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5 Todos naratvosedesrtvos 3. Leitura literaria: Os Maias, de Eca de Queirés (1888) Os textos queirosianos considerados verdadeiramente realistas/naturalistas s8o 0 Crime do Padre Amaro (1865 e 1876) e 0 Primo Basilio (1878). A partir de © Mandarim (1880), Eca afasta-se jé, ainda que nao de uma forma definitiva, de alguns dos cAnones do romance naturalista. Mesmo aquela que & considerada a sua obra-prima, Os Malas, apresenta jé muitos aspetos que evidenciam um afastamento em relacao ao Naturalism. © romance Os Maias é publicado a 2 de junho de 1888. Segundo alguns criticos literdrios, Ega teria de- morado cerca de oito anos a escrevé-lo, o que pode explicar 0 afastamento progressive do romancista, & medida que a diegese avanca, em relagao aos cénones realistas/naturalistas, Com efeito, 0 Ea do inicio do romance é marcadamente influenciado pelas teses naturalistas(influéncia do melo, da educagio e da here- ditariedade na evolucao do individuo; omnisciéncia do narrador), a0 contrério do Eca que elege o destino como responsavel pelo desenlace tragico da familia Maia Curiosamente, 0 romance no teve, no momento da sua publicagéo, o mesmo sucesso das obras ante- rlores do romancista, nomeadamente O Crime do Padre Amaro (1876) ¢ 0 Primo Basilio (1878). Allustre Casa de Ramires (1897 e 1990}, Cidade e as Serras (edigSo péstuma 1901) € os Contos (edigao péstuma 1901) revelam jé um outro Eca, imbuido de um toque de misticismo que alguns criticos conside- ram como uma manifestagao de um certo desencanto face a civilizagao. 3.1, Categorias da narrativa a. Agao A agao do romance baseia-se na historia de trés geracGes da familia Maia (Afonso, Pedro e Carlos) e tem como pano de fundo a sociedade lisboeta de grande parte do século XIX. A arquitetura do romance ‘Aestrutura de Os Maias ¢ desde logo definida pelo préprio autor ao sublinhar a importancia do subti- tulo ~ Episédios da vida romantica, Assim, 0 romance apresenta dois niveis narrativos/diegéticos (relem: bre-se que diegese significa historia, enquanto sequéncia de acontecimentos) relacionados diretamente com Titulo Remete para a histbria de uma familia a0 longo de trés geracées,incluindo Os Maias a intriga/agao central, que se constr6i como uma acio fechada. [Aponta para uma descticdo/pintura de um certo estilo de vida, 0 romsntico, através da crénica de costumes da sociedade lsboeta, particularmente da arstocracia e alta burguesia da década de 70 do século XIX. A crdnica de costumes concretiza-se através da construcdo de ambientes e da atuaco de personagens-tipo, revelando-se como uma acao aberta Subtitulo Episédios da vida romantica Estes dois niveis narrativos articulam-se de forma alternada, funcionando os ambientes como pano de fundo para a atuacao de algumas das personagens da intriga central que, pelo seu cardcter e comporta- mento, se destacam da mediocridade geral A arquitetura do romance conjuga trés elementos estruturadores: + os antecedentes e a evolugéo da familia Maia; + aintriga - relagao incestuosa de Carlos e Maria Eduarda; + aviséo dos costumes quotidianos da sociedade lisboeta no final do século XIX, que serve de cenério da intriga central ee opie ets Resumo dos capitulos Capitulo! © romance inicia-se com a referéncia a instalacao da farnilia Maia no Ramalhete, no outono de 1875. ‘Afamilia 6 constituida apenas pelo avb Afonso ~ “um antepassado mais idoso que 0 século"tp.6)~@ pelo neto ; Carios ~ “que estudava medicina em Coimbra’ ip. 6, “rapaz de gosto e de luxo que passava as férias em Parise Londres". i Este palacete, durante longos anos desabitado, sofrera, entretanto, obras de restauro, apesar da discor dancia de Vilaga, 0 procurador da familia, para quem as paredes do Ramalhete eram sempre fatals 20s Malas, As obras de restauro e a decoracao séo supervisionadas por Carlos que, depois do proceso de reno~ vacdo concluido e jé formado em Medicina, parte para uma viagem de um ano pela Europa. Afonso, due fazialembrar, segundo 0 seu neto, “um vordio esforcado das idades heroicas” p12, instala-se no Ramalhete, esperando o regresso de Carlos. Inicia-se, entio, a analepse que evoca 0 passado de Afonso da Maia, da vida de seu filho Pedro e da in- fancia e formacao de Carlos: « Afonso, jovem apoiante do Liberalismo, ¢ expulso de casa por seu pal, Caetano, ferrenho absolutista «Afonso exila-se em Inglaterra, com sua mulher, Maria Eduarda Runa, e seu flho Pedro. «Pedro {menino fragil ¢ adoentado) recebe uma educagio catélica ¢ retrégrada em Inglaterra, a cargo do padre Vasques, ido expressamente de Portugal. «A familia regressa a Lisboa, ocorre a morte de Maria Eduarda Runa, que faz mergulhar Pedro numa pro- funda depressio apés a morte da mae, iniciando uma vida devassa e boémia « Pedto, entretanto recuperado do luto, apaixona-se por Maria Monforte, mulher muito bela e elegante, filha de um negrelt. «Pedro e Maria casam-se as escondidas, contra a vontade de Afonso. Capitulo Il Pedro e Maria viajam em nipclas por Italia, instalam-se em Paris, onde nasce a primeira filha, Maria Eduarda. «Pedro e Maria levam uma vida social intensa e nasce o segundo fiho, Carlos Eduardo. «Maria consuma a sua trai¢do a Pedro, fugindo com Tancredo e levando consigo e filha. + Pedro procura o pai em Benfica, entrega-the o filho bebé e suicida-se. « Afonso retita-se, com 0 seu neto, para Santa Oldvia, a propriedade no Douro. Capitulo Ill «Carlos recebe uma educacao briténica em Santa Olavia, sob a supervisao de Mr. Brown. + Carlos e Eusebiozinho protagonizam a educacao britanica e a educacéo portuguesa, respetivamente, «Carlos entra na Universidade de Coimbra, em Medicina, Capitulo 1V «Carlos instala-se no “paco de Celas", em Coimbra, onde leva uma vida de boémia rodeado de amigos, ‘em constantes tertulias supostamente intelectuais. 108 S5-Tesosnoratvosedescvos *Carlos desenvolve uma grande amizade com Jodo da Ega, sobrinho de um amigo de infancia de Afonso, + Carlos viaja pela Europa, apés a formatura em Medicina. + Carlos instala-se em Lisboa, onde pretende montar um luxuoso consult6rio e um moderne laboratério (fim da analepse inicia, + Carlos recebe a visita de Ega em Lisboa e este comunica-the que esta a escrever um livro ~ Memarias de um Atomo, Capitulo V + Assiste-se a um serdo no Ramalhete, em que participam varios amigos: D. Diogo, o general Sequeira, Cruges, Eusébio Silveira, o Conde Steinbroken eTaveira. + Carlos inicia a sua atividade como médico. + Ega e Raquel Cohen, mulher do banqueiro Cohen, vive um romance clandestine e intenso. + Carlos e a condessa de Gouvarinho encontram-se, pela primeira vez, na Opera do S. Carlos, local onde Carlos pressente, desde logo, 0 interesse da condessa Capitulo Vt + Ega instala-se na Vila Balzac, chalet decorado de forma exética e original. + Apés uma fase de grande interesse pela condessa de Gouvarinho, Carlos comeca a abortecer-se com os arroubos apaixonados da sua amante. + Assiste-se ao jantar no Hotel Central, organizado por Ega, em homenagem a Cohen; integracao de Carlos na sociedade lisboeta; Carlos cruza-se, pela primeira vez, com Maria Eduarda, ficando completa mente seduzido pela sua beleza e pelo seu porte. Capitulo Vil + Carlos, no seu consultério, deixa-se contaminar pela modorra e tédio lisboetas. + Damaso torna-se presenca assidua no Ramalhete e junto de Carlos + Carlos convida Cruges a ir a Sintra, na tentativa de encontrar Maria Eduarda, que ai estava na compa- nhia de seu marido e de Damaso. Capitulo VIII Carlos, acompanhado de Cruges, vai a Sintra, que deslumbra os dois amigos pela beleza da paisa~ gem. + Carlos falha a tentativa de encontrar Maria Eduarda, que jé regressara a Lisboa. + Assiste-se ao episédio de Eusebiozinho, Palma Cavalao e das suas amigas espanholas. += Cruges e Carlos encontram Alencar, o velho poeta romantico; +05 trés visitam Sintra ~ Seteais, o Paco, os hotéis (0 Nunes, a Lawrence) e decidem regressar a Lisboa ~ e é,entdo, que Cruges, completamente frustrado e desiludido, se apercebe que se esqueceu das queijadas. 109 opiate Capitulo IX «Carlos vaia casa de Maria Eduarda, porintermédio de Damaso e na qualidade de médico, para ver Rosa {a filha de Maria Eduarda) que tinha ficado adoentada. “No baile de mascaras em casa do Cohen, o banqueiro expulsa Ega por ter descoberto 0 seu caso com 2 divina Raquel, sua mulher. + Ega dorme nessa noite no Ramalhete e decide deixar Lisboa « Carlos continua, apesar de pouco entusiasmado, seu romance com a Gouvarinho. Capitulo X « Assiste-se a0 episodio das coridas de avalos, marcadas pela apatia, falta de brilho e desajuste dos comportamentos, quer da assisténcia quer dos participantes. «Carlos procura desesperadamente Maria Eduarda eficaa saber, por Damaso, que Castro Gomes parti para o Brasil. «Maria Eduarda instala-se numa casa alugada a mae de Cruges, na Rua de S. Francisco. « Arelagio entre Carlos ea condessa de Gouvarinho atravessa uma fase de tédio ede saturacso «Carlos recebe uma carta da Castro Gomes, pedindo-the que a visite no dia seguinte, por ter “uma pes: soa de familia, que se achava incomodada’ ip.343). Carlos anima-se. Capitulo XI “+A pedido de Maria Eduarda Carlos vem a sua casa e constata que & Miss Sara, a governanta, que est@ doente, + Acondessa de Gouvarinho e 0 marido partem para 0 Porto. «Carlos vai-se familiarizando com Maria Eduarda, a pretexto das visitas como médico @ Miss Sara, « Damaso, a0 aperceber-se da crescente intimidade entre Carlos e Maria Eduarda, pede explicag6es 20 amigo. Capitulo Xil + Ega regressa de Celorico e instala-se no Ramalhete. « Assiste-se-a um jantar em casa dos condes de Gouvarinho, em que a condessa faz sentir a Carlos 0 seu desagrado pela crescente proximidade entre ele e a brasileira | Maria Eduarda pede a Carlos que a ajude a encontrar uma casa onde possa passar 0 verdo} Carlos su- gere-the a casa de Craft, nos Olivas; Carlos e Maria Edltarda beljam-se pela primeira vez «Carlos confessa a Ega que esté apaixonado, tendo este percebido que o seu amigo esté a viver um “grande amor J, absorvente, eterno, epara bem e para mal, tormando-se daf por diante e para sempre, 0 seu irrepardvel destino" ip. 417. Capitulo XII «Ege informa Carlos de que Démaso anda a difamé-o a eee a Mata Eduarts, Carlos fica furoso @, 20 encontré-lo na rua, ameaga-o. 5: fomsenaraivesedecthes + Carlos e Maria Eduarda fazem uma visita & casa dos Olivais; depois da visita e do almoso, Carlos e Maria Eduarda fazem amor. + Carlos e a condessa de Gouvarinho terminam 0 romance. Capitulo XIV + Afonso parte para Santa Olavia. + Maria instala-se na casa dos Olivais, rebatizada com 0 nome*“Toca’ + Maria Eduarda e Carlos vivem intensamente a sua histéria de amor e planeiam fugir para Italia. + Maria Eduarda visita o Ramalhete, durante a auséncia de Afonso no Douro. +Castro Gomes regressa inesperadamente do Brasil, encontra-se com Carlos, apés ter recebido uma | arta anénima denunciando a relagao entre Maria Eduarda e Carlos; Castro Gomes revela a Carlos que Maria Eduarda é sua amante e que Rosa, a filha de Maria, é fruto de um anterior relacionamento com | um irlandés, de nome Mac Gren, + Maria Eduarda pede perdio a Carlos por nao Ihe ter contado a verdade. + Carlos pede Maria Eduarda em casamento. Capitulo XV + Maria Eduarda conta toda a sua vida, detalhadamente, a Carlos. Carlos conta tudo o que se passara a Ega, que Ihe diz que seria melhor esperar que o avé morresse para entio se casar, pois Afonso estava velho e débil e no aguentaria o desgosto. + Assiste-se ao episédio da Corneta do Diabo e de A Tarde - dentincia de um jornalismo corrupto e sem escrtipulos. + Matia Eduarda deixa a"Toca’ e volta para Lisboa, para casa da mae de Cruges. + Carlos vé, pela primeira vez, 0 Sr, Guimaraes, tio de Damaso, Capitulo XVI + Assiste-se ao episédio do sarau do Teatro da Trindade, marcado pela falta de qualidade artistica e pela presenca de um piiblico inculto e provinciano, + Catlos e Ega vio ao sarau da Trindade ouvir Cruges e Alencar, que atuam nessa noite. + Ega encontra o Sr. Guimaraes, 0 tio de Damaso, que vive em Paris e trabalha num jornal parisiense, + Ega e 0 Sr. Guimaraes conversam sobre Damaso e, no final, 0 Sr. Guimaraes entrega ao amigo de Carlos um cofre com os papéis da Monforte para ser entrégue “ao Carlos ou d irmia." ip. 615. + Ega fica chocado com a verdade e decide pedir ajuda a Vilaga para contar tudo a Carlos. Capitulo Xvit 4 ga, sem coragem para contar a verdade a Carlos, procura Vilaca e conta-lhe tudo. + Aabertura do cofre confirma a terrivel verdade: Carlos ¢ Maria Eduarda sdo irmaos, E «Afonso diza Ega que sabe que Carlos tem um caso com Maria Eduarda, ait copie 'sne0 + Apesar de jé saber a verdade, Carlos continua a dormir em casa de Maria Eduarda, mas, progressiva- mente, o amor dé lugar ao reptidio, ao ‘nojo fisico”p. 667. + Afonso morte, esmagado por esta tragédia. + Ega conta a verdade a Maria Eduarda que parte, com Rosa, para Paris. + Carlos parte para Santa Oldvia. Capitulo XVII + Carlos e Ega partem para uma viagem a volta de Mundo. Passado ano e melo, Ega regressa a Lisboa, mas Carlos instala-se em Paris. «Dez anos depois, Carlos regressa a Lisboa e peregrina com Ega pela capital - tudo estava na mesma, se do ainda mais decadente e decrépito, nada mudara. + Carlos conta a Ega que Maria Eduarda tinha casado, romance acaba com os dois amigos a correrem para apanharem o americano que os levaria a um jan- tar de amigos, depois de terem “construido” a sua filosofia de vida ~ “Nada desejar e nada recear... Nao se abandonara uma esperanca nem a.um desapontamento.”tp. 715. Aestrutura da intriga central |intriga central organizada em torno dos amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda apresenta uma estrutura tripartida - antecedentes da aco, acao principal ~ os amores e 0 desfecho tragico ~ e epilogo: Antecedentes da intriga central - introduco e preparacao da age (Cap.1p.5, Cap. Np. 95) 05 elementos essenciais da introducSo e preparagao da acéo: + instalagao dos Maias; + desctigdo ¢ histéria do Ramalhete, casa da familia Maia, no outono de 1875 (pp. 13 «grande analepse, com o objetivo de explicar os antecedentes da familia e o aparecimento de Carlos, em Lisboa, no outono de 1875: = juventude de Afonso e exilio em inglaterra (pp. 18-17; = vida de Pedro ~ infancia, juventude, relacdo e casamento com Maria Monforte, suicidio ipp. 18-52) ~ que constitui a acdo secundériar ~ infancia de Carlos (pp. 53-86, juventude e estadia em Coimbra ~ época de formagao top. 47-95%; longa viagem pela Europa ip. 95-96) Neste primeiro momento da intriga, 0 ritmo é répido, os acontecimentos sucedem-se velozmente, asse- melhando-se 20 ritmo narrative caracteristico da novela, Um perlodo de cerca de 55 anos, de 1821 ~ “tnfonsol... 0 furor revoluciondirio do pobre moco consistira ém [...]atirarfoguetes de ldgrimas & Consttuicdo", 1.13 a0 outono de 1875 ("Chegara esse outono de 1875:",p. 95) & narrado em aproximadamente noventa & cinco paginas, num total de setecentas e dezasseis, Intriga principal Cop. p.95, Cop. x¥1,p. 687) As principais sequéncias narrativas so: + Carlos vé Maria Eduarda no Hotel Central pp. 156-157. + Carlos visita Rosa, filha de Maria Eduarda, a pedido de Miss Sara, a governanta (pp, 260-264), 5 Tees narthese descrtios + Carlos conhece Maria Eduarda, na casa desta ip. 346) + Carlos declara-se a Maria Eduarda tpp. 408-409 + Carlos e Maria Eduarda consumam o incesto inconscientemente (. 438. + Maria Eduarda encontra ocasionalmente Guimaraes, tio de Damaso 537. + Guimardes faz revelac6es a Ega lop. 614-615, + Ega transmite as revelagdes de Guimaraes a Carlos pp. 642-643) + Carlos faz revelaces a Afonso ip, 644-645), + Carlos insiste no incesto, agora consciente ip. 65) + Carlos encontra Afonso no Ramalhete, depois da noite com Maria Eduarda tpp. 667-668), + Afonso morte por apoplexia (pp. 668-669, + Ega revela toda a verdade a Maria Eduarda ipp. 689-684) + Maria Eduarda parte definitivamente para Paris. 687. Esta segunda parte estende-se ao longo de catorze meses, cujos marcos temporais S80 0s seguintes: soutono de 1875 até aos fins de 1876 ~a morte de Afonso ocorre no Inverno ~ “sol fino de inverno" Ip. 669) + principios de 1877 ~ “Semanas depois, nos primeiros dias do ano novo [...}"p. 688) ~ partida de Carlos e Ega para a sua viagem de volta ao Mundo. Oritmo desta segunda parte, ao contrério do que acontece com a primeira, é lento e espacado, caracte- tistico de romances complexos como Os Maias. Epilogo (cap. xvi pp. 688-716) (Os acontecimentos marcantes do desfecho do romance sao: + Viagem de Carlos e Ega — janeiro de 1887 a marco de 1878 ~ "Mas, passado ano e meio, num lindo dia de marco l..I"te- 689 +Catlos em Sevilha ~ ‘Nos fins de 1886, Carls veio fazer 0 Natal perto de Seviha [..]"'. 690} + Reencontro de Carlos e Ega — numa luminosa e macia manha de janeiro de 1887, os dois amigos, enfim Juntos [..]"'p. 690, © epilogo retoma o ritmo répido inicial: dez anos séo contados em cerca de duas paginas. Esta concen- tracdo temporal é conseguida através de: + elipses ~ “Eesse ano passou. [...] Outros anos passaram:" tp. 689 +s resumos ~ “Gente nasceu, gente morreu. Searas amadureceram, arvoredos murcharam:"p. 689). © famoso passeio final, momento simbélico e de réflexdo protagonizado por Carlos e Ega (pp. 690-716), | ‘ocupa o resto do capitulo XVill, num total de vinte e seis pginas, aproximadamente, desacelerando o ritmo narrativo e aproximando-se do ritmo da segunda parte. Cardcter tragico da intriga central ‘Aagao central apresenta uma tipica estrutura de tragédia que, no sentido cléssico, se caracteriza pela presenga de um destino insondével que se abate sobre as personagens, envolvendo toda a familia Maia. £ _ Noentanto, néo é sé a presenca do destino que confere tragicidade a Os Maias. Assim aintriga central € apresenta outros aspetos que a aproximam da tragédia classica, tais como: 13 Copia -tens ‘a superioridade fisica e intelectual das personagens ~ Afonso, Carlos e Maria Eduarda destacam-se§ ino meio pequeno e mediocre em que vivem, pelas suas qualidades fisicas, morais e intelectuais. Bx: Retrato de Afonso ip 12 retrato de Carlos np. 96-97 descrigo de Maria Eduarda (pp. 156-157; +0 papel do destino, da fatalidade, como forca motriz ~ a destruicdo consuma-se por meio de um agente dissimulado, o destino. Sao varias as referéncias ao destino, a0 longo do romance: ~ ainevitabilidade do destino Ex: Tués simplesmente, como ele, um devasso; hds de vira acabar desgracadamente como ele, numa tragédia infernal! (...]- Carlinhos da minha alma, é nati! que ninguém ande a busca da ‘sua mulher Ela vird. Cada um tem a ‘sua mulher’ ernecessariamente tem de a encontrar, Tuestds aqui, na Cruz dos Quatro Caminhos, ela est talvezem Pequim: mas tu, afaraspar 0 ‘meu repes com 0 verniz dos sapatos, ¢ ela a orar no tempo de Confiicio, estais ambos insen sivelmente, inesistivelmente, fatalmente, marchando um para o outtol..." p82 ~ aconcordancia dos nomes e do destino x: “Maria Eduarda, Carlos Eduardo... Havia uma similtude nos seus nomes. Quem sabe sendo pressagiava a concordéncia dos seus destinos!" p24; ~ odestino“irreparavel” Ex: “Fga escutava-o, sem uma palavra |... :€ agora, s6 pelo modo como Carlos falava daquele grande amor, ele sentia-o profundo, absorvente, eterno, e para bem ou para mal tornando- -se dafpor diante, e para sempre, o seu irrepardvel destino. te. 417; «os indiclos/prességios — que siosinais, floramentos dsfargados da forga do destino, que se revestem de aparéncias diversas, dficultando 0 seu reconhecimento por parte das personagens incautas e def- nitivamente a sua merce: ~ alusio por parte de Vilaga a fatalidade dos Malas x: “uma lenda, segundo a qual eram sempre ftas aos Maias as paredes do Ramalhete..."'.7: “6 trés anos, quando Sr. Afonsome encomendou aquiasprimeiras obras, embre-Ihe eu «que, segundo uma antiga enda, eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete. 05¢ Afonso da Maia iu de agouros elendas... Pos fats foram!” p68; “Osolhos de Maria perdiam-se outra vez na escuridao ~como recebendo dela opressdgio de um futuro onde tudo seria confusoe escuro também. 458; ~ a semelhanca fisionémica de Carlos com a mie, reconhecida por Maria Eduarda fx: “Pareces-tecomaminhamde!|...J~Tensrazdo- disse ela-quea mam era formosa... Pos é,verdade, hd um nao sei qué na testa, no narz... Mas sobretudo certosjeitos, uma maneira de sori... Qutra maneira que tu tens de fcar assim urn pouco vogo, esquecido.. Tenho pensado isto muitas vezes..” (47% ~ a semethanga temperamental de Maria Eduarda e Afonso da Maia, reconhecida por Carlos, fx: “Enestas piedades Carlos achava-the semelhangas com 0 ov6" 368) a adverténcia a Carlos, por parte de Ega, de que a sua volubilidade sentimental teré consequéncias trégicas Bx “hd de vir a acabar ...] numa tragédia infernal”. 152 = a imagem da alcova onde decorrem os amores de Carlos e Maria Eduarda como “taberndculo pro- fanado" ip. 48) ~ preniincio da colisao violenta da situacao incestuosa com valores morais de inspi- ragao sagrada; 4

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