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DEDALUS - Acervo - FFLCH 20900019867 Emile Durkheim Ligées de Sociologia Innate d ete asia COLIVEIROSS. FERREIRA Toots MONICA STAHEL ‘SBD-FFLCH-USP iii Martins Fontes S20 Pado 2002 QUARTA LIGAO MORAL CIVICA DEFINIGAO DO ESTADO Estudamos sucessivamente a regras moras jurid- cas que se aplcam as relagdes do individuo consigo mes- ‘mo, com o grupo familia, com o grupo profissional. Vamos agora estudio nas relages que cle mantém com outro gru- 1, mais extenso que os anteriores, até mesmo o mais ex- tenso de todos os que atualmente esto constiuidos, ou se- {a 0 grupo politico. O conjunto das regres sancionadas que determinamo que dever ser essas relages forma o que chamamnos de moral eviea, Mas antes de comecer seu estudo & importante defi- nro que se deve entender por sociedad politica, ‘Um clemento essencial que enira na nosao de todo grupo politico é a aposicio entre governantes ¢ governa- dos, ene aautoridade eos ue the so submetidos.E mato possivel que na origem da evolugdo social essa dstingio ‘no exstise; a hipétseé ainda mais provavel porque en- contramos sociedades em que ela € apenas escassamente oo cose socroL0s16 _aexuacfo 99 esra00 o ‘marcada, Mas, em tod caso, as sociedades em que essa dis- tinge se observa no podem ser confundidas com aquelas ‘em que inexst. Umas e otras consitem das expécies diferentes que devem ser designadas por palavras dife- rentes, 6a primeiras que deve ser reservada a qualifi- ‘cago de politica, Poi, se essa expresso tem um sentido, cla significa antes de tudo organizag pelo menos rudi- ‘mentar,constitugio de um pode, estivel ou intrmitente, fiaco ou fart, a cua ag0 0s individuos esto ujitos, sea fa qual for ‘Mas urn poder desse tipo & encontrado em outros Iu- res que io as soeiedades politica. A familia tern um. chofecujos pderes sio ora absolut, or estringios por aqueles de um conselho doméstico. Com freqigncia a fa- ‘mia patriarcal ds romano foi comparada a um peque- ‘no Esiado;¢, se, como veremos logo mas, a expresso m0 se justifies, ela seria ineprecnsvel sea sociedade polit case caractrizase uneamente pela presenga de un or- ganizaeo goerament Porn, un oun creer tica € necesiria, ‘Acreditou-se enconti-a nas relagdes particularmen- te estreitas que unem toda sociedade politica ao solo que cla acapa.Diz-se que i uma flag permanente entre 1o- dla nagio eum dado tert, “O Estado dz Bhntschlt “deve te seu dominio; a nagdoexige a tera” (p. 12). No entano, a familia ndo & menos ligada, pelo menos entre um grande nimero de povos, «uma porglo determinada do solo; ela também tem seu dominio do qual &insepard- vel, uma vez que ele inaienvel, Bem vinos que, is ve- 2, 0 patriménio imobilicio ca verdadeiramente@ ma da familia; era ele que constitu sua unidade sua pere- nidade; era. centzo em torne do qual pravitavaa vida do- :éstica, Em nenhum lugar o teritrio politico tem um. ‘papel mais considerivel nas sociedades politicas. Acres- tentemos, ais, que essa importincia capital dada a0 terrtGrio nacional 6 de data relativamente recente, Em. primeiro lugar, pargce bastante arbitra recusar todo ea rite politico as grandes sociedades némades, cuja orga nizagio is vezes & muito complexa. Depois, em tempos antigos era o nimero de cidadios, ¢ no o teritério, que cra eonsiderado o elemento essencial dos Estados. Ane xxar wm Estado eta anexar, nfo a terra, mas os habitan- tes que a aeupavam e incorporielos. Inversamente, viam= se os vercedores irem estahelecer-se entre os vencidos, ‘em seus dominios, sem por isso perder sua unidade e sua personalidad politica. Durante todos os primeites tem ‘pos de nossa hstéria, capital, ou sea, o centro de grav ddade territorial da sociedade, & de extrema mobilidade Nao fiz muito tempo que os povos se tomnaram to soli= dirios de son habitat, do que poderiamos chamar de sua expressio geogrifica. Hoje, a Franca ndo & apenas uma ‘massa, prncipalmente os individuos que falam uma do- terminada lingua, que observam determinada Ii, et la & essencialmente uma porgio determinada da Europa, ‘Mesmo que todos 0s alsacianos em 1870 tvessem optado pela nacionalidade frances, teria fundamento considerar 4 Franga como mutilada ou diminuida, pelo nico fato de {que el teria abandonado a uma poténciaestrangeira uma ‘determinada parte de seu solo. Mas essa idemtificacio da sociedade com seu tervtério 8 se produziu nas socieds- des mais avangadas. Esti ligada, por certo, a numerosas ‘aust, ao valor social mais elevado que o solo adquiriu, 2 "goes os socrovoot tales também &impordeiareativamente maior adqui- rida pelo vinculo geogrfiea, a fto de outros vines soci, denatureza mais moa, tem perdido fora As Giodads de que somos membros € mas par nb, unt "trio defini, una vez qu 6 essenelalmente uma ligt, um corpo de tages que Ihe slo especiis, ou cto de uma dinasi particular Deinado de ado o teri, parece que se poe en- conta ua caracteiticn da sciedade poles na in portncia numérica da popuagdo. certo qu, em gral, io aed esse nome a grupos socais composios por um pequeno nlmeo de individu. Masui tina de de- ‘mareagio seria singulamente Mutua; pois a parr de ue momento una aglomeragio humana € bastante con Siderdve para ser classifica ente os grupos polos? Segundo Rousseau, bastavam de nil homens; Blunts {ga esse nooo muito pequeno. As dias esimatvasslo ‘igualmente arbitvas, Un deparamento francés contém, as vezes, mais habtantes do que muta cits da Gréela coda ia. Cada una des cits no elano, consti tm Estado, ao paso que um depatamento nfo tem drel- toa essa denominagto. OSS Entctant tratase aqui de uma caractristice distin ‘a. Sem divide, lose pode dizer que uma sociedade po- Ite s distngue ds grupos files ov prfissionais porque é mas numeross, pois o eftve das fails pode, €m certs casos, se consderivel, 0 efetvo dos Estados, ‘ula redusido, Mas verdad é que no hi sociedad po lea que nfo contenha em seu seo uma pluralidade de fulias diferentes ov de grupos pofissonas diferentes, cou de unas © outros 20 meso tempo Se ela se reds. errtcio v0 esrAD0 6 se a uma soviedade doméstia, se confunditia com esta e seria uma sociedade doméstica; porém, na medida em que 46 formada por um certo mimero de sociedades doméstias, fo agrepado assim formado € outra coisa que nio cada um de seus elementos. F algo novo, que deve ser designado por ‘uma palavta diferente, Do mesmo modo, a sociedade poli- tea nfo se confunde com nenhum grupo profissional, com ‘nenhuma casa, se & que hi castas; é sempre um agregado de profisses diversas ou de castas diversas, assim como de familias diferentes, Mais geralmente, quando wma socie- dade & formada por uma reuniio de grupos seeundiios, de naturezas diferentes, sem que sea por sua vez um get po secundario com relagao a uma sociedade mais ampla, la consttui uma entidade social de espécie dstinta; & a sociedade politica que definiremos: uma sociedade for- ‘mada pela reunido de um nimero mais ou menos consi- drivel de grupos sociais secundirios, submetidos a uma, ‘mesma autoridade, que por sua vez no depende de ne- rnhuma autoridade superior regularmente constiuida, ‘Assim, €ofato merece ser notado, as sociedades po- Iiteas se caracterizam em parte pela existéncia de grupos secundirios. E 0 que ja seaia Montesquicu, quando dizia {que forma social que Ihe parecia a mais altamente orga- nizada, oa seja, a monarquia,implicava:“Poderes interme- divi, subordinados e dependentes” (II p. 4). Ve-se toda ‘a importancia desses grupos secundirios de que falamos ‘até agora, Esses grupos nfo sfo apenas necessitios d ad- ‘ministrago dos interesses particulares, doméstios, pro- fissionais, que eles envolvem e que so sua razio de set; iio também a eondigio fundamental de toda organizacio ‘mais elovads, Longe de estarem em oposige ao grupo so- 4 Lugdesne soctovocis cial encarregado da autoridade soberana e que chemamos mais especialmente de Estado, é este que supe sua exis- \éncias ele 86 existe onde eles existem. Nao hi grupos se- ‘cundatios,nlo ha autoridade politica, pelo menos, no hd autoridade que possa, sem impropriedade, ser chamada por esse nome, De onde vem essa solidariedade que une «esses dois tipos de grupamentos, é 0 que veremos mais ta de. Por enquanto, baste-nos constaté-la E verdade que essa definigo contraria uma teoria, clissica durante muito wempo; éaquela aque os sts. Suzn- mer Maine e Fustel ce Coulanges vincularam seus nomes. Segundo esses estudiosos, a socicvade elementar de que teriam saido as sociedades mais eompostas seria um grupo familiar extenso, formado por todos os individuos unidos ‘por lacas de sangue ou por lagos de adogo, e colocado sob «8 direcZo do mais velho dos ascendentes masculinos, 0 patriarca. F a teoria patriareal. Se ola fosse verdadeia, encontrariamos no principio uma autoridade consttuida, «em todos os pontos anloga & que encontramos nos Esta- dos mais complexos, a qual seria por conseguinte verda- eiramente politica, ao passo que a sociedade de que ela Ea chave de abGada ¢ una e simples, no € composta por rnenhunva sociedede menor. A autoridade suprema das ci- ‘és, dos reinos, das nagBes que se constituem mais tarde ‘lo teria nenhum carter original eespecifico; seria det ‘vada da sociedade patriaral segundo cujo modelo teria se formado. As sociedades ditas poiticas seriam apenas fa- milias ampli, Hj, porém, essa teoria patiaral jf nfo 6 sustenti- vel; € uma hipétese que ndo repousa em nenhum fate di- Fetamente observado e que & desmentida por uma infii ertigio vo asrav0 6s dade de fatos conhecidlos. Nunca se observou nenktuma fa- ‘mili patrarcal tal eomo foi deserita por Summer Maine ¢ Fustel de Coulanges. Nunca se viu um grupo formado por consangilineas ¢ que vivesse no estado de autonomia. sob a diregdo de um chefe mais ou menos poderoso, Todos 6s grupos familiares que conhecemos, que apresentam ‘um minimo de organizagao, que reconhecem alguma auto- ridade definida, fazem parte de sociedades mais umplas. que define o cla é ele ser uma divisdo politica, ao mes- -mo tempo que familar, de um agregado social mais exten- 0, Mas, di-se-d, eno principio? No principio, é legitimo supor que houvesse sociedades simples que no conti- ‘nham nenhuma Sociedade mais simples; a ligica eas ana- logias nos obrigam a levantar essa hipétese, que certos alos confirmam. Em contrapartida, nada autoriza a acre- ditar que essas sociedades estivessem submetidas a algu- ‘ma auloridade. E o que deve leva a rejetar essa suposi¢a0 como senelo totalmente improvavel & que, quanto mais os cls de uma tribo sio independentes uns dos outros, mais, ‘cada um delestende & autonomia e mais também, est au- sente tudo que se patega com uma autoridade, com um poder governamental qualquer. So massas quase total ‘mente amorfis, cujos membros esto todos num mesmo, plano. A organizagio dos grupos parciais, clas, familias, te. o precedeu, portant, a organizacdo do agregado to- tal que resultou de sua reunio, Dai tampouco se deve con cluir que, inversamente, a primeira tena nascido da se- ‘gunda. A verdade & que elas so solidirias, como dizia- ‘mos hi pouco, ese condicionam mutuamente. As partes ‘mo se organizaram primeito para formar um todo que em se organizou sua imagem, mas 6 todo ¢ as par-

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