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Mas qual é |, o crime deste rapaz? Uma noite no Cinem. Colaboram _ neste ndmero: x Centro de Documentacao APPAD x Prof. Dr. Luiz Mott e Gasparino Damata. Colaboradores: Agiido Guimaraes, Frederico Jorge Dantas, Alceste Pinheiro, lapohi Aravjo, Billy Aciolk y, Luis Canabrava (Rio}; José Pires Barrozo Filho, Paulo Augusto (Niterdil, Amylton Almeida (Vi 16ria); Giatico Matoso ($80 Paulo} Gilmar de Carvalho (Fortaleza); Caio Fernando Abreu (Porto Alegre) Ante: Ivan Joaquim, Mem de Sa LAMPIAO @ uma publicac3o de Lampiiio, Editora de Livros, Revistas e Jornais, Endsteco: Caixa Postal 41031, ZC- ia Teresa). Rio de Janeiro 80 “assumir” — 8. POSICaO IsOlacs, que 2 Grande Consciéricia Homos- sexual reservou a0s que ndo rezam pela sua cartiha, e que conver & sua perpetuac3o © ao seu funcio namento. jossa resposta, no entanto, es: ta: @ preciso dizer no 40 queto @, BMY Consequencia, sai dele. O que nos intéressa @ destruir a imagem-padrao que se taz do homossexual, sequndo a qual ele & um ser que vive nas sombras; que prefere a noite, que encara @ sua preteréncia. sexual, como_uma/ es peécie de maldic3o, qué 6 dado-acs agemanes e que sempre esbarra, em qualquer tentativa dese. realizar ‘mais amplamente enquanto. ser humano, neste fator capital: seu apenas “"bobos da corte” —, de- Claramse por ledo engano, lives de toda discriminagdo e com acesso a amplas oportunidades; 0 que LAM PIAO reivindica em ‘nome dessa ‘minoria @ nBo apenas se assumir e ser aceito — 0 que nos queremos & resqatar essa condico que todas as sociedades consttuidas em bases ‘machistas Ines negou: o fato de que 0s homossexuais $80. seres_hu manos e que, portanto, tém todo 0 direito de lutar por sua plena rea: ligacdo, enquanto tal ara. is60,-estaremos-mansaimen- tin todas aé bancas do Pals, fa lando da atualidade e procuran do esclarecer sobre a experiéncia homosexual em todos 05 campos A ideia de publicar um jornat que, dentro da chamada imprensa alternativa, desse éntase aos assun- tos que esta considera “no prio: fitérios”, surgiu em novembro do ‘ano passado, e provocou uma série de teunides; na principal delas, realizada em S80 Paulo, onze pes 085 assumiram 0 que a mesma im- prensa alternativa. chamaria de “compramisso_histérico'': estava criado LAMPIAO, @ ficou decidido ue 0s onze criadores formariam um Conselho, encarregado de tracar a linha editorial dessa publicacao. O mesmo Consoiho selecionaré no futuro — de acordo com a viabi lidade do projeto agora posto em pratica —, sempre seguindo a linha, adotada pelo jomal, os livros que & editora criada para editar LAMPIAO ublicars E este 0 Conselho Editorial de LAMPIAO: Adio Costa — Jornalista, ex terapeuta ocupacional, pintor, exer endo esporadicamente as funcdes {de tradutor (inglés-portugues). Senhores do Conselho Aguinaldo Sitva _ Jornalista es pecializado em assuntos. policiai escritor (tem dez livros publicados), tem uma longa experiéncia na im: prensa alternativa: colaborou com Opinio desde os primeiros. nu: metos, e € um dos fundadores de Movimento. Antonio Chryséstomo — Jor: nalisia, especializado em misica popular, escreveu, produziu edirigiu varios shows. € um dos mais po: lemicos eriticos musicais do pais. Clovis Marques — Jomalista e tradutor, faz critica e cinema. Sub- editor do Guia de Filmes publicado pela Embrafilme, € correspondente, ‘no Brasil, de Film Dope, de Londres. Darcy Penteado — Artista plas- tico @ escritor. Uma das figuras mais importantes do front cultural pau- ta, fol 0 primeiro intelectual bra- sileito a defraudar publicamente @ bandeira de luta contra a discri- minaco e © preconceito em relacdo 20s homossexuais. Seu primeiro livro, A Meta, com histérias que ‘abordavam esse tera, foi um dos maiores sucessos editoriais do ano passado. Francisco Bittencourt — Poeta, critico de arte e jomnalista, publicou dois livros de poemas. E membroda Associagao Internacional de Criticos de Arte (sec30 do Brasil. e colavora ‘come critico em varios jornais. Gasparino Damata — Jomalsia © esciitor, com passagens pela Giplomacia, Organizou duas_an- tologias — Histérias do Amor Mal- ito © Poemas do Amor Maldito — que tinham 0 homossexualismo ‘como tema JEAN-.claude Bernardet — Critico de cinema, um dos tedricos do Cinema Novo, possui também ‘uma longa expeniéncia na imprensa alternativa. Um dos colaboradores mais ativos do Opinio, € um dos fundadores de Movimento. Jo3o Antonio Mascarenhas — Advogado, jornalista_ e tradutor, abandonou a burocratice dos Minis- PAGINA2 do meio sobre 0 que seje a verdad mossexualidade e, principalmente, de auto-conscientizacio dos artistas cria- dores. A Teré existido uma arte pictorica erbti- cochomossexual entre nés, mesmo em c= riter timido @ precério? Dei uma pes- uisade no meu arquivo de artes plésticas, Cconstatando a maior das pobrezas nosse sentido. Os nossos académicos Zefer dda Costa, Oscar Pereira di Silva, Almeida Janior e'Bernardelli pintaram belfssimos ‘nus femininos ("A pompeana”, "Escrava fratérios a0 nu masculino. € antes que al- guém mais exacerbado levante a objecdo, ‘2u mesmo a faro: “E por que haveriam de pinté-lo quando a tendéncia da época, (apesar das remotase distantes emanacbes \Wildcanas que poderiam vir da Europa e das "pegagtes" de Bilac na Rus do Ouvi- dor...) eram para a exclusiva apologia du corpo feminino? Além disso, acrescente- se que pouco ou nada se sabe, nem houve mesmo, creio, interesse em sab.r, sobre as preferéncias sexuais dos referidos artistas. “J4 nfo estou entlo, na tentativa de en contrar intengSes homossexuais na nossa pintura, apenas pretendendo localizar 0 ‘que poderia ser chamado de ape/o 20 ero: tismo homossexual. Passo ent#o 205 nos ‘508 pintores indianistas (quem sab.? ) mas. (08 silvicolas das telashistéricas brasileiras arecem estar sempre preparados para cantar (em italiano), "O Guarani”, de Carlos Gomes!... Alguns usam até peies de leopard, imaginem. Unica excecdo é "O Ultimo Tamoio”, de Rodolfo Amoedo. Nio que © indio da tela soja menos euro: peizado que os outros ou exista nessa fi- ‘gura uma intengSo erética a priori — mas no se pode negar que ela esta 14, com ou sem intengéo do pintor. Neste retrospecto paupérrimo, spare- cem ainda dois nus masculinos J Eliseu Visconti, denominados “Academia” © "Nu", obras de bastante significaglo: e da juventude do artis- ta, um torso nu com cabeca de tracos vi- gorosos e olhos claros, que tem boas ‘chances de provocar d.vaneios em homot- ‘sexuais imaginosos. Mas... 0 que 6 afinal oerotismo? Qual © limite entre este e a porografia? Muito {8 se disse ou se fez, send que cada épca © adaptou a0 seu gosto. Uma amiga em ‘cuja sensibilidade nfo ponho dividas, diz ‘que erotismo ¢, por exemplo, uma mulh.r ‘coberta de véus, apenas com uma ponta de pé & mostra — bem mais erética que ‘outra que exponha 0 corpo sem mistérios. A definicSo de erotismo depende ento do grau de sensibilidade de quem vé, mais que daquilo que & visto. Transpondo, 00- de-se dizer também que 0 concaite d. TH, epee eee tes Sere imoralidade esté na cabeca de quem ve, do no que é visto, c ‘Ainda sobre o nu masculino: bastante conhecida nos meice paulistas de arte, & ‘uma. figura_nua pintada no medalhio central da platéia do Teatro Municipal, ccujo modelo foi 0 ento jovem na époce ho do artista e também pintor, Paulo Rossi Osir, artista pléstico, que participou do Spam, movimento post-modernista brasileiro. Porém, € 2 Anita Malfatti que ceabe a gloria de haver criado os nus mas ulinos mais corajosos da nossa pintura. © “Retrato de Sangirardi nu” por exemplo, nada deixe para sor imaginado. Tudo est ali, de corpo presente, para espanto do blico quando a tela foi exposta pela primeira vez. Tembém excelentes e cora- josos s80 os seus desenhos anteriores da fase alemé (1911 a 1915). 'NBo me consta que exista nada depois de Anita Malfatti © antes. dos meus pri- meiros desenhos erético-homossexuais, ue data de 1948-49. € nfo tenho di i” © gBnero no Brasil. Em ato te 1000 (nettato don Arlt, 'S, Paulo), expus oito pequenos trabslhos dda série que Reynaldo Bairfo batizou de "Adolescentes possuides em Devs”. O ‘escdindalo foi grande, tanto assim que ape- sar da opiniBo elogiosa de Sérgio Millie, @ ‘eritica em questo deixou de ser pu dda no “Estado de S. Paulo” porque algum ‘uardido da bos moral telefonou 20 jornal reclamandos sobre 0 cardter indecoroso da mostra. f Eu poderia dividir a gloria (gloria? ) da pesquisa nesse setor com Carlos Bastos {que na mesma época, isto é,em 1949 decorou em Salvador o bar “Anjo Azul", considerado por Satre o primeiro bar exis- tencialista da América do Sul,.sem no ‘entanto fazer consideraces sobre 0 card: ter homosexual dos painéis — cardter e2te que 0 proprio pintor no considere to definido como nos seus desenhos pos- teriores, em nimero de 50, aproximada- mente, '¢ que foram adquitidos pelo in- dustrial Curt Well, dos Rio de Janeiro. Com 0 morte de Curt Weill é alguns anos ards, ese acervo, apesar de sue importin- Cia, tomou paradeiro ignorado. Para completar esta reduzida bibliogrs- fia sobre uma possivel arte erbtico- hhomossexual brasileira, eu citaria as obras e um outro baiano, 0 excelente desenhis- {ta Luts Jasmim, Aconteceu com Jasmim 0 ‘que quase sempre: acontece quando ume. ‘temética ¢ imposta ou autoimposta os seus desenhas.intencionalmente homcs- Sexuais, com cenas de sexo coletivo, por ‘exemplo, eonhero dois deles).sBo frétos porque @ qualidade do desenho perde para 2 cbjetividade da motivacio. Porém. le te fevblita de form sublime om Be me me ‘outros trabalhos (que talvez ele nem clas- Sifique como erético: homassexuais,ins- rados em cerémicas greg, onde quer- ra com 2 pertes sexuals frequente- mente 2 mostra, repousam da betalha entre elmos e couracas. E possivel que atyolmenta a arte picté- rica erético homossexual esteja mais Gifundida entre nés, com maior nimero de pesqusadores, mes como ainda bem pouco se divulga ou se expe, pouco ou nada se conhece.Quanto a mim, 86 voltei inter nus, particulermente rus mescul ‘hg, depois de 1971. Um deies era um ‘Adio a manera de Durer @ meu modelo {oi o ator Marcelo Pichi. Essa tela, como ‘a8 outras da série, ndo era intencional- mente erética. Era. apenas a imagem ‘Suporte que, por meio de plasticos trans- Parentes, o espectador vestia ou espia. Em i973 tentel com bom resultado uma volta ao.erotismo homossexual que ‘0 deixara Id atrés, em 1948. Influenciado pelo pintor austriaco Gustav Klint e pelas. alegorias “‘art-noveau” de Mucha, pintei quatro “sentimentos essenciais”, série que deveria ter sido ampliada, mas que até hoje $6 ficou nessas quatro telas. Inten- cionalmente copiei composicées e efeitos plésticos desses dois artistas, mantendo inclusive as posturas. As figuras, porém foram. mudadas, de feminines para rmageulinas. ‘esse mesmo ano, na XIII Binal de So Paulo apresentel_uma propasta. de arte em forma de audiovisual 86 indire- tamente erahomossexual: havie duascenas no género, entre doze realizadas com pes- fous de sexor opostos. A "Propesta de ‘Ammor”, asim se chamava, fazia 8 epolo- gia do amor e desmistificava 0 tabu da Fudez. Mostrei pessoas bonitas, despidas e-em posture. de estatusra, ‘provando ‘asim que a! nudez é bela e deve ser ‘contemplada sem preconceitas ou falsos moralismos. Os meus modelos, fotogre fades por Thomas Scheier (com ele pré- prio, @ esposa ¢ a filhinha de trés anos também posando despidos), transforma-: ram-se em réplicas de estétuas gregas, 0 que foi apreciado por mais de cinco mil pessoas que durante os dois. meses da bienal lotaram o auditério, Muitas dessas essoas deicaram por escrito a suas ‘zsistimas voltamos trazendo "Umea imagem de bele- 2a, Isenta de. malic; "Nunca a nudez foi mostrada de maneira t8o limpa e boni- ta”, Havia ainda desenhos ingénucs de coracdes traspessados por fleches, com ols nome dentro, ett Contrariando ética prevista, 0 juri internacional nos. apleudiu de pb, n0 final da projerdo & 0 representante da Bélgica, que sentara-se G0 meu lado, enxugou as légrt i Centro de Documentacao APPAD * qosaciaghe paranacnse da parada dardiversidade Prof. Dr. Luiz Mott i j ee ee eee eee eee oe chez Melia gara.transformisio no seu Poe: E verdade que Lorca, apesar d. que (tambérn) disse Salvador Dali ~ “ele era Jouco por mim”, comentou certa vez 0 piintor —, nunca’ saiu, em relagso 3 sua sexvalidade, da zona ‘de sombra. Tanto {que 56 em 1976 a Universidade inglesa de ‘Oxford publicou sua peca E/ Public, es crita em 1930 e entreyue por ele a0 seu amigo Rafael Martinez Nada! com uma re- ‘comendagio: no deveria sor nunca pb cada. Morto Frederico, seu irméo Fran: clteo, guardifo de sua obra, revelou a ‘mesma preocupagio, ¢ £/ Publico, uma ‘andlise de angGstia de umidiante da in ‘compreensio da sociedade, permaneceu a sete chaves. ‘Agora, com a encenagiio de E! Plblice ppelo Teatro da Universidade de Porto” Rico, sabe-se que Lorca, se a peca tivesse sido lancada & época em que fot escrita, oderia ter perdido 0 seu lugar como se ‘gundo mito da esquerda espanhola — 0 primeira € a indefectivel La Passiondria , mas certamente teria ganho como dra- rmaturgo. Nesta peca, tem 40 persona: ‘gens em Gena. A maioria dos protagonis: tas so homens que desempenham papéis fomininos, “um avanco de muitos anos du ‘engenho inventive lorquiano sobre 0 tea: ‘19 do absurdo dos anos cinquenta”. Vic toria Espinosa, diretora do espeticulo de Porto Rico, define 2 peca: — Lorca defende em E/ Pubiico 0 amor lem todas as suas acepodes, o amor entre! ‘um homem e uma mulher, o amor hmos- sexual, 0 amor franciscano entre um ser ‘aniquiladoe um inanimade como. uma ros, CO contraste entre essa pegae as outras do autor consiste no fato de que, a0 con: tritio de Bodas de Sangue, Yerma, A Casa de Bemarda Alba, nfo & sole mulhores ue ele fala, mas é sobre os homens, dessa vez, que se abate a metéforalorquiana da frustracdo. O personage principal é um tor de teatro que se desdbra em vé j08 personagens e que procura uma obra para setistazer 0 piblico qu deseja a ‘mentira, mas a0 qual a vida seré mostreda ‘ua. E existe aqui outro detalhe no qual Lorea também se adiantou 30 anos. em relagfo a0 seu. termpo: hé algumas cenas de nus. E uma pena que s6 agora €/ Pubico cchegue 20 conhecimento do piblico. Ela permitira que se discuta, numnivel mais aberto — ja que ¢ ele proprio quem fala =, 0 problema da sexualidade de Lorca, tantas vezes reprimida, inclusive por ele proprio. (\.S.) PAGINA QO nosso prazer é melhor? Para comeco de conversa, em ve trata ddo de orgasmo,é preciso por as coisas no lugar: as pessoas devem ser informadas, primeiro, de que 0 homossexualismo, na verdade, & uma disposico emocianal {atenclo: no. ma perversso, nem uma doenca, iso jd ficou estabelecido pelos es- pecialistas) que leva ao contato préximoe fntimo entre pessoas do mesmo sexv, ‘contato esse que pode ou nio ser expres- so sexualmente, Portanto, a idéia de que (05 homossexuais $5 pensar em sexo dive ser de. sa(da afestada, ¢ ito nos levard imediatamente a um conceito muito mais, amplo do que seja homossexualismo: ele ‘abrange, inclusive, akgumas formas bastan- 1 viris de amizade masculina, Dito © que, 6 bom lembrar que 0 oF- ‘g2smo homossexual esté diretamente rela- sionado com 0 orgasino do sexo 2.4.2 0 homossexual pertence, jd que % existem dois sexos, ¢ 0 homosexual obrigatoria- mente pertence a um deles, quando é ho- ‘mem, ou quando 6 mulhr. E entio se Dpergunta; 0 que se sabe sobre 0 orgesma ‘masculino? Para a maioria dat pessoas, € principalmente para 0 bem-estar @ a tran- tilidade da sociedade machista em que ‘termina na ejaculagéo, © ¢ 0 momento ‘culminante de um ataque (0 pénis € uma arma) cujo nico objetivo é a vitéria, ov s9ja, 0 9020 e a conseatente humilhago daquela que se deixa possuir, a dominada, ‘a mulher. E esté? O que se sabe sabre o Seu goz0? Até hoje no se chegou a uma conclusfo sobre a forma através da qual a mulher chega a0 orgasmo. Tanto se disse {que _um dos elementos essenciais de sua nnatureza & 0 recato, que 8 mulher nio coube outra sada senio estabelecer ern tomo de si uma zona de sombra em cujo pponto mais obscuro esté a sua forma de prazer E como ficam os homossexuais de am: bos 05 sexos, se @ cociedade machista, nee sistems todo, também nes my Um fogar? lac ean anda due ates uma farsa grotesca cujo objetivo maior & barrar 0 caminho que 5 levaria& liberd.- de individual: sobre o orgssmo eles saben ‘apenas os dogmas que a Sociedade machis- ta impbs, ou seja eles aprendem desde ce- do — como a mulher que 0 sexo é uma batatha da qual forcosamente sairko dut- rotados. O que pode salvé-los, fato de que seu mundo emotivo tem uma intensidade especialmente grande, © por vérios motivos, Um deles: a constatacéo de que eles s80 uns exclu(dos e, segundo Critérios superados mas ainda validos, uns lias. Chega-se assim a uma concluso: como caricatura da cericatura do que seria um ser humano, 0 homossex.ual guza mal; 0 ‘mesmo ovorre com osmachées, que rene- gam todo 0 longo_caminho que levaao etalhe da eiaculacdo; e ior ainda com a mulher, cuja sexualidade foi sempre ob- servada a partir de um ponto de vista es- tritamente masculino (Charlotte Wolff, da Associacdo Briténica de Psicologia: “A mulher, tal como hoje a conhecemos, é essencialmente um artificio, a néo ser nas he 0 ee ee eee ee de ser um trabaiho de aproximagdo para” ‘acabar se tornando, na sua maior parte, ‘num conflito onde pequenos arupos cri ticam, rejeitam e combatem o apareci- mento de novas idéias, de mentalidades estruturadas numa nove filosofia d. vida, Eu comecei fazendo pesq. isas sobre 0 ‘comportamento sexual ¢ tenho procurad.. abrir espacos destinados a pessoas que se irmanem no sentido de tormar uma pe- ‘quena escola, visando com isto 8 forma ‘80 de um grupo consciente e interessado ‘no que mais tarde poders vir a ser 0 Movi mento de Libertacdo Homossexual. Dis ‘tribuo 0s “‘cadernos” dentro de um pa- dro. ainda informal, continuando de acordo com as reapdes sentidas nas pe 5028. E procuro apoio naqueles que defen- dem a tese de que o homossexual tem ecessidades de se desenvolver d.ntro de ‘uma realidade contréria a esta, estabele- cclda e estruturada, onde 0 machismo é ‘aceito e cultivado da maneira mais primé possivel Reconheco ser a bichs atual um esté- ‘gio. necessirio para se atingit um tipo ideal de homossexual conscientizado de sua verdadeira realidade sexual. Escrever (0 que se conseguiu aprender é 0 corres: pondente para o .sbogo de um futuro me- thor, onde possamos reagir com raciona- lidade e coeséo as repressées socials que ‘os $80 impostas pelo grupo majoritério ‘onde © machista credenciado desrespeita 2 propria regra das liberdad.s individuais Esta talver seja uma das razGes que cau" ‘sam polémica diaute daqueles que insis- ‘tem em ostentar uma condiglo pioneira dentro deste tipo de trabalho desenvol- vido. Em verdade, ainda esté para ser ini- ciado 0 jornalismo homossexual, jé que tudo © que tem sido feito até o momento 0 que poderia ser chamado de “‘colunis- ‘mo social”, reflexo exato da cotrupedo ‘moral em que se encontra ervolvida @ ho- mossexualidede, vitima desta discrimina- 80 esmagadora, e que continua sendo im- posta polo estilo machista. Tentar esclarecer sobre a necessidad. existente nos homossexuais desta nove ge- ragio, de buscarem um modelo de identi- dade a ser aceito pela sockedade, juntando a isto a demonstracio de engodo existen- 1a atualidade, onde as “deslumbradas”” (versio incorreta das Preciosas Ridiculas do reinado de Lufs XV) insistem em de- fender a teoria ainda aplicivel de que o homossexual deve se impor pelo campy Financeivo, convivendo no entanto dentro dos preconceitos. machistas, é uma das ‘coisas que pretendo, embora isto acab_ ‘ransformando a coisa em estado d. quer: a © lancamento do Entender provicou um. sério colapso na estrutura daqueles LAMPTAO Pret APPAD * associacao paranaense Ga parada da diversidade ites. No entanto, todo este trabalho tom apenas 0 sentido de inicio, dissolvendo ‘a medida em que os jornsis impressos forem tomando 0 publica e se impondo pela facilidade de venda e distri buiggo. Dolorosos processos de autocondena- ‘edo destréem centenas de homAfilasinca- pazes de enquadrar-e dentro d. uma deti- nigdo social estivel.Estainseguranca acaba coriginando comportamentos ag essivos @ fem alguns casos, contrério 30 bom estar social do nosso proprio grupo. E sfo pro- blemas dessa natureza que devem sor ostu- ‘dados e desenvolvides no contexto do ue poderemos chamar futuramente “jor- ‘nalismo homossexual”. (F.J.0.) Com o timido apoio da Anistia “0 Conseiho Internacional, conside- rando que certos governos prendem por Corientagdo ou comportamento sexual pes- 43083 maiores de idade (consenting adults), 4afirma que a Anistia Internacional consi. dra prisioneiros de consciéncia as pessoas detidas ou encarceradas por causa d- ori- entagdo ou comportamento sexual, desde que no tenham infringido os direitos hu- manos de outras pessoa solicita q.0 0 Comité Executive Intemacional informe ‘© Conselho Internacional de 1978 sobre A resolu. 0, adotada pelo Conselh.. Internacional da Anistia Internacional em 1977, por proposta da Se¢io Francesa a reunigo de Bad-Hannof, perto de Bonn, foi recebida na Europa com menos oti. mismo que talvez se pudesse esperar. E que — no ano em que foi agraciada com Prémio Nob|| da Paz, é bom lembrar ~ a Anistia atacou a questo com boa duse de cautela. Uma cautela de que sempre se cerca diante do emaranhado de dificul- dades que enfrenta para poder atuar dentro deste ou daquele pals, em favor de presos que wéem desrespeitados seus direitos humanos. No caso dos homossexuais (detidos, por exemplo, por atentado 208 bons cor" tumes, segundo um ds eufemismos da lei brasileira), nfo se pod. esperar para breve tum socorro mais concreto d. organizagdo. Ela teme, sobretudo, enredar-se na inde finigo de costumes oles sobre a questao, ‘adotados nesta “categoria” sero sem da- vida de mais prestigiosa condigdo poli- ea. Ae iso, edo provrlente de ‘estar sob processo ou conseguir de alguma forma (detengio prolongada sem cul formada, maltratos sérios, etc.) cham: ‘stengao para sua situapo. O que nio sort ‘© caso de tantas pessoas detidas © humi- thadas por uma noite, a forma de “casti- 90” mais difundida e dificil de combater, ‘porque para todos 0s feitos no existe. Mas seja como for, © por enquanto, resolugio anunciada jé abre um belo pre- cedente, e poders afinal encaminhar a me- ddidas concretas, (C.M.) Lembrando 0 tridngulo rosa os poueos, comega a vir é tone a ver- dade sobre 0 sofrimento dos homosse- xuais na Alemanha nazista © sob 0 fas. cismo em geral. Néo é preciso dizer que foi 56 depois do advento des movimentos gays desta décads que © mundo pode co- ‘mecar a tomar conhecimento desse (mais um) crime contra a humanidade cometido elo regime hitlerista © por Mussolini, Porue antes, tratousse habilmente de ‘cultar tais fatos “vergonhosos” para se ar destaque apenas a0 genocidio dos ju- deus. E no entanto, desde 0 fim do Il Guerra Mundial @ mesmo antes, as potén- las vencedoras /8 sabiam que pelo menos 125 mil homossexuais tinham morrid no campos de concontracio nazistas. A quem poderia interessar a escamoteagso de um dado to horripilante? S6 Froud explica. Quando tra Glasser publicou em 10 de ssetembro de 1975 um artigo ne op-ed (pé- gina editorial) do “New York Times”, in- formando sobre oassassinato de aproxi- ‘madamente 125 mil homossexusis nos campos de holoceusto nazistas, a0 mesmo tempo que pedia uma lesgila¢so espe- citica sobre os direitos dos gays da cidade de Nova York, 0 crinne salu dos arcanos d.. Histéria e comecou a ser discutidv nos circulos libersis norteamericanos ¢ da Europa. Com o lencamento em 1977 do filme italiano “Um Die Esp. cial” (q.ndo Marcello Mastroiani, 0 qual 0 per- sonagem & reso pela policia do regime fascista de Mussolini por ser homosse xual, © grande piiblico passou @ conhecer deta ‘hes, ainda que através de um discurso ar- tistico (que segundo a critica é de pri- Centro de Documentacao Prof. Dr. Luiz Mott assoctagio paranaense a parada da diversidade ee eae eee ee es ee no dizem amém.” —.] A 5 de feverero de 1976, comecou @ sair diariamente nas paginas do jornal ppoulista Ukima Hora uma nove colune de ‘cunho informativo, social e burlesco. O ‘nome, com muito humer, foi emprestade de IBteria exportiva: Coluna do. Meio, ‘Seusautor , um jover jomalistachamado Col Suri, brincava com personagens. de criecdo prépria, contava piadas, noticiava ‘seontecimentossacais ou no « publiceve um Correio Elegante, Uma particulari- dade, entretanto, tornava a Colune um {ato inusitado no histria de imprensa brasileira: era dirigida 208 homossexta’s. ‘De 30.2 40 carta didries passram a che- gar 4 Coluna, vindas de todas as partes do atk. Algumas para 0 Correio Elegante, ‘Sou loiro, olhos azvis, 1m?0 de altura, 65 quilos, 33 anos, inteligente, culto, de- Sinibido, ico, adoro festas e outros baba- dos. Desejaria corresponder-me com ado- lescentes morenos, bronzeados, o1hos wer~ es, onitos, inteligentes (ndo precisam ser cultos), para simples amizade ou fur {tuto compromisso. Fotos de corpo inteiro 1a _primeita carta, (Dondoca ‘da Zona ‘Sul)." Qutras de solidariedade. “Quere- mos expressar nosta imensa satsfaglo 2 te prestigioso e pionei jomal, pela eri elo’ da Coluna do Meio. Era o que fal ‘ava, Afinal, no. somos marginals nem doentes como muitos querem.” Qu envia vam opiniées varias. Queremos aprovei para expressar, através desta coluna nossa profunda admirac3o pelos homens de ogo (bombeiros) © policais rodovidrios Como s6o maravilhosos e dedicados no mendimento 20 pablico, Ox primeirot em seus carrdes vermelhos, singrando as ruas com suas sirenes gritando furiosas e exci tantemente. E os segundos? Nunca. vi tanta delicadeza e atenglo!” As. vezes agradeciam, "Trabalho. comercialmente, lido com muitas pessoas, a principio eles ficam meio sem jeito, mas depois 3 acos tumam, mas nunca d8o-me 0 respeito, © valor e a omsderarso que quero, todos {uerem saber se sou homem ou mulher, enfim eu nio ligo, mas sinto-me infeliz. ‘Assim eu cheguel aié sua Coluna do Meio, 2 principio eu no acredite: que fosse ver: dade, pois nunca pude pensar que a socie~ ddede nos desse um meio de comunicarS0; Ii uma vez, duas, dez vezes e agora acho que é uma realidade, por isso eu 0 estimo ‘muito, mesmo sem conhect, pois tove 2 oragem de ser 0 primeiro, eu penso, em abrir uma porta para nds na sociedad ¢ ainda, pude compreender que no sou 50- zinhs no mundo; © meu mundo tem mui tos viventes, lindos, inteligentes, respeité- vise adorados pola sociedade,”" Ou eram cartas de admoestagio, ’ Tome mais (Celso Curi) ‘uidedo com sous escrites, Voeé, um die Vai ter que prestar contas @ algun.” Ou partiam para a agressio diveta, “Viados ‘ecrotos, raga maldita. Vou acabar com vocis. Eu vomito quando penso em vo cfs.” Além das cartas, havia também os ‘elefonemas, gente qu la 8 redarso para pedir conseinos — como um adoies fente que Ié apareceu durante semanas, apaixonado ¢ rejeitado por um homem muito mais veho. A colunarespondia, no mesmo ritmo: “Essa rubrica € dirigids principalmeate 20 Wiliam, que quer se ‘encontrar com, Cléudlo, mas que no mandou endereeo, Escreve novamente, #2" Ou passava acontecimentos socias, “Taina Starr, Miss Mundo des Bonecas, std convidando os interesados para sua ‘gande promocéo que rd scontecer no dia 22. Seré 0 primeiro Baile dos Enxutos do Litoral Santista, Thinia (foto) esté pro ‘metendo 1,000 bonecas na passarel,pre- paredas para 0 que der e ver.” epro- duzia uma foto de homossexuaisinaleses f traduzia 0 cartaz: “Liberdade para os ‘homossexuais — homens e mulheres — para mostrar afeto om pablica.” Protes- fave. “Chega de sensacionalismo! Osi: ‘mes. pastionais, quando. acontecem 0 ‘mundo homosexual, tomam um corpo ‘nacreditével. Logo ‘chamam 0s prota: sgonistas de anormais. E nunca por causa do crime, e sim por suas atividedes se ‘xuas,” Publicava entrevstas: “Francarios eis, 0 que voc8. acho do prostituiso masculina? F.R. — Eu sou a favor de tudo. Cada um sabe onde aperta seu sa pato. Se um quer receber e 0 outro tem para pagar? Viva a vidal “E quanto lega- Tizagdo do casamento? F.R. — Casamento € uma grande besteia. Essa instituiedo jd ‘do funciona entre os heterossexui 180 por que lutar por uma coisa que jd std podre?. * 0 que acho desta coluna? F.'R. Ela é um bom sina para o Br sil. € sinal de que ainda hé esperanca,’ Publicavarvme também as frases do dia, tum dos grandes sucessos da Coluna “Quem dé 20s pobres, empresta 9 Deus. (Baby Piolin)”. “Gracias a a vida que me hha dado tantos. (Morrocha Martinez)”. “antes mal acompanhada do que sb (Dod, Daring)”. “O homem que di dou, ‘no di. Poraue quem dé mesmo, néo dit. {Vinicius de Moraes)”. “Todo tego tem seu dia de angoré (Siva PA)”. Galo Curi tornou se uma celebridade quase de noite para.o dia. Nenhuma festa chigue aconte: cia em So Paulo sem que ele fosse con- vidado. Especialmente tratando se de fes 2 entendida. “Na minha ‘colina, ma: chdes nao tim vez, So se forem muitos bonitos, Daf a gente bota 1,58 pra ser admirado. Como homem-objeto, enten- de?” Até a revista Mad (ediefo em por- Tugués) entrou na onda. No sau aimero 22, estampava na citima capa a pergunta: “Qual € a coluna que ter forcado a barra para resolver 0 probleme da syperpopula- io? ” Dobrando-se @ capa em lugares in- dicados, surgiam dois homens press aso beiljarem e a resposta, em acrbstico: “A Colune do Meio Como 0 proprio Celso diz, foi depois de Coluna do Mio que @ ‘imprensa comecou a se abrir para folar de hhomossexualismo, descobrindo que 0 ho- mossexuel também pense e anda, como Qualaver outro ser hurmano”:. Arevistals- 10 € chegou a publicar matéria de capa sobre 0 “Poder Homossexuel”: surgia mais um tema para dar ibope. Enquanto isso, 0 nimero de leitores da Ultime Hora triplicou, e um admirador de Floriandpo- lis comunicava: “Basta dizer que a0 meio dia jé no existe mais 0 jornal porque @ turma se encarrega de fazer a limpreza nas bbancas”. Com altos e baixos, 2 Coluna 4 aaa o2 ce ea alae te PAGINAG., Centro de Documentac¢ao Prof. Dr. Luiz Mott nah gala ee aah daa escudo para arbitrariedades poli ‘nem cabe 20 agente polici a vontade da lei ou a intengl0 do legisla- dor. Entio, fundamentei a detesa no fato {de que 05 conceitos de moral e bons cos: tumes s80 totalmente subjetivos, discuti- veis e varidveis no tempo € no espaco. O ‘que era considerado atentatério 8 moral fem 1930, hoje id no & mais. Nem a p ppria Lei de Imprensa define © que si bons costumes © moral publica, porque see trata de uma definicio impossivel, sueita ‘interpretagdo do juiz. Ou se, néo exis te um padréo absoluto de moral, nem uma afirmacbo indiscutivel do que seia atentatério 20s bons contumes. Inclusive, ‘esses conceitos variam de regiéo 2 regiéo, ‘no proprio Brasil. Alguns dos maiores eldssicos da literatura mundial, como 0 ‘Amante de Lady Chatterley, de D. H. Lawrence, eram proibidos até hé bem pouco tempo atrds. Mudados 0s paréme- ‘ros do consciéncia social, esses autores assgram 2 ser_mundialmente aplaudi {dos”. Oex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Aliomar Baleeito, recentemente falecido, foi citado pela defesa: “Nés ju/- 2es, que jd estamos nos tribunats, perten- ‘cemos a uma reduzida minoria nacional 05 homens de nossa idade representam cépia de pirkmide de geracdes. A grande ‘parte dos homens ativos do ,Pals, que e- tao trabalhando, pensando, ete. ‘Sio crieturas de 25, 30, 40 anos. Eles tém um modo de concepeio de vida die rente da nossa. Nao les podemos impor 08 nossos padrées. "O advogado Luis Gonzaga conta que o processo em si foi-se rmodificando, de maneira sintomatica: as erguntas que 0 promotor publica faz as testemunhas passaram automaticamen- ‘te do problema relacionado com moral e bons costumes para o problema de ho- mossexualidade. “Ente mud i também a defese, Foi nesse sentid que interroguel o-escritor Igndcio de Loyola, uma d s tos temunhas de defesa ¢ declarado leitor de Coluna. Parguntoi se ele achava q_¢ um Coluna que treta especificamente de ho- ‘mossexualismo pode, por si 86, provocar “‘unido de seres anormais” ~ nas palavras de acusaeio — ou tomar alguém homosse- ‘xual. Igndcio dew uma resposta interessan- te: a Coluna visa informar com h mor: ‘portanto, assim como as colunas de Fute- ‘bol no transformam os letores em fute- bolistas e nem a5 colunas policais trans- formam 05 leitores em policiais, também 2 Coluna do Meio, 20 falar sobre h. mos ‘sexualismo, nB0 tem o condo dtrans- formar 0s leitores em homossexuais. 0 ‘mais curioso & que, no momento de ditar, (0 Juie repetiu 2 frase do lonécio de me- niera distorcida: “a Coluoa no tam 0 7K, condéo de transformar t nem normal em homossexuel.” Ou seja, 0 proprio juiz i definiu homossexualidede ¢ normali- dade como conceitos divergentes.Em ro 240 disso, eu provavelment terei que mu ‘dar a defess final, para mostrar que ho- ‘mossexuelismo e snomalia sexual nfo sho @'mesmea coisa. Antes de mais nada, ho- ‘mossexualismo nio & citedo como crise ‘2m nosso Cédigo Penal, muito embora es- s@ Cédigo seja de 1940; néo 6 af conside- ado sequer contravenicfo ou tide como 2fensivo & moral. O tinico mo ivo possivel ‘para atingis penalmente um homossexual € 2 alegagdo de que esteie fazend tro- toar, quer dizer, ofendendo a mo al pdbli- ca. No casso das publicapdes, isso fica re- forgado pela Lei de Imprenss. E no en: tanto, considero que, ao falar do hhomos- sexuaiismo em sua Coluna, 0 Celso Curi 1néo fez Seno uma inovagio am nosso jar. alismo. Abriu campo para que um tema até entio considerado tabu comecasse 2 ser tratedo com a mesma naturalidide ‘com que se fala de futebol. Acho que o pecado do Celso foi 0 de ter sido 0 pri- ‘moiro a fazer isso. Além de que so trata também do primeiro processo contra ho- mossexualismo, na histéria judicial do Brasil. Portanto, 2 docisio d0 jui2 sobre este caso seré algo muito importante, in Clusive para o futuro da impranse bras wire. Se a Coluna for condenads, tered concluido que 2 homossexualidade nos jornais brasileiros ofende # moral brasi- Teira. A tendépcia serd,entéo a apreensio de todas as publicagdes homossexueis do a's. Estaré aberto um precedente. E por fsso que a Censura Federal esté de ol esse process”. Trabathando atualmente. para as revis- tas Personal e Peteca, onde escreve noti- ciério ac estilo da Cofuna do Meio, Celso Ym OMY MARCA REG. DE FANTASIA aS ae Curi espera o final do processo. Fala, sen- tado em meio as almofadas: “Por cause do Correio Elegante, fui visto como ca tine de pessoas que néo podem ap..recer. luz do dia. Poisé! Homossexual. s6 pode ‘andar atrés de poste, se escond.ndo...” Conta de reario das pessoas a respeito do process: “Algumas morrem de medo, me dizem que eu vou em cana, que néo gosta- riam de estar na minha pole. Outras me ie como um martir, parece até que vou ser queimado em praca pabiica.” Reage, quando se alude a uma possivel caca as bbruxas contra os homossexuais: “O mais ‘engracado & que isso nio tem condicdes de acontecer. Tudo é 190 ajeitével! Qual quer dono de boate be como dar um Jeitinho bem brasileiro, e entéo tudo con- tinua funcionande ‘como antes, en- tende?” Existe um ar de cansaco no ros- ‘to de Celso Curi, ar de muitas batalas “Sempre considerel os homosexuals ‘como parte de uma elite, como pessoas superdotadss; eu tinha 0 mito de que todo homosexual inteligente. Tatver ‘porque vivesse eu mesmoy numa elite. ‘Mas depois descobri que existe uma massa ‘enorme de homossexuais, e 0 nivel de conscidpcia deles ndo tem nada a ver com (0 que @ gente pensave. Meus leitores, por 2x, me deram respostas divinas. Mas tarn- ‘bém tove muita resp sta imbecil. Res- peito a imbecilidede como parte da cul- ture brasileira. Mes eu achava que 0 ho~ ‘mossexual brasileiro escepava 4 imbecili- dade geral.” Alude a0s seus problemas fi- nnanceiros, em parte causedos pelo pro- ‘8550, @ no consegue deixar de brincar: “Imagine Vou ter que render minhas i6ias.” Depois volta a refletir, como quem J vai colhendo frutos maduros: “Meu conceito de anormalidede estd desapare- ‘endo. Desde que duas pessoas, consenti- damente, fagam 0 que quer que seja, isso deixa automaticemente de ser anormal — ‘pelo simples fato de estar sendo feito. Se ‘lguém gosta de fazer sexo com samam- aia, ‘wate-se apenas de um ser humano ‘que esté fazendo aquilo de acordo com sua natureza, cols muito nonmal, portan to.”Ajitase novamente entre 2 almo- fadas ¢ observa" “E engracado. O que ve- ‘nho santindo ultimamente a respeito da Coluna me leve a crer que ele seria rid/- ccula em 1978. Hoje no tem mais sentido car tratando dos assuntos de maneira ex- clusiva. Sé fie uma Coluna para homo- ssexueis acreditand : que isso seria um ca- ‘minho para a abordagem de assuntos mats ‘gereis.” Faz uma pauss e emenda, como. ‘Querendo completar 0 que dizia: “mas a Centro de Documentacao APPAD * associacio paranacnse an parade da diversidade Prof. Dr. Luiz Mott b ol. ge - vragen --naganiegnete al ‘intelectual detesta 0 costureiro, que de- testa 0 cabeleirero, e assim por dian; n0 final da fila, est quem? O infoliz trav: 1. Entio eu defendio o travesti porque 80 ‘mos exatamente a mesma coisa. Eu tenho ‘algo de marginal como esses parias. Sou ‘2u também um péria. Somos tod § margi- rnais. 's80 eu tenho wm comum com ele. No Coluna, eu disse muita coisa que eles gostariam de dizer néo podiam. Eu disse ‘em nome deles.”” parte do jr. O teats cho, € bran no sporque @ massa dus travestis néo. Roost com's secaks Soctnae aclamou um outro travesti. Nosagugo, ainda agitado com a fasta, eles falaram para a imprensa, geralmente com orgulhy (°0i, querida, espera sé. um minutinh. (que estou dando uma entrevista!" Lisan dra, travesti profissional hé um ano: “Eu lia a Coluna do Meio diariamenie ° gos: tava, I6gico. Ela fazia mil fofocas e bade lava 0 nome da gente; dava muito IBOPE, apesar de que meu nome $5 saiu 1d uma ver. Mas eu fiquei maravilhuda, porque é uma coise que todo mundo lia em So Paulo. Se: que 0 Celso estd com um pro 0880, mas no me compete opinar. Ora, fechou 9 Coluna mas abriu a Peteca\” An Qgélica, cabeleireira, travesti hé dez anos: “Sei que a Coluna acabou mas nfo vou falar 08 motivos, nio gosto de certos co: ‘mentérios, que ndo fica bem. Sinto muito fla tar acabado, era maravilhssa. falave ‘muito bem da gente. Era um tipo de pro imo¢ao pra nés que somos travestvartsta. Agora, 2 Coluna fechou mas isso no me afetou!” Depois, na Radial Leste, ponto de tra vesti fazer trotoar. Sara vestia um diquini minasculo, sem a parte superior; ndo ti nha seios; calcava botas e se protegia da {garoa com um enorme capote imitacdo de pele; vinte anos de idade, travesti hé qua- tro, fazendo ponto na Radial hd um ano ¢ ‘meio; extraordinariamente doce: “A cana vem semore, as vezes preta e branca, as ver prota e vermelha. Levam pra delega- cia, pra 42, soitam de manha. Se no arranpr emprego, entio fice na cadeia. ‘Ah, meu amor, s6 peguei cana win més; porque no trayo documento na Bolsa, ientio é vadiagem. A gente corre perigo na ‘esquina... Mas agui dé pr_viver. Ey mes- eu néo s2bia que a Coluna do Meic Ngha acabado...” PAGINAS tg APPAD x associacdo paranaense as parade da'diversia +h fide nap neath Sabei. crete bmg hn >, 2 9 “indeciso” ou néo, Quase todos os dias, pds as aulas do gindsio, nds famos tomar banhos de rio nos arredores da cid.de @ ‘aconteceu de um dia cobinarmos de todos ‘705 ficarmos nis pa tomar 0 banhe. De- ois de vérias semanas nesse ritmo a inti- ‘midede chegou a0 ponto de todos faze- PQONENE CES Priwae seus ores Possulam., Hoje jd me libertei deles, gracas a0 meu fie! macho, 0 primeiro que deve ter re ‘morsos até pois ele me trata muito bem, ‘nelusive diz que me ama e que nunca se ‘casaré com uma mulher pois ele jd & ca- sado comigo, isso & ele que diz e'eu 0 ‘quero muito de todos os homens q & ji “Sou nase. Tenbo 8 idade de our (20, deat gle fas ra. Gaito de ltrs e mata & ‘Gontaria deforma nel ‘Senca €o auiciente’ Maria Berta SP: -Coluna do Meio LUTA PELA SAP ay 4 RAPIDINHAS «Salevia vai 9 apresentar, hoje, na fpurtiaeatia “Sdioles"ew Slsiee Broparem as 'E, sucesso #0? thow, novo. que o Aedeval ots mo dla Tide Fevereiro Novos quads sO guardaradpa sth sendo feito por Reinaldo Cabra. PLagares expecias esto para abrir | teri "banie kim Greve? a grande fea, ' Herminio Bello de Carvalho esteve Sater em Sao Paulo, Volo assist 0 Show "3 Gareia, na igrejinha Mexa-se. Porém com muito charme. Pr & e Bopece S28 esas i a beracact Bee oes eke ws pane eeneeecees ‘0a, quem sabe, abandonada. Subiu no) Fre meade ‘ota coutay mb. was 66 LE COM Le, CRE C (Vethe © Sébio ditado Centro de Documentacao Prof. Dr. Luiz Mott Muito; Mevinente,; Sempee cares: 8. fia, @ 0 hall do cinema, que se pode: devassar amplamente através de suas Portas abertas As escadarias de ferro, as fligramas dos corrimdes, as cortinas de um veludo cuja cor 0 tempo con: sumiu; 0§ espelhos (alguns quebrados) eas entradas falsas d30, mesmo 208 que no conhecem a sua histeria, uma dia de antigo fausto. Como as velhas Superproducdes que exibe, hoje total mente amesquinhadas pela realidade bem mais violenta, 0 Cinema Iris 18 leve dias de gloria, & época em que era © cinema mais luxuoso do Rio abrigava-a-mais seleia plateia, Hojen0 entanto, nada mais tem a ver com 0 luxo de ha quarenia anos atras, @ seus veludos e espelhos the do apenas um ar de arruinado cenario de opereta Da platéia seleta, também nada estou. Na fila para esta Gitima sesso, 105 rostos so faciimente identficaveis: hd soldados da PM © bombeiros dos dois quartéis nréximos. Hé uma legido de pessoas saldas diretamente da Cinelndia, atraidas menos pelos dois filmes e pelo preco médico, que pela presenca desses soldados. e bom beiros. Alguns retardatarios, saidos das lojas proximas, e que adian ahora de pegar 0 trem e ir para casa também pontitham, aqui e ali. Como pontiham, tambem, os moradores das hospe danas proximas a Praca Tirandentes, rapazesvindgsde outros locais en’ bus. ca das luzes da cidade grande, e que bam, no Rio, limitados 8 possi bilidade de caminhar pelas ruas es: ,0u'as - no propriamente caminhar. *mas esgueirar-se em busca de opor tunidades cada ver menos dignas (oportunidades nap @ a palavra exata digamos ocasives). Finalmente, na lon 92 fila para a sesso das 21h20m, as "damas que pagam meia" prostitutas que 1d ganharam o suficiente para in: terromper o trabalho daquele dia, ou que, nesta sexta-ferra muito quente e de céu cartegado, ja no tém a menor esperanca de ganhar 0 Cinema Iris 08 engole @ todos, como Um utero escuro © quente, As 21h20m,-em sua tela brilham as pri meiras imagens, e um clima magico, "muito pessoal desse cinema, se instale| Durante 0s proximos 160 minutos, as pessoas. no terBo que ficar neces: sariamente sentadas em seus lugares - fa _verdade, embora haja muitos u- garos vagos, dezenas delas s8 amon- toam na escuridan da entrada APPAD * x associaglo paranaense fa parada da'diversiaade ‘gumas até se colocam entre as cortinas, © 2 ,paredel, enquanto outras se atravancanT 6 banheiro de trisos art- Nouveau € procuram ver algo além do que sua Unica lampada - de 40 velas permite, Para os que entraram no tris Por acaso - ou pela primeira ver -, uma Corteza inicial’ apenas as damas que pagam meia parecem realmente in- teressadas no que a tela mostra: 0 vai e-vem dos homens est em constante desacordo com o fato de que esto num cinema; @ OS SUSSUTTOS, aS im- precagdes, as meias palavras que se ‘ouvem igualmente nao 1ém a ver com as fugas entrecortadas de Terence Hill, ‘Trinity do primeito filme epm exibicdo, Duas horas depois, 23h20m. 0 arto para no sinal da Rua Uruguaiana, seu motorista olha cautelosamente, € devois avanca no rumo da Rua da Carioca. A maioria dos frequentadores do Cinema Iris sentiria sua aprox- maco © 0 raconheceria apenas pelo ronco do motor: & um carro da policia, da 3" DP. Ele para porta do cinema, € dele descem ts homens; um, mais over, vestindo uma camisa berrante, @ dois mais velhos, um deles de boina (o motorista permanece ao volante). Atravessam 3 Tua, ont.am num bar que. Mantem uma porta aberta, diante do cinema, tomam um cafezinho. Depois retornam, @ se deslocam estrategi camente & porta. Vai ‘im wero cer, tranquie de soarrotée xarozes com os "erminesos mas Procurados pelos agentes da lei: os desocupados, muitos deles frequen tadores das longas sessies do Cinema tos, “SEUS DOCUMENTOS” La dentro, Rachel Welch faz suas iltimas evolugdes. As “damas que fpagam mess", com @ seguranca que 3 assiduidade a9 cinema ines d,trocam entre si, em’ voz alte, observacses irénicas, € 0s homens dio suas uitimas ¢ atlias - caminhadas pelos corre dores que levam ao banheiro. Os primeires a sair, 20 ver 0 carro parado @ porta - viatura, sogundo os poiicias, canto, segundo os presos -, hesitam e usam os Ultimos instantes de seguranca que o cinema thes propor: ciona. Vio 20 bebedouro de onde ha ‘anos niojorra uma gota d'égua, olham 0s cattazes, examinam 0s ‘Cantos menos escuros. E depois, claramente aflitos, decidem enfrentar 0 pior a saida “Seus documentos’ - dizem os agentes da lei, um ar cansado, som Sequer exibir ‘suas propnas. identi cacdes (os frequentadores do Cinema iris saber reconhecor de longe um policiall. E vém as expiicagées. Um PM ‘5 bombeiro ouve “deixa pra lé, com- panheito”. Um comercitrio de uma joj préxima ouve ume frase rispide, apos ter sua carteira profissional (as- ‘sinada! submetida a longo exare: “Vai ara casa, ‘apaz. Isso no @ hora de rua", £ sai do cinema, entio, Centro de Documentacao Prof. Dr. Luiz Mott cham que « sim, Sujos pécie home gado que | game vous alus® sexu: frent apren s Ciner nerd tinha eS eae pon fado 0 gait cua tn em ram tod oxi vad ion antec mn no ier de ¢ diage ‘pao « darao wun vee pote ima teva co ele atravessa a sala a ay oP edemora-se no banheiro. "4 } SS Passa pela minha porta, y estou no leito, oot mas nao veo, sinto, wl O chao de tébuas me diz Vii que ele foi para la K ou que ele est de volta. Me olha, estremece, tem medo. Eu gosto de vé-lo assim eele me parece feliz quando meus cilios batem Poema para teus seios e descobre no meu olho seu pecado feito gente. Cerro os olhos’pra nao ver, Ouco tudo que acontece eee e maos para nao apalpar no quarto 14, e bocas pra nao chupar Sua comunicacao éna cama, quando gira, tosse, teus seios. contorce seu medo — ela range, Desejo beber teu leite, ele ruge, mas nao tem coragem. Deitado, espero, seu pecado, azeite de oliva branca, batendo os cilios e lembrando ¢ provar com minha lfngua a disciplinar Minas Gerais. A 4 Seu pecado, a vontade, deitado o macio de teu peito. estou sempre, E se em inutil trabalho esperando que na ida para o banheiro te afasta a blusa de mim, acupidez mineira eu, por intimeros meios, da familia tradicional permita o medo dele vir cerro olhos pra ver Pelomewqvarta € bocas para chupar misturar na noite fria de junho nossas humanidadés teus seios. no pecado amplo, fofo, que deitado estou para isso... Leila Miccolis Paulo Augusto Leila Miccolis, carioca, Franklin Jorge, potiguar, e Paulo Augusto, fluminense, foram os es- colhidos para abrir a secao de poesia de LAMPIAO. Entre publicar poetas consagrados e dar vez aos Jovens, nosso jornal escolheu 0 segundo caminho, e resolveu abrir esta pdgina a todos os que se dedi- quem com talento e verdadeiro empenho a poesia. PAGINA 10 q com In Rola sob Dentre os por parino Dama para publicac dade e 0 enfo pressivas da dade, dos pon deste jornal. veados e gorilas, atencao: vocés também tém direitos (A ONU. Ja em 1400 Leonardo da Vinci (que entendia das coisas) escreveu “Havers um dia em-que os homens conhecer3o o intima do animal 9, nes se dia, um crime contra um animal sera considerado como um crime contra a humanidade Quase 600 anos depois 0 homem ainda nem conhece a si Proprio; tanto que ainda se discri minam uns aos outros, de acordo com detalhes como raca, credo, preferéncia sexual etc, Como esperar que eles vejam os animais como seres a ser preservados e cujos direitos sobre 0 mundo em que vive so igualmente inaliendveis? Mesmo que o homem, em varias partes do mundo, no consiga res- peitar a Declaracdo Universal dos seus roprios direitos, ndo se deve esperar ele atinja esse estagio para tentar convencé:lo da existéncia dos direitos dos animais. £0 que decidiu a Unesco, a0 proclamar recentemente a De- clarac3o. Universal dos Direitos do Animal, durante uma reunio em Bruxelas, em janeiro deste ano, da qual Participaram representantes da Bél gica, Franes, Canada, lugoslavia, Noruega e Ilia Como primeira etapa para apli cago destes principios foram propos- tas uma moratéria a caca da foca e da baleia; a suspens3o da capa 8 raposa, ‘na Inglaterra; a aboligo do tiro a0 Pombo na Franca, e a proibic3o de Mmenores assistirem as corridas de ‘touro na Espanha Na verdade, o texto da deciaragao, como se vé abaixo, serviria para a grande maioria dos homens que, em determinadas regides da terra, vivem. aa parada dadiversidade em condicSes subumanas de exis ‘éncia ou sob uma repressio cuja Caracteristica basica 6 0 desrespeito a qualquer tipo de direito. De qualquer modo, a simples declaracdo dos Di- reitos do Animal jé 6 um ponto de par tida. Gracas a ela, eles se tornam a mais exdtica de todas as minorias (2 LAMPIAO reafirma aqui o seu conceito de minoria: é um grupo sobre o qual a sociedade repressiva mantém seus tacdes, mesmo que ele ndo seja mi noritario, como as mulheres, por ‘exemplo) a ver levantada a bandeira da luta por seus direitos. Eis a integra da Declaragao Univer sal dos Direitos do Animal Considerando que cada animal tem direitos, considerando que 0 desco- nhecimento € 0 desprezo destes di- reitos levaram © continuam a levar 0 homem a cometer crimes contra a atureza e contra os animais; consi derando que 0 reconhecimento por parte da espécie humana do direita & existéncia de outras espécies animais constitui 0 fundamento da coexistén- cia das espécies no mundo; consi derando que genocidios s80 perpe- trados pelo homem e que outros ainda podem ocorrer; considerando que o respeito pelos animais por parte do homem esté ligado a0 respeito dos homens entre si, considerendo que a ‘educaco deve ensinar desde a infan- cia a observar, compreender, respeitar 08 animais; Prociama-se: Art. 1 = Todos os animais nascem ‘iguais dante da vida e tm o mesmo eto a existéncia; ‘Art. 2 — a) Cada animal tem o direito 20 respeito. b) O homem, en: quanto espécie animal, ndo pode atribuir-se 0 direito de exterminar os outros animais ou de exploré-los violando este direito, Ele tem o dever de colocar a sua consciéncia a servico dos outros animais. c) Cada animal tom o direito a consideragao, a curae protecdg do homem. Ait. 3 ~ a) Nenhum animal devera ser submetido a maltratos @ atos cruéis. b) Se a morte de um animal & necessiria, deve ser instantanea, sem dornem engéstia Art. 4 — a) Cada animal que per tence a.uma espécie selvagern tem direito de viver livre no seu ambiente natural, {errestre, abreo ou aquatico, © tem 0 direito de reproduzir-se. b) A pprivacao da liberdade, ainda que para fins educativos, @ contraria a este direito, ‘Att. 5 — a) Cada animal. perten cente a uma espécie que vive habitual mente no ambiente do hamem tem o diteito de viver e crescer segundo o rit mo e 85 condigdes de vida e de liber dade que so préprias de sua espécie, b) Toda modificac3o deste ritmo @ destas condicdes imposta pelo homem ara fins mercantis & contraria a este direito. ‘Art. 6 ~ a) Cada animal que o homem escothe para companheito tem © direito a uma durago de vida con- forme a’sua natural longevidade. b) O abgndono de um animal 6 um ato crue! .e degradante. E Art. 7 — Cada animal que trabalha tem o direito a uma razodvel limitacdo do tempo e intensidade do trabalho, a uma alimentaoo adequada © 30 re- polio. shh titi Centro de Documentagao Prof. Dr. Luiz Mott An fisico ¢ direitos penénc ou qual substi desenv Aq. criado dove se e mort siedade An. homer espetae so inc animal, Ant de um biocidic vida. An. morte mais s soja, ur aniquil biente Ant. ser tral de viol6 timas d na tele como | direitos Art protecs devem, govern devern 05 dive Nureyev Vs Cassius Clay comparagao pode parecer ofensiva tanto para os baletémanos quanto para os amantes do box, masa ver~ dade & que Rudolf Nureyev 6 uma es pécie de Muhammad Ali da danga lassica. Assim como o. lutador con seguiu elevar sua carreira aos niveis do impassivel, deixando para tras algumas geracées de aspirantes ao titulo de- finitivamente batidas, 0 bailarino tem resisiido, a todos 0s barishinkovs da vida que fogem aos magotes da Uniao, Soviética dispost0s a Ihe abiscoitar 0 titulo de “maior bailarino do Ociden te". E verdade que Rudy, como 0 Ali das dltimas Iutas, j& no exibe todo 0 seu vittuosismo; ao contrério, ele 0 ‘vem administrando de modo bastante avaro, mas sempre com eficiéncia como fez 0 lutador até a derrota recen- te hd sempre um momento, em suas apresentacdes, em que ele executa aquela pirueta a mais — © 0 publico cai a seus pés, rendido. E por isso que tan to Nureyev quanto Cassius Clay vem mantendo junto com qutra meia dizia de mitos igualmente mal comportados. como eles, na varios anos, @ supre- macia dos seus nomes nos noticiérios dos jornais. Valentino, de Ken Russel, leva em conta esse fato, muito mais do que recontar a hist6ria do grande canastra0 que Hollywood celebrizou, nos parece uma homenagem prestada pelo de lirante cineasta a0 mito que ele es colheu para viver 0 outro Rodolfo na tola: durante todo o filme Russel esté literalmente prostrado diante de Nureyey, e este, embora estreando no cinema, merece um destaque que nem Marlon Brando em seus momentos de maior estrelismo (Vidas em Fuga, por exemplo), ousaria exigir Nao que Rudy seja sequer um ator, para supor tar tamanha carga. Mas que importa — para melhor realcar sua presenca Rus: sel marcou exageradamente todo o fi ‘me, que tem seqiéneias inteiras co reogratadas (vide aquela “em que Valentino e Natasha se amam na tenda do sheik), © permitiy que séu astro Uusasse alé mesmo a maquilagem pesada que ele utiliza no balée que, in- teligentemente, serve de auréola ao sev olhar insuportavelmente mag: nético. pe Dessa forma, Russel, com a ajuda de Nureyev, retoma neste filme 8 sua ‘obsessao em torno do mesmo tema — © mito. Tchaikovsky, Mabler, Valen tino — de Delirio de Amor, que ainda tins. uma carga postica mato forte, 20 deiirio propriamente dito. um ensaio grotescn sobre. a Hollywond das anos 30 e de sempre, € uma cadtida me- taco. sobre 0 mais amencano de todos os sonhos — essa estranha mania de dar trenscehdénciaimortal a Cinaturas cuja textura nao vai além do celuldide através do qual se expres- sam, E claro que quem quiser se deixar Condit até 0 cantro desse dalrio tom que entrar no cinema sem posigde pré- estabelecides — 0 ensaio personalis- simo de Russel, sua msoginia dos- vairada, seu homossexualismo nem Sempre sublimado néo 28 admitom. £ aceitar at mesmo 0 que toi, ‘cert mente, a razéo principal da acolhida negativa que o filme mereceu por parte dos criticos norte-americenos: 0 fato de Russel ter feito um filme sobre Hot: Iywood ros estidios ingleses de Els- ite, € ter reproduzido de maneira mais kitsch — com a ajuda de sua mulher, Shirley Russel, responsével pelos decors — a cidade dos sonhos, com S0US interiores que v8o do gotico a0 babildnico e suas mansées, ah, suas mansées ainda hoje de pé: verdadeiros monumentos a uma doenca puramen- te americana — 0 gigantismo Valentino &, possiveimente,« filme mais louco, muito loueo mesmo, produzido pelo cinema nes dimes tempos. Para quem quiser aprecé-lo, © maior searedo & situar-se bem no cen- tro dessa loucura e deixar-se evar pelo inctivel pique imprimido por Russel, Pique este cujas raizes, a nosso ver, fsi80 em outro ensaio sobre Holly: Wwo0d. nde por acaso dirigido por outro inglés’ — 0 dia do gafanhoto-, de John Schlesinger; afinal de contas, este & tum dos objetivas do cinema — pegar instantaneamente 0 espectador © {como se diz) seguré-io pelo pb. Aguinaldo Silva aa. eee John Phillip Law, sobre a vida de u sargento solitirio que faz amizade cc um soldado para combater sua solid ‘0u S9a, se apaixona pelo jovem se ‘conseguir assumit sua condic’o | homosexual, 0 que o leva a sor Conflitos (a seqiéncia inicial, ern a Steiger mata literalmente com \ abrago um soldado alemao, @ de erotismo astixiantel, Morte em Venei de Luohino Visconti, em que o ten solide € novamente abordado, ca Dick Bogarde vivendo maaistralmen © velho musico que’ se apaixona pe adolescente Tadzio, num desempent Bo seguro que algumias cenas, a poderiam ser cansativas, se tornam ‘grande teor diamstico; © Mulher Apaixonadas, de Ken Russel, em q Sandy Denis’ — uma das mulheres: titulo — tem omethor desempenho sua carreira, disputando © amor de s ‘amiga com 0 incompetente Keir Dul (o filme tem um final profundamer moralista ~ Sandy 6 esmagada p uma 4rvore; um protesto da natures contra o sex! amor antinatural?). Alem destes, dol exibido rece temente pela TV Guanabara, na sé Familia, 0 filme Ritual da Amizade, ¢ focando a questo do homiossexual mo sem nenhum tema paralelo a ju “olivro”™ Acontecet 2 repente 0 homossexualismo viro assunto. Deixou os cubiculos, bbecos, 0s'bares e as hospedari fe chegou as ruas. Dezenas de repo tagens, “analises cientificas”, filmes obras lterérias ganharam lugar de de taque nas prateleiras. Hoje quem qu fazer sucesso precisa de um pouco ¢ frescura, e € preciso ter entie c amigos uma bicha qualquer, par provar a abertura. Assim, nos meios de comunicagac da grande 8 pequena imprensa, da maiores as menores editoras, todc ppassaram a investir no assunto. E s6 partir dessa observacdo, longe de este conciuida, € que, se justifica 0 ler Gamento de um livro com o titulo d Mamie, sou homosexual (Civilizacs Brasileira, 280 paginas, 1977), de Laur PAGINA 12

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