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Processo: Relator: Descritores: Data do Acordi Votasio: ‘Texto Integr: Meio Processual: Decisio: Sumirio: Acérdao do Tribunal da Relagao de Evora 1247/05-1 ALBERTO MIRA, OMISSio CAUSALIDADE OFENSA A INTEGRIDADE FISICA POR NEGLIGENCIA, 06-12-2005 UNANIMIDADE N RECURSO PENAL RECURSO PROVIDO 1 -Intimamente ligado a violago do dever objective de euidado, traduzida na eriagio de perigo ;para um bem juridico protegido esté o principio da confianga, hoje reconhecide por todo o direito penal, sobretudo no émbito da circulagio rodoviéria IL- Em tragos gerais, consiste ele na ilagdo de que quem se comporta de acordo com a norma de cuidado que 0 direito impée, pode confiar que o mesmo os outros fario, sempre e quando niio existam indicios coneretos para supor o conttério, IIL- Os delitos de omissio podem ser de omissio propria (neles, o dever de actuar surge, no plano objectivo, da presenga de uma situagio tipica, p. ex. a omissio de auxilio) ou de omissio impropria, (comissdo por omissio), estes caracterizados pela falta de men¢ao expressa no tipo respectivo do comportamento omissivo determinante da produgdo do resultado proibido, sendo necessério que 0 agente tenha uma obrigagao de impedir o resultado tipico om virtude de determinados deveres cujo cumprimento haja assumido ou the incumbem por razdo do seu cargo ou profisslo, isto é, a que o artigo 10° chama “dever juridico pessoal”, Esta especial obrigagdo converte o agente em garante de ue nio se produza o resultado, como se 0 tivesse ocasionado mediante uma acgio positiva IV - Os delitos de omissdo imprépria podem cometer-se por negligéncia sempre que o respective tipo de comisslo assim o preveja, coincidindo, em parte, o dever de garante ¢ o dever objective de ceuidade, V-- Decorrendo da matéria de facto provada que: = 0 co-arguida A... (dono da obra, detentor do dominio sobre a nova edificagao) teve conhecimento da instalago de um esquentador numa casa de banho, se tendo apercebido da forma deficiente como esse ebjecto tinha sido instalado por pessoa (co-arguido BB.) para o efeito ndo habilitada (para além do local da instalago, o tubo de evacuagio de gases para o exterior estava mal colocado); 0 arguido A..., verificada a existéncia do esquentador na "nova" casa de banho, no diligenciou no sentido de recolher informagio sobre os requisitos téenicos ¢ legais da sua instalagao no mencionado local e nao ordenou a sua imediata remogao, apesar de saber que tal espaco seri utilizado, como foi, por diversas eriangas, estes factos decorre que sobre 0 co-arguido A... impendia o dever de garante da nfo produgio do resultado tipico que, em concrete, se traduziu na ofensa a integridade fisica de uma crianga, provocada por intoxicagdo aguda por mondxido de carbone, VI. Nio pode valer-se do principio da confianga para afastar a violagdo do dever objective de cuidado quem, como o arguido, contribuiu decisivamente para a criagdo de perigo para a vida e integridade fisica das eriangas (entre elas, a ofendida) que utilizaram a casa-de-banho onde fora instalado o esquentador. VII - Em sentido estrto, entende-se por causalidade cumulativa a concorréncia conjunta de cursos causais que em separado nao seriam suficientes e cuja realizagio nfo estava previamente acordada. VIIL- 0 problema de concorréncia de riscos surge da cireunstancia de o comportamento néo permitido poder respeitar a uma situagdo que por sua vez jé esti ameagada pelo risco. Em tais situagGes, para verificar a responsabilidade pelo delito consumado deve-se determinar se se realizou o risco daquele que hi-de responder como autor, ou outro risco. VIIL- A causa posta pelo autor no necessita sera Unica, nem a itima, nem to pouco a mais cfectiva, no sentido de uma causa effciens IX - Se quanto és actuagSes do co-arguido B...¢ do co-arguido A... nfo existe seguramente qualquer concorréneia de eausas, mas actuagoes independentes, relevantes cada uma de per si para 6 resultado que se verificou (o primeiro colocou deficientemente 0 esquentador, em local indevide, © 0 segundo, sabendo da sua existéncia, nas preditas condigdes de perigosidade, nade fez para 0 remover), no que conceme ds outras circunstincias enunciadas (palha e outros materiais de ninhos a obstruirem o tubo de exaustio de gases ¢ o niimero de banhos), ainda que tivessem ocorrido, nfo se vé que elas pudessem ser de algum modo auténomas (decorreriam tio s6 de uma situagio de perigo potenciada pelo co-arguido A...) ¢, a s@-Io, por condescenk inrelevantes, pois que o decisivo é determinar se pode ser objectivamente imputével um resultado cia de apreciagdo, sempre seriam Decisio Texto Integral: causado por uma aegio humana (no sentido da teoria da condiglio) quando a mesma eriou, para o seu objecto protegido, uma situagdo de perigo juridicamente proibida, ¢ 0 perigo se materializou no resultado tipico. X-- Em face do exposto, fica indelevelmente determinada a culpa do co-arguide A., © qual ineorreu na pritica do crime de ofensa a integridade fisica por negligéncia do art. 148. n.°s | ©3, por referéncia ao art. 144°, als. b) e d), ambos do Cédigo Penal Acordam, em audincia, os Juizes da Seego Criminal do Tribunal da Relagdo de Evora. I. No Tribunal Judicial da Comarca de .., foram submetidos a julgamento os arguidos: A. ....B...,promuneiados da pritica, cm autoria material e em concurso efectivo, de um crime de homicidio por negligéneia, previsto e punido, nos termos do disposto no n.° 1 do artigo 137,° do Cédigo Penal ¢ de um crime de ofensa a integridade fisica grave por negligéncia, previsto e punido pelos ns 1 ¢ 3 do artigo 148. por referéncia as alineas b) e d) do artigo 144°, ambos do citado diploma, Por sentenca de 4 de Fevereiro de 2005, o tribunal (singular) julgou parcialmente procedente o ddespacho de pronincia e, em consequéneia: - condenan 0 co-arguido A. ... pelo cometimento, em autoria material, de um erime de infraegio de regras de construsdo, previsto e punido pela alinea a) do n° 1 en." 3 do artigo 277." do Codigo Penal, na pena de 8 (oito) meses de prisdo, suspensa na sua execusio pelo periodo de 2 (dois) anos, nos termos do disposto no n® | do artigo 50 do Cédigo Penal, sob condigdo do arguide proceder & entrega da quantia de € 1 000 (mil euros), no prazo de 6 (seis) meses, aos Bombeitos Voluntarios do ~ absolveu 0 arguido A. ... da agravagiio pelo resultado, nos termos do disposto no artigo 285 do Cédigo Penal; - absolveu o co-arguido B. .... da pritica do crime de homicidio por negligéncia, previsto ¢ punido pelo artigo 137.° do Codigo Penal; + absolveu o co-arguido B. ., da pritica do crime de ofensa & integridade fisica negligente, previsto «© punido pelos n°s 1 ¢ 3 do artigo 148.", por referéncia is alineas b) d) do artigo 144." do Cédigo Penal Relativamente ao pedido de indemnizagio civil que fora deduzido pela assistenteC. ..., foi o seu conhecimento remetido para os meios civis, por despacho de Mls 2404 a 2406. Inconformade com a decisio, dela recorreu a assistente C...., extraindo da respectiva motivagiio as conclusées que se passam a transcrever: 41, 0 co-arguido B. ..., solicitou ao co-anguido A. ... que realizasse obras de transformagao de um espago de passagem (entre uma sala ¢ 0 exterior do edificia) num espago apto a fumcionar como casa de banho. 2. 0 co-arguido B.... nil providenciou por informar-se acerca dos condicionalismos legais € \éenicos da transformacdo e também ndo obteve as necessérias licengas camaritias. 3.0 co-arguido B. .., conhecia bem as caracteristicas do espago transformado em casa de banho (utlizava como dono o complexo habitacional da Herdade de ..)¢, por isso, sabia que a mesma nio tinha condigdes de arejamento. 4.0 co-arguido B. .., sabia que era legalmente exigivel obter licenciamentos camaririos para a realizagdo das obras de transformagao em causa nos presentes autos. 5.0 co-arguido B...., sabia que o esquentador fora montado no interior da casa de banko (alids chegou a utilizé-la) e nada fer. para o remover e assim neutralizar as causas do perigo, 6.0 co-arguido B. ., sabia que o co-arguido A... apenas fora contratado para exercer fungdes de pedteiro, 7.0 co-arguido B. .. podia ignorar que era proibido instalar esquentadores no interior de casas de ‘banho, mas tinha obrigagao de saber ¢ sabia que tal instalagdo era perigosa, pois, além de ter sido alertado para esse perigo, muito antes do acidente, pelo Sr. ..., é uma pessoa licenciada o que lhe garante um grau de informagao superior ao cidade comum. 8. Apesar do esquentador ter sido instalado no interior da casa de banho 0 co-arguido B. . considerou que as obras estavam “como devem ser" 9. E do conhecimento comum que a instalagio de esquentadores a gas no interior de casas de banko envolve um elevado grau de perigosidade, alias é piblico desde ha muito os “media” participam em campanhas de alerta para esse perigo. 10, 0 co-arguido B. nfo previu como podia e devia que em virtude da forma e do local onde foi instalado o esquentador, pudessem resultar lesbes graves na sate da C. ..., as quais constam dos ddiversos relatérios médieos e que aqui se dio por reproduzides, 11, 0 co-arguido B,. .. nfo pode invocar em seu beneficio o principio da confianga porque foi ele © primeizo a nio acautclar o perigo ao solicitar a0 co-arguide a realizagio de uma obra de transformagio sem previamente ter reunido as necessrias condigdes legais e téenicas, 12, O co-arguido B. .., 6 considerado uma pessoa exigente ¢ responsével, pelo que se Ie impunha ‘um comportamento diferente daquele que adoptou, sobretudo impunha-se-Ihe um reforgo de ceuidados ji que sabia que aquele local ia ser ulilizado por cerea de 50 criangas, 13. O co-arguido no adoptou o comportamento adequado @ evitar as consequéncias normais © previsiveis da sua conduta, isto &, ndo fez.o que Ihe era exigivel para evitar a verificagao do resultado tipico. 14. Os resultados s6 se verificaram porque tendo em conta as “regras gerais de experiéncia” e “os conhecimentos concretos do co-arguida” este nfo procedeu com o euidado que se Ihe impunha, primeiro porque no obteve as licengas, segundo porque nio mandou retirar 0 esquentador instalado na casa de banho, o que fez.com que & C..., inalasse 0 monéxido de carbono expelido pelo dito esquentador, 15. A inalagio do mondxido de carbone Tibertado por um esquentador a gas instalado dentro de uma casa de banho é causa adequada a causar a morte ou lesdes a saiide de uma pessoa. 16, No caso das ofensas a integridade fisica causadas & C, .., no existem factos interruptivos da causalidade, entendidos estes como aqueles que, de per si, sio capazes de causar 0 resultado (tenha- se presente que a eventual falta ou deficiente assisténcia médica por falta do “ambu" na ambulancia, nio se coloca no que concere a C. .., jd que esta foi transportada por carro particular para o Centro de Saide de...) 17. A propria sentenga recorrida considerou que no eram factores interruptivos do proceso causal ‘existéneia de um ninho no tubo de exaustio e o facto de 18 ou 20 outras eriangas terem, ‘momentos antes, tomado banho naquelas instalagSes. 18, Deve ser imputado ao co-arguido B. ... a lesdo do bem juridico (integridade fisica) porque esta surge como uma consequéncia normal e previsivel da violagdo de um dever objectivo de cuidado & rio como uma mera coincidéncia das circunstincias. 19, No caso da C. .., no houve nenhuma intervengao de terceiros nem causas interruptiveis do rocesso causal 20.0 comportamento displicente do co-arguido B...., revela um acentuado juizo de reprovagio ttico/social e ndo sé potenciou o riseo como deu causa adequada aos resultados verificados. 21, O co-arguido B. .., actuou com clevado grau de ilicitude atento o perigo concreto criado para vida e integridade fisica de C. .., e das demais criangas que frequentavam o “campo de férias”. 22. 0 tribunal a quo fer uma errada interpretagdo do art. 10.° n° 2 do Cédigo Penal, na medida em que considerou, por um lado, que 0 co-arguido B. ..,finha o dever de actuar por forma a evitar 0 resultado e, por outro lado, decidiu absolvé-lo da prética do crime pelo qual vinha pronunciado, 23. Os factos provados preenchem os requisitos de punibilidade do co-arguido B. .. e nio obstante isso o Tribunal a quo proferiu uma sentenga absolutéria ¢ com isso violou, por erro de interpretago e aplicagdo, o disposto nos arts. 10.°,m.°2, 15.°, 143.°, 144.° e 148.°, todos do Cédigo Penal 24, A decisio do Tribunal a quo est em contradigio clara e inequivoca eom a fundamentagio utilizada nos seus diversos parégrafos que, titulo de exemplo, se transcreveram no capitulo II (Do Direito), ponto 3 desta pega processual e que aqui se dio por integralmente reproduzidos. 25, A contradigio entre a fundamentagio e a decisio resulta do texto da prépria sentenga e constitul ‘um vicio previsto no artigo 410.°,.° 2 al. b) do Cédigo de Processo Penal Termos em que deve 0 presente recurso ser julgado procedente, por provado, e consequentemente ser proferido douto acérdio que, acolhendo as presentes conclusées, revogue a sentenga proferida pelo Tribunal a quo condenando 0 co-arguido B. .., pela pritica do crime de ofensas & integridade fisica grave por negligéncia, previsto e punido pelos arts. 148°, n.*1, por referéncia aos arts. 143.° © 144," do Cédigo Penal © Digno Procurador Adjunto do Tribunal de 1.” Insténcia apresentou resposta & motivagdo do recurso, concluindo pela manutengio da decisio recorrida, Tgualmente respondeu o arguido B. ..., pugnando pela improcedéneia do recurso, com base nas conclusdes seguintes: «<1, Tomando em atengdo os factos dados por provados e por no provados, que a recorrente no impugna, e por isso so definitivos, outra no poderia ser a decisio que no a absolvigo do Arguido Portela de Morais. 2. 0 Recorrido ndo deu indicagdo 20 Arguido A. ..., para colocar esquentador dentro da casa de Danko. 3.0 Recorrido apenas solicitou ao Arguido A. ..., que ransformasse um determinado espago da ‘asa principal numa casa de banho, o que este fez. 4.0 modo como o esquentador foi montado, foi iniciativa do Arguido A. ..., incluindo a escolha e compra dos materiais, a contratagio de serventes ea direcgao dos trabalhos. 5. 0 Recorrido informou-se acerca dos condicionalismos legais e pediu autorizagio para a realizagio da obra em causa, 6. Autorizagao essa pedida antes de se iniciar a obra em concreto e antes de solicitar a mesma a0 Arguido A, 7. A obra em causa enquadrava-se num conjunto mais vasto de obras a realizar na Herdade de 8. A autorizagdo para a realizado da obra foi deferida com indicagdo expressa de que nem careciam. de licenciamento, 9..0 que estava em causa ndo era a violagdo de um dever objectivo de cuidado relativamente & obtengdo dos devidos licenciamentos das obras, mas a prontincia do Recortido pelos crimes de homicidio ¢ ofensas a integridade fisica, na sua modalidade de comissao por omissio, por nfo ter alegadamente neutralizado, mediante acydo adequada, o perigo associado a uilizagao de um esquentador instalado na sua propria casa 10, B saber se a mera “detengéo de uma fonte de perigo”, por si s6, geraria um dever de garante 11. Tendo havido, ou vindo a haver, condenago com base na falta de obtengao de licenga, estariamos face a uma alteragdo no substancial dos factos deseritos na acusaglo ou na pronincia, nos termas do artigo 358.° do Cédigo de Processo Penal, que, a nfo ser respeitado, redundaria em aplicagdo de norma inconstitucionl. 12, Mesmo a alegagio do dever de garante por “mera detengdo de uma fonte de perigo”, nunca procederia, pois a detengio de fontes de perigo nio pode, por si s6,criar qualquer dever de garante, sob pena de violagdo do principio da legalidade e da reserva de lei, todos com consagragao constitueional 13, Nos presentes autos no cxiste nenhuma disposigo legal que legitime a criagfo de um dever de garante do Recorrido, com fundamento na “detengdo de uma fonte de perigo”. 14. 0 Recorride tinha razSes suficientes legitimas para confiar que a pessoa contratada seria competente para realizar a obra e, acima de tudo, seria competente para realizar a obra em conformidade com os padrdes de qualidade, conforto e seguranga exigidos. 15. 0 Recorride & economista de formagio ¢ actividad, no dominando conhecimentos de construgao civil e confiando em quem contrata, 16. O Recorrido confiou legitimamente, que o Arguido A. ...tinha deixado a casa de banho apta a funcionar como casa de banho modema e segura, que a tinha deixado “como deve ser”. 17. No seguimento da comunicago 4 Camara Municipal de... @ casa da Herdade de S. .... quando depois da realizaglo das obras de beneficiago de 1995 ¢ 1996 (ai se ineluindo a da easa de banho 4do acidente), foi visitade por funcionsrios da Cémara Municipal de 18. 0 facto de os servigos de fiscalizagdo da Camara Municipal de... ndo terem levantado qualquer objecgdo, critica ou repato as obras efectuadas, depois de terem realizado uma acgio de inspecgio ao local, verificando que os esquentadores estavam instalados dentro da casa de banho, reforgou intensamente a conviegdo do Recorrido e de que tudo estava bem relativamente Aguela e as demais casas de banho da Herdade, 19, Tendo o Recortido obtido todos os cuidados necessirios para se informar ¢ obter 0 licenciamento devido, no podem ser afastadas as consequéncias do Prineipio da Confianga, 20, Nao & possivel estabelecer um nexo causal juridicamente relevante entre a conduta do Recorrido e o resultado 21. 0 concurso de causas que levaram ao resultado sdo a instalago do esquentador no interior da casa de banho, a deficiente instalago do tubo de exaustio, a existéncia de um ninho naquela tubagem e o niimero de banhos previamente tomados. 22. 0 Recorrido ndo poderia, num juizo de prognose péstuma, representar como possivel um resultado que preenche um tipo de crime, quando para a verificagio daquele resultado concorreu uma série de factores ¢ causas que nio eram passiveis de um raciocinio ex ante e nio resultou provado que pela simples omissio do dever de cuidado o resultado tivesse ocorrido e que, por isso, the pudesse ser imputado, 23. Nos termos da teoria da causalidade adequada, atinica que permite verificar se nos crimes de resultado se pode atribuir o resultado em causa a conduta do agente, a imputagdo penal ndo pode ‘nunca ir além da capacidade natural do homem de dirigir ¢ dominar os processos causais, 24, Nao existe uma relaedo de determinacdo entre a violago do dever de cuidado e a produgao do resultado, ndo pode o resultado ser imputado ao Recorrido por no estar estabelecido o nexo causal a imputagao objectiva do resultado & sua conduta 25. Nao ha contradigdo entre a fundamentagZo utilizada e a decisdo proferida». Nesta Relagdo, o Digno Procurador-Geral Adjunto, louvando-se na motivagdo da assistente, emit douto parecer no sentido da procedéncia do recurso Cumprido o disposto no n.°2 do art. 417.° do Cédigo de Processo Penal, o assistente e o arguido B. «no exerceram o seu direito de resposta, Efectuado o exame preliminar, colhides os vistos legais e realizada a audincia de julgemento, cumpre agora apreciar e decidir. IL Na sentenga recorrida, foram dados como provados os seguintes factos: 1. 0 co-arguido B. .., & data dos factos, encontrava-se inscrito na certiddo da matricula comercial aE -.., como vogal do conselho de administragao. 2. Encontra-se inserita na Conservatdria do Registo Predial de .. mediante inscrigSes G-29, G-30 e G-33 e apresentagies n.°s 17/210694, 02/150197 e 05/111198, a aquisigio a favor de E. compra, do prédio denominado por Herdade de... sito na freguesia do .., concelho de... descrito nna Conservatéria do Registo Predial de .. sob o n.° 00207/261186, da freguesia de ..,, coneetho de 3. AE. .« tem por objecto social a explora agricole, pecusra,cinegtica esilviola de préios risticos a comerializagdo de produtos resultantes dessa explorago 4.0 complexo habitacional existente na Herdade de S .. €utlizado, desde a sua aquisigf pela E pela familia do co-arguido B..., itu particular, para frias fins-de-semara. 5A familia do co-arguidoB. ., & composta por cinco fithos e tem por habito convidar grandes srupos de pessoas para a passarom alguns dias ou para se reunirem em convivio 6.0 complexo habitacional em causa fo sujeitoa diversas obras de beneficiagdo, em parte executadas pelo co-arguido A... 0 ual exeree a proissio de pedreto, senda, como tal, eputado narexido 7m 1996, em data ndo coneretamenteapurada, 0 co-arguido B..., solicitou a0 co-arguido A «que transformasse umn determinado espago da casa principal numa casa-de-banho, o que este fez 8. Essa casa-de-banho, que antes configurava uma zona de passagcm entre uma sala co exterior do edificio, tem 6,44 m2 (3,68mx!,75m),duas eabines de chuveiro separadasente si por ume pared, um lavatério, uma santa, um bid, um quad eléetreo, um esquentador e dus portas, sendo que uma davaacesso 8 casa-de-banho pela sala contgua ea outra, como nimero de porta 18, ava acesso ao exterior da casa e que no era utlizada 9.0 csquentador foi instalad por cima do dé da sit ali exstentese era slimentado por uma botija de gas que se encontrava no exterior da casa. 10, © esquentador que al oi colocado era de marca.» modelo. fabricado em Setembro de 1955, 11, Nas instrugées do aparlho,o fabricate indica que “(.) 2 roga de tubo vertical, imediatamente «seguir dgola do aparelho, deve ter, pelo menas, 30cm’. 12, 0 co-enguido A... montou aguele tubo com um percurso descendents - a0 que se dé designasio de “pescoso de cavalo” ,o que dificult a exaustio dos gases da combustio do esquentador para o exterior. 13, A gola do aparelho ¢fémes c, por isso, a conduta de evacuaso deve ser colocada por dentro € ada e no, como aconteceu, por fora, dando origem a que por aquele porto se poss libertar produtos de combust para o interior da casa de banho. 14, Na saa do tubo de exaustio de gases nfo foi colocada qualquer rede ou grclha 1s, A data dos facto, o tubo de exaustdo dos gases de combustio do esquentador podia estar abstruido com pala ¢ outros materais de consrugio de ninhos. 16, © arguido A. .. no tem formagao técnica para monta esquentadorese,previamente & montagem do acima identificado, ndo se informou quanto ao modo corecto de o fazer. 17,0 co-arguido B..., sabia que o co-arguido A... era pedeio, 18,0 co-arguido B....acitoo trabalho realizado, al como ficou feito 19, Durante 0 més de Julho de 1997, os flhos do co-arguidoB..., convidaram um grupo de cerca de 30 criangas com idades comproendidas entre 0s 9 «0s [4 anos para consig passarem uns iss de fias na Herdade de 8 20. Como evento referido em 19 foi do agrado da ciangas, no ano seguinte 0s flhos doco agudo B.., pediram autorizaso a... para repeti-lo cesta, por sua vez, obteveo assentimento daquete co-aguido. 21, Foram, entio, contactada ceree de SO eriangas ejovens, com as mesma idadesreeridas, de entre os conhecimentos pessoas dos filhos do co-arguid B... por inermédio daqueles, sendo, muitos dees, colegas de escola do Colégio . ou do Colégio 22, 0 encontrodeveriadscorrer ene 2 ¢10-de Julho de 1998 ea erangas oeupar-s-iam com actividades desportvase Kidicas variadas, qu realizariam de acordo com a sua vontade 23.6. filha do co-arguido B.... elaborow um panfleto que intitalou de “Campo de fis S., to qual cra fit referéucin a tipo de actividades que seria paticadas durante ease seroana (baseball, vole, futebol, equtasa0, beach-rugby, hiqusi em campo, ski, cclismo,natagio, jogos de matraquilhos, snooker, curso de culiniia..), existéncia de um seguro de aidentes pessoaise 20 prego de Ese 50,000800 (cinguenta mil escuos) por cada partcipante,referindo-se ands que © programa incuiaestadia,alimentaio e transporte 24.0 panfeto referido em 23. foi enviado aos pais de algumascriangas, através destas, com os

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