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mA Gi nde TRANSFORMACAO As origens da nossa época Koul Ramp & (port). Ligpands Sond iN Sq 2 Quscle dA aaa tr. oO Moka SATANICO "HABITACAO VERSUS PROGRESSO” No coragio da Revolugio Industrial do século XVI ocorreu um progresso miraculoso nos istrumentos de produ¢io, o qual se fez acom- panhar de uma catastrfica desarticulacio nas vidas das pessoas comuns. “Tentaremos desenredar os fatores que determinam as formas dessa desarticulagio, que teve a sua ptor fase na Inglaterra ha cerca de um século. Que “moinho sat&nico” foi esse que triturou os homens trans- formando-os em massa? Quanto pode se atribuir, como causa, 8s novas condigées fisicas? E quanto se pode atribuir as dependéncias econémi- ‘as, que funcionavam sob novas condigoes? Qual foi o mecanismo por ‘eujo intermédio foi destruido o antigo tecido social e tentada, sem sucesso, uma nova integragio homem-natureza? A filosofia liberal jamais falhou to redondamente como na com- preensio do problema da mudanca. Animada por uma £6 emocional na espontaneidade, a atitude de senso comum em relagio a mudanca fot substieuida por uma pronta aceitagio mistica das conseqiténcias socials do progresso econémico, quaisquer que elas fossem. As verdades cle- rmentares da ciéncia politica e da arte de governar foram primetro desa- creditadas, e depois esquecidas. Nao & preciso entrar em minticias para compreender que um processo de mudanga nao-dirigida, cujo ritmo é considerado muito apressado, deverta ser contido, se possivel, para sal- vaguardar o bem-estar da comunidade. Essas verdades elementares da arte de gewernar tradicional, que muitas vezes refletiam 03 ensinamen- tos de uma filosofia social herdada dos antepassados, foram apagadas do pensamento dos mestres do século XIX pela agio corrosiva de um usiitarismo cru, aliada a uma confianca ndo-ctitica nas alegadas pro- priedades aucocurativas de um crescimento inconsciente, st U hiberalismo econdmico mterpretou mal a historia da Revolugio Industrial porque insist em julgar os acontecimentos sociais a partir de um ponto de vista econdmico. Para ilustrar este ponto, voltaremos a lum assunto que poderd parecer remot, a uma primeira vista: 0s cerca mentos dos campos abertos (enclosures) ¢ as conversbes da terra aravel em pastagem durance o primeito periodo Tudor na Inglaterra, quando (0s campos e as reas comuns foram cercados pelo senhores, ¢ condados inteiros se viram ameacados de despovoamento. Ao evocar a desgraca do povo provocada pelos cercamentos € conversées, nosso propésito serd, de um lado, demonstrar o paralelo existente entre as devastacSes causadas pelos cercamentos, finalmente benéficos, e as que resultaram nna Revolugéo Industrial e, de outro lado — de uma forma mais ampla esclarecer as alternativas enftentadas por uma comunidade no pacoxis. mo de um progresso econdmico no-regulado. (Os cercamentos seriam um progresso ébvio se nio ocorresse a con- versio as pastagens. A terra cercada valia duas ou trés vezes a no-cer- cada, Nos lugares onde se continuou a cultwar a terra, no diminuiu 0 emprego € o suprimento de alimentos aumentou de forma marcante. O rendimento da terra elevou-se consideravelmente, principalmente onde a terra era alugada ‘Mesmo a converséo de terras ardveis em pastagens de careiros ndo foi mnteiramente prejudicial 4 circunvizinhanga, a despeito da des ttuicdo de habitacées e da restricdo de empregos que ela acarretou, A indiistria caseira jé se difundia na segunda metade do século XV, e um século mais tarde ela jé cra um aspecto marcante no campo. A la pro- duzida na fazenda de cameiros dava empregos a pequenos posseiros ¢ agricultores sem terra, e 05 novos centros de indéstria de la garantiam arenda a uma quantidade de artesios, Entretanto — ¢ este € o ponto ~ é somente numa economia de mer- cado que tais efeitos compensadores podem ser tomados como certos. Na falta de uma tal economia, a ocupagéo altamente lucrativa de criar

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