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Da Senzala & Colénia Emilia Viowt da Costa Extremo Oeste Sérgio Buarque de Holanda Histéra e Ideal Ensaios sobre Cato Prado Janior Varios aucores Obras do Autor URS: Um Novo Mundo Evolugdo Politica do Brasil Formasio do Brasil Contempotineo Hist6tia Econdmica do Brasil Inurodugto 2 Logies Dialética Dialética do Conhecimento Esboso dos Fundamentos da Teoria Econémica (© Mundo do Sociale A Revolusio Brasileira (© Bstruturalismo de Lévi-Seause- O Marxismo de Althusser Historia ¢ Desenvolvimento A Questio Agriria no Brasit O que é Liberdade O que € Filosofia ‘A Cidade de So Paulo Colegio Primeicos Passos Oqueé Capitalismo Aftanio Mendes Catani O que & Nordeste Brasleto Carlos Garcia © que Subdesenvolvimento Hoticio Gonzilez Colegio Tudo € Histéria A Abolicgo da Escravidto Suely R. R. de Queitor Bandeicantismo: Verso e Reverso Carlos Davidoff A Burguesia Brasileira Jacob Gorender A Cirilzagie do Agicar Vera Feclini ‘A Economia Cafecira J.R do Amaral Lapa A Fania Brailes Eni de Meequita Samara DEDALUS - Acervo - FFLCH-FIL AOE 21000059586 CAIO PRADO JUNIOR FORMACAO DO BRASIL CONTEMPORANEO COLONIA ‘SBD-FFLCH-USP winin 23% edigo, 1994 7? reimpressao, 2004 ‘S40 PaulolSP editora brasiliense SENTIDO DA COLONIZAGAO Sentido da Colonizagéo Todo povo tem na sua evolugfo, vista a distincia, um certo ido”. Este se percebe nid nos pormenores de sua hist6ria, mas into _dos fatos ¢ acontecima 12 -a-consti+ .em num largo per [Quem observa aquele conjun: to, desbastando-6 do cipoal de incidentes secundétios que o acom- panham sempre e o fazem muitas vezes confuso ¢ incompreen- sivel, no deixark de perceber que ele se forma de uma linha mestra_e ininterrupte de avontecimentés que se suceder em orden rigorosa, e dirigida sempre numa determinada orientacio, B isto que se déve, antes de mais nada, procurar quando se aborda a andlise da histéria de um povo, seja alids qual for o momento ow 0 aspecto dela que interessa,. porque todos 0s momentos e aspec- tos nao séo senao partes, por si s6 incompletas, de um todo que deve ser serapre 0 objetivo dino do historiador, por mais par calarista que seja. Tal indagacio é tanto mais importante @ essen- cial que rer ela que se define, tanto no tempo como no espaco, 2 individualidade da parcela de humanidade que interessa 20 pes- -quisador: povo, pais, nagio, sociedade, seja qual for a designagio ‘apropriada no caso. £ somente af que ele encontraré aquela uni- dade quo lhe permite destacar uma tal parcela humana para estu- dita & parte, © sentido da evolugio de um povo pode variar; aconteci- mentos estranhos a ele, transformagées internas profundas do sou equilbrio ou estrutura, ou mesmo ambas estas circunstincias con- juntamente, poderio intervir, desviando-o para outras vias até ‘entio ignoradas, Portugal nos traz disto um exemplo frisante que para nés 6 quaso doméstico. Até fins do séc, XIV, e desde a cons: titwigéo da monarquia, @ histéria portuguesa se define pela for- mago de uma nova nagio européia e articulase na evolugdo ge- ral da eivilizagéo do Ocidente de que faz parte, no plano da futa que teve de sustentar, para se constituir, Contra a invasio drabe gue ameagou num certo momento todo 6 continente e sua civil zagio, No alvorecer do séc. XV, a histéria portuguesa muda de uno Integrado nas frontoias googrificas haturais que seriam definitivamente as suas, constituido ferritorialmente o Reino, Por- tugal se vai transformar num pals maritimo; deslige-se, por assim Formagia do Brasil Contemporineo 19 dizer, do continente ¢ volta-se para 0 Oceano que se abria para @ outro lado; nfo tardard, com suas empresas e eonqnistas no ule tramar, em s¢ tomar uma grande poténcia colonial Visto deste angulo geral e amplo, a evolugio de um povo se toma explicivel. Os pormenores e incidentes mais ou menos com. plexos que constituem a trama de sua histéria e que ameagam por vezes nublar 0 que verdadeiramente forma a linha mestra lue a define, passam para o segundo plino; e s6 entio nos é dado sleangar o sentido daquela evoluego, compreendé-la, explicé-la. B isto que precisamos comegar por fazer com relngao 20 Brasil Nio nos interessa aqui, 6 certo, o conjunto da histéria brasileira’ pois pertimos de um momento preciso, i muito adiantado dela, & que © final do perfodo de colénia. Mas este momento, embora o possamos circunscrever com relativa precisfo, nao é senfo im elo, mesma cadeia que nos traz desdé 6 nosso mais remoto pasado, Nio softemos netfuna descontnuldade no comer de tide olénia. E se escolhi um momento dela, apenas a sua tltima pé- gina, foi tio-somente porque, jé me expliquei na Introducéo, aquele momento se apresenta como um termo final ¢ a resultante de toda nossa evolugio anterior. A sua sintese. Nao se compreen: Ge por isso, se desprezarmos inteiramente aquela evolucao, © que nla houve de fundamental e permanente. Numa palavis, 9 cos sentido, x Isto nos leva, infelizmente, para um passado relativamente Ionginquo e que nio interessa diretamente 40 nosso assunto, Néo femos contudo dispensi-lo, e precisamos reconstituir © con. junto da nossa formagio colocando-a no amplo quadro, com seus antecedentes, destes trés séculos de atividade colonizadora que caracterizam a histéria dos pafses europeus a partir do sée. XV, atividede que integrou um novo continente na sua Srbita; para: Jelamente aliés a0 que se realizava, embora em moldes diversos, fem outros continentes: a Africa e a Asia, Process que acabarin por integrar 0 Universo todo em uma nova ordem, que & a do mondo modemo, em que a Europa, ou antes, a sua civilizacdo, se estenderia dominadora por toda parte. Todos estes acontecimen. tos séo correlatos, © @ ocupagio © povoamento do territdrio que constituiria 0 Brasil nao & sendo um episédio, uin pequeno detalhe daquele quadro imenso, Realmente a colonizacio portuguesa na América nfo 6 um fato isolado, a aventura sem precedente e sem seguimento de uuma determinada nagdo empreendedora; oa mesmo uma ordem de acontecimentos, paralela a outras semelhantes, mas indepen. dente delas. E apenas a parte de um todo, incompleto sem a visto deste todo, Tncompleto que so disfarga muitas vezes sob nogées que damos como claras e que dispensam explicagses; mas que nao rosultam na verdade sendo de habitos viciados de pensamento. tamos to acostemados em nos ocupar com o fato da colonizagio brasileira, que a iniciativa dela, os motives que a inspiraram e determinaram, 95 ramos que tomou em virtude daqueles impulsos iniciais se perdem de vista, Ela aparece como um acontecitnento fatal © necessétio, derivado natural e espontaneamente do sim- ples fato do descobrimento, E os rumos que tomou também se sfigurain como resultados exclusives daquele fato, Esquecemos al os antecedentes que se acumulam atrés de tais ocorréncias, & © grande mimero de circunstincias particulares que ditaram’ as ormas a seguir, A consideragzo de tudo isto, no aso vertente, & tanto mais necessaria que os efeitos de todas aquelas circunstin- Gesu serots, do cackter que Portugal, npaido or eles, dara & sua obra colonizadora, se gravaréo profunda ¢ indelevel- mente na formagio e evolugéo do pais, A expansio maritima dos paises da Europa, depois do sé. XY, expansio de que 0 descobrimento e colonizagéo da América constituem 0 capitulo que particularmente nos interessa aqui, se origina de simples empiesay comerciis levadas a efeit pelo naz vegadores daqueles paises. Deriva do desenvolvimento do comér- cio’ continental europea, que até 0 sée. XIV € quase unicamente terrestze, ¢ limitado, por via maritima, a uma mesquinha navega- io costeira e de cabotagem. Como se sabe, a grande rota comer cial do mundo europe que sai do esfacelamento do Império do Ocidente & a que liga por terra 0 Mediterraneo ao mar do Norte, desde as repiiblicas italianas, através dos Alpes, os cantdes sulgos, 08 grandes empérios do Reno, até o estuério do rio onde esto as cidades flamengas. No sée. XIV, mereé de uma verdadeira revo- luglio na arte de navegar e nos meios de transporte por mar, outra rota ligard aqueles dois pélos do comércio europew: sera a mati- tima que contoma 0 continente pelo estreito de Gibraltar. Rota que, subsididria a principio, substituiré afinal a primitiva no grande lugar que ela ocupava, O primeiro reflexo desta transfor magio, a principio imperceptivel, mas que se revelaré profunda @ revolucionard todo o equilibrio europeu, foi destocar a primazia comercial dos territérios centrais do continente, por onde passava @ antiga rota, para aqueles que formam a sua fachada ocednica: a Holanda, a Inglaterra, a Normindia, a Bretenha e a Peninsula Ibérica. Este novo equilibrio firma-se desde o principio do séc. XV. Dele derivara néo s6 todo um novo sistema de relagées internas do continente, como nas suas conseqiiéneias mais afastadas, a expansio européia ultramarina. O primajro passo estava dado e 2 Europa deixard de viver recolhida sobre si mesrya para enfren- sr 0 Oceano. O papel de pioneiro nesta nova etapa caberd 20s Formacio do Brasit Contemporéneo 21

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