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Dossié Léxico, Terminologia ¢ Politicas Linguisticas Politica de vtalizagio de uma Lingua Indigena para além das frontelras entre Brasil Peru ‘Allaci Contéa Rubi Enildo Foulstch... 5 ereurso Tedrlco das pesquisas de Faulstich para a variagio terminoligiea CCleide Lemes da Silt Caz wenn AD DICVERB/PL2: uma proposta de Dictondvio Informatizade de Verbos da Lingua Portuguesa livia de Olivera Maia Pires 62 Glossivio Sistemieo Informatizado de termos formaddos por elementos eruditos: emprego de ferramentas tecnolégicas na organtzacio de rembssivas Rebeka da Silva Aguiar Enilde Faulstic83 |A multimodalidade em Dicionsrios Bilingues Eletronicos Portugués- Espanhol/Espanhol Portugués ‘Mariana Date Vargas Campos Odi Laie Nagin 1-107 _Analie da valéncla verbal em receltas ‘da culinaria brasileira e portuguesa Giselle Salgado Ferreira Fattet0 wm 122 Visio politica da lexicologia © ferminologia em Libras: a eonstitulgo «da ase lexical e base conceltual ‘Gliueia de Castro Tinie. Obras lexicogrtieas de orientagio semasioligicas ¢ onomasioligiea de Lingua de Sinas nando Felten. 168 Diclondrio Analigieo de Aprendlzagem {do Portugués do Brasit Michelle Machado de Olivei 140 [Glossarlo de Termos fnaneeltos para ‘studantes universtirios Rafiel Voloso Mendes Michelle Machado de Olivera Vilarinbo 27 Editorial © Dossié Lévico, Terminologia« Politics Linguisteasapresenta resultados de estudos ‘da Linha de Pesquisa Léxicoe Termologia dda rea de concentragio Teoria « dnilise Linguistica do Programa de Pos-aradagao ‘em Linguistica da Universidade de Brastia {(UnB). Os trabaltos foram desenvolvidos no Cea de Estudos Lexicais Terminol6gicos — Centro Lexterm, coordenado pela Prof. Doutora Honoris Causa Enilds Faustch. © centr é local de ‘ensino, pesquisa eextenso, com dedicagdo ‘exclusiva 4 fonmagio de pesquisadores, em nivel de graduagao e de pos-graduagdo, sem. fins huraivos. (© Centro Lexterm foi ctiado em 1988 e, slesde entio, tem cumprido tarefas de destogue, quais sejam, formar meses doutores para © mercado de tabalho da ddocéncia © de pesquisa ma rea da Linguistics ‘© Centro Lester ¢ um organismo, que se ‘concentra em pesquisss cienificas. e ‘encase se destaca no cenino aeadémico nacional © intemacional, por divulgar pesquisas resutantes da crag de _matetnis lexicogrifios e tetminogrficos, com vistas 4 atender is necessidades linguisticos de diversas gnipos soeisis Os pesquisadores também. trabalham com ‘rganismos internacionais do paises em que A Texicogvafia ea Terminologia so foutes de difisio das linguas a lac do portagués do. Brasil, além de reveber estudantes estrangeios [Medianteparcerias que mantém com outras ‘unversidades, neste dossi, li umn teabalho dl linha de pesquisa Estudos do Léxico do Programa de Pés-graduagio em Linguists fe Lingua Portuguesa da Faculdade de ‘Ciéncias e Letras da Universidade Estadual Paulista Tilio de Mesquita Filho, de Aroraquars, [Neste dossi expdem-se artigos, resultados de pesquisas desenvolvidas no imibito da injeineo cienifiea, mestrdv, doutorado & ‘tigi pos-doutorado. A temstic principal sio os pressupostos tedricos da Lexicografiaaplicados& lingua comum, da Terminologin aplicados as linzuagens de expetialidade ¢ das polities Iinguistieas aplicadas 4 Lingua de Sinal Brasileira ~ ESB © a lingua Kokama. Adem, deserevemse as metodologias empregadas nna elaboragi0 de obras. lexicogritiess, terminogrficas © do material didtieo claborado, especialmente, para vitalizagao dallingua Kokam. Portanto, este dossiédestinase a investigadores que se dedicom aos estados de Poliieas Linguistias, Lexieoogia, Lexicografia, —Terminologia TTeaminowafia em Lingua Portuguesa, Lingua Espanhola © Lingua Brasileira de Sinais eLinguas Indigens. Prof. Dra, Rebeka da Silva Aguiar Prof. Dia. Michelle Machado de Olivers Vilasiaho Editorial Dossié Léxico, Terminologia e Politeat Linguisncas—(Lexivon Dossier, Terminology and Linguistic Policies) presents results of stdies in Lexicon and “Terminology research line and Theory and Linguistic Analysis study area of Graduate Prosram in Linguistics at University of Brasilia (UaB). These works were made a Lexical and Terminologial Studies Center TLexterm Center, eoordiaated by Doctor Honoris Causa Enilde Faulstich, The LLexterm Center is a local of teecing, research and extension. It is non-profit ‘organ dedicated exclusively to researchers tosining in undergraduate and graduate degrees “Lexterm Center was instituted in 1988 and it has accomplished significant tasks ever sinee, such as, training masters and doctors for teaching and research workplace ia Linguistic ate. ‘Lexterm Centr isan orgaa concentrated on Scientific and technical research and stands ‘out in the ational and international academic scenery du to its disseminating researe which is resulting from production fof lexicographic and tenminogrphic _materals, in order to meeting te linguistic reeds of differet social groups, Researchers also work with intnational ‘organizations from countries which Lexicograpiy and Terminology are sources of languages difision alongside Brazilian Portuguese, as well as receiving foreign smudents| ‘Through partnerships it has with other ‘universities, in his material, dere sa paper ‘of Lexicon Studies research line from Graduate Program in Linguistics and Portuguese Language of Sciences and Leters Faculty at Universidade Estadual Paulista Tilio de Mesquita Filho in ‘Araraquara, Sio Paul. ‘The ticles in this document are results of, researches cared out within the undergraduate research, master, doctorate degrees and postdoctoral internship. The main themes are the theoretical assumptions of Lexicography applied to common language, Terminology applied to specialized languages and Linguistic Pliies applied te Brazilian Sign Language and Kekama language. la Addition, the methodologies applied in elaboration of lexicographic and ‘enminographie works and didactic material fae described, mainly for vitalzation ‘of Kokam language. Finally, this dossier is targeted to researchers that are dedicated to studies of| Linguistic Policies, Lexicology, Lexicography, Terminology and ‘Terminography in Portuguese, Spanish, Brazilian Sian Language and Indigenous Languages. Profa. Dra, Rebeka da Silva Aguine Profi. Dra, Michelle Machado de Oliveira Vilaniaho POLITICA DE VITALIZACAO DE UMA LINGUA INDIGENA PARA ALEM. DAS FRONTEIRAS ENTRE BRASIL E PERU LANGUAGE REVITALIZATION POLICIES BEYOND THE BORDER OF BRAZIL AND PERU Altai Conta Rubi! Enilde Faultch? RESUMO, Este artigo resume pate da tese de RUBIM (2016), que diseute o reordensmento politico ‘cultural do pove Koka, especiicamente a reconguista da lingua e do ternitro, alem, dds fronteras entre Brasil e Per. Os agentes soeais envolvidos esse reordenamento formam um movimento coletivo em heneficio da reafimagio da ideatidede, da reconguista do ternitirio e da vitalizagio da lingua. As estegotiss vitalizagio e ‘revtalizacio sio apresentadas no contento do processo de ensio ¢ de apreadizagem da lingua, O teabalho objetivou aualisr os difetentes processos de teritovalizagio da lingua Kokama na Amazonia ¢ seus efeitos sobre as formas organizativas consolidadas, sobretudo a lingua. Para o desenvolvimento do ttabalho, seguimos a metodologia ‘qulitativa de cuno einoarific, em que o mapeamentosituacional da Cartografia Social cla Amaziaia possiblta aos agentes sociais dae vsiildade a0s testis, segundo seu proprio ola. O fundamenta¢ a eragso de tmn politica Linguistica para 0 ensino da lingua Kokam como L2, mediante um projetogrifico de elaboragio de material ditico fisico ¢ viral, além de uma abordagem de ensino © de aprendizagem da lingua ‘denominada Tsetsu Kokaima Palavras-chave: Politica linguistic: Vitalizagdo; Tsisu Koka, ABSTRACT ‘This article is part ofthe frst author, RUBIM (2016), which diseusses the political and cultural reordering of the Kokama indigenous people, specifically the reeonquest of language and teitory, beyond the borders between Brazil and Pers. The social agents involved in this reordering form a collective movement i favor of the reafTnnation of identity, the conquest of eritory and the vtalization of mother tongue (Kokam). The vielzaton and revitalization categories are presented inthe context of the Langue teaching and learning process, The research amie to analyze the different processes of "Profesor de Gréuagio do Deparameno de Linguists, Port ings Cis do Isto de Leva du Unveradde de Bella, Pofsic Colaba co Progra de Pie Gracie eat Lingitica Universode Federal do AmszoasFPGLUFAM: Pesqucsdre 60 Projeo Nova (Gatorade Arszoin do Cea de Este Leica eTeabaloaceCeno Leen Professor de Gnduaclee Ps Graco da Untersiade de Bras, coureanors e pesquisaors a “Linh e Pesquis em xen Temutolep, en de conecago et Torte Alise Lingus do Progra de Pos Grado ein Luca ~ PPGL Ua. Osean de Alt Cara RUMI ‘Bowed es ings, temitorializtion of the Kokam language in the Amazon and thei effets on the ‘consolidated organizational fonms, especially the language. For the developmet ofthe research, we follow the qualitative methodology of ethaographie nature, in Which the situational mapping ofthe Social Cartograpiy of the Amazon enables social agents t0 give visibility tothe teritores, according to theirown eyes. Te foundation isthe cretion ‘of a language policy for the teaching of Kokama as a second language (L2), though rape project forthe elaboration of physical and visual didactic mates, as well as & ‘eaching nd learning approach called Tsetsn Koka, Key words: Language policy: Vialization: Tsesu Kokama LINTRODUCKO Este antigo resulta da tese de Rubim (2016), que versa sobre o reondenamento politico e cultural do pove Kokuma, especificamente a reeonquista da lingua e do testo, além das fronteires entre Basil ¢ Peru, Na pesquisa, defendemos a eriagao de ‘uma politica tinguisica para o ensino e aprendizagem do Kokama, lingua indigens em processo de \italizaglo, Nesse contexto, compreende.se a vtlizaglo como o ato de dar forga ou vigor a sua dindmica de exsténcia, nos rituais, nas musica, nos benzimentos, nas daneas, nas brineadeiras, em atvidades do cotidiano da aldeia e em ambientes ‘virus, como em apicativos, animagdes, entre outros. © objetivo principal do estudo consisiu em analisar os diferentes rocessos de teritrializaydo da lingua Kokama na Amazinia & seus efeitos sobre as formas ‘organizativas consolidas, principalmente sobre a lingua, a partir de mobilizagdes ‘tnjeas dese pove, Com isso, a ese objetivou também ampliar os conesimentos na drea «de politics Linguistica de vitlizago de lingua indigenas, de forma a considerro campo empirico dos agentes soisis envolvidos na pesquisa ‘A coleta de dados que compdem © corpus foi fits durante a relizaglo das oficinas do Projeto Nova Cartografia Social da Amazinia © durante vigens pela Amazinin peruana e pela brasileira, em ofcinas da Hingua Kokama, que serviamn de ‘excelente fonte de produ de livros didticos, em Manaus, Nesse sentido, serviram de fonte de pesquisa dos Iéxicos coletados dois falantes de Kokama de Sio Paulo de ‘Olivenga — AM, tes lanes de Santo Antonio do Tg — AM eum faante do Peru, além de ouvintes, mbradores e aprendizes da lingua em Manaus. Também foram fonte de dados os materias elaborados pelo Programa de Fonnagio de ProfessoresIndigenas da ‘Amazdnia Brasileira ¢ Peruana (FORMABLAP) para professores Kekama, como lives ‘iditioos ¢ dicioniios bilingues Kokama/Espanhol, « gramiticn Kokame de Faust (1972), 0 dicionirio Kokama Castelbano de Espinoss (1989) e 0 dicionio de Vallejos ‘opi Amias Murayari (2015), bem como artigos, tesese livros de pesquisadares do FORMABIAP e de pesquisadores brasletos sobre a questo linnisieae cultural do ovo Kokam, Nessa perspeciiva,utilizamos © mapeamento sitvacional como instramento _tnogrifio da Nova Cartografia Social da Amazdnia, de modo gue os agentes soci serviram do Sistema de Posiionamento Global (GPS, do inglés Global Positioning ‘System? pars mapear os lugares significative de seu testo, para dar vsibildade is suas lta, sendo fio contordesseprocesso alta pela lingua, Nesse sentido, Almeida (2014) rompe coma cartografia tradicional, medida que prope uma constugiocoletiva «do mapa do teitério de povostradicionals, mo o povo Kokama em Nova Esperanga — AM, em Sto Paulo de Olivenga e em: Beajamin Costant, (0 esto etaogrifico permit que fossem descrits as vivéncins cultuais do pov Kokama do Amazones, de modo a fortalecet sua ideatidade, Para o processo de fortaleeimento da Lingua Kokama, ue core tiseo de extingo, fi proposta uma polities Linguistica a pasir da elaboragio de materais ddsticns contextlizados, que respeita & visio social de ensino e de aprendizagem do povo Kokama, Essa lingua € desenvolvida ‘como una segunda lingua ns escola, nos centos de edueagdo escolar indigens, nos (Centros de Cigncias e Sabetes Tradcionns e mas commnidades Kokana do Amazonas. ‘esse respeito, & importante observar que & por meio de materais ditions que os elementos da natureza expressos no cotidiano e na meméria dos indigenas sto ‘onfigurados no processo de ensino e aprendizagem de lingua Assim, o presente artigo, que resume a pesquisa de Rubim (2016), soba orientacio de Paulstich, est organizado como segue. Na seglo 2, éapresentado um breve panorama ‘do povo Koka, Em seg, dsevtimos espeificamente lingua em questo. Na seco 4, € abordada polite de idetiade, enquanto na 5 dseuemse os cones de tia erevitlzat ding Kokama, Nas sys subsequent, sto abrdos os t6picos de politica linguistica, materiais didéticos e projeto grafico e, em continuidade, as seve so dali coi dling Koka propos de abordagen para cosine «© agrendzagem dessa lingua como segméa ing (L2) ma Amazin, no (evitlizago linguistica, Por fim, so apreseadas algunas consieragtes de criter cones. ita da 2.0 PANORAMA DO POVO KOKAMA, Conforne Rubim (2016), sio poucos os falantes da lingua Kokama no Bras ‘xpecialmente na Amazénia, Segundo o atlas da Unesco das Linguas em perigo de ‘extingdo, «558 lingua se incu entre a5 190 linguas indigenas que cotrem 0 riseo de sdesaparecer (MOSELEY, 2010), Vallejos (2010, p. 28) informa que ess lingus esti _ravemente ameagads, apesar de existe aproximadamente 20.000 mil Kokama. No Per, a lingua esti em perigo de exting2o, e, no Brasil, a situaglo é critiea, segundo ‘Vallzjos (2010). Os Kokama, no entanto,tém Intado contra ese processo de perda, (© povo Kokama est lncalizado no Brasil no Peru e na Colémbia. No curso de sua ‘existncia, esse powo tem vivido a0 longo das margens dos ros, hubitando atualmente também nas eidades. Exisem repistos da histria dos Kokama desde o século XVI, realizados por ctonistas e visjantes. A histeria do contato desse povo com os solonizadores ¢ retratada em diversas Fontes dacumentas, @ os fatos ocoridos nesse petindo sio mencionados por pssuisadares do Brasil, da Colémbin eda Pent. ‘A esse respeito servem de exemplos tabalbos de pesquisadores braileires que ‘estuam esse povo a saber, Cabal (1995), Freitas (2002), Rams (2004), Viegas (2010) ¢ Almeida © Rubim (2012). Quanto 4 Colémbia, destaca-se o trabalho de Gonzalez (1999); e, no Pera ios tabalos de Abaurre (2002), Rivas (2003), Vallejo (2010), entre ‘outros. Esses autres shorsam a histéa do coatato dos colonizadores com as populagdes indigenas da Amazéni peruana,principalmente com o povo Kokam. ‘Vina das principais fontes consultadas foi o registro do explorador espanhol Francisco de Ca epoca em que desceu pela primeira vez o Amazonas, No messi0 séeulo, um dos membros da expedigto de Francisco Orellana, 0 eapitio Altamirano, sdescreveu os events da expedigao ce Uris e Aguine (em 1560-1561), relatando como ‘comers 0 cantata entre os exploradores em busca de alimento para a tripulagio © os ‘povos indigenas que moravam bei 40 ros, entre os quai havia os Kukarna da foz do ‘Ucayali (PORRO, 1992). (Os Kokama sempre procuraram resdir ds margens dos rios (FREITAS, 2002, p. 28), como registado por vinjantese cronistas. Vale ressltar que atualmente, esse povo ‘esti em constnte movimento, devido aos coatlits vivenciados por eles no interior do ‘Amazonas em relagio a ters, & entrada de earimpeires, entre outros (ALMEIDA; RUBIM, 2012). Em determinado momento, 1616 para Rivas (2003), ov 1619, como datado em. Abauare (2002), ocorrew ua divisto desse povo em dois grupos, de modo que um passou ase chamar Kukama eo outro, Kukamiria, Para Rivas (2003, p. 10-11), ambos os grupos se estabeleceram nis beiras de grandes rios: os Kukama, de grande densidade demogrific, sssentavarnse no baixo rio Ucayali, eaquanto os Kukamiia, em nimero menor, estabeleceramse no bao rio Huallaga Abaurre (2002, p, 186) afirma que os mencionados grupos, estabeleeidos os ros ‘Ucayali e Huallaga, foram descobertos, respostivaumente, pelos conguistadores espanhsis Juan de Salinas e Pedro de Ursia, denoninados “piratas” ou “corsirios” dos ros, em azo de seu espiritoqueteiro e de sua habilidade de atravessar as éguas com canoas. ‘Como esses grupos estavam alocados as margeus de grandes rios, 0 transporte ffuvial era bastante intenso durante todo o ano. Conforme Rivas (2003, p. 11), 08 Kukama ‘© os Kukamira mantinham o contole do comércio e da navegagio no teritério que, atualente, & a provincia do Alto Amazonas. Mesmo tendo ocorido esse divisio entre ‘9s grupos, estando cada um em locas dstnts, os Kukama e os Kukamiriacontinuaram ‘comm a mesma cultura, divergindo quanto ao nimero de pessoas em cada loealidade (0 Padre Fritz, sacerdote missionirio 6a Companhia de Jesus e cartografo, observe que © povo Omigwa era muito parecido com povo Kakama, havendo similaridade ‘amb entre suas linguas (CABRAL, 1995, p, 224), Nesse sentido, Cabral (1995, p. 18) destaca 0 trabalho de Rodrigues (1984/1985), em que prope incur no subgrupo I, na familia Linguistica Tup-Guarani, o Kokama, Cocamillae Omégs. © fo de os Kukams sempre teem fxado residénci pero de ros Zo um fator gue sidou esse pove a adaptar-serapidumente a vida em povoados ctisdos pelas missies {esutiows. Muitasvezes, eles atuavam como mediadore, nas elagdes com outos povos indigenas, e também realizavam vicios tabalhos pata as missbes: por exemplo, ‘constmaiam conaas ¢ fiziam expedigdes pelos rios para obter come © peites para os ‘povoados missiondrios (MARONI, MAGNIN @ ZARATE 1988; RIVAS, 2008, p. 12). Exam, ¢ ainda slo, exeelentes peseadores © remadores, em razio de dominarem ‘conhecimentos dos seres das iguas, segundo Ricopa Yaicate (informagio verbal) “tana oucdia por Rid Ricoa ieee ents dada ma comnniade Zugaccacs em, [FORMABIAP. Fes, Pere abl Je2018, Em 1768, houve &expulsio dos jesuitas das misBes de Maynas, Nesss €poea, 05 ‘Kkama-Kukamirajé paricipavams otivamente da comnnidade e estavarnintegrados & Sociedade epional, de modo que abastviam o mereado com peixes salgados,tataugas «abuts, porexemplo (RIVAS, 2008, p, 12), Coma emaneipagao do Peru, o dominio dos indigenas foi transfrido da coroaespankols para elite local. Nese perodo, houve @ ‘cupagio da Amazénia, 0 que ocoreu mediante a extragio de produtos naturis, conforme a demanda internacional (RIVAS, 2003, p. 12). Nesse contest, © pove Kukama-Kukamiria teve um ppel de destaque como mediador entre 0s povos que utlizavam o comérciofuvil eo Estado. Nesse tipo de coméreio duvial feito pelos Kukams-Kukamiria, eram vendidos, ‘entre outeos, espingarda, ferraments, ans, tecidos ¢ lead; esse povo, até 08 dias stusis, abasteee © mercado regional com pesead, No period de extragdo ds borracha, hhouve nova modifieag3o nas bases da sociedade do povo Kukams-Kukamiia: mutes familias mudaram-se para locas distant para recor dietamente 0 létex (RIVAS, 2008, p. 12) do final do séeulo XIX até o séeulo XX. Existem evidéncias arqueolgicas de que os Kokams elegaram a0 Peru, Segundo Abaurre (2002, p. 188), Moyobamba, lncalizado nesse pais, reeebou alto nimero de _jrantes do Mato Grosso em um periodo anterior & conquista da Amazinia, entre 1539 2 1549, 0 refeido pov retornau a0 Brasil, saindo da Amazonia peruana em dites20 8 Amazdnia brasileira, om meados do século XIX e no séeulo XX, efugindo das pressdes, ‘opressoras no Pers ou em busca do litex da borracha ede trabalho, ‘Ao refletir sobre os povos indigenas na atualidade, a partir de um entendimento sobre os processoshstricos,¢possvel obsevaro quanto eles so resistentesainvestidas ‘conta sua cultura dentidade, lingua e seus teritvios. Narratvas como as mencionsdss, feitos por viajantes, cronstas ¢ natualistas sio importantes para que ha maior ‘conhecimento do process que cada povo vivensiou até ent, para hoe, no séeulo XXI, ‘ontinuar tua de resisténcia (Com esse breve panorama, discutimos o process eivlizatrin pelo qual passer 0 poves indigenas e sobre os quis existe, sinds, um forte imagindrio. Na aualidade, ‘resist, Iutam reivindicam seus direitos por meio de organizagdes,prinepalmente em, relagdo 20s teritros, 8 educagdo a sade e a0 bem-viver, A exemplo disso tem-se que ‘9 povo Kokama choga a0 século XI revindicando todos os sous direitos expressos na Juta pela lingua de seus ancestras. 3 ALINGUA KOKAMA, Quando os colonizadores cheparam ao cntinente american fram surpreendidos por um conjuno de Lingua indigenss, que, mss tare, estudado por diferentes linguists, ‘receheram elassificacio tipoligicae genética. No que se refere a classificago da lingua ‘Kokam, existe um grande debate ainda nos divs tus, Para alguns autores, “o Kokana pode ter surgido de uma situag8o de conto, (..] chamado por Thomason e Kautinan (1988, p48) de erioulo abrupto" (CABRAL; RODRIGUES, 2003, p, 180). No enfant, para outros pesquisadores, como Vallejos (2010), essa lingua & clasificada como pertenceate & familia Tupi-Guaran, do tone Tupi. Na realidade, © Kokama vem -recebendo esta classifiesso desde suas primeirestranserigdes, conform exposto a ese de Cabral (1995): Koka € una ds ages nats ingens sume em eae de feng is pes poocas guages om ling ge ands fla tulpeae po orociodaate 2.00 ingens ue wives 0 Per A nv oka easaisaa soso ani deft Tup-carn (Ads 196, Meuown, 1955; Loved, 1968 [1985], Rodnges 158, 1968 Leake 197s exe os) ns ve ns bngetes fans hagas {Assn do St, pseente ao tonea Tp CARRAL. 199% p13 trap 055) Cabral contempla pontos de vista de alguns tericos sobre a classiticacto da ‘origem da lingua Kekama, evidenciando haver contovérsias na aplicagio do método histvico-comparativo pelos pesquisadores para a cassificagio da lingua em aprego. De condo com a autora, nesses eas, o metodo nao fi aplicado em sua totalidade, mas pela imetade, © que gerou uma cassifiasio no condizente com a realidade, Para que fosse ‘oblido um resultado legitimado, © método deveria ter sido aplicado por inter, como atiema Cabral Ll m slastcates gnéicar 44 tngxs Kokann propos por ors linguists tics deeam de scohocer esa possiiade do qe dz ‘expe em gan Fas clnsiScate foo rnin de i opcao Pca do Método Conjentve,qie sé fucioen quan 0 Meado € onside inepalment como un ego de proceso oloicos Intetelaceands qu oespenem dutera de se 0 de Ves 50 (i998 pa tad sas Em certo sentido, a tese de doutorado de Cabral (1995) di eontinuidade a pesquisa inicisda por Rodrigues (1984/1985), que inicislmenteclasiicou o Kokam como una lingua da familia Tupi-Guarani, especificamente no sulbgrupo da Lingua Tupinam, mas também observou que ess lingua apresentava uma granétiea muito diferente da examstca das linguas Tupi-Guarani em ger Rodrigues 1984/1985) levanta a hipotese de qu a lingua Kokama tm palaras © morfemas de origem Aniik, que seriam resultates do ambiente em que a lingua foi originada, Além de empréstimos lingustieos de provivel origem Aru, Cabral (1995) identiticon “empréstimos provenienes de lingua Pano, de variedades do Quéels, de ‘construgSes anilogas as existentes na Média Lengua, de empréstimos de lingua ainda ‘lo identficadas, além de empréstinos do Espankol e do Portugués” (CABRAL: RODRIGUES, 2003, p, 180) A partir desses dados, Cabral (995) afm que um povo de origem Tupi-Guarani, relacionado com 0 Tupinambi, teria sido forgado afar en vila orgaizadas por estas ‘na provincia de Mayas, onde tera ovorrido @ etnogénese Kokama/Omigwa apis a chegada de novos povos, Segundo a autora, em deconréucin da necessidade de ‘comunicagio, nfo houve tempo suficinte para que essa lingua de origem Tp-Guarani fosseaprendida por completo, De acordo com Mello (2000, p. 12) até ano de 1995, “0 Kokama/Omigua havin sido classificado como uma lingua Tupi-Guarani, ¢ foi relacionado a0 Tupinamb: na classficagio de Rodrigues (1985), no subeonjunto I, mas Cabral (1995) a considera uma lingua no clssticivel Assim, fea »possibildade de que os processos de contato entre lingua foram respoasivels pelo surgimento do Kokama\Omigwa, lingua tida como proveniente do “Tupi-Guarani, apesar de possuiruma gramétice bastante difernte daquela que caracteriza aslinguas dessa fanilia. A sespeto disso Cabral e Rodrigues (2003) afimam o seguinte: Ember cs 6 6% do ss vocals bin xp Top-Gua. mito potatos deere Type, ase gees @ bau drt EmtenTop-Osnr, nom & ienicatel com ss ee prams fulstagtsicas a qe pera as des gins qe desran eness ae eit ac fai Arve pono is Pa, Que) (CABRAL; RODRIGUES, 203,180, ‘Contudo, Valles (2010), que pesquisou os Koksma-Komamilla do Per efita athipétese de Cabral (1995), demosstrando que a lingua Kokama & de origem Tupi- Guarani, Segundo a autora, “hi um conseaso entre antropélogos, linguisas. ¢ historiadores do Peru de que a lingua Kokama-Kokamilla é da familia Tup-Guarani” (VALLEIOS, 2010, p. 3, tadugo nossa), No presente table, no enantio, o foc no reeaisobreaclasitieagio genética do Kokara, mas sobre uma pol lingua no process de fortalecimento da identidade Koka ca de vitlizagio da 4 POLITICA DE IDENTIDADE (© movimento indigena organizado, assim como maioria dos movimentos sociais, cada ver mais aticula suas revindicagdes em pautasrelaivas a teritco, sue, ‘educago, sustentabilidade, lingua c bem-viver. As linguas ¢ os diaritios sb uilizados para marca dferenga. Nese sentido, de acordo com Byram (2006, p. 3): “Les langues sont des symbols identi; ells soot utilisées par leurs locueurs pour marquer leurs identités. Les individus se servent aussi pour catégoriser leurs pairs em fonction dela langue qu'il parteat” Em um pais repleto de desiguakiades como o Brasil, as linguas de indigenss, imigrontes © suds ainda nio sio valorizadas de forma sigifiativa. No enfant, as politicaslinguisticas que vm send apropriadas pelos referides grupos eonstitem una ‘esratégia de resisténcia dite de um sistema dominant Isso & observado nas relagdes inerétnieas e na sua manutenglo, uma vez que & identidade ¢ autodefinida pelos gmipos nos guns a cultura é a mancia de dessrever © ‘comportamento humano (BARTH, 2000). O que diferencia um povo do eutto sio as formas de falar ede tr ums lingua, o modo de vive ede coavivere a forma de pensar suas vivdncashistricas; ao mesmo tempo, tas elementos trazem admirocoeexpressam visto politica e socal de eada pov, de ead comunidad As defines de deatidedesfo um tems bastante diseutido no émbito ds eigncias sociais. Nest trablho, catrtanto, esses conceitos nko st dscutidos, pois 0 fooo est em fisar que as idenidades sho acionadas a depend da necesidade do grupo social. A iWentidade & alg interno, proprio de cada individuo, «€ construida a partir das relagdes soca ¢culturis que cerca o sujeto, pode ser assunids ov nfo, Segundo Godelier (2012, p. 53), "a idenidade social de cada individuo,¢ 0 mestn tempo, ums mips or causa do nimero das relages que mantemios com os oto” (Os Kokaaoa nunca deisaram de ser Kokama, visto qu as politiasintegracionstas fizeram esse povo desenvolver ume estrtégin de resistinia, Confome dito anteriomente, tanto os Kokama do Brasil quanto os Kokama do Pert iniciaram wa ‘tala par reafirmar sua identidado dante da sociedads nacional, sem deixar de realizar suas prea soins culturis, De acordo com Barth (2000) ‘0 court cul ds tcctomisEnes pec se tens aaltios, Se dss des ferene: sna © sigace manifest, gue conse farcrerstcas dclieas que ms pesos busca ¢ exes pm moses sda: wane eghenenene 6 cactus i cone Vesusea, lingea, forms ds ease 9 ele geal de vee crc vlrars ‘ies. ou Se pies emule eexclecin Plos ms 3 etforances sh jlndae(BARTH 2000p. 52, Para compreender a identidade étnica do povo Kokama, faz-se necessitio entender 0s dois sentidos assoviados ao que vem a ser “indi”, como salientado por Oliveira Filho (2008); o gue est elaborado pelo dscurso jurdico (SHIRAISHI NETO, 2007), com plens direitos espcificos, eo que foi elaboradohistoricamente pelo processo ivilzatvio, que se tflete no senso comm. © conflito entre esses duas nogdes ‘ontrapde-se 40 imaginirio ocidentsl do indigenseristalizado no tempo, fetwado pelo fendmeno da identidade, que destaca @ maneira como as pessoas se relacionam e se identiticam entre si, 0 que confére aos agentes sociais um modo de determinat sua ‘representagho mental, ‘Assim, 08 Kokama na aualidade vivenciam sua etuicidade por meio de uma politica de identidade que se exprime nas diferentes formas de esse povo conceber 0 ‘mundo, pautada no movimento de reivindicagio de Ceritvios, salde, edueaclo ‘iferenciada,sustentabilidade e bem>viver. A partir desse entendimento, sto iscutidas na proxima seglo questdes que envolvem vitalizagio e revitalizagio na retomada da lingua no proceso de fortalecimento da idenidade desse pov, § UMA QUESTAO DE REORDENAMENTO: VITALIZAR OU REVITALIZAR ALINGUA KOKAMA? -o € revitaizagao leva a una teflenio acerca da vida de uma lingua, devisto politica de um povo, No contexto desta pesquis, isso Pensar nas eategorias vial significa realizar una leitura empities de uma situaglo Jocalizada, Aleut disso, tl reflexio permite conchir que até 0 momento, a diferenea entre vitalizare revi lingua no est clara para os estudiosos de ensino e para os que apreadem was Lingua, A partir dessa dscussio, abe notar que todas a linguas ameagadas de exting30 ‘ém sido tatadas soba perspectiva de um prisma tinico, por vezes reducionista, Nesse sentido, 6 desprezadoo ramus da lingua, eo debate, muitas wee, fcareduzidoaalgumas quests: se hii ou alo falante, se bi registro gravado das lings, e se hit lives & _ramaticas sobre a lingua em bibliotecas, museus e uiversidades. Um lingua que sa falada por um expressivo mimero de flants, mas que nie esteja sendo stalizada por alguna razio, perde espago, de modo que as geragdes mais jovens nio falam ou no ‘querem falar esa lingua, Cada caso, no entanto &especiico de cada povo, de ada ade. (© que signitice,ento,vitalizar uma lingua? [Na tadiglo flosica, o temo sitalfsmo tem sido entendido como toda teoria filoséfica para a vida. Trata-se,nesse caso, do conceitobiolégico de vid, que destaca 0 ‘ape do corpo a narureze, a forge a lta pela subsisténcia. Essa percep contrapbe- se a0 racionalismo, 4 medida que no enfstiza& rao & o conjunto de experéncias 90 longo do tempo, mas 0 sentido do compo, da natureze, da Ita pela subsisténeia Nessa concepeio, de acordo com XXXXX (2016), encontram-se, no campo ‘empiric, a lta pela subsisténcia de uma unidade organizativa de carter nico e a ‘capacidade de pensar coletivamente« partic do conjunto de experignias relativamente 3 ‘uma lingua, que representa algo fundamental para a composigio de um povo, fingmentado pela histria de dominasio. (Os Kokame exprimem, na sua forma organzativa em tomo da lingua, o sentido de vitliar, © que pode ser compreendido como o ato de dar forge vigor sua dnémica de existéncia, Essn conc corresponde aos sentdos de vitalizacaa © vital ‘conforme o Disionirio Houass (HOUAISS: VILLAR, 2000), que define esses termos, -espectivamente, como “ato ou efeita de vitalizac” ear forga ou mas forga a dar vigor ‘om vitalidade (acepsi0 2) ‘Vitalizar uma lingua, prtanto, ¢ dar forga ou vigor d sua dinimica de existéncia. No caso em questo, vitlizar ume lingua significa tla presente nos rtuais dos pais, nas brincaderas de oda, nas eontagdes de historias antigas, nas dangas, nas mises, nos artesanatos, nas vestimentas, nas pinturas e na vida da aldeia, mesmo que seja apenas ‘como segunda lingua, Expressar, por mio da lingua indigens, dessins e nevessidades, ‘dentro de sus fangdo social, € aprender a lingua como espiito, com 0 coragio e com os [esse contexo, vitalizar significa haver ancios folantes da lingua, ouvintes, lembadorese aprendizes para conta as histris, cantar as misiens ¢ os “ikaros” (canto de cura, tezar (benzer, explicar os vtuis, fazer os tessumes, exeoutar as dangas & praticar as ditase as formas de ser dem Kokam. Esse processo tem sido vivencido pelo povo Kokama do Brasil e do Pent por meio de devises que levam a lingua dos anoestras @ccupar espagos comunicatives dena e fora ds leas [No século XI, a referida lingua passou a ocuparespacosfisics «digits, como ‘0s Centeos de Ciénins e SaboresTradicionais Kokama —a saber, oMuseu Vivo Antonio ‘Samias ¢o Museu Vivo Lua Verde — os centos de educagio escolar indigena rena Karachi Kokanae Tztsu Kamutun, locas que vitalizam a lingua por meio de miniatures de armadilbas de casa, pesca, cerimica instrumentos musicais, misicas, desenhos de histo antigas, poesia, comida tipicas, brincadeias tadicionais,contago de historias, entre outros. Espagos alésn da escola, da casa, do barraco (centro cultural) eda casa de farinha da aldeia na capital do estado do Amazonas despertam uma nova forma de organizagio das contunidades ao serem transformados em espagos eduestivos de lingua e cultura que fortalecem a politica deidentidade. Além dos espagos fsicos, também os espagos di so ocupados, mediante a ergo de aplieativos produzides por joven, adultos ¢ancitos ‘Kokama. ses aplicativos sto bilingues, com som, para que aprendizes de diferentes fainasetirias possam ouvir aprender a lingua. Dessa forma, esses peguenos espagos ‘itolizam a lingua, de modo que eriangs, javens © adultos encontram a fungio social da lingua ao expressur sua cultura por meio dos aos de fla A revitalizaglo de ums lings, por ouiro ldo, é algo que vai exigir um esforgo caletivo mio apenas do pova que quer ter sua lingua de volta ao cotidiana, mas de instimigbes onde essaslinguas foram armazenadas por meio de gravagbes, dicionévios, losévios, gramstcas, livros eoutos. Revializarconsste em dar nova vidas una lingua 1 contexto tua, pois as linguas que, nesse process, ficaram adormeidas ¢trancadas nessa insttugSes serio despertadas no perodo contemporince. 0 termo revitalizacio, segundo o Dicionirio Houaiss (HOUAISS; VILLAR, 2008), significa “ago, processo ou feito de revitalizar, de dar nova vida alauém ou a algo"; “série de ages mals ou menos planejadss, ger, provenientes de um grupo, comunidade ee, que buscam dar n0Vo Vigor, ‘nova vida a alguma cosa” A lingua Kokama no desapareceu no Brasil nem no Peru, mas come isco de ‘extingdo, Por esse motivo, a lingua esti em provesso de vitalizasio, endo necessirio que la seja cada ver mals frtalecid, Hinton (2007) trata da questo da revitlizago em seu live secre core ce tetera re SEecrwaerastey aime ers erat nes ee eee vate nih Wehner cans Setar ate ee Arvin omni cogs ate pi eins come ten es ing por mi ie Sng cam garcia gun se ng i res vag nse HDNTON 217 On vin po pvc eo gn, sah lt ve a Tn ee ag On seg Se int sms ie vs ce ng oe ees: ts Cc bg cnc i, pe de von rt nr ce ing So ee ng, pss ego op & coca, eh crt # hs pea ep ‘hip de een a ai, Dp de i ‘i do esc Fant na ve sn vols in sams demi Pa Coss es in tn ti og ern pe ino stn ins od te Sipe ab ein Dit ese in, cs oa a ov Koka cana isn sn enfin de a ve ts ess i neste Lea sone om or aan or a ir lee ing Ain ‘cancetos de vitaliza revitalizar precisa estar claros pars qe possa ser identificados Important salientar — de uma decisio ‘0s pequenos éxitos ao lougo desse processo auduo de fortaleser umn Lingua indigens sufocoda plo sistema dominante. Portato, cada nova in ‘italizago da lingua Kokama representa um passo a mais em dire ao frtalecimento «la politica linguistia de vitalizag2o dessa lingua. iva no. processo de G POLITICA LINGUISTICA Politica Linguistica & wm tépico que tem conquistado eada ve2 mais espago no {mbito dos estos linguistcos na América Latina e em outs partes do mundo, No ‘Brasil, entretano, essa temitica€ ainda recente, apesar de este ser considerado um pais ‘com grande diversidade lingustica (0 IBGE, érgio oficial do governo braslezo, indica um nimero cada vez maior de lnguas em nosso pais, O censo do IBGE (2010y,especiticamente,apresenta cerca de 280 linguas. Cada comunidade est em um estigio diferente de proficiéncia de sua lingua ‘busca uma politica efetva para problemiicas em tomo da lingua, ‘Verificase umn aumento no processo de reivindicaglo dos movimentos soci [esse sentido, "a diversifcagio de suas pautas,o erescimento das questies éticas, repionais, de froneitas, cults, tomaram muito mais visvel que © Brasil & um pais ‘onstiuido por mais de 200 contnidades linguistcas diferentes [...” (CALVET, 2007, ».8), Tal movimento ocore em viras partes do mundo, de modo a conferrvisibitidade “Gs lingua fladas por pequenos coatingentespopulacionais que babtam terrtérios com linguas oficialzadas™ (FAULSTICH, 2001, p. 107). (© aumento dessas demands, que se configura como um meio de vitalizar as linguas indigens, leva o Estado peasar em uma politica espeifi para esses povos, sum ver que “o cfessimento desses movimentos sociis © a reagio da Estado a essas reivindicagbes vo tormando dia a dia mais claro o imbito das responsabilidades das politicaslinguisieas” (CALVET, 2007, p. 8) No Brasil ‘corte tim processo ripido de dominio politico por parte dos colonizadores. Nesse contexto, & possivel afimar que o prinsipal instrumento. de dominagio foi a igreia, © que um dos objetivos desse processo eta levar os povus ‘existentes no pas &época a abandonar suas lings, suas eulturas esas tradigbes. esse cemo2010 ae be respeito, segundo Faulsich (2001, p. 107) "é preciso dizer que Lingus e poder andam juntos, pos vivemos em sociedade esta se organiza sob poitcas ‘Ao longo dos anos, sempre exisiram pessoas disposts a interfere na questo da problemitica Linguistica (CALVET, 2007). Os couceitos de potiien lingustica & ‘planejamento lingnitco, todavia, ainda so recente: aquela& classificada po Calvet (2007, p. 12) como “doterminagio das grandes decisdes referents is rolagdes entre as, linguas ¢ a sociedade", ao passo que este € clusificado pelo autor como “sua implementagio” (CALVET, 2007, p. 12). ‘A politica linguistic, para Calvet (2007), § objeto da sociolinguistica. Para Faulstch (2009) — trabalho relativo ao plurlinguismo na Comunidade dos Paises de Lingua Portuguesa —, a politica Hingustica utrapass as fronteras nacionsis. Como ‘exemplo disso, a sutoraaborda a relidade de psises em que se fala lingua portuguesa existe uma polities linguistiea em cus, masque possuem culturas diferentes. No que se Segue, apresentam-se exemplos de ages de politica Linguistica relaivamente a linguas doBniil Segundo Almeida ¢ Rubim (2012, . 68) “reprimir as linguas nativas e demais| riticascultursistomou-se um insrumento decisivo para funcionamento eeotémico do sistema agririo-exportador, ancorado em grandes plantagbes monocultoms (...*. Nesse sentido, a esola tomov-se local de exterminio de lingus e cultus, send assunia or religiosos aps declinio da poitiea pombslina (ef. ALMEIDA; RUBIM, 2012). Apos ‘esse periodo, a escola pars indigenas, manta como instrumento da 3¢30 colonizadora, -voltow a ser implementada por ordens religioss. [No Brasil, oplusilinguismo é uma reaidade, visto que hi mas de duzentaslinguas faladas por diferentes povos, porém pouso te sido feito paras manutensio,revializasi0 ‘ou ortalecimento dessa linguas. Ha, no entanto inicitiva efetivas em rela politica de valorizagto e promogdo de algunas linguas brasileras diferentes do portugués, que so amparads por les, pareceres e deeretos, como exposto na Consttigdo Federal de 1988, na Lei n* 9394/1996 (Lei de Ditetrizes e Bases da Edueagio Nacional — LDB), na Resoligio CEB m2 3/1999, ena Lei n*13,005/2014 (Plano Nacional de Edcasio— PNE 2014), entre outros, [No que diz respeito& plurlidade de linguas, vale destaear © Alio Rio Nesro, ‘regio mais plurilingue do eontinente americano, que conta, akém do Portugués © do Espanbol, com mais de 25 linzvas indigenas distintas, de cinco toncos lingusticos sliferentes: Tupi (Nheengatu), Tukano Oriental (Takano, Tuyuks, Desana, Wansno, Puratapuya etc), Aru (Baniwa, Kuripako, Tariamo, Werckena) © Maku (Nad, Dawe, ‘Yulwp, Hupds) e Vanomami, A coofvializagio de ts linguas, Nheengatu, Tukano & ‘Baniwa, prooesso que as igualoy ao Portugués, beneficiow os cidadiosindigenas de Sto Gabriel ds Cachoeira, municipio localizado ua relerida regito; apesar disso, sua implementacio esti longe do que faa estahelecido na Lei n® 21002006. ‘Outea iniciatva recente a ser mencionada ocorren por meio da Comissto Técnica «do Invenio Nasional ds Diversidade Linguistics (INDL)inelsto ds inguas Astin do Trocari, Guarani Mbyae Talian no INDL em 2014, na sede do IPHAN, em Brasilia -A-esse respeito,cabe mencionar que 6 INDL, instituido pelo Deereto n* 7.387/2010, ‘tornow-se um instrament importante naidentitieagaoevalorizagio das lingua exstntes ‘no Brasil, pos visa a colaborar para promover a diversdade linguistic no pais mediate ‘apoio inicatvas de preservagio, Esse decreto carsteriza como um “instrument de identiticagio, documentagio, reconbecimento e valorizagio das linguas portadoras de referencia a idenidade, & ago e & memvria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira" (BRASIL, 2010), © referido decreto configuin-se como wma politica lingustica recente que -demostea uma preocupagio com a diversidade linguistics do pas as. $6 deeminam qe sling: avetrnasfro js nto de Salozato eromocto or pre do poder pice que os Estodos Disa Federale on minis sere infrndspel Mins Ce, eo ‘even de pus ings eos eon ps te pos pomoeet Plies pubes de econbecineno evnlorizado (FREIRE, 2014p 382) Em Roraima, as lingus indigenas Makuxi e Wapichana também passaram pelo pracesso de coficalizagio, como resllada da reivindicagio do povo, A proposta vik sen discutida desde 2012 com a liderangase com professors de linguas da Regiso da Serra da Lua. A coofcializagio dessas linguas em Bonfim ocorreu mediante edo da Lei n*211/2014, aprovada pela cimara de vereadares desse municipio, (Outrainiciatva a ser destacada aqui é @ Aqio Saberes Indigenas na Escola, realizada por meio de agdes desenvolvidas pelo governo federal para incentive da valorizago das Lingus indigenas no Brasil, em parcria com o Tastituto Federal de Roraitna Essa iniciativa vein somar com projeto de cooficalizagio do Wapichana, de ‘modo a incentvar os indigenas desse povo a falar sua lingua e a formar professores com, ese objetivo. A referida ago ¢ um projetorelizado pela Secretaria Municipal de Edueag30 ‘Manaus, em parceria com a Secretaria de Educagio Continuada, Albetizagio, Diversidade Incusio, do Ministerio da Educa¢io, ¢ Universidade Federal do Amazonas (UFAM), No final dessa formagio, 05 professes indigenss produzirto materia \iditicos especiticos pars o ensino e aprendizagem da lingua de seus respects poves, (0 projeto Agio SaberesIndigenas ma Escola ocorru em viros estades brsileiros, de manera a fortalecer a lingua e a cultura indigenas por meio da formagdo dos professors da produsio de material dito indigena, A pari de 2002, apésacooficalizasio das és lingua indigenas em Sio Gabriel da Cachocira, mais de quinze municipios do estado brasileiros também eraram leis, municipais de coofcializario de linguas indigenas e de imigragS0. © panorama de

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