introvertido), ou busca ser valorizado externamente (extrovertido)? E tentado a resolver os problemas fa- lando sobre eles (extrovertido), ou tende a internalizar os conflitos e ensaiar didlogos dentro da sua cabega (introvertido)? Sente-se energi- zado e revigorado por interagdes sociais (extrovertido), ou fica exaus- to com interagées sociais intensas? Os outros o consideram caloroso ¢ amigdvel, ou dizem que é reservado ou que demora para se anitnar? Pensa primeiro? Ou age primeiro? O lema do extrovertido talvez seja: “Aja primeiro, pense depois” (ou “Fale primeiro, pense depois”), enquanto que o lema do introvertido seria: “Pense primeiro, aja depois”. Extrovertidos tendem a expres- Sar seus pensamentos e sentimentos imediatamente, sem uma reflexdo profunda. Quando uma decisdo tem que ser tomada, um extrovertido nao ira hesitar em tornar conhecida sua opinido (coléricos) ou em pe- dir opiniao para os outros (sangiiineos). Coléricos e sangiiineos t¢m pouce remorso em dividir seus pensamentos (coléricos) ou sentimen- tos (sangiiineos). Muitas maes desabafam sobre seus filhos sangiiincos dizendo que “nenhum sentimento passa sem ser expressado”. Mui- tos amigos ou companheiros de trabalho podem atestar a tendéncia do colérico de “agir sem pensar”. Coléricos e sangilineos costumam 35 @ ART & LARAINE BENNETT sentir-se confortaveis na frente das pessoas em festas, ainda que o colé- rico talvez requeira mais “tempo sozinho” do que o sangiiineo. O introvertido melancélico terd maior facilidade que o fleumati- co em expressar seus pensamentos ¢ idéias, mas sera freqiientemente considerado impessoal, exigente, ou mesmo frio por seus conhecidos. O melancélico nao ird revelar seus sentimentos prontamente, ¢ pode- ra dar sinais sociais mal compreendidos. O introvertido fleumatico, por outro lado, esté mais ligado a seus préprios sentimentos ¢ tam- bém aos dos outros a sua volta, ¢ se importa profundamente com os outros; contudo, tende a ser reservado e até mesmo discreto quando se expressa para evitar conflitos ou por medo de ser machucado. En- quanto o légico e analitico melancélico fica confortavel examinando e explorando seus préprios pensamentos, a vida interior do fleumati- co pode, as vezes, ser um quebra-cabega tio complexo que nem mes- mo ele quer passar tanto tempo analisando-o. Introvertidos — sejam eles fleamaticos ou melancolicos — podem, as vezes, ser acusados de esnobes Ou ariscos em situag6es sociais, quando, na realidade, simplesmente precisam de tempo ¢ espago para processar a informagao e refletir sobre ela (melancélico) ou sentir- -se confortavel e ter confianca (fleumatico). Expressdes externas de sociabilidade — sorrir, olhar os outros nos olhos — que vém 4 tona tio facilmente para sangilineos ¢ coléricos, sio comportamentos que devem ser aprendidos por pessoas de tempcramento introvertido. Ambos, melancdlicos e fleumaticos, devido a sua tendéncia a intro- versao, tendem a ser, de alguma forma, menos ativos ou produtivos externamente do que os de temperamento colérico e sangiiineo. Em geral, introvertidos sao mais reflexivos, menos confrontantes, € to- mam menos iniciativas. Principios ou pessoas? ‘Os dois temperamentos que dao mais valor 4 harmonia dos relaciona- mentos, a colaboragdo com as pessoas, ¢ 4 importancia de se colocar no lugar dos outros e considerar seus sentimentos € necessidades sao os sangiifneos e fleumdticos. Vocé ¢ um bom colaborador e jogador de time? Sente-se desconfortivel quando ha conflito ou discérdia? As 6 TT eT © TEMPERAMENTO QUE DEUS LHE DEU @ ‘vezes sobrecarrega-se tentando ajudar os outros? E bom em colocar- -se no lugar dos outros? Entao vocé provavelmente é sangiiineo (se é extrovertido) ou fleumatico (se ¢ introvertido). © sangiiineo é a classica “pessoa socidvel”, combinando extro- versio com um desejo natural de agradar as pessoas € criar relacio- namentos. O fleumatico também é orientado para relacionamentos, ainda que de uma maneira introvertida. Os fleumdticos querem que todos a sua volta sejam felizes; querem evitar ¢ dissipar © conflito. Os temperamentos sangiiineo e fleumatico dao grande prioridade para os bons relacionamentos, portanto tendem a ser adaptaveis e coo- perativos — desde que suas necessidades mais fundamentais sejam atendidas. Para preservar a harmonia, ambos tenderao a concordar com aqueles a sua volta, em vez de tentar impor seu prdprio desejo ou tomar a lideranga. Coléricos e melancélicos, por sua vez, geralmente nao tomam deci- sdes baseando-se em agradar os outros ou em manter relacionamen- tos pacificos. Em vez disso, so motivades por seus objetivos, idéias e ideais. Nao valorizam os sentimentos tanto quanto valorizam prinei- pios. Tendem a buscar objetividade ¢ clareza em uma dada situagao ou para tomar certa decisao, em vez de se preocuparem em como as pessoas sao afetadas com isso ou se sentem em relagao a isso. Se forgados a cscolherem entre a verdade ¢ a diplomacia, os coléricos e melancélicos escolherao a verdade. Agora pergunte a si mesmo: Sou extrovertido ou introvertido? Q Tomo decisées baseadas primeiramente em principios légicos ou em relacionamentos? A lideranga surge em todos os tipos RR a — sio rr Ainda que qualquer pessoa de qualquer um dos quatro temperamentos possa desenvolver fortes habilidades de lideranga, 37 @ ART & LARAINE BENNETT t Um comité de planejamento colérico-melancélico seria uma excelente combinagao: © colérico daria o pontapé inicial do projeto e entraria com a estra- tégia inicial, e o melancélico faria 0 advogado do diabo, corrigindo qualquer deslize ¢ aperfeigoando o plano. Orcoléri ‘ser franco teimoso, argumentativo e questio- nador. O melancélico nao dira rapidamente o que lhe vem a mente, i fessores terao de tra- balhar para adquirir o respeito de ambos, coléricos ¢ melancélicos. s r serdo recebidas com criticas por ambos — pelos coléricos de maneira -expressa, pelos melancélicos de maneira nao dita. — Sangiiineos e fleumaticos normalmente se sentem mais confortd- veis trabalhando em equipe e preferem desempenhar um papel de apoio ou de subordinados. Normalmente nao se sentem confortaveis adquirindo para si as tarefas muitas vezes Arduas ¢ exigentes que a lideranga exige — tomar decisées impopulares pelo bem da missao, assumir lideranga e delegar, permanecer com sua fungdo e garantir que 0s outros cumpram as suas, ¢ assim por diante. Todavia, quan- do colocam a idéia na cabega, normalmente se tornam os melhores lideres. Utilizario a habilidade de compreender e de se conectar com as pessoas para se tornarem lideres servis (fleumaticos), que coman- dam fazendo o mesmo que — ou até mais — pedem para os outros; ou lideres carismdticos (sangiiineos), que lideram impulsionados pela forga de seu entusiasmo e personalidade. No préximo capitulo, discutiremos em detalhes os quatro tem- peramentos classicos. Recomendamos que enxergue esse estudo dos 38 OTEMPERAMENTO QUE DEUS LHE DEU @ temperamentos como uma ferramenta para a auto-avaliagao e auxilio Para compreender e valorizar os outros. Nao pense que cada pessoa deve se encaixar exatamente dentro de uma dessas quatro caixas. Ao contrario, veja esses retratos dos quatro temperamentos como chave de compreensao para as tendéncias que, derivando de nossa natureza, influenciam nossa personalidade total. 38 rf CAPITULO III QUAL E O MEU TEMPERAMENTO? = “Todo temperamento é em si mesmo bom, e com cada um 0 homem é capaz de fazer o bem e trabalhar por sua salvacao”. Padre Conrad Hock, em Os quatro temperamentos Vamos agora passar brevemente por cada um dos quatro tempera- mentos classicos: colérico, melancélico, sangiiineo ¢ fleumatico. Lem- bre-se: esses retratos representam 0 “ideal puro” do temperamento ¢ a maioria das pessoas nao se identificara com a descri¢do exata. A maioria das pessoas 6 composta pela combinagao de dois tem- peramentos, com um dominante (ver capitulo 9 para uma completa discussao dos temperamentos primarios ¢ secundarios). O COLERICO Nao sabeis que os que correm no estddio, correm sim todos, mas um s6 é que alcanca 0 prémio? Correi, pois, de tal maneira que 0 alcanceis (1Cor 9, 24) Entusiasmo, energia, inteligéncia, ¢ uma grande forga de vontade se combinam para fazer do temperamento colérico o de um classico al © ART & LARAINE BENNETT batalhador. Seja em casa ou no trabalho, o colérico ira assumir a lideranga e realizar muitas tarefas em pouco tempo. O colérico reage rapida e intensamente; determinagao é sua marca registrada. Além do mais, é extrovertido e autoconfiante, fica confortavel tomando conta das pessoas, bem como das situagdes. Oposigao nunca é uma pedra de tropego, mas, ao contrario, um incentivo ainda maior para a aco. Dindmico e direto, 0 colérico tem uma mente afiada ¢ pensa. de mado independente. Ele sempre lhe diré 0 que pensa. O entusiasmo e a energia do colérico irao atrair outras pessoas para si. Prospera nas atividades; o trabalho o revigora. E otimista ¢ magnanimo; valoriza 0 sucesso de seus esforgos ¢ estabelece metas. Fica confortavel no poder, floresce nas competigdes e é confiante em suas decisdes, Coléricos sao eminentemente racionais; esperam ouvir bons moti- vos para qualquer argumento. Mesmo quando crianga, nao accitarao “porque eu disse que sim” como razao suficiente para fazer algo. Co- léricos sdo capazes de compreender um cendrio mais amplo e podem comunicar suas visd¢s aos outros; sao organizadores naturais e tendem a ascender a posigées de autoridade. Expressam com facilidade suas idéias aos outros, mas s40 menos dispostos a ouvir. Detestam “perder tempo” em reunides, relagdes profissionais ou pequenos detalhes. Mui- tos empreendedores so coléricos. Tendem a nao delegar pois acredi- tam que podem fazer melhor ¢ mais rapidamente eles mesmos € porque apreciam sua propria produtividade. Um colérico pode também obter sucesso come diretor executivo, lider militar, fundador, ou em qualquer outra profissao em que sua lideranga ¢ viso sejam valorizadas. Existe, é claro, o lado negativo dessa intensa e entusiasmada perso- nalidade. O colérico é rapido para julgar, formar uma opiniao, e atacar com teimosia — freqiientemente sem a devida reflexao e, as vezes, sem compaixao pelas pessoas no seu caminho. Se vocé alguma vez jd trouxe para casa algo que precisava ser montado e mergulhou de cabega na ta- refa sem sequer olhar as instrugdes, entao vocé talvez seja um colérico. O colérico pensa que ler um manual ou estudar um mapa antes de sair pela porta é perda de tempo; ele pode resolver no caminho. Sua inteligéncia, determinagao e alta produtividade o tornam im- paciente — e por vezes até mesmo desdenhoso — com aqueles que tém menos talento. Pode ser dominador, resistente, ditatorial, excessi- vamente ambicioso, insensivel. E propenso ao orgulho ¢ a raiva. O a

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